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Processo Penal| Maria Eduarda Q. Andrade Primeiramente devemos fazer a separação do direito material do direito processual. Temos no nosso ordenamento: Leis Penais: preveem fatos típicos incriminadores, condutas proibidas e a pena aplicável àquela conduta. A partir do momento em que as pessoas descumprem tais leis penais incriminadoras, surge para o ESTADO o dever de punir. A prática de um fato descrito no tipo penal gera a pretensão punitiva estatal, o poder-dever de punir quem contrariou as leis. Para que a pretensão punitiva estatal seja exercida, é imprescindível um processo. Isso porque, ao impor uma sanção penal, o direito constitucional à liberdade está sendo cerceado. O Direito Penal cuida das regras materiais: os crimes e suas sanções; e o Processo Penal disciplina como será a aplicação das sanções no caso concreto. Isso ocorre porque as pessoas não dispõem da liberdade da AUTOTUTELA, não podem resolver tais crimes por conta própria. Por isso, a imposição de uma sanção penal demanda, por estar cerceando a liberdade de alguma forma, ainda que pena restritiva de direitos, não pode ocorrer sem a intervenção ESTATAL. : “Corpo de normas jurídicas cuja finalidade é regular o modo, os meios e os órgãos encarregados de punir do Estado, realizando-se por intermédio do Poder Judiciário, constitucionalmente incumbido de aplicar a lei ao caso concreto”. (NUCCI) Fontes materiais: que criam a norma. Art. 22, CF: Compete privativamente à União legislar sobre: I – Direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Art. 24, CF: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; IV – custas dos serviços forenses; X – criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI – procedimentos em matéria processual. Por exemplo, a organização de presídio estadual pode ser tratada por meio de legislação estadual. A CF em seu Art. 125, confere a possibilidade dos Estados organizarem sua Justiça – Lei de Organização Judiciária dos Estados. Falamos da criação de Varas Especializadas, que repercute totalmente na definição da competência. Importante: Tribunais também são fontes materiais do DPP com os Regimentos Internos dos Tribunais que tratam de normas específicas procedimentais. Discute-se se STF pode ser considerado fonte do direito processual penal, para isso temos o art. 103-A da CF: Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito Aplicação e Interpretação da Lei Processual Penal Processo Penal| Maria Eduarda Q. Andrade vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. Para alguns doutrinadores, a súmula vinculante apresenta fonte do direito material. Por outro lado, há quem entenda que o STF não pode criar lei, portanto a súmula não possui força de lei propriamente dita. Fontes formais: que expressam a norma. Onde buscamos o Direito Processual Penal. São elas: Lei ordinária, editada pela União. Constituição e emendas. Código de Processo Penal, de 3 de outubro de 1941. Devendo a leitura do CPP ser compatível com a CF/1988. Tratados e Convenções internacionais – Convenção Americana dos Direitos Humanos. Costume é fonte de direito formal. Por exemplo: vestes talares. Art. 793, CPP: Nas audiências e nas sessões, os advogados, as partes, os escrivães e os espectadores poderão estar sentados. Todos, porém, se levantarão quando se dirigirem aos juízes ou quando estes se levantarem para qualquer ato do processo Princípios Gerais do Direito também são fontes formais. Interpretação da Lei Processual Penal Conceito de interpretação: É a atividade consistente na extração da norma de seu exato alcance e real significado. Visa busca a vontade da lei, não importando a vontade de quem a fez (LINDB, art. 5º). Buscamos o sentido da lei, o que ela quer dizer. Mens legis (sentido da lei) – mens legislatoris (sentido do legislador). O que nos interessa de forma direta é o sentido da lei. O exercício de interpretar o direito é realizado pelo operador do direito. Importante: O operador do direito é diferente do legislador. E se a lei for clara? A doutrina leciona que a tarefa de interpretar já foi feita quando o intérprete a vê com clareza e entende não mais ser necessária interpretação. Art. 3º, CPP: A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. Importante: NÃO confundir com a Lei Penal (que verifica se há ou não prejuízo para o réu). No processo penal, é admitida a interpretação extensiva e aplicação analógica. No processo penal, quando a norma é de matéria estritamente processual, o art. 3º do CPP autoriza a interpretação extensiva. Logo, no DP a aplicação da analogia deve apenas para beneficiar o réu, agora no processo penal nada interfere pois são conteúdos distintos. Interpretação quanto ao SUJEITO 1. Autêntica ou Legislativa: feita pelo próprio legislador; pelo órgão encarregado da elaboração do texto. Pode ser contextual (no próprio texto interpretado) ou posterior (após a entrada da lei em vigência). 