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Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato HEMOFILIAS 1° - DEFINIÇÃO: São doenças hereditárias, classificadas como coagulopatias, herdadas como condições recessivas ligadas ao cromossomo X decorrentes de deficiência ou anormalidade dos fatores de coagulação, acometendo quase que exclusivamente indivíduos masculinos: Hemofilia A → Hemofilia clássica – Deficiência no fator VIII, variação do gene F8 Hemofilia B → Doença de Christmas – Deficiência no fator IX, variação do gene F9 De acordo com o grau de deficiência do fator, a sua manifestação também varia entre grave, moderada e leve. Pode ser: → Hereditária (em 70% dos casos) → Adquirida (em 30% dos casos) – Devido um autoanticorpo adquirido que atua como um inibidor de fator para um dos fatores de coagulação endógenos. Rara e normalmente associada ao câncer, doenças autoimunes, artrite reumatoide, LES, idiopatias e alteração genética no momento da concepção, sem histórico familiar. 2° - CLASSIFICAÇÃO: GRAVIDADE DA DOENÇA Quando usada para hemofilia A e B, a gravidade da doença é definida de acordo com os níveis de fator no plasma. → DOENÇA GRAVE: atividade do fator < 1% do normal → DOENÇA MODERADA: atividade do fator 1 a 5% do normal → DOENÇA LEVE: atividade do fator > 5% (e < 40% do normal) 2° - EPIDEMIOLOGIA: → A hemofilia A corresponde a 80% dos casos e sua prevalência é de cerca de 1/5.000 nascimentos do sexo masculino. → A prevalência da hemofilia B é estimada em 1/30.000 nascimentos do sexo masculino. → Não existe um grupo étnico que apresente uma maior ou menor incidência dessa doença. → A relação de hemofílico em nosso país está para 1 hemofílico do sexo masculino a cada 10 mil nascidos. Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato 3° - GENÉTICA: As hemofilias são doenças de transmissão recessiva ligada ao cromossomo X, sendo transmitidas a indivíduos do sexo masculino através de mães portadoras da mutação. No entanto, em cerca de 30% dos casos, a doença origina-se a partir de uma mutação de novo, fenômeno que pode ocorrer na mãe ou no feto. Os genes que codificam os fatores VIII e IX estão localizados no braço longo do cromossomo X. Os defeitos genéticos da hemofilia A compreendem: → Deleções → Inserções → Mutações por todo o gene do fator VIII. Obs: Aproximadamente 40% dos casos de hemofilia A grave são causados pela inversão do intron 22 do gene do fator VIII. Como o gene do fator IX tem aproximadamente 1/3 do tamanho do fator VIII, suas mutações genéticas são mais identificáveis, não havendo relatado nenhuma mutação recorrente como observado para hemofilia A. → Em indivíduos do sexo masculino que não possuam o alelo normal, a deficiência manifesta-se clinicamente como hemofilia. → A mulher portadora geralmente são assintomáticas e podem transmitir a doença para 50% dos seus filhos Obs: A proporção que o gene anormal é suprimido pelo alelo normal nas mulheres portadoras de hemofilia varia de acordo com o fenômeno da inativação randômica dos cromossomos X (hipótese de Lyon). Para a ocorrência de mulheres hemofílicas, existem as seguintes possibilidades: 4° - MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Como as hemofilias apresentam manifestações hemorrágicas semelhantes, não é possível distingui-las somente através de critérios clínicos. Elas caracterizam-se clinicamente pelo aparecimento de sangramentos, que ocorrem após traumatismos de intensidade mínima ou sem associação com traumas evidentes. Quando nível plasmático do fator deficiente > 40% → Não há manifestações hemorrágicas. Forma mais comum: Minoria de mulheres heterozigotas, tem “Lyonização” extrema, resultando na inativação do alelo normal na maioria das células e em ↓ do