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Anna lillian canuto bittencourt • As lesões térmicas constituem causa importante de morbimortalidade; • Princípios básicos de reanimação inicial: - Constante atenção para a possível presença de comprometimento da via aérea por inalação de fumaça; - Identificação e tratamento de lesões mecânicas associadas; - Manutenção da normalidade hemodinâmica através da reanimação com infusão de volume. • As medidas imediatas tem como objetivo salvar a vida do doente queimado; • Incluem: - Estabelecer o controle da via aérea; - Interromper o processo de queimadura; - Obter acessos venosos. Via aérea • As queimaduras podem causar grande edema, causando o risco de obstrução da via aérea superior; • Os sinais de obstrução podem ser inicialmente sutis; • Avaliar a necessidade de intubação; • Fatores de risco para obstrução da via aérea: - Profundidade e extensão de queimaduras maiores; - Queimaduras na cabeça e na face; - Lesões inalatórias; - Queimaduras no interior da boca. • Por terem a via aérea menor, as crianças têm maior risco de problemas na via aérea; Queimaduras IDEIAS GERAIS MEDIDAS IMEDIATAS LESÃO POR INALAÇÃO • Queimaduras faciais e/ou cervicais; • Chamuscamento dos cílios e das vibrissas nasais; • Depósitos de carbono na boca e/ou nariz e expectoração carbonácea; • Alterações inflamatórias agudas na orofaringe, incluindo eritema; • Rouquidão; • História de confusão mental e/ou de confinamento no local do incêndio; • Explosão com queimaduras da cabeça e do tronco; • Níveis sanguíneos de carboxi-hemoglobina maiores que 10% se o doente foi envolvido em um incêndio. Anna lillian canuto bittencourt • Qualquer um dos achados clínicos que sugere lesão inalatória aguda indica necessidade de intubação endotraqueal; • Sempre que existir uma lesão por inalação, indica-se a transferência para um centro de queimados; - Se o tempo de transporte for prolongado, a intubação deve ser realizada antes do transporte. • A presença de estridor é tardia e é indicação imediata para intubação. Interrupção do processo de queimadura • Toda a roupa deve ser removida para interromper o processo de queimadura; • A roupa aderente à pele não deve ser arrancada; • Qualquer roupa impregnada com substância química deve ser removida com cuidado; • A superfície corporal comprometida deve ser, então, enxaguada copiosamente com água corrente; • O doente deve, então, ser coberto com lençóis quentes, limpos e secos para evitar a hipotermia. Acessos venosos • Qualquer doente com queimaduras que acometem mais de 20% da superfície corporal necessita de reposição de volume; • APÓS estabelecer a permeabilidade da via aérea e identificar e tratar as lesões que implicam risco iminente de vida, devem ser providenciados acessos venosos; - Usar cateter de grosso calibre (no mínimo 16G) em veia periférica. • Deve-se iniciar a infusão com solução cristaloide isotônica, preferencialmente com solução de ringer lactato. 01. História: • “Houve explosão?” – as explosões podem arremessar o doente a distância e provocar fraturas ou lesões internas; • É essencial que se determine o momento que ocorreu a queimadura; • Na existência de queimaduras em ambientes fechados, deve-se suspeitar de lesão por inalação e lesão cerebral anóxia se houver uma associação com perda de consciência; • Importante saber antecedentes patológicos e pessoais, como histórico de alergias; • Investigar o estado de imunização do doente contra tétano! AVALIAÇÃO DO PACIENTE QUEIMADO Anna lillian canuto bittencourt 02. Área de superfície corporal queimada: • A “Regra dos Nove” é prática e útil: - O corpo de um adulto é dividido em regiões anatômicas que representam 9%, ou múltiplos de 9%, da superfície corpora total; • Na criança, a cabeça corresponde a uma percentagem maior e os MMII a uma percentagem menor em relação ao adulto. • A palma da mão do doente (incluindo os dedos) representa aproximadamente 1% de sua superfície corporal. 