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Cirrose É um processo patológico irreversível que afeta a citoarquitetura do parênquima hepático caracterizado por dois componentes: Fibrose hepática, com formações de shunts vasculares no tecido fibrótico; e Rearranjo da arquitetura lobular, com a formação de nódulos de regeneração, os quais não se comunicam com a veia centrolobular. Esse processo se dá pela persistência do processo inflamatório e leva à necrose hepatocitária. Etiologia (principais) Fígado O fígado é irrigado pela veia porta (junção da veia mesentérica superior e veia esplênica) e pela artéria hepática. Anatomicamente é dividido em lobos direito, esquerdo, caudado e quadrado. A função do fígado está relacionada com a homeostase metabólica do corpo, incluindo: Síntese Proteica; Destoxificação; e Excreção de produtos para eliminação. A unidade funcional do fígado são os lóbulos hepáticos, por onde passa o sangue provindo da circulação portal e sistêmica. Cada lóbulo possui uma tríade portal composta por ramos da artéria hepática, veia porta e ducto biliar Os ramos da artéria hepática terminam em sinusoides hepáticos, que são capilares específicos, pois são fenestrados (possui “buracos” em sua parede) e desprovidos de membrana, o que facilita a passagem de moléculas por esses vasos Além disso, existe um espaço entre o sinusoide e o hepatócito, denominado Espaço de Disse. Esse espaço possui células chamadas células estreladas ou células de Ito, que, em um fígado normal, possuem a função de armazenar vitamina A. Nesse espaço, localizam-se, também, as células de Kupffer, uma espécie de macrófago do fígado. Fisiopatologia No caso de um fígado cirrótico, as células estreladas (até então quiescentes) são ativadas por fatores pró-inflamatórios e começam a sintetizar matriz extracelular (sobretudo colágeno tipo I e III). A deposição de colágeno no Espaço de Disse leva ao fenômeno de capilarização dos sinusoides, no qual a camada de colágeno obstrui as fenestras e impede a passagem das substâncias do sangue aos hepatócitos. Além disso, ocorre a diminuição do calibre desses vasos, o que aumenta a resistência vascular intra-hepática, coibindo para a formação da hipertensão portal. Esses fatores, somados à ocorrência de necrose hepática forma a fibrose em ponte, ou seja, o sangue circula em meio ao tecido fibroso sem entrar em contato com os hepatócitos, indo direto dos espaços-porta às veias centrolobulares (sistema cava), originando o fenômeno de shunt intra-hepático. Ademais, a atividade necroinflamatória persistente, o processo de regeneração e o surgimento do tecido cicatrical (colágeno-fibrose) dão origem aos nódulos de regeneração, “pedaços” de tecido regenerado em meio a tecido fibrótico. Em uma visão macroscópica, o fígado encontra-se em aspecto nodular e consistência endurecida, além de ter, inicialmente, uma redução do lobo direito e aumento do lobo esquerdo. Mais tardiamente, encontra-se uma atrofia de ambos. Manifestações Clínicas Os sintomas gerais da cirrose estão relacionados a duas complicações específicas, sendo elas a hipertensão portal e a insuficiência hepática. Nódulos de regeneração em vermelho e tecido fibrótico em azul. Hiperestrogenismo e Hipoandrogenismo Eritema palmar; Teleangiectasias (aranhas vasculares); Ginecomastia; Atrofia Testicular; Perda da libido e disfunção erétil; e Refração nos pelos. Sinais de Hipertensão Portal São consequência do aumento da resistência vascular do sistema porta, tais como: Ascite; Varizes Esofágicas (podem levar à hemorragia digestiva alta); Esplenomegalia Congestiva; Circulação Colateral (cabeça de medusa); Edema de MMII; Queda da PA; e Hipertensão Porta-pulmonar. Insuficiência Hepatocelular Icterícia; Encefalopatia Hepática (falpping); Coagulopatia; Hipoalbuminemia (anasarca); Desnutrição; Colúria e Acolia Fecal; Imunodepressão; e Síndromes Hepatorrenal e Hepatopulmonar Diagnóstico O diagnóstico de cirrose pode ser fechado a partir da história