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Sumário O Professor 5 1Unidade IV 1Emetropias e Ametropias 7 1.1 Hipermetropia 7 1.2 Hipermetropia e acomodação 11 1.3 Miopia 12 1.4 Astigmatismo 17 1.5 Conoide de Sturm 20 1.6 Evolução e tipos de astigmatismo 23 1.7 Sintomas 24 Referências 26 Objetivos da Disciplina: • Estudar sobre a hipermetropia e acomodação; • Aprender sobre a miopia e astigmatismo; • Entender a Conoide de Sturm, a evolução e tipos de astigmatismo. 5 O Professor Prof. Marcelo Santana Sou o professor Marcelo Santana. Tenho formação técnica em Óptica pelo Senac – SP (2005), sou gradua- do em Óptica e Optometria pela Brazcubas (2009), onde também realizei pós-graduação em Optometria Avançada (2013), e estou terminando a pós-gradua- ção em Ortóptica e Ciência da Visão pelo Centro Uni- versitário Celso Lisboa, no Rio de Janeiro (2017). Trabalhei em óptica desde 1999, após a formação em optometria, atuei em gabinete e hospital em São Paulo. Sou docente da Brazcubas há quase 7 anos, onde ministro aulas de: Anatomia Ocular, Patolo- gia Ocular, Avaliação de Saúde Ocular, Semiologia Ocular, Optometria Prática e estágios. Será um prazer compartilhar com você o fantástico conhecimento sobre a visão! Emetropias e Ametropias 7 1 Unidade IV 1 Emetropias e Ametropias 1.1 Hipermetropia Agora, trabalharemos a hipermetropia. A propósito, o termo é derivado das palavras gregas hipér, metro e opía, que signifi cam “excesso da medida da visão”. 1Comando Tabela Unidade IV 8 Emetropias e Ametropias A hipermetropia pode ocorrer por: tamanho axial do olho (tamanho curto), curvatura (córnea e cristalina), distância excessiva da córnea e cristalino, por ausência do cristalino ou por índice de refração (em alguns casos, quando emetropia aumenta de forma considerável e rápida, podemos suspeitar de um tumor, por exemplo). A imagem no hipermétrope, quando chega à retina, será menor que o normal, e quando for corrigido, alegará que a imagem fi cou maior que sem a correção prescrita. A grande maioria da população possui essa emetropia, porém, como existem ajustes de foco por parte do cristalino (acomodação, que veremos mais à frente), não é comum o uso de correção (óculos ou lentes de contato). Entretanto, na quarta década de vida, essa hipermetropia que estava latente se manifestará pela diminuição da amplitude de acomodação. Serão aqueles pacientes que alegarão nunca terem usado óculos e não aceitam a ideia de usarem um para longe, mas apenas para perto. Apesar de não ser a regra, toda criança nasce hipermétrope. O olho do recém-nascido estará em desenvolvimento, ou seja, a tendência é ser menor em relação ao do adulto. No decorrer do crescimento, essa hipermetropia diminuirá (porque o olho crescerá em seu tamanho axial) e haverá alteração acomodativa, chegando à fase adulta sem vício refrativo. Uma criança nasce com três de hiper- metropia; aos 7 anos diminui para uma dioptria, chegando emétrope na juventude. A hipermetropia é de origem genética, tendo em vista que as baixas são de caráter dominante e as altas, de caráter reces- sivo. São raras as de origem patológicas, porém, quando ocorrem, são secundárias às se guintes patologias: edema macular, tumor ou qualquer alteração do tamanho axial do olho (HERRANZ e ANTOLÍNEZ, 2010). Unidade IV 9Emetropias e Ametropias Vamos ao AVA! Muito importante entendermos bem as hipermetropias, pois as corrigi- remos no nosso dia a dia clínico. Quando a luz penetra no olho, refl etida pelo objeto no infi nito óptico (seis metros), a imagem não será formada na retina. Pelos fatores já citados (tamanho axial, curvatura e índice de refração), os raios de luz, para formarem a imagem, se prolongarão atrás da retina (forma didática para descrever o processo). Com isso, o cristalino “puxará” esse foco na retina (ocorrerá à acomodação, que terá como consequências os sintomas: cefaleia, síndromes acomodativas, pseudomiopia