03. Profundidade da queimadura: A) Queimaduras de 1° grau – são caracterizadas por eritema, dor e ausência de bolhas, como a solar; - Localizadas na epiderme; - Não determinam risco à vida e geralmente não necessitam reposição endovenosa de fluidos, já que a epiderme permanece intacta. B) Queimadura de 2° grau ou queimaduras de espessura parcial – são caracterizadas pela aparência vermelha ou mosqueada e presença de edema e bolhas; - Segundo grau superficial: lesão à epiderme e derme superficial; - Segundo grau profunda: lesão através da epiderme até a derme profunda; - A superfície pode ter uma aparência “lacrimejante” ou úmida e é Anna lillian canuto bittencourt hipersensível à dor intensa até mesmo às correntes de ar. C) Queimaduras de 3° grau ou de espessura total – costumam ser escuras e ter aparência de couro, ou a pele também pode apresentar-se translúcida ou com aspecto de cera; - Localizada na epiderme e derme até a gordura subcutânea; - A superfície é indolor e geralmente seca, com pouco edema no tecido queimado, mas podendo apresentar um edema significativo na área ao redor da queimadura. Via aérea • História de confinamento em ambiente fechado durante o incêndio e sinais sugestivos de lesão precoce da via aérea, quando o doente chega na emergência, obrigam a avaliação da via aérea e o seu tratamento definitivo; • Lesões térmicas da faringe podem produzir um edema acentuado da via aérea superior; • As manifestações clínicas da lesão por inalação podem ser sutis e frequentemente não aparecem nas primeiras 24h. Ventilação • Lesão direta da via aérea inferior é rara e geralmente está associada à inalação de vapor superaquecido ou de gases inflamáveis; • As preocupações com a ventilação estão relacionadas com: - Hipóxia; - Intoxicação por monóxido de carbono; - Lesão por inalação de fumaça. • Deve-se administrar oxigênio suplementar com ou sem intubação; • Sempre considerar a possível ocorrência de exposição ao monóxido de AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO Anna lillian canuto bittencourt carbono (CO) em doentes queimados em ambientes fechados; • O diagnóstico da intoxicação por CO é feito por: - Primariamente, história de exposição; - Medida direta de carboxi- hemoglobina (HbCO). • Doentes com suspeita de exposição ao CO devem receber, desde o início, oxigênio em alto fluxo através de uma máscara sem recirculação; • Antes da intubação, o doente deve ser pré-oxigenado com administração contínua de oxigênio; • Em doentes queimados com lesão de via aérea, um tubo endotraqueal de grosso calibre deve ser escolhido para a obtenção da via aérea definitiva; - Pois pode haver a necessidade de broncoscopia. • A gasometria arterial deve ser feita imediatamente como medida de base para a avaliação evolutiva do padrão pulmonar; • Além disso, deve ser realizada uma radiografia do tórax para avaliação da condução pulmonar inicial do doente; • Fisiopatologia das lesões inalatórias: 1°: Há um acúmulo das partículas de fumaça nos bronquíolos distais; 2°: Essas partículas causam lesões e morte das células da mucosa brônquica; 3°: A lesão da via aérea leva ao aumento da resposta inflamatória; 4°: Com a inflamação, há aumento da permeabilidade capilar, resultando em disfunção da difusão do oxigênio; 5°: As células necrosadas tendem a obstruir a via aérea; 6°: Essa obstrução e a diminuição da habilidade de evitar infecçõeslevam a um aumento do risco de pneumonia. Circulação • Em pacientes gravemente queimados fica difícil a avaliação do volume sanguíneo circulante, além de poderem ter outras lesões que provoquem choque hipovolêmico; - A monitoração horária do débito urinário é uma forma confiável de avaliação do volume sanguíneo circulante, portanto é obrigatório proceder à sondagem vesical. • A reanimação com fluidos para o