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É uma doença sistêmica autoimune do tecido conjuntivo cujas alterações predominantes ocorrem nas estruturas articulares, periarticulares e tendíneas. Manifesta-se pelos sinais cardinais de inflamação e seu substrato anatômico mais característico está sediado na membrana sinovial. Embora as manifestações articulares sejam típicas, se trata de uma doença sistêmica e outros órgãos podem ser envolvidos. A AR é uma das doenças reumáticas mais frequentes (prevalência de cerca de 1% no mundo). Acomete ambos os sexos, mas há predomínio do feminino 3:1. A idade média de início da doença é por volta dos 40 anos. Possui caráter hereditário: prevalência 2-10 vezes mais alta entre parentes de primeiro grau de pacientes com AR. Constitui fator de risco independente para mortalidade precoce, associada a maior risco de morte por doenças cardiovasculares (DCV). Relembrando imunologia: As moléculas do HLA-DR são proteínas receptoras de superfície celular que são codificadas pelo MHC de classe II e fazem parte da estrutura de ativação linfocitária durante a apresentação de antígenos pelas células apresentadoras (controle da resposta imunológica). As moléculas de MHC classe II são heterodímeros formados por cadeias α e β, codificadas pelos genes A e B, respectivamente. Na unidade α encontra-se apenas HLA-DRA1, mas dependendo do haplótipo (conjunto de genes no mesmo trecho de cromossomos), um ou mais genes HLA-DRB expressos poderão ser encontrados A variação na unidade beta ocorre porque diferentes genes podem ser responsáveis por sua codificação e assim se tem: HLA-DRB1, HLA-DRB3, HLA-DRB4 ou HLA-DRB5. Voltando para AR... O principal predisponente genético é o HLA-DRB1. Os alelos relacionados à AR contêm uma sequência de 5 aminoácidos na região do epítopo compartilhado. Dois alelos suscetíveis em um único indivíduo conferem suscetibilidade genética maior à AR, além de marcar pacientes com doença de evolução grave. Além dos genes HLA, existe também a participação de um conjunto mais de 30 genes não-HLA relacionados com a AR. Estão entre os mais importantes: PTPN22 e o CTLA4. A exposição pulmonar a agentes tóxicos (ex: fumaça do cigarro, partículas de sílica), bem como agentes microbianos, ativam os receptores Toll, induzindo a expressão da enzima PAD4. O resultado da ação dos agressores brônquicos seria a transformação de resíduos de arginina em citrulina, evento denominado citrulinização, mediado pela PAD4. Comportando-se como um neoepítopo, esse “novo” aminoácido, por perda de tolerância, favorece uma reação contra proteínas citrulinadas, dando origem aos anticorpos antiproteínas e peptídeos citrulinados (ACPA). Além disso, os agentes nocivos ao pulmão contribuem para o acúmulo e ativação das APC no próprio pulmão, incluindo células dendríticas e células B. OBS: O tabagismo é o maior fator de risco passível de intervenção Relacionado com o aparecimento da doença, com a gravidade, a concomitância de manifestação extra articular e a presença do FR. Bactérias e vírus também têm sido implicados na etiopatogênese da AR, entre eles os vírus parvovírus e EpsteinBarr, e o micoplasma Mycobacterium. Evidências indicam que pacientes com doença periodontal apresentam maior incidência de AR Infecção pela bactéria Porphyromonas gingivalis, que expressa a enzima PAD4. Epidemiologia: Etiopatogênese: Perturbações da microbiota intestinal e alterações na barreira também podem, possivelmente, desencadear AR. O HLA nas células apresentadoras, mediante o processamento de peptídios, ativa células TCD4+. Os linfócitos T continuariam a responder aos antígenos próprios, perpetuando o processo inflamatório, mesmo sem a persistência da exposição ao antígeno. Citocinas produzidas pelos macrófagos estimulam a diferenciação dos linfócitos Th-17, que inibe a diferenciação dos linfócitos T reguladores. Ativados, os linfócitos estimulam os monócitos, os macrófagos e os fibroblastos sinoviais a produzirem mais