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TCC_A QUESTÃO DA MORADIA ELEMENTOS PARA REFLEXÃO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL
FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL - FSSO
A QUESTÃO DA MORADIA: ELEMENTOS PARA REFLEXÃO
Milton Filho Rodrigues da Silva
Maceió – AL
2012
MILTON FILHO RODRIGUES DA SILVA
A QUESTÃO DA MORADIA: ELEMENTOS PARA REFLEXÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como requisito para obtenção do grau de Bacharel
em Serviço Social pela Faculdade de Serviço
Social – FSSO.
Orientador: Prof. Dr. José Nascimento de França
Maceió– AL
2012
A QUESTÃO DA MORADIA: ELEMENTOS PARA REFLEXÃO
MILTON FILHO RODRIGUES DA SILVA
Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi
julgado adequado para obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social e aprovado em sua
forma final junto à Faculdade de Serviço Social -
FSSO.
Aprovado em:__________
Apresentado a Banca Examinadora, integrada
pelos Professores:
_____________________________________
Prof. Dr. Jose Nascimento de França
Orientador
_____________________________________
Profª. Msc. Janne Alves Rocha
_____________________________________
Profª. Msc. Elaine Nunes Silva Fernandes
Dedico este trabalho a minha querida mãe Maria
Lenice e o meu pai Milton Alves; aos meus
irmãos, Lenilta, Vilma e Robson; e a minha noiva
Maria do Carmo.
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço a minha família pelo apoio que me deu durante todos os
anos em que estive na universidade. Embora a universidade seja pública, os custos com
transporte, alimentação, material didático e etc., ainda são muito altos o que põe uma
dificuldade a mais para todos os estudantes que nela ingressam, principalmente para os que
saem dos guetos e, infelizmente, não escapei a esta regra. Aproveito a ocasião para agradecer
também a todos os operários, que embora talvez não saibam, todo trabalho expropriado deles
serviu para custear todos os anos que estive nesta universidade.
Agradeço ainda a todos os professores, pois mesmo enfrentando todas as dificuldades
e as deficiências nas estruturas de ensino oferecido pelas universidades públicas, não
deixaram de socializar seu conhecimento. Em especial, agradeço a Profª. Msc. Janne Alves
Rocha e ao prof. Dr. José Nascimento de França por todo apoio que me deram em todos esses
anos e pelas portas que me abriram, oportunizando-me explorar novos campos de
conhecimento.
Sou grato também ao Movimento Estudantil Correnteza e ao Partido Comunista
Revolucionário (PCR), pois foram eles que me deram a oportunidade de ampliar meus
conhecimentos a respeito da realidade social. Não só isso, também possibilitaram o meu
direto envolvimento na árdua luta pela transformação social e a construção de uma sociedade
livre e igualitária, uma sociedade socialista.
[...] a sociedade capitalista não nos oferecesse senão uma
democracia mutilada, miserável, falsificada, uma democracia só
para os ricos, para a minoria. A ditadura do proletariado,
período de transição para o comunismo, instituirá pela primeira
vez uma democracia para o povo, para a maioria, esmagando
ao mesmo tempo, impiedosamente, a atividade da minoria, dos
exploradores. Só o comunismo está em condições de realizar
uma democracia realmente perfeita, e quanto mais perfeita for,
mais depressa se tornará supérflua e por si mesmo se eliminará.
V.I. Lênin, 1917.
Resumo
O déficit habitacional no Brasil constitui um dos principais problemas que afetam a
classe operária, embora não seja exclusividade dela, pois a pequena burguesia, os camponeses
e o lumpemproletariado também sofrem com o problema. Levando em consideração a
relevância dessa questão, no presente trabalho, elaboramos uma interpretação desse problema
na perspectiva do pensamento marxista. Assim, fizemos uma introdução, situando o problema
da moradia como uma das expressões da questão social que afetam a classe operária, que nos
países submetidos ao imperialismo, como o Brasil, torna-se mais agudizada. No primeiro
capítulo, traçamos algumas considerações a respeito do imperialismo, tendo por base Lênin
(1917). No segundo capítulo, elaboramos uma rápida abordagem do processo de
reestruturação do capital, a partir da década de 1970, no mundo e, a partir da década de 1990
do século XX, no Brasil. Já no terceiro capítulo, buscamos fazer uma interpretação do
trabalho publicado por Engels (1887) sobre a questão da habitação e, por fim, fizemos nossas
considerações finais, buscando elementos que possam interpretar e contribuir para mudar a
questão da habitação popular em países submetidos ao imperialismo americano. Não obstante
ser este trabalho uma primeira aproximação, damos por concluída a tarefa de elucidação do
objeto de estudo da nossa pesquisa: os elementos básicos de Engels na sua obra “Contribuição
ao Problema da Habitação” para o entendimento e a intervenção da classe trabalhadora na
questão habitacional nas sociedades submetidas ao imperialismo americano, sobretudo no
Brasil.
Palavras-chave: Sociedade Capitalista, Imperialismo, Reestruturação Produtiva, Habitação.
SUMARIO
Introdução .................................................................................................................................8
1. Reflexões sobre a Sociedade Capitalista Contemporânea ...........................................14
1.1 Ligeiras considerações acerca do Imperialismo e das últimas transformações do
Capital................................................................................................................................. 14
1.2 O pensamento de Lênin sobre Imperialismo..............................................................21
2. Algumas questões a respeito da reestruturação do capital e os impactos no mundo
do Trabalho.............................................................................................................................35
2.1 Breves considerações sobre o pensamento neoliberal e seus impactos na
sociedade contemporânea...................................................................................................47
2.2 Alguns elementos sobre o processo de reestruturação produtiva no Brasil e os
impactos para a classe operária.........................................................................................61
3. A questão da habitação no pensamento de Engels .......................................................81
Considerações finais .............................................................................................................100
Referências ............................................................................................................................104
8
Introdução
De acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
divulgados no ano passado, o déficit habitacional no Brasil é de 7,9 milhões de moradias, o
que corresponde a 14,9% do total de domicílios; mais de 90% deste total estão entre os
trabalhadores que ganham até três salários mínimos. A falta de acesso à moradia é maior nas
zonas urbanas, sobretudo nas regiões metropolitanas, mas não é exclusividade das zonas
urbanas, 1,5 milhões estão nas zonas rurais do total de 7,9 milhões. De acordo com a Revista
Brasileira da Habitação (2011 e 2012), entre as regiões, os problemas são mais graves no
sudeste e no nordeste; nestes o déficit habitacional atinge 36,40% e 34,30% respectivamente,
sendo que os menores déficits estão na região sul com 12,00%, na região norte com 10,30% e
na região centro-oeste com 7,00%.
Entendemos o problema da moradia como uma das várias expressões da Questão
Social, e como tal, é de fundamental importância que seja compreendida como resultado da
contradição entre Capital e Trabalho. Isto porque sua origem está na relação de exploração e
extração da mais-valia da classe operária pela classe capitalista. A Questão Social pode ser
conceituada como um “conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o
surgimento da classe operária impôs no mundo no curso da constituição da sociedade
capitalista. Assim, a Questão Social está vinculada ao conflito capital e trabalho” (Cerqueira
Filhoapud GONÇALVES, 1982, p. 82).
9
De acordo com Mota (2000)
[...] a questão social pode ser considerada com expressão politizada da desigualdade
social, inerente à constituição da sociedade burguesa. Sua emergência e visibilidade
estão organicamente vinculadas à constituição da classe trabalhadora na medida em
que, como sujeito sócio-político coletivo, ela publiciza a pobreza, expondo a
contradição central entre capital/Trabalho, presente no antagonismo das condições
em que ambas as classes se inserem no processo de produção e usufruto da riqueza
socialmente produzida.
Assim, podemos dizer que a Questão Social está diretamente ligada à desigualdade
social e a pobreza gerada pelo modo de produção capitalista. A desigualdade não é um
fenômeno novo e exclusivo da sociedade capitalista.
Em modo de produção pré-capitalista, a pobreza e as desigualdades sociais eram
iminentemente ligadas à escassez, consoante ao baixo de grau de desenvolvimento
das forças produtivas e das relações associadas àquelas. Já no capitalismo adquirem
uma nova lógica e dinâmica, estando associadas à produção de riquezas [...]. Mas
em ambos os casos, a pobreza e as desigualdades sociais podem ser relacionadas
com a divisão de classes e a existência da propriedade privada (Castelo, 2010, p.
87).
De acordo com Marx (1848, p. 7) “a história de todas as sociedades que existiram até
nossos dias tem sido a história das lutas de classes”. Assim no escravismo tínhamos o homem
livre e o escravo, no feudalismo, os senhores e os servos, em outras palavras, opressoras e
oprimidas. A sociedade capitalista está divida entre duas classes fundamentais, por um lado a
classe operária que possui como único meio de vida a força de trabalho, por outro lado, a
classe burguesa que detém em suas mãos a propriedade de todos os meios de produção.
Ao processo que dá origem ao capitalista e ao trabalhador assalariado, Marx (1987)
chama de acumulação primitiva. A expropriação de trabalhadores camponeses, pequenos
proprietários e artesãos, transformam estes em trabalhadores livres “[...] em dois sentidos,
primeiro porque não são mais parte direta dos meios de produção como o escravo e servo, e
porque não são donos dos meios de produção, como o camponês autônomo, estando assim
10
livres e desembaraçados” (Marx, 1987 p. 830). Estas foram as condições básicas para o
desenvolvimento das forças produtivas. Desta forma,
O capitalismo pressupõe a dissociação entre os trabalhadores e a propriedade dos
meios pelos quais realizam o trabalho. Quando a produção capitalista se torna
independente, não se limita a manter essa dissociação, mas a reproduz em escala
cada vez maior. O processo que cria o sistema capitalista consiste apenas no
processo que retira do trabalhador a propriedade de seus meios de trabalho, um
processo que transforma em capital os meios sociais de subsistência e os de
produção e convertem em assalariados os produtores diretos (Marx, 1987 p. 830).
