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Criminalização do uso drogas

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Criminalização do uso drogas
APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo!
A criminalização do uso de drogas é um processo social e político construído ao longo da 
história da humanidade. Tal processo passa por importantes discussões na atualidade, com 
legislações apontando soluções em sentidos opostos em sistemas jurídicos contemporâneos.
Nesta Unidade de Aprendizagem, focaremos no tratamento do uso e do comércio das drogas no 
Brasil, a partir das origens do tratamento jurídico internacional, suas influências na legislação 
pátria e a relação entre o tratamento nacional e a crítica do sistema penal desenvolvida por 
Foucault.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Reconhecer o papel das conferências internacionais de 1912 e 1961.•
Analisar a evolução da legislação brasileira sobre o uso e comércio de substâncias 
entorpecentes. 
•
Avaliar a importância da crítica de Foucault em relação ao tratamento do sistema penal 
brasileiro ao uso das drogas.
•
DESAFIO
Com relação à criminalização do uso de drogas, a aplicação de medidas penais no Brasil é 
controversa quando são contrastados os aspectos técnicos da crítica do sistema penal como um 
todo e a visão da corte suprema nacional. Acompanhe a seguir uma situação que servirá de base 
para este Desafio.
 
Você foi contratado como advogado por Leonardo, para responder a denúncia oferecida pelo 
Estado contra ele, pelo porte de drogas entorpecentes.
De acordo com a teoria de Foucault e a evolução histórica nacional e internacional, construa 
uma argumentação para afastar a punibilidade de Leonardo.
INFOGRÁFICO
A criminalização do uso de drogas tem três fases bem definidas entre a liberdade de consumo e 
a proibição do comércio e consumo de substâncias entorpecentes no âmbito internacional.
No Infográfico a seguir, você verá os momentos internacionais que marcaram essas fases e as 
suas características.
CONTEÚDO DO LIVRO
A criminalização do uso e do comércio das drogas é um processo criminológico em construção, 
com soluções higienicistas, proibicionistas e até liberalistas. No capítulo Criminalização do uso 
de drogas, do livro Psicologia e criminologia, você estudará a evolução histórica do tratamento 
das drogas no Brasil e a influência de tratados internacionais em sua configuração. Além disso, 
você verá uma análise da crítica de Foucault ao sistema penal no contexto deste debate.
 
Criminalização do uso 
de drogas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Compreender o papel das Conferências Internacionais de 1912 e 1961.
 � Analisar a evolução da legislação brasileira sobre o uso e o comércio 
de substâncias entorpecentes.
 � Avaliar a importância da crítica de Foucault em relação ao tratamento 
do sistema penal brasileiro ao uso das drogas.
Introdução
A criminalização do uso de drogas é um processo social e político cons-
truído ao longo da história da humanidade e que passa por importantes 
discussões na atualidade, com legislações que apontam soluções opostas 
nos sistemas jurídicos contemporâneos.
Neste capítulo, você vai estudar as origens do tratamento do uso e do 
comércio de drogas no Brasil baseadas no tratamento jurídico internacio-
nal, suas influências na legislação pátria e a relação entre o tratamento 
nacional e a crítica ao sistema penal desenvolvida por Foucault. 
A Convenção Internacional de Haia de 1912 e a 
Convenção Única de Entorpecentes de 1961 
A Conferência Internacional do Ópio resultou, em 1912, segundo Gusmão 
(2014, p. 10), na assinatura da primeira convenção sobre o controle de drogas 
no âmbito internacional, alterando as conturbadas relações entre o Oriente e 
o Ocidente sobre o tema que marcou as duas guerras do ópio entre a China e 
o Reino Unido. O tratado, denominado Convenção Internacional do Ópio, foi 
assinado por Alemanha, Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Itália, 
Japão, Países Baixos, Pérsia, Portugal, Rússia e Sião (atual Tailândia) (CAR-
VALHO, 2014). Conforme o texto da Convenção, “[...] os Poderes contratantes 
envidarão os seus melhores esforços para controlar, ou para fazer com que sejam 
controladas, todos os tipos de fabricação, importação, venda, distribuição e 
exportação de morfina, cocaína e de seus respectivos sais” (GUSMÃO, 2014, 
p. 11). O tratado foca principalmente o combate à comercialização do Ópio, 
ao mesmo tempo em que marca o início da batalha contra os entorpecentes 
em geral, ainda que de maneira bastante vaga e precária (GUSMÃO, 2014). 