ou até um estrabismo convergente acomodativo). O hiperme- trope ainda poderá ter como sintomas: ardência, cansaço visual e até blefarite por falta de uso de óculos. Ao olhar para o infi nito (ou seis metros), o emétrope tem os raios de luz formando a imagem na retina, com isso, não haverá acomo- dação, mas ocorrerá quando a imagem estiver se aproximando. No hipermetrope, ao olhar para o infi nito, ocorrerá a acomodação para o ajuste do foco, quando o objeto se aproximar, ocorrerá o aumento da acomo- dação. Neste caso, o esforço será maior! Tabela 1.1 – Sinais clínicos na hipermetropia Sinais clínicos Ocorrência Estrabismos convergentes Haverá acomodação ao olhar para longe; quando olhar para perto, acomodará ainda mais (excesso de acomo- dação), causando o desvio. Blefarites ou conjuntivites Congestão dos vasos do polo anterior por causa do esforço acomodativo constante. Câmara anterior menor Pode ocorrer glaucoma de ângulo fechado. Importante observar sinéquias, anatomia da íris, cataratas intumes- centes e evitar o uso de midriáticos. Unidade IV 10 Emetropias e Ametropias Sinais clínicos Ocorrência Ambliopia bilateral Se a criança não for corrigida em seu desenvolvimento visual, poderá ser baixo. Pseudoneurite óptica Papila com cor vermelha acinzentada, bordas não tão bem defi nidas. Tortuosidades vasculares Aspecto dos vasos de uma retinopatia hipertensiva. Fonte: HERRANZ e ANTOLÍNEZ (2010). Importante! Na clínica optométrica, pacientes entre a segunda e terceira décadas de vida poderão manifestar alguma hipermetropia, porém sem sintomas. Recomenda-se apenas a prescrição dos óculos para pacientes que apre- sentam baixas de acuidade visual, sintomas, distúrbios binoculares não estrábicos (que podem ser cuidados com os óculos) e que psicologica- mente sintam necessidade de óculos (ELDER’S, 1997). Com isso, pequenas hipermetropias que não estão afetando o paciente (como descrito ante- riormente) não devem ser prescritas. Outros podem ter uma visão ótima, mas apresentar sintomas. Recomendo explicar para o paciente o motivo da prescrição de óculos. Dessa forma, fi cará ciente da prescrição, usará os óculos e se benefi ciará deles. Tabela 1.2 – Sintomas na hipermetropia Sintomas Características Baixa de acuidade visual para longe Hipermetropias acima de três dioptrias. Baixa de acuidade visual para perto Depende da quantidade da hipermetropia e amplitude de acomo- dação, piorando no cansaço e lendo com baixa iluminação. Cefaleia frontal Comum em pacientes que trabalham para perto, pois acomo- darão intensamente. Piorando no fi nal da tarde (se trabalhou pela manhã e à tarde). Quando não trabalham, para perto os sintomas são mínimos ou até não ocorrem. Unidade IV 11Emetropias e Ametropias Sintomas Características Astenopia Conjunto de sintomas: dor de cabeça, hiperemia, ardência e visão borrada esporádica. Fotofobia Apesar de não ser muito comum, a fotofobia é uma sensibilidade à luz. Espasmos acomodativos Serão explicados na unidade IV. Fonte: HERRANZ e ANTOLÍNEZ (2010). 1.2 Hipermetropia e acomodação Como vimos sobre a acomodação e o quanto esse processo aumenta a dioptria do cristalino para o momento em que enxergamos para perto, pensando que o foco estará atrás da retina, podemos imaginar que o cristalino terá o seu processo de acomodação constante, com isso, em alguns casos, há correção da hipermetropia. Existem vários tipos de hipermetropias, que veremos no quadro a seguir. Tabela 1.3 – Tipos de hipermetropias Latente (HL) Hipermetropia corrigida (tônus da musculatura ciliar componente acomodativo). Manifesta (HM) Hipermetropia não corrigida. Total (HT) Hipermetropia latente com a manifesta. Facultativa (HF) É a diferença entre a hipermetropia manifesta e a absoluta. Absoluta (HÁ) Hipermetropia que a acomodação não corrige. Espasmosacomodativos Serão explicados na unidade IV. Fonte: ELDER’S (1997) e RÍO (1972). Unidade