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Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia APRESENTAÇÃO O ser humano se constitui enquanto sujeito na troca com o mundo. Cada indivíduo é único, pois experimentou sentidos e significados diferentes em sua vivência. Essa trajetória histórica e cultural reflete em seu comportamento, suas atitudes e seus juízos de valores. Dessa forma, quando esse indivíduo torna-se uma testemunha, ele não deixa de carregar toda essa "bagagem". Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá ver que entender o ser humano, de uma forma global, não fragmentada, e entender melhor o cenário apresentado por esse indivíduo em seu testemunho. Para isso, você irá conhecer alguns pontos importantes da Psicologia do Testemunho, como a diferença entre percepção e apercepção, as contribuições da Teoria Gestalt e suas relações com a psicopatologia. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar percepção e apercepção sob a perspectiva da psicologia do testemunho.• Identificar as contribuições da Gestalt para a psicologia do testemunho.• Relacionar psicopatologia com psicologia do testemunho, com foco na percepção.• DESAFIO Ao ouvir/tomar um testemunho, você deve se atentar para as possíveis interferências que a percepção da testemunha possa ter sofrido. Com base nessas informações, analise a situação a seguir: Ana estava a caminho da padaria, quando viu o vizinho dela ser assaltado do outro lado da rua, enquanto voltava do estabelecimento. Ela relata que, apesar de estar observando seu vizinho antes do ocorrido, lembra apenas da aproximação do assaltante e de quando ele estava em fuga, já perto da esquina. Como se nota, apesar de Ana ter visto todo o ocorrido, ela só lembra do que aconteceu antes e depois do assalto em si. Diante desse cenário e considerando a noção de percepção, responda: - Qual fato pode ter influenciado a percepção de Ana sobre o ocorrido? - O fato de o assalto ter sido presenciado na parte da manhã pode influenciar no testemunho de Ana? - É comum a testemunha não se lembrar do que ocorreu entre o início e o fim do assalto? INFOGRÁFICO A Gestalt teve como principais articuladores os psicólogos Marx Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler. A teoria originou-se na Alemanha, entre 1910 e 1912. No infográfico a seguir, você irá ver como se dá o processo de percepção, um dos fundamentos da Teoria da Gestalt. CONTEÚDO DO LIVRO O depoimento de uma testemunha sobre um fato está sujeito, principalmente, a três fatores: ao modo como essa testemunha percebeu o episódio; à maneira como sua memória o armazenou e o recordou e ao modo como esse fato pode ser exteriorizado. No capítulo Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia do livro Psicologia e Criminologia, você poderá ampliar seus conhecimentos sobre a percepção e apercepção sob a perspectiva da psicologia do testemunho. Além disso, poderá conhecer as contribuições da Gestalt para a psicologia do testemunho e suas relações com a psicopatologia. Boa leitura. PSICOLOGIA E CRIMINOLOGIA Eliane Dalla Coletta Revisão técnica: Caroline Bastos Capaverde Graduada em Psicologia Especialista em Psicoterapia Psicanalítica Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147 P974 Psicologia e criminologia [recurso eletrônico] / Eliane Dalla Coletta... [et al.] ; [revisão técnica: Caroline Bastos Capaverde]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018. ISBN 978-85-9502-464-9 1. Psicologia. 2. Direito penal. I. Dalla Coletta, Eliane. CDU 159.9:343.1 Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Diferenciar percepção e apercepção sob a perspectiva da psicologia do testemunho. � Identificar as contribuições da Gestalt para a psicologia do testemunho. � Relacionar psicopatologia e psicologia do testemunho, com foco na percepção. Introdução Como você percebe os fatos que ocorrem à sua volta? Todos percebem um mesmo fato de maneira idêntica? O ser humano se constitui enquanto sujeito na sua troca com o mundo. Cada indivíduo é único, pois experi- mentou sentidos e significados diferentes em suas vivências ao longo da vida. Essa trajetória histórica e cultural se reflete em seu comportamento, suas atitudes e seus juízos de valor. Quando esse indivíduo torna-se uma testemunha, ele não deixa de carregar toda essa bagagem. Neste capítulo, você