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Adolescente infrator

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Adolescente infrator
APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo!
O tratamento jurídico do adolescente infrator sofreu diversas mudanças ao longo da evolução 
jurídica do tema tanto na história da humanidade quanto na recente história do Direito 
Brasileiro. Passamos do tratamento das infrações cometidas por essa faixa etária sensível da 
tutela familiar à tutela estatal, para finalmente compor-se um verdadeiro sistema de controle 
social, estatal e familiar com vistas ao desenvolvimento do jovem infrator.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará a evolução dos direitos da criança e do 
adolescente no Brasil, as características dessa faixa etária que justificam a proteção especial aos 
seus direitos subjetivos e as distinções entre política de atendimento, medidas de proteção ao 
adolescente e ato infracional.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Descrever a evolução dos direitos da criança e do adolescente no Brasil.•
Analisar o conceito de adolescência e os fatores de risco dessa faixa etária em relação à 
infração.
•
Diferenciar os conceitos de política de atendimento, medidas de proteção e infração. •
DESAFIO
A infância e a adolescência são faixas etárias de formação do ser humano, tanto em aspectos 
biológicos quanto intelectuais. Em especial, para os fins de Direito, são levados em conta 
aspectos formacionais da capacidade de tomada de decisões e da formação moral, que leva o ser 
humano a distinguir entre o que é lícito ou ilícito na sociedade a que pertence. Nesse sentido, 
acompanhe a situação a seguir. 
 
 
Considerando a legislação vigente, na qualidade de advogado dos pais de José, explique sua tese 
de defesa em relação à denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual do município de Rio 
Pequeno.
 
INFOGRÁFICO
O adolescente infrator pode responder por meio de medidas de caráter socioeducativo ou de 
proteção previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em virtude de sua idade e/ou 
circunstâncias da infração cometida.
Veja no infográfico as distinções entre tais medidas e as diferentes previsões de nossa 
legislação. 
 
CONTEÚDO DO LIVRO
A fase da adolescência é especialmente sensível para a formação da ética e da psiquê humana, 
além de ser marcada por fatores como a rebeldia, o extremismo e a melancolia que tornam essa 
faixa etária propensa a atos ilícitos.
No capítulo Adolescente infrator, do livro Psicologia e Criminologia, você encontrará um 
histórico do tratamento legal dado aos adolescentes infratores, os aspectos principais da 
legislação atual e as características dessa faixa etária. 
Adolescente infrator
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Identificar a evolução dos direitos da criança e do adolescente no Brasil.
 � Analisar o conceito de adolescência e os fatores de risco dessa faixa 
etária em relação à infração.
 � Diferenciar os conceitos de política de atendimento, medidas de 
proteção e infração.
Introdução
O tratamento jurídico do adolescente infrator sofreu diversas mudanças 
ao longo da evolução jurídica do tema na história da humanidade e na 
história recente do direito brasileiro. Assim, o tratamento das infrações 
cometidas por pessoas dessa faixa etária passou da tutela familiar à 
tutela estatal, para finalmente compor-se um verdadeiro sistema de 
controle social, estatal e familiar com vistas ao desenvolvimento do 
jovem infrator.
Neste capítulo, você vai estudar a evolução dos direitos da criança e 
do adolescente no Brasil. Também vai conhecer as características dessa 
faixa etária que justificam a proteção especial aos seus direitos subjetivos. 
Além disso, vai verificar as distinções entre a política de atendimento, as 
medidas de proteção ao adolescente e o ato infracional.
A adolescência e os fatores de risco para a 
conduta infracional
Como você sabe, a infância e a adolescência são faixas etárias de formação do 
ser humano. Seja em aspectos biológicos, seja em aspectos intelectuais. Em 
especial, para os fins de direito, são levados em conta aspectos formacionais da 
capacidade de tomada de decisões e da formação moral, que leva o ser humano 
a distinguir entre o que é lícito ou ilícito na sociedade à qual ele pertence.
