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Objetivos 1. Identificar etiologia e os fatores de risco do impetigo 2. Compreender a fisiopatologia do impetigo e sua relação com a glomerulonefrite aguda 3. Discorrer sobre as manifestações clinicas, as complicações e o contagio do impetigo 4. Descrever o diagnóstico e as condutas terapêuticas do impetigo Definição É uma infecção superficial da pele causada por Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes ou por ambos, levando à formação de úlceras crostosas e amareladas e, por vezes, de pequenas vesículas cheias de um líquido amarelo. O ectima é uma forma de impetigo que provoca lesões profundas sob a pele. O impetigo é comum e afeta principalmente as crianças. Pode surgir em qualquer parte do corpo, embora seja mais comum na face, nos braços e nas pernas. Uma forma de impetigo causa bolhas (impetigo bolhoso) que variam de tamanho e podem durar dias ou semanas. Afeta, muitas vezes, a pele saudável, mas também pode se desenvolver após uma lesão ou uma doença que provoque alteração na pele, como infecção micótica, queimadura solar ou picada de inseto. Condições higiênicas ruins e ambientes úmidos também são fatores de risco. Epidemiologia O impetigo é a infecção bacteriana da pele mais comum em crianças de dois a cinco anos de idade. Existem dois tipos principais: não bolhosos (70% dos casos) e bolhosos (30% dos casos). Nos Estados Unidos, mais de 11 milhões de infecções de pele e tecidos moles são causadas por S. aureus anualmente. Pessoas de qualquer idade podem ser afetadas. Um terço das infecções de pele e tecidos moles em viajantes que retornam são atribuíveis ao impetigo, geralmente secundário a picadas de mosquitos infectados. O impetigo não bolhoso, ou impetigo contagiosa, é causado por Staphylococcus aureus ou Streptococcus pyogenes e é caracterizado por crostas cor de mel na face e nas extremidades. O impetigo afeta principalmente a pele ou, secundariamente, infecta picadas de insetos, eczema ou lesões herpéticas. Impetigo bolhoso, que é causado exclusivamente por S. aureus, resulta em bolhas grandes e flácidas e tem maior probabilidade de afetar áreas intertriginosas. Ambos os tipos geralmente remitem dentro de duas a três semanas sem cicatrizes, e as complicações são raras, sendo a mais grave a glomerulonefrite pós- estreptocócica. O impetigo é uma infecção bacteriana comum da pele causada por Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes beta-hemolítico do grupo A, uma combinação das duas, ou menos comumente, bactérias anaeróbias. Etiologia Muitas bactérias habitam a pele saudável. Alguns tipos, como S. pyogenes e S. aureus, colonizam intermitentemente as áreas nasal, axilar, faríngea ou perineal. Essas bactérias podem causar infecção de pele suscetível. Outros fatores que predispõem ao impetigo são traumas de pele, climas quentes e úmidos, falta de higiene, ambientes de creche, aglomeração, desnutrição e diabetes mellitus ou outras comorbidades médicas. A autoinoculação por meio dos dedos, toalhas ou roupas geralmente leva à formação de lesões satélites em áreas adjacentes. A natureza altamente contagiosa do impetigo também permite a disseminação de pacientes para contatos próximos. Embora o impetigo seja considerado uma infecção autolimitada, o tratamento com antibióticos costuma ser iniciado para uma cura mais rápida e para prevenir a disseminação para outras pessoas. Isso pode ajudar a diminuir o número de dias perdidos na escola e no trabalho. Práticas higiênicas, como limpar ferimentos leves com água e sabão, lavar as mãos, tomar banho regularmente e evitar o contato com crianças infectadas podem ajudar a prevenir infecções. impetigo complicações Fatores do hospedeiro, como integridade da barreira cutânea com seu pH ácido, presença de secreção sebácea (ácidos graxos, principalmente