A Convenção foi implementada em 1915 por Estados Unidos, Países Baixos, 
China, Honduras e Noruega, e entrou em vigor em nível mundial em 1919, 
quando foi incorporada ao Tratado de Versalhes (CARVALHO, 2014).
Em uma tentativa de unir os esforços de combate às drogas, a Convenção 
Única sobre Entorpecentes de 1961 fundiu todas as convenções anteriores 
celebradas no âmbito das Nações Unidas, como a inclusão das drogas sintéticas 
no tratado de Paris de 1948, a limitação das áreas de cultivo em Nova York, 
em 1953, e uma sintetização das convenções de Genebra (GUSMÃO, 2014), 
mantendo os pilares dos instrumentos anteriores. As partes deveriam submeter 
estimativas das necessidades e estatísticas sobre importação, exportação, 
manufatura e estoques. O sistema de certificação de importações e exporta-
ções foi mantido. Os governos deveriam licenciar produtores, comerciantes 
e distribuidores, e todos os que manipulassem drogas deveriam manter os 
registros de suas transações. As listas de controle das substâncias, introduzidas 
pela Convenção de 1931, foram expandidas de duas para quatro, de acordo 
com sua destinação (GUSMÃO, 2014).
A Convenção declarou ilícitas as plantas que continham substâncias para 
a produção de drogas entorpecentes ou psicotrópicas (coca, cannabis e palha 
de papoula). O hábito de mastigação da folha de coca, denominado “acullico”, 
bem como o fumo e a ingestão de ópio e haxixe, foram proibidos internacio-
nalmente. Foi dado um prazo para que os países onde esse costume estava 
enraizado há séculos lhe pusessem fim. 
Por fim, para supervisionar a implementação dos tratados sobre drogas, foi 
criada a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE). A JIFE 
resultou da fusão da Comissão Permanente de Controle do Ópio (da Convenção 
de 1925) e do Comitê Supervisor de Droga (da Convenção de Limitação de 
1931). O novo órgão foi encarregado de: recolher estimativas fornecidas pelos 
Estados Parte sobre necessidades anuais, verificar os relatórios e estatísticas 
sobre importações, exportações, produção e estoques de reserva e reportar à 
Assembleia Geral eventuais inconsistências (GUSMÃO, 2014).
A essência do tratado de 1961 pode ser depreendida de seu preâmbulo, no 
qual as partes signatárias declaram estar “[...] preocupadas com a saúde física e 
Criminalização do uso de drogas2
moral da humanidade” e sua “[...] dor e sofrimento”, e que medidas adequadas 
devem ser tomadas para garantir a disponibilidade de entorpecentes para tais 
fins, reconhecendo a toxicomania como um mal grave para o indivíduo e um 
perigo social grave para a humanidade (HAIA, 1961 apud GUSMÃO, 2014).
Destaca-se a proibição da produção, da fabricação, da exportação e im-
portação, do comércio, da posse e do uso de tais entorpecentes, uma vez que, 
no seu conceito, este é o meio mais eficaz de proteger a saúde e o bem-estar 
público. Tal dispositivo não se aplica às quantidades necessárias para pesquisa 
médica e científica, incluídas as experiências clínicas com tais entorpecentes 
feitas sob ou sujeitas à supervisão e fiscalização das ditas Partes. O artigo 36 
da Convenção explicitamente sugere o uso de penas de prisão e outras de 
privação de liberdade para tais atos, além de mencionar que é desejável que 
tais crimes sejam passíveis de extradição entre os países-parte do tratado 
(GUSMÃO, 2014).