O período de formação referente à adolescência é especialmente sensível ao 
tratamento jurídico. É nessa fase que o ser humano dispõe de suas capacidades 
físicas mais próximas da plenitude, enquanto sua formação intelectual e moral 
ainda se encontra em desenvolvimento e carece do amadurecimento necessário 
para a avaliação completa das consequências de suas atitudes.
Sob o aspecto legal, o adolescente é, como lembra Cerqueira (2005), aquele 
que tem de 12 anos completos até 18 incompletos, faixa etária para a qual o 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990) dispensa trata-
mento diferenciado em relação às eventuais práticas infracionais. Assim, esse 
documento prevê medidas socioeducativas para a correção dessas práticas.
Mário Volpi (1999) esclarece que a criança e o adolescente são concebidos 
como pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direitos e destinatários de pro-
teção integral. Isso pois a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento dá 
às instituições envolvidas na operacionalização das medidas socioeducativas 
a missão de proteger, no sentido de garantir o conjunto de direitos e de educar 
visando à inserção do adolescente na vida social. Esse processo se dá a partir de 
um conjunto de ações que propiciam a educação formal, a profissionalização, 
a saúde, o lazer e os demais direitos assegurados legalmente.
A condição de sujeito de direitos, reconhecida na Constituição Federal de 1988 e no 
próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, implica a participação do adolescente nas 
decisões de seu interesse e o respeito à sua autonomia, no contexto do cumprimento 
das normas legais. Por isso, se entende que é responsabilidade do Estado, da sociedade 
e da família garantir o desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Assim, 
são fundamentais as medidas socioeducativas, que devem constituir-se em condições 
especiais de acesso a todos os direitos sociais, políticos e civis (VOLPI, 1999).
Coimbra, Bocco e Nascimento (2005), no entanto, alertam para o fato 
de que o conceito de adolescente não se trata de um conceito natural, senão 
de uma construção científica. Afinal, “[...] nada mais é que um ‘fenômeno 
cultural’ produzido pelas práticas sociais em determinados momentos his-
tóricos, manifestando-se de formas diferentes e nem sequer existindo em 
alguns lugares” (COIMBRA; BOCCO; NASCIMENTO, 2005, p. 4). Esse 
fato é refletido pela história da legislação sobre a criança e o adolescente no 
Brasil, como você vai ver.
Adolescente infrator2
Foi apenas no Ocidente, durante o século XX, que, “[...] embasado em 
pressupostos científicos, o adolescente moderno típico estabeleceu-se como um 
objeto natural com características e atributos psicológicos bem demarcados” 
(COIMBRA; BOCCO; NASCIMENTO, 2005). Segundo os autores:
Dentro do princípio desenvolvimentista, a adolescência surge como um objeto 
exacerbado por uma série de atributos psicologizantes e mesmo biologizantes. 
Práticas baseadas nos conhecimentos da medicina e da biologia, em espe-
cial, vêm afirmando, por exemplo, que determinadas mudanças hormonais, 
glandulares, corporais e físicas pertencentes a essa fase seriam responsáveis 
por algumas características psicológico-existenciais próprias do adolescente. 
Tais características passam a ser percebidas como uma essência, em que 
“qualidades” e “defeitos” como rebeldia, desinteresse, crise, instabilidade 
afetiva, descontentamento, melancolia, agressividade, impulsividade, entu-
siasmo, timidez e introspecção passam a ser sinônimos do ser adolescente, 
constituindo uma “identidade adolescente” (COIMBRA; BOCCO; NASCI-
MENTO, 2005, p. 4–5).
É a partir dessa concepção desenvolvimentistado século XX que o ECA se 
estabelece como um exemplo de diploma da doutrina da “proteção integral” 
para amenizar o processo de desenvolvimento dessa faixa etária. Nela, ins-
tabilidade afetiva, entusiasmo, descontentamento, melancolia, agressividade, 
impulsividade, rebeldia e outros atributos deixam o adolescente vulnerável à 
tomada de decisões equivocadas, ou mesmo propenso à tomada de atitudes 
contra o estabelecimento legal, por sua própria natureza “rebelde”.