vai ver que é importante compreender um ser humano de forma global, e não fragmentada. Dessa forma, é possível entender melhor o cenário apresentado por esse indivíduo em seu tes- temunho. Para isso, você vai conhecer alguns pontos importantes da psicologia do testemunho, como a diferença entre percepção e aper- cepção, as contribuições da teoria da Gestalt e as suas relações com a psicopatologia. Percepção e apercepção sob a perspectiva da psicologia do testemunho O depoimento de uma testemunha sobre um fato está sujeito principalmente a três fatores: ao modo como essa testemunha percebeu o episódio; à maneira como sua memória o armazenou e o recordou; e ao modo como esse fato pode ser exteriorizado. Quando você observa todo esse processo psíquico, não pode deixar de lado os fatores externos e internos que atuam sobre o indivíduo/ testemunha (AMBROSIO, 2010). Segundo o poeta Juan Carlos Onetti (BENEDETTI apud TRINDADE; TRINDADE; MOLINARI, 1994, p. 78): “[...] os fatos são sempre vazios [...] são recipientes que tomarão a forma dos sentimentos que os preencherá”. Diante dessa premissa, é importante que você tente entender a diferença entre percepção e apercepção. Sob a perspectiva da psicologia do testemunho, quando alguém pergunta para outra pessoa qual sua percepção dos fatos, na verdade está questionando-a sobre a sua apercepção. A percepção é uma condição neutra, sem desejo, sem memória e sem compreensão. Já a apercepção é carregada de vivências e valores individu- ais, assim como da herança do passado. A apercepção é o modo especial e particular como cada um percebe a realidade. Ela é agregada das vivências, sentidos e significados, a ela as pessoas atrelam juízos de valor da sua bagagem existencial. Assim, a percepção pura só existe abstratamente, pois quando você recorda um fato/acontecimento, não há a dissociação entre a sensação da realidade percebida e a reação perceptiva daquela realidade. Para a psicologia do testemunho, toda percepção será sempre uma apercepção: realidade + valor (TRINDADE, 2017). Alguns estudiosos, como Miotto (1995), estabeleceram diferenças entre realidade percebida e realidade apercebida, além de também estabelecerem contrapontos entre a chamada realidade percebida e a realidade imaginada. Segundo Trindade (2017, p. 178), “[...] a realidade percebida decorre de fatos gerados externamente, enquanto a realidade imaginada advém de fatos gerados internamente; portanto, nem sempre elas coincidem”. Durante um testemunho, é possível identificar essas diferenças observando os pontos a seguir. � Fatos gerados externamente são caracteristicamente relacionados a: ■ maior informação contextual (espaço-tempo); ■ mais detalhes sensoriais (ruídos, gestos, gosto ou paladar, visão, etc.). Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia88 � Fatos gerados internamente referem-se predominantemente a: ■ mais informações sobre a maneira de ver, de sentir e de reagir própria de cada pessoa (“penso que”, “tenho a impressão de que”, “para meu espanto”, “acho que”, etc.); ■ relatos que costumam ser mais longos, com maior número de palavras, nomeadamente adjetivos (expressões subjetivadas presas a fantasias sobre o acontecimento). Quanto à veracidade e à credibilidade dos testemunhos, existem estudos que mostram que há crenças comuns sobre os tipos de testemunha. Por exemplo, as crianças, as mulheres, os estrangeiros, os negros e todosaqueles que tiveram de sofrer muito por sua particularidade são, geralmente, tidos como melhores observadores do que aqueles cuja personalidade se desenvolveu sem maiores esforços (TRINDADE, 2017). É possível haver efeitos de contexto. Considere, por exemplo, um sujeito vendo a reação de um casal em uma briga na saída de uma festa. Uma pessoa está calma enquanto a outra grita e gesticula. O entendimento da situação pode ser de que a pessoa calma tenha feito alguma coisa de errado, mesmo que essa não seja a real situação. As contribuições da Gestalt para a psicologia do testemunho A teoria da Gestalt é tida por diversos estudiosos como uma das vertentes teóricas mais coerentes e com uma das bases mais consistentes da história da psicologia. Originou-se na Alemanha, entre 1910 e 1912, e teve como articuladores os psicólogos Marx Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler. Conhecida também pelos nomes de teoria da