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As doenças glomerulares afetam uma estrutura renal chamada de glomérulo, que, por sua vez, faz parte do néfron. ANATOMIA O glomérulo é uma estrutura que está cercada pela capsulo de Bowman. Envolta pela capsula tem-se a arteríola aferente (fruto das arteríolas interlobulares, ramos das arteríolas arqueadas), responsável por levar o sangue ao glomérulo, formando dentro da capsula o “tufo glomerular”, e emerge desse local como arteríola eferente. HISTOLOGIA O “tufo” de capilares glomerulares possuem características especiais, possuindo um endotélio fenestrado, uma membrana basal, os podócitos e entre os capilares existem algumas células mesangiais, que formam a matriz mesangial. A constituição da barreira de filtração glomerular é composta por: podócitos, membrana basal glomerular e o endotélio fenestrado. FISIOLOGIA O glomérulo é responsável por realizar todo o processo de filtração e formação e de urina. É constituído pela capsula de bowman e o glomérulo, propriamente dito (incluindo os vasos que se encontram nessa região). Das 4 divisões funcionais (filtração, reabsorção, excreção e concentração), o glomérulo é responsável somente pela filtração. A doença glomerular pode ser causa tanto da doença renal crônica como da injúria renal aguda. PRINCIPAIS CAUSAS DA DRC: diabetes mellitus; hipertensão arterial; doença glomerular. PRINCIPAIS CAUSAS DA IRA: necrose tubular aguda (NTA). Injúria pré-renal; doença glomerular. O processo inflamatório a nível de glomérulos possui algumas consequências, como: • Obliteração de capilares: que leva a hipervolemia, hipertensão, edema e retenção de catabólitos (uremia e azotemia). • Ruptura dos capilares glomerulares: gerando hematúria, leucocitúria. • Aumento moderado da permeabilidade glomerular: o que causa proteinúria, que a depender da etiologia pode ser leve, moderada ou grave. Com relação as nefrites, observa-se que frequentemente são de origem imunológica. Dessa D O E N C A S G L O M E R U L A R E S forma, ocorre ativação do sistema complemento, fazendo com que haja estimulação das citocinas inflamatórias, o que ocasiona a infiltração de leucócitos e macrófagos, bem como a proliferação de células residentes, levando a INFLAMAÇÃO. ESTUDO HISTOLOGICO DE DG A biópsia renal é o procedimento realizado para que haja material para estudo anatomopatológico. Geralmente esse procedimento é feito com uma agulha, guiado por ultrassonografia e é seguido por três etapas de avaliação: 1. Microscopia ótica 2. Microscopia eletrônica (permite avaliar as microestruturas de forma bem mais efetiva, em relação a microscopia ótica) 3. Imunofluorescência (utiliza-se o microscópio normal, mas faz alguns testes de anticorpos, como: IgG, IgM e IgA; C3 e C1q; Kappa e Mambda; Fibrinogênio). É uma síndrome que tem como origem do quadro uma lesão na barreira de filtração glomerular (podócitos, membrana basal glomerular e endotélio fenestrado), ou seja, aquilo que era para ficar na circulação sistêmica acaba se perdendo no rim, e sendo eliminada pela urina. Diante disso, devido a perda da seletividade da filtração glomerular, mais substâncias são eliminadas pela urina do que deveria. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Caracterizada por uma tríade: 1. proteinúria maciça: > 3,5 g/ dia. 2. Hipoalbuminemia: < 3,0 g/ dia. 3. Edema generalizado (anasarca). A albumina é um dos principais fatores que gera a pressão oncótica intravascular. Quando a albumina do plasma é perdida, a pressão oncótica cai, e há um estímulo para síntese de lipoproteínas (hiperlipidemia), perdida na urina, pois aumentou a concentração de lipídeos no sangue, chamada de lipidúria (perda de lipídeos na urina). Além disso, a diminuição a pressão oncótica faz com que aumente a pressão hidrostática, fazendo com que o paciente tenha perda de líquido para o interstício, fique com muito líquido no sangue, então o plasma se expande, evoluindo com edema e hipertensão. Também há: • perda de proteínas da coagulação, como antitrombina III, aumentando o risco de trombose. • Hematúria (presença anormal de eritrócitos – glóbulos vermelhos - na urina) é mínima. ETIOLOGIAS Pode ser primária ou secundária a alguma doença. PRIMÁRIAS: • Doenças por lesões mínimas (DLM) • Glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) • Glomerulopatia membranosa (GM) • Glomerulopatia membranoproliferativa (GNMP): nefrítica e nefrótica SECUNDÁRIAS: • Nefropatia diabética: paciente com diabetes, e, por causa da hiperglicemia, tem aumento da filtração glomerular, pode causar lesão glomerular -> síndrome nefrótica. • Amiloidose: doença infiltrava com infiltração do glomérulo pela proteína amiloide -> síndrome nefrótica. OBS: somente 2 cursam com diminuição do sistema complemento: GNMP e a glomerulonefrite lúpica classe V. DIAGNÓSTICO • Sedimento urinário inocente (poucas ou nenhuma célula ou cilindros celulares) • A síndrome nefrótica plena consiste nos seguintes sinais: 1. Excreção urinária de proteínas >3g/24 horas 2. Hipoalbunimenia (albumina < 3 g/dL) 3. Edema periférico 4. Hiperlipidemia 5. Corpúsculos ovais de gordura na urina EPIDEMIOLOGIA Acomete principalmente as crianças (70 a 90% dos casos), principalmente do sexo masculino (1 a 8 anos), que cursam com proteinúria maciça seletiva, o paciente acaba perdendo muita albumina, níveis normais de complemento e edema importante. Nota-se que as recidivas são bastante frequentes nessa patologia (70 a 75%) mas diminui após a puberdade, e é considerada uma síndrome nefrótica pura, ou seja, não há hematúria, não há hipertensão e nem declínio da função renal. ETIOLOGIA É uma patologia que, na maioria das vezes, é idiopática, porém algumas situações podem dar origem a ela, como o Linfoma de Hodgkin (câncer que se origina no sistema linfático, onde há células responsáveis pela imunidade e vasos que conduzem essas células para o corpo), alergias e a utilização de AINEs. DIAGNÓSTICO marcado pelas