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FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL Unifatecie

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Prévia do material em texto

Formação 
Sociocultural
Professor Esp. Cleber Henrique Sanitá Kojo 
Professor Esp. Paulino Augusto Peres de Souza
Professor Me. Paulo Vitor Palma Navasconi
Diretor Geral 
Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino e Pós-graduação
Daniel de Lima
Diretor Administrativo 
Eduardo Santini
Coordenador NEAD - Núcleo
de Educação a Distância
Jorge Van Dal
Coordenador do Núcleo de Pesquisa
Victor Biazon
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Projeto Gráfico e Editoração
André Dudatt
Revisão Textual
Kauê Berto
Web Designer
Thiago Azenha
UNIFATECIE Unidade 1
Rua Getúlio Vargas, 333,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 2
Rua Candido Berthier
Fortes, 2177, Centro
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 3
Rua Pernambuco, 1.169,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102, 
Saída para Nova Londrina
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
www.unifatecie.edu.br/site/
As imagens utilizadas neste 
livro foram obtidas a partir
do site ShutterStock
FICHA CATALOGRÁFICA
FACULDADE DE TECNOLOGIA E 
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. 
Núcleo de Educação a Distância;
KOJO, Cleber Henrique Sanitá.
DE SOUZA, Paulino Augusto Peres.
NAVASCONI, Paulo Vitor Palma
Formação Sociocultural.
Cleber Henrique Sanitá Kojo.
Paulino Augusto Peres de Souza.
Paulo Vitor Palma Navasconi
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2021. 106 p.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
Zineide Pereira dos Santos.
AUTORES
Professor Cleber Henrique Sanitá Kojo. 
●	 Licenciatura Plena em História pela UNESPAR – FAFIPA, Paranavaí.
●	 Licenciatura Plena em Sociologia pela UNAR - Centro Universitário de Araras 
 “Dr. Edmundo Ulson”.
●	 Licenciatura Plena em Pedagogia pela UniFatecie.
●	 Especialista	em	História	e	Geografia	pela	Faculdade	Integrada	do	Vale	do	Ivaí.
●	 Especialista em Gestão Escolar, Supervisão e Orientação pela ESAP-Faculda- 
 des Integradas do Vale do Ivaí.
●	 Especialista em Educação de Jovens e Adultos pela ESAP – Faculdades Inte- 
 gradas do Vale do Ivaí.
●	 Docente da educação básica (Fundamental e Médio) da SEED, PR.
●	 Docente da educação básica (Médio) do Colégio Fatecie Premium.
●	 Docente do ensino superior, nos cursos de Arquitetura, Administração e 
 Ciências Contábeis na UniFatecie.
●	 Coordenador de cursos na EAD – UniFatecie.
●	 Supervisor de tutoria e Tutor da EAD UniFatecie.
●	 Ampla experiência como docente da educação básica (Fundamental e Médio), 
Professor de cursinhos pré-vestibulares e prática docente na educação à distância.
Professor Paulino Augusto Peres
●	 Graduado em História pela UNESPAR (Universidade Estadual do Paraná) 
 Campus de Paranavaí/PR.
●	 Especialista em Didática e Tecnologia na Educação pela FATECIE (Faculdade 
 de Ciências e Tecnologia do Norte do Paraná).
●	 Mestrando	em	Ensino	Profissionalizante	de	História	pela	UNESPAR	-	Campo		
 Mourão/PR
●	 	Professor	na	Escola	Fatecie	Max	(séries	finais	do	Ensino	Fundamental).
●	 Professor no Colégio Fatecie Premium (Ensino Médio).
●	 Professor de Sociedade e Cultura na UniFatecie no curso de Ciências Contábeis.
●	 Professor formador e conteudista no EAD UniFatecie
●	 Tutor do EAD UniFatecie.
Professor Paulo Vitor Palma Navasconi
Psicólogo, membro do coletivo Yalodê-Badá e do Núcleo de Estudos Interdisciplinar 
Afro-Brasileiro da UEM (NEIAB). Ex Coordenador estadual da cadeira LGBT do Fórum Pa-
ranaense de Juventude Negra. Graduado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) no 
ano de 2015. Mestre pela Universidade Estadual de Maringá. Doutorando em Subjetividade 
e práticas sociais na contemporaneidade na Universidade Estadual de Maringá. Membro 
do grupo de pesquisa em sexualidade, saúde e política. Membro da Comissão de Direitos 
Humanos do Conselho Regional de Psicologia (Sede Paraná 08). Professor em Psicologia 
na Faculdade Cidade Verde (FCV) na cidade de Maringá. Atualmente dedica-se a estudos 
relacionados à raça, gênero, genocídio da população negra, história da Psicologia e com-
portamento suicida.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja muito bem-vindo(a)!
Sejam bem-vindos ao nosso curso de Formação Sociocultural. A partir de agora partimos 
para uma viagem ao tempo para buscar nas nossas experiências históricas algumas expli-
cações para o que ocorre no Brasil contemporâneo e claro, olhar para um horizonte futurís-
tico e depositar nele nossa aprendizagem como uma forma de expectativa.
Em nossa viagem ao passado em busca desses espaços de experiências do Brasil e con-
sequentemente, de nós mesmos, primeiro iremos compreender que durante toda a nossa 
história os detentores do poder no nosso país criaram mecanismos para manutenção de 
seu próprio poder, mantendo nas camadas mais baixas a população indígena, a branca 
mais empobrecida e claro, a população negra. Em seguida, você entenderá como funcio-
nou a escravidão no mundo em vários períodos históricos para após compreender como 
foi a escravidão moderna no Oceano Atlântico. Também compreenderá como era a vida 
do	africano	no	Brasil	através	da	biografia	de	um	ex-escravizado	chamado	Mahommah	G.	
Baquaqua	e	por	fim,	entenderá	como	esses	escravizados	no	Brasil	resistiam	à	escravidão	
para então ter contato com o maior exemplo de resistência negra no Brasil, o quilombo dos 
Palmares.
Nas Unidades III e IV retomaremos o fascínio sobre o assunto desta disciplina, observando, 
lendo	ou	estudando	as	unidades	I	e	II,	pois	é	o	início	de	um	grande	desafio	em	que	vamos	
triunfar juntos. Proponho, uma construção conjunta sobre a História e Cultura dos primeiros 
moradores desse “Gigante pela própria natureza”, nossa querida terra, uma terra próspera, 
cheia	de	riquezas	naturais	e	 tão	diversificada	culturalmente,	 fazendo	assim	uma	viagem	
temporal, desde a descoberta do Brasil até a atualidade. Vamos explorar a Lei 11.645/2008, 
complementando a Lei 10.639/2003 apresentada nos capítulos anteriores. Vale ressaltar 
que	iremos	verificar	a	visão	eurocêntrica	e	os	desafios	de	desmistificar	essa	ideia	retrógra-
da, devemos assim elevar a história e a cultura indígena ao patamar que a mesma merece.
Dentro	desse	desafio,	 iremos	conhecer	muito	além	da	 lei	11.645/2008,	pois	observamos	
os seus impactos na sociedade, conhecendo assim um pouco da história e da cultura indí-
gena.	Temos	que	exaltar	os	desafios	de	superar	o	etnocentrismo	e	mostrar	o	conceito	de	
“Índio” na sociedade atual. Vale destacar que vamos reconhecer a sociodiversidade indíge-
na, ou seja, reconhecer os direitos e as diferenças entre os povos e os troncos linguísticos. 
Ressalta-se	ainda	que	não	se	deve	desprezar	o	Índio	na	historiografia	brasileira,	fazendo	
assim uma comparação entre passado e presente, semelhanças e diferenças, entre várias 
culturas que compõem esse povo, sobretudo seus aspectos religiosos.
Quase	no	fim	de	nossa	jornada	debateremos	sobre	as	questões	de	Gênero	e	suas	verten-
tes. Vale ressaltar que abordaremos alguns conceitos chaves para que possamos com-
preender um pouco melhor o termo gênero e sexualidade. Vamos apresentar e explanar os 
conceitos de heterossexualidade compulsória, heteronormatividade e naturalização.