tratamento da queimadura deve ser realizada; A grande afinidade do CO pela hemoglobina (240x mais do que o oxigênio) faz com que ele desloque o oxigênio da molécula de hemoglobina e desvie a curva de dissociação da oxi-hemoglobina para a esquerda. O CO dissocia-se muito lentamente e sua meia vida é de 04 horas se o doente respirar ar ambiente, comparada com 40 minutos se ele respira oxigênio a 100%. Anna lillian canuto bittencourt • Reposição volêmica inicial do queimado: • Após essa quantidade inicial, o volume de líquido oferecido deve ser ajustado com base no débito urinário de 0,5mL/kg/h em adultos e 1mL/kg/h para crianças com menos de 30kg; • Em crianças pequenas, <10kg, pode ser necessária a associação de glicose nos fluidos infundidos para evitar hipoglicemia; • Arritmias cardíacas podem ser o primeiro sinal de hipóxia e de anormalidades do equilíbrio ácido-básico ou eletrolítrico; • Acidemia persistente pode ser causada pelo envenenamento por cianeto. 01. Exames iniciais para doentes com queimaduras graves: • Deve-se obter amostras para: - Hemograma; - Tipagem e provas cruzadas; - Carboxi-hemoglobina; - Glicemia; - Eletrólitos; - Teste de gravidez em todas as mulheres em idade fértil. • Uma amostra de sangue arterial também deve ser retirada para determinação da gasometria e dosagem de HbCO; • Deve ser realizada um RX de tórax em pacientes intubados ou com suspeita de lesão por inalação. 02. Manutenção da circulação periférica em queimaduras circunferenciais de extremidades: • O objetivo da avaliação da circulação periférica é excluir a síndrome compartimental; • Essa síndrome é causada pelo aumento da pressão dentro do compartimento muscular, o que interfere na perfusão das estruturas desse compartimento; • Sinais de síndrome compartimental: AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA E MEDIDAS AUXILIARES 2 a 4ml de Ringer Lactato X kg de peso corporal X percentagem de ASC com queimadura de 2° e 3° graus, nas primeiras 24 horas *Sendo que metade desse volume total estimado deve ser administrado nas primeiras 8h após a queimadura. Ex: Homem de 100kg com 80% de ASC queimada necessida de 2 a 4 X 80 X 100 = 16.000 a 32.000mL em 24h. Metade, 8.000 a 16.000, devem ser infundidos nas primeiras 8h, portanto, 1.000 a 2.000mL/h em 8h. O restante nas 16h seguintes. Anna lillian canuto bittencourt - Piora da dor com a movimentação passiva; - Tensão do membro; - Dormência; - E, eventualmente, ausência de pulso. • A pressão do compartimento pode ser medida facilmente pela inserção de uma agulha conectada a um medidor de pressão no compartimento muscular; - Se pressão > 30mmHg, é indicado escarotomia. • Para manutenção da circulação periférica em queimaduras circunferenciais de extremidades, o médico deve: - Remover todas as joias das extremidades; - Avaliar a circulação distal, observando se há cianose, se o enchimento capilar é lento ou se existem sinais progressivos de comprometimento neurológico, como parestesia e dor em tecidos profundos. 03. Sondagem gástrica: • Deve ser colocada e mantida em sucção se o doente apresentar: - Náusea; - Vômitos; - Distensão abdominal; - Ou queimadura maior que 20% da ASC. 04. Narcóticos, analgésicos e sedativos: • O paciente pode estar ansioso e agitado devido à hipoxemia ou à hipovolemia mais do que à dor; • Responde melhor ao oxigênio ou à administração de líquidos do que ao uso de analgésicos, narcóticos ou sedativos; • Devem ser administrados em doses pequenas e frequentes e apenas por via EV; • Lembre-se de que somente cobrindo a queimadura já há alívio da dor. 05. Cuidados com a ferida: • As queimaduras de espessura parcial (2° grau) são dolorosas quando o ar passa sobre a superfície queimada; • A cobertura da área queimada com um pano limpo aplicado delicadamente impede o contato com o ar corrente e alivia a dor; • Não se deve romper bolhas ou aplicar agentes antissépticos; • A aplicação de compressas frias pode causar hipotermia; • Não usar água fria em doentes com queimaduras extensas (>10% ASC). 