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TOPICOS ESPECIAIS EM Roberto Gandulfo @portuguescombetinho youtube.com/omorfologista ANÁLISE SINTÁTICA [[O menino [(que) eu vi [_ sair mais cedo]] [está na coordenação]]. [[Rafael] [disse [que não encontrou [o documento [que eu pedi]]]]]. [[Meu filho] [não passou na prova, [ainda [que estudasse muito]]]. [[[AAdn] N [AAdn]] [V [[AAdn] N [AAdn]] [P [[AAdn] N [AAdn]]] Paulo, [∅ [que é meu professor]], me ajuda quando preciso. Uma proposta para a análise sintática Roberto Gandulfo Da sintaxe do período simples .................................................................................................................... 3 1. Formação dos sintagmas ................................................................................................................. 3 1.1. O sintagma nominal (SN) ............................................................................................................ 3 1.2. O sintagma adjetival (SA)........................................................................................................ 3 1.3. O sintagma adverbial (SAdv) ................................................................................................. 3 1.4. O sintagma preposicional e o conjuntivo ......................................................................... 3 1.5. O sintagma verbal (SV)............................................................................................................ 4 1.6. O sintagma oracional (SO) ..................................................................................................... 4 1.7. Sobre o adjunto adverbial e o aposto ................................................................................. 4 1.8. Coordenação ............................................................................................................................. 4 2. O sujeito e o objeto direto .............................................................................................................. 5 3. Objetos elípticos e correlacionados ............................................................................................6 4. O objeto indireto e o adjunto adverbial ...................................................................................... 7 5. A aposição, o aposto ......................................................................................................................... 8 6. Os “adjuntos adnominais explicativos” .......................................................................................9 Da subordinação oracional ......................................................................................................................... 11 1. Relação sintagmática....................................................................................................................... 11 2. Formas oracionais ........................................................................................................................... 12 3. Oração subordinada substantiva ................................................................................................ 12 3.1. Desenvolvida............................................................................................................................ 12 3.2. Reduzida ................................................................................................................................... 13 3.3. Justaposta ................................................................................................................................. 13 4. Oração subordinada adjetiva ....................................................................................................... 13 4.1. Desenvolvida............................................................................................................................ 13 4.2. As funções do pronome relativo ........................................................................................ 13 4.3. Reduzida ................................................................................................................................... 15 5. Oração subordinada adverbial .................................................................................................... 15 5.1. Desenvolvida............................................................................................................................ 15 5.2. Reduzida ................................................................................................................................... 15 Casos especiais .............................................................................................................................................. 16 5.3. Orações adjetivas complexas .............................................................................................. 16 5.4. Orações adjetivas ou adverbiais “justapostas” ............................................................... 16 5.5. Orações justapostas ou adjetivas?..................................................................................... 17 5.6. Orações modais e conformativas ...................................................................................... 17 5.7. Sujeito acusativo: divergência ............................................................................................ 18 5.8. A construção “o que” ............................................................................................................. 19 Exemplos ......................................................................................................................................................... 