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Sociologia da saúde e da doença Prof. Maria Lurdes Teixeira Tenta abordar as respostas que existem das necessidades de saúde Diversidade das formas de tratamento - não existe uma única, claro que vamos integrar na reposta dominante que é para todas as pessoas, que é central nos cuidados de saúde, mas existem outras formas de tratar a doença em Portugal Cuidado holístico → eu tenho que saber o que o doente/utente está a consumir em simultâneo. Muitas vezes à consumos simultâneos de outras formas de tratamento, que não são reveladas aos profissionais de saúde (profissionais convencionais de saúde convencional – aquela que associados ao SNS ou ao setor de privado) porque existe uma falta de confiança, existe uma vergonha que tenta esconder/ocultar. Quando o cidadão adoece ou mesmo quando não adoece, onde pode recorrer? Quais os setores de tratamento que existem em Portugal? Existem 4 setores que todos eles concorrem para serviços e formas de tratamento. Aqui enquadramos as profissões convencionais de saúde Cuidados Informais Tem se falado muito desta área, mas sociologicamente é importante analisá-la, porque ele tem sofrido algumas alterações, por que está sustentado sobretudo na família. o que acontece na família contemporânea - têm sofrido grandes alterações, então está aqui numa dialítica e onde por um lado a necessidade de continuar a prestar cuidados cada vez mais, até porque nós temos uma demografia (número de idosos cada vez ↑) que vai necessitar cada vez mais de cuidados, mas por outro lado fruto das alterações que vêm sofrendo, retiram tempo de disponibilidade para poder prestar esses cuidados. A família continua a ser o principal prestador de cuidados informais na verdade, mas tem vindo em consequência das alterações que vem a sofrer, tem vindo a ver o seu papel cada vez mais reduzido/cada vez mais retraído. no entanto continua a ser o principal setor de apoio dos cuidados informais. Redes de solidariedade informal → grupos de solidariedade, associações que têm um papel fundamental - papel muito importante na sociedade portuguesa que intervém nesta área. estas redes surgem por iniciativa dos cidadãos e que prestam apoio às pessoas doentes levando respostas. Automedicação → surgimento das sociedades modernas, não era assim no passado. a pessoa decidir o que vai ou não vai tomar. Resulta da medida da grande diversidade de fármacos sem prescrição médica ou clínica que leva a democratização da informação → Que é um fenómeno crescente com todos os seus respeitos (?) menos positivos que é ausência de vigilância de controlo clínico dessa mesma medicalização Medicamentalização→ a recurso fácil e frequente ao uso do medicamento para aliviar tudo e qualquer sintoma de doença ou mesmo com o intuito exclusivo de promover o bem-estar - exemplo suplementação. transversal a todos os setores → é importante que informar a gente tenha conhecimento de todos e estes aspetos para o cuidado Holístico e para ser mais eficaz e mais produtivo na sua intervenção. é fundamental que a enfermagem saiba como é a estrutura familiar - se presta ou não presta apoio, se há ou não há necessidade de acionar outros mecanismos de resposta, se há ou não há redes de solidariedade e se há ou não há alguma automedicação automedicação tende a ser ocultada dos profissionais Saberes e formas de tratamento populares Existem á muito tempo na nossa história, existe em todas as sociedades. A sociedade portuguesa é muito produtiva nas formas de tratamento. São mesmo saberes e formas de tratamento populares às quais se imputa o poder de cura/tratamento e que são transmitidas de geração em geração – é uma panóplia de saberes/formas de tratamento e que inclui tudo isto (o que está na imagem) e mais alguma coisa. Aos quais as repostas são constituídas por formas terapêuticas. Não confundir “saberes e formas de tratamento populares” (populares→ queremos dizer que não estão institualizadas; são formas culturais; são transmitidas de geração em geração) com a “medicina complementar” → tem origens completamente distintas e tem origens diferentes e tem modelos diferentes. Existe uma grande variedade destes produtos → Não existe um padrão único de tratamento num país inteiro. Muitas vezes também é ocultado dos profissionais de saúde. Portanto é uma falta de necessidade de vigilância destes consumos informais. Medicina alternativa/complementar Tem um conjunto muito basto de áreas que intervém nesta área. É um setor em crescimento Este setor pode ser consumido em simultâneo Vamos ter dificuldade em definir o que é ou não é medicina complementar - Foram recentemente legalizadas Interesse sociológico está nisto por um lado os elementos e por outro lado um fenómeno com um vasto conjunto de pessoas - fenómeno social que surgiu na década 80 e que continua até aos dias de hoje - um aumento constante do número utilizadores que recorrem a estas terapêuticas - este aumento