forma, gestaltismo, psicologia da boa forma e leis de Gestalt, a psicologia da Gestalt de- fende que para se compreenderem as partes é preciso antes compreender o todo. A percepção é um dos temas fundamentais dessa teoria. Experimen- tos com a percepção levaram os teóricos da Gestalt a questionarem um 89Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia princípio implícito na teoria behaviorista (que há relação de causa e efeito entre o estímulo e a resposta), já que, para eles, entre o estímulo fornecido pelo meio e a resposta do indivíduo, está o processo de percepção. Assim, o que o indivíduo percebe e como percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento humano (FURTADO; BOCK; TEIXEIRA, 1999). Apesar de o gestaltismo e o behaviorismo comumente definirem a psicologia como estudo do comportamento, as teorias são discordantes na posição que assumem com relação ao comportamento enquanto objeto de estudo. O behavio- rismo preza pela objetividade, centraliza seu foco na relação estímulo-resposta e a isola, deixando de lado a consciência humana, por considerar impossível o controle de diversas variáveis. Já para teoria da Gestalt, o comportamento humano, quando estudado de forma isolada, pode perder o seu significado, pois deixa de envolver um contexto mais amplo. Assim, a Gestalt preconiza que devem ser observados os aspectos globais do comportamento, levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo. A justificativa para essa premissa é baseada na teoria do isomorfismo, que supõe que o universo é uma unidade, em que a parte sempre está relacionada com o todo. Os pesquisadores se basearam nos estudos psicofísicos, buscando rela- cionar a forma e a sua percepção. Os primeiros experimentos foram com relação à percepção e à sensação de movimento. Eles buscaram entender os processos psicológicos envolvidos na ilusão de óptica, quando o estímulo físico percebido pelo indivíduo possui uma forma diferente da que corres- ponde à realidade. A boa forma Quando você vê apenas parte de um objeto, tem a tendência a restaurar o equilíbrio da forma, certificando o entendimento do que está percebendo, não é? Isso acontece porque no processo de percepção as pessoas são levadas a buscar o fechamento, a simetria e a regularidade dos pontos que compõem uma figura ou objeto. Concentre-se na Figura 1, a seguir. Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia90 Figura 1. Afro-americano, de Pavlo Tereshin. Fonte: Tereshin ([2014]). A Figura 1 trata-se de um estímulo ambíguo. Normalmente, o que se vê de imediato é a meia face de um homem de frente. Contudo, se você observar mais atentamente, pode ver também o rosto de um homem de perfil. Isso demonstra que, mesmo em condições ideais, a percepção pode variar de indivíduo para indivíduo, de ocasião para ocasião, pois ela é afetada de inúmeros jeitos e por diferentes acontecimentos e situações. 91Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia A maneira como se distribuem os elementos que compõem a Figura 1 não denota equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade o bastante para garantir a boa forma, pois não supera a ilusão de óptica. Agora veja mais um exemplo na Figura 2, a seguir. Figura 2. Relação entre a figura e o fundo. Fonte: Pio3/Shutterstock.com. Na Figura 2, você pode identificar a relação figura-fundo. Ela acontece pois as pessoas tendem a buscar a boa forma. Quando mais clara a boa forma estiver, maior a separação entre a figura e o fundo. Nesse caso, o fundo e a figura se substituem dependendo da percepção de quem olha, não sendo possível ver os perfis e a taça ao mesmo tempo. A teoria da Gestalt utiliza os fundamentos desses fenômenos para tentar compreender o comportamento humano. Segundo Furtado, Bock e Teixeira (1999, p. 79), “[...] a maneira como percebemos um determinado estímulo irá Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia92 desencadear nosso comportamento”. Os comportamentos têm uma relação íntima com os estímulos físicos, sendo isso esperado porque as pessoas com- preendem o ambiente de acordo com sua realidade. É comum, por exemplo, uma pessoa confundir alguém que viu de longe com um amigo. Nesse caso, um erro de percepção leva à confusão, mas na hora de chamar o desconhecido a pessoa estava de fato chamando um amigo. O ambiente pode mediar a forma como as pessoas