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Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL DEFINIÇÃO A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio gastrointestinal caracterizado por dor abdominal crônica e alteração do hábito intestinal na ausência de qualquer causa orgânica. • Sintomas cardinais: dor abdominal e alteração do hábito intestinal CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS CRITÉRIOS DE ROMA IV • Dor abdominal recorrente (ocorre mais de 2x por semana nos últimos 3 meses) associada a dois ou mais dos seguintes critérios: o Dor relacionada com a evacuação (ou seja, tem que ser desencadeada, piorada ou melhorada pela evacuação) o Mudança na frequência de evacuações o Mudança na consistência das fezes. • Podemos subclassificar a SII em três subclassificações: o SII com constipação → ≥ 25% das evacuações Bristol 1 ou 2 o SII com diarreia → ≥ 25% das evacuações Bristol 6 ou 7 o SII mista → ≥ 25% das evacuações Bristol 1 ou 2 e ≥ 25% das evacuações Bristol 6 ou 7 CLASSIFICAÇÃO DE BRISTOL PARA FEZES EPIDEMIOLOGIA • Prevalência → 5 a 10% da população geral • Sexo feminino > sexo masculino • Mais frequente em mulheres entre 20 e 40 anos FATORES DE RISCO • O que temos de nível de evidência para esses fatores de risco é bem fraco • Fatores de risco periféricos o Alimentação o Infecção Gastrointestinal Aguda → gastroenterites agudas Cíbalos Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes o Inflamação da mucosa → pacientes com doença inflamatória intestinal tem uma maior relação com a SII o Cirurgias abdominais e pélvicas o Menstruação • Fatores de risco central o Estresse o Somatização de doenças psicológicas o Ansiedade e depressão o Dificuldade em lidar com as dificuldades da vida o Baixo suporte social o Abuso sofrido na infância • Infecção intestinal aguda prévia → fator de risco mais bem reconhecido para SII • SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL PÓS-INFECCIOSA o 10% dos casos o Após infecções por vírus, bactérias ou protozoários que causam alterações tanto na microbiota quanto na permeabilidade vascular desencadeando uma resposta imunológica que altera a sensibilidade visceral e a motilidade intestinal e isso pode durar até 2 anos após a infecção por algum desses microrganismos FISIOPATOLOGIA • Pilares da fisiopatologia da doença: o Aumento da sensibilidade visceral o Distúrbio da motilidade intestinal tanto diminuindo quanto aumentando PAPEL DA DIETA (IMPORTANTE!) o Sensibilidade maior aos FODMAPs (fermentable oligosaccharides, disaccharides, monosaccharides and polyols) → têm efeitos fermentativos e osmóticos → flatulência e diarreia o Deficiência de lactase (lactose) e de sucrase-isomaltase (digestão prejudicada de sacarose e amido) FODMAPs são carboidratos muito pobremente digeridos que podem ficar no lúmen intestinal e serem fermentados pelas bactérias causando o aumento de gases e dores abdominais. Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes PAPEL DO MICROBIOMA • Microbioma gastrointestinal difere de indivíduos saudáveis → AFIRMAÇÃO AINDA QUESTIONÁVEL PAPEL DOS ÁCIDOS BILIARES • Má-absorção de sais biliares o No intestino, os sais biliares podem ter um efeito de aumento da motilidade intestinal e até um aumento da fermentação, produzindo gases. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Dor abdominal o Crônica, intermitente (paciente tem períodos de dor intercalado com período sem dor ou dor muito leve), localizada no abdome inferior do paciente e tem relação com a defecação (é desencadeada, melhora ou piora com a defecação) • Alteração da consistência e/ou frequência das evacuações → podemos classificar o paciente no polo diarreico ou no polo constipado. • Sintomas frequentes: bloating (excesso de gases) e distensão abdominal • Situações comumente associadas a SII: o Dor lombar o Cefaleia o Fadiga o Fibromialgia o Ansiedade e depressão o Coexistência de outros transtornos funcionais gastrointestinais Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes DIAGNÓSTICO • O paciente preenche os critérios de Roma IV? • Se sim, precisamos fazer uma investigação básica → hemograma completo, PCR e sorologia para doença celíaca → objetivo: descartar algumas causas orgânicas que cursam com sintomas semelhantes a esses • Se diarreia → dosar calprotectina fecal o Proteína liberada por neutrófilos, então, diante de um processo inflamatório intestinal, temos a liberação dessa proteína e ela