constante bem ocorrendo com alguma confusão e alguma falta de definição por parte da tutela relativamente à formação e ao excesso profissional. Para aconselhar os diversos Estados a produzirem legislação. estas terapêuticas que existem em Portugal e que existem em todos os países da Europa, no entanto os Estados nem sempre as regulam, nem sempre as têm legalizadas e, portanto, há aqui um problema social e sociológico que é - os tratamentos existem os terapêuticos insistem, mas não existe uma regulação estatal sobre esses tratamentos. e então os cidadãos podem estar a utilizar tratamentos que são efetivos e que são eficazes no tratamento e na cura da doença, ou não porque não existe essa regulação. A OMS veio tomar esta posição de alertar os Estados para esta necessidade de regular, legislar este setor. e para isso diferencia aqui então alguns conceitos. medicina tradicional é aquilo que corresponde aos nossos saberes populares de tratamento de doença. Portanto, se repararmos no mundo existem diferentes sistemas o tratamento de doença e alguns deles, sobretudo no Oriente são baseados é medicina tradicional. estas formas de tratamento de base Naturológica devem assumir a designação de medicina tradicional nos países onde elas são originárias. no caso da sociedade portuguesa, elas não são originárias da nossa sociedade. o que é originário são os tais saberes populares de tratamento, porque vem do povo que são transmitidos de geração em geração informalmente. As terapêuticas da base naturológica podem e devem assumir esta designação que é medicina complementar ou medicina alternativa. Portanto, a partir de agora vamos utilizar designação de medicina complementar ou medicina alternativa para designar todos os princípios de base naturológico que proveem da natureza, seja que não ocorrem ao tratamento farmacológico nem a qualquer tipo de produto de origem industrial, de origem química. E isto frisando as orientações da OMS. É o que passa no nosso país não estão completamente integradas no sistema de saúde português, não estão integradas no SNS e configuram um setor paralelo à medicina convencional. Elas existem com a medicina convencional, com a Biomedicina, a medicina alopática, medicina ortodoxa que mais não são as práticas baseadas na evidência científica. na evidência científica é uma grande questão por que a medicina alternativa vem dizer também tem evidência científica suficiente para que as suas práticas sejam reconhecidas. mas a verdade é que ainda não há um consenso que em termos dos investigadores e do governo e também das ordens profissionais da medicina convencional, nomeadamente a ordem dos enfermeiros e na ordem dos médicos →Não há uma tomada de decisão que favoreça a medicina alternativa no sistema convencional de saúde em Portugal. Acupuntura, medicina tradicional chinesa Reiki - múltiplas abordagens em termosde terapêutica incluída neste setor, mas todas elas têm estes 2 princípios - os naturais e a abordagem holística. a abordagem holística vai corresponder a larga medida àquilo que é uma matriz de formação de enfermagem. São terapeutas que se centrão no doente/utente/pessoa que tem também processos de cura e de tratamento mais longo, precisamente porque não acorrem aos medicamentos farmacológicos, e que tem uma vertente muito acentuada da relação paciente-profissional. Estas terapias de medicina alternativa tem vindo a aumentar e a uma maior procura crescente para estas terapias pelos portugueses. A medicina alternativa começa a surgir em Portugal na década de 80 e muito rapidamente se verifica recurso/preferência dos cidadãos para este setor de tratamento. Elas permanecem não legalizadas pelo Estado português até 2013. Na verdade, tivemos um decreto-lei em 2003 que eu pretendia precisamente legalizar para depois regulamentar este setor - o que aconteceu e onde 2003 a 2013 - nada o estado português não fez nada. Passam 10 anos o estado português fui obrigado legislar pelo terminal europeu. Então a partir dessa altura houve de facto legislação. O facto de estarem regulamentadas, não quero dizer que do ponto de vista social estejam reconhecidas pela sociedade Em 2003 o estado português não legislou a medicina alternativa, apenas legalizou, na altura, 5 áreas de tratamento, Mas depois não regulamentou - criamos um vazio legal até 2013. em 2013 é precisamente quando a OMS considera absolutamente fundamental com os Estados se pronunciem, aqueles que ainda não tinham feito. Em Portugal legalizámos, regulamentámos, mas ainda não integramos Esta lei é extensa, basta, que vem regulamentar e também definir quais as áreas que estão legalizadas e as que não são legalizadas. Esta lei vem também reconhecer a autonomia técnica e deontológica, ou seja, o grau de licenciado, portanto que as pessoas adquirem a sua autonomia de exercício profissional e de decisão quer a nível técnico quer a nível dos requisitos deontológicos para o exercício dessa profissão De uma forma