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HISTÓRICO Descrita inicialmente como uma síndrome pulmão- rim, em 1919 por Ernest Goodpasture o epônimo foi primeiramente utilizado por Stanton e Tange em 1958. A presença de autoanticorpos apresentando depósito linear foi demonstrada nos anos 60. Prevalência na população branca, com maior frequencia aos 30 e aos 60 anos. Grande parte dos pacientes apresenta combinação de glomerulonefrite rapidamente progressiva e hemorragia alveolar. 40 a 40% dos casos podem exibir acometimento renal. O acometimento renal é mais comum em homens jovens, manifesta-se clinicamente por dispneia e tosse, com ou sem hemoptise. A síndrome de Goodpasture é uma patologia mediada pelo sistema imunológico, na qual autoanticorpos contra a cadeia ∝3 do colágeno tipo IV se ligam à membrana basal, alveolar e glomerular, causando glomerulonefrite progressiva e hemorragia pulmonar. • Exposição a hidrocarbonetos • Inalação de ácido oxálico • Infecção – influenza • Solventes • cigarro Afetam rins e pulmões, onde produzem uma glomerulonefrite rapidamente progressiva e, devido a uma reação cruzada dos anticorpos anti- MGB com a membrana dos alvéolos pulmonares, também há uma hemorragia pulmonar difusa. QUADRO CLÍNICO: hemorragia pulmonar associada a uma insuficiência renal. No rim, os anticorpos se ligam à membrana basal, ativam a cascata do complemento e de proteases, tal ativação provoca ruptura da barreira glomerular e da cápsula de Bowman, causando proteinúria, hematúria. Linfócitos T CD4 e CD8+, macrófagos e neutrófilos participam da agressão produzindo, entre outros, interleucina 12 e IFN gama. A. cadeias individuais α3, α4, α5 do colágeno tipo IV com domínios não colagenosos C (NC1) terminal globular (encontrado em maior concentração nas membranas basais dos capilares renais e pulmonares); B. ocorre a trimerização. C. Formam estruturas hexamericas NC1 com pontes dissulfeto dentro do qual os epítopos patogênicos EA e EB na cadeia α3 são sequestrados D. A ruptura das ligações dissulfeto e a dissociação do hexâmetro. (causada por insultos inflamatórios ou químicos) resulta na exposição desses epítopos, E. indivíduos geneticamente suscetíveis. F. resposta anti-GBM fulminante se desenvolva. G. com efetores humorais e celulares contribuindo para lesão renal e pulmonar. RESPOSTA IMUNE Essa resposta é mediada por anticorpos, mas não se sabe como esses autoanticorpos foram ativados. Todos os pacientes com a doença típica anti-MBG, possuem anticorpos reativos a α3 e uma porção reativa a α4 e α5, que possivelmente surgem secundariamente a um processo de propagação do epítopo. 2 epítopos chaves são reconhecidos dentro da cadeia α3, chamados EA e EB em referência aos aminoácidos que o compõe. O anticorpo anti-MBG é um tipo de IgG, mas IgA e IgM também podem ser encontrados. O tipo mais comum de anticorpo circulante e presentes no rim pertencem a IgG1 e IgG3 (IgG3 se relaciona com infiltração de células inflamatórias e ao dano renal). Em consequência, IgG1 e IgG3 possuem um papel importante no início da progressão da doença. Além disso, IgG e IgM, uma vez unidos ao epítopo que se encontra no rim, podem iniciar uma resposta inflamatória local através do mecanismo dependente do complemento. VIA CLÁSSICA DO COMPLEMENTO Ao unir IgG ao epítopo, seja EA ou EB, são reconhecidos pela proteína C1. Ela, por sua vez, ligada nos anticorpos, foi ativada e, posteriormente, ativou a proteína C4, e assim em diante de acordo com a ideia de “ativação em cascata”. Quando a proteína é clivada/ ativada, ela vai se dividir em duas partes “a” e “b”. A parte maior da divisão é seguida do “b” e a parte menor do “a”. C1 > C4 > C2 > C3 > C5 > C6 > C7 > C8 > C9 Complexo C4b + Complexo C2b = C3-convertase (os dois fragmentos juntos produzem uma atividade enzimática responsável pela ativação de C3). Complexo C4b + Complexo C2b + Complexo C3b = C5-convertase (os três fragmentos juntos produzem uma atividade enzimática responsável pela ativação do C5). Depois da ativação de todas as proteínas (C6, C7, C8, C9), forma-se a estrutura MAC (complexo de ataque a membrana), uma espécie de “poro” na membrana dessa bactéria. Esses ataques, na síndrome de goodpasture, fazem dano ao glomérulo e perfurações no tecido pulmonar (causa hemorragia). O complexo de ataque à membrana une-se para produzir um poro na bicamada lipídica da membrana. CSb ativa a montagem de um complexo de uma molécula de C6, C7 e ca, nessa ordem. C7 e ca sofrem alterações conformacionais que expõem os domínios hidrofóbicos que se inserem na membrana. Esse complexo, por si, causa uma lesão moderada na membrana e, também, serve para induzir a