citocinas e metaloproteinases. O TNF-ɑ desempenha um papel de proporcionar estímulo aos fibroblastos da sinóvia para a síntese da colagenase (enzima proteolítica) e estímulo à reabsorção óssea. As evidências mostram que, na membrana sinovial inflamada da AR, há maior expressão de RANKL nos locais de erosões ósseas ( diferenciação de osteoclastos). Os linfócitos T CD4+ estimulam células B a produzir imunoglobulinas, incluindo o Fator Reumatoide, que promove a ativação do Complemento por meio da formação de imunocomplexos estimulando a inflamação e a sinovite crônica. ______________________ A sinovite, ao microscópio, pode ser caracterizada por uma fase de exsudação, uma de infiltração celular e pela formação de um tecido de granulação. Na fase de exsudação, a congestão e o edema são mais acentuados na superfície interna da membrana sinovial. Sua contrapartida é a formação de derrame no espaço articular. Na fase de infiltração, a célula predominante é o linfócito T, com predominância de auxiliares/indutores (células CD4+). A fase crônica é caracterizada por uma membrana sinovial hiperplasiada, com a formação de um tecido de granulação que recobre a cartilagem e o osso subcondral (pannus). O pannus é um tecido invasivo composto por células que produzem grandes quantidades de enzimas destrutivas que progressivamente substitui a cartilagem hialina. As queixas iniciais consistem em uma poliartrite aditiva, simétrica, associada a edema e rigidez articular. Os sintomas articulares clássicos desenvolvem-se em um período de poucos dias a algumas semanas, e não é infrequente a presença de mialgia, fadiga, febre baixa, hiporexia, emagrecimento e depressão. As articulações mais frequentemente envolvidas no início da enfermidade são os punhos, as metacarpofalângicas, interfalângicas proximais, metatarsofalângicas, os ombros e os joelhos. Com a evolução da doença, outras articulações costumam ser afetadas. A dor é de ritmo inflamatório (pior pela manhã e à noite) e, em geral, o paciente se queixa de rigidez articular pela manhã e após períodos de imobilização prolongada. A rigidez da AR geralmente é de longa duração (> 60 minutos). As alterações locais de inflamação articular são frequentes (calor, edema com ou sem efusão, rubor leve e limitação de movimentos articulares). Nos casos de evolução mais longa ou quando o tratamento não se realizou de modo adequado, são comuns as instabilidades articulares e as deformidades. O acometimento da coluna vertebral, quando presente, é geralmente limitado à coluna cervical, particularmente à sua porção superior. Algumas deformidades dos dedos que podem ser vistas na AR estabelecida são: Dedos em fuso: secundários à tumefação das articulações interfalângicas proximais Dedos em pescoço de cisne: pela hiperextensão das articulações IFP e flexão das IFD Manifestações articulares: Dedos em botoeira: caracterizados por uma flexão das articulações IFP e hiperextensão das IFD Dedos em martelo: formados pela flexão permanente das articulações IFD O acometimento dos polegares ocorre em uma posição em Z, secundária à flexão das articulações MCF e à hiperextensão das articulações interfalângicas. As manifestações periarticulares são resultantes da extensão do processo inflamatório articular para outras estruturas do tecido conjuntivo. Como consequência, podem ocorrer: Tenossinovite De Quervain: inflamação do tendão do extensor curto e abdutor longo do polegar e de suas respectivas bainhas Tenossinovite estenosante dos flexores dos dedos das mãos (“dedos em gatilho”) Síndrome do túnel do carpo e do tarso Rupturas dos tendõesextensores nas mãos, levando à impotência na extensão dos dedos Bursites e cistos sinoviais No início da enfermidade, são frequentemente encontrados sintomas e sinais sistêmicos como astenia, hiporexia, ansiedade, mialgia e emagrecimento leve. Pode haver também linfadenopatia e febre baixa a moderada. Esses sintomas podem preceder ou acompanhar o início das manifestações articulares Os