ácido oleico), lisozima e produção de defensinas e estado nutricional adequado, desempenham um papel importante na resistência à infecção. A presença de maceração, umidade, lesões cutâneas anteriores, obesidade, tratamentos com corticosteroides ou quimioterapia, disglobulinemias, distúrbios leucocitários, como leucemia e doença granulomatosas crônica, diabetes, desnutrição, outras imunodeficiências congênitas ou adquiridas, como AIDS, são fatores predisponentes. A maioria das bactérias cresce melhor em pH neutro e temperatura de 37°C. O ato de lavar as mãos, com sabonete antisséptico ou mesmo com sabonete comum, principalmente entre os responsáveis pelas crianças, diminuiu drasticamente a chance de adquirir infecções como pneumonia, diarreia e impetigo. Fisiopatologia Algumas pessoas têm bactérias estafilococos ou estreptococos residindo no nariz sem causar infecção. Elas são chamadas de portadores nasais. Portadores são pessoas que têm a bactéria, mas nenhum sintoma causado pela bactéria. Os portadores podem mover a bactéria do nariz para outras partes do corpo com as mãos, por vezes levando a infecções recorrentes ou que se espalham para outras pessoas. É mais comum em situações de enfraquecimento do sistema imune. É por esse motivo que é mais frequente em crianças, idosos e pessoas com doenças autoimunes. Essas bactérias que infeccionam habitam normalmente na pele, mas uma picada de inseto, corte ou arranhão pode fazer com que alcancem as camadas mais internas, proliferem e causem a infecção Apresentação clinica Existem duas apresentações de impetigo: não bolhoso e bolhoso. O impetigo não bolhoso é a apresentação mais comum, compreendendo 70% dos casos. O impetigo não bolhoso pode ainda ser classificado como primário ou a forma secundária (comum) mais prevalente. O impetigo primário é uma invasão bacteriana direta da pele saudável intacta. O impetigo secundário (comum) é uma infecção bacteriana da pele rompida causada por trauma, eczema, picadas de insetos, sarna ou surtos herpéticos e outras doenças. Diabetes ou outras condições sistêmicas subjacentes também aumentam a suscetibilidade. O impetigo começa como lesões maculopapulares que transitam para vesículas de paredes finas que se rompem rapidamente, deixando erosões superficiais, às vezes pruriginosas ou dolorosas, cobertas pelas clássicas crostas cor de mel. O curso da infecção pode durar de duas a três semanas, se não for tratada. Uma vez que a crosta seca, a área restante cicatriza sem deixar cicatrizes. A pele exposta da face (por exemplo, narinas, região perioral) e as extremidades são os locais mais comumente afetados. Pode ocorrer linfadenite regional, mas os sintomas sistêmicos são improváveis. O impetigo não bolhoso geralmente é causado por S. aureus, mas S. pyogenes também pode estar envolvido, especialmente em climas mais quentes e úmidos. O impetigo com crosta pode ocorrer na pele normal ou a impetiginização pode aparecer sobre uma dermatose anterior, como dermatite atópica, dermatite de contato, picadas de insetos, pediculose e escabiose. A desnutrição e a falta de higiene são fatores predisponentes. A lesão inicial é uma vesícula, localizada em base eritematosa, que se rompe facilmente. A ulceração superficial resultante é coberta por secreção purulenta que seca como uma crosta aderente e amarelada (cor de mel). Cada lesão mede 1 a 2 cm de diâmetro e cresce centrifugamente. A descoberta de lesões satélites, causadas por autoinoculação, é frequente. Há predomínio de lesões nas áreas expostas, principalmente nos membros e faces. A linfoadenopatia regional é comum e pode ocorrer febre em casos graves. O impetigo não bolhoso pode resolver espontaneamente, sem qualquer tratamento, em 2 a 3 semanas. O impetigo bolhoso é causado apenas por S. aureus e é caracterizado por bolhas grandes, frágeis e flácidas que