	Assim,	chegaremos	ao	fim	dessa	viagem.	Espero	que	seu	horizonte	de	expectativas	seja	
modificado,	uma	vez	que	todos	nós,	brasileiros,	somos	fruto	de	uma	herança	multiétnica	de	
vários povos, desta forma, a humanização das relações entre esses povos só é possível 
quando os conhecemos melhor e possamos ver que o outro é igualzinho a mim.
Muito obrigado e bom estudo!
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 8
História e Cultura Africana
UNIDADE II ................................................................................................... 35
O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
UNIDADE III .................................................................................................. 54
História e Cultura Indígena
UNIDADE IV ..................................................................................................74
A Compreensão sobre Questões de Gênero e Direitos Humanos
8
Plano de Estudo:
●	 O ainda mal compreendido negro no Brasil
●	 Africanos são todos iguais? De onde veio a população negra no Brasil?
●	 O que foi a escravização?
●	 O africano no Brasil
●	 A Resistência Negra
●	 Os quilombos como sinônimo de resistência negra
Objetivos da Aprendizagem:
●	 Contextualizar	a	história	do	africano	no	Brasil	afim	de	perceber	que	sua	existência	
hoje se dá através de muita luta, e que sua cultura está presente no nosso dia a dia.
●	 Compreender que a africanidade no Brasil é composta de diversas etnias africanas e 
não de apenas um povo chamado africano, pois não existe um povo africano, mas povos 
africanos.
●	 Estabelecer a importância da compreensão da escravização negra no Brasil como 
ponto de partida para entender a existência do próprio negro no Brasil contemporâneo.
●	 Entender que os escravizados não aceitavam passivamente sua escravidão, mas 
resistiam de diversas formas, sobretudo na forma de concentração quilombolas.
UNIDADE I
História e Cultura Africana
Professor Especialista Cleber Henrique Sanita Kojo
Professor Especialista Paulino Augusto Peres
9UNIDADE I História e Cultura Africana
INTRODUÇÃO
Sejam bem-vindos ao nosso curso de Formação Sociocultural e Ética. A partir de 
agora, partimos para uma viagem no tempo em busca das nossas experiências históricas, 
algumas explicações para o que ocorre no Brasil contemporâneo e, claro, olhar para um ho-
rizonte futurístico, depositando nele nossa aprendizagem como uma forma de expectativa.
Em nossa viagem ao passado, em busca desses espaços de experiências do Brasil 
e, consequentemente, de nós mesmos, primeiro iremos compreender que, durante toda a 
nossa história, os detentores do poder no nosso país criaram mecanismos para manutenção 
de seu próprio poder, mantendo nas camadas mais baixas a população indígena, a branca 
mais empobrecida e, claro, a população negra. Em seguida, você entenderá como funcionou 
a escravidão no mundo em vários períodos históricos para logo após compreender como 
foi a escravidão moderna no Oceano Atlântico. Também compreenderá como era a vida 
do	africano	no	Brasil	através	da	biografia	de	um	ex-escravizado	chamado	Mahommah	G.	
Baquaqua	e,	por	fim,	entenderá	como	esses	escravizados	no	Brasil	resistiam	à	escravidão	
para então ter contato com o maior exemplo de resistência negra no Brasil, o quilombo dos 
Palmares.
Ao	fim	dessa	viagem	espero	que	seu	horizonte	de	expectativas	seja	modificado,	
uma vez que todos nós, brasileiros, somos fruto de uma herança multiétnica de vários 
povos; desta forma, a humanização das relações entre esses povos só é possível quando 
os conhecemos melhor e possamos ver que o outro é igualzinho a mim.
10UNIDADE I História e Cultura Africana
1. O AINDA MAL COMPREENDIDO NEGRO NO BRASIL
A história do africano no Brasil confunde-se com a própria história do país. Foram 
trazidos ao Brasil como solução de um problema, quando os indígenas resistiam à escravi-
dão ou eram protegidos pelos padres jesuítas e com a falta de mão-de-obra nas lavouras 
de cana, e depois no trabalho nas minas criou-se um mercado escravocrata entre a colônia 
brasileira e o continente africano. Cinquenta anos após a chegada dos portugueses no 
nordeste	brasileiro,	 o	 tráfico	negreiro	 iniciou-se	e	 foi	 ganhando	 força	 com	o	passar	 dos	
decênios.
Diante de um crescente número de africanos trazidos à revelia ao Brasil, esse 
povo misturou-se aos indígenas que aqui já viviam e aos portugueses que ocupavam aos 
poucos essas terras. O povo africano traz consigo, evidentemente, sua carga cultural, como 
linguagem, religião, práticas artísticas, etc. Isto é, o povo africano não pode ser pensado 
sem levar em consideração suas práticas culturais.
O tempo teve o trabalho de enraizar no nosso país a cultura africana e misturá-la 
com as culturas indígenas e europeia. A miscigenação cultural é característica desta terra e, 
ao mesmo tempo, pouco compreendida. É nesse ponto que devemos nos atentar ao fato da 
cultura dos povos africanos vindos ao Brasil ser pouco compreendida. Sabe-se da capoeira, 
samba e candomblé serem de origem africana, mas de qual parte da África? Seria a África 
um	lugar	tão	sem	significado	e	importância	que	podemos	decretar	todos	os	povos	trazidos	
para serem escravizados aqui sem levar em consideração o lugar de origem desses muitos 
11UNIDADE I História e Cultura Africana
que	foram	enviados	para	cá?	Qual	o	significado	da	capoeira:	dança	ou	luta?	Se	dança,	o	
que ela representa, se luta, contra que lutavam? E o samba, por que sambavam? Por ser 
um	elemento	ritualístico	de	uma	religião	ou	por	alegria?	Por	que	João	Gilberto	afirmou	que	
“Madame não gosta de samba”? Teria o cantor interpretado tal música apenas pela beleza 
da mesma ou o fato de Madame não gostar de samba nos apresenta uma desigualdade 
social que envolve elementos étnico-raciais?
Durante toda a história do Brasil, é realizada a manutenção de mecanismos que im-
pediram a ascensão social do negro no Brasil. Durante todo o período colonial (1500- 1522) 
e imperial (1822-1889) a escravidão imperou de tal forma que até mesmo pressões estran-
gerias de potências mundiais criaram leis internacionais para forçar o Brasil a declarar o 
fim	de	sua	escravidão.	Nenhum	país	no	mundo	teve	uma	escravidão	tão	duradoura	quanto	
a nossa. O Brasil foi o último país no mundo a abolir sua escravidão. Decretos como o nº 
1.331, de 17 de fevereiro de 1854, estabelecia que nas escolas públicas do país não seriam 
admitidos escravos e o Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecia que os 
negros só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no 
sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares. Sendo a edu-
cação um meio de ascensão econômica e social, o impedimento aos negros de estudarem 
consolidou a manutenção destes nas camadas mais pobres.
Após	o	fim	da	escravatura,	a	teoria	do	embranquecimento	da	raça	impede	o	negro,	
agora livre, de conseguir emprego, de alcançar cargos públicos de ser cidadão de fato. O 
imigrante europeu foi trazido ao país para fazer crescer o número de brancos no país e 
assim, embranquecer a população brasileira. O negro fora considerado, durante a primeira 
república, como um ser humano de segunda categoria, menos capaz, menos inteligente.
A história do povo africano no Brasil e sua cultura não pode ser contada sem com-
preender de onde esses povos vieram, porque foram escravizados e porque, mesmo após 
a escravidão, continuaram sendo colocados como cidadãos de segunda classe.
12UNIDADE I História e Cultura Africana
2. AFRICANOS SÃO TODOS IGUAIS? DE ONDE VEIO A POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL?
Segundo Alencastro (2000) entre 1551 e 1575, cerca de 25 mil africanos foram 
trazidos ao Brasil. Entre 1576 e 1600, houve um salto considerável para quase 200 mil 
africanos. Entre 1676 e 1700 houve um pequeno recuo para cerca de 175 mil pessoas 
trazidas da África e mais de 350 mil entre 1741 e 1760. A maior parte dos africanos trazidos 
ao nosso país era da costa oeste africana, sobretudo dos povos sudaneses e banto.
