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Objetivo geral: - Diferenciar as drogas sedativas-hipnóticas e conhecer sua aplicação clínica. Objetivos específicos: 1. Conhecer a definição dos fármacos sedativos e hipnóticos; 2. Listar os efeitos clínicos; 3. Conhecer os fármacos utilizados e suas divisões; 4. Entender o mecanismo de ação e farmacocinética; 5. Relacionar os medicamentos e sua aplicação na prática clínica. A inclusão de um fármaco na classe dos sedativos-hipnóticos indica que ele tem a capacidade de produzir sedação (com alívio concomitante da ansiedade) e incentivar o sono. Farmacologia básica dos Sedativos-hipnóticos Classificação química ➔ Benzodiazepínicos ◆ Diazepam ◆ Lorazepam ◆ Alprazolam ◆ Nitrazepam ◆ Clonazepam ➔ Barbitúricos ◆ Fenobarbital ◆ Tiopental ➔ Zolpidem ◆ Zaleplona ◆ Eszopiclona Farmacocinética Absorção e distribuição As taxas de absorção oral dos sedativos-hipnóticos diferem dependendo de vários fatores, incluindo a lipofilicidade. A lipossolubilidade desempenha uma importante função na determinação da taxa de penetração de determinado sedativo-hipnótico no SNC. - As classes mais recentes têm efeitos de início mais rápido. Importante: - Todos os sedativos-hipnóticos atravessam a barreira placentária durante a gravidez. Se forem administrados durante o período pré-parto, podem contribuir para a depressão das funções vitais do recém-nascido. - Os agentes sedativos-hipnóticos também são detectáveis no leite materno e podem exercer efeitos depressores no lactente amamentado pela mãe. Biotransformação A transformação metabólica em metabólitos mais hidrossolúveis é necessária para a depuração dos sedativos-hipnóticos do corpo. Os sistemas enzimáticos microssômicos de metabolismo dos fármacos no fígado são de suma importância nesse aspecto, de modo que a meia-vida de eliminação desses fármacos depende principalmente da taxa de sua transformação metabólica. 1. Benzodiazepínicos O metabolismo hepático é responsável pela depuração de todos os benzodiazepínicos. Os padrões e as taxas de metabolismo dependem de cada fármaco em particular. A maioria dos benzodiazepínicos sofre oxidação microssômica (reações de fase I), incluindo N-desalquilação e hidroxilação alifática catalisada por isoenzimas do citocromo P450, especialmente a CYP3A4. Subsequentemente, os metabólicos são conjugados (reações de fase II) para formar glicuronídeos, que são excretados na urina. FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) Todavia, muitos metabólitos de fase I dos benzodiazepínicos são farmacologicamente ativos, alguns com meia vida longa. Os benzodiazepínicos cujo fármaco original ou cujos metabólitos ativos apresentam meias-vidas longas têm mais tendência a causar efeitos cumulativos (sonolência excessiva) com a administração de múltiplas doses. 2. Barbitúricos As principais vias metabólicas envolvem a oxidação por enzimas hepáticas (enzimas do citocromo P450), formando álcoois, ácidos e cetonas, que aparecem na urina sob forma de conjugados glicuronídeos. A taxa global de metabolismo hepático depende de cada fármaco em particular, porém costuma ser lenta. Por esse motivo, a administração de múltiplas doses desses fármacos pode levar a efeitos cumulativos. Excreção Os metabólitos hidrossolúveis dos sedativos hipnóticos, que são formados, em sua maior parte, pela conjugação de metabólitos de fase II, são excretados principalmente pelo rim. Fatores que afetam a biodisposição A biodisposição dos agentes sedativos-hipnóticos pode ser influenciada por diversos fatores, particularmente alterações da função hepática em decorrência de doença ou aumentos ou reduções induzidas por fármacos na atividade das enzimas micromossômicas. Em pacientes muito idosos e naqueles com doença hepática grave, a meia-vida de eliminação desses fármacos com frequência está aumentada de modo significativo. Nesses casos, a administração de múltiplas doses normais desses sedativos-hipnóticos pode resultar em efeitos excessivos sobre o SNC. A atividade das enzimas microssômicas hepáticas envolvidas no metabolismo de fármacos pode estar aumentada em pacientes expostos por longo período a certos sedativos-hipnóticos mais antigos (barbitúricos). Farmacodinâmica Farmacologia molecular do receptor de GABAa Os sedativos-hipnóticos ligam-se a componentes moleculares do receptor GABAA presente nas membranas neuronais do SNC. Esse receptor, que atua como canal iônico de cloreto, é ativado pelo neurotransmissor inibitório GABA. O receptor GABAA possui uma estrutura pentamérica organizada a partir de cinco subunidades (apresentando, cada uma delas, quatro domínios que atravessam a membrana) selecionadas a partir de múltiplas classes polipeptídicas (α, β, γ, d, e, p, r, etc). Uma isoforma importante do receptor GABAA, que é encontrada em muitas regiões do cérebro, consiste