polimerização de C9, novamente com a exposição de um sítio hidrofóbico. Até 16 moléculas de C9 são, então, adicionadas à montagem para formar um canal de 100 A de diâmetro na membrana. Esse canal rompe a membrana celular bacteriana, matando a bactéria. As micrografias eletrônicas mostram membranas de eritrócitos com complexos de ataque à membrana em duas orientações - transversal e lateral. HIPERSENSIBILIDADE TIPO II A doença de goodpasture é uma reação de hipersensibilidade do tipo II ou citotóxica. Essas reações são mediadas por anticorpos. Os anticorpos são da classe IgG ou IgM, que se ligam à superfície celular ou à matriz extracelular (membrana basal). Como consequência dessa ligação, a célula-alvo é danificada ou destruída. Os mecanismos que levam à destruição da célula- alvo são os seguintes: REAÇÕES QUE ENVOLVEM A PARTICIPAÇÃO DO SISTEMA COMPLEMENTO: A ligação dos anticorpos à superfície celular pode levar à ativação do Sistema Complemento. Como consequência da ativação da cascata do complemento, observa-se a lise da célula-alvo ou a opsonização, ou seja, a fagocitose facilitada, mediada por receptores para a porção Fc ou para o componente C3b, que leva à destruição das células-alvo por macrófagos e neutrófilos. CITOTOXICIDADE DEPENDENTE DE ANTICORPOS As células-alvo recobertas por anticorpos são lisadas pela ação de células citotóxicas dependentes de anticorpos (ADCC, do inglês, Antibody-dependent Cell-mediated Cytolysis, que significa citólise mediada por célula, dependente de anticorpo) que possuem na superfície de membrana receptores para porção Fc de IgG. DISFUNÇÃO CELULAR MEDIADA POR ANTICORPOS a produção de anticorpos específicos para receptores pode levar à perda funcional normal desses receptores. Como exemplo, citamos os autoanticorpos produzidos contra os receptores de acetilcolina presentes nas sinapses das placas motoras dos músculos esqueléticos. Esses autoanticorpos, ao se ligarem aos receptores de acetilcolina, impedem a ligação da acetilcolina nesses receptores, interferem na atividade funcional desses receptores e provocam fraqueza muscular. As reações de hipersensibilidade tipo II se verificam nas seguintes situações: • incompatibilidade do sistema ABO evRh • reações autoimunes: Esta situação se verifica quando há a produção de autoanticorpos contra componentes do próprio organismo. A ligação desses autoanticorpos aos componentes próprios pode levar à sua destruição. Em condições normais, o endotélio alveolar é uma barreira para os anticorpos anti-MBG. Em condições patológicas, há sintomas como hemoptise, causada pelos anticorpos anti-MBG, que produzem um infiltrado na parede alveolar de origem neutrofílico, com dano na microvasculatura, principalmente de capilares e vênulas. Além disso, a lesão renal ocorre diretamente pela interação do antígeno anticorpo com mediadores secundários que infligem danos adicionais. Quando ativam o complemento e as proteases, se interrompem tanto a filtração como a cápsulade Bowman, causando proteinúria e crescentes glomerulares. Os leucócitos junto com o epitélio renal intrínseco induzem a migração de macrófagos e neutrófilos para o rim, para reação inflamatória inicial no glomérulo, que produz proteinúria com uma cascata de consequências para o epitélio tubular. Devido ao dano glomerular ocasionado pela inflamação e ativação da via clássica do complemento, há níveis altos de creatinina e ureia. • anticorpo antimembrana basal glomerular (positiva em 90% dos casos) • complemento normal • definitivo: biopsia! Costuma progredir rapidamente e pode ser fatal se houver atraso no reconhecimento e tratamento imediatos. O prognóstico é bom quando o tratamento começa antes do início da insuficiência respiratória ou renal. A taxa de morbidade a longo prazo está relacionada com o grau de insuficiência renal no momento do diagnóstico. Pacientes que exigem diálise imediata e aqueles com > 50% de crescentes na biópsia (que muitas vezes exigirão diálise) geralmente tem sobrevida < 2 anos, a menos que seja realizado transplante renal. PLASMAFERESE: terapia que envolve a remoção do plasma, que é substituído por albumina do soro normal ou por plasma. Paciente pode realizar a plasmaferise de 3L a cada 48h por 2 a 3 semanas ou até melhorar o quadro clínico. Tem por objetivo reduzir a quantidade de anticorpos anti-MBG. Pode ser associado a imunossupressores que minimizam a formação de novos anticorpos. PREDINISONA: pode reduzir a inflamação ao reverter o aumento da permeabilidade capilar e suprimir a atividade de neutrófilos. CICLOFOSFAMIDA: agente citotóxico que interfere com uma resposta inflamatória.
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