Da África Setentrional, no norte do continente, vieram ao Brasil povos de Castelo 
da Mina, Costa da Mina, povos Ajudá, Bissau, Oorin, Calabar e Cameron. Calcula-se que 
entre 1812 a 1820 17.691 escravizados tenham sido trazidos em 68 navios. Já da África 
Meridional ao sul do continente, 20.841 africanos foram trazidos em 69 navios negreiros ao 
país do Congo, Zaire, Cabinda, Angola, Moçambique, Quillemani, Cabo Lopes, Malambo, 
Rio Ambriz e Zanzibar. Esta estatística não nos diz a nacionalidade dos negros trazidos ao 
Brasil, mas nos apresenta que os navios negreiros vinham da costa oeste africana, entre 
povos bantos e sudaneses.
Os dados, ainda que limitados, nos mostram a procedência dessas pessoas trazi-
das para o trabalho escravo no Brasil. O governo inglêsproibiu o comércio de escravos, 
tornando,	assim,	a	atividade	portuguesa	em	tráfico	negreiro,	e	para	despistar	os	ingleses,	
muitos documentos foram destruídos, outros nunca chegaram a existir com a intenção de 
enganar os britânicos.
13UNIDADE I História e Cultura Africana
O contingente de pessoas trazidas do Oeste da África fora chamado de “ouro negro” 
pelos mercantilistas europeus. Portugueses, franceses, holandeses e ingleses disputavam 
o comércio de escravos bantos e sudaneses no Oceano Atlântico. Reginaldo Prandi diz o 
seguinte sobre esses povos:
[...] os sudaneses constituem os povos situados nas regiões que hoje vão 
da Etiópia ao Chade e do sul do Egito a Uganda mais ao norte da Tanzânia’. 
Quanto aos bantos, eram povos da ‘África Meridional, estão representados 
por povos que falam entre 700 e duas mil línguas e dialetos aparentados, es-
tendendo-se para o sul, logo abaixo dos limites sudaneses, compreendendo 
as terras que vão do Atlântico ao Índico até o cabo da Boa Esperança. O ter-
mo	‘banto’	foi	criado	em	1862	pelo	filólogo	alemão	Wilhelm	Bleek	e	significa	
‘o povo’, não existindo propriamente uma unidade banto na África.(BRANDI, 
2000, p. 83). 
Brandi	(2000)	afirma	que	bantos	e	sudaneses	são	definições	genéricas	e	impreci-
sas, produzidas no contexto da apropriação europeia do continente e dos povos da África. 
Sendo	assim,	afirmações	sobre	a	origem	dos	africanos	no	Brasil	são	quase	sempre	impre-
cisas.
Os bantos dividiam-se em dois grupos, os angola-congoleses e os moçambiques e 
tinham como destino o Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. 
Os sudaneses também se dividiam em três subgrupos: yorubás, jejes e fanti-ashantis e seu 
destino principal era a Bahia. E, ao contrário do imaginário popular, esses povos falavam 
línguas diferentes, muitas vezes dentro de uma mesma fazenda, existiam escravizados de 
várias etnias e, desta forma, não conseguiam se organizar devido a impossibilidade trazida 
pela linguagem.
14UNIDADE I História e Cultura Africana
3. O QUE FOI A ESCRAVIZAÇÃO?
Para compreender a história do nosso país é essencial entender o que foi a ampla 
escravidão de pessoas no Brasil.
Os primeiros registros de escravidão de pessoas são de mais de cinco mil anos 
atrás, na região da Mesopotâmia, basicamente no mesmo tempo das primeiras civilizações 
sedentárias. O Código de Hamurabi estabelecia os parâmetros da escravização de pessoas, 
incluindo condições de vida e origem daquele escravizado da seguinte forma: a compra de 
um escravizado em mercados portuários; a escravização de prisioneiros de guerra e pes-
soas endividadas livres que poderiam ser levadas à escravidão. Essas motivações para a 
escravidão levavam as sociedades a terem múltiplos estratos sociais e estiveram presentes 
em diversas civilizações em diferentes regiões e diferentes períodos de tempo como na 
Grécia e Roma antiga.
No Império Romano, a escravidão estava presente nas mesmas possibilidades, 
incluindo o cenário em que um escravizado poderia conquistar ou comprar, não apenas a 
sua liberdade, mas também sua cidadania, por exemplo, pelo serviço militar. É importante 
notar	que	esses	mecanismos	eram	universais,	sem	restrições	étnicas	e	geográficas.	Em	
Roma, as pessoas escravizadas poderiam ser romanas, germânicas, cartagineses, celtas, 
trácias, etíopes, basicamente todas as etnias dentro das fronteiras da República ou do 
Império. Entre os povos indígenas americanos, a escravidão pela guerra ou por dívidas era 
praticada, dentre outros, pelos povos mesoamericanos, pelos caribe, pelos comanches e 
15UNIDADE I História e Cultura Africana
os tupinambás. Sociedades chinesas, nórdicas, mongóis e japonesas também mantinham 
a prática da escravidão. Na África, praticamente todas as culturas e sociedades tinham o 
costume da escravidão por guerras ou por dívidas, como no Reino do Congo.
O tema escravidão também está presente nas religiões com séculos de debates 
internos de tradições religiosas, tanto a favor como contra a escravização de pessoas. Por 
exemplo,	a	 ideia	de	que	Noé	amaldiçoou	os	africanos,	descendentes	de	seu	filho	Cam,	
foi defendida por pessoas que aprovavam a escravização de africanos negros. Na bíblia 
existem regulamentos e menções sobre a escravidão, tanto no Antigo, quanto no Novo 
Testamento e diversos patriarcas bíblicos eram donos de pessoas escravizadas. Além 
disso, os textos regulavam e valorizavam quando uma pessoa libertava outras pessoas da 
escravidão, especialmente pela dedicação religiosa. No islã a escravização era autorizada 
para não muçulmanos que fossem tomados como prisioneiros de guerra ou comprados de 
mercadores de não muçulmanos e a alforria de escravizados que se convertessem ao islã 
era incentivada. Nas sociedades árabes a presença de pessoas escravizadas era bastante 
comum e, assim como no caso do Império Romano, não existiam restrições étnicas ou 
geográficas	com	a	possibilidade	de	ascensão	social	de	pessoas	escravizadas.
Pode-se	afirmar	que	até	a	virada	do	século	XIX	para	o	século	XX	a	escravização	
de pessoas era tragicamente comum em diversas culturas, lugares e períodos históricos. 
Também é importante destacar que a crítica da escravidão também é antiga, por exemplo, 
a realizada pelo legislador ateniense, Sólon.
Em algumas discussões atuais, por vezes evocam a escravidão na antiguidade ou 
a realizada por muçulmanos como uma forma de contrapor ou até minimizar a escravidão 
que	 aconteceu	 nas	 américas	 entre	 os	 séculos	 XVI	 e	 XIX	 e	 os	 seus	 efeitos	 que	 duram				
até hoje. É importante compreender os motivos que fazem com que essa comparação 
seja infundada: a escravidão implantada na América pelos europeus tem origem na Idade 
Média, especialmente com as Cruzadas. Ao leste europeu, as Cruzadas resultaram na 
escravização de bálticos eslavos pelos reinos europeus. A palavra “escravo”, assim como 
a palavra em inglês “slave”, ambas vêm de referência aos povos eslavos. Nas Cruzadas 
no mar Mediterrâneo, ocorreram escravização, tanto de muçulmanos quanto de cristãos 
mutuamente.
Movidos pelo espírito chamado “cruzadístico”, inicia-se a expansão ultramarina 
portuguesa com a conquista de povos africanos, que acompanhada em 1452 da Bula Papal 
Dum diversas do Pala Nicolau V que autoriza o rei português, Afonso V, o direito de aplicar 
16UNIDADE I História e Cultura Africana
a escravidão perpétua a sarracenos, pagãos e quaisquer descrentes como parte de uma 
escravidão pela guerra, assim como os casos anteriores.