muito resumida É um quadro social que continua a utilizar estas terapêuticas não convencionais, até cada vez mais – temos esse número de pessoas que recorre. O consumo das terapêuticas da medicina alternativa tendo a ocorrer em simultâneo com o consumo da medicina convencional, ou seja, estou a fazer um ciclo de consultas de fisioterapia e ao mesmo tempo vou às consultas de osteopatia. Há um consumo simultâneo das 2 partes/setores. Salientar- a enfermagem deve procurar sempre isto, tomar conhecimento sobre isto - saber se os meus doentes estão a consumir a estas medicinas alternativas e fazer uma avaliação, pois estas podem estar a fazer bem, mas também podem estar a fazer mal Os doentes utilizam estes recursos todos em simultâneo - a tendência é quando temos uma doença grave ou uma doença crónica porque não encontro uma resposta imediata, é procurar uma panóplia significativa da forma de tratamento Porque recorrem os doentes à Medicina Alternativa? As pessoas procuram a medicina alternativa porque a medicina convencional não foi eficaz - não tiveram como resultado o que desejava Procuram pelo biológico, natural, puro - Medicina alternativa O descontentamento bem do tratamento da doença e não do doente, e, portanto, as pessoas estão insatisfeitas. Recomendação pelos vizinhos, por exemplo Como podemos observar, elas concorrem lado a lado com medicina convencional, e apresentam- se muitas vezes como alternativa - a sociologia continua a designá-las como alternativa ou como consumo simultâneo e em paralelo. Em alguns grupos sociais são mesmo utilizadas exclusivamente A medicina alternativa não é barata, portanto não é uma razão para ser utilizada pela maioria dos portugueses, não é comparticipada pelo Ministério da Saúde, e não é utilizada maioritariamente pelas pessoas mais carenciadas. É utilizada maioritariamente pelos grupos privilegiados -são as pessoas mais escolarizadas com maior suporte económico. Medicina convencional Medicina convencional é o quarto setor da resposta às necessidades de saúde Da medicina convencional nós temos 2 grandes vetores que é: • o sistema de saúde → Incorpora todas as unidades de saúde existentes em Portugal – públicas, privadas e de solidariedade social → todos os recursos que existem da medicina convencional • o serviço nacional de saúde → incorpora as necessidades públicas de saúde → são as respostas públicas da saúde que existem em Portugal O sistema de saúde representa a totalidade das respostas em saúde, cerca de 20% estão no setor privado da saúde O serviço nacional de saúde existe em Portugal desde 1979. O SNS é uma “marca” complexa, não é fácil, tem muitas áreas e assenta nestes 3 vetores Cuidados hospitalares que depois estão organizados em centros hospitalares – hospitais Cuidados de saúde primários – Agrupamento de centros de saúde cuidados de saúde continuados - rede nacional de cuidados continuados integrados esta é a base do serviço nacional de saúde Entre estes 3 espectadores deve haver uma interligação permanente Um dos maiores problemas do serviço nacional de saúde é • modelos de gestão • ausência da interarticulação e entre os vetores Na maioria dos casos o hospital trabalho isolado/separado - sem articulação com os cuidados de saúde primários e sem os cuidados continuados, e assim sucessivamente. O hospital está na retaguarda, ou seja, o primeiro ponto de contato do utente português, deve ser, no caso de não haver doença aguda, cuidados de saúde primários O cuidado primário intervém ao longo de todo o processo de tratamento. Aos cuidados hospitalares está atribuído a função de tratar a doença aguda e grave, urgente e emergente. Aos cuidados continuados está atribuído a continuidade dos cuidados e a reabilitação da pessoa. O que se verifica na prática é que o serviço continua profundamente biomédico, contrariamente àquilo que é a formação em enfermagem – vemos muito a bioenfermagem nos cuidados hospitalares E ao invés das pessoas recorrerem aos serviços de saúde primários e os cuidados de saúde primários serem a linha da frente da entrada do cidadão ao SNS, são os cuidados hospitalares - por isso dizemos que o SNS é profundamente Hospitalcêntrico. Quando fazemos uma caracterização sociológica do SNS apontamos 2 características • Biomédico →centra-se no tratamento da doença • Hospitalcêntrico → a estrutura de cuidados ao contrário do que está previsto nas políticas da saúde está centrada nos cuidados hospitalares, Em teoria, nós temos no centro do SNS nos cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares como resposta de retaguarda. Na prática/prática profissional/na realidade concreta à uma inversão destas posições e não só profissionais têm preferência pelos serviços hospitalares, vem como cidadãos também têm preferência pelos serviços hospitalares. →o que contraria aquilo que está preconizado pelas políticas de saúde não só nacionais bem como as da OMS.
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