2. Doutrinária ou Científica: feita pelos estudiosos e cultores do direito. A exposição de motivos do CP ou CPP é interpretação doutrinária porque não consta da lei; não possui força de lei. 3. Judicial: feita pelo órgão jurisdicional (e operadores do direito). Possibilidade de ver o lado mais social da coisa. Mas há muitas vertentes e divergências. Processo Penal| Maria Eduarda Q. Andrade Quanto aos MEIOS EMPREGADOS: 1. Gramatical, literal ou sintática: considera o sentido literal, expresso das palavras. É a mais arriscada das interpretações. Ou então, a mais frágil e insuficiente para a aplicação do caso concreto. Alguns autores chamam de declarativa. 2. Lógica ou teleológica ou sistemática: considera a vontade da lei, os fins e posição dentro do ordenamento jurídico. “Para que ela foi criada? ” 3. Histórica: leva consideração o momento histórico (realidade social) em que a norma foi editada. 4. Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva: ao longo do tempo se adapta às mudanças político-sociais e necessidades do momento social. Trata-se da necessidade do intérprete acompanhar a evolução legislativa. Exemplos: O art. 68 CPP trata da possibilidade de o MP atuar em favor da vítima necessitada em ação civil ex delicto, ou seja, a vítima busca uma reparação do dano decorrente do crime (furtaram o dinheiro). No entanto, o art. 127, CRFB, conferiu ao MP a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. No exemplo, trata-se de bem jurídico patrimonial que é disponível (dinheiro). Por outro lado, o art. 134, CRFB, estabeleceu que a Defensoria realiza a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados. O STF entende que é necessário fazer uma interpretação conforme a CF/88,por meio da interpretação progressiva, aplicando o seguinte entendimento: naqueles locais em que tiver a Defensoria Pública instalada e em funcionamento, será dela a atribuição de promover a ação - RE 135.328/SP – Tribunal Pleno. Tomar cuidado para que não seja apenas uma mera simbologia do legislador. Por mais que haja o problema social, as leis que surgem não passam de uma medida “rasa” para a real solução do problema – mas é algo relativo. Direito Penal Simbólico. A ideia é que a LEI e o Processo Penal acompanhe o desenvolvimento e os problemas da sociedade. Interpretação quanto à natureza: quanto ao resultado? 1. Declaratória: não há um esforço do intérprete, uma vez que não há aumento ou diminuição do sentido da norma. 2. Restritiva: há restrição do conteúdo e do alcance da norma. 3. Extensiva: há uma ampliação da aplicação do conteúdo da norma. Exemplo: art. 581, I, CPP (contra decisão que rejeita a denúncia ou queixa cabe RESE), a jurisprudência possui entendimento que é necessário fazer uma interpretação extensiva para também alcançar a decisão que rejeite o aditamento da denúncia. Vou lá no art. e vejo que o legislador tratou de uma determinada questão, entretanto, vejo que existe outra questão parecida e decido abarcá-la nesse mesmo art., fazendo uma interpretação extensiva. Quando a omissão do legislador for voluntária, não se aplica uma interpretação extensiva. Exemplo: contra decisão que recebe denúncia ou queixa não cabe RESE. 4. Analógica: contém um termo aberto, sendo necessário que se valha de outros conhecimentos para possibilitar a interpretação. Exemplos do CPP: Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: Processo Penal| Maria Eduarda Q. Andrade II – se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia. Art. 185. § 2º do CPP tbm. Por fim, a interpretação teleológica ou sistemática nada mais é do que analisar a norma com base em um sistema. Questionamento: aplica-se todos esses modos de interpretação, mesmo o art. 3º se referindo apenas para a interpretação extensiva? SIM. Diferentemente do que ocorre na interpretação analógica, em que se terá a lei trazendo uma enumeração de situações que podem ser complementadas (termo aberto), na analogia, há uma omissão do legislador. Nesse caso, existe a possibilidade de se valer da analogia. Estamos falando de autointegração. Omissão involuntária do legislador. Pois, se foi voluntária, significa que o legislador não deseja que a situação fosse resolvida da mesma forma; Por exemplo: o art. 226 do CPP apresenta tudo o que deve ser feito para o reconhecimento de pessoas válido, todavia, nada é dito sobre o reconhecimento fotográfico. Contudo, não é por isso que ele deixará de ser válido. Nada diz o legislador sobre o reconhecimento fotográfico, para isso vem a jurisprudência e diz que é preciso seguir, na medida do que for compatível, o art. 226 do CPP. Aqui vemos a diferença entre a interpretação analógica