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Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Conceito de Contrato A doutrina diz que o contrato é a mais comum e mais importante fonte de obrigação. Mas, o professor traz uma outra visão: Trata-se de uma ideia equivocada da doutrina, porque primeiro é a relação jurídica que é executada, depois surge o contrato como forma de execução. Portanto, o surgimento do contrato está intimamente relacionado com as obrigações. O contrato é uma espécie de negócio jurídico que depende, para sua formação, da participação de pelo menos duas partes. Os negócios jurídicos bilaterias, que decorrem de mútuo consenso, constituem os contratos. O contrato é, portanto, uma espécie do gênero negócio jurídico. “O contrato é um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Importante: Dado essa definição podemos dizer que o contrato não se restringe ao direito das obrigações, estendendo-se a outros ramos do direito privado e também ao direito público. Exemplo: contrato de casamento. De modo geral: A ideia do contrato tem a predominância da AUTONOMIA DA VONTADE, em que as partes discutem livremente suas condições em situação de igualdade. Isso porque estamos tratando do contrato de essência privada e paritário. Há ainda contratos que são considerados impessoais e padronizados, pois já dizem respeito à economia, pessoa jurídica, Estado. Quanto ao Estado, interfere constantemente na relação contratual privada, para assegurar a supremacia da ordem pública. O Código Civil traz a FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO. Menciona que a liberdade de contratar só pode ser exercida em consonância com os fins sociais do contrato, implicando os valores primordiais da boa-fé e da probidade. Art. 421 e 422 do CC. De acordo com Gagliano, o conceito de contrato é: É um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da boa-fé objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades. Função Social do Contrato O Código Civil adota o princípio da socialidade, o que quer dizer que há uma prevalência dos valores coletivos sobre os individuais. Não deixando de lado, é claro, o valor fundamental da pessoa humana. O novo CC deu muito valor ao sentido social. Dispõe o art. 421 do CC: Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. Portanto, um dos pilares da teoria contratual é a sua função social. O dispositivo subordina a liberdade contratual à sua função social, com prevalência dos princípios condizentes com a ordem pública. A função social do contrato serve para LIMITAR a autonomia da vontade quando tal autonomia esteja em confronto com o interesse social e este deva prevalecer, ainda que essa limitação possa atingir a própria liberdade de não contratar. Desafia a concepção clássica de que as partes podem pactuar que TUDO podem fazer, uma vez que estão no exercício da autonomia da vontade. Em outras palavras, pode ser visto também, que a função social do contrato se trata de uma condicionante posta ao princípio da liberdade contratual. Teoria geral dos Contratos Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Não deve ser entendido como uma exceção a um direito absoluto, mas como expressão da função metaindividual que integra aquele direito. A função social pode ser enfocada sob dois aspectos: 1. Individual: diz respeito aos contratantes, que se valem do contrato para satisfazer seus interesses próprios; 2. Público: interesse da coletividade sobre o contrato. Importante: A função social do contrato só estará cumprida quando a sua finalidade for distribuída de forma justa. Quando o contrato representar uma fonte de equilíbrio social. Cláusulas gerais: São normas orientadoras sob forma de diretrizes, dirigias precipuamente ao juiz, vinculando-o, ao mesmo tempo em que dão liberdade para decidir. Formulações contidas em lei, caráter genérico e abstrato, cujo valores devem ser preenchidos pelo juiz. Princípios gerais = cláusulas gerais. Cláusulas gerais como forma de moldar o direito à realidade social, dando mobilidade à interpretação feita pelo aplicador, demonstrando que o direito não pode ser interpretado de acordo com a letra da lei, mas fundado em uma base ética (TOMASZEWSKI, 2006, p.37). Para Nery Junior (2008, p.192), tanto as cláusulas gerais como os conceitos legais indeterminados são abstratos e trazidos na lei. Portanto, tem como função fornecer ao julgador a possibilidade de valorar e decidir o caso concreto, sempre pautado pela LEGALIDADE. A cláusulas gerais que proclama a função social do contrato é a exigência do comportamento condizente com a probidade e a boa-fé objetiva. É o que dispõe o art. 422 do CC: Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. As partes devem celebrar seus contratos cm ampla liberdade, observadas as exigências de ordem pública, que estão dispostas nas cláusulas gerais. Logo, a função social do contrato é uma cláusula geral. Trata-se, portanto, de normas de ordem pública. O juiz pode aplicar as cláusulas gerais em qualquer ação judicial, podendo agir ex officio. O juiz ainda poderá ajustar o contrato e