IV 12 Emetropias e Ametropias Conheça mais: Correção da hipermetropia é feita com lentes esféricas positivas. Mas é importante entendermos a prescrição conforme a idade. Abaixo dos 6 anos – período de desenvolvimento do sistema visual. Se houver baixa de acuidade visual, estrabismo convergente com astenopia, anisometropia e acompanhar a acuidade visual. Acima dos 6 até os 20 anos – normalmente, diminui a hipermetropia, porém, se for alta, deve ser corrigida, ainda mais se houver estrabismo (endotropia) ou distúrbios binoculares não estrábicos. Sintomas são um importante indi- cativo de correção. Acima dos 20 anos até a quarta década de idade – nesse período, a ampli- tude de acomodação diminui, expondo a hipermetropia que estava sendo corrigida com a acomodação. Costuma ter sintomas. Acima dos 40 anos – apresenta alterações fi siológicas do cristalino e perda da amplitude da acomodação. Com isso, usará lentes positivas para longe e para corrigir a presbiopia. Podemos dizer que existem mais hipermetropes do que outras ametropias. Porém, por “enxergar” bem para longe, não faz uso de óculos. Explicar para o paciente que seus óculos o ajudarão a evitar sintomas e ter melhor produ- tividade durante o dia fará com que ele se sensibilize para o uso (HERRANZ e ANTOLÍNEZ, 2010; ALVES, 2014; ELDER’S, 1997; RÍO, 1972). 1.3 Miopia Unidade IV 13Emetropias e Ametropias Você já observou alguém com miopia olhar para algo longe? Percebeu que a pessoa fecha um pouco mais os olhos, com um aspecto de uma leve “careta”, para tentar enxergar? Pois bem, o termo miopia, que vem do grego My + opía, quer dizer “fechar o olho” (HERRANZ e ANTOLÍNEZ, 2010; ELDER’S, 1997). A miopia pode ser classifi cada por: tamanho axial, índice de refração e de curvatura. Os raios luminosos se encontrarão e formarão a imagem à frente da retina, porém, quando os raios de luz chegarem à retina, estarão mais dispersos, provo- cando um borrão na retina. O sintoma signifi cativo da miopia é uma visão borrada para longe. Dependendo da dioptria desse paciente, o ponto mais nítido será bem próximo. Exemplo: paciente que usa três dioptrias negativas, se tirar os seus óculos, seu ponto mais distante para enxergar longe será, aproximadamente, 33 centímetros de distância. A sensação de um míope após a correção com óculos é que as imagens dimi- nuem (depende da dioptria e da sensibilidade de cada paciente), enquanto que, antes da correção, ou seja, sem o uso dos óculos, a percepção visual será de imagens maiores. Com as lentes de contato (inclusive com lentes intraoculares implantadas após cirurgia de catarata), a imagem é preservada, ou seja, a percepção é que elas conti- nuam maiores. Por isso, míopes, inclusive com dioptrias maiores, preferem as lentes de contato (HERRANZ e ANTOLÍNEZ, 2010; ALVES, 2014; ELDER’S, 1997; RÍO, 1972). Tabela 1.4 – Ocorrência da miopia Miopia Ocorrência Congênita A criança nasce com a miopia e, consequentemente, atingirá uma miopia acima de nove dioptrias. Infância Ocorre no sétimo ano de vida, aumenta na adolescência (fase de crescimento). Precoce no adulto Ocorre entre 20 e 40 anos, sendo, em algumas regiões do mundo, até 32% na quarta década de vida. Tardio no adulto Costuma ocorrer por causa de patologias. Fonte: HERRANZ e ANTOLÍNEZ (2010); ALVES (2014); ELDER’S (1997); RÍO (1972) e GROSVENOR (2004). Unidade IV 14 Emetropias e Ametropias O míope costuma ser um paciente mais introvertido, exigente e bem informado, pois ele se sente à vontade com objetos próximos (ao olhar para longe e enxergar desfocado, o cristalino com o seu mecanismo de acomodação não ajudará a focar a imagem na retina) por isso, para alguns, é mais confortável o hábito da leitura. Mesmo sendo privilegiado para perto (de- pendendo da dioptria), o uso dos óculos evitará esforço visual e promove o reestabelecimento do padrão da função visual. Apesar de não serem unânimes a respeito da