e a ANALOGIA propriamente dita (autointegração). Art. 185, § 2º Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades. Os recursos tecnológicos se alteram com tanta rapidez que o legislador já abriu a possibilidade de uma futura interpretação analógica, para que sejam utilizados recursos que ainda vão existir. Importante: Aplicação Supletiva do CPC. Admite-se a aplicação analógica do CPC nas situações em que o CPP NÃO possui regras próprias. É uma aplicação subsidiária. Aplicação subsidiária: quando o CPP não dispuser sobre determinada situação, aí sim vem a aplicação do CPC. Art. 15, CPC: Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. Ainda que não mencione o CPP no art. aplica- se a ele também. Mas lembrar que, não é porque o CPC é mais novo do que o CPP, que sempre aplicará os artigos. A questão é, somente aplicará o CPC se o CPP não dispor sobre o assunto. No processo civil, a regra de contagem de prazos só computa dia útil, já no processo penal, a contagem é corrida. Lei Processual Penal no Espaço Quando se fala em direito processual penal, há um conjunto de normas que dizem respeito ao procedimento que irá ser aplicado diante do cometimento de um fato criminoso. As regras do CPP e legislações penais se aplicam dentro do nosso território. Direito penal: territorialidade, extraterritorialidade condicionada e incondicionada; Processo Penal: princípio da territorialidade. Citação no estrangeiro? É feita por meio de uma carta rogatória. Processo Penal| Maria Eduarda Q. Andrade Deve ser expedida pelo juiz brasileiro de acordo com as regras do CPP, porém, ela será cumprida, por exemplo, na Argentina. Assim, serão seguidas as regras processuais penais da Argentina. Isso se relaciona com soberania nacional. Exceção: Aplicação fora dos limites territoriais 1. Território nullius: terra de ninguém 2. Quando houver autorização do Estado em que se praticará o ato; 3. Em caso de guerra, em território ocupado; 4. Art. 5º, §4º CRFB: o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. Art. 1º do CPP: O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional; Exemplo: imunidade diplomática – Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. (Chefes de governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e membros das comitivas, embaixadores e suas famílias, funcionários estrangeiros do corpo diplomático e sua família, assim como funcionários de organizações internacionais em serviço). II – as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100); Quando fala nos crimes de responsabilidade, está se referindo a infrações político administrativas. E o julgamento é realizado pelo Senado Federal – art. 52 da CF. III – os processos da competência da Justiça Militar; IV – os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17); V – os processos por crimes de imprensa. Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. Além dessas exceções trazidas pelo art. 1º, tem-se outras exceções em leis especiais, como nas leis de drogas, lei 9.099/96, lei Maria da penha. Lei Processual no Tempo O que preocupa aqui é a sucessão das leis. Por exemplo: no dia em que o fato criminoso foi praticado, havia a lei A. No dia seguinte, antes mesmo do início das investigações, havia a lei B. Já no julgamento, havia a lei C. Importante: Direito Penal X D. Processual Penal. Não se trata do mesmo assunto!!!! No DP, trata-se do fenômeno da retroatividade e ultratividade da lei mais benéfica ao réu. Por exemplo: no dia do fato A, o direito penal estabelecia pena de 2 anos. Já no dia do julgamento,a lei válida era de 4 anos. Logo, ela não seria aplicada. Se fosse de 1 ano, seria, pois é mais benéfica ao réu. Já no direito processual, é diferente: Art. 2º, CPP: A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. Tempus delicti X tempus regit actum Princípio do Tempus regit actum: a lei que vale HOJE é a que será aplicada. Atos já praticados: são válidos Aplicação imediata da norma nova – critério da imediatidade. Sistema para resolver conflitos Suponha o crime A: Processo Penal| Maria Eduarda Q. Andrade a) da unidade processual: pode se ter a lei 1, 2, 3 e 4, porém, quem irá incidir sobre o processo é a 1, pois ele é considerado uma unidade. b) das fases processuais: se tem a fase postulatória, instrutória e decisória. Se a mudança ocorreu após a fase postulatória, a nova lei será aplicada na fase instrutória. Se foi durante a fase instrutória, será aplicada na fase decisória. c) do isolamento dos atos processuais: o ato praticado não perde a validade. Cada ato será praticado de acordo com a lei vigente – esse é o sistema aceito! Ainda que seja a lei que possa prejudicar o réu, deverá ser aplicada do mesmo jeito, pois falamos genuinamente de processo penal. Não há a incidência da retroatividade da lei, como ocorre no