[...] outorgamos por estes documentos presentes, com a nossa Autoridade 
Apostólica, permissão plena e livre para invadir, buscar, capturar e subjugar 
sarracenos	e	pagãos	e	outros	infiéis	e	inimigos	de	Cristo	onde	quer	que	se	
encontrem, assim como os seus reinos, ducados, condados, principados, e 
outros bens [...] e para reduzir as suas pessoas à escravidão perpétua. [...]. 
(ASSUNÇÃO, 2004, p. 51).
O papa era a maior autoridade política na Europa naquele período, por isso, uma 
bula papal tinha importância não somente na Europa, mas nos novos territórios que esses 
países conquistavam. Nesta Bula os portugueses eram autorizados a conquistar territórios 
não cristianizados e consignar a escravatura perpétua aos sarracenos e pagãos que cap-
turassem como forma de defesa, uma vez que estes vinham perseguindo e ameaçando 
cristãos da época. Esse documento é considerado frequentemente como o advento do 
comércio	e	tráfico	europeu	de	escravos	na	África	Ocidental.
Nesse	contexto	de	guerra,	entre	os	séculos	XVI	e	XIX	até	um	milhão	de	europeus	
foram escravizados por reinos muçulmanos, especialmente para servirem como remadores 
em galés, foram escravizados espanhóis, gregos, italianos e até islandeses. É importante 
notar, entretanto, que esse caráter de guerra religiosa com escravização foi restrito ao 
mediterrâneo e à Europa, não afetando o Brasil e nossa sociedade. Nenhuma expedição 
para captura de pessoasfoi realizada por muçulmanos ao solo do continente americano. 
Esse é o primeiro motivo que invalidade a comparação entre a escravização realizada aos 
africanos com as demais escravizações.
Foi a África a região que mais sofreu com a escravização de pessoas de diferentes 
regiões e etnias. Até treze milhões de africanos foram escravizados por reinos muçulmanos, 
outros quatro milhões foram escravizados por povos ocidentais e árabes pelo Oceano Índico 
e outros vinte milhões escravizados pelo Atlântico, destes, entre 11 e 12 milhões foram trazi-
dos para as américas, principalmente para territórios onde hoje são Brasil, Estados Unidos 
da América, além do Caribe e destes, algo entre dois e quatro milhões morreram durante 
o	tráfico	antes	de	chegar	ao	destino	final.	No	Brasil,	os	primeiros	africanos	escravizados	
chegaram em 1538. No total, quatro milhões e oitocentos mil africanos chegaram ao litoral 
brasileiro,	 fora	os	que,	propositadamente,	não	 foram	contabilizados	no	século	XIX.	Com	
a	cada	vez	maior	presença	portuguesa	no	continente	africano	e	sua	posição	geográfica	
privilegiada, Portugal se torna no maior centro mercador de escravizados da Europa. No 
século	XVI,	mesmo	indo	além	dos	territórios	muçulmanos,	Portugal	já	está	totalmente	com-
17UNIDADE I História e Cultura Africana
prometido com o comércio de africanos escravizados. Outras potências europeias também 
investem nesse comércio de pessoas formado por escravos africanos negros.
Esse processo da escravização pelo Atlântico será um fenômeno próprio, diferente 
da escravidão que existia até o momento que já citamos aqui. O comércio de pessoas era 
realizado não mais como consequência de uma guerra justa, mas realizado no Atlântico 
como um processo mercantil. O africano era um produto em si mesmo, para ser lucrati-
vo. Também não era uma escravidão por dívida ou como pena criminal. A escravidão era 
uma atividade ampla, de larga escala, extremamente organizada, lucrativa e base para a 
economia dessas regiões do continente americano na produção de tabaco e açúcar, por 
exemplo.	A	escravidão	do	Atlântico	é	a	única	que	é	específica	etnicamente,	voltada	contra	
pessoas negras, mesmo que adotassem o cristianismo. Esse é o segundo motivo que inva-
lida a comparação entre a escravidão do Atlântico e a Antiguidade. Ao contrário da antiga 
sociedade	romana,	por	exemplo,	o	componente	étnico	que	o	tráfico	atlântico	adiciona	ao	
comércio de escravos cria uma estrutura racial, ou seja, existe um povo que, por causa da 
sua	cor	de	pele,	é	considerado	escravo	e	isso	é	herdado	pelos	filhos	perpetuamente.
Essa particularidade étnica cria uma estrutura racial. No nosso país, a cor da pele 
era	prova	suficiente	da	escravização,	ser	negro	no	Brasil	e	em	outros	territórios	do	conti-
nente americano era sinônimo de escravizado. Uma inversão sem o ônus de prova, isto é, 
a	pessoa,	por	ser	negra,	tinha	que	provar	sua	inocência.	Essa	estrutura	durou	oficialmente	
mais de trezentos anos. Esse componente étnico da escravidão cria uma série de barreiras 
e efeitos nocivos vistos até hoje em todos os países americanos onde ocorreu a escravidão. 
É	importante	frisar	que	não	se	trata	de	justificar	ou	amenizar	a	escravização	de	pessoas	em	
outros lugares, mas enfatizar a importância de compreender que a escravidão do Atlântico 
é um fenômeno próprio que não pode ser comparado a uma estrutura, pois é uma estrutura 
econômica	voltada	especificamente	para	o	comércio	de	seres	humanos	e	exclusivamente	
porque	é	voltada	para	um	típico	específico	de	pessoa,	o	negro	africano.	E	isso	gerou	e	ainda	
gera problemas que afetam nossa sociedade e a compreensão disso é também essencial 
para superação e conserto desses problemas.
18UNIDADE I História e Cultura Africana
4. O AFRICANO NO BRASIL
A história do africano no Brasil é uma história de resistência. Entre 1500 e 1850, 
mais ou menos doze milhões de africanos foram raptados, escravizados e transportados 
para venda como mercadoria do outro lado do oceano. Cerca de um terço veio para o Brasil, 
que é, de longe, o país que mais recebeu escravos na Idade Moderna. Mas a história dos 
africanos	na	formação	do	Brasil	vai	muito	do	tráfico	negreiro	e	da	escravidão.	Resistindo	
à	toda	violência,	do	rapto,	do	tráfico,	do	cativeiro	e	da	imposição	da	cultura	europeia,	os	
africanos reconstruíram suas tradições e criaram diferentes alternativas para sobreviver ao 
escravismo e ao colonialismo.
Por muito tempo a história nos livros apenas falava dos africanos no Brasil como 
mão-de-obra, uma vez que era assim que os europeus os viam. A história dos africanos na 
formação do Brasil começa com o rapto praticado na África, seguido por longas viagens a 
pé até chegar nos navios e, após a compra por algum fazendeiro no Brasil. E essa história 
prossegue na resistência e na construção de alternativas para buscar a liberdade em solo 
brasileiro.
Na	época	do	descobrimento	do	Brasil	por	Portugal,	o	tráfico	de	pessoas	escravi-
zadas existia em diversas partes da Europa, da África e da Ásia, sendo que os maiores 
praticantes desse comércio eram mercadores árabes. Estima-se que ao longo do século 
XVI,	eles	traficaram	quatro	vezes	mais	pessoas	que	os	europeus.	Mas	isso	foi	mudando	
no decorrer do século, quando os portugueses passaram a controlar cada vez mais as 
19UNIDADE I História e Cultura Africana
rotas de comércio no interior da África, ampliando o acesso aos locais onde pessoas eram 
capturadas, criando novas guerras e expedições para escravizar mais pessoas. Eles não 
só conquistaram e ampliaram as rotas africanas, como colocaram essas rotas a serviço de 
um novo tipo de exploração econômica, a agricultura escravista.
Esse tipo de agricultura aconteceu primeiro nas ilhas que Portugal e Espanha 
tinham encontrado no início da expansão marítima, como as ilhas Canárias e Cabo Verde. 