fator VIII coagulante Resultado da união de um hemofílico + mulher portadora Presença de um alelo mutante em uma mulher com somente um cromossomo X, como no mosaicismo para a síndrome de Turner (genótipo XX/XO) Raros casos de hemofilia A transmitida como doença autossômica dominante, decorrente de uma nova mutação, devendo ser diferenciada da doença de von Willebrand subtipo 2N Nem sempre a história da presença de outros casos na família é observada, como acontece nos casos chamados esporádicos, ou isolados da doença. O indivíduo afetado não irá transmitir a doença aos filhos porque o cromossomo Y é normal. Contudo, todas as suas filhas serão portadoras de um alelo alterado (mulheres portadoras de hemofilia), uma vez que herdam o cromossomo X paterno. Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato GRAUS CARACTERÍSTICAS HEMOFILIA LEVE → Sangramentos somente após traumas ou cirurgias → Podem apresentar hemartroses espontâneas: raramente • Em articulações onde previamente ocorreu hemorragia pós-traumática não tratada corretamente. → Maioria diagnosticada na idade adulta. → Nível plasmático do fator deficiente: 5 – 40%. HEMOFILIA MODERADA → Hematomas e hemartroses espontâneas → Hemorragias secundárias a traumas pequenos ou cirurgias → Se não tratadas adequadamente pode evoluir com instabilidade articular • Podendo se expressar de forma mais grave do que poderia indicar o nível plasmático do fator deficiente. → Nível plasmático do fator deficiente entre 1 – 5% HEMOFILIA GRAVE → Manifestações hemorrágicas de repetição, desde a infância → Hemartroses graves → Obs: Quando não tratadas corretamente, evoluem para artropatias crônicas e incapacitantes, podendo comprometer órgãos vitais. → Nível plasmático do fator deficiente < 1% PERÍODO NEONATAL E INFÂNCIA RN → Sangramentos apenas se submetido a traumas ou cirurgias ENGATINHAR → Surgem as manifestações hemorrágicas → Sangramentos orais são frequentes ANDAR → Surgem as hemorragias articulares, musculares e equimoses pós-traumáticas. A expressão clínica do defeito genético da hemofilia A varia de família para família. → Na mesma família → gravidade das manifestações clínicas e das alterações laboratoriais são relativamente constantes. O aparecimento de manifestações clínicas mais graves, dentro da mesma família, faz pensar no desenvolvimento de inibidor ou de lesão anatômica que predispõem a sangramentos frequentes ou graves. HEMARTROSES Muito comum, principalmente na forma grave. Geralmente são espontâneas ou sem traumatismo evidente. Muitos pacientes irão apresentar uma articulação com sangramentos mais frequentes, por causa das alterações crônicas que resultam na Artropatia hemofílica. Pacientes com hemofilia grave → Iniciam aos 2 – 3 anos de idade. Articulações mais acometidas: → Joelhos → Cotovelos → Tornozelos → Ombros → Coxo-femurais → Punhos Os sintomas + típicos apresentados inicialmente são: → Desconforto → Dificuldade de movimento → Aquecimento do local → Dor intensa → Redução da mobilidade da articulação → Aumento do volume da articulação acometida, devido à distensão da cápsula articular. Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato TRATAMENTO: Em geral, a terapia de reposição (elevação do fator de 30% a 50%), associada ao repouso e à aplicação de gelo, é suficiente para controle das hemartroses. HEMATOMAS Os hematomas musculares é a 2° causa mais comum de sangramento em pacientes hemofílicos graves, pode ocorrer espontaneamente ou após pequenos traumatismos. → Quando pequenos e superficiais → hematomas são autolimitados e não apresentam maior significado clínico, exceto o desconforto local. → Pacientes com hemofilia grave → podem aumentar progressivamente e dissecar em todas as direções, acarretando consequências