clínica do paciente, entretanto existem exames laboratoriais e de imagem que auxiliam na hipótese. Exames Laboratoriais Aminotransferases A ALT (TGP) e a AST (TGO) encontram-se elevadas em casos de cirrose, sendo os níveis de TGO>TGP, com exceção da cirrose alcoólica, que os níveis de TGP>TGO. Em casos agudos nem sempre estarão alteradas, pois os hepatócitos estão sem funcionar. Fosfatase Alcalina e Gama-GT Encontram-se alteradas apenas em casos de cirrose por obstrução biliar. Bilirrubina A hiperbilirrubinemia ocorre às custas da bilirrubina direta e é indicador de mau prognóstico. Albumina A hipoalbuminemia ocorre devido à insuficiência de síntese hepatocelular. Tempo de Protrombina Ocorre o alargamento no tempo de protrombina, uma vez que o fígado lesado não produz os fatores de coagulação de modo adequado (coagulopatia). Hipergamaglobulinemia O cirrótico possui tendência à ocorrência de translocação intestinal bacteriana, uma vez que os shunts portossistêmicos permitem o “escape” de bactérias para o TGI. Dessa forma, os linfócitos B são hiperestimulados, o que resulta na hipergamaglobulinemia policlonal. Sódio Sérico Ocorre hiponatremia devido à incapacidade de excretar água livre, decorrente do excesso de ADH circulante. Pancitopenia O paciente apresenta esplenomegalia e hiperesplenismo, com consequente redução do número de plaquetas. Ocorre, também, redução da hematimetria e da contagem de leucócitos. A anemia é multifatorial (desnutrição, sangramento crônico, supressão medular, etc). Exames de Imagem O papel da radiologia na avaliação da cirrose hepática inclui: Avaliar as alterações morfológicas da doença; Avaliar a vascularização hepática e extra-hepática; Detectar e estimar os efeitos da hipertensão porta; e Identificar tumores hepáticos, diferenciando o carcinoma hepatocelular (CHC) de outros tipos de tumor. USG de Abdome Hipertensão portal; Ascite; Fígado pequeno e nodular em casos mais avançados; e Utilizado para rastreamento semestral de CHC. Tomografia Computadorizada Utilizadas para detectar textura nodular, mas sem superioridade sobre a USG. Ressonância Magnética É superior na identificação de nódulos regenerativos, irregularidade hepática e aumento esplênico. Biópsia Hepática Esse exame histopatológico é considerado o padrão-ouro para diagnóstico de cirrose, com base nos achados de septos fibrosos e nódulos de regeneração, que evidenciam a desorganização da arquitetura lobular e vascular hepática. Entretanto, com os achados clínicos, laboratoriais e radiológicos, o paciente já pode ser diagnosticado com cirrose e a biópsia é desnecessária, uma vez que é um processo invasivo e, em casos mais avançados, torna-se arriscada. Classificação Child-Pugh Propõe a sobrevida do paciente cirrótico. Escala de MELD É um sistema de pontuação para avaliar a gravidade da doença hepática crônica. Utiliza os valores de bilirrubina sérica, creatinina e índice internacional normalizado (INR), para predizer a sobrevida. Esse sistema é utilizado para priorizar a alocação dos pacientes para o transplante hepático. É feito um cálculo e o resultado significa: Complicações Hipertensão Portal Ocorre devido ao aumento da resistência vascular no sistema porta, somado à alterações na função renal e sistema neuro-hormonal. É responsável pela formação das varizes esofágicas, ascite e circulação colateral. Valor Normal para Pressão no Sistema Porta: até 5 mmHg, acima de 10 mmHg forma varizes e acima de 12 mmHg ruptura de varizes. Causas de Hipertensão Portal Pré hepática: coagulopatia Intrahepatica Pré-sinusoidal: esquistossomose Intrahepática Sinudoidal: corrose hepática Intrahepática Pós sinusoidal: doença veno-oclusiva Pós-hepatica: obstrução de veias hepáticas e cava, einsuficiência cardíaca direita Ascite Piparot, semi-circulo de escoda e macicez móvel. Faz paracentese e faz gradiente albumina sob ascite e albumina serica. Se >1,1 é transudato, causa hepática de extravasamento de albumina, se <1,1 é exsudato, causa