podem se romper e escoar um líquido amarelo. Geralmente remite em duas a três semanas sem deixar cicatrizes. O colarete patognomônico de escamas em sua periferia se desenvolve após a ruptura das bolhas, deixando umacrosta fina e marrom nas erosões restantes. Essas bolhas maiores se formam por causa de toxinas esfoliativas produzidas por cepas de S. aureus que causam perda de adesão celular na epiderme superficial. O impetigo bolhoso é geralmente encontrado no tronco, axila e extremidades, e em áreas intertriginosas (fraldas). É a causa mais comum de erupção cutânea ulcerativa nas nádegas de bebês. Sintomas sistêmicos são incomuns, mas podem incluir febre, diarreia e fraqueza. Ectima É uma forma ulcerativa de impetigo em que as lesões se estendem através da epiderme e profundamente na derme. Eles consistem em úlceras "perfuradas" cobertas por uma crosta amarela rodeada por margens violáceas elevadas. O impetigo e o ectima causam dor leve ou desconforto. O prurido é comum e a coçadura dissemina a infecção, inoculando áreas adjacentes e distantes da pele. Diagnóstico O diagnóstico de impetigo bolhoso e não bolhoso é quase sempre clínico. O diagnóstico diferencial inclui muitos outros distúrbios vesiculares e erupções cutâneas. Os esfregaços de pele não podem diferenciar entre infecção bacteriana e colonização. Em pacientes nos quais a terapia de primeira linha falha, a cultura do pus ou líquido bolhoso, e não da pele intacta, pode ser útil para a identificação de patógenos e suscetibilidades antimicrobianas. Embora o teste sorológico para anticorpos estreptocócicos seja útil no diagnóstico de glomerulonefrite pós- estreptocócica aguda, ele não ajuda no diagnóstico de impetigo. Tratamento → A área afetada deve ser lavada delicadamente, com sabão e água, várias vezes/dia para remover as crostas → Lavar as mãos é importante para reduzir a disseminação entre as crianças, e outras medidas preventivas empregadas para reduzir a disseminação dos estafilococos também podem ser úteis → O tratamento do impetigo deve incluir terapia antimicrobiana com atividade contra estreptococos beta-hemolíticos e S. aureus. Terapia tópica → Deve ser administrada se houver um número limitado de lesões sem bolhas. A terapia tópica tem menos efeitos colaterais e menor risco de contribuir para a resistência bacteriana em comparação com a terapia oral - Mupirocina em pomada 3 vezes ao dia, durante 7 dias - Pomada de retapamulina 2 vezes/dia, durante 5 dias - Creme de ozenoxacina a 1% aplicado a cada 12 horas por 5 dias - Creme de ácido fusídico a 2%, 3 a 4 vezes/dia até as lesões desaparecerem é igualmente eficaz Antibióticos orais → Deve ser usada para impetigo quando as lesões são bolhosas e quando é impraticável usar terapia tópica devido à extensão ou localização das lesões → Os agentes apropriados incluem dicloxacilina, cefalexina ou clindamicina - Dicloxacilina ou cefalexina, 250 a 500 mg 4 vezes/dia (12,5 mg/kg 4 vezes/dia para crianças) por 10 dias, podem ser necessários para pacientes imunocomprometidos, pacientes com lesões impetiginosas extensas ou resistentes ou para ectima - Clindamicina 300 mg (15-25mg/kg dividido em 3 doses) a cada 6 horas ou eritromicina 250 mg (40 mg/kg dividido em 4 doses) a cada 6 horas pode ser usada em pacientes alérgicos à penicilina, mas a resistência aos dois medicamentos é um problema crescente - No cenário de alergia a beta-lactâmicos ou suspeita de MRSA, as escolhas apropriadas estão descritas na tabela: - Os macrolídeos não são uma terapia adequada devido ao aumento da resistência entre S. pyogenes e S. aureus. A penicilina era anteriormente útil para o tratamento do impetigo, mas não é mais adequada devido ao papel significativo do S. aureus (a maioria das cepas produz beta-lactamase que pode inativar a penicilina e a ampicilina) - As fluoroquinolonas NÃO