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Objetivo geral: - Compreender o mecanismo de ação dos fármacos e diferenciar a aplicação clínica. Objetivos específicos: 1. Rever as características fisiológicas da epilepsia e doença de Parkinson; 2. Listar os principais fármacos; 3. Conhecer o mecanismo de ação dos medicamentos; 4. Listar as características farmacocinéticas; 5. Analisar as características farmacodinâmicas e interações medicamentosas. A N T I C O N V U L S I V A N T E S As convulsões são episódios de duração limitada de disfunção cerebral, que resultam da descarga anormal dos neurônios cerebrais. As causas das convulsões são numerosas e incluem uma variedade completa de doenças neurológicas – desde infecção até neoplasia e traumatismo cranioencefálico. Indicações clínicas Farmacocinética Os fármacos anticonvulsivantes exibem muitas propriedades farmacocinéticas semelhantes – mesmo aqueles cujas propriedades estruturais e químicas são bem diversas – visto que a maioria foi selecionada para atividade oral, e todos devem penetrar no sistema nervoso central (SNC). → Absorção A absorção é, em geral, satisfatória, e 80 a 100% da dose alcança a circulação. → Distribuição A maioria dos fármacos anticonvulsivantes (diferentes da fenitoína, da tiagabina e do ácido valpróico) não se liga fortemente às proteínas plasmáticas. → Metabolismo ➔ Os fármacos anticonvulsivantes são depurados principalmente por mecanismos hepáticos, embora tenham uma baixa razão de extração. Muitos são convertidos em metabólitos ativos, que também são depurados pelo fígado ➔ Muitos dos anticonvulsivantes mais antigos são potentes indutores da atividade das enzimas microssômicas hepáticas. ➔ A depuração plasmática é relativamente lenta; por conseguinte, muitos anticonvulsivantes são considerados de ação média a longa. → Excreção Renal Fármacos Os fármacos anticonvulsivantes atuam por mecanismos: ➔ Receptor GABA - Aumento da liberação do GABA FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) ➔ Bloqueio de canais de sódio ➔ Diminui a entrada de cálcio (ligação aos canais de cálcio regulados por voltagem) ➔ Diminuição da liberação sináptica de glutamato Fenitoína Anticonvulsivante não sedativo mais antigo. → Mecanismo de ação ← Em concentrações terapêuticas, a principal ação da fenitoína consiste em bloquear os canais de Na+ e inibir a geração de potenciais de ação rapidamente repetitivos. Uma redução da permeabilidade ao cálcio, com inibição de seu influxo pela membrana celular, pode explicar a capacidade da fenitoína de inibir uma variedade de processos secretórios induzidos pelo cálcio, incluindo a liberação de hormônios e neurotransmissores. O registro de potenciais excitatórios e inibitórios pós-sinápticos mostra que a fenitoína diminui a liberação sináptica de glutamato e aumenta a liberação de GABA. Carbamazepina A carbamazepina, que está estreitamente relacionada com a imipramina e com outros antidepressivos, é um composto tricíclico efetivo para tratar a depressão bipolar. Inicialmente, foi comercializada para o tratamento da neuralgia do trigêmeo, porém provou também ser útil para a epilepsia. → Mecanismo de ação ← A carbamazepina, à semelhança da fenitoína, bloqueia os canais de Na+ em concentrações terapêuticas e inibe o disparo repetitivo de alta frequência de neurônios em cultura. ➔ As interações medicamentosas que envolvem a carbamazepina estão quase exclusivamente relacionadas com as propriedades do fármaco de indução das enzimas. O aumento da capacidade metabólica das enzimas hepáticas pode causar uma redução nas concentrações de carbamazepina no estado de equilíbrio dinâmico, bem como um aumento na taxa de metabolismo de outros fármacos. Oxcarbazepina A oxcarbazepina está estreitamente relacionada com a carbamazepina e mostra-se útil nos mesmos tipos de convulsões, porém pode ter um melhor perfil de toxicidade. ➔ A oxcarbazepina é menos potente do que a carbamazepina. ➔ O fármaco parece induzir as enzimas hepáticas em menor grau do que a carbamazepina, minimizando as interações medicamentosas. Fenobarbital Com exceção dos brometos, o fenobarbital é o mais antigo dos fármacos anticonvulsivantes atualmente disponíveis. Embora tenha sido considerado, há muito tempo, como um dos agentes anticonvulsivantes mais seguros, o uso de outras medicações com efeitos menos sedativos tem sido estimulado. → Mecanismo de ação ← À semelhança da fenitoína, o fenobarbital suprime o disparo repetitivo de alta frequência de neurônios em cultura por uma ação sobre a condutância do Na+. ➔ Induz a enzimas do Citocromo P450. Gabapentina e Pregabalina A gabapentina é um aminoácido, um análogo do GABA, que é eficaz contra as crises parciais. Originalmente planejada como espasmolítico, verificou-se que a