nódulos reumatoides (NR) subcutâneos são as manifestações extra-articulares mais frequentes (20 a 40% dos pacientes), e são preditores clínicos de AR mais grave e erosiva. Os NR são firmes, não dolorosos e móveis no tecido subcutâneo; no entanto, eles também podem ser aderidos a estruturas subjacentes, como periósteo, fáscia e tendões. Apresentam-se de tamanho variado, de alguns milímetros a vários centímetros de diâmetro. Podem aumentar ou regredir, recorrer ou persistir indefinidamente. A maioria dos nódulos subcutâneos é encontrada sobre proeminências ósseas, superfícies extensoras, áreas submetidas à pressão ou adjacentes a articulações ocasionalmente, manifestam-se também em esclera, orelhas, coração, cordas vocais, pulmões, sistema nervoso, parede abdominal e músculos. Acredita-se que sejam o resultado de vasculite de pequenos vasos A vasculite reumatoide (VR) é uma complicação rara, porém temida, da doença. Trata-se de um processo inflamatório clinicamente heterogêneo que afeta sobretudo vasos sanguíneos de pequeno a médio calibre. Alta mortalidade: até 40% dos pacientes morrem dentro dos 5 anos de início da manifestação. A vasculite cutânea e a neuropatia vasculítica são as formas mais comuns. Pode haver ulceração cutânea, pioderma gangrenoso, formação de pequenos pontos hemorrágicos nos cantos das unhas, gangrena, osteólise digital, púrpura palpável, neuropatia periférica e acometimento de órgãos internos. A arterite visceral pode acometer coração, pulmões, intestinos, rins, fígado, baço, pâncreas, linfonodos e testículos Pacientes com manifestações extra-articulares, geralmente associadas a maior inflamação sistêmica, apresentam maior mortalidade por DCV. Variadas e frequentes, as manifestações pulmonares podem ser as iniciais da doença (responsáveis por 10 a 20% das mortes dos pacientes com AR). Pode ocorrer o acometimento de qualquer um dos componentes do trato respiratório, principalmente na forma de pleurite com ou sem derrame, nódulos pulmonares, fibrose intersticial e pneumonite com ou sem vasculite. Na AR, a pneumonia intersticial usual (PIU) parece ser o padrão mais comum. Mais raramente, nódulos reumatoides podem acometer o parênquima pulmonar. Na tomografia, aparecem bem definidos como nódulos redondos que podem cavitar. Os olhos são acometidos em 15 a 25% dos casos de AR. As complicações oculares afetam mais Manifestações extra-articulares e acometimento sistêmico: frequentemente o segmento anterior do que o segmento posterior dos olhos. O acometimento do segmento anterior inclui ceratoconjuntivite seca, ceratite ulcerativa periférica, episclerite e esclerite anterior. Já no segmento posterior pode haver esclerite posterior e, raramente, vasculite retiniana. As provas de atividade inflamatória (VSH e PCR) não apresentam especificidade, mas são os marcadores laboratoriais muito utilizados para avaliar a atividade da doença e a resposta terapêutica. O FR encontra-se positivo em 70 a 80% dos pacientes com AR A negatividade do FR não exclui o diagnóstico de AR! E sua positividade deve ser cuidadosamente interpretada de acordo com os achados clínicos. Níveis mais elevados de FR associam-se a doença agressiva, presença de nódulos reumatoides e manifestações extra-articulares. Os anticorpos mais específicos para AR são os ACPA. Esses anticorpos podem ser detectados em aproximadamente 70 a 80% dos soros de pessoas com AR (e com especificidade de 90 a 98%) detectados pelo anti-CCP. O estudo do FAN tem importância limitada, embora possa ser positivo em 30 a 40% dos pacientes com AR. A análise do líquido sinovial na AR pode revelar redução de sua viscosidade, aspecto turvo e leucocitose em níveis inflamatórios, ocorrendo às custas de neutrofilia e/ou monocitose. A concentração de proteína pode estar elevada e a glicose, diminuída (40 mg/dℓ de diferença para o plasma). Na prática clínica, indica-se a realização de radiografias de mãos/punhos e antepés como avaliação básica e, depois do diagnóstico, 12 