Os autores, no entanto, afirmam que, em outras correntes da psicologia, 
como as ideias de 
[...] Foucault e da Filosofia da Diferença, defendemos que os sujeitos não 
possuem identidades fixas e impermeáveis, mas são atravessados por uma 
multiplicidade de forças que os subjetivam incessantemente. Dentro disso, 
a noção de desenvolvimento é uma construção, pois não há um conjunto de 
características a serem obtidas. Preferimos pensar em termos de processo, 
apostando que a vida se constrói a cada momento e não pode ser reduzida a 
qualquer modelo ou norma. Sujeitos e objetos se encontram em permanente 
devir (COIMBRA; BOCCO; NASCIMENTO, 2005, p. 7).
Dessa forma, a transição da adolescência para a fase adulta não encerraria 
o processo de desenvolvimento, uma vez que o ser humano, no tocante aos 
aspectos morais e intelectuais, estaria em constante estado de evolução. No 
entanto, não se pode retirar a importância da legislação calçada nas teorias 
do desenvolvimento que caracterizam a sensibilidade especial da criança e do 
3Adolescente infrator
adolescente por seus impulsos naturais. Também não é possível desconsiderar 
a influência que uma demasiada carga legal aos seus atos inconsequentes 
poderia ter nessa etapa do constante crescimento humano. 
A história dos direitos da criança e do 
adolescente no Brasil
O tratamento das infrações do adolescente passou por diversas fases na 
história da humanidade, desde a tutela familiar a partir do uso pleno do 
poder paterno até a entrega da tutela infracional à Justiça e a reconstrução 
de um sistema integrado de controle familiar, social e jurídico pautado pela 
proteção integral.
Segundo Maciel (2010), hoje se vive um momento sem paralelo na história 
da proteção infantojuvenil. Afinal, as crianças e adolescentes deixam de ser 
“objetos de proteção” para passar à condição de sujeitos de direito destinatários 
da doutrina de proteção integral consagrada na Constituição Federal de 1988.
No entanto, esse quadro está longe de ser uma constante na evolução do 
tratamento jurídico dessas faixas etárias pautadas pela sensibilidade e pela 
formação da psique humana. Segundo a autora (MACIEL, 2010), nas antigas 
civilizações os laços familiares eram estabelecidos pelo culto à religião 
e não pelas relações afetivas ou consanguíneas. A família fundava-se no 
poder paterno (pater familiae) marital, ficando a cargo do chefe da família 
o cumprimento dos deveres religiosos na civilização romana. Conforme 
a autora destaca, a família não era formada pela religião, porém o culto 
ditava as suas regras e estabelecia o direito como um todo, de modo que a 
sociedade familiar era uma associação religiosa e não era encarada como 
uma associação “natural”.
Conforme ensina Maciel (2010), o pai exercia poder absoluto sobre seus 
filhos, sendo que estes sujeitavam-se à autoridade do pai enquanto na casa 
dele vivessem, independentemente da faixa etária em que o fizessem, já que 
naquela época não se distinguiam maiores e menores de idade. Filhos não 
eram sujeitos de direitos, e sim objeto das relações jurídicas sobre os quais 
o pai exercia um direito de propriedade, por meio do qual decidia, inclusive, 
sobre a vida e a morte de seus descendentes. Esse modelo romano citado pela 
autora também seria copiado pelas sociedades servis na Idade Média e em 
alguma medida é reproduzido em algumas sociedades rurais pouco avançadas 
culturalmente.
Adolescente infrator4
Em contraste, a autora (MACIEL, 2010) informa que em Esparta, cidade 
grega famosa por seus guerreiros, o pai transferia para um tribunal do Estado 
o poder sobre a vida e a criação dos filhos, com o objetivo de preparar novos 
guerreiros. As crianças eram, portanto, “patrimônio” do Estado. Dessa forma, 
o poder paternal deixava de ser o centro do tratamento familiar à criança e ao 
adolescente, sendo esse tratamento delegado integralmente à entidade estatal.
A Idade Média, segundo a autora, foi marcada pela amenização do trata-
mento familiar dado às questões das crianças e adolescentes. Isso ocorreu pela 
introdução de valores como a dignidade, mesmo que o valor principal dessas 
relações tenha sido uma adaptação da relação romana de “honrar o pai e a mãe”, 
consagrada no mandamento católico seguido com força de lei divina na época.