etiologia da miopia, algumas considerações são importantes de serem observadas. Para nós, da área de Optometria, uma ótima anamnese dará boa noção da possível origem refrativa. Por isso é importante saber se o paciente não enxerga há muito tempo (possível problema visual, portanto, possibilidade de uso de óculos) ou se passou a ter o problema mais recente ou repentinamente (possi- velmente em decorrência de um problema ocular, portanto, deve-se indicá-lo a outro especialista). Unidade IV 15Emetropias e Ametropias A tabela a seguir descreverá o assunto de forma resumida: Tabela 1.5 – Etiologia da miopia Miopia Tipos de miopia Etiologias M io pi a co ng ên it a Sintomática Congênita. Costuma ser grave e afeta a acuidade visual. Ocorre por problemas no feto, genética ou prematuridade. Está relacionada a: toxoplasmose, sífi lis, albinismo, síndrome de Down, entre outros fatores. Constitucional Hereditário. Surge no nascimento e está relacionada aos pais. São miopias altas, mas que precisará de pequenos ajustes. M io pi a ad qu ir id a Ambiente Surge na época normal de crescimento, porém, pode progredir durante a vida inteira. Está ligado diretamente a exageros para serviços próximos (computador, tablet, celular) residências (pequenas moradias). Seu mecanismo ainda não foi bem explicado (alguns a chamam de miopia maligna). Acomodação e convergência para sustentarem a distância de trabalho são diretamente afetadas. Patologias oculares Cataratas pelo aumento do índice de refração; ceratocone, pois aumenta a potência corneana. Patologias sistêmicas Diabetes acima de 150 mmHg, que provocará aumento de dioptria negativa (aumentando o índice de refração do cristalino por alterações eletrolíticas). Cirurgias Cerclagem para tratamento de descolamento de retina fará com que o eixo anteroposterior do olho alongue, provocando a miopia. Fármacos Estimulantes da acomodação, antibióticos (sulfamidas) e psicofármacos. Fontes: HERRANZ e ANTOLÍNEZ (2010); ALVES (2014); ELDER’S (1997) e RÍO (1972). Unidade IV 16 Emetropias e Ametropias Existem muitas formas para a classifi cação da miopia. São elas: 1. Miopias simples e patológicas; 2. Miopias congênitas, associadas a anomalias oculares, integradas a anomalias sistêmicas e evolutivas. Existem miopias que não devem ser corri- gidas com óculos: Pseudomiopias: em testes acomodativos, encontramos a amplitude de acomodação menor que a idade, o resultado fi nal da avaliação (testes objetivos) será mais negativo que a reti- noscopia. Com isso, podemos desconfi ar de espasmos acomodativos (serão vistos posteriormente). Uma solução viável é deixar o paciente com lentes positivas e orientá-lo sobre exercícios para relaxar a acomodação, prescrevendo os óculos apenas se as duas ações aconselhadas anteriormente falharem (lentes positivas e exercícios para relaxar a acomodação); Miopia espacial: profi ssionais que olham para o céu sem um ponto específi co acabam se comportando como olho míope de uma dioptria; Miopia instrumental: profi ssionais que usam microscópios ópticos, inconscien- temente, ajustam a acomodação para focar próximo, tendo em vista que o foco da imagem estará no infi nito óptico. Miopia noturna: por fatores fi siológicos (pupila em midríase, defi ciência de vita- mina A, degeneração na retina, retinose pigmentar, glaucoma, opacidades de meios ou, ainda, pós-cirúrgico refrativo), o paciente poderá se queixar de baixa de acuidade visual noturna. Na necessidade da prescrição, fazer retinoscopia com o gabinete totalmente escuro. Porém, o mais adequado é encaminhar para outro profi ssional médico; Pseudomiopias: encontramos a amplitude de acomodação menor que a idade, o resultado fi nal da avaliação (testes objetivos) será mais negativo que a reti- noscopia. Com isso, podemos desconfi arde espasmos Unidade IV 17Emetropias e Ametropias Conheça mais: A miopia é vista ao redor do mundo como um problema sério