19 Da sintaxe do período simples 1. Formação dos sintagmas A formação dos sintagmas na gramática normativa possui alguns problemas; o principal deles é que não considera preposições e conjunções elementos nucleares de sintagma, quando o são, porque todo vocábulo evoca um sintagma próprio. Na verdade, assim é que os sintagmas são formados. Mas, na intenção de simplificar a análise gramatical, apresentaremos essa mesma descrição, talvez com mudanças um pouco superficiais, na intenção de solucionar outros problemas de descrição gramatical. 1.1. O sintagma nominal (SN) Nós consideraremos que pertencem ao sintagma nominal o nome – seu núcleo –, o adjunto adnominal, o complemento nominal e o aposto que a ele se refere. (1) [[o]AAdn [menino]N [lindo]AAdn]SN (2) [[a]AAdn [construção]N [do apartamento]CN]SN (3) [[Paulo]N, [meu professor]AP]SN 1.2. O sintagma adjetival (SA) O sintagma adjetival poderá conter o adjetivo – seu núcleo –, o intensificador e o complemento nominal. (4) [[muito]AAdv [lindo]A]SA (5) [[igual]A [a mim]CN]SA (6) [[parecido]A [demais]AAdv]SA 1.3. O sintagma adverbial (SAdv) O sintagma adverbial poderá conter o advérbio – seu núcleo –, o intensificador e o complemento nominal. (7) [[muito]AAdv [intensamente]Adv]SAdv (8) [[igualmente]Adv [a mim]CN]SAdv 1.4. O sintagma preposicional e o conjuntivo É fato que a preposição e a conjunção evocam sintagmas próprios, mas, por não estarem associados a uma função sintática na gramática tradicional, apenas os isolaremos na análise sintática. (9) Preciso d[a bebida]SN (10) Ele disse que [estava doente]SO 1.5. O sintagma verbal (SV) É o que tradicionalmente se conhece por predicado, ou seja, a estrutura formada pelos elementos evocados pelo verbo, com exceção do sintagma do sujeito. (11) Eu [gosto de bolo]SV (12) Ele [queria uma ajuda agora]SV 1.6. O sintagma oracional (SO) O sintagma oracional representa a oração inteira; seu núcleo é o próprio verbo. (13) [Eu gosto de bolo]SO (14) [Ele estava doente]SO Não faremos aqui distinção entre predicado verbal e nominal, porque acredito que essa distinção, além de inútil, é problemática, porque pode haver orações com mais de um predicado. Que termos então? Um predicadobinominal? Um predicado verbobinominal? É mais simples dizer que o sintagma verbal é o predicado e ponto-final. 1.7. Sobre o adjunto adverbial e o aposto Existem casos de adjuntos adverbiais e de apostos que se referem a toda a oração. Nesse caso, diremos que esses termos estão ligados ao SV, e não ao verbo em si, como naturalmente se imagina. (15) Adjunto adverbial associado ao verbo: Eu [comi bolo [ontem]]. (16) Adjunto adverbial associado à oração: [Ele [foi ao colégio] [rapidamente]] 1.8. Coordenação Veja o exemplo a seguir: (17) Eu comprei frutas e legumes. O verbo comprar é transitivo direto. Agora, há uma questão: em “frutas e legumes” há dois objetos diretos coordenados ou um único objeto direto com núcleos coordenados? Nós entenderemos que se trate da segunda opção. Então, suporemos que existe um sintagma, chamado sintagma coordenativo (SC), responsável por estabelecer a coordenação entre elementos. (18) Eu comprei [[frutas]OD e [legumes]OD]SC O complemento do verbo comprei é o sintagma coordenativo. Isso vale para qualquer função sintática coordenada. 2. O sujeito e o objeto direto Alguns autores tentam atribuir alguma interpretação semântica ao sujeito e ao complemento do verbo, fazendo associações a “quem efetiva” e “quem recebe” a ação verbal. Mas há duas contra-argumentações, que devem ser levadas em consideração: a) Nem sempre o verbo indicará ação; b) Nem sempre as posições de sujeito ou de objeto receberão esses casos (de agente e de paciente). Há casos em que, na verdade, parece que a situação é oposta: o sujeito é paciente, e o objeto, agente: (19) João apanhou do Pedro. Nesse caso, parece claro que o termo [João], por mais que represente o sujeito da oração, está recebendo a ação verbal, enquanto [Pedro] a executa. Portanto, entendemos que o sujeito e o objeto são, antes de qualquer outra classificação, posições sintáticas, que serão preenchidas por estruturas lexicais. Além disso, podemos, sim, assumir que o sujeito é aquele que se antepõe ao verbo, enquanto o objeto é aquele que se lhe pospõe, porque essa é a ordem natural das sentenças em português. Quando porventura o sujeito ou o objeto aparecem em outra posição, então eles sofreram deslocamento, ou seja, eles estiveram naquela posição em algum momento. (20) A Maria comeu [o bolo]. > [O bolo], a Maria comeu ___. Mas, se eu recebo um texto em que há deslocamento, como posso descobrir qual é o sujeito e qual é o objeto? Bem, existem pelo menos três sinalizadores importantes: a concordância, a passividade e a regência, nessa ordem. Primeiro, deve-se avaliar a concordância: o sujeito concorda com o verbo; o objeto não. Então, o termo que estiver em concordância com o verbo será o sujeito. (21) A música cantavam os pássaros. Independentemente do sentido e da posição em que aparecem os termos, percebemos facilmente que [os pássaros] é o sujeito da oração, porque tanto esse termo quanto o verbo estão flexionados no plural. O termo [a música] é objeto, e não sujeito, porque não há concordância entre ele e o verbo. O segundo fator a ser avaliado é a passividade. Na passagem à voz passiva, o objeto direto se torna sujeito; o antigo sujeito, por sua vez, se torna agente da passiva: um termo preposicionado. Então, o termo que receber preposição na passagem à voz passiva era sujeito, e não objeto. (22) [Os pássaros]1 cantavam [a música]2. > [A música]2 era cantada pel[os pássaros]1. Sabemos, pela passagem à voz passiva, que [os pássaros] é sujeito na voz ativa, porque, na voz passiva, ele recebeu preposição. O termo [a música] não recebe preposição nem no primeiro nem no segundo caso, portanto trata-se de um objeto direto. O terceiro e último caso a ser avaliado, caso todos os outros não sejam decisivos, é a regência verbal. (23) As músicas cantavam os pássaros. Para chegar a uma conclusão, avaliamos a regência do verbo, que sabemos que se comporta desta forma: (24) [Alguém] canta [algo]. Isso significa que o termo que indica um ser animado é o sujeito. Então, em (5), [os pássaros] é sujeito, e [as músicas], objeto direto. 