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MÓDULO DISTÚRBIOS SENSORIAIS, MOTORES E DA CONSCIÊNCIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves CONDUTA TERAPÊUTICA NO TCE NA SALA DE EMERGÊNCIA O atendimento inicial de qualquer paciente politraumatizado, com ou sem TCE, deve ser realizado segundo o que é preconizado pelo ATLS (A-B-C-D-E do trauma); estando a avaliação neurocirúrgica na letra D, correspondente a "disClbility". EXAME NEUROCIRÚRGICO HISTÓRIA DO TRAUMA É de suma importância conhecer o mecanismo e a gravidade do trauma, assim como os dados sobre a consciência (perda de consciência, amnésia lacunar e rebaixamento do nível de consciência), para guiar as condutas subsequentes. EXAME FÍSICO INSPEÇÃO DO CRÂNIO Evidência de fratura de base de crânio: → Olhos de guaxinim; → Sinal de Battle; → Rinorreia/otorreia liquórica; → Hemotímpano; ou → Laceração do conduto auditivo externo Avaliar fraturas de face (fraturas de Le Pon), edema periorbital e proptose; EXAME DA COLUNA VERTEBRAL EXAME NEUROLÓGICO Exame do nível de consciência: avaliado pela ECG; Exame motor: → Se cooperativo, avaliar a força nos 4 membros; → Se não cooperativo, avaliar movimentos nas extremidades ao estímulo doloroso. Exame objetivo de nervos cranianos e avaliação das pupilas; Exame de sensibilidade: → Se cooperativo, avaliar sensibilidade tátil nos principais dermátomos; → Se não cooperativo, avaliar reação à dor em diversos pontos; Reflexos: → Checar reflexo cutaneoplantar; → Se houver dúvida de lesão medular, checar o tônus anal em repouso → Avaliar contração esfinctérica voluntária; e → Reflexo bulbocavernoso. CATEGORIZAÇÃO CLÍNICA DO RISCO DE LESÃO INTRACRANIANA BAIXO RISCO DE LESÃO INTRACRANIANA Pacientes em ECG 15, assintomáticos ou com: → Cefaleia; → Vertigem; → Hematoma subgaleal e laceração; → Abrasão ou contusão de couro cabeludo; Sem que haja critérios de alto risco ou risco moderado. Nesses casos, recomenda-se observação domiciliar com instruções escritas sobre TCE. Não está indicada TC. RISCO MODERADO DE LESÃO INTRACRANIANA Pacientes com ECG ≤ 14 ou com ECG 15 e: → História de alteração ou perda de consciência; → Cefaleia progressiva; → Intoxicação por drogas ou álcool; → Crises convulsivas pós-traumáticas; → História do trauma não confiável; → Menores de 2 anos de idade; → Amnésia lacunar; → Sinais de fratura de base de crânio; → Lesão facial grave; → Politraumatismo grave; → Traumatismo com grande energia cinética envolvida; → Antecedente de distúrbio de coagulação ou uso de anticoagulantes; → Possibilidade de fratura com afundamento ou penetração; → Suspeita de abuso infantil. Recomendam-se TC e observação intra-hospitalar, a fim de excluir qualquer deterioração neurológica. A observação domiciliar pode ser feita para pacientes com ECG > 14 na entrada, mas sem alterações posteriores, com TC normal e se houver um responsável que possa trazê-lo em caso de necessidade. MÓDULO DISTÚRBIOS SENSORIAIS, MOTORES E DA CONSCIÊNCIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves Manter o paciente em observação intra-hospitalar e com TC, se necessário, é tão sensível em detectar hematomas intracranianos quanto realizar TC inicialmente; → Porém, o custo-efetivo é menor do que realizar a TC e liberar os casos em que o paciente esteja normal. ALTO RISCO DE LESÃO INTRACRANIANA Inclui os casos de pacientes com rebaixamento do nível de consciência, excluindo- se: → Uso de drogas ou álcool; → Anormalidades metabólicas; → Estado pós-ictal; → Crise convulsiva pós-traumática; → Déficit focal; → Lesão penetrante no crânio; ou → Fratura com afundamento; → Presença de sinais de fístula liquórica; → Lesão de nervos cranianos; → Antecedentes de doenças neurológicas; e → Uso de válvulas para hidrocefalia ou de anticoagulante. Recomenda-se: → Realizar TC de crânio; → Internação hospitalar; → Considerar craniotomia exploradora nos casos de rápida deterioração neurológica; → Avaliar a necessidade de