e grave. Várias pesquisas multidisciplinares sugerem uma epidemia global. Muito impor- tante para a optometria, não apenas a prescrição, mas também a prevenção. Acredita-se que metade da população do globo poderá ter miopia até 2050, e a consequência disso são as patologias que podem ser desenvol- vidas pela ametropia (HOLDEN et al., 2015). Muitos são os fatores que poderiam aumentar o problema. Além dos já citados (genética, patologias congênitas e ambientes), os ritmos circa- dianos infl uenciados pela luz (CHAKRABORTY et al., 2018), biomecânica da esclera (LEVY et al., 2018), efeito Stiles-Crawford (MARTINS e VOHNSEN, 2018), entre outras causas. A optometria tem procurado meios para possíveis tratamentos dessa epidemia da miopia. Indicando óculos, lentes de contato, terapia visual e até mudanças de hábitos e ambientes. Porém, são necessários mais estudos e pesquisas (LOGAN et al., 2018). Vamos estudar e pesquisar? 1.4 Astigmatismo Você já percebeu como a imagem através de um vidro quebrado parece um quebra-cabeça mal montado? O astigmatismo gera uma distorção visual levando o indi- víduo a trocar letras ou a se confundir na leitura. Conheceremos o princípio do problema. Unidade IV 18 Emetropias e Ametropias O signifi cado da palavra astigmatismo é: doença do ponto, ou seja, não há ponto focal defi nido. Você percebeu que a miopia e a hipermetropia são assim classifi cadas porque os pontos focais estão dentro ou fora do olho. No astigmatismo existirão dois pontos focais distintos e que podem estar em pontos distintos dentro do olho, pontos focais fora do olho ou um ponto e outro dentro do olho. Pense que uma lente para a correção do míope quanto hipermetrope possui uma curva (um meridiano). Para a lente que corrigirá o astigmata teremos dois (principais) meridianos (duas curvas). Todo astigmata terá dois meridianos (que chamei de pontos focais) distintos. Isso pode ocorrer por erro de curvatura, centralização ou índice de refração. Tabela 1.6 – Características do astigmatismo Astigmatismo Características Com a regra Meridiano vertical (90°) mais curvo. Comum em jovens e adultos, sua ocorrência está associada ao ato de piscar, que infl uenciará na curvatura da córnea (tônus muscular da pálpebra). Contra a regra Meridiano horizontal (180°) mais curvo. Costuma ocorrer após a quinta década de vida (fl acidez do tônus palpebral). Oblíquo Estarão fora dos eixos a 90° ou 180°. Costuma estar entre 30° e 60°, ou 120° a 160°. Não são comuns. Fonte: HERRANZ e ANTOLÍNEZ (2010); ALVES (2014); ELDER’S (1997) e RÍO (1972). Lembrando-se de que na prescrição colocamos o eixo da curvatura mais plana entre os meridianos encontrados. Portanto, quando você encontra o eixo a 180°, será a favor da regra, e a 90° será contra a regra. Unidade IV 19Emetropias e Ametropias O erro de curvatura pode estar associado à córnea, ao cristalino e à retina. Por causa do tônus do músculo palpebral, no ato de piscar, infl uenciará na curvatura da córnea (gerando de 0,25 a 0,75 dioptrias). Conhecido como astigmatismo segundo a regra (que pode mudar no decorrer da vida por causa da fl acidez do músculo da pálpebra). Ou ainda, falando sobre cristalino, podemos pensar que as curvas (anterior e posterior) podem ser diferentes. O astigmatismo menos importante é o de retina, mas em míopes elevados, em que o eixo ante- roposterior é mais alongado, a retina poderá ter curvas distintas. Quando você aprender sobre oftalmoscopia, perceberá que a papila oval, muitas vezes, estará associada a pacientes com astigmatismo. A característica da córnea é que sua curvatura horizontal é menor que a vertical. Quando o astigmatismo for associado ao cristalino, ocorre que ele pode estar levemente inclinado em relação ao seu eixo (se você usar óculos e incliná-los, talvez perceba que a imagem se modifi ca levemente). A descentralização pode ocorrer pelo cristalino. Imagine que a acomo- dação