3. Objetos elípticos e correlacionados Por economia linguística, tendemos a eliminar objetos que já tenham sido mencionados ou que, no contexto, pareçam facilmente interpretáveis ou remissíveis. Mas ressalto o fato de que essa elipse não é apenas frequente; ela é altamente recorrente. Vejam- se estes dois casos: (25) – Quando você vai acordar o Lucas? – Já acordei! Nós devemos notar um fato: tanto na primeira fala quanto na segunda, o verbo acordar é transitivo direto; porém, na segunda, o complemento foi omitido por ser óbvio. É evidente que, naquele contexto, a resposta se referia ao Lucas, e não a outra pessoa. Então, não devemos interpretar que o verbo acordar na segunda fala seja intransitivo; ele é tão transitivo quanto o primeiro, mas seu objeto está elíptico. (26) Já acordei [o Lucas]! > Já acordei [Ø]! Outro grupo que costuma ser fato típico de elipse são os objetos correlacionados. Vejam-se estes exemplos: (27) Eu levei Maria [de casa ao colégio]. (28) Paulo traduz textos [do português para o inglês]. (29) Eu fui [da minha casa à sua]. Esses objetos – formados pelo grupo prepositivo de...a – serão interpretados aqui como um só. Na cadeia sintática, [de casa ao colégio] é um único objeto. (30) Paulo traduz textos para o inglês. Deve-se notar, ainda, que, até mesmo em frases como (20), há supor um elemento elíptico ali. Se você traduz textos para o inglês, certamente o faz a partir de uma língua. Mas, provavelmente a partir do contexto, fica óbvio que a tradução, por exemplo, parte do português. Sabemos que Luft, em seu dicionário de regência verbal, divide esse complemento em dois objetos indiretos, porém apresento duas contrapropostas a esse fato. Primeiro: a valência verbal máxima para verbos em quaisquer línguas é três1, então já seria impossível catalogar verbos com três complementos. Além disso, a ligação entre esses dois elementos é forte a ponto de evitar operações simples como o deslocamento. 1 A valência engloba o sujeito e os complementos, então um verbo qualquer só pode assumir dois complementos. (31) Paulo traduz textos [do português para o inglês]. (32) *[Para o inglês], Paulo traduz textos [do português]. Então, assumiremos, a partir deste ponto, que sempre se pode supor um grupo [de A a B] com certos verbos que indicam noções de intervalo (de um lugar a outro, de uma língua a outra, etc.), e ele assumirá, conjuntamente, uma única função sintática. (33) Eu levei Maria [de casa ao colégio]. > Eu levei Maria [Ø ao colégio]. Em frases como (23), poderemos, tranquilamente, assumir que [ao colégio] seja objeto indireto, por uma questão de simplificação de análise sintática. Mas sabemos que [ao colégio] na verdade supõe um grupo [de X] antes, que foi elidido, por ser óbvio. 4. O objeto indireto e o adjunto adverbial Infelizmente, esta é uma larga discussão, que não merecia ser assim, tão extensa. O adjunto adverbial é um termo de natureza acessória, isso significa que ele não pode ser exigido por nenhum outro elemento. Não pode haver discussão em relação a isso. Contudo, há um caso especial em que essa discussão ganha repercussão: os verbos de movimento (ir, levar, chegar, etc.), em sentenças como esta: (34) Ontem, eu fui [à festa]. A discussão circunda um fenômeno morfossintático. É evidente que há uma relação de regência nesse caso. Todavia, quando criamos uma pergunta com foco nesse segmento, uma das possibilidades é a sentença apresentada em (8). (35) [Aonde] você foi ontem? Então, o fato é que “o onde não pode funcionar como núcleo do objeto indireto de um verbo, porque ele é um advérbio, e apenas palavras de valor substantivo podem executar tal função”. Entretanto, essa argumentação não é cabível. Nesse caso, o onde tornou-se substantivopor conversão (“derivação imprópria”), fato mais que recorrente na gramática do português2. (36) Eu gosto d[aqui]. (37) Desde [quando] você está namorando com ele? Outra argumentação é que o suposto adjunto está, nesse caso, carregando valor de lugar, circunstância adverbial. Nada obstante, não há sequer um autor que diga que as indicações de tempo, lugar, modo, etc. sejam exclusivamente adverbiais. Podemos encontrar, inclusive, objetos indiretos com indicação de tempo, por exemplo (“Eu gostei muito [da semana passada]”). A indicação do objeto indireto não pode ser fator de análise sintática, senão sua própria relação morfossintática com os demais elementos da sentença, que claramente mostra o seu valor integrante, e não acessório. 2 O caso de “estou em casa” e “estou aqui” merece menção exclusiva, que será feita mais adiante. Então, muito naturalmente, afirmamos que o [aonde] em (8) e o [à festa] em (7) são objetos indiretos legítimos, com a ressalva de que os elementos que os preenchem são substantivos seja primitivos, seja convertidos. Vejamos, então, os seguintes exemplos: (38) Eu levei Maria [ao colégio]. (39) Já cheguei [ao parque]. Os termos destacados em (11) e em (12), bem como em (7), são objetos indiretos legítimos, sem ressalvas, porque, sem eles, a sentença não recebe interpretação, isto é, sente-se-lhes a falta sintaticamente. (40) *Eu levei Maria3. (41) *Já cheguei. 