interpretam o conteúdo recebido. Meio geográfico e meio comportamental O comportamento é determinando pela percepção do estímulo e é submetido à lei da boa forma. Já o conjunto de estímulos determinantes do comportamento é denominado meio ou meio ambiental, que é dividido em dois: o geográfico e o comportamental. Você pode compreender o meio geográfico como o meio físico que se apresenta na realidade, sua forma objetiva. Já o meio compor- tamental é aquele resultante da interação do sujeito com o meio físico e da interpretação que faz dele, realizada por meio das forças que comandam a percepção (equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade). No último exemplo, a pessoa chamada era uma desconhecida, o que deveria ser um dado percebido se você levar em consideração somente o meio geográfico. Contudo, no momento em que a pessoa foi chamada, o cenário provocou uma interpretação diferente da realidade, e aquele que chamou o desconhecido acabou confundindo-o com um amigo. Possivel- mente, a semelhança entre a pessoa conhecida e a estranha causou o equí- voco. Essa momentânea perspectiva do meio, criada pela mente, é o meio comportamental. É essa tendência a juntar os elementos ou, no exemplo, as semelhanças entre as duas pessoas que a teoria gestaltista chama de força do campo psicológico. Campo psicológico Para compreender melhor a noção de boa forma, é importante você conside- rar, sob uma perspectiva relacional, a ideia de campo psicológico. O campo psicológico, assim, pode ser compreendido como: [...] um campo de força que nos leva a procurar a boa forma. Funciona figu- rativamente como um campo eletromagnético criado por um ímã (a força de atração e repulsão). Esse campo de força psicológico tem uma tendência que garante a busca da melhor forma possível em situações que não estão muito estruturadas (FURTADO; BOCK; TEIXEIRA, 1999, p. 81). 93Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia Esse processo ocorre de acordo com alguns princípios. Para que você possa entender como a percepção é importante, vai ver alguns exemplos desses princípios e de suas organizações na Figura 3, a seguir. Figura 3. Teoria da Gestalt. Fonte: Psicologia... (2018). Agora, veja a seguir o que pode ser pensado a partir da observação da Figura 3, considerando a influência de ascendentes e descendentes. 1. Unidades: as pessoas tendem a observar a palavra como um todo, contudo percebem que ela é formada por letras de diferentes estilos e que, mesmo assim, é possível compreender o seu conjunto, entendendo o que está escrito. 2. Unificação: pode ser um único elemento,que se encerra em si, ou parte de um todo. Mesmo que a letra “G” seja formada por três elementos, esses elementos compõem parte do todo. 3. Fechamento: a interpretação visual naturalmente tende a fechar imagens abertas ou vazadas. As pessoas veem a letra “G” por completo, mesmo ela estando vazada. 4. Proximidade: os elementos próximos no tempo ou no espaço tendem a ser percebidos juntos. Você tende a ver a letra “E” por inteiro, e não os quadrados que separadamente a compõem. Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia94 5. Continuidade: as pessoas percebem a fluidez da forma sem interrup- ções, a mente prevê o movimento da forma. A tendência é seguir de forma fluida a imagem da letra “S”, por exemplo. 6. Semelhança: quando você vê objetos com atributos similares, eles tendem a ser vistos como pertencentes a uma mesma estrutura. As duas letras “T” tendem a serem vistas como pertencentes a um mesmo grupo. 7. Segregação: é a capacidade de separar, identificar, evidenciar ou des- tacar unidades formais em um todo compositivo ou em partes desse todo. As pessoas tendem a ver as letras “A” e “L” como uma unidade não pertencente às demais e ao mesmo tempo parte do todo. Esses fenômenos de reconhecimento da estrutura das formas são in- fluenciados por processos ascendentes e descendentes. Por isso, a percepção muda quando está em jogo uma situação normal, como quando as pessoas fazem uma leitura calmamente, e quando ocorrem situações anormais, em que há maior intensidade, como um acidente de carro, um homicídio ou outra circunstância de estresse (TRINDADE, 2017). É diferente a percepção de um indivíduo tranquilo e alimentado daquela de alguém que está com sede, com fome e realizando uma atividade por diversas horas