Foi lá que a empresa colonial europeia criou as primeiras áreas de produção que usavam 
mão-de-obra escravizada para produzir mercadorias de grande valor, como o açúcar, que 
na época não era produzido na Europa. 
A Espanha também passou a comprar africanos escravizados para explorar nas 
ilhas do Caribe, onde as populações indígenas desapareceram completamente.
 Apesar da escravização realizada pelos espanhóis, eles não se estabeleceram na 
África, e assim, concederam a Portugal o monopólio desse comércio em acordos conheci-
dos como “asientos”. Depois das ilhas atlânticas e do Caribe espanhol, o terceiro território 
que se tornou comprador de pessoas escravizadas foi o Brasil.
Os portugueses se especializaram no negócio escravista, um pioneirismo que 
garantiu a liderança mesmo depois da concorrência holandesa e inglesa entrar na disputa. 
E não só os portugueses, mas também a elite colonial nascida no Brasil que, a partir do 
século	XVII,	passou	a	controlar	diretamente	os	portos	africanos.	Isso	contribuiu	para	que	
um terço dos doze milhões de indivíduos que sobreviveram às travessias ao longo de 350 
anos vieram para o continente americano em navios de bandeira portuguesa ou brasileira. 
Estima-se que dos quatro milhões de africanos trazidos para cá em navios negreiros, cerca 
de 700 mil não sobreviveram à viagem. Para que se tenha uma base, esse número é dez 
vezes o total em toda a história dos Estados Unidos da América.
A história das travessias mudou ao longo do tempo, até porque no começo elas eram 
muito menos frequentes. No primeiro século vieram 34 mil escravos. No segundo século 
foram mais de 900 mil. No terceiro século foram quase 2 milhões. E o auge aconteceu no 
século	XIX,	na	mesma	época	em	que	o	Brasil	se	formou	como	um	país	independente.	Entre	
1790 e 1830 o Brasil recebeu uma média de 17 mil escravizados por ano.
A história da escravização e da migração forçada geralmente começava com algu-
ma guerra entre diferentes povos da África, com ou sem a participação direta dos poderes 
europeus. Nessas guerras eram feitos prisioneiros, queao longo da época das navegações 
começaram a ser vendidos para comerciantes e militares europeus. Também poderiam ser 
20UNIDADE I História e Cultura Africana
escravizadas por dívidas ou crimes e ainda existiam os que eram simplesmente raptados 
por comerciantes e militares europeus, sem qualquer tipo de acordo com os poderes locais.
O sucesso da empresa colonial no Brasil, no Caribe e em outras regiões da América 
fez com que mais investidores europeus se envolvessem no negócio, com apoio dos reis 
e da Igreja Católica, aumentando a demanda de escravos. O aumento da demanda e a 
concorrência entre as potências européias fez com que a escravização se tornasse uma 
prática de dimensões muito maiores em qualquer momento na história da humanidade.
Existem poucas fontes publicadas mostrando o ponto de vista dos escravizados. 
Uma	dessas	fontes	é	a	autobiografia	de	Mahommah	Gardo	Baquaqua,	publicada	em	inglês	
em 1854 e traduzida para o português em 1988. Baquaqua nasceu na África Ocidental, hoje 
Genin, e pertenceu a uma família muçulmana poderosa. Graças a isso, ele foi alfabetizado 
em árabe e em ajami, que é uma escrita árabe praticada ao sul do Saara, e teve menor 
dificuldade	para	aprender	sobre	as	 línguas	e	culturas	dos	dominadores	ao	 longo	de	sua	
vida.
O relato de Baquaqua mostra como era a experiência de se tornar escravo. Ele 
descreve desde a surpresa quando viu um homem branco pela primeira vez, ao chegar 
num grande porto do litoral africano, e conta que lá reencontrou por acaso um conhecido 
vindo de sua região. Também descreve como foi a viagem dentro do tumbeiro – navio 
negreiro – e como resistia à escravidão todos os dias no Brasil.
Uma	característica	do	tráfico	negreiro	era	que	ele	misturava	gente	das	mais	varia-
das origens, etnias e línguas, quebrando os vínculos familiares, comunitários e religiosos. A 
pessoa	era	vendida	como	uma	unidade,	que	pode	ser	separada	dos	pais,	dos	filhos	e	dos	
cônjuges, e uma vez separados, os reencontros eram raros. Isso fazia com que as pessoas 
que pertenciam a povos diferentes dividissem espaços nos navios e nas senzalas, o que 
era	útil	para	os	traficantes	de	escravos,	pois	evitava	a	união	de	todos	contra	eles.
Baquaqua também relatou que os europeus se esforçaram para apagar as identida-
des das pessoas que eles escravizavam. Por exemplo, ao chegarem na feitoria comercial 
as pessoas tinham os cabelos cortados iguais para destruir suas identidades, já que, nas 
palavras de Baquaqua: Na África, as nações das distintas partes do território têm seus 
modos diferentes de cortar o cabelo e são conhecidas por essa marca, a que parte do 
território pertencem. O que Baquaqua descreve é a tentativa europeia de transformar cada 
indivíduo escravizado numa “peça” que pode ser vendida como qualquer outra mercadoria. 
Mas	ele	descreve	também	a	resistência	que	é	a	grande	marca	de	sua	biografia.
21UNIDADE I História e Cultura Africana
Mahommah Baquaqua tinha sido feito prisioneiro numa guerra, depois foi escra-
vizado e embarcado num navio negreiro com destino ao Brasil, e em todo esse percurso 
ele narra a violência das correntes, das jaulas e das tentativas de destruir sua identidade. 
Quando viu uma grande embarcação pela primeira vez, a achou tão grandiosa que pensou 
se tratar de um objeto de adoração dos brancos. Já no embarque, trinta pessoas morreram 
afogadas quando afundou um dos barcos que os levava ao navio. A viagem foi um grande 
tormento. Muitos morreram. Baquaqua jamais esqueceu os horrores da travessia. A única 
comida que ele recebeu foi milho velho cozido, e um pouco de água. Segundo LARA (1988): 
“quando qualquer um de nós se tornava rebelde, sua carne era cortada com uma faca e o 
corte	esfregado	com	pimenta	e	vinagre,	para	torná-lo	pacífico”.
Os sobreviventes foram vendidos em Pernambuco, num mercado que funcionava 
na	casa	de	um	fazendeiro.	Ele	ficou	dois	dias	esperando	um	comprador,	que	foi	um	comer-
ciante que o revendeu a um padeiro. O livro relata a experiência de trabalhar para este e 
outros proprietários e como sua liberdade foi conquistada de forma excepcional. Depois de 
trabalhar com o padeiro que o comprou, ele sofre castigos terríveis e tentou suicídio.
As coisas iam de mal a pior e estava muito ansioso para trocar de senhor, en-
tão tentei fugir, mas logo fui apanhado, atado e restituído a ele. [...] fui muito 
severamente espancado. Eu disse a ele que não deveria mais me açoitar e 
fiquei	com	tanta	raiva	que	me	veio	à	cabeça	a	ideia	de	matá-lo	e,	em	seguida,	
suicidar-me. [...]. (LARA, 1988, p. 62).
Diante da tentativa de suicídio foi vendido a outro proprietário, que fazia viagens 
marítimas pelo litoral brasileiro. Numa viagem a Nova York, em 1847, ele conseguiu fugir 
com ajuda de religiosos abolicionistas dos Estados Unidos. Ele já sabia falar diversas lín-
guas, incluindo o árabe, o português e o francês e aprendeu a escrever em inglês. Mudou-se 
para o Canadá, onde escreveu seu livro, depois foi para o Haiti, que era o único país do 
continente	onde	os	negros	chegaram	ao	poder.	O	final	de	sua	vida	não	é	conhecido,	mas	
seus planos eram de retornar ao continente africano.
Essa história tem algo em comum com as demais histórias dos sobreviventes do 
tráfico	negreiro,	seja	pela	fuga,	pela	revolta	ou	pela	negociação	e	busca	de	alforria:	a	resis-
tência.
