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Bakhtin e Machado

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CENTRO DE EDUCAÇÃO, LETRAS E SAÚDE
CURSO DE LETRAS
Docente: Paula Domingos 
Discente(s):
 Stefany Silva do Nascimento
Letras - 2º Ano
Questões de análise discursiva do artigo A Interação Verbal, de Bakhtin e analogia com o conto O Espelho, de Machado de Assis:
1) Por que os românticos foram considerados os primeiros filólogos da língua materna?
2) O que se entende no texto por teoria da expressão?
3) Comente como Bakhtin vai tecendo e entretecendo o conceito de interação verbal delineado pela teoria da enunciação:
4) Identifique no conto "O Espelho" os aspectos sociodiscursivos da leitura e estabeleça analogia entre ele e o artigo de Bakhtin:
Entendemos por filologia a ciência que, por meio de textos escritos, analisa e estuda a língua, a literatura e os demais fenômenos culturais de determinado povo. Tendo em vista que a palavra exerce um significativo poder perante o indivíduo e as esferas que fazem parte do pensamento, os românticos, com o intuito de romper a supremacia da palavra estrangeira, detinham a ideia da necessidade da criação de uma nova reorganização acerca das reflexões linguísticas. O Romantismo buscava, segundo as palavras de Bakhtin em A Interação Verbal, "reorganizar totalmente a reflexão linguística sobre a base da atividade mental em língua materna, considerada como meio de desenvolvimento da consciência e do pensamento" (P. 114).
O Romantismo está ligado à primeira orientação do pensamento filosófico-linguístico, a do subjetivismo idealista, que tem como um dos seus sustentáculos a ideia da enunciação monológica como o ponto de partida que circunda a sua reflexão a respeito da língua. Bakhtin diz que a enunciação monológica "se apresenta como um ato puramente individual, como uma expressão da consciência individual, de seus desejos, suas intenções, seus impulsos criadores, seus gostos, etc. A categoria da expressão é aquela categoria geral, de nível superior, que engloba o ato da fala, a enunciação" (P. 114). Dentro desta definição, a teoria da expressão afirma que: O conteúdo (o enunciado, o que a palavra diz) engloba tudo aquilo que é interior ao individuo e que tudo o que vai ser, em dado momento, exprimido, é anteriormente algo interior, inerente, intrínseco. Já a enunciação (aquilo que a palavra sugere) encontra-se exterior ao indivíduo e é resultado do que já foi interior; ao ser exteriorizado, "o conteúdo interior muda de aspecto, pois é obrigado a apropriar-se do material exterior, que dispõe de suas próprias regras, estranhas ao pensamento interior" (BAKHTIN, P. 115). Coloca-se também que a existência da possibilidade de a palavra se expressar está extremamente vinculada ao ato de exteriorização. O interior é visto como primordial e o exterior somente possuirá essa imagem enquanto servir de receptor ao conteúdo.
Todavia, Bakhtin levanta a ideia contrária à teoria da expressão, afirmando que "não é a atividade mental que organiza a expressão, mas, ao contrário, é a expressão que organiza a atividade metal, que a modela e determina sua orientação" (P. 116). A partir daí, a enunciação é colocada como o resultado de uma interação entre dois indivíduos que estão organizados socialmente de certa maneira; o dialogismo apresenta os dois sujeitos dessa relação: o locutor e o interlocutor, sendo o último não necessariamente uma segunda pessoa, posto que o locutor pode vir a ser seu próprio interlocutor. Garante-se, nas palavra de Bakhtin, que "a palavra dirige-se a um interlocutor: ela é a função da pessoa desse interlocutor: variará se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não, se esta for inferior ou superior na hierarquia social, se estiver ligada ao locutor por laços sociais mais ou menos estreitos (pai, mãe, marido, etc.)" (P. 116).
 Nesta concepção, o dialogismo é a característica crucial da língua e a linguagem é utilizada por um sujeito em determinado lugar, espaço, situação e contexto histórico. No processo de enunciação, ao instituir-se um "eu", institui-se, inegável e necessariamente, um "tu", ambos como pessoas da enunciação e, respectivamente, a primeira e a segunda distinguem-se pela marca da subjetividade: eu subjetivo e tu não subjetivo. A teoria bakhtiniana entende a linguagem como um processo contínuo da criação que se efetiva nessa interação verbal que envolve dois mais sujeitos que interagem mesmo que não haja a presença do outro, em razão de que a pergunta e a resposta podem ser constituídos por um só, ou seja, o diálogo de um sujeito consigo mesmo, já que o eu não existe sem o outro nem o outro sem eu, tanto que o silêncio também vincula uma enunciação. Vale ressaltar que essa interação está constantemente sob tensão, posto que tal estado é inerente ao dialogismo; as ideologias dos falantes são expostas e chocam-se, por isso pode-se afirmar que quando o eu se enuncia, ele já está marcado pelo tu, o discurso de um está entrelaçado ao discurso de outrem. 
Machado de Assis, grande estudioso da alma humana, problematiza no conto O Espelho sua dualidade, refletindo sobre a relação dialógica existente entre o indivíduo (Jacobina) e sua auto imagem. De maneira formidável, Machado articula acerca da imagem do sujeito que se constrói na relação com o outro; o próprio Jacobina afirma que "Achei-me só, sem mais ninguém, entre quatro paredes, diante do terreiro deserto e da roça abandonada. Corri a casa toda, a senzala, tudo, nada, ninguém, um molequinho que fosse. Galos e galinhas tão somente, um par de mulas, que filosofavam a vida, sacudindo as moscas, e três bis. Os mesmos cães foram levados pelos escravos. Nenhum ente humano. Parece-lhes que isto era melhor do que ter morrido? Era pior". O sujeito se vê em um lamentável processo em que perde a própria identidade, e pode-se afirmar que isso é resultante do fato de as pessoas que o cercavam não estarem mais interagindo com ele. A partir da ausência de relação dialógica, sua imagem no espelho (que pode ser vista como uma analogia que faz referência ao nosso auto reconhecimento) também se perde, se esfumaçando e mostrando-se dispersa e confusa; a imagem retorna, com a nitidez esperada, quando Jacobina coloca a farda de alferes. Dessa maneira, a personagem acaba por nos mostrar que sua alma exterior (a de alferes) não existe sem que os outros o enxergassem de tal modo. 
Referências bibliográficas:
BAKHTIN, Mikhail (VOLOCHINOV, V. N.). Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2006.
FERNANDES, Rinaldo (Org). Capitu mandou flores. 1ª. ed. São Paulo: Geração Editorial. 2008.

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