modificar a cláusula, caso entenda que deve assim agir para adequar o contrato à sua função social. Relação com o código de defesa do consumidor O Código do Consumidor estabeleceu princípios gerais de proteção que, pela sua amplitude, passaram a ser aplicados também aos contratos em geral, mesmo que não envolvam relação de consumo. Destacam-se o princípio geral da boa-fé (art. 51, IV), da obrigatoriedade da proposta (art. 51, VIII), da intangibilidade das convenções (art. 51, X, XI e XIII). Os princípios tornados lei positiva pela lei de consumo devem ser aplicados, sempre que oportunos e convenientes, em todo contrato e não unicamente nas relações de consumo. Desse modo, o juiz, na aferição do caso concreto, terá sempre em mente a boa-fé dos contratantes, a abusividade de uma parte em relação à outra, a excessiva onerosidade etc., Como regras gerais e cláusulas abertas de todos os contratos, pois os princípios são genéricos, mormente levando-se em conta o sentido dado pelo novo Código Civil. Questionamento: O contrato tem relação com o direito constitucional? Sim! Trata-se de instrumento de socialização do direito, baseia-se, portanto, na ideia da constituição da função social da propriedade. A partir disso, podemos extrair que a função social do contrato, deve respeitar a dignidade da pessoa humana, logo, deve respeitar os direitos e garantias fundamentais. Dito de outra forma, a função social do contrato, deve: Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade 1. Respeitar a dignidade humana; 2. Admitir a relativização do princípio da igualdade; 3. Cláusula geral da Boa-fé: baseando-se na lealdade, confiança, assistência e informação. 4. Respeito ao valor social do trabalho. Jornada de direito civil 23: “A função social do contrato prevista no artigo 421 do novo Código Civil, não elimina a autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio, quando presentes interesses metaindividuais, ou interesse individual realtivo a dignidade humana.” Condições de validade do Contrato Para que o negócio jurídico produza efeitos deve preencher certos requisitos, apresentados como os de sua validade. Se os possui, é válido e dele decorrem os mencionados efeitos. Se, porém, falta-lhe um desses requisitos, o negócio é inválido e não produzo efeito jurídico, tornando-se nulo ou anulável. Os requisitos ou condições de validade dos contratos são de duas espécies: De ordem geral, comuns a todos os atos e negócios jurídicos, como a capacidade do agente, o objeto lícito, possível, determinado ou determinável, e a forma prescrita ou não defesa em lei (CC, art. 104); De ordem especial, específico dos contratos: o consentimento recíproco ou acordo de vontades. Os requisitos de validade do contrato podem, assim, ser distribuídos em três grupos: subjetivos, objetivos e formais. Requisitos Subjetivos: 1. Na manifestação de duas ou mais vontades e capacidade genérica dos contraentes. Os contratantes devem ser capazes – art. 3º do CC. Estes serão nulos (CC, art. 166, I) ou anuláveis (art. 171, I), se a incapacidade, absoluta ou relativa, não for suprida pela representação ou pela assistência (CC, arts. 1.634, V, 1.747, I, e 1.781). Pessoas jurídicas exige-se a intervenção de quem os seus estatutos indicarem para representá-las ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente. 2. Aptidão específica para contratar. Algumas vezes, para celebrar certos contratos, requer- se uma capacidade especial, mais intensa que a normal, como ocorre na doação, na transação, na alienação onerosa, que exigem a capacidade ou poder de disposição das coisas ou dos direitos que são objeto do contrato. Diz respeito a legitimação da pessoa poder ter aquilo como objeto de contratação. Ou seja, à falta de legitimação ou impedimentos para a realização de certos negócios. 3. Consentimento. O requisito de ordem especial, próprio dos contratos, é o consentimento recíproco ou acordo de vontades. Deve abranger os seus três aspectos: a) Acordo sobre a existência e natureza do contrato (se um dos contratantes quer aceitar uma doação e o outro quer vender, contrato não há); b) Acordo sobre o objeto do contrato; e c) Acordo sobre as cláusulas que o compõem (se a divergência recai sobre ponto substancial, não poderá ter eficácia o contrato). O consentimento deve ser livre e espontâneo, sob pena de ter sua validade afetada pelos vícios ou defeitos do negócio jurídico. A manifestação da vontade pode ser tácita, quando a lei não a exigir que seja expressa. Art. 11 do CC. Requisitos Objetivos: Nos termos do art. 104, II do CC o objeto do contrato deve ser lícito, possível, determinável ou determinável. 1. Objeto lícito: Objeto lícito é o que não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes. Objeto imediato do negócio é sempre uma conduta humana e se denomina prestação: dar, fazer ou não fazer. Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Objeto mediato são os bens ou prestações sobre os quais incide a relação jurídica obrigacional. 2. Possibilidade física ou jurídica do objeto. O objeto deve ser, também, possível. Quando impossível, o negócio é nulo (CC, art. 166, II). 