5. A aposição, o aposto Nós devemos reparar que a aposição – processo pelo qual geramos o aposto – é apenas um caso especial de coordenação de elementos. Na verdade, estamos coordenados dois elementos equivalentes: (42) Marcus, [meu orientador], sempre me tira dúvidas de sintaxe. A aposição representa uma relação de equivalência (A=B). Por essa frase, sabemos que Marcus é meu orientador, e meu orientador é Marcus. Além disso, por tratar-se de uma versão de coordenação, o aposto sempre deverá ter o valor do termo a que se referir, isto é, substantivo ou, mais raramente, adverbial. Os gramáticos ainda apresentam outros tipos de aposto. a) Aposto explicativo: (43) Marcus, [meu orientador], sempre me tira dúvidas de sintaxe. b) Aposto enumerativo: (44) Há vários problemas aqui: [o vazamento, o mau cheiro, a sujeira]. c) Aposto distributivo: (45) Júlia e Marina passaram no vestibular: [esta para Direito, aquela para Economia]. d) Aposto resumitivo: (46) Nem o Paulo, nem o Marcus, (nem) ninguém falou comigo! Nessa frase, o “nem” é facultativo. Aliás, por ser o “nem” uma conjunção coordenativa, essa é uma clara demonstração de que o aposto tem valor coordenativo. 3 Os asteriscos (*) indicam agramaticalidade. Além disso, essas frases só são agramaticais diante do contexto. e) Aposto nominativo/restritivo: (47) A letra [pê] sempre representa o fonema /p/. f) Aposto de oração4: (48) Não aparece vogal aberta antes consoante nasal, [fato largamente relatado na literatura]. 6. Os “adjuntos adnominais explicativos” Na literatura há relatos dos chamados “adjuntos adnominais explicativos”. (49) O homem, mortal, vive lutas diárias. O adjunto adnominal aparece por meio de uma operação sintática chamada adjunção. A adjunção cria um membro dentro de um mesmo sintagma; no caso do adjunto adnominal, esse membro pertencerá ao sintagma nominal. Dessa forma, não deverá haver, naturalmente, pausa fonológica entre o nome e esse adjunto. No entanto, claramente há pausa em (31). Então, como deveremos proceder à análise? Na verdade, suporemos uma proposta teórica que se encaixe naquilo a que chamamos adjunto adnominal e aposto. Primeiro, o adjunto adnominal é naturalmente restritivo; isso é um fato. Então, faremos a seguinte suposição: (50) O homem, [[Ø]N [mortal]AAdn]AP, vive lutas diárias. O elemento [Ø] é um hiperônimo teórico de “homem”. Poderíamos pensar, por exemplo, em criatura. (51) O homem, [[criatura]N [mortal]AAdn]AP, vive lutas diárias. Mas isso serve apenas para esclarecer o que acontece em (32), porque, na verdade, o substantivo [Ø] é teórico; trata-se de um substantivo hiperônimo de “homem”, que sofre restrição pelo adjunto “mortal”. O termo [Ø mortal] é um aposto explicativo. Então, na verdade, não se trata de adjetivo com função de aposto, e sim de aposto com núcleo omisso. O mesmo se diga das orações adjetivas explicativas: (52) O homem, [[Ø]N [que é mortal]AAdn]AP, vive lutas diárias. Entenderemos, novamente, que não existem orações adjetivas explicativas. Na verdade, todas as orações adjetivas são, por natureza, restritivas. Quando elas são isoladas por pausas fonológicas, aparece um substantivo teórico, hiperônimo ao antecedente, que encabeça o aposto explicativo. A oração, então, restringe esse substantivo omisso, e não o antecedente da pausa. 4 O aposto de oração é aquele que se refere ao predicado inteiro; o aposto oracional é um aposto em forma de oração, isto é, uma oração subordinada substantiva apositiva! Clíticos Há uma certa divergência na literatura em relação à definição de clíticos. Na fonologia, são clíticos os elementos que pertencem a um grupo clítico, mas não a uma palavra fonológica. Contudo, nas gramáticas portuguesas, usa-se clítico para referir-se aos pronomes oblíquos átonos. Portanto, são clíticos me, te, se, nos, vos, o e lhe (e flexões). 1. Clíticos me, te, nos, vos Esses pronomes podem atuar como objeto direto, como objeto indireto, como complemento nominal ou como adjunto adnominal. (1) Ele não [me]OD procurou. (2) Meu amigo não [te]OI mandou a mensagem? (3) O documento [nos]CN foi muito útil! (4) O amor roubou-[vos]AAdn o tempo. 2. Clítico o Esse clítico só pode atuar como objeto direto. (5) Meu amigo não [a]OD alertou do problema? 3. Clítico lhe Esse clítico pode atuar como objeto indireto, complemento nominal e adjunto adnominal. (6) Não [lhe]OI enviaram nenhuma mensagem? (7) Mas [lhe]CN fizeram alguma menção no e-mail? (8) Espero que [lhe]AAdn comprem a roupa em breve. 4. Reflexividade Nós dizemos que um clítico é reflexivo quando ele se refere ao sujeito, ou seja, com ele concorda em número e pessoa. Todos os clíticos podem ser reflexivos, a depender do contexto, com exceção de o, lhe e se. Os clíticos o e lhe nunca serão reflexivos, e o se sempre será reflexivo. (9) [Eu]i [me]i cortei com a faca. (10) [Tu]i [te]i vestiste rápido. (11) [Nós]i [nos]i envolvemos muito rápido. (12) [Vós]i [vos]i esquecestes do compromisso? (13) [Meu amigo]i [se]i machucou ontem. (14) *[Ele]i [o]i viu. (15) *[Ele]i [lhe]i respondeu. As frases (14) e (15) são, sim, possíveis e gramaticais. A questão que tento demonstrar é que jamais se poderia interpretar que [Ele] e [o] se referem à mesma entidade: certamente são entidades diferentes. O mesmo se diga de (15). Outra questão interessante é a classificação dos clíticos. Eles podem ser reflexivos ou parte integrante do verbo, quando o verbo não pode ser conjugado sem ele. Não fizemos essa distinção neste capítulo – apesar de concordarmos que ela exista –, porque eu me referi à reflexividade em sentido genérico. 