Estando livres e desapropriados de seus bens, os trabalhadores possuem como única
mercadoria a força de trabalho que vendem ao capitalista em troca de um salário. O
capitalista, por sua vez, compra a força de trabalho do operário e o faz trabalhar pelo tempo
maior que o necessário para sua sobrevivência, produzindo um trabalho excedente, que
constitui a mais-valia.
É importante destacar que a transformação da propriedade privada baseada no esforço
individual e independência das condições de trabalho em propriedade capitalista
fundamentada na exploração de trabalho alheio, possibilitam a destruição das velhas formas
de produção e relações sociais próprias do feudalismo. À medida que o capitalismo caminha
com seus próprios meios, transforma os meios de produção, antes explorados
individualmente, em meios de produção explorados coletivamente e, portanto, a expropriação
assume uma nova forma. Já não se expropria trabalhadores independentes, o capitalista
explora agora um número cada vez maior de operários (Marx, 1987, p. 881).
Ainda conforme Marx (1867), a expropriação estende a eliminação de um capitalista
pelo outro, de um lado, reduzindo o número de capitalista e de outro lado, aumentando a
acumulação de capital nas mãos de um número cada vez mais reduzido de capitalistas. “Ao
lado da diminuição constante do número de magnatas do capital, que usurpam e monopolizam
11
todas as vantagens desse processo de transformação, aumentam em massa a miséria, a
opressão, a escravidão, a degenerescência e a exploração” (Marx, 1867, p. 20). Na mesma
medida, cresce a indignação da classe operária que, aumentando rapidamente, graças ao
próprio modo de produção, unifica-se e se organiza no sentido de por fim a exploração do
capital.
“O capital, porém, não se limita a reproduzir-se, mas aumenta e cresce
incessantemente com que aumenta e cresce também o seu poder sobre a classe dos operários
privados de toda propriedade” (Engels, 1868, p. 30). O resultado deste crescimento é o
aumento da classe operária na mesma proporção. O desenvolvimento científico e tecnológico
possibilita um aperfeiçoamento dos meios de produção e, por consequência, aumenta a
capacidade de produção. Em virtude disso, o capital tende a precisar cada vez menos de um
número de operários para produzir a mesma quantidade de antes, aumentando o número de
trabalhadores excedentes.
Eles passam a constituir o exército industrial de reserva, que nas épocas más ou
médias recebem por seu trabalho menos do que vale e trabalha só durante certo
tempo ou vive à custa da beneficência pública, mas que é indispensável para a classe
capitalista nas épocas de grande atividade [...] e que de qualquer maneira serve para
vencer a resistência dos operários que trabalha normalmente e manter baixos os seus
salários (Engels, 1868, p. 30).
O crescimento constante do exército industrial de reserva aumenta, na mesma
proporção do grau de miséria, elevando ao máximo o nível de desigualdade social. Nessas
condições, temos o surgimento da Questão social, a qual se expressa pelo deficiente acesso a
bens de consumo coletivos e individuais como alimentação, moradia, saneamento básico,
entre outros.
12
O capital possui tendência para acumulação, que reside na concentração e
monopolização de capital nas mãos de poucos capitalistas. Na mesma proporção em que
aumenta a concentração de capital, aumentam os lucros do capital, e na proporção inversa,
reduzem-se os salários da classe operária, por consequência, afeta a sua qualidade de vida,
aumentando a sua miséria. Foi a concentração de capital e os monopólios que conduziram ao
imperialismo; sob este, a desigualdade social e o pauperismo alcança o mais alto nível de
miséria, elevando a qualidade de vida da classe operária ao limite do insuportável.
Voltando à questão da habitação ou problema de falta de moradia, dissemos
anteriormente que esta é um das várias expressões da Questão Social que se constitui num
grave problema que afeta as classes subalternas e a classe média em menor grau. Por um lado,
temos uma política de Estado que não atende às necessidades básicas das camadas subalternas
e por outro, o setor da construção civil e imobiliário que vê na demanda por habitação uma
fonte de lucro. Além disso, a indústria da construção civil prefere construir habitações
voltadas para as camadas médias, o que aumenta a especulação do setor imobiliário, elevando
os preços dos imóveis, tornando-os ainda mais inacessíveis às classes subalternas. Estes são
alguns dos fatores que contribui para o aumento do déficit habitacional. Segundo Rolnik e
Nakano (2009) o déficit de 7,9 milhões contrasta com o número de habitações vazias (casas e
apartamentos), que chega a 6,7 milhões no Brasil.
A resistência das classes subalternas a essa problemática se expressa a partir da
quantidade de movimentos sociais que atua em defesa da moradia. Por um lado, o número
ocupações em diversas partes do Brasil tem aumentado, ainda que timidamente, por outro
lado, na mesma proporção, aumentaa repressão do Estado.
13
Em virtude do problema exposto acima, acreditamos que seja importante trazer alguns
elementos para reflexão. Diante disso, faremos, aqui, uma leitura da questão a partir do
pensamento de Engels sobre a questão da habitação.
Para o Serviço Social, refletir sobre o problema da habitação é uma questão
fundamental, tendo em vista que a política de habitação é um espaço de atuação profissional.
E em respeito ao código de ética do assistente social, que estabelece como princípios a defesa
da cidadania, como tarefa primordial de toda sociedade, visando garantir os direitos civis
sociais e políticos para as classes trabalhadoras; como também o posicionamento em favor da
equidade e justiça social, assegurando a universalidade de acesso aos bens e serviços relativos
aos programas e políticas sociais, relacionamos nosso trabalho com o Serviço Social em dois
pontos: 1) a defesa do código de ética do assistente social; e o apoio ao projeto político
popular da sociedade brasileira; 2) interrelação do problema da habitação popular com a
questão social e as políticas públicas habitacionais.
Feitas estas breves considerações a respeito da questão da habitação, far-se-á uma
reflexão a respeito das novas transformações do capitalismo na sociedade contemporânea e o
imperialismo.
14
1. Reflexões sobre a Sociedade Capitalista Contemporânea
1.1 Ligeiras considerações acerca do Imperialismo e das últimas transformações do
Capital
Nas últimas três décadas do século XX, houve um esforço muito grande no campo do
pensamento marxista para entender o capitalismo na atualidade, mas precisamente a partir do
final da década de 1960 e início da década 1970. Nesse período, o capitalismo vivenciou mais
um entre tantos períodos de recessão econômica que teve seu ápice com a crise do petróleo de
1973. Em consequência, o imperialismo vê-se obrigado a buscar novas estratégias para
garantir o aumento dos seus lucros e para expandir a acumulação do capital. Sobre essa
questão, abordaremos mais adiante, por hora em poucas linhas, apresentaremos alguns autores
que se dedicaram ao estudo das transformações nos últimos anos.
Quantos aos teóricos que abordam o assunto, partiremos das discussões abordadas em
um artigo publicado por Moraes (2007) a respeito do debate marxista sobre transformações do
Capitalismo nas últimas décadas. Para Moraes, um autor só pode ser considerado marxista
quando adota os seguintes princípios: 1) o entendimento da luta de classes como motor da
história, que supõe rejeitar a conciliação de classe; 2) reconhecer o Estado como representante
dos interesses da classe dominante, o que significa que não se deve alimentar as falsas ilusões
do papel benéfico deste para a classe trabalhadora; 3) e por fim, a defesa da revolução
socialista como único meio para a emancipação da classe trabalhadora.
15
Acreditamos que estes princípios são fundamentais para a defesa do marxismo, porém
classificar como marxista por apenas estes três princípios constitui erro. Acrescentaria que
além destes, é de suma importância entender que a classe operária cumpre um papel de
destaque como agente transformador da sociedade e que compete a esta o papel decisivo na
revolução. Também é necessário defender o partido comunista, como a principal organização
da classe operária na luta pela emancipação humana, além disso, a ditadura do proletariado.
Acreditamos que a negação da ditadura do proletariado, constitui a negação da revolução
socialista. Defender a luta de classes e negar a ditadura do proletariado é um completo
absurdo. Marx (1852) e Lênin (1917) foram enfáticos em defender esta questão, então, não há
como abandoná-la. Em carta escrita por Marx a Weidemeyer em 1852, Marx afirmou “que a
luta de classe conduz necessariamente para a ditadura do proletariado e que essa própria
ditadura é apenas a transição para a supressão de todas as classes e para a formação de uma
sociedade sem classes” (Marx, 1852, marxists.org).
Lênin referenciando a essa questão afirma:
Quem só reconhece a luta de classes não é ainda marxista e pode muito bem não sair
dos quadros do pensamento burguês e da política burguesa. Limitar o marxismo à
luta de classes é truncá-lo, reduzi-lo ao que é aceitável para a burguesia. Só é
marxista aquele que estende o reconhecimento da luta de classes ao reconhecimento
da ditadura do proletariado (Lênin, 1917, p. 5).