em duas subunidades α1, duas subunidades β2 e uma subunidade γ2. Nessa isoforma, os dois sítios de ligação do GABA estão localizados entre as subunidades α1 e β2 adjacentes, e a bolsa de ligação para os benzodiazepínicos (o sítio de BZ do receptor de GABAA) situa-se entre uma subunidade α1 e a subunidade γ2. Todavia, os receptores GABAA em diferentes áreas do SNC consistem em várias combinações das subunidades essenciais, e os benzodiazepínicos ligam-se a muitos desses receptores, incluindo isoformas que contêm subunidades α2, α3 e α5. FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) Os barbitúricos ligam-se também a múltiplas isoformas do receptor de GABAA, porém em sítios diferentes daqueles com os quais os benzodiazepínicos interagem. Ao contrário dos benzodiazepínicos, o zolpidem, a zaleplona e a eszopiclona ligam-se mais seletivamente, visto que esses fármacos só interagem com isoformas do receptor de GABAA que contêm subunidades α1. A heterogeneidade dos receptores de GABAA pode constituir a base molecular para as ações farmacológicas variadas dos benzodiazepínicos e de fármacos relacionados. Neurofarmacologia O GABA (ácido γ-aminobutírico) é um importante neurotransmissor inibitório do SNC. Benzodiazepínicos: Estudos eletrofisiológicos mostraram que os benzodiazepínicos potencializam a inibição GABAérgica em todos os níveis do neuroeixo. Os benzodiazepínicos parecem aumentar a eficiência da inibição sináptica GABAérgica. Eles não substituem o GABA, mas parecem potencializar seus efeitos de modo alostérico, sem ativar diretamente os receptores de GABAA ou abrir os canais de cloreto associados. O aumento da condutância dos íons cloreto, induzido pela interação dos benzodiazepínicos com o GABA, assume a forma de um aumento da frequência de eventos de abertura dos canais. Barbitúricos: Os barbitúricos também facilitam as ações do GABA em múltiplos locais do SNC; todavia, diferentemente dos benzodiazepínicos, parecem aumentar a duração de abertura dos canais de cloreto regulados pelo GABA. Em altas concentrações, os barbitúricos também podem ser GABA miméticos, ativando diretamente os canais de cloreto. Esses efeitos envolvem um ou mais sítios de ligação distintos dos sítios de ligação dos benzodiazepínicos. Os barbitúricos são menos seletivos do que os benzodiazepínicos nas suas ações, visto que também deprimem as ações do neurotransmissor excitatório, o ácido glutâmico, por meio de sua ligação ao receptor de AMPA. Os barbitúricos também exercem efeitos sobre as membranas não sinápticas, paralelamente a seus efeitos sobre a neurotransmissão do GABA e do glutamato. Essa multiplicidade de locais de ação dos barbitúricos pode constituir a base de sua capacidade de induzir anestesia cirúrgica completa e de seus efeitos depressores centrais mais pronunciados (que resultam em sua baixa margem de segurança), em comparação com os benzodiazepínicos e os hipnóticos mais recentes. Efeitos em nível orgânico 1. Sedação 2. Hipnose 3. Sedação Alguns sedativos-hipnóticos, quando administrados em altas doses, deprimem o SNC até o ponto conhecido como estágio III de anestesia geral. Entretanto, a conveniência de determinado fármaco como adjuvante da anestesia depende principalmente daspropriedades físico-químicas que determinam a velocidade de seu início e a duração dos efeitos. Entre os barbitúricos, o tiopental e o metoexital são muito lipossolúveis, penetrando rapidamente no tecido cerebral após administração intravenosa, uma característica que favorece seu uso para indução da anestesia. A rápida redistribuição tecidual (mas não a rápida eliminação) responde pela curta duração de ação desses fármacos, o que constitui uma característica útil na recuperação da anestesia. Os benzodiazepínicos – incluindo o diazepam, o lorazepam e o midazolam – são usados por via intravenosa na anestesia, frequentemente em associação com outros agentes. Não é surpreendente verificar que os benzodiazepínicos, quando administrados em altas doses como adjuvantes de anestésicos gerais, podem contribuir para uma depressão respiratória pós-anestésica persistente. É provável que isso esteja relacionado com suas meias-vidas relativamente longas e com a formação de metabólitos ativos. 4. Efeitos anticonvulsivantes Os sedativos-hipnóticos são, em sua maioria, capazes de inibir o desenvolvimento e a propagação da atividade elétrica epileptiforme no SNC. Existe alguma seletividade, visto que alguns membros do grupo podem exercer efeitos anticonvulsivantes, sem causar acentuada depressão do SNC (embora possa haver comprometimento da função psicomotora). Vários benzodiazepínicos – incluindo o clonazepam, o nitrazepam, o lorazepam e o diazepam – são seletivos o suficiente para serem clinicamente úteis no tratamento das convulsões. Entre os barbitúricos, o fenobarbital e o metarbital (convertido em fenobarbital no corpo) mostram-se efetivos no tratamento das crises tônico-clônicas generalizadas, embora não sejam os fármacos de primeira escolha. FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) O zolpidem, a zaleplona e a eszopiclona carecem de atividade anticonvulsivante, presumivelmente devido à sua ligação mais seletiva a isoformas do receptor de GABAA. 