5. O clítico se O clítico se pode atuar como como objeto direto, como objeto indireto ou como complemento nominal. (16) Ele [se]OD cortou com a faca. (17) O menino [se]OI falou a verdade no espelho. (18) O autor não [se]CN fez menção no e-mail. No entanto, ainda há mais um emprego útil: o de partícula de indeterminação do sujeito e o de partícula apassivadora. (19) Precisa-[se]PIS de ajudantes na loja. (20) Aluga-[se]PIS casas nesta região. (21) Alugam-[se]PA casas nesta região. Da subordinação oracional 1. Relação sintagmática Nós nos basearemos em níveis de análise e na lei do constituinte imediato. Vamos usar um exemplo qualquer de oração subordinada: (1) Mateus disse que estava doente. Tradicionalmente, os gramáticos fazem uma divisão deorações: [Mateus disse] e [que estava doente]. Nós não entenderemos que isso seja o adequado, porque a oração [que estava doente] funciona como objeto direto para o verbo disse, então ela pertence à primeira oração. Na verdade, para a primeira oração, a segunda funciona como um termo simples. Então, a divisão de orações deveria ser feita desta forma: (2) [[Mateus]Suj [[disse]VTD [que estava doente]OD]P] Perceba que a oração [que estava doente] funciona simplesmente como objeto direto quando analisamos à luz da primeira. Em seguida, a segunda oração será dividida internamente. (3) [[Mateus]Suj [[disse]VTD [que [Ø]Suj [[estava]VL [doente]PS]P]OSSOD]P]OP 2. Formas oracionais Existem três formas oracionais: desenvolvida, reduzida e justaposta. Primeiro, deveremos entender o conceito de conectivo padrão e de forma conjugada. a) Conectivo padrão: Cada tipo de oração possui um conectivo padrão. Nós suporemos que existem dois conectivos padrão: as conjunções subordinativas (para as orações substantivas e adverbiais) e os pronomes relativos (para as orações adjetivas). b) Forma conjugada: Uma oração pode ter verbo conjugado ou não. O verbo estará conjugado quando ele tiver algum tempo e modo específicos. O verbo não estará conjugado quando ele estiver em alguma de suas formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio). Dessa forma, poderemos descrever as três formas oracionais desta maneira: a) Forma desenvolvida: quando a oração possui verbo conjugado e é introduzida pelo conectivo padrão. b) Forma reduzida: quando a oração possui verbo em forma nominal; elas podem ser introduzidas por preposição ou não. c) Forma justaposta: quando a oração possui verbo conjugado e não é introduzida pelo conectivo padrão; nesse caso, elas geralmente serão introduzidas por pronome indefinido (que, quem, qual, quanto) ou advérbio indefinido (quando, como, onde). Sem adentrar aspetos muito teóricos, todas as orações justapostas são de transposição substantiva, necessariamente. (4) Desenvolvida: Você sabe [se o João passou]? (5) Reduzida: É possível [saber isso]. (6) Justaposta: Mas você sabe [como posso descobrir isso]? 3. Oração subordinada substantiva A oração subordinada substantiva é aquela que, em relação à principal, funciona como um sintagma nominal. (7) João disse [a verdade]SN. (8) João disse [que está doente]OSS. A oração substantiva pode desempenhar várias funções. 3.1. Desenvolvida (9) É necessário [que você estude mais]Suj. (O.S.S. subjetiva) (10) O importante é [que você está bem]PS. (O.S.S. predicativa [do sujeito]) (11) Não sei [se poderei participar do projeto]OD. (O.S.S. objetiva direta) (12) Ele gosta [de que passem a mão em sua cabeça]OI. (O.S.S. objetiva indireta) (13) Tenho certeza [de que tudo correrá bem]CN. (O.S.S. completiva nominal) (14) Só sei de uma coisa: [que algo está errado]AP. (O.S.S. apositiva) 3.2. Reduzida (15) É importante [você focar mais]Suj. (O.S.S. subjetiva reduzida de infinitivo) (16) A ideia é [trabalhar muito]PS. (O.S.S. predicativa [do sujeito] reduzida de infinitivo) (17) Meu amigo decidiu [fazer academia]OD. (O.S.S. objetiva direta reduzida de infinitivo) (18) Você (me) viu [saindo de lá]OD? (O.S.S. objetiva direta reduzida de gerúndio) (19) Você me viu [saindo de lá]PO? (O.S.S. predicativa do objeto reduzida de gerúndio)5 (20) Ele gosta [de receber carinho]OI. (O.S.S. objetiva indireta reduzida de infinitivo) (21) Você seria capaz [de fazer isso]CN? (O.S.S. completiva nominal reduzida de infinitivo) (22) Só há um jeito: [estudar muito]AP. (O.S.S. apositiva reduzida de infinitivo) (23) Você passará assim: [dedicando-se muito]AP. (O.S.S. apositiva reduzida de gerúndio) 3.3. Justaposta (24) É feliz [quem estuda muito]Suj. (O.S.S. subjetiva justaposta) (25) O importante é [quanto tem na conta]PS. (O.S.S. predicativa [do sujeito] justaposta) (26) Não sei [quando isto acabará]OD. (O.S.S. objetiva direta justaposta) (27) Gosto [de como você me olha]OI. (O.S.S. objetiva indireta justaposta) (28) Isto é igual [a quando nos conhecemos]CN. (O.S.S. completiva nominal justaposta) (29) Só preciso de uma pessoa: [quem me quer]AP. (O.S.S. apositiva justaposta) (30) O trabalho foi feito [por quem estava lá]AgPas. (O.S.S. agentiva da passiva justaposta) 4. Oração subordinada adjetiva A oração adjetiva funciona, em relação à principal, como um sintagma adjetival. (31) [O jovem [estudioso]AAdn]Suj tira boa nota. (32) [O jovem [que estuda]AAdn]Suj] tira boa nota. Além disso, ela sempre desempenhará a função de adjunto adnominal em relação a ela. 4.1. Desenvolvida As orações subordinadas adjetivas desenvolvidas são iniciadas por pronome relativo na configuração tradicional6. (33) Não conheço a pessoa [de quem você está falando]AAdn. (O.S.A.) 4.2. As funções do pronome relativo Estes são os pronomes relativos do português: que, quem, o(a)(s) qual(is), quanto(a)(s), cujo(a)(s), como, quando e onde. 5 Esse é um caso de dupla análise, divergente entre autores. Ver seção 5.5. 