22UNIDADE I História e Cultura Africana
5. A RESISTÊNCIA NEGRA
A resistência à escravização começava na África onde os capturados frequente-
mente tentavam fugas e revoltas e continuava nos navios negreiros, exemplo disso foi o 
navio La Amistad, quem em 1839 transportava clandestinamente pessoas para vender em 
Cuba, mas que foram frustrados por uma rebelião. Eles acabaram chegando ao sul dos 
Estados	Unidos,	onde	a	escravidão	era	legal,	mas	não	o	tráfico	internacional	de	escraviza-	
dos, o que levou essa situação a um tribunal. Segundo Baquaqua, os navios eram a pior 
parte da experiência, mas também era apenas o começo.
Mahommah Baquaqua relatou que o padeiro que o comprou em Pernambuco tinha 
tentado convertê-lo ao catolicismo à base de ameaças e açoites. Assim como aconteceu 
no caso das culturas e religiosidades indígenas, os africanos eram submetidos às leis e 
instituições europeias que agiam em nome da conversão dos pagãos ao cristianismo.
Muitas tradições com origens africanas e indígenas se mantiveram e se mantêm 
vivas, além de terem se incorporado ao sincretismo religioso brasileiro. A sobrevivência 
de tradições, línguas e religiões e formas de expressão corporal e artística ao longo dos 
séculos foi o resultado de esforços imensos de muitas gerações para resistir às estratégias 
da elite escravista brasileira.
A imposição violenta também era uma das estratégias dos senhores para obter seu 
domínio sobre os escravizados. Torturas, marcas a ferro, correntes e troncos foram usa-
dos consistentemente no período escravagista. É algo próprio da natureza da escravidão. 
23UNIDADE I História e Cultura Africana
Enquanto	no	trabalho	assalariado	trabalha-se	para	não	ficar	sem	dinheiro,	na	sociedade	
escravista trabalha-se para não ser torturado ou mesmo assassinado. A violência era a 
base do funcionamento do sistema escravista. A violência não era a única forma de con-
trole do sistema escravocrata, ela convivia com estratégias, negociações e promessas de 
liberdade.
Segundo Manzano (2015), Baquaqua conta que se esforçou ao máximo para mos-
trar serviço aos seus senhores e também para aprender coisas que tornavam seu trabalho 
melhor, tipo a língua portuguesa. Quando aprendeu a contar até 100 em português, foi 
encarregado de vender pão na vila onde vivia e também nos campos e no mercado local, 
mas	como	ele	conta	no	seu	 relato	essas	melhorias	não	significavam	o	fim	da	violência.	
Quando	ele	não	conseguia	vender	todos	os	pães	era	açoitado	no	fim	do	dia.
Negociações entre senhores de escravos também aconteciam nas fazendas, sen-
do que neste caso as melhoriaspoderiam incluir um pedaço de terra e um dia de folga 
por semana. Alguns até mesmo conseguiam vender uma parte do que plantavam e juntar 
pequenas	economias	que	podiam	ser	usadas	para	comprar	alforria	para	si	ou	para	os	filhos.	
Era	muito	comum	que	pais	e	mães	passassem	a	vida	dedicados	a	livrar	os	filhos	da	escravi-
dão. Para os senhores conceder melhorias e alforriar algumas pessoas era vantajoso, pois 
diminuía as chances de rebeliões.
Ainda em seu relato, Baquaqua conta alguns episódios que cogitou a possibilidade 
de atacar seus agressores, mesmo sabendo que suas chances eram muito pequenas e 
que sofreria as piores consequências possíveis. Além disso, muitos buscavam o suicídio e 
o	desespero	de	saber	que	os	filhos	também	sofreriam	com	a	escravidão	fazia	com	que	as	
grávidas provocassem abortos. Os escravizados também manifestavam sua insatisfação 
prejudicando os lucros do senhor de escravos. Quebravam peças do engenho que demo-
ravam para serem substituídas, incendiavam plantações, escondiam e contrabandeavam 
ouro e diamante dentre outras coisas.
Baquaqua tentou o caminho da lealdade ao seu senhor, mas acabou desiludido. 
Segundo ele, o padeiro não oferecia qualquer retorno aos seus esforços por se mostrar 
prestativo e obediente. Sem o reconhecimento de seu senhor, abandonou a estratégia da 
obediência.	Ao	ser	vendido	pelo	padeiro	a	um	traficante,	foi	levado	para	ser	comercializado	
no Rio de Janeiro e quase foi comprado por um senhor de escravos também negro. O que 
acontecia no Brasil, não chegava a ter uma relevância tão expressiva quanto o número de 
senhores de escravos brancos, porém, a escravização de negros por outros negros no Bra-
24UNIDADE I História e Cultura Africana
sil era frequente e bem mais comum no nosso país do que em outras regiões escravistas 
do continente.
Negociantes	de	Portugal	e	do	Brasil	controlavam	o	grande	negócio	do	tráfico	ne-
greiro por meio dos domínios de regiões estratégicas. Esse controle garantia baixos custos 
e estabilidade no fornecimento de pessoas escravizadas para as lavouras brasileiras, ao 
contrário dos Estados Unidos, por exemplo. Como era barato e fácil comprar escravos 
recém-chegados não era mau negócio para os senhores alforriar alguns escravizados. 
Desta forma os senhores podiam contar com aliados no controle dos escravos. Além de 
a promessa de alforria de alguns estimulava outros a serem leais em busca de liberdade.
As chances reais de alcançar a alforria eram muito pequenas. No caso baiano, por 
exemplo, apesar da maioria dos escravizados terem vindo da África, 69% dos alforriados 
eram negros nascidos escravos no Brasil. Quanto mais se distanciavam de suas origens, 
mais tinham acesso às brechas do sistema. Os nascidos no Brasil tinham mais chances 
que os nascidos na África, assim como os que falavam bem o português e seguiam a Igreja 
Católica. Os referidos como pardos também tinham mais chances que os referidos como 
pretos, isto é, quanto mais escura era a pele, menores eram as chances de conseguir a 
carta de alforria. 
Os escravizados que trabalhavam na Casa Grande tinham mais chances de alforria 
que os trabalhadores nas plantações e apenas da grande maioria das pessoas trazidas 
serem homens, libertavam duas vezes mais mulheres. Isso não representa um melhor trato 
à mulher negra em relação ao homem negro. Muitas alforrias dadas às mulheres e crianças 
eram na verdade consequência da violência sexual realizada pelos senhores. De acordo 
com	as	leis	escravistas	o	que	definia	se	uma	criança	era	livre	ou	escrava	era	a	condição	da	
mãe, sendo assim, se a mãe fosse livre, a criança era livre, se fosse escravizada, a criança 
também	era.	Desta	forma,	mesmo	os	filhos	bastardos	dos	senhores	com	uma	escravizada,	
também nascia escravo.
Os senhores tratavam alguns escravizados melhores que os outros, por ter a pele 
menos escura, por trabalhar na Casa Grande, por ter nascido no Brasil, etc. Essas dife-
renças de tratamento por parte dos senhores criavam hierarquias e rivalidades entre os 
escravizados, sobretudo entre nascidos no Brasil e os nascidos na África e também entre 
os trabalhadores do campo e os que trabalhavam na Casa Grande.
Como	já	vimos	no	relato	de	Baquaqua,	o	 tráfico	negreiro	separava	pessoas	que	
tinham	origens	e	culturas	em	comum	exatamente	para	dificultar	a	união	entre	os	escravi-
zados e no interior dos engenhos o tratamento desigual também servia para reforçar essa 
25UNIDADE I História e Cultura Africana
desunião,	dificultando	a	resistência.	Os	escravizados	não	eram	geralmente	um	grupo	uni-	
forme e unido, mas sim pessoas muito diferentes entre si, se preocupando com sua própria 
sobrevivência, e apesar de todos os esforços dos senhores, continuaram resistindo, fosse 
através da lealdade conquistando pequenas melhorias no dia-a-dia, fosse pela obtenção 
do documento de alforria, fosse pelo boicote à produção da cana-de-açúcar, fosse pelo 
assassinato do feitor, fosse pela fuga para um quilombo.
