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Referência: VERNANT, Jean Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Rio Janeiro: Difel, 2002. p. 53-143 (Cap. IV ao VIII) Capítulo IV: O universo espiritual da Polis ● Advento da polis entre os Séculos VIII e VII. ● A palavra como instrumento de poder, a palavra acima de todos os outros instrumentos de poder. ○ Sendo, esse instrumento de poder o debate, a discussão e a argumentação. ● Pólis promove publicidade às questões da vida social. ○ A publicidade da polis leva a captar e colocar sob olhar de todos o conjunto dos conhecimentos, dos processos e das condutas. ○ “[...] Tornando-se elementos de uma cultura comum, os conhecimentos, os valores, as técnicas mentais são levados à praça pública, sujeitos à crítica e a controvérsia. Não são mais conservados como garantia de poder, no recesso de tradições familiares [...]” (p. 55) ○ O conhecimento do sábio, antes guardado como o segredo do religioso, ao ser entregue à escrita é tirado do círculo fechado dos sábios e é exposto aos olhares de toda a polis. Submete-se o conhecimento ao debate político, ao julgamento de todos. ■ A escrita satisfaz a função de publicidade da polis, através da divulgação do conhecimento ● Lei escrita - permanência e fixação da lei. ● A discussão, a argumentação, a polêmica tornam-se parte do grupo intelectual, assim como do grupo político. ○ A lei já não se impõe pela força de um prestígio pessoal ou religioso; A lei deve mostrar sua legitimidade por processos de ordem dialética. ● Religião debatida na Ágora. ● Houve resistência da vida social em entregar-se a uma publicidade . ● O "racionalismo" político que preside às instituições da cidade se opõe certamente aos antigos processos religiosos do governo, mas sem por isso excluí-los de maneira radical. ● “[...] A filosofia vai encontrar-se, pois, ao nascer, numa posição ambígua: em seus métodos, em sua inspiração, aparentar-se-à ao mesmo tempo às iniciações dos mistérios e as controvérsias da ágora. Flutuará entre o espírito de segredo próprio das seitas e a publicidade do debate contraditório que caracteriza a atividade política. [...] (p.64) ● “[...] Chega um momento em que a cidade rejeita as atitudes tradicionais da aristocracia tendentes a exaltar o prestígio, a reforçar o poder dos indivíduos e dos gene, a elevá-los acima do comum. São assim condenados como descomedimento, a ostentação da riqueza, o luxo das vestimentas, etc.. Todas essas práticas são doravante rejeitadas porque, acusando as desigualdades sociais e o sentimento de distância entre os indivíduos, suscitam a inveja, criam dissonâncias no grupo, põem em perigo seu equilíbrio, sua unidade, dividem a cidade contra si mesma. [...]” (p. 69) ○ É buscado, na polis, um ideal de preservação e moderação, que faz desaparecer entre os cidadãos as diferenças de costumes e de condição, aproximando-os uns dos outros. ● No estado espartano, a sociedade já não forma como nos reinos micênicos, uma pirâmide cujo o topo o rei ocupa. Todos os que receberam treino militar, encontram-se elevados ao mesmo plano. Nesse plano define-se a cidade. A ordem social já não aparece sob a dependência do soberano. ● Esparta: A arché pertence à lei. Todo indivíduo que pretende pegar para si o monopólio da arché ameaça a homonomia do corpo social e põe em risco, com isso, a existência da cidade. ○ “[...] Se a nova Esparta reconhece assim a supremacia da lei e da ordem, é por ter-se orientado para a guerra; a transformação do estado ali obedece primeiramente a preocupações militares. [...]” (Pág.72) ● A palavra não tornou-se, em Esparta, o instrumento político que será em outros lugares, nem adotará forma de discussão, de argumentação, de refutação. Capítulo V: A crise da cidade. Os primeiros sábios. ● Sabedoria é a invenção da lei e todos os vínculos que reúnem as partes de uma cidade. ○ Proveu os Sete Sábios que inventaram as virtudes próprias do cidadão. ● Século VII, inicia-se um período de confusões e conflitos internos na Grécia. ○ No plano religioso e moral há uma discussão de todo sistema de valores. ■ Os conflitos internos se revestem de uma agitação religiosa e social, mas, na cidade, leva a uma reflexão moral e política. ○ Consequências da crise se darão no domínio do direito, da vida social e intelectual - elaboração de noções da nova ética grega. ● Pode-se dizer que o ponto de partida da crise é de ordem econômica. ○ As transformações econômicas estão ligadas a retomada e desenvolvimento dos contatos com o Oriente. ■ Procura de terra, alimento e metal. ● Seduzida pelo luxo, a aristocracia grega ostenta riqueza. Elemento de prestígio dos genes, a riqueza pôde agir como um fenômeno de divisão. ○ Vê-se surgir um tipo de proprietário de terras que torna sua cultura especializada, procura aumentá-la. ■ Concentração da propriedade em poucas mãos. ○ O nobre é também agora um rico. ● “[...] O que é próprio da Grécia é a reação que tais transformações técnica e econômica suscitaram no grupo humano: sua recusa a uma situação sentida e denunciada como estado de