Retomando Moraes (2007), acreditamos que dentre os autores selecionados por ele,
alguns não merecem receber a classificação de marxista, talvez coubesse melhor o termo
neomarxista, por não levar em consideração princípios importantes do marxismo. O
neomarxismo é uma corrente de pensamento do final do século XX. Caracteriza-se pelo
abandono de categorias de análise importantes do pensamento de Marx, algumas vezes é
chamado de marxismo ocidental.
16
Segundo Picolotto,
Com a crise da abordagem marxista (principalmente da corrente ortodoxa), surgiram
concepções heterodoxas do marxismo, com variados graus de abandono dos
pressupostos originários e interpretações que propõe novos referenciais para
entender os novos fenômenos políticos e sociais. Muitos autores continuaram
referenciando-se em elementos teóricos-chaves do marxismo, passando a ser
chamados de neomarxistas (2007, p. 160).
Assim tais teóricos, refutam algumas categorias do marxismo preservando outras.
Concluída esta discussão, embora de maneira provisória, sobre os elementos fundamentais
para classificar um autor como marxista, mesmo entendendo que se faz necessário para evitar
os desvios da teoria revolucionária, passaremos adiante. Acreditamos que estes tenham
contribuído para uma leitura da realidade em alguns aspectos, mesmo que em certos casos
seja apenas descritivo.
Para isso, retomaremos mais uma vez Moraes (2007 p.1) conforme segue: Esta fase do
Capitalismo,
[...] é entendida de diversas maneiras: mundialização do capital e poder das finanças
(Chesnais, 1997, 2003, 2005), neoliberalismo (Petras 1997, Anderson, 1995),
imperialismo sobre o domínio dos EUA (Mészaros, 2003), fase B do ciclo de
Kondratiev (Wallerstein, 2003), império (Negri e Hardt, 2001) ou acumulação
flexível (Harvey 1992). Poderíamos ainda elencar outras denominações para o
mesmo fenômeno.
Segue o autor, dizendo que mesmo dentro de uma perspectiva da totalidade, cada autor
privilegia alguns aspectos: como o político (Petras e Anderson), o econômico (Chesnais e
Wallerstein), o político e o econômico (Mészaros), o filosófico (Negri e Hardt), as novas
configurações da extração da mais-valia (Harvey) (ibidem).
Harvey (1992), em sua obra “Condição Pós-moderna”, utiliza o termo acumulação
flexível, porém em obra mais recente, “O Novo Imperialismo” (2004), utiliza o termo
Imperialismo Capitalista ou novo Imperialismo como sugere o título do livro.
17
Os autores mencionados acima por Moraes são sem dúvida muito utilizados no meio
acadêmico e têm influenciado muito na literatura acerca do entendimento da nova conjuntura.
O motivo de trazemos tal discussão é que alguns serão utilizados em nosso trabalho, isto
porque seria quase impossível falar da fase atual do capitalismo sem fazer nenhuma referência
ou utilizar de algumas considerações feitas por escritores como Chesnais, Anderson, Harvey,
Mészaros, entre outros.
Em nosso trabalho, utilizaremos o termo imperialismo por entender que as
transformações ocorridas nos últimos anos não podem ser entendidas se não levarmos em
consideração as consequências que o imperialismo impõe a sociedade como todo. A respeito
do termo imperialismo, há muitas divergências quanto a seu uso. Entre os escritores que
utilizam o termo, naturalmente há muita divergência; acreditamos que são decorrentes das
várias correntes de pensamento no campo do marxismo. Não temos a pretensão de discutir a
questão neste momento. Interessa-nos, neste instante, apenas colocar que não é absurdo falar
de imperialismo para entender a nova realidade da acumulação do capital,pelo contrário, é
cada vez mais importante que façamos isso, pois as sucessivas crises no interior do
capitalismo tem obrigado não só os marxistas, como também os ideólogos da classe
dominante a se voltarem a esta questão.
Em Harvey (2005) e Mészaros (2006), encontramos a argumentação de que o fim da
segunda guerra mundial demarca para o imperialismo o início de uma nova fase de
acumulação do capital, bem como a hegemonia dos Estados Unidos da América (USA) no
controle da economia mundial e a busca deste imperialismo em estabelecer um governo
mundial.
18
A hegemonia que antes da segunda guerra mundial pertencia ao imperialismo inglês
passa para as mãos do imperialismo dos Estados Unidos da América. É que a segunda guerra
mundial deixa as principais potências mundiais arrasadas político e economicamente. Os
Estados Unidos da América, embora tenham participado da guerra, escapam ilesos e, não só,
tiveram um amplo desenvolvimento da economia e da indústria.
Nem mesmo a União Soviética que, a partir da segunda guerra, assumiu a hegemonia
do leste europeu, foi capaz de suplantar o poder dos Estados Unidos da América. No decorrer
da guerra, a União Soviética sofreu muitas perdas, tanto no nível de industrialização quanto
na perda de territórios e nas condições de vida do povo russo arrasados pela guerra, uma vez
que esteve mais diretamente envolvida na mesma. É importante colocar que a União Soviética
foi o país que mais teve perdas: 45,5% de seu território foi ocupado pelos nazistas, muitas das
suas indústrias foram destruídas, outras remanejadas para outros locais; Os combates
destruíram cerca de 60% de suas terras agrícolas; cidades inteiras foram destruídas, deixando
um número elevado de sem teto e sem alimentação. Estima-se que houve uma perda de 70%
de sua riqueza nacional e nenhum outro país perdeu tantas vidas como a União Soviética, isto
sem falar da perda de valores culturais perdidos pelas pilhagens.1
É importante destacar que apesar de todas as perdas, foi a união soviética, sobre o
comando de Stalin, quem derrotou os nazistas e não os Estados Unidos da América como
sugere a literatura burguesa. A vitória do exército vermelho na Batalha de Stalingrado foi
fundamental para por fim a Segunda Guerra Mundial. Já a participação dos Estados Unidos
1 Disponível em: http://mulheres-russo.russian-women.net/mulheres-russo/Perdas-da-URSS-na-Segunda-
Guerra-Mundial.shtm acesso em: 06 de maio de 2012.
19
foi de menosprezo, atrasando suas tropas nas batalhas, pondo em dificuldade e reduzindo a
força do exército vermelho.
Retomando a discussão sobre o imperialismo, encontramos em Mészaros (2006) a
divisão deste em três fases históricas:
1. o primeiro imperialismo moderno construtor de impérios, criados pela expansão
de alguns países europeus em algumas partes facilmente penetráveis do mundo; 2.
imperialismo “redistributivista” antagonicamente contestado pelas principais em
favor de suas empresas quase-monopolistas, chamando por Lênin de “estágio
supremo do capitalismo”, que envolvia um pequeno numero de contendores, e
alguns sobreviventes do passado, agarrados aos resto do antiga riqueza que chegou
ao fim logo após a segunda guerra mundial; e 3. Imperialismo global hegemônico,
em que os estados unidos são a força dominante, [...] com a falsa política de
igualdade democrática, que se tornou prenunciada com eclosão da crise estrutural do
sistema do capital [...] que trouxe a o imperativo de construir uma estrutura de
comando abrangente do capital sob um “governo mundial” presidido pelo país
globalmente dominante (Mészaros, 2006, p. 72).
No decorrer de seu trabalho, o autor aborda várias características e contradições do
imperialismo atual sob o domínio dos Estados Unidos da América e traça algumas linhas
sobre a possibilidade de um movimento socialista comprometido com a classe operária. Por
fim, conclui que “a terceira fase, potencialmente a mais mortal, do imperialismo hegemônico
global que corresponde à profunda crise estrutural do sistema do capital no plano militar e
político, não nos deixa espaço para tranquilidade ou certeza” (Mészaros, 2006, p. 109).
Continua afirmando que caso não haja uma reação positiva do movimento socialista a tempo
de enfrentar os desafios impostos, este século deverá ser o da barbárie.
Em nossa opinião, há um certo pessimismo no autor. Enquanto houver a contradição
entre Capital e Trabalho, haverá dificuldades para a organização da classe operária. Porém as
condições já estiveram piores, e ainda assim houve revolução, ou eram melhores as condições
na Rússia no período de 1900 a 1917? Ou ainda as condições de Cuba e da China nos
períodos anteriores à revolução?
20
Harvey (2006), no início do primeiro capítulo do livro, diz “meu objetivo é examinar a
atual condição do capitalismo global e o papel que um ‘novo’ imperialismo poderia estar
desempenhando em seu âmbito. Faço da perspectiva da longa durée2 e pelas lentes daquilo
que chamo de materialismo histórico-geográfico” (Harvey, 2006, p. 11). O autor fala em
materialismo histórico-geográfico para análise da fase do capitalismo atual, mas adiante vai
elencar outras categorias que segundo ele são fundamentais neste processo. Como ordenação
espaço-temporal, acumulação por espoliação, sendo esta o cerne das práticas imperialistas na
atualidade.
Quanto à terminologia do uso do termo imperialismo, faz a seguinte consideração:
“[...] defino aqui a variedade especial dele chamada de ‘imperialismo capitalista’ como uma
fusão contraditória entre ‘a política do estado e do império’[...] e ‘o processo de acumulação
no espaço e no tempo’” (Harvey, 2006, p. 31). Na visão desse autor “O que distingue o
imperialismo capitalista de outras concepções de império é que nele predomina a lógica
capitalista, embora [...] haja momento que a lógica territorial venha para primeiro plano”
(Harvey, 2006 p. 36).