monitoração de pressão intracraniana (PIC). AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE CRÂNIO Sempre sem contraste e com janela óssea. As condições que devem ser excluídas são: → Sangue (hemorragia ou hematomas): as coleções extra-axiais (hematoma extradural e subdural) potencialmente cirúrgicas são aquelas em que a maior espessura é ≥ 1 cm. → Trauma é a principal causa de HSA, mas, se a história de trauma não for bem estabelecida, deve-se indicar aneriografta. → Outras condições são os hematomas intraparenquimatosos e as contusões cerebrais; → Hidrocefalia; → brain swelling: apagamento das cisternas da base e compressão de ventrículos e sulcos; → Anoxia cerebral: perda da diferenciação entre substância branca e cinzenta, associada a sinais de edema; → Fraturas cranianas; → Infarto isquêmico: os achados são minimos nas primeiras 24 horas; → Pneumoencéfalo: pode indicar fratura de base de crânio; → Desvio de linha média. INDICAÇÕES DA TC INICIAL Todos os pacientes com ECG 14; Pacientes com ECG 15, recomenda-se TC nos casos com moderado ou com alto risco de lesão intracraniana, isto é, em traumatismos com grande energia cinética (p.ex., acidente com vítima fatal), Alcoolizados; Com distúrbio de coagulação ou uso de anticoagulantes, Perda de consciência no local do acidente, amnésia lacunar e crise convulsiva; → Situações especiais incluem os menores de 2 anos de idade, suspeita de abuso infantil e pacientes que serão submetidos à anestesia geral e, portanto, ficarão com menos parâmetros neurológicos de avaliação A TC é repetida com urgência nos casos de deterioração neurológica (perda de dois ou mais pontos na ECG e desenvolvimento de hemiparesia ou assimetria pupilar): → Cefaleia persistente ou progressiva; → Crises convulsivas; ou → Elevação da PIC sem causa aparente. RADIOGRAFIA DE COLUNA Coluna cervical: deve ser visualizada radiograficamente desde a transição craniocervical até a junção de C7-Tl. → A precaução com a coluna (colar cervical) deve ser mantida até se excluir qualquer tipo de lesão cervical; Coluna torácica e lombossacral: deve ser solicitada na vigência de suspeita de lesão, tanto pela história do trauma quanto pelo exame clínico. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Geralmente, a RM não é um exame apropriado em casos de TCE agudo. Pode ser útil no seguimento tardio de paciente estabilizado, para avaliar lesão de tronco cerebral e alterações na substância branca. MÓDULO DISTÚRBIOS SENSORIAIS, MOTORES E DA CONSCIÊNCIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves CONDUTAS ESPECÍFICAS NO ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA Hipotensão e hipóxia devem ser evitados / corrigidos o mais rápido possível. A pressão arterial média (PAM) deve ser mantida> 90 mmHg, por meio da infusão de líquidos. ORIENTAÇÕES NO TCE LEVE (ECG 13-15) Repouso no leito e cabeceira a 30 a 45°; Avaliação neurológica a cada 2 horas; ECG e pupilas; Dieta zero até estar alerta, depois iniciar com líquidos e avançar de acordo com a tolerabilidade; Analgésicos leves e antieméticos. ORIENTAÇÕES NO TCE MODERADO (ECG 9-12) Mesmas orientações do TCE leve, mais manter em dieta zero os pacientes que necessitem de intervenção cirúrgica. Em pacientes com TC normal ou pouco alterada, realizada antes das 6 primeiras horas do trauma, o exame deve ser repetido nas próximas 24 horas ou antes, se houver piora clínica. ORIENTAÇÕES NO TCE GRAVE (ECG 3-8) Após estabilização inicial, o paciente deve ser encaminhado para a realização de TC. Contudo, existem casos nos quais algumas medidas devem ser tomadas antes da realização da TC, seja: → Por instabilidade hemodinâmica ou por indisponibilidade de tomógrafo; → Na vigência de deterioração neurológica grave determinada por sinais de HIC grave (anisocoria, déficit focal, descerebração, deconicação).Para esses casos, as medidas preconizadas incluem: → Sedação e hiperventilação leves; → Uso de manitol ou solução salina