características clínicas, ou seja, tríade clínica sem outros comemorativos, não sendo necessária a realização de biópsia em todos os pacientes. No entanto, em especial, naqueles pacientes com um quadro clínico mais “florido”, é importante fazer uso da biópsia. A análise do sedimento urinário não mostra células, então é um paciente que não tem um processo inflamatório, não tem doença subjacente, não faz anuria, nem oligúria. Paciente com uma síndrome nefrótica e nada mais -> caso brando. HISTOLOGIA Chamada de lesão mínima pois a histologia é normal, apenas a microscopia eletrônica consegue ver algumas alterações sutis. Na biópsia será encontrado os seguintes achados: • microscopia ótica: não há alterações. • microscopia eletrônica: fusão dos prolongamentos podocitários. Cápsula de bowman com fusão e retração dos processos podocitários. TRATAMENTO é baseado na corticoterapia, 1 mg/ kg, de 8 a 12 semanas, com uma resposta excelente para os pacientes redicivantes, porém, em pacientes adultos, a maioria tem remissão completa. Algumas opções são: ciclosporina e drogas citostáticas. Esclerose/cicatrizes de somente parte do glomérulo, com focos (focal) e de somente alguns glomérulos (segmentar). Normalmente, os glomérulos mais atingidos são da junção corticomedular (dificulta a biopsia). EPIDEMIOLOGIA É a principal causa de síndrome nefrótica em adultos, em especial entre os 25-35 anos, mas pode acometer pacientes de qualquer idade. FISIOPATOLOGIA Os mecanismos fisiopatológicos mais conhecidos são: • sequela de lesão glomerular • sobrecarga renal • lesão devido ao hiperfluxo de filtração glomerular Ou seja, situações em que há possibilidade de gerar esclerose glomerular, sendo que as causas do surgimento dessesmecanismos são: • hipertensão arterial • anemia falciforme • drogas (como a heroína) • HIV • Obesidade • Nefropatia por refluxo Além disso, a GESP também é uma doença que não consome complemento, porém assim como a doença por lesões mínimas, ela é redicivante (doença que se repete). IMORTANTE: pacientes com HIV+ com síndrome nefrótica podem desenvolver uma variante da GESF, conhecida como GESF colapsante, que é caracterizada por uma rápida evolução para perda da função renal. HISTOLOGIA Na biópsia, como a avaliação da microscopia ótica já é possível perceber alguns pontos de esclerose (lesões focais), na microscopia eletrônica percebe-se a fusão dos podócitos, semelhante a DLM e na imunofluorescência pode se apresentar sem alterações ou com presença de depósitos de IgG e C3 nas áreas de fibrose. FOCAL SEGMENTAR TRATAMENTO É semelhante ao da doença por lesão mínima. Corticoterapia, porém com um período de duração maior, cerca de 12-16 semanas e nos pacientes corticodependentes ou resistentes, as opções são os inibidores da calcineurina (tracolimos ou ciclosporina). GESF PRIMÁRIA: tratar com inibidores do sistema renina-angiotensina (IECA). GESF SECUNDÁRIA: tratar a causa subjacente. EPIDEMIOLOGIA Causa mais comum de síndrome nefrótica nos idosos. Acomete mais comumente homens brancos entre 30 e 50 anos de idade. FISIOPATOLOGIA Caracterizada por uma proteinúria maciça, com níveis normais de complemento e possui uma remissão espontânea, cerca de 40% dos casos. Além disso, está associada com fenômenos tromboembólicos (como trombose de veia renal). ETIOLOGIA As causas podem ser: • PRIMÁRIAS: associadas a componentes autoimune, como o anticorpo antirreceptor solúvel de fosfolipases A2. • SECUNDÁRIAS: associadas a malignidade, com neoplasias sólidas, medicações (captopril, sais de outros e outras) e infecções (hepatite B, esquistossomose, sífilis, hanseníase e malária). HISTOLOGIA É possível perceber, através da microscopia eletrônica, o depósito subepitelial de imunocomplexos (ou seja, entre a membrana basal e os podócitos) e na microscopia ótica, com a coloração por prata, é possível encontrar espessamento difuso e uniforme da membrana basal e espícula. Depósito subepitelial de imunocomplexos. Na imunofluorescência: depósitos granulosos de IgG (imunoglobulina) e C3 (complemento). TRATAMENTO Até 40% dos pacientes tem remissão espontânea, sendo assim, o tratamento é com base na clínica, com drogas anti-proteinúricas (IECA/BRA) e nos pacientes sintomáticos: ciclosporina ou corticoide + ciclofosfamida oral. Pacientes com a forma primária (que não é associada a malignidade) com proteinúria persistente, pode ser tratado com o uso corticoide e/ou imunossupressor. Causas secundárias: tratar doença de base. É uma doença que se manifesta tanto como síndrome nefrítica quanto nefrótica. É marcada por consumir o sistema complemento. EPIDEMIOLOGIA Pode acometer qualquer idade, porém tem predomínio nos adultos. ETIOLOGIA Geralmente está associada com hepatite e crioglobulinemia. HISTOLOGIA Durante a microscopia ótica é percebida uma proliferação mesangial e endocapilar, além do espessamento e duplicação da membrana basal glomerular (sinal do duplo contorno). TRATAMENTO É baseado no uso de anti-hipertensivos (IECA ou BRA), além do tratamento da doença de base. Inflamação glomerular, caracterizada por perda abrupta da superfície de ultrafiltração, com diminuição da excreção de pequenos solutos, diminuição do fluxo urinário e diminuição da taxa de filtração glomerular, mecanismos que se manifestam com edema moderado e hipertensão. Além disso, a ruptura das alças glomerulares faz com que haja hematúria (presença de hemácias dismórficas ou cilindros hemáticos). Por fim, ocorre um aumento moderado na permeabilidade glomerular a macromoléculas, o que gera uma proteinúria moderada. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS A síndrome nefrítica é caracterizada pelo surgimento da tríade: • Hematúria macroscópica (urina turva ou cor de refrigerante tipo cola), resultante do sangramento glomerular significativo por inflamação. • Hipertensão, causada por retenção de sódio resultante da diminuição aguda na TFG. • proteinúria moderada (sub-nefrótica), menos do que 3,5 g/dia Ademais, outro sintoma que surge de maneira frequente é o edema moderado. O edema é identificado primeiro nas regiões de baixa pressão tecidual, como as regiões periorbitária e escrotal. ETIOLOGIAS A síndrome nefrítica pode surgir em associação com algumas doenças, como: • glomerulonefrite associada a infecções (infecções estreptocócicas, endocardites e abscessos) • nefropatia por IgA (causa mais comum dessa síndrome) – doença de Berger • glomerulonefrite membranoproliferativa • glomerulonefrite associada a vasculites renais ACHADOS LABORATORIAIS EXAMES SOROLÓGICOS: exames sorológicos, incluindo dosagem do complemento, fatores anucleares, crioglobulinas, marcadores de hepatite, ANCAs, anticorpos antimBG e ASO. Devem ser solicitados em função de história clínica e exame físico, com o objetivo de limitar o diagnóstico diferencial dentro do espectro nefrítico. EXAME DE URINA: revela a presença de proteínas e hemácias. À microscopia, essas células podem estar com a forma alterada em razão de terem atravessado a membrana capilar danificada – as chamadas hemácias dismórficas. encontram-se cilindros hemáticos quando há sangramento intenso e estase tubular. Quando quantificada, a proteinúria geralmente encontra-se na faixa sub-nefrótica (<3 g/dia) BIOPSIA: a realização de biópsia renal deve ser considerada caso não haja contraindicações. A microscopia ótica define o padrão de lesão. O processo de doença subjacente pode ser classificado de acordo com o padrão à imunofluorescência e com os achados à microscopia eletrônica. DIAGNÓSTICO • hematúria glomerular (hemácias dismórficas) e possivelmente cilindros hemáticos na urina • proteinúria abaixo do limite nefrótico (0,3 0 3 g/dia) • hipertensão arterial é comum • a doença é classificada em uma das três categorias: hematúria glomerular assintomática, síndrome nefrítica aguda e glomerulonefrite rapidamente progressiva. • O edema, se presente, é do tipo gravitacional. TRATAMENTO Entre as medidas gerais para todos os pacientes estão o tratamento agressivo da hipertensão arterial e da sobrecarga hídrica, quando presentes. A terapia antiproteinúria com IECA ou BRA deve ser considerada nos casos com ausência de lesão renal aguda. Talvez haja necessidade de diálise nos pacientes com lesão renal aguda significativa. A lesão inflamatória glomerular pode requerer tratamento com corticoides ou outros imunossupressores, ou ambos. QUANDO ENCAMINHAR Todos os pacientes sob suspeita de glomerulonefrite devem ser encaminhados ao nefrologista. QUANDO INTERNAR Qualquer suspeita de síndrome nefrítica aguda ou de glomerulonefrite rapidamente progressiva determina internação hospitalar imediata. Também conhecida como glomerulonefrite difusa aguda (GNDA), provocada por cepas nefritogênicas do Streptococcus beta-hemolítico do grupo A ou surgir de forma “primária” e idiopática. EPIDEMIOLOGIA A maior prevalência é entre crianças de 4 a 12 anos, cursando, geralmente, após 1 a 2 semanas do surgimento de uma faringite, de 3 a 6 semanas após um processo infeccioso na pele e pode ser variável quando relacionada com outras infecções. SINAIS E SINTOMAS A apresentação da doença varia muito dentro do espectro nefrítico, desde hematúria glomerular assintomática (especialmente em casos epidêmicos) até síndrome nefrítica com hipertensão arterial, edema e, talvez, urina de cor escura. ACHADOS LABORATORIAIS O nível sérico de complementoestá reduzido; na glomerulonefrite pós-infecção causada por estreptococos do grupo A, os títulos de ASO estarão elevados, a não ser que a resposta imune tenha sido embolada por tratamento prévio com antibiótico. diferenciação com a nefropatia por IgA: consumo do sistema complemento (C3 e CH50). EXAME DE URINA: Há presença de hematúria glomerular e proteinúria sub-nefrótica; nos casos graves, é possível encontrar aumento da creatinina sérica e cilindros hemáticos na urina. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Como diagnóstico diferencial, tem-se glomerulonefrites por IgA, que ocorre, no geral, de forma concomitante com faringite, diferente da pós- infecciosa. DIAGNOSTICO É baseado em uma história clínica (hematúria, proteinúria moderada, oligúria, edema e hipertensão) de faringite ou piodermite com um período de incubação compatível, além de achados laboratoriais, como os títulos elevados de ASLO, anti- DNAse B e anti-hialuronidase. HISTOLOGIA Na microscopia ótica, os achados mais comuns são: proliferação de células mesangiais, obliteração dos capilares glomerulares. Na microscopia eletrônica é possível perceber a presença de imunocomplexos entre a membrana basal e os podócitos, lembrando humps ou corcovas. Na imunofluorescência, há depósitos de imunocomplexos de forma difusa, imunoglobulina G (IgG) e C3 com padrão granular no mesângio e ao longo da membrana basal capilar. NORMAL GNDA Corte histológico da cápsula de bowman normal e com GNDA (proliferação das células mesangiais) QUANDO BIOSIAR: pacientes que estão com anúria, oligúria, níveis do sistema complemento baixo por um período maior que 8 semanas, proteinúria nefrótica (>3,5 g/dia), hematúria macroscópica (>6 semanas) e evidência de doença sistêmica. OBS: hematúria microscópica pode durar até 2 anos e a proteinúria sub-nefrótica pode permanecer por até 5 anos. TRATAMENTO É baseado em restrição hidrossalina, administração de diuréticos de alça (buscando melhorar o edema), tratamento da hipertensão com vasodilatadores, diálise nos casos que não respondem ao tratamento e penicilina nos casos dos pacientes com infecção estreptocócica (eliminam as cepas nefritogênicas). É uma doença renal primária com depósito de IgA no mesângio glomerular. A causa desencadeante é desconhecida, mas talvez possa ser produzida por glicosilação. EPIDEMIOLOGIA É a forma mais comum de doença glomerular primária em todo o mundo, particularmente na Ásia. Acomete mais frequentemente crianças e adultos jovens, sendo 2 a 3 vezes mais frequente no sexo masculino. Caracterizada por hematúria recorrente após IVAS (infecções das vias aéreas superiores), concomitantemente com elas ou logo após. FISIOPATOLOGIA Há depósitos de IgA no mesângio, porém não há consumo do sistema complemento. A doença de Berger pode ser primária ou secundária: PRIMÁRIA: causada por um defeito na glicosilação da IgA, de modo que essa imunoglobulina defeituosa é filtrada e depositada no mesângio, provocando o processo fisiopatológico. SECUNDÁRIA: caracterizada por sua associação com outras doenças, como a cirrose hepática, doença celíaca, HIV e outras. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Hematúria macroscópica (40 a 50% dos casos), mas ela pode ser microscópica. Com frequencia, tal episódio está associado à infecção viral de mucosas, como a do trato respiratório superior. A urina torna-se vermelha ou escura em 1 a 2 dias após o início dos sintomas. Pode se apresentar com qualquer dos quadros de síndrome nefrítica, desde hematúria microscópica assintomática até glomerulonefrite rapidamente progressiva. É menos comum a apresentação com síndrome nefrótica. ACHADOS LABORATORIAIS Não há exames sorológicos que auxiliem no diagnóstico de nefropatia por IgA; no futuro, é possível que a dosagem sérica da IgA subclasse 1 seja útil. Os níveis séricos do complemento estão normais. HISTOLOGIA Corte histológico da cápsula de Bowman com doença de Berger (proliferação do mesangio). Imunofluorescência mostrando depósito de IgA. DIAGNÓSTICO É baseado na clínica de síndrome nefrítica, com a presença de IgA aumentado, o que ocorre em aproximadamente 50% dos casos. • Proteinúria variando de mínima até valores de síndrome nefrótica • Hematúria glomerular: a microscopia é comum; a macroscópica ocorre após infecção • Coloração positiva para IgA à biópsia renal TRATAMENTO O curso da doença varia muito entre os pacientes. A abordagem terapêutica deve ser ajustada conforme o risco de progressão. Os pacientes de baixo risco de progressão (sem hipertensão, TFG normal, proteinúria mínima) podem ser manobrados anualmente. Os pacientes de risco médio a alto para progressão (proteinúria > 0,5 g/dia, TFG reduzida, hipertensão ou qualquer combinação dessas três condições) devem receber um curso inicial de tratamento conservador, incluindo IECA ou BRAs e a pressão arterial deve ser mantida em níveis entre 125/75 mmHg e 130/80 mmHg. Para os pacientes nessa categoria de risco e com síndrome nefrótica ou queda rápida na TFG ou naqueles cuja proteinúria não é reduzida para < 1 g/dia, mas com TFG relativamente preservada (DRC estágio 3 ou menos), deve ser considerada a terapia imunossupressora. Em pacientes com proteinúria de 1,0-3,5 g/dia e TFG ≥ 70 mL/min/1,73 m2, a terapia com corticosteroides é comprovadamente benéfica. Para os raros pacientes com nefropatia por IgA e evolução rapidamente progressiva com formação de crescentes na biópsia, a terapia com ciclofosfamida e corticosteroides deve ser considerada (ver seção sobre vasculite associada a ANCAs adiante). O transplante de rim é uma excelente opção para pacientes com DRET, mas foi documentada doença recorrente em 30% dos pacientes 5 a 10 anos após transplante. Felizmente, a doença recorrente raras vezes causa falha do aloenxerto. PROGNÓSTICO Aproximadamente 33% dos pacientes evoluem com remissão clínica espontânea. Ocorre evolução para DRET em 20-30% dos casos. Os demais apresentam hematúria microscópica crônica e creatinina sérica em níveis estáveis. O indicador prognóstico mais desfavorável é proteinúria acima de 1 g/dia; outros indicadores desfavoráveis são hipertensão arterial, hematúria e proteinúria microscópicas persistentes, glomerulosclerose ou crescentes glomerulares à biópsia e TFG anormal no momento da apresentação. É uma nefrite caracterizada com um rápido declínio da função renal, em dias ou semanas. Ou seja, pacientes com uma síndrome nefrítica (hipertensão, proteinúria moderada e hematúria) com uma piora rápida da função renal, pode ser classificado como portador da glomerulonefrite rapidamente progressiva. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A clínica do paciente permite que seja estabelecido o diagnóstico e o início da terapia. Ou seja, paciente que chega com hipertensão, proteinúria e hematúria, com escórias nitrogenadas aumentadas. HISTOLOGIA Um marco é a presença de crescentes (proliferação do epitélio parietal da cápsula de Bowman, que se assemelha a lua crescente), caracterizada por duas ou mais camadas de células da cápsula de Bowman. Quando a crescente acomete todo o glomérulo, o prognóstico do paciente é mais reservado. NORMAL CRESCENTE PROLIFERAÇÃO DO EPITÉLIO PARIETAL OU DA CÁPSULA DE BOWMAN PROCESSO FISIOPATOLÓGICO POR TRÁS DA “CRESCENTE”: A ruptura dos vasos capilares gera um extravasamento para o espaço de Bowman, onde haverá acúmulo de monócito, mediadores inflamatórios e proteínas. Essa situação faz com que haja um estímulo das células parietais, levando a um aumento da proliferação dessas células. ETIOLOGIAS Algumas doenças podem cursar com glomerulonefrite rapidamente progressiva, são elas: • glomerulonefrite associada a infecções • doença antimembrana basal (goodpasture)• paucimunes (Wegener; Churg-Strauss) • nefrite lúpica • nefropatia por IgA • HIV e HBV • Glomerulonefrite por crioglobulinemia (infecção por HCV) CLASSIFICAÇÃO Após o diagnóstico clínico mais confirmação histopatológica, realiza-se a classificação, feita através da imunofluorescência. Dessa forma, existem 3 tipos, e ainda podemos associar as classes e as possíveis etiologias. TIPO I Forma linear, caracterizada por depósitos na membrana basal glomerular – Goodpasture. GOODPASTURE: É o padrão tipo I da GRP, Ocorrendo em pacientes que desenvolvem autoanticorpos dirigidos contra os antígenos não colagenoso da cadeia alfa3 do colágeno tipo IV presente na membrana basal. EPIDEMIOLOGIA: Ocorre geralmente em homens jovens no final da terceira década de vida e em homens e mulheres na sétima e oitava década de vida. sendo que o grupo etário mais jovem costuma ter a doença de forma explosiva, com danos agudos e agressivos. FISIOPATOLOGIA: Os epítopos-alvo (estrutura antigênica que possui potencial de gerar resposta imune) para essa doença autoimune estão presentes na estrutura quaternária do domínio Alfa-3 NC1 do colágeno IV, sendo a doença anti-MBG considerada uma conformeropatia autoimune, pois envolve um distúrbio da estrutura, em que as células T restritas ao MHC iniciam uma resposta de autoanticorpos, pois os seres humanos são intolerantes aos epítopos criados nessa estrutura quaternária. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Nos casos explosivos agudos, é comum ocorrer hemoptise, queda brusca da hemoglobina, anemia ferropriva, febre, dispneia e hematúria, podendo ocorrer também oligúria, que costuma estar associada a um prognóstico desfavorável, junto dos sintomas clássicos de síndrome nefrótica (hematúria, anúria ou oligúria, edema considerável etc.). Oligúria geralmente se faz presente. DIAGNÓSTICO: Em caso de suspeita de doença anti- MBG, é necessário realizar uma biópsia renal com urgência, para confirmar o diagnóstico e determinar o prognóstico do paciente. Na biópsia é possível encontrar a presença de necrose focal ou segmentar que com a destruição agressiva dos capilares por causa da proliferação celular, pode ocorrer a formação de crescentes no espaço de Bowman, que cursa com nefrite intersticial concomitante com fibrose e atrofia tubular. Além disso, com a realização da imunofluorescência da biópsia é possível encontrar anticorpos anti-MBG e complemento. TRATAMENTO: Os pacientes com anti-MBG devem ser tratados com sessões de plasmaférese (que é tipo uma diálise em que ocorre a separação do sangue e seus componentes plasmáticos e elementos celulares) diária por 10 dias, sendo administrado também metilprednisolona (15 a 30 mg/kg por dia) de pulso seguido de prednisona oral (60 a 80 mg/dia) sendo lentamente retirada após a remissão clínica e ciclofosfamida (2 mg/kg por dia) durante 3 a 6 meses. TIPO II caracterizada por aspecto na imunofluorescência de depósito granular – LES, GNPE, endocardite, HIV, HBV e outras. PÚRPURA DE HENOCH-SCHONLEIN: Trata-se de vasculite leucocitoclástica de pequenos vasos associada ao depósito de IgA da subclasse 1 na parede dos vasos. EPIDEMIOLOGIA: É mais comum em crianças e frequentemente está associada a uma infecção desencadeante, como por estreptococos do grupo A ou a outro tipo de exposição. Há predominância no sexo masculino (2:1) FISIOPATOLOGIA: Ocorre a deposição de imunocomplexos circulantes contendo IgA e Complemento nos glomérulos renais e pele, sem alteração dos níveis séricos de complemento. Porém o agente infeccioso ou alérgeno para essa ocorrência de imunocomplexos circulantes não foi encontrado. Mas acredita-se também que a estrutura a molécula da IgA, nessa patologia, se encontra alterada na composição de resíduos de carboidratos, por conta de algum defeito genético, que leva a uma menor ligação aos receptores hepáticos, responsáveis pela retirada dessas moléculas de circulação. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Apresenta-se com púrpura palpável nos membros inferiores e nádegas, artralgias (dor na articulação) e sintomas abdominais como náusea, cólica e melena. É comum haver redução da TFG com a apresentação nefrítica. A maioria dos pacientes com hematúria microscópica e proteinúria mínima se recupera totalmente em semanas. COMPLICAÇÕES: É mais provável haver evolução para DRC progressiva e, talvez, DRET nos indivíduos com síndrome nefrótica e a presença de síndrome nefrítica e síndrome nefrótica tem o pior prognóstico para os rins. A classificação histológica das lesões em crianças também pode fornecer informações prognósticas. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico é feito de forma clínica, avaliando o paciente no exame físico. Os achados de Rash cutâneo, associado a artralgias, dor abdominal e hematúria macroscópica sugere fortemente o diagnóstico. Os exames laboratoriais podem ser úteis para exclusão de outros possíveis diagnósticos, sendo encontrado na PHS uma contagem de plaquetas e provas de coagulação habitualmente normal, com complemento sérico raramente diminuído. Além disso, é comum que o fator antinúcleo e fator reumatoide clássico deem negativos, junto com o anticorpo anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), sendo caracterizada como ANCA-negativa. Outra utilidade laboratorial é a realização da titulação de IgA sérica, que geralmente está elevada (50% dos casos), podendo ter crioglobulinas presentes. TRATAMENTO: Assim como na nefropatia por IgA, a PHS não tem um tratamento comprovado, sendo utilizado corticosteróides em altas doses por períodos curtos para o tratamento de manifestações abdominais graves. A doença rapidamente progressiva com formação de crescentes na biópsia pode ser tratada como a vasculite associada com ANCA. PROGNÓSTICO: Em geral os pacientes têm uma recuperação boa da PHS, porém aqueles que apresentam manifestações nefríticas graves e lesão glomerular, ocorre um prognóstico desfavorável a longo prazo. TIPO III não há depósito de imunocomplexos – poliangeíte microscópica, Wegener e Churg-Strauss. VASCULITES: existem 3 tipos de vasculites relacionadas com o anticorpo anca, que podem cursar com síndrome nefrítica. • Poliangeíte granulomatosa (WEGENER): caracterizada por sinusopatias, escarros hemoptoicos, infiltrados ou nódulos pulmonares e nefrite; • Poliangeíte eosinofílica (CHURG-STRAUSS): caracterizada por asma de difícil controle, eosinofilia, eosinófilos em parede de vasos, mono/polineuropatia e nefrite. • poliangeíte microscópica: caracterizada por hemorragia alveolar, mono/polineuropatia e nefrite. TRATAMENTO: baseado em pulsos de corticoides + ciclofosfamida ou pulso de corticoide + rituximab, com a manutenção com azatioprina. Nos casos de sangramento pulmonar associado com o anticorpo anti-MBG, podem se beneficiar com a plamaférese. b