devem ser usadas para tratar o impetigo, pois a resistência ao MRSA a essa classe é generalizada e pode ocorrer resistência durante a terapia - Sulfametoxazol-trimetoprima tem atividade contra MRSA, mas não tem atividade contra estreptococos - Acompanhamento: a duração da terapia antimicrobiana deve ser adaptada à melhora clínica; sete dias de tratamento geralmente são suficientes - O uso inicial da terapia empírica contra SAMR normalmente não é aconselhável, a menos que haja evidências clínicas irrefutáveis (p. ex., contato com uma pessoa que tem um caso documentado, exposição à epidemia documentada, prevalência local de cultura documentada de › 10% ou 15%). O tratamento para SAMR deve ser direcionado pelos resultados de teste para cultura e sensibilidade; tipicamente clindamicina, sulfametoxazol- trimetoprima e doxiciclina são eficazes contra a maioria das cepas da SAMR associadas à comunidade - Outra terapia é a restauração da barreira cutânea normal, em pacientes com dermatite atópica ou extensa xerose, utilizando-se hidratantes tópicos e corticoides, se indicado. Nos portadores crônicos de estafilococos nas narinas, aplicam-se antibióticos tópicos (mupirocina), por 1 semana ao mês, no período de 3 meses consecutivos - A cura é rápida após tratamento adequado e oportuno. A demora pode causar celulite, linfangite, furunculose e hiper ou hipopigmentação, com ou sem cicatriz. Crianças de 2 a 4 anos têm risco de adquirir glomerulonefrite aguda se forem contaminadas por cepas nefritogênicas dos estreptococos do grupo A (tipos 49, 55, 57 e 59); a nefrite parece ser mais comum no sul dos EUA do que em outras regiões. É pouco provável que o tratamento com antibióticos previna glomerulonefrite pós-estreptocócica Sempre que possível, a doença pré-existente (sarna, picadas, eczemas, etc), que favoreceu a instalação do impetigo, também deve ser tratada. Impetigo x Glomerulonefrite Complicações O impetigo geralmente é uma condição autolimitada e, embora rara, podem ocorrer complicações. Estes incluem celulite (forma não bolhosa), septicemia, osteomielite, artrite séptica, linfangite, linfadenite, psoriase gutata, síndrome da pele escaldada estafilocócica e glomerulonefrite pós-estreptocócica aguda, sendo a glomerulonefrite pós-estreptocócica a mais grave. O número de possíveis causas, incidência e gravidade clínica da glomerulonefrite pós- estreptocócica aguda diminuíram, porque o organismo causador do impetigo mudou de S. pyogenes para S. aureus. A maioria dos casos de glomerulonefrite pós-estreptocócica nos Estados Unidos está associada à faringite. As cepas de S. pyogenesimplicados no impetigo, acredita-se que tenham um potencial nefritogênico mínimo. Não há dados que indiquem que o tratamento com antibióticos do impetigo tenha algum efeito na prevenção do desenvolvimento de glomerulonefrite pós-estreptocócica aguda, que pode ocorrer em até 5% dos pacientes com impetigo não bolhoso. A febre reumática não parece ser uma complicação do impetigo. A glomerulonefrite pós-estreptocócica é uma doença Mediada imunologicamente. O período de latência entre a infecção e o início da nefrite é compatível com o tempo requerido para a produção de anticorpos e para a formação de complexos imunológicos. Titulações elevadas de anticorpos contra um ou mais antígenos estreptocócicos estão presentes na grande maioria dos pacientes. Os níveis do complemento no soro são baixos, compatíveis com a ativação do sistema complemento e o consumo de componentes do complemento. Existem depósitos imunológicos granulares nos glomérulos, provando o mecanismo mediado por complexos imunológicos. O componente antigênico estreptocócico responsável pela reação imunológica evitou sua identificação durante anos. Diversos antígenos catiônicos, incluindo um receptor estreptocócico de plasmina associado à nefrite (NAPIr), único