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0 Custos da (Não) Qualidade - Material Complementar Prof. Dr. Ronã Rinston Amaury Mendes 2022 Curso Técnico em Qualidade EaD 1 Custos da (Não) Qualidade De um modo geral, os custos da qualidade englobam os custos decorrentes da falta de qualidade, assim como os custos para se obter qualidade. Os custos da qualidade podem ser classificados em: 1. Custos devido à Falhas Internas: são custos associados com defeitos (erros, não conformidades etc.), que são detectados antes do despacho do produto. Estes custos desapareceriam se os produtos fossem isentos de defeitos. Exemplos de custos decorrentes de falhas internas são: • Refugo: material, horas de trabalho etc. • Re-trabalho: horas de re-trabalho. • Re-inspeção, re-teste: horas de trabalho de re-inspeção de produtos retrabalhados. • Inspeção total: horas de trabalho em inspeção total de lotes com nível de qualidade inaceitável. • Redução de preço de venda devido à baixa qualidade. 2. Custos devido à Falhas Externas: são custos associados com defeitos encontrados no produto depois de comercializado. Estes custos também desapareceriam se os produtos fossem isentos de defeitos. Exemplos destes custos são: • Custos de assistência técnica no período de garantia. • Custos de rompimento de contrato por não atendimento das especificações de qualidade. • Custos por ações na justiça. 3. Custos de Avaliação da Qualidade: são os custos decorrentes das atividades de verificação do grau de conformidade com os requisitos de qualidade. exemplos destes custos são: • Inspeção e teste de recebimento: os custos das atividades de verificação da qualidade de componentes/produtos comprados de fornecedores. • Inspeção em processo. • Inspeção final e teste. • Auditorias de qualidade. 2 • Manutenção da rastreabilidade e acuracidade de equipamentos de inspeção e teste. 4. Custos de Prevenção: são os custos decorrentes das atividades necessárias para reduzir ao mínimo os custos devido à Falhas e aos custos de Avaliação. Exemplos destes custos são: • Planejamento da Qualidade: são os custos de todas as atividades que coletivamente criam o planejamento amplo e detalhado das metas da qualidade. • Revisão de novos produtos em desenvolvimento: são os custos decorrentes das atividades de incorporação e garantia da qualidade do produto na fase de seu desenvolvimento. • Controle de Processo: são os custos decorrentes das atividades de controle de qualidade do processo. • Auditorias da qualidade: são os custos de avaliação da execução de atividades da qualidade. • Qualificação e desenvolvimento de fornecedores: são os custos de avaliação da qualidade de fornecedores previamente à seleção de fornecedores e durante o contrato de fornecimento. • Treinamento: são os custos de treinamento em programas de qualidade. O modelo econômico tradicionalmente adotado para ilustrar a variação do custo total da qualidade (decorrente dos custos parciais), em função do nível de qualidade de conformação, é mostrado na Figura 1. A consideração da contribuição relativa dos custos parciais da qualidade na composição do custo total, com base nesse modelo econômico pode ser útil na indicação de possibilidades de redução do custo total da qualidade. Para isso, a curva do custo total da qualidade é dividida em três zonas. Na zona a esquerda do ponto ótimo, os custos devido à falhas são muito maiores do que os custos de prevenção de falhas. Portanto, existe uma oportunidade de redução de custos através da melhoria da qualidade de conformação. 