seguidas. Por isso, todos os aspectos devem ser levados em consideração tanto no momento de testemunhar os fatos perante o juiz, em uma audiência, como também pelo magistrado quando da sua tomada de decisão. A teoria gestaltista contribui, portanto, com a psicologia do testemunho. Ela tem o intuito de demonstrar que o comportamento deve ser estudado nos seus aspectos mais globais, levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo. Será que as pessoas percebem tudo ao seu redor? O vídeo Whodunnit? corresponde a um teste de percepção realizado em uma campanha publicitária inglesa. Nele, você pode observar como a sua percepção pode ser limitada. Confira no link a seguir. https://goo.gl/9oePhK 95Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia Psicopatologia e psicologia do testemunho Normalmente, a psicologia do testemunho é ligada à memória. Contudo, essa é uma noção limitada, visto que a relação do indivíduo com o meio é dada de diversas outras formas. Quando o testemunho é apresentado, ele não se restringe apenas à memória dos fatos. Anteriormente, você viu a importância da percepção para o esclarecimento dos fatos e o quanto ela é pessoal. Um dos fenômenos psíquicos mais impor- tantes para a psicologia do testemunho, quando se fala em psicopatologias, é a sensopercepção. A sensopercepção é o fenômeno pelo qual a sensação se faz consciente. Ela é o conjunto dos estímulos sensoriais (audição, visão, gustação e olfato) e da percepção. Em suma, é possível dizer que a sensopercepção “[...] é a capacidade de perceber e interpretar os estímulos que se apresentam aos órgãos dos sentidos” (TRINDADE, 2017, p. 84). A sensopercepção pode ser afetada por problemas e sofrer prejuízos. As distorções na sensopercepção podem fazer uma pessoa ver coisas que não existem, como ver sangue em suas roupas ou objetos voando pelo cômodo. Essas sensações são resultado de alucinações, que geralmente são um sintoma acompanhado de quadros de natureza psicótica. A seguir, você pode ver como ocorrem as principais alterações da sensopercepção. � Hiperestesia: sensibilidade exacerbada dos diferentes sentidos dada pelo aumento anormal das percepções. Por exemplo: as cores parecem mais vivas, os cheiros mais apurados. Pode ocorrer em casos de into- xicação por alucinógenos, esquizofrenia, entre outros. � Hipoestesia: diminuição da magnitude das percepções, estímulos sensoriais menos intensos que a realidade. Normalmente ocorre em estados depressivos e melancólicos. � Analgesia: perda de sensibilidade de partes determinadas do corpo. � Alucinação: é a percepção de um objeto sem a presença do objeto real; logo, é uma percepção sem objeto. A alucinação pode ser auditiva (chiados, ruídos, vozes, etc.), visual (clarões, vultos, monstros, etc.), tátil (sentir bichos caminhando pelo corpo, etc.), olfativa/gustativa (sentir cheiro ou gosto de vômito), cenestésica (sentir que o pulmão está esvaziando, etc.), cinestésica ou motora (sentir que a perna está afundando, etc.) ou sinestésica (ouvir pelos olhos, etc.). Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia96 � Alucinose: consiste em perceber a alucinação como algo estranho. Por exemplo: o indivíduo vê um objeto, mas seu senso crítico lhe diz que ele não existe. � Agnosia: é um distúrbio da percepção que leva um sujeito a não reco- nhecer indivíduos, elementos ou situações que anteriormente lhe eram familiares. Por exemplo: ver um livro e não conseguir reconhecer o que vê. A alucinação, diferente da ilusão, não é apenas uma visão equivocada de algo. Por isso, pessoas com a sensopercepção afetada por essa condição teriam dificuldades em testemunhar os fatos. Imagine o quanto o testemunho de uma pessoa nessas condições poderia confundir o juiz e causar prejuízos para as partes do processo e para a busca da justiça. AMBROSIO, G. Psicologia do testemunho. Revista Direito Econômico e Socioambiental, v. 1, n. 2, jul. 2010. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/direito economico?dd1=5045&dd99=view&dd98=pb>. Acesso em: 5 jun. 2018. FURTADO, O.; BOCK, A. M. B.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. MIOTTO, N. G. Psicología del testimonio. In: CONGRESO IBEROAMERICANO DE PSI- COLOGÍA JURÍDICA, 1. 1995. Anais... Santiago de Chile, 1995. PSICOLOGIA e publicidade. 