06. Antibióticos: • Antibióticos profiláticos NÃO são indicados na fase inicial logo após as queimaduras; Anna lillian canuto bittencourt • Devem ser reservados para o tratamento de infecções. • A lesão química pode resultar da exposição a ácidos, álcalis ou derivados de petróleo; - Queimaduras por álcalis são geralmente mais sérias do que as queimaduras por ácidos. • É essencial remover o produto químico e cuidar imediatamente da ferida; • As queimaduras químicas são influenciadas pela duração do contato, pela concentração e pela quantidade do agente químico. • Resultam do contato de uma fonte de energia elétrica com o corpo do doente. • O corpo pode servir como condutor da energia elétrica e o calor gerado resulta em lesão térmica dos tecidos; • Frequentemente são mais graves do que parece à inspeção externa, e as extremidades, especialmente os dedos, estão particularmente propensos à lesão; • Além disso, a corrente elétrica passa por vasos e nervos e pode causar tromboses locais e lesões nervosas; • Doentes com queimaduras elétricas frequentemente necessitam de fasciotomias e devem ser transferidos para um centro de queimados; • A eletricidade pode causar arritmias cardíacas com necessidade de intervenção; - Se não ocorrerem nas primeiras horas de lesão, não há necessidade de monitoramento prolongado. • Como a eletricidade causa contrações forçadas dos músculos, o médico deve examinar o doente para procurar lesões musculoesqueléticas associadas, incluindo a possibilidade de lesões vertebromedulares; • Atenção para a rabdomiólise que provoca liberação de mioglobina, podendo levar a insuficiência renal aguda. • Critérios para transferência do doente para o Centro de Queimados de acordo com a Associação Americana de Queimaduras: 1. Queimaduras de espessura parcial e espessura total comprometendo mais que 10% da ASC em qualquer doente; 2. Queimaduras de espessura parcial e total envolvendo face, olhos, ouvidos, mãos, pés, genitália, períneo ou comprometendo a pele sobre as principais articulações; QUEIMADURAS QUÍMICAS QUEIMADURAS ELÉTRICAS TRANSFERÊNCIA DE DOENTES Anna lillian canuto bittencourt 3. Queimaduras de espessura total em qualquer extensão, em qualquer grupo etário; 4. Queimaduras elétricas mais graves, incluindo lesões por raios (que podem ocasionar a lesão de quantidade importante de tecidos profundos e resultar em insuficiência renal aguda e outras complicações); 5. Queimaduras químicas importantes; 6. Queimaduras por inalação; 7. Queimaduras em doentes com doenças prévias que podem complicar o atendimento, prolongar a recuperação ou elevar a mortalidade; 8. Qualquer doente queimado, no qual o trauma concomitante aumente o risco de morbidade e mortalidade, pode ser tratado inicialmente em um centro de trauma, até que esteja estável, antes de ser transferido para um centro de queimados; 9. Crianças com queimaduras atendidas em hospitais sem pessoal qualificado ou sem equipamentos para seucuidado devem ser transferidas para um centro de queimados dotado desses recursos; 10. Queimaduras em doentes que irão necessitar de suporte especial, tanto do ponto de vista social como emocional, ou de reabilitação prolongada, incluindo suspeitas de negligência ou abuso de crianças. • Choque hipovolêmico; • Infecção e sepse; • Coagulopatia e CIVD; • Síndrome compartimental; • Rabdomiólise; • Acidose lática; • Íleo paralítico; • HDA - Úlceras de Curling; • Colecistite alitiásica; • Lesão de Marjolin. A ATLS. 9°ed. SABISTON, David C. Sabiston Tratado de Cirurgia: As bases biológicas da prática cirúrgica moderna. In: Sabiston tratado de cirurgia: as bases biológicas da prática cirúrgica moderna. 1999. p. 1103-1103. REFERÊNCIAS COMPLICAÇÕES
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