A amiloidose que se apesenta como síndrome nefrótica pode ser de dois tipos: • TIPO AL: associado com paraproteinemias, como o mieloma múltiplo. • TIPO AA: associado com doenças inflamatórias crônicas, como artrite reumatoide, espondiloartropatias e osteomielite. Ambos os tipos cursam com deposição de proteína a nível renal, que são percebidos na biópsia, com o teste vermelho do Congo, depósitos e fibrilas. Depósito de fibrilas e teste com vermelho do congo positivo. TRATAMENTO Baseado no tratamento da doença de base. É um exemplo da amiloidose AL, sendo um distúrbio sistêmico causado pela produção e deposição extracelular excessiva de cadeias leves de uma imunoglobulina monoclonal que não formam lâminas B-pregueadas com o depósito, sendo de natureza mais granular do que fibrilar. FISIOPATOLOGIA Os pacientes com a doença de cadeias leves apresentam, geralmente, uma doença linfoplasmocítica de células B que se assemelhaao mieloma múltiplo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A albuminúria é uma manifestação comum, sendo observada também uma síndrome nefrótica, que é acompanhada por hipertensão e insuficiência renal. DIAGNÓSTICO É realizado por meio de um exame para detectar as cadeias livres no soro, sendo medido o nível de imunoglobulinas leves Kappa e Lambda (que são cadeias leves não ligadas a imunoglobulina intacta), sendo o diagnóstico confirmado com uma biópsia renal, que é utilizada para fazer os estudos histológicos. HISTOLOGIA MICROSCOPIA ÓTICA: a maioria dos glomérulos exibe nódulos glomerulares mesangiais eosinofílicos. Em alguns casos é possível observar também uma nefropatia por cilindros de cadeias leves e cilindros laminados eosinofílicos que obstruem os túbulos, similar ao mieloma. IMUNOFLUORESCENCIA: Ocorre de uma única classe de cadeia leve de imunoglobulina (K em 80% dos casos) se corar com um padrão linear difuso ao longo da Membrana Basal Glomerular, nos nódulos e ao longo das membranas basais tubulares. TRATAMENTO O tratamento para a maioria dos pacientes é a quimioterapia, sendo semelhante ao tratamento do mieloma e transplante autólogo de células tronco hematopoiéticas. Caso o paciente não tenha oligúria, a hidratação venosa e a furosemida podem manter a taxa de fluxo urinário elevada (100 mL/hora). Além disso, a plasmaferese é recomendada diariamente por 1 semana, para reduzir de forma rápida os níveis circulantes de cadeias leves. Trata-se de uma complicação crônica da diabetes melito (DM). EPIDEMIOLOGIA Complicação que acomete cerca de 35% dos pacientes com Diabetes Mellitus tipo 1, sendo a principal causa de morte nesse grupo. Já nos pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2, a prevalência da nefropatia é variável entre 10 a 40%, sendo a doença cardiovascular a causa de morte principal. OBS: No Brasil, 26% dos pacientes realizando diálise são diabéticos. OBS: ter nefropatia diabética associada a diabetes aumenta em 100 vezes a mortalidade do paciente com diabetes tipo 1, enquanto a do tipo 2 aumenta só 5 vezes. FISIOPATOLOGIA Estudos evidenciam que os distúrbios secundários à hiperglicemia são o fator etiológico mais importante no desenvolvimento da nefropatia diabética. Isso ocorre porque a hiperglicemia leva a um aumento da geração de espécies reativas de oxigênio, uma diminuição da forma reduzida de nicotinamida dinucleotídeo (fosfato), à ativação da via do poliol e a hiperatividade da proteína quinase C (PKC), entre outros eventos que agem no desenvolvimento da nefropatia diabética, assim como as outras formas de vasculopatias diabéticas. Além disso, a alteração da hemodinâmica também se faz presente e importante no dano glomerular, pois o paciente com Diabetes Mellitus tem uma elevação da taxa de filtração glomerular, que ocorre por conta de uma vasodilatação preferencial da arteríola aferente em relação a eferente, fazendo com que aumente a pressão capilar glomerular. Com a diabetes mal controlada, o paciente passa a desenvolver uma hipertrofia glomerular, que causa um aumento na área da superfície capilar glomerular. Essa alteração da hemodinâmica intraglomerular contribui para o início ou a evolução da lesão renal diabética. Pode ocorrer ainda o auxílio de hormônios e citocinas no dano renal, que é causado em particular pelo fator de crescimento transformante beta (TGF-beta), do fator de crescimento tecidual conectivo (CTGF), da angiotensina II, do fator de crescimento endotelial vascular, e do óxido nítrico, que se fazem presente em diversas outras doenças renais não diabéticas também. ESTÁGIOS E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A nefropatia diabética apresenta uma evolução em quatro etapas: ESTÁGIO I: começa um pouco depois das manifestações de Diabetes Mellitus, onde os rins começam a sofrer hipertrofia tanto nos glomérulos quanto nos túbulos por conta do aumento de 50% no fluxo sanguíneo renal e TFG. Entretanto, mesmo com esse aumento, a macroalbuminúria ainda não é detectável, porém a microalbuminúria transitória passa a ser detectável por radioimunoensaio (RIA), por ensaio de imunoabsorção ligado à enzima (ELISA) ou com tiras reagentes especiais, principalmente quando ocorre estresse, esforço físico, doença concomitante ou controle precário da glicemia. OBS: a hipertensão é geralmente ausente nos estágios iniciais do diabetes tipo 1, mas pode ser presente no diabetes tipo 2. ESTÁGIO II: Cerca de 30% dos pacientes com Diabetes Mellitus tipo 1 evoluem para o estágio II, onde é caracterizado por uma microalbuminúria fixa de pelo menos 30 mg por dia. Mesmo com a TFG elevada ou dentro da faixa normal, a histologia renal já se mostra anormal, tendo manifestação visível do espessamento das membranas basais glomerular e tubular, além de uma expansão da matriz mesangial. ESTÁGIO III: Ocorre geralmente nos pacientes que tem microalbuminúria fixa por cinco a sete anos. Sendo que nesse estágio também se faz presente a proteinúria (com mais de 500 mg de proteína total por dia) e