3. Determinação de seu objeto. O objeto do negócio jurídico deve ser, igualmente, determinado ou determinável (indeterminado relativamente ou suscetível de determinação no momento da execução). Requisitos Formais: O terceiro requisito de validade do negócio jurídico é a forma (forma dat esse rei, ou seja, a forma dá ser às coisas), que é o meio de revelação da vontade. Deve ser a prescrita ou não defesa em lei. Há dois sistemas quanto a esse requisito: 1. Consensualismo = da liberdade de forma; 2. Formalismo = forma obrigatória. No direito brasileiro a forma é, em regra, livre. As partes podem celebrar o contrato por escrito, público ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei, para dar maior segurança e seriedade ao negócio, exija a forma escrita, pública ou particular. O consensualismo, portanto, é a regra, e o formalismo, a exceção. Dispõe, com efeito, o art. 107 do Código Civil: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Princípio da Autonomia da Vontade O princípio da autonomia da vontade se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica. Têm as partes a faculdade de celebrar ou não contratos, sem qualquer interferência do Estado. Podem celebrar contratos nominados ou fazer combinações, dando origem a contratos inominados. Como a vontade manifestada deve ser respeitada, a avença faz lei entre as partes, assegurando a qualquer delas o direito de exigir o seu cumprimento. A liberdade contratual é prevista no art. 421 do CC. E como já vimos, deve-se respeitar a função social do contrato. Autonomia da vontade X Autonomia Privada Pode-se resumir a diferença afirmando que a autonomia da vontade relaciona-se com a liberdade de autodeterminação (manifestação da vontade livre) e a autonomia privada ao poder de autorregulamentação (normas estabelecidas no interesse próprio). A autonomia privada é um fenômeno que pode ser visto por três diferentes prismas (MARTINS-COSTA, 2008, p.6): 1. como poder de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas; 2. como princípio aberto informador do sistema que justifica o funcionamento do próprio sistema jurídico e; 3. como método de interpretação, haja vista que indica o norte para o alcance do sentido da norma jurídica. Princípio da Supremacia da Ordem Pública A regra é que exista a liberdade contratual, mas SEMPRE limitada na ideia de ordem pública. Logo, o interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o interesse individual. O princípio da autonomia da vontade, como vimos, não é absoluto. É limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública. Por qual motivo há essa limitação? Devido a crescente industrialização, no início do século passado, de que a ampla liberdade de contratar provocava desequilíbrios e a exploração do economicamente mais fraco. A intervenção do Estado na vida contratual é, hoje, tão intensa em determinados campos (telecomunicações, consórcios, seguros, sistema financeiro etc.) que se configura um verdadeiro dirigismo contratual. Cabe aos tribunais verificar, em cada caso, se a ordem pública está ou não em jogo. Vale dizer que a ORDEM PÚBLICA, também é uma cláusula geral. Está presente no art. 17 da LINDB. Os direitos também devem ser exercidos no limite ordenado pelos bons costumes, conceito que decorre da observância das normas de convivência. Define o comportamento das pessoas; Bons costumes são aqueles que se cultivam como condições de moralidade social, sujeita a variações de época a época, de lugar para lugar... De forma resumida: noção de ordem pública e o respeito aos bons costumes constituem freios e limites à liberdade contratual. Princípio do Consensualismo Decorre ele da moderna concepção de que o contrato resulta do consenso, do acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa. Tem-se que as pessoas gozam da faculdade de vincular- se pelo simples consenso, fundadas, ademais, no princípio ético do respeito à palavra dada e na confiança recíproca que as leva a contratar. Como já visto nos requisitos formais do contrato, a FORMA em regra é livre. Princípios Fundamentais do Direito Contratual Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade As partes podem celebrar o contrato por escrito, público, ou particular, ou verbalmente... A exceção: nos casos em que a lei, para dar mais segurança e seriedade ao negócio, exija a forma escrita – pública ou particular. Princípio da Relatividade dos efeitosdo contrato Baseia-se na ideia de que os efeitos do contrato só produzem efeitos em relação às partes, àqueles que manifestaram sua vontade, vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando terceiros nem seu patrimônio. Modelo clássico de contrato que objetivava exclusivamente a satisfação das necessidades individuais e que, portanto, só produzia efeitos entre aqueles que o haviam celebrado, mediante acordo de vontades. Essa visão foi abalada pelo atual CC. Não concebe mais o contrato apenas como instrumento de satisfação de interesses das partes, mas lhe reconhece uma função social!!! Tal fato tem como consequência, por