Sobre a lógica territorial, o autor diz: “a prática imperialista, do ponto de vista da
lógica capitalista, refere-se tipicamente a exploração das condições desiguais sob as quais
ocorre a acumulação do capital, aproveitando igualmente do que chamo de as ‘assimetrias’
inevitáveis das relações espaciais de troca” (Harvey, 2006 p. 35). Segundo Harvey (2006), o
Estado é a entidade política capacitada para orquestrar este processo. O autor argumenta que
para entender a lógica capitalista do imperialismo, deve-se ter como pano de fundo a lógica
2 Duração em português.
21
das ordenações espaços-temporais, pois esta se encontra relacionada diretamente com o
capital excedente e em menor grau com o trabalho excedente.
A argumentação do autor, na nossa visão, precisa de um estudo mais aprofundado, o
que naturalmente não temos condições de fazer agora. No entanto, as categorias trazidas pelo
autor para explicar a realidade, antes complicam ao invés de esclarecer.
Feita esta breve consideração a respeito do imperialismo em Harvey (2004) e
Mészaros (2006), concluímos que embora eles tenham contribuído para o entendimento do
imperialismo na atualidade, entendemos que ambos deixam a desejar no que diz respeito à
construção do projeto revolucionário da classe operária; de um lado pelo pessimismo de
Mészaros quanto ao futuro movimento socialista e de outro lado pela falta de clareza na
abordagem de Harvey.
A seguir, faremos um resumo das argumentações de Lênin (1917) a respeito do
imperialismo. Acreditamos que a partir dele, temos melhores condições para entender a
realidade atual, embora o trabalho do autor tenha sido escrito em 1916 sob as condições
limitadas pela ditadura czarista na Rússia entre 1546 e 1917. Os principais traços do
imperialismo, em nossa visão, continuam a fazer parte de nosso cotidiano.
1.2 O pensamento de Lênin sobre Imperialismo
Vladimir Ilitch Lênin foi o primeiro teórico, depois de Marx, a observar com exatidão
que o capitalismo, nas últimas décadas do século XIX, passava por profundas transformações
22
que deram origem a uma nova fasedo capitalismo, a fase imperialista do capital. Conforme
Lênin (1917), o imperialismo é a fase superior do desenvolvimento capitalista, na qual a
dominação dos monopólios e do capital financeiro se corporifica e a exportação de capitais
ganha papel fundamental, começando com a divisão do mundo pelos trustes e cartéis
internacionais e termina com a partilha de todo globo terrestre entre os países
economicamente mais importantes.
As definições do que venha a ser imperialismo não abarca por completo seu
significado, nem todos os aspectos, porém uma definição deve abranger cinco aspectos
fundamentais:
[...] 1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de
desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel
decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e
a criação, baseada nesse “capital financeiro” da oligarquia financeira; 3) a
exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma
importância particularmente grande; 4) a formação de associações internacionais
monopolistas de capitalistas, que partilham o mundo entre si; 5) e o termo da
partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes (Lênin,
1917, p. 218).
A respeito do imperialismo, é importante destacar alguns traços: o domínio do capital
financeiro sobre o capital industrial; as tendências para as anexações, que inevitavelmente
conduz para uma nova partilha, aumentando a rivalidade entre as potências, além das
aspirações das potências em se tornarem hegemônicas.
Segundo Lênin (1917), as concentrações de capital nas mãos de poucos capitalistas,
geradas pela livre concorrência, conduziram à formação dos monopólios. Na década de 1870,
o capitalismo vivenciava um período de depressão internacional que desemboca no craque de
1873, é a partir dai que fica demarcado o início da formação de cartéis. A década anterior foi
marcada, segundo Lênin, como a fase pré-histórica da formação dos cartéis. As três últimas
décadas do final do século XIX foi o período em que se deu o processo de formação dos
23
cartéis, porém este “ainda não eram sólidos, representava apenas um fenômeno passageiro”
(Lênin, 1917, p. 8). Nesse período, o capital teve um período de ascensão, mas nos últimos
anos do século XIX, entra em recessão e no início do século XX, vivencia mais uma crise que
vai de 1900 a 1903. Essa crise propicia aos cartéis virem a ser umas das bases de toda vida
econômica. Nas palavras de Lênin “o capitalismo transforma-se em imperialismo” (ibidem).
Ao longo do processo de formação dos cartéis, verifica-se que à medida que estes se
solidificavam, a concentração de capital nas mãos de poucos era cada vez maior.
Consequentemente, as empresas de pequeno porte desapareciam ou eram incorporadas pelas
empresas maiores. As grandes empresas, organizadas em cartéis, passaram a controlar mais
ramos da produção ou um ramo inteiro, impedindo que empresas menores pudessem competir
com elas. De acordo com Lênin (1917), houve um completo esmagamento destas. As formas
utilizadas pelos cartéis vão desde a restrição de créditos, privação de créditos e mão-de-obra a
boicotes etc. Dessa forma, os monopólios vão se tornando a base de toda a economia.
Os monopólios proporcionaram um grande progresso no que diz respeito à
socialização da produção, como também nos inventos e nas técnicas de produção social. Disto
Lênin (1917, p. 131) conclui que:
O capitalismo, chegado à sua fase imperialista, conduz à socialização integral da
produção nos seus mais variados aspectos; arrasta, por assim dizer, os capitalistas,
independentemente de sua vontade e sem que disso tenham consciência, para um
novo regime social, de transição entre a absoluta liberdade de concorrência e a
socialização completa.
Porém diz o autor “A produção torna-se social, mas a apropriação continua a ser
privada” (ibidem), embora os monopólios conduzam para um grande progresso no que diz
respeito à produção social. A apropriação fica restrita aos grupos monopolistas, enquanto a
24
grande maioria da população, sob o domínio do monopólio, tem suas condições de vida cada
vez mais difíceis, vulneráveis e insuportáveis.
Outro ponto que merece destaque, diz respeito às crises. Para Lênin (1917), ao contrário
do que pensavam alguns dos teóricos do seu tempo, que acreditavam na supressão das crises
pela atividade monopolista, os monopólios tendem a agravar o caos próprio de todo sistema
de produção capitalista. Para o autor, “Acentua-se ainda mais a desproporção entre o
desenvolvimento da agricultura e o da indústria, desproporção que é característica do
capitalismo em geral” (1917, p.135).
A situação vantajosa que a indústria organizada em cartéis tem em determinados ramos
da indústria, influencia diretamente nas indústrias que ainda não se encontram organizadas,
aumentando a desproporção entre as indústrias organizadas e não-organizadas em cartéis,
impossibilitando a indústria não-organizada a entrar na competição em um determinado ramo
da produção, ficando submissas às indústrias cartelizadas. Diante disso, a supressão de crise
pelos monopólios fica descartada, pois este tem como característica acentuá-las. “E, por seu
turno, as crises (as crises de toda a espécie, sobretudo as crises econômicas, mas não só estas)
aumentam em fortes proporções a tendência para a concentração e para o monopólio” (Lênin,
1917, p. 136).
Ainda no que diz respeito ao desenvolvimento dos monopólios, Lênin (1917) destaca o
papel dos bancos. Segundo o autor, os bancos têm uma importância fundamental no modo de
produção capitalista imperialista. Por meio do capital bancário (capital-dinheiro), os
capitalistas podem dar vida ao capital inativo, transformando-o em capital ativo. A primeira
atividade que os bancos desempenhavam no capitalismo era de meros intermediários nos
pagamentos; essa era a atividade essencial dos bancos.
25
Com o desenvolvimento dos monopólios, há um aumento considerável das transações
bancárias em número cada vez mais reduzido de instituições bancárias. Estes, por sua vez,
através dos trustes e cartéis, concentraram em suas mãos um volume muito alto de capital-
dinheiro. Por meio da concentração de capital, os grandes bancos estendem seus domínios
sobre bancos menores; primeiro em um determinado país, depois em nível internacional. E à
medida que os bancos se tornam cada vez mais indispensáveis para as atividades dos
capitalistas industriais, torna-os cada vez mais submissos em relação aos bancos. É nesta
relação das indústrias com os bancos que reside o papel dos bancos no imperialismo. A fusão
do capital industrial com o capital bancário, e a sujeição do primeiro pelo último, é um traço
característico do imperialismo. Em resumo, os processos de concentração gigantesca, tanto
dos bancos quanto das indústrias, consolidaram a indústria como um monopólio dos grandes
bancos.
Do ponto de vista de Lênin (1917), outro traço característico e, talvez o mais
importante, seja a respeito do capital financeiro e da oligarquia financeira. O aparecimento do
capital financeiro está diretamente ligado com a concentração da produção e junção do capital
industrial com o capital bancário. A concentração do capital financeiro nas mãos de um
punhado de capitalistas que vivem da especulação e dos rendimentos dos juros dos bancos dá
origem a uma oligarquia financeira.
O capital financeiro, concentrado em muito poucas mãos e exercendo um monopólio
efetivo, obtém um lucro enorme, que aumenta sem cessar com a constituição de
sociedades, emissão de valores, empréstimos do Estado, etc., consolidando a
dominação da oligarquia financeira e impondo a toda à sociedade um tributo em
proveito dos monopolistas. (Lênin, 1917, p. 169).
Os lucros da oligarquia financeira são demasiadamente grandes nos períodos de
ascensão das indústrias e mesmo em épocas de crises, o setor financeiro continua a lucrar.