Em suma, as Convenções de 1912 e de 1961 compõem as origensdo com-
bate às drogas no âmbito internacional e da sua sistematização baseada no 
proibicionismo, deixando de lado a política comercial de entorpecentes que 
antecedeu esse cenário e que serviu como palco das guerras do ópio entre a 
China e o Reino Unido.
Um dos casos mais exemplares da guerra do tráfico é o do narcotraficante colombiano 
Pablo Escobar, que unificou os cartéis de distribuição de drogas da Colômbia e de 
outros países das Américas Central, do Sul e do Norte, configurando um poder paralelo 
em seu país. Essa situação crítica enfrentada por diversos países em relação ao crime 
organizado pautou o endurecimento do controle das drogas nos âmbitos nacional 
e internacional durante as décadas de 1960 a 2000, persistindo em alguns estados 
brasileiros até o momento.
A história do combate às drogas no Brasil
Segundo Salo de Carvalho (2007, p. 10), a origem da criminalização das drogas 
não pode ser demarcada, pois o processo criminalizador é invariavelmente um 
processo modelizador e normalizador, sendo sua origem volátil, impossível de 
ser delimitada ou relegada a um objeto de estudo controlável. Não obstante, 
3Criminalização do uso de drogas
é possível identificar na legislação pátria determinadas tendências quanto ao 
processo de criminalização, ora do comércio de drogas, ora do consumo de 
substâncias psicoativas.
Segundo o estudo desenvolvido por Silva (2008), é possível identificar 
os primeiros indícios de condenações do uso, do porte e da venda de deter-
minadas substâncias na compilação jurídica chamada Ordenações Filipinas, 
que vigorava no Brasil Colonial. À época, a legislação era voltada a “ma-
teriais venenosos”, e a pena consistia na perda da fazenda do condenado e 
na degradação para a África; a hipótese do uso próprio das substâncias não 
constituía delito, uma vez que a legislação tinha como objeto a proteção da 
vida e da saúde alheios.
O Código Penal de 1830 ou “Código Imperial” não fez referências expres-
sas ao assunto, mas o Regulamento de 29 de setembro de 1851 disciplinou 
a matéria ao tratar da política sanitária e da venda de substância medicinais 
e medicamentos e ao manter centralizado o controle das drogas nocivas a 
partir da outorga de autorização para a comercialização de medicamentos e 
substâncias “desconhecidas” (SILVA, 2008).
Em 1890, o Código Penal Republicano, ao regular os crimes contra a saúde 
pública, tipificou no artigo 159 as condutas de “[...] expor à venda ou ministrar 
substâncias venenosas sem legítima autorização e sem as formalidades pres-
criptas nos regulamentos sanitários” (BRASIL, 1890 , documento on-line), 
sendo a sanção prevista a pena de multa.
Em 1915 foi fundado o clube de toxicômanos, em São Paulo, acompanhando 
o aumento do uso de drogas pela burguesia urbana, conforme tendência deli-
neada em Paris. Já entre 1912 e 1915, os Decretos nº 2.862/1914 e 11.481/1915 
instauraram a política criminal brasileira para as drogas com uma configuração 
fundada no modelo sanitário, ou seja, preocupado com as repercussões de 
saúde pública, que prevaleceu por meio século.
O Decreto Legislativo nº 4.294/1921, inspirado na Convenção de Haia de 
1921 e sancionado por Epitácio Pessoa, revogou o art. 159 do Código Penal 
de 1890, enquanto o Decreto 14.969/1921 previu a criação do Sanatório para 
Toxicômanos no Distrito Federal (SILVA, 2008).