O direito brasileiro seguiu a tendência europeia, uma vez que no Brasil 
colonial as ordenações do Reino tiveram larga aplicação, mantendo-se o 
respeito ao pai como autoridade máxima no âmbito familiar. Contudo, con-
forme evidencia Maciel (2010), em relação aos índios que aqui viviam e cujos 
costumes eram de todo próprios, havia uma inversão de valores. Afinal, os 
jesuítas desejavam catequizar os índios adultos e, percebendo que era muito 
mais simples educar as crianças, as utilizavam como forma de atingir os pais. 
Em outras palavras, os filhos passaram a educar e adequar os pais à nova 
ordem moral. Como forma de resguardar a autoridade paterna, no entanto, 
era assegurado o direito de castigo ao filho como forma de educação, sendo 
na época lícita a conduta de lesão ou homicídio em relação à prole, desde que 
no “exercício desse mister”.
Durante a fase imperial, inicia-se a preocupação com os menores infra-
tores e infratores de maior idade, com uma política fundada no temor ante 
a crueldade das penas, tal como o tratamento inquisitório-criminal, que se 
popularizou na Europa medieval. À época, eram vigentes as Ordenações 
Filipinas portuguesas, em que a imputabilidade penal era conferida até os sete 
anos de idade. Dos sete aos 17 anos, o tratamento era similar ao do adulto, com 
atenuação na aplicação da pena. Já dos 17 aos 21 anos, esses jovens adultos, 
assim considerados, poderiam sofrer pena de morte natural (por enforcamento), 
com exceção do crime de falsificação de moeda, para o qual a pena capital 
era conferida aos maiores de 14 anos.
Em 1830, o Código Penal Imperial introduziu o exame de capacidade de 
discernimento para aplicação da pena. Dessa forma, enquanto os menores 
de 14 anos eram considerados inimputáveis, se dos sete aos 14 anos tivessem 
capacidade de discernir, seriam conduzidos às casas de correção, onde per-
maneceriam até os 17 anos de idade.
5Adolescente infrator
O primeiro Código Penal dos Estados Unidos do Brasil aumentou a faixa 
de inimputabilidade para os nove anos de idade, sendo mantida a verificação 
de discernimento quanto aos adolescentes entre nove e 14 anos de idade. Até 
os 17 anos, seriam apenados com dois terços da pena do adulto.
Em 1551, foi fundada a primeira casa de recolhimento de crianças do 
Brasil, gerida por jesuítas que buscavam isolar crianças índias e negras da 
“má influência de seus pais”, com seus costumes “bárbaros”, consolidando a 
política de recolhimento no País.
No século XVIII, com a preocupação do Estado em relação ao abandono 
de crianças (órfãos e expostos) ilegítimas e filhos de escravos, em sua maioria, 
nas portas de igrejas, conventos, residências ou mesmo nas ruas, criaram-se as 
rodas dos expostos, mantidas pelas Santas Casas de Misericórdia. Finalmente, 
Maciel (2010) indica que, no início do período republicano, marcado por um 
aumento populacional nas metrópoles do Rio de Janeiro e de São Paulo pela 
migração dos escravos recém-libertos, foram fundadas entidades assistenciais 
com medidas higienistas e de caridade para combater males sociais como os 
sem-teto, as doenças e o analfabetismo.
O pensamento social, assim, oscilava entre a proteção dos menores e a 
proteção em relação aos menores, com a inauguração decasas de recolhimento 
em 1906. Essas casas se dividiam em escolas de prevenção para a educação 
de menores em abandono e escolas de reformas e colônias correcionais, cujo 
objetivo era regenerar menores em conflito com a lei.
Em 1912, o deputado João Chaves apresentou o projeto de lei que alteraria 
a perspectiva do direito de crianças e adolescentes, afastando a relação exclu-
sivamente penal entre essas categorias e o direito. Além disso, ele propôs a 
especialização dos tribunais e juízes, nessa linha traçada pelos movimentos 
internacionais da época. Essa influência externa trouxe a construção de uma 
doutrina do direito do menor fundada no binômio carência/delinquência, inau-
gurando a fase da criminalização da infância pobre. Assim, o Estado deveria 
“proteger os menores”, mesmo que suprimindo suas garantias, delineando a 
doutrina da situação irregular.