sérias, devido à compressão de estruturas nobres. São tipos de hematomas: Se não tratados adequadamente, podem resultar em organização fibrosa, com contratura muscular.TRATAMENTO: • Podem ser secundários à faringites viraisDe faringe ou retrofaringe • Pode causar paralisia do nervo mediano ou ulnar • Ou contratura isquêmica da mão (Síndrome de Volkmann) Musculares no antebraço • Pode causar paralisia do nervo fibular e outros nervos • Ou deformidade fixa do equinovaro do tornozelo Sangramentos na panturrilha • Comuns Hemorragias retroperitoniais e intraperitoniais • Local que passa nervo femural • Causam dor de intensidade variável no quadrante inferior do abdome e corre flexão da coxa Hematoma no íleo-psoas Pressão sobre fibras musculares Pode gerar morte celular com presença de leucócitos polimorfonucleares E células mononucleares fagocíticas e células imaturas do tecido conectivo Fibrose SEM COMPROMETIMENTO DE NERVOS PERIFÉRICOS Elevar o fator VIII ou IX para 50% a 80%, a cada 24 horas por 1 – 2 dias de acordo com a evolução do caso, com manutenção por mais 2 – 5 dias na dose de 30% – 60% COM COMPROMETIMENTO DE NERVOS PERIFÉRICOS Elevar o fator VIII ou IX para 80% a 100% por 1 a 2 dias ou até controle dos sintomas e desaparecimento do quadro neurológico, com manutenção por mais 3 – 7 dias na dose de 30% a 60% Sangramentos espontâneos ou pós-traumáticos da língua, da musculatura ou de partes moles do pescoço ou da garganta podem levar à rápida obstrução das vias aéreas superiores, o que exige tratamento rápido e adequado. Obs: O comprometimento do nervo femoral causa dor na face anterior da coxa e, com o aumento da pressão sobre o nervo, parestesia, hiperestesia, diminuição da força muscular do quadríceps e paralisia dos músculos flexores da coxa. Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato HEMATÚRIA Manifestação comum, ocorre em 2/3 dos hemofílicos, em geral após os 12 anos de idade, de intensidade variável, desde leve alteração da coloração urinária à hematúria franca, com eliminação de coágulos. → Hematúria persistente e pós-traumática → Geralmente não se associa, mas deve ser investigada alterações geniturinárias → Usualmente é autolimitada, podendo persistir por dias a semanas, independente do tratamento de substituição com concentrado de fator. → Hematúria de repetição → não leva à alteração significante da função renal, a longo prazo. TRATAMENTO: Iniciar hidratação via oral e/ou intravenosa intensa e estimular diurese. Na maioria das vezes não há necessidade de iniciar a terapia de reposição no primeiro momento. Não se deve administrar antifibrinolíticos. Os seguintes cuidados gerais devem ser seguidos: → Repouso no leito → Hidratação oral vigorosa → Descartar infecção. Se em 48 a 72 horas a hematúria macroscópica não tiver cessado, sugere-se elevar fator VIII ou IX para 30% a 50% a cada 24 horas, até o controle do sangramento, mantendo a hidratação. SANGRAMENTO GASTRINTESTINAL → Pode ocorrer na forma de hematêmese e/ou melena. → Quando o sangramento é persistente, ou recorrente, existe uma lesão anatômica, provavelmente gastrite ou úlcera péptica (10x mais frequente nos hemófilos) → Devido hepatites crônicas secundárias ao vírus C, a presença de varizes de esôfago deve ser investigada. TRATAMENTO: Deve-se realizar reposição de fator VIII ou IX para elevar o fator deficiente para 80% a 100% a cada 12 ou 24 horas, dependendo da gravidade do sangramento. Recomenda-se manter o tratamento por até 3 dias após a parada do sangramento (hematêmese ou enterorragia). Deve-se administrar antifibrinolíticos usando os esquemas: → ÁCIDO TRANEXÂMICO: dose de 15–20 mg/kg/dose de 8/8 horas, via oral durante 7 dias ou → ÁCIDO EPSILON-AMINOCAPROICO: dose de 50–60 mg/kg/dose