macroalbuminúria (maior de 200 mg por dia) que é possível detectar em teste rotineiro de fita para proteína urinária. Além disso, nesse estágio ocorre a presença de hipertensão em ambos os tipos de diabetes, sendo agravada na do tipo 2. OBS: a biópsia renal desse estágio revela a presença de glomeruloesclerose difusa ou nodular. Além disso ocorre também a presença de hialinose arteriolar (deposição de material proteico de aspecto hialino entre o endotélio e a camada média.), tanto aferente quanto eferente. OBS: Caso a TFG tenha continuado normal no paciente em outros estágios, no estágio III passa a ocorrer o declínio dela, porém os níveis séricos de creatinina podem continuar normais. ESTÁGIO IV: também chamado de nefropatia diabética avançada, é caracterizado por um declínio progressivo da função renal, que evolui para doença renal terminal, com proteinúria superior a 3,5g por dia e hipertensão arterial sistêmica, porém sem evidências de lesão glomerular inflamatória ou tubulointersticial. Além dos estágios e suas manifestações, outras manifestações renais podem estar presentes na patologia, como: acidose tubular renal do tipo IV, caracterizada por uma hiporreninemia e uma hipoaldosteronismo associada com hipercalemia. OBS: Os pacientes com diabetes têm uma maior incidência de infecções por bactérias e fungos na região geniturinário, além de um maior risco de sofrer abscessos intrarrenais e perinefréticos. TRATAMENTO É dividido conforme o estágio da doença. ESTÁGIO I: rígido controle glicêmico e pressórico (com inibidores de ECA ou BRA caso necessário) é o suficiente para evitar progressão da doença. ESTÁGIO II: O rígido controle glicêmico não previne a macroalbuminúria, porém ajuda a prevenir outras complicações microvasculares como retinopatia e neuropatia periférica. Além disso é necessário fazer administração de IECA ou BRA para controle pressórico. É necessário interrupção do tabagismo caso seja fumante e realização de exercícios para redução de peso. Além disso é recomendado exame oftalmológico anual. ESTÁGIO III: os inibidores da ECA ou BRA são obrigatórios, além disso é feito a restrição dietética de proteína (0,8g/kg corpóreo ideal para a pessoa por dia), além da administração de hipolipemiantes. ESTÁGIO IV: É realizado o tratamento das manifestações da síndrome nefrótica e da insuficiência renal crônica. Além disso é realizado um transplante renal caso possível e enquanto não é realizado o transplante, o paciente deve fazer terapias de substituição renal (diálise e plasmaferese). OBS: quando é administrado IECA ou BRA nos pacientes, é necessário fazer o controle rigoroso da pressão arterial, e dos níveis de potássio e creatinina sérica na primeira semana, pois ocorrerisco de acidose tubular renal do tipo IV. PROGNÓSTICO Em geral, pacientes com nefropatia diabética tem uma sobrevida média de apenas 26 meses. LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO O diagnóstico de LES é definido pelo preenchimento de pelo menos 4 de 11 critérios clínicos e laboratoriais, sendo eles: • Rash malar • Rash discoide • Fotossensibilidade • Úlceras da mucosa oral • Artrite não-deformante • Serosite, pleurite e/ou pericardite • Doença renal (proteinúria persistente. Cilindrúria) • Envolvimento do sistema nervoso central • Alterações hematológicas • Alterações imunológicas: células LE, anti- DNA, anti-Sm, VDRL falso-positivo • Fator antinúcleo positivo NEFRITE LUPICA A nefropatia lúpica é uma manifestação e complicação comum e grave do lúpus eritematoso sistêmico, que cursa com síndrome nefrítica e geralmente está associado com outras manifestações clínicas do LES. EPIDEMIOLOGIA Grave em adolescentes negras. FISIOPATOLOGIA Resulta de uma deposição crônica, causada por fatores de tamanho e carga elétrica, de imunocomplexos DNA-anti-DNA, formadas pela hiperatividade dos linfócitos B, circulantes no mesângio glomerular que ativam a cascata do complemento, levando a uma lesão glomerular mediada pelo complemento, pela infiltração de leucócitos, ativação de fatores pró-coagulantes e liberação de várias citocinas. Além disso, ocorre também a formação de imunocomplexos in situ após a ligação glomerular dos antígenos nucleares, particularmente do nucleossomos necróticos, desempenhando também um papel na lesão renal. CLASSIFICAÇÃO A classificação da nefrite lúpica é dividida em seis tipos, são eles: • Tipo I: mesangial primária • Tipo II: mesangial difusa • Tipo III: glomerulonefrite proliferativa focal • Tipo IV: glomerulonefrite proliferativa difusa • Tipo V: glomerulonefrite membranosa • Tipo VI: glomerulonefrite esclerosante. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações dependem muito da gravidade e da natureza das lesões histológicas, sendo que de modo geral o sinal clínico mais comum na doença renal é a proteinúria, porém pode ser observado também casos de hematúria, hipertensão, graus variáveis de disfunção renal e sedimento urinário ativo com cilindros hemáticos, podendo ter algum dos sinais mais visíveis em classes específicas, como por exemplo a hematúria e cilindros hemáticos, que são mais visíveis do tipo III em diante. ACHADOS LABORATORIAS Há consumo de complemento bem evidente, principalmente de C3 e C4 e pode assumir a forma rapidamente progressiva. é comum ser encontrado uma velocidade de hemossedimentação anormal, proteína C reativa elevada, autoanticorpos, imunocomplexos e várias citocinas. Pode ser usado também o exame laboratorial para investigação de títulos de anti-DNA para confirmação do lúpus, porém a biópsia é a única forma de confirmar a classe. Os testes laboratoriais com maior valor preditivo são os níveis séricos do complemento total (CH50), da fração C3 e dos títulos anti-DNA. DIAGNÓSTICO Embora possa ser usado anamnese e história clínica para identificar o lúpus, na doença nefrítica lúpica a biópsia renal é o método mais confiável para diagnóstico de doença renal, pois a nefrite lúpica possui uma série de variantes