A consolidação das leis penais de 1932 ampliou a regulamentação sobre o 
uso e a comercialização de drogas no Brasil ao alterar o caput do artigo 159 
do Código Penal de 1890 com a adição de doze parágrafos. Foi acrescentada 
a prisão juntamente com a pena de multa, ainda que não haja criminalização 
do usuário de entorpecentes, apenas do comercializador dos mesmos (SILVA, 
2008).
Criminalização do uso de drogas4
Em abril de 1936, a publicação do Decreto nº 780 é considerada o primeiro 
grande impulso na luta contra as drogas, registrando a formação do sistema 
repressivo em consequência da autonomização das leis criminalizadoras a 
partir da criação do Conselho Nacional de Fiscalização de Entorpecentes 
(BRASIL, 1936).
Segundo Salo de Carvalho (2007), a pluralidade de verbos nas incrimi-
nações, a substituição do termo “substâncias venenosas” por “substâncias 
entorpecentes”, a previsão de multas carcerárias e a determinação das for-
malidades de venda e subministração ao Departamento Nacional de Saúde 
Pública passam a delinear o novo modelo de gestão repressiva.
Com o Decreto-Lei nº 891 de 1938, elaborado de acordo com as disposições 
da Convenção de Genebra de 1936, houve o ingresso no Brasil do modelo 
“internacional” de controle de estupefacientes, surgindo na década de 1940 
uma política proibicionista sistematizada, composta pelo artigo 281 do Código 
Penal de 1940 sob a epígrafe “[...] comércio clandestino ou facilitação de uso 
de entorpecentes” (SILVA, 2008, p. 61).
O Código Penal de 1940 foi caracterizado por uma disciplina equilibrada, 
por um sóbrio recorte dos tipos legais, inclusive com a redução do número de 
verbos em comparação ao Decreto nº 891 de 1938, art. 33. Determinava uma 
penalização exclusiva ao comerciante de drogas (BRASIL, 1940), de modo 
que o entendimento do Supremo Tribunal Federal era o de não abranger os 
consumidores na penalização.
O Decreto-Lei nº 385/1968 viria a mudar esse cenário ao punir o usuário 
com pena idêntica àquela imposta ao traficante, iniciando o proibicionismo do 
uso de drogas no país (SILVA, 2008). O ano de 1964, marcado pelo início do 
regime militar, é identificado como o marco divisor entre o modelo sanitário 
e o modelo bélico de política criminal para as drogas. O modelo sanitário, 
no entanto, continuou a operar residualmente, principalmente em relação ao 
estereótipo do dependente.
A homologação da convenção única sobre entorpecentes das Nações Unidas 
por meio do Decreto-Lei nº 54.216, em 1964, aumentou a legislação nacional 
sobre entorpecentes com significativos acréscimos. A Lei 4.451 de 1964, por 
sua vez, incluiu a tipificação do delito do plantio de espécies produtivas de 
entorpecentes. Já o Decreto-Lei de 1967 igualou os entorpecentes às substâncias 
capazes de determinar dependência física ou psíquica (SILVA, 2008).
A Lei 5.726/71 (BRASIL, 1971) reformulou o art. 281 do Código Penal, 
modificando inclusive o rito processual, iniciando um processo de alteração 
do modelo repressivo, de modo que o dependente não seria mais tratado como 
5Criminalização do uso de drogas
criminoso, embora as penas do usuário e do traficante seguissem as mesmas. 
Em 1976, a Lei 6.368 vinha com o intuito de acompanhar as orientações 
dos tratados e convenções internacionais, configurando o estereótipo do 
narcotraficante.
Em 1988, com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil, 
ao contrário da expectativa político-criminal e da criminologia crítica, apri-
morou-se o modelo beligerante vigente no período ditatorial, potencializando 
o que Silva (2008, p. 62) chamou de “[...] violência institucional programada”. 