3 Figura 1: Modelo Econômico do Custo da Qualidade (Juran, 1993). De outro modo, segundo este modelo, quando os custos de avaliação são maiores que os custos das falhas, o nível de qualidade sendo praticado não é sustentável economicamente. Ou seja, supõe-se que existe uma porcentagem de itens defeituosos que deve ser esperada na produção e que é considerada viável economicamente. Portanto, a partir de certa porcentagem decrescente desses itens defeituosos, a sua redução seria mais cara do que as economias resultantes dela. Essa porcentagem de itens defeituosos, conhecida como Nível Aceitável de Qualidade, reflete o pensamento dominante no Ocidente segundo o qual o custo por falta de qualidade seria inexistente desde que dentro das especificações de projeto, e constante fora dos limites especificados, conforme ilustrado na Figura 2a. À essa visão, se opõe a teoria de Taguchi sobre custos da qualidade, baseada na Função Perda da Qualidade (TAGUCHI et al, 1990). Para Taguchi, é importante pensar na qualidade em termos da "perda causada à sociedade durante o uso do produto como resultado de variações funcionais e efeitos prejudiciais". Variações funcionais refere-se à variação do desempenho do produto com relação ao pretendido em projeto. Taguchi usa o conceito da "Função Perda da Qualidade" para quantificar qualidade como uma "perda devido à variações funcionais". Ele argumenta que a perda é minimizada quando o parâmetro da qualidade se encontra no seu valor nominal. Ele usa uma função quadrática, como ilustrado na Figura 2b. 4 Figura 2: Perda da qualidade em função do afastamento do valor nominal: visão tradicional (a) e a visão de Taguchi (b). Claramente, a variação dos custos da falta da qualidade conforme o modelo proposto por Taguchi é bem mais condizente com a realidade que o modelo convencionalmente aceito. Ou seja, conforme o valor do parâmetro da qualidade se afasta do seu valor nominal, os custos devido por exemplo à garantia e serviços de assistência ao cliente tendem a crescer. Os custos da falta da qualidade devido à não conformidades como re-trabalho é também variável em função do quanto o valor do parâmetro da qualidade se afasta do nominal. Outro aspecto importante a se considerar é que o modelo convencional não leva em consideração os custos subjetivos decorrentes da falta de qualidade como: • Desperdício e ineficiência. • Perda de vendas por problemas de qualidade. • Perda de clientes por falta de credibilidade . • Custos de re-projeto por razões de qualidade (ou falta de qualidade). • Custos extras de fabricação, possíveis horas extras de trabalho. • Refugo não computado. • Custos adicionais devido à excessiva variabilidade do processo. Ainda um outro custo bastante subjetivo é o decorrente da impossibilidade de conquista de novos mercados pela falta de margem de competitividade na satisfação do cliente. 5 Por outro lado, a concepção de Taguchi torna explícito a relação direta entre redução de variabilidade e redução de ineficiência e desperdício. Portanto, o conceito de Nível de Qualidade Aceitável se justifica apenas quando se considera o problema de melhoria da qualidade sob a óptica desse modelo. Ou seja, esse modelo é baseado na visão tradicionalmente utilizada para a avaliação da qualidade, onde, para melhorar a qualidade de fabricação a prioridade é dada (muitas vezes única e exclusivamente) a investimentos em novos processos, e os investimentos são avaliados considerando-se somente os retornos a curto prazo. A esta visão, entretanto, se opõe a visão da filosofia da Qualidade Total, onde melhorias significativas da qualidade podem ser obtidas através da mudança do paradigma de produção (por exemplo, maior integração entre projeto-fabricação-vendas, gerência participativa, treinamento, trabalho em equipes, delegação de responsabilidades etc.). Estas mudanças são de efeito mais demorado porém duradouro. Ou seja, no longo prazo, os gastos com prevenção são amortizados, os custos de falhas e avaliação diminuem, a qualidade do produto aumenta e o custo total da qualidade diminui. Referências: FAESARELLA, Ivete S.; SACOMANO, José B.; CARPINETTI, Luiz C.R. Gestão da Qualidade: Conceitos e Ferramentas. USP: São Carlos, 2006. Acesso em: 21/02/2022: http://repositorio.eesc.usp.br/bitstream/handle/RIEESC/6212/FaesarellaIvete_GestaoQualidade.pdf?sequence=1. TAGUCHI, G.; ELSAYED, E.; HSIANG, T. Taguchi - Engenharia da Qualidade em Sistemas de Produção. São Paulo: McGraw-Hill, 1990. http://repositorio.eesc.usp.br/bitstream/handle/RIEESC/6212/FaesarellaIvete_GestaoQualidade.pdf?sequence=1 http://repositorio.eesc.usp.br/bitstream/handle/RIEESC/6212/FaesarellaIvete_GestaoQualidade.pdf?sequence=1
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