Em 1926, foi publicado o Decreto nº 5.083, o primeiro código de menores 
do Brasil, que cuidava dos infantes expostos e menores abandonados. Em 
1927, foi substituído pelo Decreto nº 17.943–A, conhecido como Código Mello 
Mattos, segundo o qual caberia ao juiz de menores decidir-lhes o destino. 
Já no campo infracional, a imputabilidade passara a ser até os 14, sendo 
que os jovens entre 14 e 18 anos eram passíveis de punição com pena atenuada. 
Dessa forma, a nova lei se caracterizava como um misto entre assistência e 
justiça e era marcada pela autoridade centralizadora, controladora e protecio-
Adolescente infrator6
nista exercida pelo Judiciário. Além disso, essa lei contribuiu para a construção 
do estigma do “menor”, que acompanharia as crianças e adolescentes até o 
advento da Lei nº 8.096, de 21 de novembro de 1990.
Em 1937, a Constituição Federal ampliou o horizonte social da infância e da 
juventude, integrando o serviço social aos programas de bem-estar, destacando-
-se o Decreto-Lei nº 3.799, de 1941, que criou o Serviço de Assistência do 
Menor (SAM). Esse serviço atendia menores delinquentes e desvalidos e foi 
redefinido pelo Decreto-Lei nº 6.865. A tutela da infância, segundo Maciel 
(2010), caracterizava-se pelo regime de internações com quebra dos vínculos 
familiares, substituídos por vínculos institucionais. O objetivo, segundo a 
autora, era recuperar o menor, adequando-o ao comportamento ditado pelo 
Estado, mesmo que o afastasse por completo da família. A preocupação, 
portanto, era correcional e não afetiva.
Em 1943, foi instalada a Comissão Revisora do Código Mello Mattos, 
que diagnosticara que o problema das crianças era eminentemente social e 
propunha a criação de um código misto, jurídico e social. O projeto havia 
sido influenciado pelos movimentos pós-Segunda Guerra em prol dos direitos 
humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e 
a Declaração dos Direitos da Criança, de 1959, inaugurando a influência da 
doutrina da proteção integral no ordenamento jurídico pátrio.
Contudo, essa influência teve suspensão na história nacional devido ao 
Golpe Militar de 1964, que encerrou o SAM por não cumprir seu objetivo, 
marcado por desvio de verbas, superlotação, ensino precário, incapacidade 
de recuperação dos internos e outros problemas. Nesse momento, foi criada 
a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM).
A FUNABEM era baseada na Política Nacional do Bem-Estar do Menor (PNBEM), com 
gestão marcadamente centralizadora e verticalizada. No que Maciel (2010, p. 297) 
caracteriza como uma nítida contradição entre a técnica e a prática, a FUNABEM 
apresentava uma proposta pedagógica-assistencial progressista, enquanto na prática: 
[...] era mais um instrumento de controle do regime político autoritário 
exercido pelos militares. Em nome da segurança nacional buscava-se 
reduzir ou anular ameaças ou pressões antagônicas de qualquer origem, 
mesmo se tratando de menores, elevados, naquele momento histórico, 
à categoria de “problema de segurança nacional”.
7Adolescente infrator
O período militar também caracterizou-se pela redução da responsabilidade 
penal para os 16 anos de idade, em 1967. Entre 16 e 18 anos de idade, seria 
utilizado o critério da capacidade do discernimento para a imputação de penas. 
Em 1968, a imputabilidade retornou para até os 18 anos de idade.
No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, iniciaram-se os debates 
sobre uma nova legislação menorista, sendo publicada em 1979 a Lei nº 6.697, 
conhecida como o Novo Código de Menores. Esse código consolidou a doutrina 
da “situação irregular”, de modo que a cultura de internação de carentes ou 
delinquentes foi a tônica, e a segregação era vista em muitos casos como a 
única solução.