O artigo 5º, inciso XLIII da Constituição (BRASIL, 1988), considera o tráfico 
ilícito de entorpecentes e drogas afins como crime inafiançável e insuscetível 
de graça ou anistia. Já o artigo 200, inciso VII (BRASIL, 1988), estabelece 
a competência do Sistema Único de Saúde (SUS) para participar do controle 
e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e 
produtos psicoativos, tóxicos e radioativos.
O artigo 227 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) ainda institui 
que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao 
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma 
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
Sendo que o parágrafo terceiro, inciso VII (BRASIL, 1988), prevê que a pro-
teção integral abrangerá programasde prevenção e atendimento especializado 
à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins.
O artigo 243 (BRASIL, 1988), finalmente, regulamenta a expropriação 
de culturas ilegais de plantas psicotrópicas, assim como o confisco de qual-
quer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito 
de entorpecentes e drogas afins, que será revertido para ações de controle, 
prevenção e repressão do crime de tráfico.
A Lei dos Crimes Hediondos de 1990 ratificou o art. 5º, inciso LXIII 
da Constituição Federal, ao incorporar o tráfico ilícito no rol de crimes 
inafiançáveis. Somente com o advento da Lei 10.409/02 o legislador passou 
a optar pelo rito e penas mais brandos estabelecidos na Lei 9.099/95 que trata 
dos Juizados Especiais. A manutenção dos dispositivos da Lei 6.368/76, no 
entanto, causa insegurança jurídica pela antinomia estabelecida. A nova 
Lei de Drogas, Lei 11.343/06, mantém como características a repressão às 
organizações criminosas responsáveis pelo comércio ilegal de entorpecentes 
e a patologização do usuário e do dependente com aplicação de penas e 
medidas. Segundo Salo de Carvalho (2007), esta nova lei mantém inalterado 
o sistema proibicionista.
Criminalização do uso de drogas6
É nesse sentido que Pacheco Filho e Thums (2005) identificam a saúde 
pública como o bem jurídico penal tutelado por nosso sistema, tendo como 
vítima dos crimes ligados às drogas o Estado, e não o próprio consumidor 
ou adquirente do entorpecente. Isso porque, ao contrário do que é declarado 
pela convenção de Haia de 1961, as políticas criminalizadoras do tráfico e 
do consumo das drogas criminaliza o uso do entorpecente, de modo que a 
preocupação da lei não é evitar os males causados pelas drogas àqueles que 
a consomem, mas evitar o risco à integridade social que os entorpecentes 
acarretam. Segundo os autores, “[...] o crime é de perigo comum, presumido 
em caráter absoluto, bastando a realização de uma das condutas proibidas. 
Não importa se a droga apreendida é capaz de produzir uma lesão efetiva à 
saúde pública” (PACHECO FILHO; THUMS, 2005, p. 4). 
Segundo Pacheco Filho e Thums (2005), o bem jurídico penal tutelado pelo controle 
nacional das drogas não é a saúde do delinquente, mas a saúde e a segurança pública, 
uma vez que o risco trazido pelo consumo de drogas é uma presunção da legislação 
proibicionista.
O papel do Estado para criminalizar a circulação 
e o consumo de drogas, sob a lente teórica 
discursiva de Foucault
O pensamento de Foucault (2014) pode ser interpretado como uma crítica 
severa ao sistema penal, uma vez que o mesmo, segundo o autor, é destinado ao 
controle de determinados fatos sociais e que não apresenta uma contraprestação 
satisfatória à sociedade, senão a criação de reincidências elaboradas no seio 
do sistema prisional. Esse pensamento põe em xeque a teoria tradicional da 
construção do sistema prisional como um meio de ressocialização do réu e do 
cárcere, como condição de reintrodução do delinquente à sociedade enquanto 
membro reabilitado.