6 No português falado – que não está sendo analisado neste caso –, não há pronome relativo, e sim uma “conjunção relativa”, que não exerce função sintática alguma. O relativo que pode desempenhar praticamente todas as funções sintáticas, porém ele não pode aparecer antecedido por a) preposição com duas ou mais sílabas, b) locução prepositiva ou c) as preposições sem e sob. (34) Eu vi o cara [[que]Suj falou com você ontem]. (sujeito) (35) O cidadão [[que]PS sou] não permite isso. (predicativo do sujeito) (36) O prato [[que]OD eu comi] está bem baratinho. (objeto direto) (37) O menino [[de que]OI falei] é bonito. (objeto indireto) (38) A única questão [[de que]CN eu tinha certeza] eu errei. (complemento nominal) (39) O momento [[em que]AAdv o vi] foi incrível. (adjunto adverbial) (40) *Aquele foi o assunto sobre que falamos. (41) *Aquele foi o assunto a respeito de que falamos. O pronome relativo (ou melhor, a locução pronominal relativa) o qual também pode exercer praticamente todas as funções, porém ela não pode aparecer ou a) em orações adjetivas com pausa, ou b) antecedida de preposição, ou c) ambos. Isso significa que ela não pode aparecer numa adjetiva sem pausa se não estiver preposicionado. (42) Meu filho, [[o qual]Suj falou com você ontem], está aqui. (sujeito) (43) Aquela mesa, [[a qual]OD eu vi], é bonita. (objeto direto) (44) O menino [[do qual]OI eu falei] é bonito. (objeto indireto) (45) A única questão [[da qual]CN eu tinha certeza] eu errei. (complemento nominal) (46) O momento [[no qual]AAdv o vi] foi incrível. (adjunto adverbial) (47) * Meu filho o qual falou com você ontem está aqui. (48) Aquele foi o assunto sobre o qual falamos. (49) Aquele foi o assunto a respeito do qual falamos. O pronome relativo quem sempre aparece antecedido de preposição, portanto ele só assume funções preposicionadas. Além disso, ele só pode se referir a termos personativos. (50) O menino [[de quem]OI eu falei] é bonito. (objeto indireto) (51) O homem [[a quem]CN eu era igual] está viajando. (complemento nominal) (52) A pessoa [[com quem]AAdv eu viajei] é meu pai. (adjunto adverbial) O relativo quanto obrigatoriamente se refere a um termo que contenha tudo ou todo(a)(s) e concorda com ele. Além disso, ele só pode assumir duas funções: sujeito e objeto direto. (53) Vou chamá-lo todas as vezes [[quantas]Suj forem necessárias]. (sujeito) (54) Tudo [[quanto]OD eu lhe disse] é verdade. (objeto direto) O pronome relativo cujo é especial por várias razões. A primeira é que ele é o único que pode funcionar como adjunto adnominal. Além disso, por essa razão, ele é insubstituível, ou seja, não pode ser trocado por nenhum outro. (55) O moço [[[cuja]AAdn bolsa]Suj caiu] já foi chamada. Além disso, na contramão dos outros relativos variáveis, o cujo concorda com o consequente, e não com o antecedente.Os relativos quando, como e onde são os relativos adverbiais, e sempre desempenharão função de adjunto adverbial. (56) O momento [[quando]AAdv o conheci] foi lindo. (57) Não gostei da maneira [[como]AAdv você falou comigo]. (58) O lugar [[onde]AAdv eu estava] é lindo. 4.3. Reduzida (59) Ele foi o primeiro [a entrar na sala] ontem. (O.S.A. reduzida de infinitivo) (60) Havia muitas crianças [brincando na rua]. (O.S.A. reduzida de gerúndio) (61) Ficaram lindos os trabalhos [feitos pelos alunos]. (O.S.A. reduzida de particípio) 5. Oração subordinada adverbial As orações subordinadas adverbiais são aquelas que substituem sintagma adverbiais. Porém, há um detalhe a ser considerado neste caso: a Gramática Normativa costuma indicar um número muito maior de adverbiais do que realmente existe. Vejamos um detalhe: (62) Ele conseguiu passar, [embora [sentisse dificuldades]SO]AAdv. (63) Ele conseguiu passar, [apesar d[as dificuldades]SN]SP. (64) Ele conseguiu passar, [apesar de [que [sentisse dificuldades]SO]SP. Nós devemos perceber que os exemplos de (63) e de (65) são diferentes. Em (63), realmente houve a adição de uma oração essencialmente adverbial, introduzida por uma conjunção adverbial verdadeira. Em (64), o sintagma preposicional (indicado por SP) continha, dentro dele, um SN. Em (65), houve simplesmente a transposição do SN de (64) para uma oração. Isso significa que a oração subordinada em (65) não é adverbial, e sim substantiva, e o sintagma preposicional é formado por uma locução adverbial (preposição seguida de sintagma nominal). Um detalhe importante: o que em (65) é uma conjunção integrante, justamente por iniciar uma oração substantiva. Por haver muitas circunstâncias diferentes para os advérbios, assumo que os exemplos abaixo não são exaustivos, isto é, pode haver mais classificações possíveis. 5.1. Desenvolvida (65) Ele é mais bonito [que eu (sou bonito)]. (O.S.Adv. comparativa) (66) [Embora soubesse muito], não passou na prova. (O.S.Adv. concessiva) (67) Nós sairemos [caso vocês arrumem seus quartos]. (O.S.Adv. condicional) (68) Fiz o bolo [conforme a receita mandava (fazer o bolo)]. (O.S.Adv conformativa) (69) Ele estudou tanto [que passou sem esforço]. (O.S.Adv. consecutiva) (70) [Quanto mais estuda], mais aprende. (O.S.Adv. proporcional) (71) Apague a luz [quando sair da sala]. (O.S.Adv. temporal) 5.2. Reduzida (72) [Contando mentiras ao pai], ele se chateou. (O.S.Adv causal reduzida de gerúndio) (73) [Sabendo o conteúdo], tirou nota baixa. (O.S.Adv. concessiva reduzida de gerúndio) (74) [Entregues os papéis], procederei ao julgamento. (O.S.Adv. temporal reduzida de particípio) (75) [Em se tratando de futebol], não sei muito. (O.S.Adv. de assunto reduzida de gerúndio) Casos especiais 5.3. Orações adjetivas complexas Este caso não é divergente, mas assumo que causa problema para muitos alunos. Estas são situações em que o pronome relativo não está, de fato, na oração adjetiva. Estranho, não? Mas vamos ver como isso funciona. (1) Onde está o menino que você disse que viu? Como cindiríamos sintaticamente essa sentença em orações? Bem, nós temos certeza de que o grupo [que você disse que viu] funciona como adjunto adnominal para o menino, então há aí uma oração adjetiva. (2) Onde está [o menino [que você disse que viu]AAdn]Suj? Além disso, sabemos que o pronome relativo substitui o termo antecedente. Então, podemos substituir [que] por [o menino]. (3) [que você disse que viu]AAdn > [você