meses seria o período recomendado para o acompanhamento radiográfico. Manifestações radiográficas na AR: Simetria Osteopenia (no início é periarticular e, com a evolução, torna-se mais difusa) Aumento de partes moles Redução do espaço articular: deve-se à destruição progressiva da cartilagem articular Erosões ósseas (indicam destruição da cartilagem articular) Cistos ósseos (devido invasão da cartilagem e do osso pelo pannus reumatoide) Deformidades e instabilidades A RM é mais sensível que a radiografia simples para identificar erosões cartilaginosas e ósseas. Também é possível identificar e estimar o volume de tecido sinovial hipertrofiado, que, por sua vez, correlaciona-se com o desenvolvimento futuro de dano cartilaginoso e erosões ósseas. O diagnóstico da AR é clínico e estabelecido considerando-se as manifestações clínicas e os exames complementares. O ACR e a European League Against Rheumatism (EULAR), em 2010, desenvolveram em conjunto novos critérios de classificação com o objetivo de aumentar, principalmente, a sensibilidade do diagnóstico em fases mais precoces da doença são necessários pelo menos quatro critérios. Critério Definição Rigidez matinal duração mínima de 60 min Artrite de ≥ 3 áreas articulares Pelo menos três articulações diferentes acometidas simultaneamente, com edema ou efusão vistos por médico Artrite de articulações das mãos Pelo menos uma articulação edemaciada, em punhos, MCF ou IFP Artrite simétrica Envolvimento bilateral simultâneo Nódulos reumatoides Nódulos subcutâneos sobre proeminências ósseas ou superfícies extensoras ou em regiões justarticulares, observados por médico Fator reumatoide Demonstração do fator reumatoide por qualquer método que seja positivo em menos de 5% dos controles normais Alterações radiográficas Alterações típicas, vistas em radiografia em incidência PA de mãos e punhos e que incluem osteopenia periarticular e erosões ósseas Manifestações laboratoriais: Exames de imagem: Diagnóstico: A remissão da doença é alcançada quando sua atividade encontra-se ausente. Para se definir remissão clínica, o ACR propôs os seguintes critérios: Rigidez matinal inferior a 15 min Ausência de fadiga Ausência de dor articular Ausência de dor à mobilização articular Ausência de edema articular e das bainhas tendíneas VHS < 30 mm/h (mulheres) ou 20 mm/h (homens). A doença é considerada em remissão quando o paciente apresentar pelo menos cinco desses seis critérios, com duração mínima de 2 meses consecutivos. Não deve também apresentar manifestações clínicas de vasculite ativa, serosite, miosite, febre e emagrecimento recente inexplicável. O objetivo principal do tratamento é a remissão ou a baixa atividade da doença. Tratamento sintomático: Repouso articular Para o combate à dor e à inflamação por via sistêmica, são utilizados preferencialmente AINEs. Os analgésicos comuns e opioides podem ser necessários para alguns pacientes, mas são administrados por curtos períodos. Corticosteroides podem ser usados para pacientes que principiam o uso de medicações remissivas, até que estas realizem sua atividade terapêutica, ou em períodos de piora da doença. Nesses casos, a dose da medicação não deve, idealmente, ultrapassar o equivalente a 10 mg/dia de prednisona. Outra indicação de corticoides é a vigência de manifestações sistêmicas extra-articulares, como as vasculites e o envolvimento pulmonar, administrados em dose diária oral ou na forma de pulsoterapia venosa de metilprednisolona. Os pacientes que usarão glicocorticoides por tempo prolongado (mais de 3 meses) devem receber suplementação de cálcio (1.500 mg/dia de cálcio elementar) e vitamina D3 (400 a 800 UI/dia) e ser avaliados quanto à possibilidade de desenvolvimento de osteoporose. Tratamento modificador do curso da doença: Os medicamentos modificadores do curso da doença dividem-se em três categorias: Sintéticos convencionais Metotrexato, leflunomida, antimaláricos e sulfassalazina Sintéticos alvo-específico Tofacitinibe Biológicos