hipertônica; e → Eventualmente, trepanação exploradora. INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL → ECG ≤ 8 com incapacidade de manter vias aéreas pérvias ou permaneçam em hipóxia mesmo com oxigênio suplementar; → Necessidade de hiperventilação; → Trauma maxilofacial severo; → Necessidade de uso de relaxantes musculares ou sedação. Deve-se ter atenção para intubação de pacientes com suspeita de fratura de base de crânio, sendo que, nesses casos, indica-se EOT. Vale lembrar que pacientes intubados são incapazes de verbalizar, o que pode interferir na avaliação da ECG. Em muitos pacientes com trauma facial grave, a realização de cricotireoidostomia ou traqueostomia é necessária. SEDAÇÃO E USO DE RELAXANTES MUSCULARES (antes de monitoração da PIC) A sedação deve ser feita com midazolam e fentanil. O uso de bloqueadores neuromusculares deve ser feito quando a sedação for insuficiente. O uso rotineiro de sedação e bloqueadores neuromusculares em neurotrauma pode levar a aumento da incidência de pneumonia, longo período em centro de terapia intensiva e sepse. Seu uso deve ser reservado para casos com evidência clínica de HIC ou, se for necessário, remoção do paciente. HIPERVENTILAÇÃO A hiperventilação antes da monitoração da PIC deve ser realizada se houver: → Sinais de herniação transtentorial; ou → Déficit neurológico progressivo não atribuível a causas extracranianas. Não deve ser utilizada profilaticamente, pelo risco de causar isquemia. A alcalose aguda aumenta a ligação do cálcio à proteína, de modo que pacientes hiperventilados podem desenvolver hipocalcemia ionizada com tetania. Quando houver indicação, a hiperventilação deve ter como alvo uma PCO2 entre 30 e 35 mmHg. MANITOL O uso de manitol antes da monitoração da PIC deve ser reservado para pacientes que: → Estejam hemodinamicamente estáveis; e → Com sinais de herniação transtentorial ou déficit neurológico progressivo não atribuível a outras causas extracranianas. As indicações na sala de emergência são: → Evidência de HIC; → Evidência de efeito de massa e déficit focal; → Deterioração neurológica súbita antes da realização de TC; MÓDULO DISTÚRBIOS SENSORIAIS, MOTORES E DA CONSCIÊNCIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves → Após TC, se houver lesão intracraniana associada à HIC; → Avaliação da viabilidade de pacientes sem função de tronco cerebral; → Observação da possibilidade de retomo de reflexos de tronco. As contraindicações são: Fazer uso profilático, pois o manitol interfere no volume intravascular; Uma contraindicação relativa é que o manitol pode interferir na coagulação; Antes de causar diurese, o manitol aumenta transitoriamente o volume intravascular, o que é prejudicial aos pacientes com insuficiência cardíaca. A dose indicada é 1,4 g/kg em 20 minutos, quando ocorre o pico de ação, e volume idêntico ao de manitol deve ser feito com cristaloides. TREPANAÇÕES EXPLORADORAS Em pacientes com trauma, a tríade de: → Alteração do nível de consciência; → Anisocoria com perda do reflexo à luz; e → Hemiparesia contralateral; ... é muito provavelmente consequência de compressão de tronco por herniação transtentorial, a qual ocorre, na maioria das vezes, por hematoma intracraniano extra- axial. A trepanação exploradora tem apenas 20% de resultados satisfatórios. Esse procedimento é inicialmente diagnóstico, pois o sangramento não pode ser contido e a maioria dos hematomas agudos está coagulada o suficiente para impedir a drenagem pelo orifício de trepanação. As indicações para esse procedimento incluem: → Pacientes que necessitem de cirurgia de emergência de outros sistemas; → Nos quais não tenha sido possível a realização de TC; e → Critérios clínicos baseados na deterioração do exame neurológico. As indicações na sala de emergência são raras e incluem: → Pacientes que estão evoluindo rapidamente para óbito por herniação transtentorial; ou → Compressão de tronco que não estabiliza com manitol nem com