Foucault (2014) nega os avanços dos incentivos penais ao delinquente como 
meio dissuasório, desenvolvidos por Beccaria e outros criminalistas que o 
antecederam, por entender que o sistema não visa ao fim ou à diminuição do 
7Criminalização do uso de drogas
comportamento delinquente a partir do sistema penal, mas acaba por incentivar 
a criação dos delinquentes e da reincidência através da exclusão social trazida 
pelo sistema prisional e pelo afastamento do encarcerado das condições sociais 
de desenvolvimento humano.
Para Foucault (2014), o sistema penal é um meio de controle do corpo 
por meio da manipulação da alma do apenado, uma vez que os mecanismos 
educacionais hierárquicos como o tempo e as atividades vazias desestabilizam 
o ânimo do delinquente, de modo que seu corpo deixe de ser governado por 
si mesmo e passe a conformar parte da massa penalizada.
A extinção dos suplícios ocorridos antes do século XIX, com o fim 
do uso da tortura e da dilaceração do corpo em praça pública, no mundo 
“civilizado”, não trouxe a promessa de abrandamento e humanização do 
sistema penal. O que ocorre é uma verdadeira correlação entre a vontade 
política e a sistematização do controle indireto da população, por meio de 
seu adestramento pelo medo da perda da liberdade, por um lado, e, por 
outro, pelo impedimento da ressocialização, tendo em vista os métodos de 
“reeducação” utilizados no presídio.
Ressalta-se que o sistema penal apresentou uma relativa evolução desde 
a antiguidade, a partir do desuso da lei suméria, que se utilizava do jus 
talionis, ou lei da retribuição, pela qual o Estado chancelava a autotutela. 
Passou então para um sistema de tratamento privado no Delito Romano que 
tinha como base a tutela dos juízes, temperada em tempos medievais com 
amenidades trazidas pela introdução dos valores católicos. A Idade Média 
trouxe impactos negativos ao tratamento do réu, com a incorporação de 
elementos de punição divina e desumanização do delinquente que somente 
se encerrariam com a política internacional de proteção dos direitos humanos 
e o reconhecimento do delinquente como integrante dessa categoria em 
tempos secularizados.
Dentro dessa perspectiva, a criminalização do usuário afasta o aspecto 
humanista, que inaugurou o tratamento das drogas no Brasil com a política 
da higienização. Ela passa a se tornar um meio de controle social puro a partir 
da política proibicionista, na qual a intervenção do Estado deixa de buscar a 
melhoria da saúde e das condições de desenvolvimento do cidadão para buscar 
“adestrá-lo”, ou mesmo desistir da tutela de seus direitos humanos, a partir 
da política do encarceramento.
Alternativas ao sistema prisional clássico e aos julgamentos dos pre-
conceitos denunciados por Foucault (2014) encontram-se em pesquisa no 
âmbito de países-membros do controle internacional de drogas. É o caso de 
Portugal, que desenvolve planos de distribuição de remédios que diminuem 
Criminalização do uso de drogas8
o impacto da abstinência das drogas. Nos Países Baixos e no Uruguai, além 
de em alguns estados-membros dos Estados Unidos, como a Califórnia, são 
promovidas experiências de liberalização das drogas, tanto na modalidade 
de uso como na de tráfico, trazendo para o âmbito da legalidade o controle 
das drogas.
No Uruguai e na Holanda é possível consumir entorpecentes lícitos, como a maconha, 
em casas especializadas autorizadas pelo governo. No entanto, há regras distintas 
quanto à quantidade lícita ao consumo e ao comércio dentro desses países. Alguns 
estados americanos já legalizaram entorpecentes para uso medicinal, e outros para 
fins recreativos.
É possível que as alternativas ao sistema hoje apresentado em nosso país, 
como a liberalização das drogas entorpecentes, apresentem resultados mais 
avançados no tratamento da violência social e das condições patológicas do 
usuário, porém não há consenso doutrinário a esse respeito até o momento.
9Criminalização do uso de drogas
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 30 mar. 2018.