Em 1988, a Constituição Federal trouxe significativas mudanças ao esta-
belecer a alteração do binômio individual/patrimonial para o coletivo/social. 
Em 1990, é instituído o Estatuto da Criança e do Adolescente, que, segundo 
a doutrina, significou uma “revolução copernicana” na área da infância e 
da adolescência. Foi construído um novo paradigma para essa faixa etária, 
implantando-se a proteção integral como política pública. 
Maciel (2010) ensina que nesse período as crianças e adolescentes deixam 
de ser objeto de proteção assistencial para serem considerados titulares de 
direitos subjetivos. Nesse contexto, a FUNABEM foi substituída pelo Centro 
Brasileiro para a Infância e a Adolescência, marcando o fim da doutrina da 
situação irregular e o início do tratamento da “criança e do adolescente”, sem 
o uso da expressão pejorativa “menor”, alinhando-se a legislação nacional 
com os documentos internacionais. O sistema de proteção à criança e ao 
adolescente deixa de ser centralizado para fixar-se nos municípios, por meio 
do Conselho Municipal de Direito da Criança e do Adolescente (CMDCA), 
bem como numa cogestão com a sociedade civil.
A política de atendimento, as medidas de 
proteção e o ato infracional no ECA
Agora você já conhece os aspectos especiais da condição de adolescente e a 
importância da proteção integral oferecida a ele na legislação. Além disso, 
você viu a evolução dos diplomas legais em direção a esse quadro delimitado 
pelos valores científicos e da comunidade internacional. Portanto, a seguir você 
vai estudar os aspectos essenciais do Estatuto da Criança e do Adolescente de 
1990. Você vai analisar a política de atendimento, as medidas de proteção e a 
natureza do ato infracional aos olhos desse diploma legislativo, que atualmente 
regula as relações entre o Estado e o adolescente infrator.
Adolescente infrator8
Maciel (2010, p. 297 –298) define a política de atendimento como a “[...] 
intervenção do poder público no atendimento à infância e à adolescência”. 
Segundo a autora:
A Lei nº 8.069/90 — Estatuto da Criança e do Adolescente — após tratar, 
na Parte Geral dos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, 
esmiuçando o comando constante do art. 227, caput da CRFB, indica os 
mecanismos legais destinados à promoção destes direitos, inaugurando a 
parte especial, com a exposição de normas sobre as quais deverá se assentar 
a nova política de atendimento.
A política de atendimento — que integra o âmbito maior da política de pro-
moção e proteção dos direitos humanos — é o eixo estratégico da promoção 
dos direitos humanos das crianças e adolescentes operacionalizado. 
Estruturada com base no paradigma da Proteção Integral, constitucional-
mente estabelecido pelo art. 227 e parágrafos da Constituição Federal de 
1988, apresenta como principais aspectos dissonantes da política anterior: 
o seu público-alvo, consistente em todas as crianças e os adolescentes, 
estando definitivamente extirpada do País a pecha da situação irregular; 
a difusão das decisões e a operacionalização das ações entre todos os 
entes federativos, sendo a União responsável, tão somente, pelos seus 
delineamentos gerais e, por fim, a participação da sociedade na sua gestão 
(MACIEL, 2010, p. 305).
Como você viu, o ECA define que as prefeituras possuem papel de pro-
tagonistas na nova política de atendimento.Assim, se destaca uma mudança 
de paradigma: da antiga proteção de crianças e adolescentes em condição 
de especial vulnerabilidade para uma ampliação da tutela estatal de todas 
as crianças e adolescentes, independentemente de sua situação econômico-
-financeira e mesmo emocional. Também se estabelece uma tutela cooperativa 
entre o Estado, a sociedade e a família, como um tripé de atendimento das 
necessidades especiais inerentes a essas faixas etárias.
As medidas de proteção, por sua vez, são instrumentos da política de atendi-
mento voltados à criança e ao adolescente em situação de risco. Nesse sentido, 
a criança e o adolescente são considerados em situação de risco, conforme 
lembra Cerqueira (2005), quando privados de assistência (sem alimentação ou 
moradia que garantam sua sobrevivência), ou quando privados de assistência 
moral (falta-lhes o necessário para a sua formação ética e jurídica, falta-lhes 
representação legal). Essa situação de risco pode ser causada pela família 
(pais ou responsáveis), pelo Estado, pela sociedade e também pela própria 
criança ou adolescente.