gabapentina é mais efetiva como fármaco anticonvulsivante. A pregabalina é outro análogo do GABA, estreitamente relacionado com a gabapentina. FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) → Mecanismo de ação ← A despeito de sua estreita semelhança estrutural com o GABA, a gabapentina e a pregabalina não atuam diretamente nos receptores de GABA. Entretanto, podem modificar a liberação sináptica ou não sináptica do GABA. Observa-se um aumento na concentração cerebral de GABA em pacientes em uso de gabapentina. A gabapentina e a pregabalina ligam-se intensamente à subunidade α2d dos canais de Ca2+ tipo N regulados por voltagem. Isso parece constituir a base do principal mecanismo de ação, que consiste em diminuir a entrada de Ca2+, com efeito predominante sobre os canais pré-sinápticos. A diminuição da liberação sináptica de glutamato proporciona um efeito antiepiléptico. ➔ A gabapentina e a pregabalina também são usadas para o tratamento da dor neuropática. → Farmacocinética ← A gabapentina não é metabolizada e não induz as enzimas hepáticas; sua absorção é não linear e dependente da dose com o uso de doses muito altas, porém a cinética de eliminação é linear. A pregabalina, à semelhança da gabapentina, não é metabolizada e é quase totalmente excretada de modo inalterado na urina. Não se liga às proteínas plasmáticas e praticamente não tem qualquer interação medicamentosa. Topiramato O topiramato é um monossacarídeo substituído, estruturalmente diferente de todos os outros fármacos anticonvulsivantes. → Mecanismo de ação ← O topiramato bloqueia o disparo repetitivo de neurônios da medula espinal em cultura, assim como a fenitoína e a carbamazepina. Por conseguinte, seu mecanismo de ação provavelmente envolve o bloqueio dos canais de Na+ regulados por voltagem. O topiramato também atua nos canais de Ca2+ ativados por alta voltagem (do tipo L). O fármaco potencializa o efeito inibitório do GABA, atuando em um local diferente dos sítios dos benzodiazepínicos ou dos barbitúricos. O topiramato também deprime a ação excitatória do cainato nos receptores de glutamato. ➔ O topiramato também está aprovado para o tratamento da enxaqueca. Ácido valproico Foi constatado que o valproato de sódio, também usado como ácido livre, o ácido valproico, apresenta propriedades anticonvulsivantes quando usado como solvente na pesquisa de outros fármacos efetivos contra convulsões. → Mecanismo de ação ← À semelhança da fenitoína e da carbamazepina, o valproato bloqueia o disparo repetitivo de alta frequência sustentado de neurônios em cultura com concentrações terapeuticamente relevantes. Sua ação contra as crises parciais pode representar uma consequência desse efeito sobre as correntes de Na+. O bloqueio da excitação mediada pelo receptor de NMDA também pode ser importante. ➔ Outros usos do valproato incluem o tratamento do transtorno bipolar e a profilaxia da enxaqueca. ➔ Inibe enzimas do citocromo P450. Benzodiazepínicos Esses fármacos apresentam dois mecanismos de ação anticonvulsivante, que são utilizados em graus diferentes pelos seis compostos. ➔ O diazepam, que é administrado por via intravenosa ou retal, é altamente efetivo para interromper a atividade convulsiva contínua, particularmente o estado de mal epiléptico tônico-clônico generalizado➔ Em alguns estudos, o lorazepam parece mais efetivo e de ação mais longa do que o diazepam no tratamento do estado de mal epiléptico, sendo o seu uso preferido por alguns especialistas. ➔ O clonazepam é um fármaco de ação longa com eficácia documentada contra as crises de ausência; em uma base de miligramas, é um dos agentes anticonvulsivantes mais potentes conhecidos. Esse fármaco também é efetivo em alguns casos de crises mioclônicas, e tentou-se seu uso nos espasmos infantis. ➔ O nitrazepam não é comercializado nos Estados Unidos, porém é usado em muitos outros países, particularmente para os espasmos infantis e as crises mioclônicas. É menos potente do que o clonazepam, e não foi documentada superioridade em relação a esse fármaco. ➔ O clorazepato dipotássico é aprovado nos Estados Unidos como adjuvante para o tratamento das crises parciais complexas em adultos. ➔ O clobazam é amplamente usado em uma variedade de tipos de convulsões Teratogenicidade O potencial de teratogenicidade dos fármacos anticonvulsivantes é controverso e importante. É importante porque a teratogenicidade resultante do tratamento farmacológico em longo prazo de milhões de pessoas em todo mundo pode ter efeitos profundos, mesmo se esses efeitos ocorrerem em apenas uma pequena porcentagem de casos. É controverso, FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) porque tanto a epilepsia como os fármacos anticonvulsivantes são heterogêneos Apesar dessas limitações, parece