Adalimumabe, certolizumabe, etanercepte, golimumabe, infliximabe, abatacepte, rituximabe e tocilizumabe Metotrexato (MTX): É um inibidor seletivo da enzima dihidrofolato redutase e de outras enzimas folato-dependentes. A inibição das enzimas folato-dependentes reduziria o acúmulo de leucócitos nos sítios inflamatórios e interferiria na síntese das interleucinas (principalmente IL-1 e IL-6) e do TNF- alfa. Ele é capaz de reduzir sinais e sintomas de atividade da AR, melhorar o estado funcional, além de bloquear a progressão das lesões radiográficas. Pode ser usado isoladamente ou associado a outros medicamentos Recomenda-se que a dose inicial seja de 12,5 a 15 mg/semana (VO, SC ou IM). Caso não se observe melhora ou controle da doença com a dose inicial, deve-se aumentar progressivamente a dose a cada 2-4 semanas de tratamento, até se alcançar a dose máxima (20 a 30 mg) É administrado em 2 a 3 tomadas, com intervalos aproximados de 12 h. Seus efeitos terapêuticos são esperados em 4 a 12 semanas. Deve ser monitorado, principalmente, por sua toxicidade hepática, renal e hematológica. Não deve ser administrado durante a gravidez, por ser teratogênico. Pacientes que referem astenia, fadiga ou outros eventos adversos com o uso do MTX terão esses efeitos minimizados com o uso de ácido fólico, 1 a 2 mg/dia ou 5 a 10 mg/semana. Antimaláricos: Tem seu uso recomendado como esquema inicial no tratamento da AR associados aos AINEs e aos corticosteroides. As melhores respostas são obtidas nos pacientes em fase inicial da doença e cuja artrite é de leve intensidade. Tratamento: Os resultados são obtidos, em média, após 3 a 6 meses de uso A dose convencional deve ser de: Difosfato de cloroquina: 3 a 4 mg/kg/dia (máximo de 250 mg/dia) Hidroxicloroquina: 6 mg/kg/dia (máximo de 400 mg/dia). Podem ser administrados por longo período, dependendo da tolerância, especialmente a ocular (toxicidade retiniana, maculopatia) Embora cruzem a barreira placentária, parece não haver efeitos colaterais para o feto, podendo ser utilizada na gravidez. Não há contraindicação para a amamentação. Sulfassalazina: Tem importantes efeitos antinflamatórios e imunomoduladores. É menos eficaz que o MTX. Seus benefícios são notados entre 4-12 semanas do início de sua utilização. A dose usada em pacientes com AR varia de 1 a 3 g/dia, habitualmente em 2 tomadas diárias, após as principais refeições. Os efeitos colaterais gastrintestinais constituem um fator limitante ao seu uso em doses adequadas, em especial náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia. Pode também ser utilizada em associação ao MTX ou aos antimaláricos, e estudos mostram que essa associação tríplice apresenta melhores resultados do que quando as associações ocorrem isoladamente. Pode ser utilizado na gravidez. Leflunomida: É um inibidor de síntese de pirimidina que reduz a proliferação de células T por meio do seu metabólito ativo, a teriflunomida. Melhora a atividade de doença e a qualidade de vida e reduz a progressão radiográfica. A dose recomendada é 20 mg/dia, em uma única tomada. Pode ser usada na AR moderada e/ou grave, isoladamente, naqueles pacientes que não respondem ao tratamento com o MTX ou ainda podem ser utilizadas ambas as medicações em associação. Seus principais efeitos colaterais são rash cutâneo, alopecia reversível, náuseas, diarreia, hipertensão arterial, neuropatia periférica (habitualmente reversível), leucopenia e elevação de enzimas hepáticas. A maioria dos eventos adversos associados ao uso da leflunomida é leve e reversível. Quando associada ao MTX, a leflunomida pode potencializar os efeitos tóxicos dessa medicação sobre a medula óssea, podendo levar à pancitopenia. É absolutamente contraindicada na gravidez ou para mulheres com potencial de gravidez por sua teratogenicidade. Azatioprina e ciclofosfamida (imunossupressores) Indicadas para pacientes que não respondem aos tratamentos anteriores e para os que apresentam vasculite sistêmica ou doença