Enquanto as empresas de pequeno portegeralmente entram em dificuldades, os grupos
26
monopolistas adquirem estas a preços baixos, visando lucros futuros e concentrando ainda
mais a produção. Esse processo ocorre em diversas áreas da economia mundial. Outra forma
das oligarquias financeiras obterem lucros é através da especulação. Tomemos como exemplo
a aquisição de terrenos nas cidades que se desenvolve rapidamente. Nestas, os terrenos
aumentam seus preços à medida que a cidade cresce e ganha obras de infraestrutura. Os
investimentos em obras de infraestrutura não tem relação com o bem estar da população, mas
com o lucro. Os grupos monopolistas de vários setores ligados ao capital financeiro investem
em determinadas áreas da cidade, visando à valorização dos terrenos adquiridos por eles
mesmos. Desta forma, segundo Lênin (1917, p. 173),
O monopólio dos bancos funde-se neste caso com o monopólio da renda da terra e
com o monopólio das vias de comunicação, pois o aumento dos preços dos terrenos,
a possibilidade de vendê-los vantajosamente por parcelas, etc., depende
principalmente das boas vias de comunicação com a parte central da cidade, as quais
se encontram nas mãos de grandes companhias, ligadas a esses mesmos bancos
mediante o sistema de participação e de distribuição dos cargos diretivos.
Não é só das atividades legais que o capital financeiro tira vantagens é também por
meio da corrupção. Conforme Lênin (1917, p. 175), “O monopólio, logo que tenha se
constituído e controlado milhares de milhões, penetra de maneira absolutamente inevitável em
todos os aspectos da vida social, independentemente do regime político e de qualquer outra
‘particularidade’”. Não é de se assustar o envolvimento, por parte de funcionários do Estado
ligados ao capital financeiro e em operações fraudulentas, nem tão pouco, o fato de homens
ligados a capital financeiro obterem cargos no Estado. Evidente que os apologistas burgueses
fazem vista grossa para este fato e se limitam tão somente a apontar as falhas do ponto de
vista da moral. Mas o fato é que, para o capital financeiro, não existe limite que possa impedi-
lo de obterem seus lucros; se precisar usa a força, a coerção e a corrupção.
27
O capitalismo, segundo Lênin (op.cit.), faz por natureza a separação da propriedade do
capital da sua aplicação à produção. Neste sentido, separa capital-dinheiro de capital
industrial, homens que vivem do dinheiro (os rentiers) dos empresários e todos que vivem da
gestão do capital. Dessa forma, conclui que o imperialismo ou domínio do capital financeiro,
é a fase superior do capitalismo, e nesta as separações tomam proporções gigantes. “O
predomínio do capital financeiro sobre todas as demais formas do capital implica o
predomínio do rentista e da oligarquia financeira, a situação destacada de uns quantos Estados
de ‘poder’ financeiro em relação a todos os restantes” (Lênin, 1917, p.177).
No período em que prevaleceu o capitalismo concorrencial, uma característica marcante
deste era a exportação de mercadoria para obter lucros. A fase do capitalismo monopolista é
distinta deste, pois ao invés de exportar mercadoria, exporta capital. A exportação de capital
cumpre um papel importante na criação de uma rede de países dependentes do capital de
exportação, mais precisamente do capital financeiro.
O desenvolvimento desigual entre as empresas de um modo geral, como também do
crescimento econômico dos países capitalistas é algo inevitável, pois é próprio do capitalismo
monopolista. O resultado é o crescimento desigual e um nível elevado de concentração de
capital excedente nas mãos das oligarquias financeiras. De acordo com Lênin (1917, p.181),
“No limiar do século XX assistimos à formação de monopólios de outro gênero: primeiro,
uniões monopolistas de capitalistas em todos os países de capitalismo desenvolvido; segundo,
situação monopolista de uns poucos países riquíssimos, nos quais a acumulação do capital
tinha alcançado proporções gigantescas”.
Em consequência, há nos países avançados um enorme excedente de capital. Embora
este processo tenha aumentado consideravelmente o volume de capital excedente, a realidade
28
é que a massas da população se viram arrasadas pelo agravamento da miséria. O que importa
para os capitalistas não é o bem-estar das massas, mas o lucro, ou seja, os investimentos
lucrativos.
Enquanto o capitalismo for capitalismo, o excedente de capital não é consagrado à
elevação do nível de vida das massas do país, pois significaria a diminuição dos
lucros dos capitalistas, mas ao aumento desses lucros através da exportação de
capitais para o estrangeiro, para os países atrasados (Lênin, 1917, p. 181).
Pois nos países colonizados, em geral os preços dos meios de produção, mão-de-obra e
matérias-primas são mais baixos, o que possibilita ao capitalista obter lucros maiores. A
exportação de capital para os países atrasados possibilita a eles que alcancem certo grau de
desenvolvimento, porém as vantagens maiores são dos países exportadores de capital, que ao
exportarem seu capital, impõem condições vantajosas para si, pois além de estabelecerem nas
cláusulas, os juros, incluem ainda condições como exemplo, a exportação de matéria-prima
para o país credor e a importação de mercadorias deste. É desta forma que o capital financeiro
cria sua rede internacional, estendendo-a por diversos países e submetendo os países atrasados
ao domínio dos monopólios.
Outro ponto característico do imperialismo na concepção de Lênin (op.cit.), diz
respeito à partilha do mundo entre os países exportadores. Evidentemente, a partilha do
mundo, segundo o autor, inicia-se primeiro a partir dos interesses do capital financeiro e
termina na partilha territorial entre as potências imperialistas.
Num primeiro momento, as associações monopolistas - organizadas em truts, cartéis e
sindicatos - dominam quase que completamente a economia de um país. Porém os interesses
do capital não se limitam ao domínio do mercado interno, então este se lança ao mercado
externo. É inevitável que o mercado interno se entrelace com o mercado externo, uma vez que
o mercado mundial já foi concretizado há muito tempo. E à medida que estas associações se
29
lançam no mercado externo e firmam acordos de interesse universais, dão origem aos cartéis
internacionais.
Os cartéis internacionais estendem seus domínios pelas colônias, a partir de criações
sucursais e acordos comerciais entre empresas pequenas, com a finalidade de eliminar a
concorrência e dividindo o mundo conforme seus interesses. Em algumas casos, entrelaçam-
se com os interesses do Estado, formando um monopólio universal. Vale salientar que a
partilha do mundo entre as associações é algo fechado. Novas partilhas são sempre possíveis,
dependendo da correlação de forças, das guerras imperialistas, das crises etc.; disto se conclui
que os monopólios não eliminam por completo a concorrência, ao invés disso, lança-se na
ofensiva, minando as condições dos monopólios concorrentes, com o objetivo de assumir uma
posição de hegemonia frente aos outros. Os interesses dos cartéis internacionais não se
relacionam com os interesses das massas, pois a luta deles é unicamente pelos próprios
interesses, ou seja, dos lucros. Conforme Lênin (1917, pg. 199),
A época do capitalismo contemporâneo mostra-nos que se estão a estabelecer
determinadas relações entre os grupos capitalistas com base na partilha econômica
do mundo, e que, ao mesmo tempo, em ligação com isto, se estão a estabelecer entre
os grupos políticos, entre os Estados, determinadas relações com base na partilha
territorial do mundo, na luta pelas colônias, na “luta pelo território econômico”.
A respeito da partilha do mundo pelas potências imperialistas, Lênin (op.cit.) fala que
a corrida pelas aquisições das colônias se dá posterior à fase pré-monopolista (período
máximo da livre concorrência entre 1860 e 1870). A passagem do velho capitalismo para a
fase do capitalismo monopolista encontra-se relacionada com oaumento do luta pela partilha
do mundo. No final do século XIX e início do século XX, a partilha territorial do mundo já se
encontrava concluída. Mesmo já estando terminada a partilha do mundo, novas partilhas são
possíveis de acontecer, pois há interesses distintos entre as potências imperialistas, como
também entre as colônias. É própria do imperialismo, a tendência para anexação de colônias,
30
movidas não só pelas riquezas e matéria-prima existentes, mas também pelas possíveis fontes
de matéria-prima e riquezas.
Para Lênin (1917, p. 208), O que distingue o imperialismo da fase dos monopólios,
dos imperialismos anteriores, como império romano, império grego etc, é a “dominação
exercida pelas associações monopolistas dos grandes patrões” (ibidem). Através da qual “O
capital financeiro é uma força tão considerável, pode dizer-se tão decisiva, em todas as
relações econômicas e internacionais, que é capaz de subordinar, e subordina realmente,
mesmo os Estados que gozam da independência política mais completa” (ibidem).
E é assim, a partir da exportação de capital, que os grupos de associações monopolistas
dividem o mundo entre as potências imperialistas, conforme os interesses do capital
financeiro e da oligarquia financeira.
Em resumo, Lênin diz que o imperialismo surgiu do desenvolvimento do capitalismo.
Mas o capitalismo só se transformou em imperialismo capitalista quando chegou a
um determinado grau, muito elevado, do seu desenvolvimento, quando algumas das
características fundamentais do capitalismo começaram a transformar-se na sua
antítese, quando ganharam corpo e se manifestaram em toda a linha os traços da
época de transição do capitalismo para uma estrutura econômica e social mais
elevada (1917, p. 216).
A substituição da livre concorrência pelos monopólios é uma característica
fundamental. A eliminação da pequena produção pela grande produção potencializa a
concentração da produção e de capital e dão origem aos grandes monopólios. O aparecimento
dos trustes, cartéis e sindicatos e a fusão destes com os bancos, torna-se a base da economia
mundial. “Ao mesmo tempo, os monopólios, que derivam da livre concorrência, não a
eliminam, mas existem acima e ao lado dela, engendrando assim contradições, fricções e
conflitos particularmente agudos e intensos” (Lênin, 1917, p. 217). Continua o autor “O
monopólio é a transição do capitalismo para um regime superior” (ibidem).