para as linhagens nefritogênicas de estreptococos, podem ser encontrados nos glomérulos afetados. Outras evidências sugerem que exotoxina piogênica estreptocócica B (SpeB) e seu precursor zimogênico (zSpeB), outra proteína que funciona como um receptor de plasmina, são os principais determinantes antigênicos na maioria dos casos de glomerulonefritepós-estreptocócica. Não se sabe se estes representam antígenos plantados na MBG, ou partes dos complexos imunológicos circulantes, ou ambos. As proteínas da MBG alteradas pelas enzimas estreptocócicas também foram implicadas como antígenos. Morfologia O quadro diagnóstico clássico é de um glomérulo aumentado e hipercelular. A hipercelularidade é causada por (1) infiltração por leucócitos, tanto neutrófilos quanto monócitos; (2) proliferação de células endoteliais e mesangiais; e (3) em casos graves pela formação de crescentes. A proliferação e a infiltração de leucócitos são difusas, isto é, envolvem todos os lóbulos de todos os glomérulos. Há também um inchaço das células endoteliais e a combinação da proliferação, do inchaço e da infiltração leucocítica oblitera os lúmens capilares. Pode haver um edema intersticial e inflamação, e os túbulos frequentemente contêm grumos de células vermelhas. Curso Clínico No caso clássico, uma criança jovem desenvolve abruptamente mal-estar, febre, náusea, oligúria e hematúria (urina esfumaçada ou com cor de coca- cola) de 1 a 2 semanas após a recuperação de um mal de garganta. Os pacientes têm grumos de células vermelhas na urina, proteinúria leve (geralmente menos de 1 g/dia), edema periorbital e hipertensão leve a moderada. Em adultos o início provavelmente é atípico, com uma aparência súbita de hipertensão e edema, frequentemente com elevação do NUS. Durante epidemia causada por infecções estreptocócicas nefritogênicas, a glomerulone frite pode ser assintomática, descoberta somente na busca pela hematúria microscópica. Achados laboratoriais importantes incluem elevações das titulações dos anticorpos antiestreptocócicos e um declínio na concentração sérica de C3 e outros componentes da cascata do complemento. Mais de 95% das crianças afetadas eventualmente se recuperam totalmente com uma terapia conservativa objetivando a manutenção do balanço de sódio e água. Uma pequena minoria de crianças (talvez menos de 1%) não melhora, se tornando gravemente oligúricas e desenvolvendo uma forma rapidamente progressiva de glomerulonefrite (descrita posteriormente). Alguns dos pacientes podem sofrer progressão lenta para a glomerulonefrite crônica com ou sem recorrência de um quadro nefrítico ativo A pesada proteinúria prolongada e persistente e a TFG anormal marcam os pacientes com um prognóstico desfavorável. Em adultos a doença é menos benigna. Embora o prognóstico geral seja bom, apenas em 60% dos casos esporádicos, os pacientes se recuperam prontamente. No restante as lesões glomerulares não se resolvem rapidamente, como manifestado por proteinúria persistente, hematúria e hipertensão. Em alguns destes pacientes, as lesões eventualmente desaparecem totalmente, mas outros desenvolvem glomerulonefrite crônica. Alguns pacientes desenvolverão uma síndrome de glomerulonefrite de progressão rápida. Por se tratar de uma síndrome nefrítica aguda, a doença se manifesta de forma abrupta e á caracterizada por edema, hipertensão e hematúria. O quadro clinico ainda inclui oligúria, queda do ritmo de filtração glomerular e proteinúria. Se não tratada, a GNPE pode levar a algumas complicações como insuficiência renal aguda, encefalopatia hipertensiva e congestão cardiocirculatória. A incidência é predominante em crianças com idade pré-escolar e escolar, sendo o sexo masculino mais acometido. E a faringite estreptocócica (uma das infecções que podem levar à GNPE) ocorre, também, na mesma faixa etária, sendo