26UNIDADE I História e Cultura Africana
6. OS QUILOMBOS COMO SINÔNIMO DE RESISTÊNCIA NEGRA
A palavra quilombo existe no Brasil há quase 450 anos e já estava presente em 
textos escritos pelos colonizadores portugueses desde 1559. Nos textos escritos pelos 
portugueses	a	palavra	quilombo	tinha	um	significado	muito	simples:	“um	grupo	de	escravos	
fugidos que cabia às autoridades capturar ou exterminar” de acordo com as leis da época. 
Para	os	que	viviam	em	quilombos,	 a	palavra	 tinha	um	significado	muito	mais	profundo,	
era uma forma de organização social para a defesa da liberdade. Na formação do Brasil 
a escravidão estava por toda a parte, nos engenhos, nas vilas e cidades criadas pela co-
lonização europeia e os quilombos eram uma negação deste mundo em uma busca pela 
emancipação.
Em cartas, relatórios, leis e outras fontes portuguesas temos acesso a diversas 
informações sobre como eram os quilombos e quem eram seus habitantes. Nessas fontes 
são descritas as habitações, as roças plantadas, o tempo de permanência da comunidade 
no local, as tecnologias que elas dominavam e as pessoas capturadas ou mortas. Nem sem- 
pre os portugueses destacavam o nome dos escravizados, costumavam anotar as idades, 
sexo, locais de origem, etc. Essas informações eram importantes para as estratégias dos 
colonizadores que buscavam entender a resistência dos negros para melhor combatê-la e 
hoje servem para que conheçamos suas histórias, lutas e como era viver em um quilombo. 
Para a historiadora, Maria Beatriz Nascimento, pioneira nos estudos dos quilombos, brasi-
leira,	trabalhou	em	Angola	onde	investigou	o	que	significa	quilombo	na	época	em	que	essa	
27UNIDADE I História e Cultura Africana
palavra atravessou o oceano e chegou ao Brasil. Sua pesquisa concluiu que quilombo é um 
conceito que tem origem nos povos bantos, habitantes da África Centro-Ocidental e Leste.
Precisamente,	 a	 palavra	é	 usada	durante	os	 séculos	XVI	 e	XVII	 para	definir	 os	
acampamentos dos guerreiros jaga que resistiram por muito tempo aos colonizadores gra-
ças à sua forma de organização guerreira, mas acabaram se aliando aos europeus como 
forma de sobrevivência. Resistir à colonização era defender a própria liberdade, já que os 
europeus	vinham	realizando	guerras	para	transformar	o	tráfico	de	pessoas	escravizadas	
em um grande negócio. No Brasil, essa forma de organização serviu para que esses es-
cravizados continuassem resistindo à violência da escravização nos engenhos e em outras 
atividades.
Os	primeiros	 quilombos	 da	América	 surgiram	em	meados	 do	 século	XVI	 e	 isso	
aconteceu não somente no Brasil, mas em todo o continente. Onde houve escravidão, 
houve resistência. Segundo os historiadores João José Reis e Flávio dos Santos Gomes, 
de todas as formas de resistência à escravidão que existiram no Brasil, a mais típica foi 
a fuga para formação de quilombos. Esses quilombos existiram do Rio Grande do Sul ao 
Amazonas	e	se	formaramem	todas	as	épocas	da	história	do	Brasil,	desde	o	século	XVI	ao	
final	do	século	XIX,	quando	foi	abolida	a	escravidão.
O mais importante e conhecido quilombo do Brasil foi Palmares, também conhecido 
por seus habitantes por Angola Janga. O quilombo surgiu na Serra da Barriga entre os 
estados de Alagoas e Pernambuco por volta de 1580. A Serra da Barriga era uma região 
afastada das áreas ocupadas pelos portugueses e o acesso que já era difícil, passou a ser 
cada vez mais vigiado pelos quilombolas permitindo que a população dos Palmares cres-
cesse e um pequeno agrupamento se tornasse em um grande complexo de povoações. 
Sua produção incluía o plantio de milho, batata-doce, feijão, banana, criação de porcos e 
galinhas, a pesca, a caça, a fabricação de utensílios e instrumentos musicais e armar, in-
clusive de metal. Toda essa produção estava voltada para objetivos da própria comunidade, 
sendo o primeiro deles a proteção contra ameaças de escravização.
Ao longo de mais de um século, Palmares acolheu diferentes gerações de pessoas 
que conseguiram escapar das senzalas e dos canaviais. O quilombo dos Palmares não só 
cresceu como se tornou um Reino, Angola Janga, era provavelmente o fruto de uma união 
de duas linhagens de guerreiros africanos, a linhagem do reino fundada por Mbundu N’Go-
la, que também é a origem do nome do país africano, Angola e a linhagem dos guerreiros 
jagas, que utilizavam a denominação quilombo para seus acampamentos. É possível que 
o Reino Angola Janga (Palmares) tenha origem na liderança de uma princesa que já havia 
28UNIDADE I História e Cultura Africana
comandado batalhas contra os europeus na África antes de ser escravizada. Seu nome era 
Aqualtune e seu caso não foi o único, pois muitos herdeiros de linhagens reais africanas 
foram trazidos para a América para serem escravizados, além de chefes políticos, militares 
e religiosos.
A existência desses líderes as vezes se tornava uma ameaça séria para a escravi-
dão, já que podiam reorganizar as estruturas de poder que existiam na África. A história do 
Quilombo dos Palmares está cheia de exemplos dessa reinvenção das tradições africanas. 
O primeiro Rei de Angola Janga que teve contato com os europeus foi Ganga Zumba, 
mesmo nome que era dado aos reis Imbangala no Leste da África. Além do nome, Ganga 
Zumba também usava o cabelo em tranças longas e adornadas de conchas que, de acordo 
com sua tradição, representava autoridade, exatamente como os reis Imbangala. Como 
já expresso por Baquaqua, a primeira coisa que os colonizadores faziam ao capturar ou 
traficar	um	africano	para	ser	escravizado,	era	cortar	seus	cabelos	para	tentar	eliminar	suas	
tradições.
O estilo de guerra praticado em Palmares ou Angola Janga, também eram inspira-
dos em tradições africanas. O quilombo se organizava em torno de povoados que recebiam 
o nome de mocambos e que mesmo sendo distantes entre si estavam ligados por uma rede 
muito	eficaz	de	comunicação	e	mobilização	de	guerreiros.	Uma	estrutura	pensada	para	
defesa contra investida dos colonizadores que atacavam sempre de surpresa e que tornava 
necessária uma vigilância constante.
A	estratégia	de	defesa	foi	tão	bem-sucedida	que	ao	longo	do	século	XVII	Palmares	
derrotou inúmeras tentativas portuguesas e holandesas de destruição. A primeira expedi-
ção conhecida ocorreu em 1655 quando o governo português conseguiu capturar alguns 
quilombolas e descobrir mais ou menos como se organizavam os mocambos. Nessa época, 
Pernambuco vivia o pior momento de uma grave crise de fome que atingiu principalmente 
as vilas e cidades portuguesas, como Olinda e Recife.
A fome era uma consequência do tipo de economia que os portugueses estabele-
ceram na região com o foco total na produção de açúcar, deixando pouco espaço para a 
produção de artigos de primeira necessidade. Com a fome, as fugas para Palmares aumen-
taram, pois chegavam notícias de que por lá havia comida. Com as fugas, os quilombos 
aumentavam sua população e sua capacidade de resistência a cada dia, levando senhores 
de engenho e autoridades portuguesas a concentrarem suas forças na sua destruição.
Destruir	Palmares	não	era	fácil,	tanto	pela	distância	e	dificuldade	do	caminho	quanto	
pelas técnicas de guerra que iam de postos de observação a armadilhas. Também ajudavam 
29UNIDADE I História e Cultura Africana
na defesa habitantes da região que dependiam dos alimentos do quilombo e o apoiavam. 