exemplo, possibilitar que terceiros que não são propriamente partes do contrato possam nele influir, em razão de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. Tal princípio foi bastante atenuado pelo reconhecimento das cláusulas gerais, por conterem normas de ordem pública não se destinam a proteger unicamente os direitos individuais das partes, mas tutelar o interesse da coletividade, que deve prevalecer quando em conflito com aqueles. Princípio da Obrigatoriedade dos Contratos Também denominado PRINCÍPIO DA INTANGIBILIDADE DOS CONTRATOS. Princípio da força vinculante dos contratos. Pelo princípio da autonomia da vontade, ninguém é obrigado a contratar. Cada um possui a liberdade de contratar e definir os termos objeto da avença. Dito isso, os que escolherem – mediante autonomia da vontade- pactuar com outra pessoa, sendo o contrato válido e eficaz, devem cumpri-lo. O princípio da força obrigatória do contrato significa, em essência, a irreversibilidade da palavra empenhada. O aludido princípio tem por fundamentos: a) a necessidade de segurança nos negócios, que deixaria de existir se os contratantes pudessem não cumprir a palavra empenhada, gerando a balbúrdia e o caos; b) a intangibi-lidade ou imutabilidade do contrato. Decorre da máxima de que o contrato faz lei entre as partes; Dispõe sobre pacta sunt servanda – os pactos devem ser cumpridos. Importante: nesse caso, nem o juiz de ofício pode alterar o que foi pactuado. Qualquer modificação ou revogação terá de ser, também, bilateral. O que ocorre se a parte não cumprir o que foi acordado? O seu inadimplemento confere à parte lesada o direito de fazer uso dos instrumentos judiciários para obrigar a outra a cumpri-lo, ou a indenizar pelas perdas e danos, sob pena de execução patrimonial (CC, art. 389). A única limitação a esse princípio, dentro da concepção clássica, é a escusa por caso fortuito ou força maior, consignada no art. 393 e parágrafo único do Código Civil. Em contrapartida, o que não se tolera mais é a obrigatoriedade quando as partes se encontram em patamares diversos e dessa disparidade ocorra proveito injustificado. Dito isso, o novo CC acaba permitindo a inferência estatal, seja para resolver, seja para revisar as condições a que se obrigaram as partes. Princípio da conservação dos contratos, ante a nova realidade legal, deve ser interpretado no sentido da sua manutenção e continuidade de execução, observadas as regras da equidade, do equilíbrio contratual, da boa-fé objetiva e da função social do contrato. Princípio da Onerosidade Excessiva Também denominado princípio da revisão dos contratos. Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Opõe-se tal princípio ao da obrigatoriedade, pois permite aos contraentes recorrerem ao Judiciário, para obterem alteração da convenção e condições mais humanas, em determinadas situações. Teoria adaptada por Arnoldo Medeiros da Fonseca, com o nome de teoria da imprevisão. A teoria da imprevisão consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento ou revisão forçada do contrato quando, por eventos imprevisíveis e extraordinários, a prestação de uma das partes tornar- se exageradamente onerosa – o que, na prática, é viabilizado pela aplicação da cláusula rebus sic stantibus. O Código Civil de 2002 dedicou uma seção à resolução dos contratos por onerosidade excessiva. Dispõe o art. 478, 479 e 480 do CC. Em realidade, com base nas cláusulas gerais sempre se poderá encontrar fundamento para a revisão ou a extinção do contrato em razão de fato superveniente que desvirtue sua finalidade social, agrida as exigências da boa-fé e signifique o enriquecimento indevido para uma das partes, em detrimento da outra. Princípio da Boa-fé e da Probidade Preceitua o art. 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. O princípio da boa-fé exige que as partes se comportem de forma correta não só durante as tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato. É subdividido em duas partes: 1. Boa-fé subjetiva= concepção psicológica. 2. Boa-fé Objetiva= concepção ética. Boa-fé subjetiva Está ligada a parte interna do agente – agente psíquico- ou então, estado de consciência. Diz respeito ao conhecimento ou à ignorância da pessoa relativamente a certos fatos, sendo levada em consideração pelo direito, para os fins específicos da situação regulada. Serve à proteção daquele que tem a consciência de estar agindo conforme o direito, apesar de ser outra a realidade. Deve-se considerar a intenção do sujeito da relação jurídica, o seu estado psicológico ou então a íntima convicção. Nelson Nery: baseia-se numa crença ou numa ignorância. Boa-fé objetiva Constitui em uma norma jurídica fundada em um princípio geral do direito, segundo o qual todos devem comportar-se de boa-fé nas suas relações recíprocas. É classificada como regra de CONDUTA. Trata-se de fonte de direito e de obrigações. Baseia-se na honestidade, na retidão, na lealdade e na consideração para com os interesses do outro contraente, especialmente no sentido de não lhe sonegar informações relevantes a respeito do objeto e conteúdo do