é constante e que, em cada ação acomodativa (onde o músculo ciliar e suas fi bras tracionarão o cristalino), será deslocado o centro dele em relação ao sistema óptico do olho. Essa descentralização promoverá o astigmatismo. E o astigmatismo de índice, comum no cristalino, terá modifi cações de intensidade baixa fi siologicamente. Unidade IV 20 Emetropias e Ametropias 1.5 Conoide de Sturm Johann Christoph Sturm (1663-1703) é quem estudou e descobriu esse efeito. São os raios de luz que transpassam um sistema astigmá- tico e se modifi cam. É o fundamento teórico do Cilíndrico Cruzado (CCr). Você aprenderá este método em técnicas refrativas, mas é importante entender o princípio. Quando o feixe luminoso transpassa uma lente esferocilíndrica, ocorrerão dois pontos focais (há algo familiar para você? Sim! O astigma- tismo!). Imagine uma receita de óculos com a seguinte medida em um olho: +3,00DE –1,00 x 90. Teremos um olho mais refringente no meri- diano vertical, o feixe de luz terá formas ovais e horizontais dentro do olho, assim, o meridiano a 90 entra em foco como uma linha horizontal. Para o meridiano a 180 (menos refringente), que será horizontal, o feixe de luz terá formas ovais e verticais dentro do olho, assim, o meri- diano a 180 entra em foco como uma linha vertical. Isso ocorre com os dois meridianos simultaneamente, com isso, teremos dois pontos (meridianos). A distância entre os dois meridianos será o intervalo focal, conhecido como Conoide de Sturm. Haverá um momento em que, no ponto do intervalo focal, ocorrerá o círculo de menor difusão ou o círculo de menor confusão. Esse é o único lugar onde a lente astigmática tem a forma de um círculo perfeito (e não oval), ou seja, um corte circular igual a uma lente esférica. Unidade IV 21Emetropias e Ametropias Figura 1.1 – Meridiano a 90 em foco como linha horizontal Figura 1.2 – Meridiano a 180 em foco como linha vertical Meridiano Vertical em foco Círculo de menor confuso Meridiano Horizontal em foco CA B Horizontal Meridiano Horizontal em foco Meridiano Vertical em foco Vertical Círculo de menor confuso Fonte: ALVES (2014). Observando bem o desenho, veremos cortes elípticos, em que o afastamento do centro se torna uma linha (horizontal ou vertical). Podemos afi rmar que o círculo de menor confusão nunca alterará a sua distância em relação aos meridianos, ainda que os valores sejam iguais com sinais diferentes (sempre na mesma distância entre um meridiano e outro). Figura 1.3 – Cortes elípticos Fonte: ALVES (2014). Unidade IV 22 Emetropias e Ametropias As lentes convergentes ou divergentes não alteram o espaço focal do conoide e ainda colocam o círculo de menor confusão na retina. Chamamos essa lente esférica de equivalente esférico. Para descobrir, calculamos: EE – Equivalente Esférico D1 – Meridiano 1 (mais positivo) D2 – Meridiano 2 Resultado de D1 e D2 dividido por dois. EE = D1 + D2/2 O cilindro tem correção total sobre a linha focal paralela ao seu eixo, tanto convergente quanto divergente. Exemplo na próxima imagem. A correção do astigmatismo (a lente que corrigirá o astigmatismo) é projetada para causar o colapso do intervalo de Sturm. Figura 1.4 – Pontos focais Eixo Fonte: ALVES (2014). A acomodação atua sobre o conoide para obter o melhor foco, colocando uma das linhas focais na retina ou o círculo de menor confusão, sem alterar o intervalo focal (o mesmo princípio das lentes esféricas). Lembrando que a astigmata de diop- tria alta não será corrigida, portanto, o paciente enxergará de forma turvada. Unidade IV 23Emetropias e Ametropias Com isso, podemos adiantar que no atendimento optométrico será importante tomar cuidado com os pequenos astigmatismos. 