não é reabsorvida pelo intestino, logo o que é eliminado nas fezes corresponde ao que foi produzido por aquele processo inflamatório → preditor de inflamação intestinal o > 50 mcg/g → 81% da sensibilidade e 87% especificidade para a doença inflamatória intestinal o < 50 mcg/g + PCR normal → < 1% probabilidade de doença inflamatória intestinal QUANDO SOLICITAR A COLONOSCOPIA? • Sinais de alarme o Alterações laboratoriais → anemia por deficiência de ferro, PCR elevado (demonstra que pode haver algum processo inflamatório intestinal), calprotectina alterada o Sangramento gastrointestinal → seja exteriorizado na forma de hematêmese, melena ou enterorragia o Perda de peso o Diarreia noturna → sinal de alarme de que pode ter algum fator orgânico o Massa abdominal ou retal palpável • História familiar de doença inflamatória intestinal, doença celíaca ou câncer colorretal → aumenta o risco para SII • ≥ 50 anos e ainda não realizou colonoscopia de rastreio de câncer colorretal TRATAMENTO • Nenhum tratamento consegue mudar a história natural da doença • Tratamento focado em aliviar os sintomas que mais incomodam o paciente o A maioria dos tratamentos melhora em 25-30% os sintomas dos pacientes • Relação médico-paciente empática → GRANDE IMPORTÂNCIA, pois precisamos expor para o paciente que ele tem uma doença crônica e que ela não responde bem ao tratamento, ele vai ter que conviver com ela ao longo da vida, com momentos que ele vai se sentir pior com momentos que ele vai se sentir melhor. Nós como médicos devemos estar ali para acolher o paciente e ajudá- lo a passar pelas fases difíceis. • Dieta pobre em FODMAPs o Melhora de dor abdominal e bloating Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes o Impacto em qualidade de vida o Feita em 3 fases: ▪ 1ª → substituição de alimentos ricos em FODMAPs por alimentos pobres em FODMAPs (3-4 semanas) → dieta restritiva ▪ 2ª → reintroduzir grupo por grupo desses carboidratos e observar os sintomas ▪ 3ª → personalizar a dieta • Fibra solúvel para aqueles com predomínio de constipação (a que mais prescrevemos é a Psyllium) • Exercício físico (melhora psicológica e auxilio na melhora da dor e do hábito intestinal) • Uso de probióticos é controverso. • Constipação o Se não houver resposta com a fibra solúvel → Polietilenoglicol (PEG) → laxativo da classe dos osmóticos o Persistência da constipação ▪ Linaclotida → secretagogo (aumenta a secreção de líquido para o lúmen intestinal, diluindo mais o bolo fecal e melhorando a constipação) e acelera o trânsito intestinal. ▪ Lubiprostone → secretagogo ▪ Tegaserod → aumenta a motilidade intestinal (usado para os casos que não responderam as medicações anteriores) → agonista 5HT4 • Só é seguro de ser utilizado em mulheres abaixo dos 65 anos, pois estudos mostraram que em pessoas acima dos 65 anos ou homens, ele pode trazer efeitos cardiovasculares deletérios com aumento do risco de síndrome coronariana aguda. o Disfunção anorretal → ocorrem em até 40% dos pacientes com síndrome do intestino irritável ▪ Quadro clínico → esforço evacuatório, sensação de evacuação incompleta e necessidade de manobras manuais ▪ Manometria anorretal → principal exame para o diagnóstico ▪ Tratamento → esses pacientes não costumam responder a laxativos, logo o tto é o Biofeedback (fisioterapia para a parte da defecação). IanDondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes • Diarreia o Antidiarreico → Loperamida que é um agonista opioide (tto inicial) o Se não responder → quelante de sais biliares (Colestiramina) • Dor abdominal e bloating o Antiespasmódicos → mebeverina, pinavério, otilônio, hioscina o Persistência da dor → antidepressivos (tricíclicos) → possuem efeito de modulação de dor, tanto periférico quanto central o Terapias psicológicas → se nenhum dos tratamentos anteriores tiverem surtido efeito ▪ Terapia cognitivo comportamental e hipnoterapia RESUMO DA AULA • A Síndrome do Intestino Irritável é uma doença de alta prevalência. • Principais sintomas: dor abdominal crônica associada com alteração do hábito intestinal. • Para o diagnóstico, todos devem fazer hemograma, PCR e sorologia para doença celíaca. Calprotectina fecal se diarreia → esses exames devem ser NORMAIS. • Colonoscopia se sinais de alarme. • Tratamento focado em aliviar os sintomas do paciente → constipação, diarreia e dor abdominal. • Dieta pobre em FODMAPs → importante no tratamento.
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