não hepática. Ultrassom. Faz paracentese de alivio, furosemida ou espirolactona, reposição de albumina, restrição de sódio. Insuficiência Hepática A evolução da cirrose compromete a função hepática, ficando comprometida a formação de determinadas proteínas, neutralização de toxinas e a destruição de bactérias provindas do intestino. Assim, o paciente apresenta diversos sintomas, como eritema palmar, telangiectasias, ginecomastia, atrofia testicular, desnutrição com perda de massa muscular, coagulopatia e maior predisposição a infecções decorrentes da redução dos hepatócitos funcionantes, com consequente redução na síntese de proteínas plasmáticas; distúrbio no metabolismo de carboidratos e lipídios; alterações no catabolismo e biotransformação de aminoácidos, hormônios, drogas e xenobióticos e redução na neutralização e destruição de micro-organismos. Encefalopatia Hepática Complicação neurológica que ocorre em pacientes com insuficiência hepática, está relacionada à falha na detoxificação de metabolitos, sobretudo a amônia advinda do intestino. O paciente fica constipado e a liberação de amônia no TGI não é metabolizada no fígado, essa, então, passa ao SNC. Passa óleo mineral, lavagem intestinal e supositório. É mais frequentemente desencadeada por hemorragia digestiva alta, infecções agudas, distúrbios hidroeletrolíticos, grande ingestão de proteínas, deterioração da função hepática e após derivações cirúrgicas portossistêmicas. É caracterizada pelo flipping. Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) É uma infecção devido ao estado imunodebilitado do paciente cirrótico, com alterações da motilidade gástrica, associado ao supercrescimento bacteriano intestinal, tem maior risco de translocação bacteriana (fígado não metaboliza as bactérias do intestino), que levam ao desenvolvimento da infecção peritoneal. A mais comum é a E. coli. Celularidade é polimorfonucleare > 250mm3. Hemorragia Digestiva Alta (HDA) A HDA é um sangramento que se origina de um ponto localizado entre a boca e o ângulo de Treitz, podendo se manifestar como hematêmese, vômitos, melena e enterorragia. A HDA por hipertensão portal pode ser decorrente de sangramento por varizes esofágicas, gástricas e ectópicas e gastropatia da HP. Os pacientes compensados devem repetir endoscopia digestiva alta a cada 2 anos caso não haja varizes esofágicas, e anualmente caso possua. Síndrome Hepatorrenal Essa síndrome ocorre devido a uma constrição intensa da vasculatura cortical renal devido à alterações hemodinâmicas em pacientes com hipertensão portal (com o intuito de controlar a pressão), gerando isquemia do rim e resultando em oligúria, retenção de sódio e metabolitos nitrogenados. Pode ser de 2 tipos: Síndrome Hepatorrenal Tipo 1: caracteriza-se por rápida e progressiva insuficiência renal com concentração de creatinina 2 vezes maior que a inicial em menos de duas semanas; Síndrome Hepatorrenal Tipo 2: tem moderada insuficiência renal e seu curso é lentamente progressivo. Deve-se repor albumina, encaminhar para diálise ou vasoconstritor esplânico. Síndrome Hepatopulmonar O aumento de pressão do sistema porta gera vasodilatação dos vasos intrapulmonares e possível ruptura, alterando a ventilação-perfusão. Raio-X esbranquiçado. Geralmente o paciente é entubado e precisa de transplante. Caso grave. Carcinoma Hepatocelular (CHC) É o tumor maligno primário mais comum no fígado e tem associação com hepatites B e C e cirrose. Tratamento Visa suspender a causa original da doença, realizar o manejo adequado das complicações e impedir a descompensação do paciente. Rastreamento de varizes esofágicas e do CHC; Acompanhamento nutricional; Fibrose: Colchicina; Varizes: Betabloqueadores (Propanolol 20mg, VO, 2x/dia) e ligadura elástica; PBE: Cefotaxima 2g, 12/12h IV, Cefalosporina; Ascite: Furosemida 40-160g/dia e paracentese; Encefalopatia Hepática: Lactulose 15-30ml, 2x/dia, VO; Transplante Hepático.
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