31
O imperialismo, segundo Lênin (1917), possui um aspecto importante que merece
destaque, é a tendência deste para o parasitismo e decomposição do capitalismo. De acordo
com autor, os monopólios, base de toda economia do imperialista, “gera inevitavelmente uma
tendência para a estagnação e para a decomposição” (Lênin, 1917, p. 231). Ao fixarem os
preços monopolistas, interrompe, mesmo que seja temporariamente, as condições que
possibilita o progresso técnico e científico, atrasando o desenvolvimento e aplicação de novos
inventos.
Em sua obra, Lênin (1917) coloca algumas questões do operariado frente ao
imperialismo. Conforme Lênin (1917), os sinais de progresso do início do século XX, a
defesa fervorosa por diversos meios e o embelezamento da ideologia do imperialismo,
amplamente difundida, penetraram no seio da classe operária, levando alguns para a defesa do
imperialismo.
Ao analisar as posições reformistas nos seio da classe operária, Lênin faz críticas a
Kautsky (Teórico da segunda internacional comunista, um dos principais revisionistas do
marxismo) em sua análise do imperialismo. Pois este, ao invés de mostrar as contradições do
imperialismo, prefere ocultá-las, colocando-se ao lado dos publicitas burgueses. Estes
visavam ocultar as contradições de imperialismo, tentado fazer acreditar que era possível
reformar as bases do imperialismo, tornando-o mais aceitável e induzindo que este poderia
trazer a paz mundial. Desprovidos de qualquer base teórica, fazia vista grossa para as
contradições presentes no seio da política imperialista, tais como: a questão nacional, a
posição da política pequeno-burguesa frente à opressão do imperialismo etc. Não via que sob
o domínio do imperialismo, ao invés delas se tornarem mais suaves, pelo contrário, tornavam-
se cada vez mais agudas e acentuadas.
32
Assim como os diversos teóricos burgueses citados por Lênin, Kautsky não avança em
relação a estes, ao defender que o capitalismo se desenvolveria mais rápido se não estivesse
limitado pelos monopólios. Neste sentido, dá um passo atrás em relação ao marxismo;
Defender a livre concorrência é defender a volta ao capitalismo concorrencial. Kautsky não
percebeu que a livre concorrência possibilitou um rápido desenvolvimento do comércio, este
por sua vez, aumenta rapidamente a concentração da produção e do capital, gerando os
monopólios.
Outra defesa de Kautsky criticada por Lênin é relativa à fase ultraimperialista. Para ele,
a formação dos trustes internacionais conduziria para a formação de uma única concentração.
Em virtude desta, eliminar-se-iam naturalmente as contradições produzidas pelos monopólios
e, consequentemente, alcançaríamos a paz mundial. Lênin fala que esta posição só seria
possível de um ponto de vista abstrato. Do ponto de vista real, era um completo absurdo, pois
o imperialismo conduz sempre para a partilha, mas não a faz por igual, pois é próprio deste o
desenvolvimento desigual em todos os patamares, entre os trustes, as empresas, os ramos
industriais e os países. Além do mais, possui contradições fundamentais ignoradas por
Kautsky, como a oposição entre monopólio e livre concorrência, entre os cartéis e indústrias
não cartelizadas e etc. que inviabiliza a paz e a liberdade.
As alianças “interimperialistas” ou, ultraimperialistas, no mundo real capitalista, e
não na vulgar fantasia filistina dos padres ingleses ou do “marxista” alemão Kautsky
– seja qual for a sua forma: uma coligação imperialista contra outra coligação
imperialista, ou uma aliança geral de todas as potências imperialistas -, só podem
ser, inevitavelmente, “tréguas” entre guerras (Lênin, 1917, p. 258).
Segue o autor, afirmando que “As alianças pacíficas preparam as guerras e por sua vez
surgem das guerras, conciliando-se mutuamente, gerando uma sucessão de formas de luta
pacífica e não pacífica sobre uma mesma base de vínculos imperialistas e de relações
recíprocas entre a economia e a política mundiais” (ibidem). Esta posição de Kautsky é
33
oportunista, visa acalmar os ânimos da classe operária e conciliar com o imperialismo. O
embelezamento da ideologia imperialista visa atenuar as contradições do imperialismo,
trazendo a falsas perspectivas de liberdade. Conforme Lênin (1917, p. 260),
O imperialismo é a época do capital financeiro e dos monopólios, que trazem
consigo, em toda a parte, a tendência para a dominação, e não para a liberdade. A
reação em toda a linha seja qual for o regime político; a exacerbação extrema das
contradições também nesta esfera: tal é o resultado desta tendência. Intensifica-se
também particularmente a opressão naciona1 e a tendência para as anexações, isto é,
para a violação da independência nacional (pois a anexação não é senão a violação
do direito das nações à autodeterminação).
É importante destacar que as anexações não são apenas de regiões agrárias; países
pouco industrializados também podem ser anexados. Do ponto de vista do autor, o
imperialismo tende a intensificar a opressão nacional. A exportação de capital para essas
regiões aflora a contradição deste ainda mais, ao mesmo tempo em que desperta a resistências
dos povos, elevando o nível de consciência nacional e que em algum momento pode se fundir
com a resistência e a luta da classe operária.
Lênin afirma que o imperialismo possui tendência para levar parte da classe operária
para o seu lado. Os lucros obtidos pelos capitalistas dos mais diferentes ramos da indústria, de
um entre vários países, “[...] oferece-lhes a possibilidade econômica de subornarem certos
setoresoperários e, temporariamente, uma minoria bastante considerável destes últimos,
atraindo-os para o ‘lado’ da burguesia desse ramo ou dessa nação, contra todos os outros”
(Lênin, 1917, p. 267).
O antagonismo criado entre as potências imperialistas pela divisão do mundo acentua
ainda mais a tendência de cooptação do operário para o lado da burguesia. É precisamente
neste ponto que se encontra a relação entre imperialismo e oportunismo. Diante disto, é
necessário entender que “a luta contra o imperialismo é uma frase oca e falsa se não for
34
indissoluvelmente ligada à luta contra o oportunismo” (Lênin, 1917, p. 268), existente no seio
da classe operária.
Concluímos este capítulo, fazendo algumas considerações a respeito do imperialismo. A
política do imperialismo tem desencadeado inúmeras guerras pelo mundo. As crises de todas
as ordens cada vez mais têm ocorrido em ciclos menores, têm sido cada vez mais agudas; as
desigualdades econômicas entre os países só tem aumentado; Os problemas sociais são cada
vez mais graves e não são mais particularidades dos países subdesenvolvidos, atingem
também aos trabalhadores dos países desenvolvidos, ainda que em menor grau. O
desemprego, a falta de moradia, de saneamento, o aumento da violência, a desnutrição e a
subalimentação fazem parte da realidade das principais potências imperialistas, porém nos
países submetidos aos países imperialistas é ainda mais crítica a situação. As políticas
sociais, cada vez mais escassas, não são capazes nem mesmo de atenuarem os problemas
sociais, nem tão pouco reduzir o nível de miséria no mundo.
No próximo ponto, abordaremos algumas considerações a respeito das últimas
transformações no mundo do trabalho, bem como os impactos da política neoliberal no
conjunto da classe trabalhadora e da sociedade em geral.
35
2. Algumas questões a respeito da reestruturação do capital e os impactos no mundo do
Trabalho
A reestruturação produtiva do capital pode ser entendida como a tentativa do
imperialismo em superar a recessão econômica da década de 70 do século passado e a crise de
1973. Em virtude desta, ocorre no contexto econômico, político e social, mudanças profundas
que afetaram a classe operária e os trabalhadores em geral, causando grandes impactos na
sociedade como um todo, em escala mundial.
A partir dos meados da década de 60, o modelo Keynesiano/Fordismo, dá seus
primeiros sinais de crise. De um ponto de vista mais atento, percebemos que as crises não são
propriamente uma novidade no modo de produção capitalista. Pois desde o início têm
ocorrido incontáveis períodos de recessão econômica que terminaram com uma crise em
escala mundial. As crises são próprias da estrutura do sistema capitalista, que convive com
tempos de ascensão e depressão e inevitavelmente em um setor ou outro a crise se expressa.
De maneira geral, as crises são causadas pela superprodução de bens de consumo e a queda
das taxas de lucro.
Percebemos ainda que as práticas imperialistas têm produzido crises cada vez mais
agudas e ao mesmo tempo seu ciclo tem sido mais curto. Em um rápido olhar para o histórico
das crises, identificamos alguns pontos que, no nosso entendimento, foram importantes pra a
redefinição do capital. A começar pela recessão econômica na década de 1970 do século XIX,
que culminou no craque de 1873, marco da passagem do capitalismo concorrencial para o
capitalismo monopolista. Nessa fase, o processo de formação do monopólio dá ao capital uma
36
sobrevida, no entanto, já no final do século, novamente desemboca em outro período de
recessão.
No decorrer do século XX, tivemos várias crises, destaque para a de 1903 e do craque
de 1929, ambas também antecedidas por um período de recessão econômica. Ironicamente,
100 anos depois do início da fase do capitalismo monopolista, mais uma vez, o capitalismo
entra em um período de recessão econômica entre os meados da década de 1960 e 1970, em
seguida a crise petróleo 1973, que dá origem a profundas transformações no imperialismo.