BRASIL. Decreto nº 780, de 28 de Abril de 1936. Crêa a commissão permanente de fiscali-
zação de entorpecentes. Brasília, DF, 1936. Disponível em: <http://www2.camara.leg.
br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-780-28-abril-1936-472250-publicacaooriginal-
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BRASIL. Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. Brasília, DF, 1890. Disponível em: <http://
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BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF, 1940. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>. 
Acesso em: 23 abr. 2018.
BRASIL. Lei nº 5.726, de 29 de outubro de 1971. Dispõe sobre medidas preventivase 
repressivas ao tráfico e uso de substâncias entorpecentes ou que determinem de-
pendência física ou psíquica e dá outras providências. Brasília, DF, 1971. Disponível 
em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5726-29-outubro-1971- 
358075-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 23 abr. 2018.
CARVALHO, J. C. A emergência da política mundial de drogas: o Brasil e as primeiras 
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jun. 2014. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/oficina-
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www.academia.edu/9771014/Forma%C3%A7%C3%A3o_e_evolu%C3%A7%C3%A3o_
do_regime_global_sobre_drogas>. Acesso em: 22 abr. 2018.
PACHECO FILHO, V. V.; THUMS, G. Leis antitóxicos: crimes, investigação e processo: análise 
comparativa das leis 6.368/1976 e 10.409/2002. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.
SILVA, P. M. Uso de drogas: do senso comum às percepções dos operadores do direito 
na área criminal. 2008. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio 
Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
Leitura recomendada
BARATTA, A. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do di-
reito penal. 6. ed. Rio de Janeiro: Revan, 1999. (Coleção Pensamento Criminológico, n. 1).
Criminalização do uso de drogas10
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
DICA DO PROFESSOR
A crítica de Foucault ao sistema penal é baseada no seu passado de suplícios corpóreos e na 
substituição dos mesmos pelo castigo à "alma" dos aprisionados a partir de processos de 
adestramento e desconstrução da psique do apenado. Nesta Dica do Professor, você verá alguns 
aspectos de sua crítica a partir da obra Vigiar e Punir.
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EXERCÍCIOS
1) A Convenção de 1912 sobre o tratamento do Ópio inaugurou a fase ____________ do 
tratamento ao comércio de drogas entorpecentes.
A) liberalista
B) higienista
C) proibicionista
D) garantista
E) de abrandamento
2) A Convenção de 1961 representou para o tema "controle de tráfico de 
entorpecentes":
A) Um retrocesso em relação às convenções anteriores.
B) Uma consolidação da discussão sobre o tema.
C) O encerramento do tratamento legal internacional.
D) Plena sinergia entre os países signatários.
E) A sua suspensão no plano internacional.
3) A primeira fase regulatória de entorpecentes no Brasil, em relação ao usuário de 
drogas, foi marcada pela doutrina: 
A) higienista.
B) proibicionista.
C) bélica.
D) liberalista.
E) protecionista.
4) A Constituição Federal de 1988 foi marcada por um aperfeiçoamento da doutrina 
______________________. Sendo marcada pelos avanços da mesma pela Lei de 
Crimes Hediondos de 1990.
A) higienista
B) bélica
C) legalista
D) protecionista
E) proibicionista
5) Segundo o pensamento de Foucault, o cárcere é uma política pública que, após as 
reformas do século XIX e XX do sistema penal, caracteriza-se como uma instituição:
A) ressocializadora.
B) educativa.
C) recreativa.
D) criminalizadora.
E) laboral.
NA PRÁTICA
O controle do uso de drogas no Brasil hoje segue com tendência proibicionista, com o 
entendimento de que o seu uso reforça os crimes associados ao comércio ilegal desses produtos.
Esse entendimento pode ser depreendido da ementa a seguir, a qual representa o entendimento 
unânime do Supremo Tribunal Federal, em que fora rejeitado o agravo regimental com base no 
princípio da insignificância da conduta criminal, ocasião em que a defesa do réu havia tentado 
adotar a teoria abolicionista ou liberalista do uso de drogas. 
 
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
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