1.6 Evolução e tipos de astigmatismo A evolução do astigmatismo ocorre na infânciaA maioria dos recém-nascidos tem astig- matismo contra a regra, abaixo de uma dioptria. Isto diminuirá até os 6 anos, no processo de emetropização, passando a ser a favor da regra. Na adolescência ocorre aumento da dioptria. A próxima modifi cação ocorrerá entre os 50 e 60 anos de vida, tornando o astigmatismo contra regra (em decorrência da perda do tônus muscular da pálpebra). Isto diminuirá até os 6 anos, no processo de emetropização, passando a ser a favor da regra. Na adolescência ocorre aumento da dioptria. A próxima Pense em uma cruz. Nessa cruz teremos um meridiano vertical e outro horizontal. Quando os meridianos se cruzarem (vamos dizer que eles estão perpendiculares), produzirão um ângulo de 90° (ou ângulo reto). No caso do astigma- tismo regular, os dois principais meridianos formarão um ângulo reto. Estarão com um intervalo de 90° de um meridiano a outro. Quando não ocorrer esse intervalo de 90° de um meridiano em relação ao outro, não ocorrerá correção com óculos, sendo chamado de astigma- tismo irregular. Unidade IV 24 Emetropias e Ametropias Nos astigmatismos regulares teremos a classifi cação da seguinte maneira: Tabela 1.7 – Classificação dos astigmatismos Tipos de astigmatismo Foco em relação à retina Foco à frente da retina Foco atrás da retina Astigmatismo simples. Um dos focos está na retina. Astigmatismo miópico simples. Astigmatismo hipermetrópico simples. Astigmatismo composto. Nenhum foco está na retina. Astigmatismo miópico composto. Astigmatismo hipermetrópico composto. Astigmatismo misto. Um foco estará atrás e o outro estará à frente da retina. Fonte: ELDER’S (1997) e RÍO (1972). 1.7 Sintomas Figura 1.5 – Olho com astigmatismo hipermetrópico simples Disponível em: <https://goo.gl/MFcn5M>. Acesso em: 07/02/2018. Unidade IV 25Emetropias e Ametropias Como possui dois meridianos, ajustará o foco em um meridiano que o permita enxergar melhor. No decorrer do ajuste, a preferência será sempre pelo meridiano vertical que distorcerá menos no seu dia a dia. Quando os meridianos estão afastados e o esforço visual não melhorará em nada a visão, o único sintoma será o ato de enxergar. Porém, quando o esforço visual conseguir ajustar melhor a visão, o sistema estará em constante tensão (acomo- dação) para manter o foco na retina da melhor forma possível, gerando sintomas como dor de cabeça (cefaleia), tontura, neurastenia (perda pelo interesse nas atividades), irritabilidade, fotofobia, blefa- rite, hiperemia e cansaço visual. Os sintomas são mais intensos nos astigmatismos hipermetrópicos por causa da acomodação. Tabela 1.8 – Sinais e sintomas dos astigmatismos Astigmatismos Sinais e sintomas Leves (0,25 a 0,75 e, em alguns casos, até 1,00) Fotofobia, lacrimejamento, vertigem, náuseas e cefaleia frontal. Relata trocar as letras (Ex.: “C” pelo “O”), cansaço ao fi m do dia e troca as linhas na leitura. Sintomas podem piorar com o tempo, pois o poder de ajuste do foco diminuirá. Altos (acima de 1,25) Baixa de acuidade visual (sombras ou duplicada). Torcicolo (comum em astigmatismos oblíquos). Diminuição da fenda palpebral, ocasionando des - conforto ao redor dos olhos pela tensão dos músculos adjacentes das pálpebras. Infl exibilidade Fonte: HERRANZ e ANTOLÍNEZ (2010); ALVES (2014); ELDER’S (1997) e RÍO (1972). 26 Referências Referências AGUILAR, M.; MATEOS, F. Optica Fisiologica Tomo 1. Universidad Politecnica de Valencia. Valencia, España. 1995. _______; _______. Optica Fisiologica Tomo 2. Universidad Politecnica de Valencia. Valencia, España. 1995. ALVES, A. de A. Refração. 6. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2014. BICAS, H. E. A.; SOUZA-DIAS, C. R.; ALMEIDA, H. C. Estrabismo. Cultura Médica: Guanabara Koogan, 2008. Série Oftalmologia Brasileira. BURIAN, H. M.; NOORDEN, G. K. V. Binocular Vision and Ocular Motility. Michigan, USA: Mosby Company, 1980. CALOROSO, E. E.; ROUSE, M. W. Clinical Management of strabismus. USA: Butterworth- Heinemann, 1993. CARMICHAEL, M.; VOHNSEN B. 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