Sobre a égide neoliberal, as crises se tornaram ainda mais frequentes, destaque para a
crise mexicana (1994), a asiática (1997), da Rússia (1998), da argentina (2001) e a americana
(2008) e atualmente na Grécia; esta última, ainda em ciclo, tem afetado até as principais
potências imperialistas.
A recessão econômica da década de 70 apresenta seus primeiros sinais a partir de três
pontos básicos: os baixos níveis de produção do setor industrial, o acúmulo de mercadorias no
estoque e queda na taxa de lucro das grandes corporações; a crise do petróleo de 1973; e o
grande excedente de capital acumulado nas principais potências imperialistas da Europa e
também nos Estados Unidos da América.
Nesse contexto, o modelo de produção baseado no Fordismo3 já não responde mais a
demanda do mercado, pois este se baseava na produção em massa e era um sistema que
apresentava uma rigidez não compatível com a nova realidade da organização industrial no
bojo da crise. Umas das características deste modelo era a produção ao redor de uma linha de
3 Modelo de produção que nasceu na indústria de automóvel da Ford nos USA, com base no método
taylorista, para a produção em massa.
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montagem que priorizava a separação entre elaboração e a execução, em outras palavras,
separa a dimensão intelectual do trabalho manual do operário.
A crise instaurada no seio do capitalismo coloca a necessidade da introdução de um
modelo de produção que facilitasse a distribuição de mercadoria e, ao mesmo tempo,
retomasse as taxas de lucro, aumentando a acumulação de Capital. A saída vista pelo
imperialismo para a retomada do crescimento econômico e aumento das taxas de exploração
da mais-valia, foi a introdução do modelo de produção baseado na flexibilidade do trabalho e
da produção. O modelo de produção japonês chamado “Toyotismo” 4 foi o que melhor se
adequou a esta realidade da crise. Nesse modelo, a produção de bens de consumo é feita de
acordo com as necessidades e as demandas do mercado consumidor, evitando o acúmulo de
mercadorias nos depósitos e facilitando a sua circulação.
As novas formas de organização do trabalho baseadas na Flexibilização5 do trabalho e
da produção, começaram a aparecer em diversas partes do mundo. Surgiu primeiro no Japão,
entre as décadas de 1950 e 1970, e se expandiu pelo mundo a partir da década de 1970. O
nascimento deste se dá em razão do imperialismo japonês pretender tornar a indústria
japonesa competitiva frente à indústria norte-americana, tendo em vista que o Fordismo não
foi um modelo aplicável à realidade do Japão, pois o modelo fordista exigia uma forma de
organização que ocupava muito espaço, além do mais, a produção em massa exigia o acúmulo
de mercadoria em estoque, o que inviabilizava o emprego do modelo fordista na realidade
japonesa.
4 Modelo de produção que nasceu nas indústrias automobilísticas da Toyota, por isso ficou conhecido
Toyotismo.
5 Ver Harvey em condição pós-moderna e outros vários artigos.
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As principais características do Toyotismo são: A produção voltada para atender
demanda do consumidor, enquanto no Fordismo era conduzido pela oferta; o estoque mínimo
da produção, evitando a estocagem típica do Fordismo; o Just-in-time6, para reduzir o
desperdício de tempo; o método Kanban7 para gerenciar o controle de estoque; A
flexibilização do trabalho e do trabalhador; a introdução do trabalho em equipe, como forma
de garantir a produção sem perdas; e a horizontalização, que delega a produção de elementos
básicos às empresas terceirizadas.
É importante destacar que a flexibilização do trabalho implica diretamente na perda de
direitos trabalhistas conquistados com muitas lutas pela a classe operária. A violação aos
direitos do trabalhador se dá a partir das reformas trabalhistas implementadas pelos governos
nos diversos países sobre a orientação do organismo de representação do imperialismo como a
Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional(FMI) e o
Banco Mundial. O objetivo é adequar o trabalhador (em outras palavras sujeitar o trabalhador)
às novas formas de gestão das relações de trabalho no âmbito das empresas, para aumentar os
lucros por meio da extração da mais-valia relativa como também a mais-valia absoluta. Sobre
a falácia da gestão participativa, e da ideologia do trabalhador participante nas decisões da
empresa, o trabalhador vai sendo incluído nos círculos (os chamados de CCQ) e cada vez
mais se sentindo parte da empresa.
Em decorrência das reformas nas leis trabalhistas e no modelo de gestão das empresas,
o trabalhador é conduzido a se sujeitar e aceitar as condições de trabalho impostas pelas
6 O just-in-time é um princípio de gestão de stocks que se caracteriza pela manutenção de stock apenas
em quantidade suficiente para manter o processo produtivo no momento.
7 Kanban é uma expressão japonesa que designa um método de fabricação em série aplicado aos
processos de aprovisionamentos, produção e distribuição, seguindo os princípios do Just-in-Time.
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empresas, quase sem questionamento. Os impactos para a classe operária e trabalhadores em
geral são sentidas pelas intensas jornadas de trabalho, as horas extras e a criação dos bancos
de horas; pelas demissões e os contratos de trabalho sem assinatura; além do exercício de
diversas funções na empresa, polivalência e flexibilidade do trabalhador passaram a ser
palavras de ordem na hora da contratação. Há um aumento da precarização do trabalho, além
do agravamento das condições de vida da classe operária.
Uma das características que merece destaque é o aumento da contratação da mão-de-
obra feminina, de deficientes físicos e visuais, bem como as brechas abertas para o contrato de
trabalho de menores aprendizes. Sobre o discurso da inclusão, esconde o verdadeiro motivo
da contração deste; o verdadeiro motivo é a redução nos gastos com a mão-de-obra e aumento
das taxas de lucro. É inquestionável que este tenha condições de trabalhar e que o trabalho
seja tão bem-feito como o trabalho masculino. Contudo, não podemos esconder que o valor
do salário pago as mulheres ainda são menores em relação aos dos homens, por isso se dá
preferência à contração da mão-de-obra feminina. Nem tão pouco, podemos esconder que a
utilização da força de trabalho do deficiente nas empresas, tem como pano fundo receber os
benefícios oferecidos pelo Estado e em contrapartida passar para sociedade uma boa imagem
da empresa; a imagem da empresa cidadã preocupada com os problemas sociais.
A respeito da utilização da mão-de-obra no modelo de produção (flexível),
percebemos que as empresas contratam a mão-de-obra de acordo com as necessidades
especificas daquele momento nas empresas. Diferentemente do período fordista em que se
contratava o trabalhador, garantindo a ele certa estabilidade no emprego. No modelo
Toyotista, a instabilidade no emprego é uma marca registrada, se a empresa precisa, por dois
meses, contratará o trabalhador por este período e demite ao término do contrato; sendo que o
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contrato pode ser prolongado ou até mesmo readmitido em outro momento. Em resumo,
podemos dizer que as consequências para a classe trabalhadora com a adesão deste modelo de
produção é o aumento sem precedentes das taxas de desemprego, do subemprego, de
empregos temporários no setor de serviços e o crescimento do trabalho informal, como
também o barateamento da mão-de-obra em todo mundo.
De acordo com Santos (2000), do ponto de vista daqueles a quem interessa a retomada
do crescimento econômico, ou seja, do imperialismo, e a saída da recessão da década de 1970
se dá em três frentes principais: a primeira “é o aumento sem precedentes da área de aplicação
de capitais especulativos, ou seja, sem o envolvimento direto na produção, cujo rendimento é
garantido pela liquidez e mobilidade em tempo real” (Santos, 2000, p. 27).
Vale destacar que, nesse período, houve um aumento considerável do número de
bancos em escala mundial, além do crescimento de outros setores como, por exemplo, os
fundos de pensões, companhias de seguros e etc. Todos estes setores estão ligados ao setor do
capital financeiro que graças ao avanço dos meios de comunicação, o advento das novas
tecnologias e surgimento da informática, ganha uma capacidade de mobilidade nunca antes
vista, podendo entrar e sair de um país quando achar oportuno. É claro que esta conta com a
intervenção direta do Estado burguês, sem ele não existiria tanta facilidade; a mobilidade do
capital exige uma série de mudanças no plano político.
Em virtude disso, o Estado burguês implementou mudanças consideráveis, garantindo
a desregulamentação das economias nacionais, possibilitando ao capital financeiro uma maior
liberdade de trânsito em nível mundial. O imperialismo busca a todo custo a acumulação de
capital, que para se reproduzir, precisa da presença do Estado; que se utiliza da coerção a
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partir das instituições de organização do capital (FMI, OMC, BIRD e etc.), para pressionar os
países subdesenvolvidos (colonizados) a fazerem mudanças políticas, adequando-se aos
interesses das potências imperialistas. Em alguns casos, até mesmo a intervenção militar pode
ser usada. Assim, penetrar em todos os países do mundo independente do regime político, da
cultura, da religião e etc.
O segundo ponto levantado é a reestruturação industrial. Apoiado em Harvey (1996),
pontua que em decorrência do “aumento da concorrência combinando processos flexíveis com
processos do fordismo” (Santos, 2000, p. 28). Conforme a autora,
São visíveis as transformações no sentido de descentralização, desverticalização,
terceirização, automação, enfim, de uma nova organização do trabalho que
empreende esforços com o objetivo de potencializar a extração da mais-valia
relativa, sem prejuízo da extração da mais-valia absoluta, ou seja, ao mesmo tempo
em que se investe pesado nas inovações tecnológicas e organizacionais, joga-se com
a ideia do fim da centralidade do trabalho e consenso de classes (ibidem).