9Adolescente infrator
As medidas de proteção previstas no art. 101 do ECA (BRASIL, 1990) são:
1. Encaminhamento aos pais ou responsáveis mediante termo de responsabi-
lidade (acompanhado de advertência aos pais ou responsáveis);
2. Orientação, apoio e acompanhamento temporários — para criança ou adoles-
cente com desvio de conduta ou para adolescente que pratique ato infracional;
3. Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino 
fundamental;
4. Inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança 
e ao adolescente;
5. Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regi-
me hospitalar ou ambulatorial — o juiz requisita a prestação do serviço ao 
estabelecimento;
6. Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e 
tratamento de alcoólatras e toxicômanos;
7. Abrigo em entidade;
8. Colocação em família substituta (guarda, tutela ou adoção).
Além das medidas de proteção, também são previstas medidas socioedu-
cativas que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, com previsão 
no art. 112 do ECA (BRASIL, 1990), como forma de reintegrar e reeducar 
o adolescente infrator (o ato infracional é a conduta análoga ao crime ou 
à contravenção). Segundo Cerqueira (2005, p. 295–296), a mais aplicada 
é a prestação de serviços a comunidades, sendo a internação medida de 
exceção e extrema. Em se tratando de medidas de penalidade, para aplicar 
a medida socioeducativa, o juiz tem de respeitar o devido processo legal, 
que implica: citação, oitiva pessoal, defesa técnica, assistência judiciária 
gratuita, direito a solicitar a presença dos pais ou responsáveis em qualquer 
momento em qualquer fase processual e igualdade na relação processual 
(BRASIL, 1990, art. 111).
Finalmente, o ato infracional propriamente dito é definido pelo art. 103 
do ECA (BRASIL, 1990) como “[...] aquela conduta prevista em lei como 
contravenção ou crime”. O Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 
1990) estabelece que a responsabilidade pela conduta descrita começa aos 12 
anos na forma do ECA (e passa a tornar-se responsabilidade penal aos 18 anos, 
conforme o art. 27 do Código Penal); ressalvados os incapazes de discernimento 
na forma do art. 26 do Código Penal (BRASIL, 1940). Segundo Volpi (1999, 
p. 15), ao definir o ato infracional dessa forma, em correspondência absoluta 
com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, o ECA considera o 
adolescente infrator como uma categoria jurídica, passando a ser sujeito dos 
Adolescente infrator10
direitos estabelecidos na doutrina da proteção integral, inclusive do devido 
processo legal.
Segundo Volpi (1999), essa conceituação rompe a concepção de adoles-
cente infrator como categoria sociológica vaga, implícita no antigo Código 
de Menores. Este, ao se amparar em uma falsa ideologia tutelar (doutrina 
da situação irregular), aceitava reclusões despidas de todas as garantias que 
uma medida de tal natureza deve necessariamente incluir e implicava uma 
verdadeira privação de liberdade.
Essa distinção é importante para o tratamento do menor infrator, pois, 
diferente do direito penal, em que o delito constitui uma ação típica, antijurí-
dica, culpável e punível, o direito de menores convertia o delito em uma vaga 
categoria sociológica. A inexistência de parâmetros objetivos para medir a 
dimensão quantitativa real da chamada delinquência juvenil, era, por vezes, 
substituída por avaliações e opiniões avaliadas pelo autor como impressionistas 
e inadequadas.
Volpi (1999) assevera que dar garantias ao devido processo legal para 
crianças e adolescentes não é negar a importância e a existência real de pro-
blemas sociais graves. Na verdade, significa admitir as diferenças de aspectos 
estruturais de personalidade que precisam ser considerados, sem perder de 
vista a condição de sujeitos de direitos. Nesse sentido, a “delinquência” não 
se trata de categoria homogênea nem de um critério que deve ser tido como 
definição de causa da transgressão da lei como cláusula aberta. Afinal, isso 
acarretaria insegurança jurídica à já fragilizada faixa etária responsável pela 
formação física e psíquica do ser humano.