5. Relaxamento muscular 6. Efeitos sobre a respiração e a função cardiovascular Tolerância - dependência psicológica e fisiológica A tolerância – isto é, a diminuição da responsividade a determinado fármaco após exposição repetida – constitui uma característica comum do uso dos sedativos-hipnóticos. Pode levar à necessidade de aumentar a dose necessária para manter uma melhora sintomática ou para promover o sono. As propriedades desejáveis percebidas de alívio da ansiedade, euforia, desinibição e promoção do sono levaram ao uso compulsivo e incorreto de praticamente todos os agentes sedativos-hipnóticos. As consequências do abuso desses agentes podem ser definidas em termos tanto psicológicos como fisiológicos. A dependência fisiológica pode ser descrita como uma alteração do estado fisiológico, que exige a administração contínua do fármaco para impedir o aparecimento de síndrome de abstinência. No caso dos sedativos-hipnóticos, essa síndrome caracteriza-se por estados de ansiedade aumentada, insônia e excitabilidade do SNC, que pode progredir para convulsões. Os sedativos-hipnóticos – incluindo os benzodiazepínicos – são, em sua maioria, capazes de produzir dependência fisiológica quando usados em longo prazo. Entretanto, a gravidade dos sintomas de abstinência difere entre os fármacos e também depende da magnitude da dose administrada imediatamente antes da interrupção do uso. Quando são usadas doses mais altas de sedativos-hipnóticos, a interrupção abrupta do fármaco resulta em sinais mais graves de abstinência. As diferenças na gravidade dos sintomas de abstinência de sedativos-hipnóticos específicos estão relacionadas, em parte, com a sua meia-vida, visto que os fármacos com meias-vidas longas são eliminados de modo lento o suficiente para produzir abstinência gradual, com poucos sintomas físicos. O uso de fármacos com meias-vidas muito curtas para efeitos hipnóticos pode levar a sinais de abstinência, mesmo entre as doses. - A interrupção abrupta do zolpidem, da zaleplona ou da eszopiclona também pode resultar em sintomas de abstinência, embora geralmente de menor intensidade. Antagonista do benzodiazepínico - FLUMAZENIL O flumazenil é um dos vários derivados 1,4-benzodiazepínicos com alta afinidade pelo sítio de ligação de benzodiazepínicos do receptor de GABAA, que atuam como antagonistas competitivos. O flumazenil bloqueia muitas das ações dos benzodiazepínicos, do zolpidem, da zaleplona e da eszopiclona, porém não antagoniza os efeitos de outros sedativos-hipnóticos, do etanol, dos opioides ou dos anestésicos gerais sobre o SNC. O flumazenil foi aprovado para uso na reversão dos efeitos depressores da superdosagem de benzodiazepínicos sobre o SNC, bem como para acelerar a recuperação após o uso desses fármacos em procedimentos anestésicos e diagnósticos. Apesar de o flumazenil reverter os efeitos sedativos dos benzodiazepínicos, o antagonismo da depressão respiratória induzida pelos benzodiazepínicos é menos previsível. Quando administrado por via intravenosa, o flumazenil atua rapidamente, porém apresenta meia-vida curta (0,7 a 1,3 hora), devido à sua rápida depuração hepática. Como todos os benzodiazepínicos têm uma duração de ação mais longa que a do flumazenil, é comum haver recidiva da sedação, exigindo a administração repetida do antagonista. Os efeitos colaterais do flumazenil incluem agitação, confusão, tontura e náuseas. O flumazenil pode causar síndrome de abstinência grave precipitada em pacientes que desenvolveram dependência fisiológica de benzodiazepínicos. Em pacientes que tomaram benzodiazepínicos com antidepressivos tricíclicos, podem ocorrer convulsões e arritmias cardíacas. Farmacologia clínica dos sedativos hipnóticos Efeitos clínicos Efeitos adversos FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) Muitos dos efeitos adversos comuns dos sedativos-hipnóticos resultam da depressão do SNC relacionada com a dose. A administração de doses relativamente baixas pode produzir sonolência, comprometimento do discernimento e diminuição das habilidades motoras. Os benzodiazepínicos podem causar amnésia retrógrada significativa relacionada com a dose. Os sedativos-hipnóticos podem exacerbar os problemas respiratórios de pacientes com doença pulmonar crônica e daqueles com apneia do sono sintomática. Referência → Katzung, Bertram, et al. Farmacologia Básica e Clínica. Grupo A, 2017.
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