morfológicas, que só podem ser visualizadas através de microscopia. TIPO I: é observada uma histologia glomerular normal na microscopia óptica, tendo depósitos mesangiais mínimos que podem ser visto por imunofluorescência. TIPO II: É possível encontrar imunocomplexos mesangiais com proliferação (hipercelularidade) mesangial difusa, sendo restrito a esse local. OBS: Pacientes classe I e II têm manifestações renais mínimas e função renal normal geralmente, o que faz com que não seja necessário realizar a terapia para nefrite lúpica. TIPO III: Ocorre lesões focais com proliferação ou formação de cicatriz, sendo frequentemente em apenas um segmento do glomérulo. (segmentar e focal). Presença de lesões ativas necrotizantes e/ou esclerosantes. TIPO IV: Descreve lesões proliferativas necrotizantes e esclerosantes globais e difusas que envolvem a maioria dos glomérulos. TIPO V: É causada por imunodepósitos subepiteliais que produzem um padrão membranoso proliferativo. OBS: As classes III a V ocorrem de forma agressiva, sendo enquadradas como doença renal aguda. TIPO VI: O paciente é classificado como classe VI quando mais de 90% dos seus glomérulos estão esclerosados, com DRET com fibrose intersticial. TRATAMENTO O tratamento é dependente da gravidade e da classificação. Pacientes até o tipo II não necessitam de tratamento específico para a nefropatia, apenas de suporte terapêutico direcionado para as manifestações extra- renais do lúpus. Pacientes classe III e IV devem ser considerados em conjunto, sendo tratados de forma mais agressiva, com corticoides em doses elevadas (1 g ao dia de metilprednisolona endovenosa por três dias, seguido de 60 a 80 mg de prednisona durante seis a oito semanas) e drogas citostáticas (ciclofosfamida com dose de 0,75 g por m2 de superfície corpórea, sob forma de pulsos mensais e trimestrais durante 18 a 24 meses, seguida de ciclofosfamida na fase de indução por 3 a 6 meses) a longo prazo. Pacientes na classe V, não precisam de terapia imunossupressora agressiva, sendo usado prednisona em doses de 0,5 a 1 mg/kg por dia durante oito semanas, tendo retirada gradual de 20 mg a cada dois meses. No geral, o tratamento se baseia em: tratamento de indução (imunossupressão maior) e tratamento de manutenção (uma imunossupressão menor para controle da doença). • INDUÇÃO: corticoide + ciclofosfamida. • MANUTENÇÃO: corticoide (baixa dose) + micofenolato ou hidroxicloroquina. PROGNOSTICO Varia conforme a classificação do paciente, sendo que os piores prognósticos são os de doença glomerulonefrite proliferativa, ou seja, as do tipo III e IV. A insuficiência renal associada ao HIV ocorre por conta da nefrotoxicidade do tratamento para o HIV e das alterações hemodinâmicas e eletrolíticas que são muito frequentes nos pacientes com AIDS. EPIDEMIOLOGIA Atualmente a nefropatia associada ao HIV é a forma mais comum de doença renal crônica nos pacientes HIV-positivos, sendo comum principalmente na população negra entre os 20 a 64 anos. FISIOPATOLOGIA Ocorre por conta de uma lesão glomerular de forma esclerótica segmentar e focal, que geralmente se associa a uma síndrome nefrótica com perda progressiva da função renal. Essa lesão nefropatica do HIV decorre de uma desregulação na interação entre o vírus e o hospedeiro, tendo como consequências a infecção direta de células mesangiais e epiteliais, que exercem o efeito citopático e estimulam a expressão de citocinas e fatores de crescimento, proporcionando a produção da matriz e da esclerose mesangial. OBS: As glomerulonefrites proliferativas por imunocomplexos também pode ser associada ao HIV. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Independente da forma, seja ela proliferativa ou glomeruloesclerotica, as manifestações são semelhantes. O paciente geralmente se apresenta com um déficit da função renal, tendo uma síndrome nefrótica já instalada (Edema e proteinúria maciça), que pode ter ocorrido de forma abrupta ou insidiosa, porém ser presença constante. OBS: Os casos com hematúria microscópica e proteinúria não-nefrótica, com ou sem insuficiência renal são mais raros. Além disso, raramente ocorre de o paciente ter hipertensão arterial ocasionada pelo dano renal, mesmo com progressão para uremia. ACHADOS LABORATORIAIS Laboratorialmente os níveis séricos do complemento e de suas frações são normais, e as imunoglobulinas podem estar aumentadas. OBS: exames de imagem como ultrassom não são específicos, mostrando rins hiperecogênicos em estado nefrótico.HISTOLOGIA Na imunofluorescência é possível encontrar deposição sedimentar de IgM e C3 em mesângio e alça capilar. As imunoglobulinas e albumina podem ser vistas nos cilindros, espaço de Bowman e nos vacúolos citoplasmáticos das células epiteliais. DIAGNÓSTICO É feito com base na anamnese e na história clínica do paciente, sendo confirmado com uma biópsia renal. Com a histologia da biópsia renal é possível encontrar três tipos de lesões: 1. GLOMERULOESCLEROSE FOCAL, NA FORMA COLAPSANTE. • Que tem uma acentuada hipertrofia das células epiteliais e endoteliais do glomérulo, com formação de uma “coroa” podocitária. • Dilatação microcística dos túbulos, com presença de cilindros proteicos, degeneração celular com necrose • Alterações túbulo-intersticiais severas, sendo que ocorrem sem relação com o grau da glomeruloesclerose, com infiltrado de linfócitos CD8, monócitos e linfócitos B. 2. GLOMERULONEFRITES PROLIFERATIVAS, MEDIADAS POR IMUNOCOMPLEXOS. 3. NEFROPATIA TÚBULO-INTERSTICIAL, FREQUENTEMENTE RELACIONADA COM ENVOLVIMENTO GLOMERULAR. TRATAMENTO O tratamento é baseado no uso de inibidores de ECA em doses suficientes para atingir a PAS de 120 mmHg ou menor, sendo associada a uma terapia antirretroviral eficiente e altamente ativa, para diminuir a progressão da insuficiência renal e diminuir a proteinúria. Em alguns casos o corticosteroide (1 mg/kg de prednisona por 1 mês seguido do desmame) pode ser benéfico.
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