disse que viu o menino]AAdn Agora procedemos à análise da sentença modificada, que se mostra simples. (4) [você disse [que viu o menino]OSSOD]AAdn Mas devemos lembrar que [o menino] é o substitutivo do antigo pronome relativo. Então, acontece que o pronome relativo nasceu como objeto direto do verbo viu, depois passou ao começo do grupo [que você disse que viu], porque ele deve estar ao lado do seu antecedente. (5) Onde está o menino [você disse [que viu [o menino]OD]OSSOD]AAdn? Onde está o menino [você disse [que viu [que]OD]OSSOD]AAdn? Onde está o menino [(que)i você disse [que viu [___i]OD]OSSOD]AAdn? 5.4. Orações adjetivas ou adverbiais “justapostas” Não existem, e ponto-final. As orações justapostas são substantivas. Para comprová- lo, sugiro que você busque uma “oração subordinada adjetiva ou adverbial justaposta” que não tenha preposição. Não existe, porque é a preposição que realizará a subordinação que fará o sintagma todo (e não só a oração justaposta) ganhar valor de adjunto adnominal. (6) O caderno [de [quem acertar as questões]1]2 ganhará uma estrelinha. No exemplo (6), o sintagma 1 é a oração justaposta, eminentemente substantiva. O sintagma 2 é constituído por uma locução adjetiva. Esse sintagma, inteiro, possui função de adjunto adnominal em relação ao substantivo caderno, mas a oração 1, isoladamente, é resultado da transposição de um substantivo. (7) O caderno [d[o João]] ganhará uma estrelinha. O caderno [de [quem acertar as questões]] ganhará uma estrelinha. O mesmo se diga das “adverbiais justapostas”. (8) Vou viajar [com [quem for meu amigo]1]2. Trata-se do mesmo caso. A oração 1 é uma oração substantiva, que com a preposição com forma uma locução adverbial, de modo que o termo 2 seja interpretado naturalmente como um adjunto adverbial de companhia. Não é possível transpor um advérbio ou um adjetivo simples para uma oração justaposta. Isso é fato. 5.5. Orações justapostas ou adjetivas? No capítulo de orações substantivas, foram mostradas as orações justapostas. Para alguns autores, contudo, entendem que haja outra interpretação para essas sentenças. (9) Eu gosto de [quem] vem falar comigo. (10) Eu gosto d[a pessoa que] vem falar comigo. Para alguns autores, o pronome quem equivale a a pessoa que, como se ele retomasse a si próprio. Nesse caso, ele assume uma função diferente para cada oração e encabeça uma oração subordinada adjetiva (e não substantiva). (11) [Eu gosto de quem [quem vem falar comigo]AAdn] Notamos que o quem é simultaneamente núcleo do objeto indireto de gosto e sujeito de vem falar. Eu, particularmente, prefiro não adotar essa hipótese, porque estudos recentes mostram que, mentalmente, orações justapostas equivalem a sintagmas nominais legítimos, e não adjetivos. 5.6. Orações modais e conformativas Na minha concepção, deve haver certo paralelismo entre os usos de como, quando e onde, uma vez que eles pertencem ao mesmo grupo morfológico. Contudo, há divergência relativamente grande quanto a eles em situações adjuntivas, como se apresenta a seguir: (12) Ele me viu [quando eu entrei na sala]. (13) Eu bati o carro [onde fica o seu prédio]. (14) Eu fiz o bolo [como a receita mandava]. Em (12), é praticamente unânime que quando é uma conjunção adverbial, de modo que [quando entrei na sala] seja uma oração subordinada adverbial temporal. Em (13), há certa dificuldade em ver uma análise paralela. Parece que os autores preferem dizer que onde seja um advérbio relativo condensado, de modo que gere uma oração adjetiva. Em (14), quase que unanimemente, diz-se que a oração destacada é adverbial conformativa. A fim de manter o paralelismo, proponho que todas as orações sejam vistas como adverbiais: a primeira como temporal (como já previa a proposta original), a segunda como locativa e a terceira como modal. Além disso, quando, como e onde devem ser vistos, analogamente, como conjunções adverbiais. Sobre a oração destacada em (14), há importante ressalva. Existem, sim, orações conformativas iniciadas por uma conjunção adverbial conformativa como, mas acredito que haja diferença de sentido entre essas estruturas: (15) Eu fiz o bolo [como a receita mandava]. (16) Eu limpei a casa, [como você pediu]. Suponhamos que a oração destacada em (15) seja modal, e em (16) seja conformativa. Nesse caso, poderemos criar as seguintes reescritas:(17) Eu fiz o bolo como a receita mandava. Eu fiz o bolo da maneira como a receita mandava. (18) Eu limpei a casa, como você pediu. Você pediu que eu limpasse a casa, então eu limpei. Em (17), o como está indicando, de fato, um modo. Portanto, você não está dizendo apenas que a receita mandava você fazer um bolo; ela mandava você fazer um bolo de uma maneira específica. Em (18), por outro lado, o [como você pediu] indica apenas uma conformidade com algo que foi dito antes. Alguém o mandou limpar a casa, e você o fez. A pessoa não disse a você como você deveria limpar a casa, ela apenas disse que você deveria limpar a casa. Então, você lhe cumpriu as ordens. Esse é o sentido pretendido em (18) caso a oração seja conformativa. Perceba que tanto (17) quanto (18) podem mudar de classificação a depender do sentido. Por fim, trago uma ressalva sobre essas orações. Todas trazem uma oração substantiva implícita que pode ser retomada pelo contexto e que, em geral, representam a oração principal. (19) Eu fiz o bolo [como a receita mandava [que eu fizesse o bolo]]. (20) Eu limpei a casa, [como você pediu [que eu limpasse a casa]]. 5.7. Sujeito acusativo: divergência Existe um caso particular de divergência entre autores: (21) Minha mãe me viu jogar bola. Para alguns autores, me é sujeito de jogar, e a oração [(me) jogar bola] é objeto direto de viu. Para outros, me é objeto direto de viu, e a oração [jogar bola] é predicativo do objeto de me. Particularmente, eu compactuo com a primeira análise, porque uma tendência do português brasileiro falado é empregar eu no lugar de me. (22) Minha mãe viu eu jogar bola. Isso mostra que a nossa interpretação mental é que esse elemento seja um sujeito legítimo, e não um objeto. 