de 6 em 6 horas, inicialmente intravenoso, e após, 25–50 mg/kg/dose via oral durante 3 a 7 dias Os seguintes cuidados gerais devem ser seguidos: → Dieta, antiácido (cimetidina ou omeprazol ou similar) → Investigação da causa do sangramento. SANGRAMENTO EM SNC O sangramento intracraniano é o mais perigoso para o paciente hemofílico e ocorre após traumatismos ou espontaneamente. Pode ocorrer em qualquer faixa etária, porém apresenta dois picos: → Infância, principalmente em recém-nascidos → Após 50 anos de idade. Os sintomas geralmente surgem logo após o evento traumático, mas podem aparecer depois de dias ou semanas, principalmente nos subdurais. Pacientes com cefaleia não habitual, especialmente se intensa ou com duração > 4 horas, deve ser investigado quanto à presença de sangramento intracraniano. Em casos de suspeita, deve ser imediatamente tratado com: Reposição de fator seguido de avaliação com TC. Punção lombar só pode ser realizada após reposição de fator para 50% (0,5 UI/mL). Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato OUTROS SANGRAMENTOS → Ferimentos superficiais → Geralmente não apresentam sangramento anormal. → Ferimentos mais extensos e profundos → Podem, inicialmente, não sangrar, visto que a hemostasia primária é normal. Porém, tendem a apresentar sangramento tardio, se não há tratamento de reposição adequado. → Punções venosas → Se feitas cuidadosamente, não apresentam perigo; quando traumáticas, podem-se evitar complicações posteriores exercendo-se pressão no local puncionado. → Injeções subcutâneas, intracutâneas e intramusculares → desde que de pequenos volumes, raramente produzem hematomas se a pressão digital é mantida por 5 minutos. Devem ser evitadas as injeções intramusculares de grandes volumes. TRATAMENTO: Realizar reposição de fator VIII ou IX para elevar para 80% a 100% na primeira infusão e, caso não haja progressão do hematoma, elevar para 40% a 50% a cada 12 horas, de 1 a 7 dias, dependendo da evolução. Manter níveis de 30% a 50% até o dia 14. 4° - PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES: Entre as complicações observadas na hemofilia, estão: → Decorrentes dos sangramentos → como a artropatia hemofílica → Decorrentes do tratamento → como as doenças transmissíveis por transfusões sanguíneas (ex. hepatites B e C e HIV) e o desenvolvimento de aloanticorpos (inibidores) contra o fator deficiente. ARTROPATIA HEMOFÍLICA CRÔNICA Sequela + frequente e incapacitante em pacientes hemofílicos, e acomete principalmente os joelhos, tornozelos, cotovelos e coxofemorais. O sangramento intra-articular: → Tem origem nos vasos sinoviais, espontaneamente ou após traumatismos → Hemorragia dirige-se para a cavidade articular ou dentro da diáfise ou epífise óssea → A presença do sangue na região intra-articular, associada ao espasmo muscular, faz com que ocorra ↑ da pressão no espaço sinovial. Após um 1º episódio de hemartrose: Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato Com a recorrência dos sangramentos: Esse ciclo vicioso de ressangramentos estabelece uma articulação-alvo. A patologia progressiva da artropatia hemofílica é: → Propagada por alterações moleculares induzidas pelo ferro → Mediadas pelo ↑ da expressão de fatores oncogênese c-myc e mdm2 (uma proteína ligadora do p-53) → Pela produção de citocinas inflamatórias (IL1-b e TNF-α). A proliferação da membrana sinovial → Preenche e distende a articulação → A articulação permanece edemaciada e ↑ de volume • Mesmo na ausência de sangramento e de dor (sinovite proliferativa crônica). Por causa da adesão entre vilosidades adjacentes: → Há ↓ do volume da cavidade articular → ↓ da sua mobilidade. Esses processos, associados ao enfraquecimento das estruturas periarticulares, ↑ a