negócio. É um modelo jurídico, revestido de variadas formas. Não é possível descrever quais hipóteses ela se configura, uma vez que se trata de norma cujo conteúdo não pode ser rigidamente fixado e depende do caso concreto. Logo, a boa-fé objetiva impõe ao contratante um padrão de conduta, nos moldes do homem comum, atendidas as peculiaridades dos usos e costumes do lugar. Pode ser considerada uma norma em aberto, para que o interprete tenha liberdade de estabelecer o seu sentido e alcance em cada caso. Trata-se de uma cláusula geral para a aplicação do direito obrigacional. Quanto a PROBIDADE: Nada mais é senão um dos aspectos objetivos do princípio da boa-fé, podendo ser entendida como a honestidade de proceder ou a maneira criteriosa de cumprir todos os deveres que são atribuídos à pessoa. A cláusula geral da boa-fé se encontra em três dispositivos no CC: 1. Art. 422 do CC – aplicação dos contratos Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade 2. art. 113: Os negócios devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração – interpretação dos contratos. 3. Art. 187: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes- abuso dos contratos. Importante: Na doutrina há uma certa crítica em relação ao texto do art. 422. Alguns consideram-na insuficiente. Todavia, vale dizer que ainda que insuficiente ou incompleta, abrange também as tratativas preliminares, antecedentes do contrato, como também as obrigações derivadas do contrato, ainda que já executado. Outro ponto a se observar é que deve-se observar a boa-fé também na simples aproximação pré- contratual. A censura feita a quem abandona inesperadamente as negociações já em adiantado estágio, depoisde criar na outra parte a expectativa da celebração de um contrato para o qual se preparou e efetuou despesas, ou em função do qual perdeu outras oportunidades. A violação a esse dever secundário pode ensejar indenização. Complementa ainda o art. 113 do CC que dispõe sobre a função de interpretação do negócio jurídico, o art. 112, que trata: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”. Em sentido geral, a boa-fé apresenta três funções: (AMARAL, 2006, p.421): a) interpretativa, quando permite estabelecer o limite e alcance da norma, bem como sendo aquele que manda as partes procederem de boa-fé no negócio jurídico. Art. 113 do CC. b) integrativo, haja vista que constitui princípio normativo que serve para preencher lacunas eventuais. Art. 422 do CC. c) limitadora dos direitos subjetivos das partes contratantes, consistente na limitação da autonomia da vontade, pautado pela autonomia privada, ou seja, função de controle, que se desdobra no dever de agir de acordo com a boa-fé na execução do contrato. Proibição de “venire contra factum proprium” Uma das principais funções do princípio da boa-fé é limitadora: veda ou pune o exercício de direito subjetivo quando se caracterizar abuso da posição jurídica. A “teoria dos atos próprios”, ou a proibição de venire contra factum proprium, aduz, “protege uma parte contra aquela que pretende exercer uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente. Depois de criar uma certa expectativa, em razão de conduta seguramente indicativa de determinado comportamento futuro, há quebra dos princípios de lealdade e de confiança se vier a ser praticado ato contrário ao previsto, com surpresa e prejuízo à contraparte. Conforme o jurista Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Trata-se, portanto, da impossibilidade de que a parte tenha conduta incoerente ou diversa com seus atos anteriores. Conclusão: a pessoa não pode ser contraditória. Na IV Jornada de Direito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal foi aprovado o Enunciado 362, que assim dispõe: “A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda- se na proteção da confiança, tal como se extrai dos artigos 187 e 422 do Código Civil”. Supressio Suppressio, surrectio e tu quoque são conceitos correlatos à boa-fé objetiva, oriundos do direito comparado. Devem ser utilizados como função integrativa, suprindo lacunas do contrato e trazendo deveres implícitos às partes contratuais. Na suppressio as expectativas são projetadas apenas pela injustificada inércia do titular por considerável decurso do tempo, somando-se a isso a existência de indícios objetivos de que o direito não mais seria exercido. Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Trata-se de um direito não exercido durante determinado lapso de tempo não poderá mais sê-lo, por contrariar a boa-fé. Na surrectio, é outra face as supressio. Acarreta o nascimento de um direito em razão da continuada prática de certos atos. Já o Tu quoque proíbe que uma pessoa faça contra outra o que não faria contra si mesmo, consistindo em aplicação do mesmo princípio inspirador da exceptio non adimpleti contractus. Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Conceito Toda manifestação de vontade necessita de interpretação para que se saiba o seu significado e alcance. O contrato origina-se de ato volitivo e por isso requer sempre uma interpretação. Interpretar o negócio jurídico é, portanto, precisar o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade. Busca-se apurar a vontade concreta das partes, não a vontade interna, psicológica, mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas que nascem da sua declaração. Isso se faz necessário porque as vezes nem sempre o que está no contrato – escrito- realmente transfere a real intenção e vontade das partes. As vezes a redação se encontra obscura e ambígua. Todos os negócios jurídicos em geral devem ser interpretados. As regras de interpretação dos contratos dirigem-se primeiramente às partes – são as principais. Caso não haja o entendimento entre elas do real alcance da avença e do sentido do texto assinado, a interpretação caberá a um juiz. Interpretação declaratória: tem como único escopo a descoberta da intenção comum dos contratantes no momento da celebração do contrato. Interpretação construtiva ou integrativa: requer o aproveitamento do contrato, mediante o suprimento das lacunas e pontos omissos deixados pelas partes. Preenche lacunas encontradas nos contratos. Ocorre a complementação por meio de normas supletivas, especialmente as que dizem respeito à sua função social, ao princípio da boa-fé, aos usos e costumes do local, bem como encontrar a verdadeira intenção das partes (nas entrelinhas). Art. 112 do Código Civil declara que, nas “declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”. A expressão “nelas consubstanciada” mostra que se deve atender à intenção manifestada no contrato, e não ao pensamento íntimo do declarante. Parte-se da declaração, que é forma de exteriorização da vontade, para se apurar a real intenção das partes. O sentido mais adequado a uma interpretação que leve em conta a boa-fé, e o contexto e o fim econômico do negócio jurídico. O texto traz um equilíbrio, reforçando a teoria da declaração. Dois princípios hão de ser sempre observados, na interpretação do contrato: o da boa-fé e o da conservação do contrato. 1. Quanto a Boa-fé: deve o intérprete presumir que os contratantes procedem com lealdade e que tanto a proposta como a aceitação foram formuladas dentro do que podiam e deviam eles entender razoavelmente, segundo a regra da boa-fé (CC, art. 422). Nessa linha, dispõe o art. 113 do atual Código que “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. Deve o intérprete presumir que os contratantes procedem com lealdade e que tanto a proposta como a aceitação foram formuladas dentro do que podiam e deviam eles entender razoável. 2. Quanto o princípio da conservação ou aproveitamento do contrato: se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que possa produzir algum efeito, pois não se deve supor que os contratantes tenham celebrado um contrato carecedor de qualquer utilidade. Prescreve, ainda, o art. 114 do Código Civil que “os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam- se estritamente”. Benéficos ou gratuitos são os que envolvem uma liberalidade: somente um dos contratantes se obriga, enquanto o outro apenas aufere um benefício. A doação pura constitui o melhor exemplo dessa espécie. Devem ter interpretação estrita porque representam renúncia de direitos. Interpretação dos Contratos Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Algumas regras práticas podem ser observadas no tocante à interpretação dos contratos: 1. A melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo pelo qual o vinham executando, de comum acordo; 2. Deve-se interpretar o contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o devedor (in dubiis quod minimum est sequimur); 3. As cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em conjunto com as demais; 4. Qualquer obscuridade é imputada a quem redigiu a estipulação, pois, podendo ser claro, não o foi (ambiguitas contra stipulatorem est); 5. Na cláusula suscetível de dois significados, interpretar-se-áem atenção ao que pode ser exequível (princípio da conservação ou aproveitamento do contrato). Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Manifestação da Vontade A manifestação da vontade é o primeiro e mais importante requisito de existência do negócio jurídico. Início: momento subjetivo. Primeiro aparece na mente das pessoas. O momento objetivo é aquele em que a vontade se revela mediante DECLARAÇÃO da pessoa. Somente nesta fase ela se torna conhecida e apta a produzir efeitos nas relações jurídicas. Por isso se diz que, em rigor, é a declaração da vontade, e não ela própria, que constitui requisito de existência dos negócios jurídicos e, conseguintemente, dos contratos. O contrato constitui um acordo de vontades, logo é um negócio jurídico bilateral. A manifestação da vontade pode ser expressa ou tácita. EXPRESSA: é a exteriorizada verbalmente, pode ser escrito, gesto ou mímica. Em alguns casos a lei exige que determinados contratos sejam estipulados – consentimento na forma escrita. TÁCITA: aceita mediante a sua conduta. Quanto ao silêncio: pode ser interpretado como manifestação tácita da vontade quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa (CC, art. 111), e, também, quando