anomia. [...]” (p.78) ○ O esforço da renovação é religioso, jurídico, político e econômico. Busca fixar limite a ambição dos genes, submetendo-os a uma norma superior (Dike) - invocada como um poder divino. ● “[...] A restituição religiosa caracteriza-se pela instituição de processos purificatórios em relação com as novas crenças. [...]” (p.80) ○ Esse processo purificatório visa, tanto no campo religioso como político, ordenar a vida social, reconciliar e unificar a cidade. ● “[...] Não se poderia conceber o começo do direito fora de um certo clima religioso: o movimento místico corresponde a uma consciência comunitária mais exigente. [...] (p.85) ● Toda a efervescência mística não se prolongará - não dá origem a um vasto movimento de renovação religiosa que absorveria finalmente a política. É o inverso que se produz. ○ As aspirações comunitárias e unitárias vão inserir-se mais diretamente na realidade social, orientar um esforço de legislação e de reforma. ● Antes, os genes enfrentavam-se tendo por armas as fórmulas rituais e as provas previstas pelo costume. Com a reforma da legislação, a atividade judiciária contribuirá para elaborar a noção de uma verdade objetiva. Capítulo VI: A organização do cosmos humano ● A efervescência religiosa preparou campo para reflexão moral, orientado por especulações políticas. ● Nos agrupamentos religiosos a Arete (virtude) se despojou de seu aspecto guerreiro tradicional e aristocrático. Assumiu caráter do que é ponderado, equilibrado. ○ A virtude corresponde à imagem de uma ordem política que impõe um equilíbrio a forças contrárias, que estabelece um acordo entre elementos rivais. ○ Arete assume aspecto “burguês”, colocando a classe média como a responsável por estabelecer o papel moderador na cidade. Desse modo, a classe média é quem poderá estabelecer equilíbrio entre a minoria dos ricos e a multidão dos pobres. ● “[...] O luxo, a moleza, o prazer são rejeitados; o luxo proscrito do costume, da habitação, das refeições; a riqueza é denunciada e com violência [...]”(p. 88) ○ riqueza como objeto que leva aos males de ganância e individualismo. ● Sophrosyne: virtude de inibição, de abstinência, consiste em afastar-se do mal, em evitar toda impureza. ○ “[...] Realiza uma cidade harmoniosa, onde os ricos, longe de desejar sempre mais, são aos pobres o que lhes sobra e onde a massa, longe de entrar em revolta, aceita submeter-se aqueles que, sendo melhores tem o direito de possuir mais. [...]” (p.95) ○ Sophrosyne trata-se de uma noção social e política. ■ O cidadão deve saber dominar suas paixões, suas emoções e instintos. ● “[...] Sem Isole (igualdade), não há cidade [...]” (p. 98) ○ Entretanto, essa igualdade é hierárquica. Cada pessoa permanece dentro do seu agrupamento, é uma igualdade horizontal. ○ Igualdade da fixação da lei, a mesma para todos. Todos os cidadãos poderem fazer parte dos tribunais e assembleias.● A instituição da moeda é um meio de ordenar e regrar a movimentação de bens e de serviços entre os cidadãos. ○ Estabelece entre realidades diferentes uma medida comum. ● As duas grandes correntes que se opõem no mundo grego, uma de inspiração aristocrática e outra de espírito democratico coloca sua polêmica no mesmo terreno e reclamam igualmente a equidade. ○ “[...] a corrente aristocrática encara a cidade como um cosmos feito de partes diversas, mantidas pela lei numa ordem hierárquica. a medida justa deve conciliar forças naturalmente desiguais, assegurando uma preponderância sem excesso de uma a outra [...]” (p.101) ○ “[...] a corrente democrática define todos os cidadãos, como tais, sem consideração de fortuna nem de virtude, como iguais que têm os mesmos direitos de participar de todos os aspectos da vida pública. [...]” (p. 103) ■ Reformas clístenes se realizam em objetivo desse cenário democratico. ● A polis apresenta-se como um universo homogêneo, sem hierarquia, sem planos diversos, sem diferenciação. Capítulo VII - Cosmogonias e mitos de soberania ● No século VI, filósofos como Tales, Anaximandro e Anaxímenes iniciam um modo de reflexão referente à natureza da origem do mundo, de sua composição. Explicações livres de teogonias e cosmogonias antigas, nada de agentes sobrenaturais. ○ O mito não se interroga sobre como um mundo ordenado surgiu do caos. ○ “[...] Essa revolução intelectual parece tão súbita e tao profunda que foi considerada inexplicável em termos de causalidade histórica: falou-se de um milagre grego. [...] (p.110-111) ○ Logos se desprendeu do mito. ● Necessidade de dar uma resposta sobre a origem do mundo, uma resposta suscetível a ser debatida publicamente. A resposta religiosa, que deveria ser aceita, sem debates, não sacia mais o filósofo do século VI. ○ Laicização, racionalização da vida social. ● Dependência da filosofia com relação às instituições da polis. ○ “[...] Para construir cosmologias novas, utilizaram as noções que o pensamento moral e político tinha elaborado, projetaram sobre o mundo da natureza essa concepção da ordem e da lei. [...]” (p.115)
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