2018. Disponível em: <http://www.yooubrasil.com. br/2018/04/06/psicologia-e-publicidade/>. Acesso em: 5 jun. 2018. TERESHIN, P. African american. [2014]. Disponível em: <https://society6.com/product/ african-american-b97_print>. Acesso em: 5 jun. 2018. TRINDADE, J. Manual de Psicologia jurídica para operadores do direito. 8. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2017. TRINDADE, J.; TRINDADE, E. K.; MOLINARI, F. Psicologia judiciária: para a carreira da magistratura. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012. 97Tópicos da psicologia relacionados ao direito e à criminologia Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. DICA DO PROFESSOR O hábito! Fator que influencia a percepção de um acontecimento e as condições habituais que podem interferir em nossa percepção. Nesta Dica do Professor, você verá como e porque isso acontece. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Para a Teoria Gestalt, o processo de percepção está: A) Entre a visão e o estímulo que o meio fornece. B) No final do processo de assimilação. C) Entre o estímulo que o meio fornece e a resposta do indivíduo. D) No início da linha de raciocínio. E) Entre a sensação e a memorização. 2) De acordo com a psicologia do testemunho, a apercepção é: A) Um modo de sentidos e significados atrelados ao futuro. B) Um sentimento generalista atribuído ao ser humano. C) Isenta de juízos de valor. D) Uma condição neutra. E) O modo como cada indivíduo percebe a realidade. 3) Vimos que a sensopercepção pode ser afetada de diversas maneiras, quando um indivíduo diz que viu melhor a cena do fato porque seu corpo estava "flutuando", é provavel que eleestivesse tendo uma: A) Hipoestasia. B) Alucinação cenestésica. C) Alucinação cinestésica. D) Alucinação sinestésica. E) Alucinose. 4) De acordo com os pressuspostos da Teoria da Gestalt, pode-se afirmar que as partes podem proporcionar uma real compreensão do todo? A) Sim, pois as partes formam o todo. B) Sim, pois o todo não é diferente das partes. C) Não, pois o todo é diferente da soma das partes. D) Não, pois as partes não são reais. E) Não, pois as partes não formam o todo. 5) Podemos definir a sensopercepção como: A) Valores somados à realidade. B) Percepção somada à ilusão. C) Realidade somada ao valor. D) Conjunto de estímulos sensoriais e a percepção. E) Efeito entre estímulo e resposta. NA PRÁTICA Algumas dicas são valiosas na prática do dia a dia dos profissionais que trabalham com a psicologia do testemunho. A escolha ou a exploração de uma testemunha-chave pode fazer toda a diferença diante do tribunal do júri, por exemplo. Veja a seguir o caso de Lígia, advogada, procurada pela família de uma mulher acusada de ter assassinado seu companheiro. Em seguida, observe a forma como Lígia analisa o contexto. Ao ler o processo, Lígia se depara com o seguinte caso: Jussara, depois de um dia cansativo de trabalho, chegou em casa e encontrou Isaac, seu companheiro, embriagado. Após muito discutirem, os dois saíram para o quintal localizado na frente da casa. A vizinha, uma idosa de 70 anos, chamou a polícia enquanto observava tudo pela janela acompanhada de sua nora. Quando os policiais chegaram, o casal estava em luta corporal. Mesmo com um dos policiais pedindo que os dois parassem, Jussara empurrou Isaac sobre o canteiro de flores. Ele bateu a cabeça em um vaso grande de barro, vindo a sofrer traumatismo craniano e, posteriormente, a falecer. Com base nos estudos de psicologia do testemunho, veja na ilustração a seguir a forma como Lígia analisa o caso: SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A credibilidade do testemunho: a verdade e a mentira nos tribunais Leia esta dissertação de mestrado e entenda sobre os processos do Princípio da Livre Apreciação da Prova. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Avanços científicos em psicologia do testemunho aplicados ao reconhecimento pessoal e aos depoimentos forenses O artigo mostra pesquisas com enfoque empírico e interdisciplinar sobre temas de grande relevância, contribuindo para a ampliação e o aperfeiçoamento da participação social no debate sobre políticas públicas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O juiz e a psicologia do testemunho Leia o artigo e compreenda o conceito de psicologia do testemunho. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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