a lei o autorizar. Negociações preliminares: segunda etapa O contrato resulta de duas manifestações de vontade: a proposta e a aceitação. A primeira, também chamada de oferta, policitação ou oblação, dá início à formação do contrato e não depende, em regra, de forma especial. Nem sempre, no entanto, o contrato nasce instantaneamente de uma proposta seguida de uma imediata aceitação. Na maior parte dos casos a oferta é antecedida de uma fase da “negociação”. Fase, às vezes prolongada, de negociações preliminares caracterizada por sondagens, conversações, estudos e debates. Denomina-se fase da pontuação. As partes ainda não manifestaram a sua vontade, não há, portanto, nenhuma vinculação ao negócio. Nesse caso, as partes podem se afastar e alegar desinteresse. Bem como, pode somente escolher não prosseguir. Não há a vinculação. Ainda que surja um projeto ou minuta. A responsabilidade só ocorrerá se houver a demonstração de deliberada INTENÇÃO, ou seja, começar a manifestar à vontade. O fundamento para o pedido de perdas e danos da parte lesada não é, nesse caso, o inadimplemento contratual, mas a prática de um ilícito civil (CC, art. 186). Embora as negociações preliminares não gerem, por si mesmas, obrigações para qualquer dos participantes, elas fazem surgir, entretanto, deveres jurídicos para os contraentes, decorrentes da incidência do princípio da boa-fé, sendo os principais os deveres de lealdade e correção, de informação, de proteção e cuidado e de sigilo. A violação desses deveres durante o transcurso das negociações é que gera a responsabilidade do contraente, tenha sido ou não celebrado o contrato. Há de se falar na responsabilidade aquiliana (extracontratual), no caso de um do induzir o outro a erro. Ou seja, induzir no outro a crença de que o contrato será celebrado, levando-o a despesas ou a não contratar com terceiro, por exemplo. Na Jornada de Direito Civil realizada em Brasília em setembro de 2002, já mencionada (STJ-CJF), foi aprovada a Conclusão n. 25, do seguinte teor: “O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual”. Formação dos Contratos Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Recordando: o art. 442 é considerado insuficiente, mas deve-se fazer uma interpretação ampliativa, abrangendo também o princípio da boa-fé na fase pré- contratual também – nas tratativas preliminares. Proclamou a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça que “a responsabilidade pré-contratual não decorre do fato de a tratativa ter sido rompida e o contrato não ter sido concluído, mas do fato de uma das partes ter gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluído, efetivo prejuízo material” Responsabilidade pré-contratual pode gerar dever de indenizar despesas, mesmo que o contrato não seja fechado. A proposta Constitui a terceira etapa para a formação do contrato. A oferta traduz uma vontade definitiva de contratar nas bases oferecidas, não estando mais sujeita a estudos ou discussões, mas dirigindo-se à outra parte para que a aceite ou não, sendo, portanto, um negócio jurídico unilateral, constituindo elemento da formação contratual. Pode-se dizer, então, que proposta, oferta, policitação ou oblação “é uma declaração receptícia de vontade, dirigida por uma pessoa a outra (com quem pretende celebrar um contrato), por força da qual a primeira manifesta sua intenção de se considerar vinculada, se a outra parte aceitar”. Representa impulso decisivo para a celebração do contrato. Consiste na declaração da vontade definitiva. A proposta deve conter todos os elementos essenciais do negócio proposto, como preço, quantidade, tempo de entrega, forma de pagamento etc. Deve também ser séria e consciente, pois vincula o proponente (CC, art. 427). Deve ser, ainda, clara, completa e inequívoca, ou seja, há de ser formulada em linguagem simples, compreensível ao oblato, mencionando todos os elementos e dados do negócio necessários ao esclarecimento do destinatário e representando a vontade inquestionável do proponente. A oferta é um negócio jurídico receptício, pois a sua eficácia depende da declaração do oblato – do que está sendo ofertado. A força vinculante da oferta: Art. 427 do CC: A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”. As exceções referidas no item anterior encontram-se na segunda parte do retrotranscrito art. 427. A oferta não obriga o proponente, em primeiro lugar, se contiver cláusula expressa a respeito. É quando o próprio proponente declara que não é definitiva e se reserva o direito de retirá- la. Em segundo lugar, a proposta não obriga o proponente em razão da natureza do negócio. É o caso, por exemplo, das chamadas propostas abertas ao público, que se consideram limitadas ao estoque. E, por último, a oferta não vincula o proponente em razão das circunstâncias do caso, mencionadas no art. 428 do mesmo diploma. +++++ A aceitação Aceitação é a concordância com os termos da proposta. É manifestação de vontade imprescindível para que se repute concluído o contrato, pois, somente quando o oblato se converte em aceitante e faz aderir a sua vontade à