O menor de 12 anos é considerado infante segundo o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (BRASIL, 1990). Desse modo, além da condição de inimputabilidade conferida 
ao menor de 18 anos e que sujeita o adolescente às medidas socioeducativas do ECA, 
o infrator que não tenha completado essa idade não responde pelas mencionadas 
medidas. Ele fica sujeito somente às medidas de proteção previstas no art. 101 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990). 
11Adolescente infrator
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF, 1940. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.
htm>. Acesso em: 20 abr. 2018.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF, 1990. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 20 abr. 2018.
CERQUEIRA, T. T. P. L. P. Manual do estatuto da criança e do adolescente: teoria e prática. 
São Paulo: Premier Máxima, 2005.
COIMBRA, C.; BOCCO, F.; NASCIMENTO, M. L. Subvertendo o conceito de adoles-
cência. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 57, n. 1, p. 2-11, 2005. Disponível em: 
<http://146.164.3.26/index.php/abp/article/view/6/10>. Acesso em: 04 abr. 2018.
MACIEL, K. R. F. L. A., et al. Direito da Criança e do Adolescente: Aspectos Teóricos e 
Práticos. 4ª edição. Lumen Iuris. Rio de Janeiro, 2010.
VOLPI, M. O adolescente e o ato infracional. 3ª edição. Cortez, Editora. São Paulo, 1999.
Adolescente infrator12
DICA DO PROFESSOR
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) representa uma "revolução" em relação à 
legislação anterior que tratava das questões do cidadão em formação psíquica e biológica.
Nesta Dica do Professor, trataremos de aspectos essenciais dessa legislação, como a política de 
atendimento, as medidas socioeducativas e de proteção, além do conceito de infração.
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EXERCÍCIOS
1) O/A ________________________ é uma característica do adolescente que é capaz de 
fazê-lo tomar atitudes impensadas, compondo um quadro psicológico de 
vulnerabilidade quanto à tomada de atitutes consideradas ilícitas.
A) timidez
B) melancolia
C) entusiasmo
D) introspecção
E) impulsividade
2) A tutela dos atos infracionais na antiguidade romana era realizada no âmbito 
___________. 
A) comunitário
B) escolar
C) familiar
D) estatal
E) judicial
3) A Constituição Federal de 1988, ao romper com paradigmas instaurados durante o 
longo período de regime militar, inaugurou no Brasil a doutrina de proteção da 
criança e do adolescente da:
A) Roda dos Expostos 
B) Proteção IntegralC) Assistencial 
D) Direito do Menor 
E) Correcional 
4) A infração é o ato ___________ equivalente ao crime ou à contravenção penal. 
A) lícito
B) caducificante
C) nulo
D) anulável
E) ilícito
5) Compõe o rol das medidas protetivas: 
A) Internação 
B) Advertência 
C) Abrigo em entidade 
D) Liberdade assistida 
E) Obrigação de reparar o dano 
NA PRÁTICA
As medidas de proteção e socioeducativas devem ser aplicadas de acordo com a gravidade da 
conduta exercida pelo infrator.
Essa regra, presente no parágrafo primeiro do art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA), que trata das medidas socioeducativas, é representada pelo caso abaixo, em que o 
Supremo Tribunal Federal (STF) mantém medida excepcional de internação. 
 
No caso apresentado, por se tratar de adolescente viciado em drogas que cometera latrocínio 
(roubo seguido de homicídio), as circunstâncias que influenciam seu comportamento violento 
justificam a medida excepcional, ajustada de acordo com sua situação de pessoa em 
desenvolvimento, que o excetua do sistema penal convencional.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
ECA – Menor infrator
Neste vídeo, você poderá rever alguns conceitos-chave em relação ao adolescente infrator, 
principalmente no que diz respeito à legislação relacionada.
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Adolescentes autores de atos infracionais: psicologia moral e legislação
O artigo a seguir apresenta uma discussão acerca do Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA) e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), os quais dispõem sobre 
a proteção integral dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes.
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