Ressalta, ainda, que também repõe antigas formas de exploração escondidas, sob o
ideário de uma sociedade de produtores independentes de mercadorias. “Uma sociedade sem
vendedores de força de trabalho posto que o contrato de compra e venda da força de trabalho
está metamorfoseado num contrato de fornecimento de mercadorias” (Teixeira apud Santos,
2000, p. 28). Neste processo, é de vital importância para a reestruturação produtiva o
desmantelamento da organização sindical. De acordo com Santos,
Essa estratégia e levada a cabo com ajuda da “ideologia da qualidade”, mas também
da histórica repressão ao movimento sindical combativo, do aumento estrondoso do
desemprego e pela a fuga das indústrias dos locais em que há um maior grau de
maturidade na luta de classes, realizando uma verdadeira “onda migratória” a
procura de novos mercados de trabalho (2000, p. 28).
A criação do centro de controle de qualidade (CCQ) nas fábricas e dos diversos
programas baseados no controle de qualidade tem como objetivo anular a contradição entre o
capital e o trabalho, desmobilizar as organizações dos trabalhadores. Para isso, introduz
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mudanças na forma de gestão e organização do trabalho. Por um lado, a antiga figura do chefe
desaparece com a introdução do trabalho em equipe. Neste, todos agora são responsáveis pelo
controle da produção (controle da produção, aqui não quer dizer socialização dos lucros
produzidos), fica a cargo de cada funcionário a vigilância sobre o outro. Para o bom
funcionamento, cabe a ele desenvolver seu trabalho sem tirar os olhos dos outros, se em
algum momento acontecer uma queda de produção em algum setor, este assume garantindo o
bom funcionamento da produção. O tratamento ao trabalhador é diferenciado (no plano
ideológico, pois na realidade ainda são explorados) passaram a ser associados, colaboradores,
etc., isto visa esconder o antagonismo de classe que existe entre os empregados e
proprietários, entre oTrabalho e o Capital.
Ao mesmo tempo em que busca organizar o trabalho em equipe, estimula a
competição entre os trabalhadores. A competição entre eles possibilita o cumprimento de
metas das empresas. Por outro lado, cumpre um papel de desestímulo para as associações
entre si, sem perdas para a produção socializada no âmbito da empresa.
O terceiro ponto explorado por Santos (2000, p. 29) é a “criação de condições políticas
de que o mercado não dispõe para implementação da flexibilidade”. Neste ponto, são
abordadas as transformações que ocorrem na esfera da ação estatal em nível de regulação da
economia. “As exigências dos ajustes neoliberais são peças importantes no jogo que, além de
intervir na reprodução dos pressupostos históricos de dominação, aumenta substancialmente a
liberdade do capital: liberdade de movimento para o capital financeiro, para a
desregulamentação das economias e dos direitos dos trabalhadores, entre outras” (ibidem).
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Segue a autora, “a crise fiscal do Estado redireciona as funções do mesmo para que ele
possa continuar funcional às necessidades da nova fase de ‘acumulação flexível’” (ibidem) em
outras palavras, a necessidade do imperialismo. Diante disto, o Estado assume o seu papel na
defesa dos interesses do capital. As idéias neoliberais ganham relevância, e sua intervenção é
de um Estado mínimo para os trabalhadores e máximo para o capital, reduzindo gastos com
políticas sociais, cortando gastos com funcionalismo público, flexibilizando as leis
trabalhistas e etc.
Estas condições descritas acima, de acordo com Santos (2000), do ponto de vista da
classe trabalhadora, impõem um grau de dificuldade maior no que diz respeito ao
enfrentamento do capital por novas conquistas no campo dos direitos sociais e trabalhistas.
Santos (2000) apoiada em Antunes (1997) aponta que a classe operária se torna cada vez mais
heterogênea, fragmentada e complexificada. Diante disto, os efeitos da crise atingem a
subjetividade do mundo trabalho e a consciência de classe da “classe-que-vive-do-trabalho”,
fazendo sentir nas organizações dos trabalhadores a exemplo dos sindicatos e do partido
político.
No caso dos sindicatos, destacamos que o período em que vigorou o Estado de bem-
estar social, deixou se levar pela ideologia do imperialismo da conciliação de classe. À
medida que os sindicatos conciliam com os patrões, deixam de lutar pelo alargamento dos
direitos trabalhistas, inserem-se cada vez mais no âmbito das empresas e se afastam de suas
bases, a classe operária. A crise instalada no modelo de Estado Keynesiano obriga o
imperialismo a aumentar a repressão aos sindicatos ainda combativos. Estes, em virtude da
repressão e constantes ataques aos direitos trabalhistas, aos poucos aderem à luta mais
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particularizada e setorial, ou seja, passam a direcionar a luta por problemas mais específicos e
imediatos, como garantia de direitos já conquistados, manutenção dos postos de trabalho,
aumento de salário e gradativamente se afastam das lutas mais gerais, a exemplo da luta
anticapitalista e anti-imperialista.
Os partidos políticos já não são capazes de dialogar com as massas em virtude do
revisionismo dentro do partido de todo o mundo, sofrem modificações que afetam diretamente
a sua estrutura. Em decorrência das descrenças causadas pela ideologia imperialista a respeito
do fim das utopias, pela crise instalada nas ciências sociais e etc., são orientados pelo
revisionismo e espontaneismo, perdendo a influência sobre a classe operária. O resultado é a
adoção de um projeto social bem distinto dos princípios básicos do partido comunista.
Em nossa opinião, um partido que pretende estar a serviço da classe operária deve ter
como princípios básicos: a autonomia frente às ideologias e os interesses do imperialismo, ou
seja, ter sua própria ideologia; deve entender que a sociedade é dividida em duas classes
fundamentais: a burguesia e a operária, em outras palavras, de exploradores e explorados.
Esta possui um antagonismo que não pode ser suprimida senão pela abolição do sistema
capitalista.
Ser um partido de classe operária, significa defender os interesses dos operários e
trabalhadores em geral, rejeitando toda e qualquer forma de conciliação entre as classes; é
preciso ser um partido com vida interna democrática e uma direção centralizada, permitindo o
exercício e participação de todos os membros nas tomadas de decisões e nas divisões de
tarefas, bem como a participação efetiva nas eleições da direção central e de todas as
organizações.
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Ser simultaneamente internacionalista e defensor dos interesses nacionais, pois é
importante que seja solidário com os trabalhadores de outros países, sem virar as costas para
as contradições internas especificas de cada nacionalidade; defender uma sociedade sem
exploradores e nem explorados, ou seja, uma sociedade socialista e que tem como único meio
para sua realização: a revolução violenta da classe operária.
E por fim, ser portador de uma teoria revolucionária. Em nossa opinião, essa teoria é o
marxismo-leninismo, pois só através dela, torna-se possível explicar as contradições do
capital e do imperialismo e indicar o caminho para transformar a realidade. Entendemos que
não haja um método pronto e acabado, uma vez que a realidade de cada país possui suas
particularidades e suas contradições internas. Todavia, esses princípios são indispensáveis a
qualquer partido que pretende ser um partido revolucionário.
No que diz respeito a crise do movimento sindical nos países que vivenciaram o
Welfare State, no qual a crise já se havia instalado desde o inicio da década de 1960. É de
fundamental importância que lembremos que os sindicatos sempre tiveram como motivação
principal a luta econômica, a adesão à luta mais ampla depende de outros vetores para que se
desenvolva, a exemplo da direção de um partido de classe verdadeiramente operário nos
termos colocados acima.
Como vimos anteriormente na abordagem de Lênin (1917), o Imperialismo tem
condições de proporcionar certa melhora de vida para um número reduzido da classe operária,
puxando-os para a defesa dos interesses do Capital e da conciliação de classe. Acreditamos
que o período do Welfare State tenha proporcionado certa melhoria de vida para a classe
operária, uma vez que concede alguns direitos trabalhistas e o acesso a alguns serviços
sociais, ao mesmo tempo se elevaram os números de postos de empregos, reivindicações
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antigas da classe operária no mundo. Embora não representou o fim da espoliação da classe
operária, pelo contrário, intensificou, pois manteve as bases da exploração e a extração da
mais-valia. Esta condição proporcionada pelo imperialismo contribui significativamente para
a redução e a abrangência da luta dos sindicatos, e abre espaço para o sindicalismo de
empresa em oposição ao sindicalismo combativo.
A crise no sindicalismo atinge a classe operária, contribuindo para abertura de espaço
para novos sujeitos sociais, assim nascem os novos movimentos sociais. Estes são assim
chamados por diversos estudiosos do assunto pela diferença destes em relação aos
movimentos tradicionais, particularmente o movimento operário. É num cenário de crise
econômica, política, social e ideológica que surgem e desenvolvem os chamados novos
movimentos sociais, apresentando-se no cenário mundial como alternativa para a luta contra o
capital. Embora os movimentos sociais tenham sido e ainda são significativos no plano da luta
social por melhores condições de vida e na conquista de direitos sociais e políticos, é
importante frisar que desde sua gênese, eles têm mostrado seus limites no que diz respeito às
transformações radicais nas estruturas do sistema capitalista e na luta anti-imperialista, pois a
abrangência dos seus objetivos são limitados, segmentados e imediatistas, que expressaram e
se expressam sobretudo nas temáticas relativas ao gênero, etnia, raça, meio ambiente e etc.
A reestruturação produtiva do

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