pulmonar intersticial. A azatioprina interfere na síntese do DNA, com redução da proliferação de linfócitos B e, talvez, linfócitos T. É utilizada na dose de 1,5 a 2,5 mg/kg/dia e seus efeitos terapêuticos são observados em 2 a 3 meses. Regularmente, os pacientes devem ser avaliados para supressão da medula óssea, sobretudo leucopenia e neutropenia A ciclofosfamida atua cindindo o DNA e afetando as células em todas as fases de seu ciclo de crescimento. Isso leva à redução dos níveis circulantes de anticorpos e imunocomplexos. Pode ser usada VO na dose de 1 a 2 mg/kg/dia ou por via intravenosa (IV) na dose de 500 a 1.000 mg/m 2. Sua utilização VO tem sido decrescente, entretanto, é cada vez mais utilizada em pulsoterapia. Biológicos: São indicados para os pacientes que persistem com atividade da doença, apesar do tratamento com pelo menos 2 dos esquemas propostos anteriormente. Devem ser utilizados em associação a um modificador de doença, preferencialmente com MTX. Encontram-se disponíveis comercialmente no Brasil os seguintes agentes modificadores da resposta biológica: 1. Bloqueadores de TNF: adalimumabe, etanercepte, infliximabe, certolizumabe e golimumabe 2. Depletor de linfócito B: rituximabe 3. Bloqueador da coestimulação do linfócito T: abatacepte 4. Bloqueador do receptor de IL-6: tocilizumabe. OBS: O Rituximabe é indicado a pacientes com AR em atividade moderada a grave que tiveram falha terapêutica ao agente anti-TNF. É administrado na dose de 1.000 mg em 2 infusões IV em um intervalo de 15 dias. Na AR, é utilizado preferencialmente em associação ao MTX, podendo ser usado em monoterapia. Considerações: Os sintéticos convencionais (MTX, leflunomida, antimaláricos e sulfassalazina) são medicamentos considerados de primeira linha, sendo o MTX o de primeira escolha. Quando não ocorre resposta adequada ao MTX com dose máxima por causa de eventos adversos, deve-se utilizar outro MMCD em monoterapia ou em combinação. Quando se associa e o paciente melhora, pode- se gradativamente diminuir até a suspensão do MTX, ficando o paciente em monoterapia posteriormente. Caso não melhore com a associação, já se pode partir para a utilização dos biológicos, sintéticos alvo-específico, ou trocar por outros MMCD sintéticos. Essa troca é definida na ausência de resposta em um período de 3 meses ou quando não se atinge o alvo terapêutico em 6 meses. Os biológicos e os sintéticos alvo-específico são considerados de segunda linha e devem ser indicados após a utilização de pelo menos dois dos esquemas propostos na primeira linha de tratamento. Os biológicos inseridos na segunda linha de tratamento são os anti-TNF, o bloqueadorda coestimulação de linfócitos T (abatacepte) e o bloqueador do receptor de IL6 (tocilizumabe), sobretudo associados a medicamentos sintéticos convencionais (preferencialmente MTX). Já a terceira linha é usada em falha terapêutica ou toxicidade da segunda linha. Após 3 meses de MMCDbio (em monoterapia ou combinada), havendo persistência da atividade da doença, deve-se usar outro esquema de MMCDbio (anti- TNF ou não anti-TNF) ou Tofacitinibe. Se possível, associar a um MMCD sintético (preferencialmente MTX). É importante ressaltar que se deve ter um período de 3 a 6 meses para realizar a troca de esquema terapêutico Nos casos em que se obtém remissão completa e sustentada (pelo menos 6 meses), as medicações podem ser retiradas, gradativamente. Retira-se primeiro o AINE, seguido dos corticosteroides e biológicos ou sintéticos alvo- específico, mantendo-se o uso do sintético convencional (MMCDsc). Após a retirada do biológico, pode-se tentar a redução de dose do sintético convencional. Excepcionalmente, caso a remissão continue sustentada, pode-se considerar sua retirada. É importante comentar essa retirada gradativa, com manutenção do MMCDsc, pois manter o paciente sem medicamento após a remissão é correr um risco de rápido retorno da atividade da doença.
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