que – qualquer que seja a causa – as crianças nascidas de mães em uso de fármacos anticonvulsivantes apresentam risco aumentado, talvez duas vezes, de malformações congênitas. A fenitoína foi implicada em uma síndrome específica, denominada síndrome fetal da hidantoína, embora nem todos os pesquisadores estejam convencidos de sua existência, e uma síndrome semelhante ter sido atribuída tanto ao fenobarbital como à carbamazepina. O valproato, conforme assinalado anteriormente, também foi implicado em uma malformação específica, a espinha bífida. O topiramato demonstrou ter alguma teratogenicidade em testes realizados com animais e, conforme assinalado anteriormente, no feto humano do sexo masculino. A N T I P A R K I N S O N I A N O S O parkinsonismo caracteriza-se por uma combinação de rigidez, bradicinesia, tremor e instabilidade postural, que pode ocorrer devido a uma variedade de razões, mas, em geral, é idiopática (doença de Parkinson ou paralisia agitante). Em geral, a doença é progressiva, resultando em incapacidade crescente, a menos que se institua um tratamento efetivo. A concentração normalmente alta de dopamina nos núcleos da base do cérebro encontra-se reduzida no parkinsonismo, e as tentativas farmacológicas de restaurar a atividade dopaminérgica com agonistas da levodopa e da dopamina aliviam muitas das manifestações motoras do distúrbio. Os fármacos que induzem síndromes parkinsonianas são antagonistas dos receptores de dopamina (antipsicóticos) ou levam à destruição dos neurônios nigroestriatais dopaminérgicos. Verifica-se também uma depleção de vários outros neurotransmissores, como a norepinefrina, no cérebro de indivíduos com parkinsonismo, porém essas deficiências são de relevância clínica incerta. Fármacos Levodopa A dopamina não atravessa a barreira hematoencefálica e, quando administrada na circulação periférica, não exerce nenhum efeito terapêutico no parkinsonismo. Entretanto, a (–)-3-(3,4-di--hidroxifenil)-l-alanina (levodopa), o precursor metabólico imediato da dopamina, entra efetivamente no cérebro (por meio de um transportador de l-aminoácidos, LAT), onde é descarboxilada a dopamina. Os receptores D1 e D5 são classificados na família de receptores D1 com base em fatores genéticos e bioquímicos; os receptores D2, D3 e D4 pertencem à família de receptores D2. Os benefícios dos fármacos antiparkinsonianos dopaminérgicos parecem depender, em grande parte, da estimulação dos receptores D2. Entretanto, a estimulação dos receptores D1 também pode ser necessária para a obtenção do benefício máximo, e um dos fármacos mais recentes é seletivo para D3. Infelizmente, apenas cerca de 1 a 3% da levodopa administrada entra de fato no cérebro de modo inalterado; o restante é metabolizado fora do cérebro, sobretudo por descarboxilação a dopamina, que não penetra na barreira hematoencefálica. Por conseguinte, a levodopa precisa ser administrada em grandes quantidades quando usada isoladamente. Entretanto, quando administrada em associação a um inibidor da dopa descarboxilase (carbidopa), que não penetra na barreira hematoencefálica, o metabolismo periférico da levodopa é reduzido, os níveis plasmáticos de levodopa são mais altos, a meia-vida plasmática é mais longa e uma maior quantidade de dopa fica disponível para entrada no cérebro. Efeitos adversos Depressão, ansiedade, sonolências e delírios. Amantadina FARMACOLOGIA P5 - Alícia Camyle (MEDICINA - FITS/PE) Foi descoberto por acaso que a amantadina, um agente antiviral, possui propriedades anti parkinsonianas relativamente fracas. Seu modo de ação no parkinsonismo não está bem esclarecido, porém o fármaco potencializa a função dopaminérgica ao influenciar a síntese, a liberação ou a recaptação da dopamina. A amantadina exerce vários efeitos indesejáveis no SNC, todos os quais podem ser revertidos com a interrupção do fármaco. Esses efeitos consistem em inquietação, depressão, irritabilidade, insônia, agitação, excitação, alucinações e confusão. Selegilina Foram identificados dois tipos de monoaminoxidase no sistema nervoso. A monoaminoxidase A metaboliza a norepinefrina, a serotonina e a dopamina; já a monoaminoxidase B metaboliza seletivamente a dopamina. A selegilina, um inibidor seletivo irreversível da monoaminoxidase B em doses normais (em doses mais altas, o fármaco também inibe a monoaminoxidase A), retarda a degradação da dopamina; em consequência, aumenta e prolonga o efeito antiparkinsoniano da levodopa (possibilitando, assim, uma redução da dose de levodopa), além de poder reduzir os fenômenos leves de liga--desliga ou de desgaste. Por conseguinte, a selegilina é usada como terapia adjuvante para pacientes com declínio ou flutuação da resposta à levodopa.
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