susceptibilidade a novos episódios hemorrágicos, resultando na perda progressiva da cartilagem hialina, principalmente, nas margens articulares. A cartilagem articular evolui: → Focos de degeneração fibrilar → Erosões → Crescimento irregular → Alteração da forma óssea. O osso adjacente à articulação pode apresentar: → Áreas de rarefação ou cistos, • Decorrentes de degeneração cartilaginosa ou óssea• Hemorragias intraósseas. É fundamental que se avalie a progressão clínica da doença articular em seus estágios precoces, através da USG e da RM, uma vez que as alterações iniciais não são visualizadas no RX. As características mais proeminentes da artropatia hemofílica crônica são: → Perda da movimentação articular → Contraturas fixas em flexão → Intensa atrofia muscular secundária ao desuso. Nos casos mais graves e avançados: → A articulação pode estar anquilosada, com completa perda da movimentação → Nos casos em que ainda há um pouco de movimentação articular, a dor crônica é muito comum. TRATAMENTO: → As sinovectomias radioisotópica ou por via artroscópica são indicadas para remover a sinóvia anormal e se mostraram eficazes na ↓ da frequência das hemorragias articulares. → Nos estágios avançados da doença articular, quando são evidentes as lesões ósseas, com deformidades esqueléticas, e o paciente cursa com dor constante, está indicada a substituição articular por uma prótese. → Tais procedimentos ortopédicos podem ser realizados com segurança com o auxílio da terapia de reposição. PSEUDOMOTOR HEMOFÍLICO OU CISTOS HEMORRÁGICOS O pseudotumor hemofílico é uma complicação pouco frequente, porém grave. Ele ocorre quando: Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato → O volume de sangue em um hematoma muscular é grande → A reabsorção é incompleta → O hematoma persiste como uma lesão cística encapsulada, contendo fluido serossanguíneo ou material viscoso. Nos adultos → Geralmente, localizam-se na pelve, fêmur e tíbia, Nas crianças → Eventos mais raros, ocorrem, predominantemente, nos pequenos ossos das mãos e dos pés. Os pseudotumores são: → Indolores → Tendem a ↑ de tamanho durante um período de anos → Causam compressão e destruição dos músculos adjacentes, nervos e ossos. Seu tratamento inicialmente se baseia → Na reposição intensa com o fator deficiente, caso não regrida, deverá ser removido cirurgicamente. INIBIDORES CONTRA O FATOR VIII OU IX O desenvolvimento de inibidores constitui atualmente a principal complicação decorrente do tratamento da hemofilia. O risco cumulativo de inibidores varia de: → 20 a 30% entre os pacientes com hemofilia A → 1 a 5% entre pacientes com hemofilia B. Alguns pacientes com inibidor contra o fator IX desenvolvem anafilaxia e/ou síndrome nefrótica quando são expostos ao fator IX. Os anticorpos neutralizadores resultam de uma resposta imune complexa, multifatorial, envolvendo tanto fatores de risco genéticos quanto ambientais. Fatores genéticos: → Maior risco de desenvolvimento de inibidor inclui: • história familiar positiva para inibidor • defeito molecular de alto risco (inversões – em especial a do intron 22 do gene do fator VIII mutações nonsense e grandes deleções), etnia (raça negra) • polimorfismos em genes do sistema imune (interleucina 10, fator de necrose tumoral α). Os fatores ambientais relatados incluem tipo de concentrado de fator: → Idade à primeira exposição → Intensidade do tratamento O período de maior risco de desenvolvimento de inibidor encontra-se nos primeiros 50 dias de exposição ao fator, estando bastante reduzido após 150 dias de tratamento. O tratamento do paciente hemofílico com inibidor é mais difícil. Por serem resistentes ao tratamento habitual, esses pacientes estão sujeitos a maiores complicações, com subsequente aumento da morbidade e piora na qualidade de vida. Os dois componentes do tratamento são o controle do sangramento e a erradicação do inibidor. 5° - DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: As hemofilias A e B exigem diferenciação específica entre elas para o tratamento adequado. → Diferenciação da hemofilia A e B → Feita através das dosagens dos fatores VIII e IX. → Diferencial entre hemofilia A e doença de von Willebrand → Feito através do estudo da atividade antigênica e funcional do fator von Willebrand. → Hemofilias A e B → Devem ser diferenciadas das outras deficiências da via intrínseca, que causam prolongamento do TTPa. → Deficiência do fator XI → Acomete homens e mulheres, apresentando diátese hemorrágica mais leve do que as hemofilias. → Deficiências dos fatores XII, precalicreína e cininogênio → Embora apresentem prolongamento do TTPa, não cursam com manifestações hemorrágicas. → Deficiência combinada dos fatores V e VIII → Além do prolongamento do TTPa há prolongamento do TP e ↓ dos níveis dos fatores VIII e V (ao redor de 15- 20%), não associados à doença hepática. → Diferenciar hemofilia B da deficiência de vitamina K → Através da normalidade das concentrações plasmáticas dos fatores II, VII e X. Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato 6° - DIAGNÓSTICO: A suspeita diagnóstica baseia-se na história clínica hemorrágica e/ou antecedente familiar. O diagnóstico confirmatório da hemofilia A e B baseia-se na: O diagnóstico de hemofilia deve ser pensado sempre que há: → História de sangramento fácil após pequenos traumas → Sangramentos espontâneo → Hematomas subcutâneos nos primeiros anos de vida → Sangramento muscular e/ou articular em meninos acima de dois anos, → História de sangramento excessivo após procedimentos cirúrgicos ou extração dentária. É importante lembrar que embora a história familiar esteja frequentemente presente, em até 30% dos casos pode não haver antecedente familiar de hemofilia. EXAMES LABORATORIAIS O coagulograma: → ↑ do tempo de tromboplastina parcialmente ativada (TTPa) → Tempo de protrombina (TP) normal É observado na grande maioria das vezes, com exceção de alguns casos de hemofilia leve, onde o TTPa permanece normal. O diagnóstico confirmatório é realizado por meio: → Dosagem da atividade coagulante do fator VIII (hemofilia A) ou fator IX (hemofilia B). 10° - TRATAMENTO: O tratamento das hemofilias tem como principal pilar a reposição do fator da coagulação deficiente (fator VIII na hemofilia A ou fator IX na hemofilia B). Além disso, outros agentes hemostáticos podem ser utilizados. AGENTES HEMOSTÁTICOS NO TRATAMENTO DAS HEMOFILIAS Concentrados de fatores de coagulação Pode ser produzidos de 2 formas: → Derivados do plasma humano (hemoderivados) → Recombinantes desenvolvidos por técnicas de biologia molecular. Acetato de desmopressina - DDAVP É um análogo sintético da vasopressina (hormônio antidiurético), que tem a vantagem de não apresentar os efeitos vasopressores, como o hormônio natural. Esse medicamento é utilizado no tratamento das intercorrências hemorrágicas em indivíduos com hemofilia A leve O efeito hemostático está relacionado ao: → ↑ dos níveis plasmáticos do fator VIII liberado dos reservatórios da parede vascular; Quantificação da atividade coagulante dos fatores VIII e IX, respectivamente. Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato → ↑ dos níveis plasmáticos do fator de von Willebrand, liberado dos reservatórios das células endoteliais da parede vascular e grânulos a plaquetários; → ↑ dos níveis plasmáticos do ativador tissular do plasminogênio, liberado dos reservatórios das células endoteliais da parede vascular; → ↑ da adesividade plaquetária INDICAÇÕES: Todos os pacientes com hemofilia A leve responsivos ao medicamento, embora alguns pacientes com hemofilia A moderada possam também apresentar boa resposta. Utilizado para: → Tratamento de hemorragia de leve a moderada intensidade → Preparo de pequenos procedimentos (ex.: extração dentária) → Outros sangramentos como epistaxe, hematúria, menorragia, pequenos traumas e pequenas cirurgias em mulheres portadoras de hemofilia A sintomáticas POSOLOGIA E ADMINISTRAÇÃO: Pode ser administrado por via intravenosa, subcutânea CONTRAINDICAÇÕES: → Pacientes com história pregressa de quadro convulsivo; → Pacientes com hipertensão e/ou cardiopatia; →Pacientes que desenvolveram plaquetopenia após “dose-teste”; d) Pacientes com polidipsia. Antifibrinolíticos O ácido tranexâmico e o ácido epsilon-aminocaproico são agentes antifibrinolíticos → Agem por meio de mecanismo competitivo → Inibe a ativação do plasminogênio a plasmina. → A plasmina é a principal proteína responsável ela dissolução do coágulo sanguíneo. Os antifibrinolíticos promovem, assim, maior estabilidade do coágulo, sendo bastante utilizado no tratamento dos episódios hemorrágicos nas hemofilias INDICAÇÕES: → controle das hemorragias em mucosas: • sangramento oral • peri-extracao dentária • sangramento menstrual • epistaxe → Preparo de alguns procedimentos cirúrgicos → Tratamento isolado de algumas hemorragias ou como adjuvante no caso de hemorragias mais volumosas. Desta forma ↓ o consumo de concentrados de fator, cujo custo é muito superior ao do ácido tranexâmico POSOLOGIA E ADMINISTRAÇÃO: Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato CONTRAINDICAÇÕES: → Hematúria: risco de formação de coágulo e obstrução dos túbulos renais; → Cirurgias torácica e abdominal: risco de ocorrência de hematomas de difícil absorção; → Pacientes com hemofilia e inibidor fazendo uso concomitante de complexo protrombínico ativado (CCPA): risco de tromboembolismo. → Não têm indicação de uso na prevenção ou tratamento de hemartroses e hematoma muscular em pacientes com hemofilia. TRATAMENTO DE PROFILAXIA No caso da hemofilia, o tratamento de profilaxia (ou seja, de caráter preventivo) consiste: → Uso regular de concentrados de fator de coagulação a fim de manter os níveis de fator suficientemente elevados, mesmo na ausência de hemorragias, para prevenir os episódios de sangramentos. 11° - TESTE GENÉTICO E ACONSELHAMENTO PRÉ-NATAL: TESTE GENÉTICO E ACONSELHAMENTO → Testando parentes em risco → Parentes em risco e outros membros da família de um indivíduo com hemofilia podem se beneficiar de aconselhamento e teste. → Isso é especialmente verdadeiro para a detecção de portadores em mulheres que podem ter filhos ou podem ser submetidas a um procedimento cirúrgico TESTE E ACONSELHAMENTO PRÉ-CONCEPÇÃO E PRÉ-NATAL → Todos os indivíduos com história familiar positiva de hemofilia (homens afetados, mulheres portadoras conhecidas e aqueles que não têm certeza de seu estado) devem ter acesso a aconselhamento e teste pré-concepção. → Esta é uma parte integrante dos centros de tratamento de hemofilia e pode ser fornecida por um conselheiro genético certificado ou outro clínico com experiência em genética de hemofilia. → O manejo da gravidez de um portador de hemofilia é baseado em seu nível de atividade de fator; o parto e o atendimento imediato ao neonato dependem do sexo da criança, que deve ser avaliado no pré-natal. REFERÊNCIAS: - Tratado de hematologia de Zago - Plataforma UpToDate - Manual de Hemofilia – Ministério da Saúde 2ª edição. 2015 - Hemofilias: fisiopatologia, investigação diagnóstica e tratamento – Mariana Ribeiro e Luciano Paiva - Instituição de Ensino Superior do Espírito Santo – Multivix – Revisão de Literatura
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