hiperventilação. Nesses casos, têm-se pacientes com: → Rebaixamento súbito da pontuação na ECG; → Pupila fixa e dilatada; e → Paralisia ou descerebração. TRATAMENTOS HEMATOMA EPDIURAL O tratamento expectante pode ser tentado em casos de HED subagudos ou crônicos pequenos (< 1 cm de espessura), oligossintomáticos e sem evidência de herniação. → Nesses casos, deve-se admitir e monitorar o paciente e realizar TC de controle em 1 semana, se clinicamente estável, e repetir em 1 a 3 meses para documentar a resolução. Se houver sinais de efeito de massa, deve-se operar. A evacuação cirúrgica deve ser feita na sala de cirurgia, a menos que ocorra hemiação na sala de emergência. As indicações de cirurgia são: → Qualquer HED sintomático; → HED assintomático > 1 cm de espessura; → HED em crianças, que é mais perigoso, por haver menos espaço para o hematoma. OUTRA REFERÊNCIA A HED sintomática aguda é uma emergência neurológica que muitas vezes requer tratamento cirúrgico para prevenir lesão cerebral irreversível e morte causada por: → Expansão de hematoma; → Pressão intracraniana elevada; e → hérnia cerebral. Pacientes selecionados que apresentam boas condições clínicas com HED de pequeno volume podem ser tratados de forma não cirúrgica, desde que permaneçam estáveis. A observação atenta e imagens seriadas do cérebro são um aspecto importante do manejo não cirúrgico, uma vez que o aumento do hematoma e a deterioração neurológica, que requerem cirurgia, podem ocorrer nesses pacientes. HEMATOMA SUBDURAL A evacuação cirúrgica imediata deve ser considerada em subdurais sintomáticos com espessura > 1 cm em adultos e 0,5 cm em crianças. Uma craniotomia ampla geralmente é necessária para drenar o hematoma e facilitar a busca do foco de sangramento. MÓDULO DISTÚRBIOS SENSORIAIS, MOTORES E DA CONSCIÊNCIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves OUTRA REFERÊNCIA A HED sintomática aguda é uma emergência neurológica que muitas vezes requer tratamento cirúrgico para prevenir lesão cerebral irreversível e morte causada por: → Expansão de hematoma; → Pressão intracraniana elevada; e → hérnia cerebral. A decisão entre o manejo operatório ou não operatório da SDH é baseada em vários fatores, incluindo o seguinte: → Escala de coma de Glasgow (ECG) → Achados de TC de crânio, principalmente espessura do coágulo SDH, grau de desvio da linha média e presença de lesão cerebral associada → Exame neurológico, incluindo sinais pupilares → Estabilidade clínica ou deterioração ao longo do tempo → Acuidade de HSD → Presença e gravidade de comorbidades e traumas associados → Idade O manejo não cirúrgico da HSD aguda pode ser apropriado para pacientes clinicamente estáveis com pequenos hematomas (espessura do coágulo <10 mm); → Mesmo aqueles com coma, desde que não haja sinais clínicos ou tomográficos de herniação cerebral (ou seja, desvio da linha média <5 mm) ou pressão intracraniana elevada. A evacuação cirúrgica para pacientes com HSD aguda que têm espessura do coágulo > 10 mm ou desvio da linha média > 5 mm, independentemente do escore da ECG. → Além disso, a cirurgia é recomendada se o escore GCS tiver diminuído ≥ 2 pontos desde o momento da lesão até a admissão hospitalar e/ou o paciente apresentar pupilas assimétricas ou fixas e dilatadas. O manejo não cirúrgico é recomendado em UTI com monitoramento da PIC para pacientes que apresentam coma (definido como escore GCS <9), desde que sejam neurologicamente estáveis e tenham: → Espessura do coágulo <10 mm; desvio da linha média <5 mm; → Não anormalidades pupilares; e → Sem hipertensão intracraniana. A cirurgia é recomendada para essespacientes se a PIC for consistentemente > 20 mmHg. As diretrizes recomendam ainda que a cirurgia seja realizada o mais rápido possível para pacientes com indicação cirúrgica. → A craniotomia é a técnica cirúrgica recomendada para pacientes com HSD aguda e coma (escore GCS <9).
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