direito penal. Agora, o cuidado que devemos ter é em relação a algumas normas que muito embora seja processuais, tem no fundo uma certa repercussão no direito material. Normas genuinamente processuais: aplicação imediata. Sem prejuízo dos atos passados. Normas processuais materiais ou híbridas: é preciso verificar se beneficia ou não o réu. Importante: normas híbridas são processuais mas com repercussão no direito material. A lei 9.099 trata das infrações penais de menor potencial ofensivo. Traz então o Procedimento sumaríssimo. Determina institutos, como a transação penal. Ao aderir à transação penal (que diz respeito ao procedimento), há a extinção da punibilidade, o que há relação com o direito material. Agora, qual é o problema: Art. 90, 9.099: As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver INICIADA. Ou seja, se o processo já tiver iniciado, não poderá aplicar a lei. Entretanto, vem o STF, Pleno, ADI 1719. Rel. Min. Joaquim Barbosa, 18/06/2007, e diz: Isso pode ser feito no que diz respeito as regras de procedimentos, mas aos institutos despenalizadores, com repercussão na questão da punibilidade, não, pois há uma REGRA HÍBRIDA. Como vimos a regra hibrida é uma regra que possui interferência no direito material, logo no caso do exemplo da lei 9.099, há o direito da aplicação da regra mais benéfica, pois é uma regra de direito material. STJ vem dizendo que se respeita o ato jurídico perfeito. Ou seja, respeitar os atos já foram iniciados baseados com a lei anterior, devem prevalecer Normas processuais heterotópicas. Inseridas na lei material, com conteúdo processual. Na publicação de uma lei material, encontram-se regras processuais, ou vice-versa. Não se tratam de normas híbridas. Exemplo: A Constituição configura um diploma material, entretanto, também apresenta regras processuais, como a fixação das competências dos tribunais. Vigência, validade, revogação Propositura, discussão, votação, aprovação, promulgação, sanção, publicação. A entrada em vigor, em regra, expressamente, pode ocorrer na data da publicação ou no dia posterior à vacância. Se a lei nada prever, observará o prazo de 45 dias após a publicação. Uma lei está em vigor até a sua revogação. Podendo ser: Revogação tácita: lei nova superveniente que torna incompatível com a aplicação de dispositivo anterior. Revogação expressa: determinada lei, expressamente, revoga outra lei. Ab-rogação: toda a norma é revogada. Derrogação: parte da norma é revogada. Processo Penal| Maria Eduarda Q. Andrade Quanto a Repristinação. É o fenômeno jurídico pelo qual uma Lei volta a vigorar após a revogação da Lei que a revogou. Exemplo: estava em vigor a lei A, mas depois veio a lei B e revogou expressamente a lei A. Logo depois, veio a Lei C que revoga a lei B. O questionamento é se a partir desse momento da revogação da lei B, volta a valer a lei A? A resposta é negativa!!! No brasil não admite a repristinação implícita ou tácita. É necessário que esteja escrito na nova lei que tal lei voltará a valer. Quanto ao efeito repristinatório? Está ligada ao controle de constitucionalidade. Baseia-se no princípio da nulidade do ato inconstitucional. O ato inconstitucional nasce eivado de nulidade. Ou seja, nesse caso a nova lei já nasce nula (inconstitucional) e diante disso, não poderia revogar a anterior validamente. Assim, o efeito repristinatório é a reentrada em vigor de norma aparentemente revogada. A validade de uma norma está intimamente ligada à sua compatibilidade com a Constituição Federal e Convenções Internacionais sobre Direitos Humanos. A lei processual penal possui aplicação imediata, podendo ser suplementada com os princípios gerais de direito. Sistemas Processuais Penais O sistema processual penal diz respeito à tratativa de um Estado acerca da aplicação da lei processual penal. Diz respeito de como que o Estado trata as pessoas que cometeram o crime e como vai ser a resposta estatal. Com a evolução do processo penal, os institutos de caráter privado vão perdendo espaço para aqueles de índole pública, aponta os autores três sistemas típicos: acusatório, inquisitório e misto. 1. Sistema Inquisitorial Tem por principal característica a concentração de poder nas mãos de uma única pessoa, ou seja, dá amplos poderes ao juiz dentro do processo. O juiz reúne em si a capacidade de: Investigar, Acusar, Defender, Julgar. Mas, a capacidade “defender” é descartada, não é possível acusar e defender alguém ao mesmo tempo. Além disso, há outras características: A busca da verdade real; O réu é visto como objeto, e não como sujeito de direitos; O juiz produz provas (gestão da prova); A ausência de contraditório. Aqui o juiz é o protagonista! Acusa, julga e produz provas. Sistema ligado ao Estado absolutista. Inexistem as regras de igualdade e da liberdade processual. O dogma inquisitório traz a proteção das sociedades por intermédio de um juiz onipotente, guiado pela verdade a todo custo. O sistema girava em torno de dois fatos: prova material do fato ou confissão. A tortura era um instrumento de provas admitido, e o processo pautava-se por denúncias anônimas. Após a segunda guerra Mundial, profundas transformações no cenário político ocidental ocorreram, repercutindo a nova onda de valores na forma de operacionalizar o sistema persecutório penal. A partir disso, houve o declínio do sistema inquisitivo em prol do acusatório. 