mais comum no inverno e no início da primavera. Ao fazer o acompanhamento dos pacientes com complicações, é possível realizar análises laboratoriais e descobrir se está havendo evolução, visto que o prognóstico para a GNPE é bem favorável. Apesar da frequência da doença ter diminuído em países desenvolvidos, em países em desenvolvimento os casos ainda ocorrem por não terem melhores condições socioeconômicas e de assistência médica. Isso faz com que a população fique suscetível aos fatores patogênicos dos agentes etiológicos. Fisiopatologia Na GNPE, ocorre diminuição da superfície de filtração secundária ao intenso processo inflamatório observado nos capilares glomerulares e mesângio , com queda da taxa de filtração glomerular seguida de oligúria ou anúria, aumento dos níveis séricos de ureia e creatinina, do conteúdo de líquido intravascular e supressão do sistema renina angiotensina- aldosterona. Estes fatores, mais alterações de forças nos capilares sistêmicos, levam ao edema e hipertensão devido à expansão do volume intravascular, portanto uma hipertensão volume dependente. As lesões dos capilares glomerulares possibilitam a migração de hemácias através de fendas que surgem nas alças glomerulares, justificando o principal achado da doença, a hematúria, juntamente com dismorfismo eritrocitário no sedimento urinário, causado pelas passagens estreitas da parede glomerular e cilindros hemáticos. A própria reação inflamatória nos glomérulos altera as condições de permeabilidade da membrana glomerular às proteínas, condicionando proteinúria de pequena intensidade, além de cilindros leucocitários que podem ser encontrados no exame de urina. A baixa aguda do ritmo de filtração glomerular leva à retenção de sódio pelas células tubulares, principalmente distais. O sódio plasmático, em geral, fica diminuído, porém a massa total de sódio, em razão da expansão do espaço extracelular, fica aumentada. A reabsorção do sódio no nível dos túbulos está preservada, principalmente nos túbulos distais. Manifestaçõe clinicas Os sintomas clínicos clássicos, edema, hipertensão e hematúria, manifestam-se dez a vinte dias (no máximo seis semanas) após a infecção estreptocócica de vias aéreas superiores ou de pele. Na maior parte dos casos, o estado geral da criança está pouco comprometido e as queixas são vagas como: indisposição, inapetência, cefaleia e edema periorbital. Segundo Cole e Salina-Madrigal (1999), o edema aparece em 85% dos casos, localizado frequentemente na face e, em geral, não é muito intenso. A hipertensão arterial ocorre em 60 a 80% dos casos. É usualmente assintomática e detectada apenas pela aferição da pressão arterial. Em alguns pacientes, pode surgir encefalopatia hipertensiva. A hematúria macroscópica aparece em 25 a 35% dos casos, e a microscópica, na maioria. Diagnóstico Para um diagnóstico preciso, é necessário saber se o paciente portador da síndrome nefrítica típica, teve recentemente um caso de impetigo ou faringoamigdalite, que seja compatível com o período de incubação. Se o caso for compatível, deve-se juntar com os exames laboratoriais que serão muito característicos, como: a hematúria macroscópica ou microscópica; cilindrúria (cilindros hemáticos, hialinos, granulosos e leucocitários, sendo os hemáticos sugestivos de hematúria glomerular) e proteinúria, discreta a moderada, raramente, em níveis nefróticos (>50mg/ Kg/dia). A dosagem do complemento sérico (C3) é muito importante para o diagnóstico de GNPE. Seus valores encontram-se diminuídos em 95 a 98% dos casos. A normalização de seus níveis, que ocorre dentro de quatro a oito semanas, é um parâmetro importante tanto para prognóstico quanto para o diagnóstico diferencial. Geralmente, os níveis de ureia e creatinina ficam normais, porém, podem ser elevados devido à provável evolução para uma Insuficiência Renal