do proponente, a oferta se transforma em contrato. A aceitação consiste, portanto, na formulação da vontade concordante do oblato, feita dentro do prazo e envolvendo adesão integral à proposta recebida. Aceitação deve ser pura e simples. Aceitar da forma que vier na proposta. Se a aceitação vier fora do prazo, com adições, restrições ou modificações, implicará NOVA PROPOSTA. Art. 431 do CC. Chama-se de contraproposta. A aceitação também pode ser expressa ou tácita. O art. 432 do Código Civil menciona duas hipóteses de aceitação tácita, em que se reputa concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa: Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade a) quando “o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa”; b) ou quando “o proponente a tiver dispensado”. Hipóteses de inexistência de força vinculante da aceitação O Código Civil trata de duas hipóteses em que tal manifestação de vontade deixa de ter força vinculante:a) Se a aceitação, embora expedida a tempo, por motivos imprevistos, chegar tarde ao conhecimento do proponente (CC, art. 430, primeira parte). Assim, se, embora expedida no prazo, a aceitação chegou tardiamente ao conhecimento do policitante, quando este, estando liberado em virtude do atraso involuntário, já celebrara negócio com outra pessoa, a circunstância deverá ser, sob pena de responder por perdas e danos, imediatamente comunicada ao aceitante, que tem razões para supor que o contrato esteja concluído e pode realizar despesas que repute necessárias ao seu cumprimento. Assim o exige a segunda parte do mencionado art. 430. b) Se antes da aceitação, ou com ela, chegar ao proponente a retratação do aceitante. Dispõe, com efeito, o art. 433 do Código Civil que se considera “inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante”. Verifica-se que a lei permite também a retratação da aceitação. Neste caso, a “declaração da vontade, que continha a aceitação, desfez-se, antes que o proponente pudesse tomar qualquer deliberação no sentido da conclusão do contrato. Conclusão do contrato 1. Contrato entre presentes Se o contrato for celebrado entre presentes, a proposta poderá estipular ou não prazo para a aceitação. Se o policitante não estabelecer nenhum prazo, esta deverá ser manifestada imediatamente, sob pena de a oferta perder a força vinculativa. Se, no entanto, a policitação estipulou prazo, a aceitação deverá operar-se dentro nele, sob pena de desvincular-se o proponente. Para que se possa estabelecer a obrigatoriedade da avença, será mister verificar em que instante o contrato se aperfeiçoou, unindo os contraentes, impossibilitando a retratação e compelindo-os a executar o negócio, sob pena de responderem pelas perdas e danos. 2. Contrato entre ausentes: Quando o contrato é celebrado entre ausentes, por correspondência (carta, telegrama, fax, radiograma, e- mail etc.) ou intermediários, a resposta leva algum tempo para chegar ao conhecimento do proponente e passa por diversas fases. Há divergência doutrinaria a respeito em que momento se reputa concluída. Para a teoria da informação ou da cognição, é o da chegada da resposta ao conhecimento do policitante, que se inteira de seu teor. Não basta a correspondência ter sido entregue, o proponente deve abrir e ler. A segunda teoria, a da declaração ou da agnição, subdivide-se em três: a) da declaração propriamente dita; b) da expedição; e c) da recepção. O art. 434 do Código Civil acolheu expressamente a teoria da expedição, ao afirmar que os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida. Proclama, com efeito, o aludido dispositivo: “Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I – no caso do artigo antecedente; II – se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III – se ela não chegar no prazo convencionado”. Para a teoria da expedição, não basta a redação da resposta, sendo necessário que tenha sido expedida, isto é, saído do alcance e controle do oblato. A teoria da recepção exige mais: que, além de escrita e expedida, a resposta tenha sido entregue ao destinatário. Direito Civil V | Maria Eduarda Q. Andrade Importante: na realidade o referido diploma filiou-se à teoria da recepção, e não à da expedição. Lugar da Celebração Dispõe o art. 435 do Código Civil: “Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto”. Aparentemente, tal solução encontra-se em contradição com a expressa adoção da teoria da expedição, no dispositivo anterior. Entretanto, para quem, como nós, entende que o Código Civil acolheu, de fato, a da recepção, inexiste a apontada contradição. O problema tem relevância na apuração do foro competente e, no campo do direito internacional, na determinação da lei aplicável. Art. 9º da LINDB: a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente”. Denota-se que o legislador preferiu a uniformização de critérios, levando em conta o local em que o impulso inicial teve origem. Ressalve-se que, dentro da autonomia da vontade, podem as partes eleger o foro competente (foro de eleição) e a lei aplicável à espécie.
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