2. Sistema Acusatório Puro O processo é visto como procedimento com a separação das funções (juiz, acusação e defesa). Processo Penal| Maria Eduarda Q. Andrade O sistema acusatório, de modo geral, é expressão típica de um Estado liberal democrático. Nesse sistema, é possibilitado o contraditório e a ampla defesa, buscando a verdade possível. Portanto, o réu é sujeito de direitos. Verdade possível: a verdade que reproduza na medida do possível o ato que está sob julgamento. Segundo José Laurindo de Souza Netto: “Assim, uma das caraterísticas irrenunciáveis da estrutura acusatório do processo penal é a adoção do princípio da acusação, segundo o qual o órgão julgador não pode ter funçõesde acusação das infrações, mas apenas de investigar e de julgar dentro dos limites que lhe são postos por uma acusação fundamentada e deduzida por um órgão diferenciado”. São ainda características desse sistema: A paridade de armas (igualdade de forças) com defesa efetiva em paridade com o sistema acusatório; As partes são protagonistas da produção de provas (gestão da prova); A equidistância do juiz para julgar: imparcialidade. Quanto o requisito da imparcialidade, o sistema acusatório está intimamente ligado ao princípio do juiz natural, bem como o do princípio da identidade do juiz. Aqui o juiz preside o processo, é uma entidade SUPRAPARTES. Esse tipo de estrutura implica que a pessoa acusada tenha a possibilidade de se defender desde o início. Além de se exigir, de que quem acusa seja uma entidade diferente de que julgará o caso. A finalidade do processo acusatório é fazer emergir o equilíbrio entre as partes, a celeridade, a imparcialidade do juiz. O juiz encontra-se vinculado ao cumprimento dos direitos do acusado. Há um dever constitucionalmente garantido de velar pelo equilíbrio. 3. Sistema Misto ou Francês É divido em duas fases: inquisitorial e o acusatório. Sistema inquisitorial: fase de investigação. Sistema acusatório: acusação, defesa e julgamento. Sistema misto. O sistema misto, que foi adotado em quase todas as legislações da Europa continental, introduziu a separação das funções de instrução, acusação e julgamento, sendo a ação penal exercida pelo Ministério Público, como representante da sociedade. Mas qual é o nosso sistema adotado no Brasil atualmente? O sistema adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro: Vem a CF e apresenta tal art., que diz que é o MP quem tem a função de iniciar a ação penal pública, dando um caráter acusatório ao Processo Penal. Art. 129, CF: São funções institucionais do Ministério Público: I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; Não obstante, a Lei n. 13.964/2019 inseriu o seguinte artigo: Art. 3º-A, CPP: O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. Nosso sistema é um acusatório puro? Nosso ordenamento ainda prevê a atuação supletiva do juiz. Apesar de ser supletiva, a doutrina diz não estar valendo tais artigos, pois são incompatíveis com o sistema acusatório, senão vejamos: Art. 385, CPP: Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada. Processo Penal| Maria Eduarda Q. Andrade Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Parte da doutrina entende que tais previsões legais não foram recepcionadas pela CF/1988. No entanto, entendimento dos Tribunais seguem sustentando que nosso sistema é acusatório e a atuação supletiva do juiz não é incompatível com a CF/1988. Dessa forma, a doutrina entende que o sistema adotado no ordenamento jurídico brasileiro não é acusatório puro, uma vez que possui resquícios de atuação supletiva do juiz durante o processo. Aparece então a possiblidade do juiz, de acordo com o art. 156, inciso II, de suprir a atuação das partes em relação as provas. Então o tribunal vem dizendo: ok, nosso sistema é o acusatório, por isso as partes é quem são responsáveis por produzir as provas e é o MP quem inicia a ação penal, NO ENTANTO, o juiz tem a possibilidade de suplementar a atuação das partes, por exemplo, achou que determinadas provas não foram suficientes e solicita outras. Tal ponto, não diz respeito ao juiz estar defendendo ou acusando, mas sim a necessidade de esclarecimento de certos pontos.
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