Aguda - IRA ou o paciente pode ser portador de doença renal crônica, sofrendo um quadro agudo pela falta de diagnóstico precoce. Diagnostico diferencial Dentre as condições semelhantes para diagnóstico Glomerulonefrite membranoproliferativa é a que tem o padrão mais parecido com o da GNPE, pois ocorre após infecções estreptocócicas que acomete principalmente o sexo feminino e ocorre geralmente acima dos sete anos de idade, a diferença fica por conta da proteinúria nefrótica e do complemento sérico baixo por mais de 8 semanas.Nos casos em que houver dúvidas quanto ao diagnóstico ou o quadro laboratorial persistir com proteinúria nefrótica por mais de 4 semanas, hipertensão ou hematúria macroscópica por mais de 6 semanas e C3 baixo por mais de 8 semanas, é necessário realizar uma biópsia renal Tratamento tratamento da GNPE se restringe, geralmente, aos sintomas e deve ser individualizado, pois cada paciente sofre um quadro clínico diferente alguns têm complicações e outros não). A hospitalização do paciente nem sempre é obrigatória, exceto em casos de complicações: congestão cardiocirculatória, insuficiência renal aguda ou encefalopatia hipertensiva. Na figura 1, podemos observar a evolução da doença até suas complicações. Uma avaliação diária do paciente é necessária para saber se o mesmo está seguindo o tratamento em repouso com dieta restritiva. Nessa dieta, temos a restrição hidrossalina devido à oligúria, hipervolemia, edema e hipertensão e a restrição proteica por conta do ritmo de filtração glomerular (RFG) baixo. Caso necessite, um diurético de alça pode ser adicionado ao tratamento de edema mais intenso com sinais de complicações. Em casos de hiperpotassemia e oligúria intensa, também deve-se adotar uma dieta hipopotássica. O tratamento medicamentoso também se resume ao controle das complicações. São utilizados antibióticos, diuréticos, hipotensores e anticonvulsivantes, sendo que a antibioticoterapia serve apenas para evitar reincidência futura, eliminando as cepas nefrigênicas de estreptococos da pele ou orofaringe, enquanto que os diuréticos e hipotensores tratam as complicações cardiovasculares, a hipertensão arterial persistente e os anticonvulsionantes são aplicado às convulsões associadas a encefalopatia hipertensiva com suspensão do medicamento assim que pararem os sintomas. Prognóstico O prognóstico é excelente após a fase aguda, pois mais de 95% das crianças têm recuperação glomerular total, com o aumento da diurese, diminuição do edema e a normalização dos níveis de ureia, creatinina e da pressão arterial. É muito raro haver recorrência. Já nos adultos, o prognóstico não é favorável, pois podem desenvolver hipertensão, proteinúria recorrente e doença renal crônica ao longo de 10 a 40 anos após o episódio inicial. A hematúria macroscópica ocorre em torno de 2 a 3 semanas, enquanto a microscópica pode persistir por até 18 meses, sem que isso seja indicação de mau prognóstico. A proteinúria tende a se resolver em até 6 meses. É possível observar microalbuminúria e hematúria microscópica em 20% dos pacientes na fase adulta, mas é muito raro a evolução para insuficiência renal crônica. Os outros 5% dos pacientes podem evoluir para cronicidade, porém, está mais relacionado à falta de diagnóstico precoce e ao tratamento incorreto das complicações. Referencias: PEREIRA, Luciana Baptista. Impetigo-review. Anais brasileiros de dermatologia, V. 89, n. 2, p. 293-299, 2014. HARTMAN-ADAMS, Holly; BANVARD, Christine; JUCKETT, Gregory. Impetigo: diagnosis and treatment. American family physician, v. 90, n. 4, p. 229-235, 2014. SOARES, Marcos Alexandre. A importância do diagnóstico precoce da glomerulonefrite pós- estreptocócica em crianças. 2018. ROBBINS E COTRAN. PATOLOGIA: Bases Patológicas das Doenças; 8°ed. 2010.
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