5.8. A construção “o que” A construção o que aparece em algumas orações, e sua interpretação pode ser controversa. (23) Não sei o que você fez. (24) Meu filho, o que faz Física, é muito estudioso. (25) Ele estudou muito, o que o fez passar. Em (11), entenderemos que o que é uma locução pronominal indefinida, de modo que [o que você fez] seja uma oração subordinada substantiva objetiva direta justaposta. Em (12), o o é um artigo que se refere a um sintagma omisso: [meu filho]. (26) Meu filho, [o [meu filho] que faz Física], é muito estudioso. (27) Meu filho, [o Ø que faz Física], é muito estudioso. Em (13), entenderemos que [o que o fez passar] é um aposto de oração, e o o que também é uma locução pronominal indefinida. Portanto, essa é uma oração subordinada substantiva apositiva justaposta. Exemplos 1) Minha mãe não me deixou brincar na rua. a) Análise 1: [Minha mãe não deixou [(me) brincar na rua]2]1 [Minha mãe não deixou]: oração principal em relação à oração 2. [[[Minha]AAdn [mãe]N]Suj [[não]AAdv [deixou]VTD [(me) brincar na rua]OD]P]OP [(me) brincar na rua]: oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo em relação à oração 1. [(me)Suj [[brincar]VI [n[[a]AAdn [rua]N]]AAdv]P]OSSODRI Nesses casos – em que há verbo causativo ou sensitivo seguido de infinitivo ou gerúndio –, dizemos que o sujeito dos verbos em forma nominal é chamado de sujeito acusativo. É o caso do “me” na análise acima. b) Análise 2: [Minha mãe não me deixou [brincar na rua]2]1 [Minha mãe não deixou]: oração principal em relação à oração 2. [[[Minha]AAdn [mãe]N]Suj [[não]AAdv [me]OD [deixou]VTD [brincar na rua]PO]P]OP [brincar na rua]: oração subordinada substantiva predicativa do objeto reduzida de infinitivo em relação à oração 1. [[Ø]Suj [brincar]VI [n[[a]AAdn [rua]AAdv]P]OSSPORI 2) Aquele foi o menino que eu vi saindo ontem. a) Análise 1: [Aquele foi o menino [eu vi [(que) saindo ontem]3]2]1 [Aquele foi o menino]: oração principal em relação à oração 2. [[Aquele]Suj [[foi]VL [[o]AAdn [menino]N [que eu vi saindo ontem]AAdn]PS]P]OP [eu vi]: oração subordinada adjetiva em relação à oração 1 e principal em relação à oração 3. [[eu]Suj [[vi]VTD [(que) saindo ontem]OD]P]OSA/OP [(que) saindo ontem]: oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo em relação à oração 2. [(que)Suj [[saindo]VI [ontem]AAdv]P]OSSODRI b) Análise 2: [Aquele foi o menino [que eu vi [saindo ontem]3]2]1 [Aquele foi o menino]: oração principal em relação à oração 2. [[Aquele]Suj [[foi]VL [[o]AAdn [menino]N [que eu vi saindo ontem]AAdn]PS]P]OP0 [que eu vi]: oração subordinada adjetiva em relação à oração 1 e principal em relação à oração 3. [[eu]Suj [[vi]OD (que)OD [saindo ontem]PO]P]OSA/OP [saindo ontem]: oração subordinada predicativa do objeto reduzida de infinitivo em relação à oração 2. [(Ø)Suj [[saindo]VI [ontem]AAdv]P]OSSODRI 3) Não sei o que você quer. a) Análise 1: [Não sei o [que você quer]2]1 [Não sei o]: oração principal em relação à oração 2. [(Ø)Suj [[não]AAdv [sei]VTD [[o]N [que você quer]AAdn]OD]P]OP [que você quer]: oração subordinada adjetiva em relação à oração 1. [[você]Suj [[quer]VTD (que)OD]P]OSA b) Análise 2: [Não sei [o que você quer]2]1 [Não sei]: oração principal em relação à oração 2. [(Ø)Suj [[não]AAdv [sei]VTD [o que você quer]OD]P]OP [o que você quer]: oração subordinada substantiva objetiva direta justaposta em relação à oração 1. [(o) [você]Suj [[quer]VTD (que)OD]P]OSSODJ Nesse caso, o “o” é um artigo facultativo que substantiva toda a oração. 4) Sua ideia é igual à que eu tive ontem. [Sua ideia é igual à [que eu tive ontem]2]1 [Sua ideia é igual à]: oração principal em relação à oração 2. [[[Sua]AAdn [ideia]N] [[é]VL [igual [a[a]N [que eu tive ontem]AAdn]CN]PS]P]OP [que eu tive ontem]: oração subordinada adjetiva em relação à oração 1. [[eu]Suj [[tive]VTD (que)OD [ontem]AAdv]P]OSA Há duplicidade de análise morfológica. Em [à], há uma fusão aprep.+(a). O segundo “a” pode ser interpretado ora como pronome demonstrativo (à semelhança de “aquela”), ora como artigo de substantivo elíptico (nesse caso, “ideia”): igual à [ideia] > igual à [Ø]. 5) Aquele é o professor que você disse que viu. [Aquele é o professor [você disse [que viu (que)]3]2]1 [Aquele é o professor]: oração principal em relação à oração 2. [[Aquele]Suj [[é]VL [[o]AAdn [professor]N [que você disse que viu]AAdn]PS]P]OP [você disse]: oração subordinada adjetiva em relação à oração 1 e principal em relação à oração 2. [[você]Suj [[disse]VTD [que viu (que)]OD]P]OSA/OP [que viu (que)]: oração subordinada substantiva objetiva direta em relação à oração 1. [que (Ø)Suj [[viu]VTD (que)OD]P]OSSOD 6) Quem estuda passa. a) Análise 1: [[Quem estuda]1 passa]2 [Quem estuda]: oração subordinada substantiva subjetiva justaposta em relação à oração 2. [[Quem]Suj [[estuda]VI]P]OSSSJ [passa]: oração principal em relação à oração 1. [[Quem estuda]Suj [[passa]VI]P]OP Neste caso, o “quem” é visto apenas como um pronome indefinido/interrogativo. b) Análise 2: [Quem [quem estuda]2 passa]1 [Quem passa]: oração principal em relação à oração 2. [[[Quem]Suj [quem estuda]AAdn]Suj [[passa]VI]P]OP [quem estuda]: oração subordinada adjetiva em relação à oração 1. [[quem]Suj [[estuda]VI]P]OSA Nesse caso, o “quem” é chamado de pronome relativo indefinido, pronome relativo condensado ou pronome relativo sem antecedente, e deve ser desdobrado em “aquele que”. Isso significa que ele assume uma função em cada oração.
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