Pequenos proprietários de terras de origem portuguesa compravam comida de Palmares 
em troca de pólvora e armas de fogo, já que em Palmares não faltava comida, mas faltavam 
armas e munições para fazer frente às expedições portuguesas. Os quilombolas também 
trocavam seus alimentos por informações sobre os movimentos das tropas inimigas, além 
de manterem uma rede de informantes.
Apesar de todas as estratégias, as expedições dos portugueses e holandeses 
fizeram	muitos	estragos	com	a	destruição	de	plantações,	o	incêndio	de	casas	e	a	morte	ou	
captura de muitos habitantes. Com as perdas dos Palmares, o rei Ganga Zumba aceitou 
fazer um acordo de paz com o capitão-general de Pernambuco, que representava o rei de 
Portugal. Esse acordo reconhecia a liberdade das pessoas nascidas em Palmares, mas 
não das pessoas que continuavam fugindo dos engenhos e das cidades. O acordo de paci-
ficação	já	havia	sido	proposto	em	1663.	O	governador	de	Pernambuco	enviara	intérpretes	
de línguas africanas para negociações, mas foram assassinados pelos quilombolas.
Para quem tinha nascido em Palmares, aceitar um acordo poderia ser uma forma 
de tentar garantir sua liberdade sem precisar viver em constante ameaça, mas ao mesmo 
tempo o acordo enfraquecia Palmares, pois se fechava a novos membros em busca de 
emancipação. Depois de aceitar o acordo, o Rei Ganga Zumba acabou desacreditado e 
foi envenenado por seus próprios súditos, dando lugar ao último e mais importante líder 
de	Palmares,	Zumbi,	que	havia	nascido	em	Palmares	e	teria	sido	um	dos	beneficiários	do	
acordo de Ganga Zumba, mas entendia que a liberdade não poderia ser apenas para os 
que haviam nascido em Angola Janga (Palmares), mas sim para todos os negros, africanos 
ou não.
Zumbi nasceu livre, na Serra da Barriga, mas a liberdade durou pouco, quando 
ele ainda era bebê foi capturado por uma expedição e dado de presente a um padre que 
o rebatizou com um nome europeu, Francisco, em homenagem ao padre católico protetor 
dos pobres. Aos 15 anos o jovem se recusou a continuar sendo o escravo Francisco e 
retornou à sua terra natal para se tornar Zumbi. Aos 17 anos comandou os guerreiros que 
venceram a maior expedição que já tinha sido montada para destruir Palmares.
Zumbi se tornou rei quando já era um guerreiro famoso depois de liderar uma rebe-
lião contra Ganga Zumba e contra a aliança de paz com os portugueses. Em seu reinado 
Palmares virou uma fortaleza e o mocambo principal chamado Macaco chegou a contar 
com uma muralha de cerca de cinco quilômetros de extensão.
30UNIDADE I História e Cultura Africana
A cada expedição portuguesa, Zumbi reagia com ataques aos engenhos que re-
sultavam na libertação de mais pessoas escravizadas, na aquisição de novas áreas para o 
quilombo e no incêndio dos canaviais que destruía a fonte de riquezas das forças inimigas. 
Zumbi usava verdadeiras táticas de guerra contra os colonizadores.
Os portugueses tentaram um novo acordo de paz rejeitado por Zumbi. Então, o 
governador de Pernambuco decidiu chamar um exército de bandeirantes paulistas para 
tentar destruir Palmares. Os bandeirantes eram comandados por Domingos Jorge Velho 
que tinha uma longa experiência nas guerras por escravização de povos indígenas em São 
Paulo.
Os Bandeirantes chegaram em 1691 em Pernambuco e foram derrotados na pri-
meira investida contra Palmares. Em 1693 voltaram com um exército de nove mil homens e 
continuaram avançando. No dia 20 de novembro de 1695 Zumbi foi morto numa emboscadaarmada pelos bandeirantes.
Depois de mais de um século de resistência, o quilombo dos Palmares teve seus 
últimos	habitantes	degolados.	Era	o	fim	do	maior	quilombo	que	 já	existiu	no	Brasil,	mas	
era apenas um capítulo da longa história da resistência quilombola que se reinventou e se 
espalhou por todas as regiões do país por muitos anos que viriam.
31UNIDADE I História e Cultura Africana
SAIBA MAIS
Mahommah Gardo Baquaqua foi um homem africano, sequestrado e escravizado por 
traficantes.	Nativo	de	Zooggoo	na	África	Central	(atual	municipalidade	de	Djougou,	no	
Benim), um reino tributário do reino de Bergoo, trabalhou no Brasil como cativo, contudo 
conseguiu fugir para Nova York em 1847 garantindo sua liberdade. O navio, que chegou 
a Nova Iorque em junho, foi abordado por abolicionistas locais, que o incentivaram a fugir 
do navio. Após a fuga, no entanto, foi preso na cadeia local, e apenas a colaboração dos 
abolicionistas (que facilitaram a fuga da prisão) impediu que fosse restituído ao navio. 
Foi então enviado ao Haiti, onde passou a viver com o reverendo Judd, um missionário 
batista. Convertido e batizado, em 1848, Baquaqua retornou aos Estados Unidos devido 
à instabilidade política que o Haiti vivia então; estudou no New York Central College, 
em	McGrawville,	por	quase	três	anos.	Em	1854	foi	para	o	Canadá	e	sua	bibliografia	foi	
publicada no mesmo ano por Samuel Downing Moore em Detroit.
Não se sabe o que acontece com Baquaqua depois de 1857. Ele estava então na Ingla-
terra e havia recorrido à Sociedade da Missão Livre Batista Americana para ser enviado 
como missionário à África.
Em	2018,	a	biografia	de	Mahommah	Baquaqua	foi	apresentada	como	enredo	no	carna-
val	virtual,	pelo	G.R.E.S.V.	Recanto	do	Beija-flor.
Sua	biografia	foi	publicada	pelo	abolicionista	estadunidense	Samuel	Moore	em	1854,	
seu	relato	foi	fundamental	pois	revelou	detalhes	das	operações	do	tráfico	negreiro	da	
época.
Fonte: MANZANO, Juan Francisco, A Autobiografia do poeta-escravo. São Paulo: Hedra, 2015. 
REFLITA
“Oh! a repugnância e a imundície daquele lugar horrível (navio negreiro) nunca serão 
apagadas de minha memória. Não: enquanto a memória mantiver seu posto nesse cé-
rebro distraído, lembrarei daquilo. Meu coração até hoje adoece ao pensar nisto.” 
Fonte:	Baquaqua.	Mohammah	Gardon.	Biografia.	p.	272.
32UNIDADE I História e Cultura Africana
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa	viagem	chega	ao	fim.	O	espaço	de	experiência	contemplado	nos	apresentou	
um negro no Brasil que fora trazido à revelia ao país. Não foi uma bela viagem, porém, 
humanizante.
Conforme vimos, o negro no Brasil fora colocado sob um trabalho compulsório. 
Uma vez aqui, teve de resistir das mais diversas formas. Uns optaram pela estratégia da 
obediência e lealdade. Era a melhor forma, para alguns, de se apegarem às suas próprias 
vidas. Outros, boicotaram a produção, quebraram peças dos mecanismos do engenho ou 
queimaram as lavouras podendo garantir algum tempo de descanso. Ou isso ou continuar 
trabalhando dezesseis horas por dia cortando cana-de-açúcar. Alguns, em total desespero, 
ou tiravam as vidas de seus senhores ou até mesmo tiravam suas próprias vidas, pois para 
estes, a morte era a única saída de tal situação. E ainda tiveram aqueles que braviamente 
fugiram das fazendas e construíram vilas chamadas de concentrações quilombolas.
Aprendemos que o africano no Brasil tem sua própria história e que essa história 
é a história do próprio Brasil. Ela nos construiu e continua nos construindo, sendo assim, 
não podemos deixar que ela seja esquecida, não apenas porque a escravidão é um crime 
contra a humanidade, mas porque a cultura africana está presente no nosso dia-a-dia e 
muitas vezes nem percebemos.
33UNIDADE I História e Cultura Africana
LEITURA COMPLEMENTAR
LARA, Silvia Hunold. Biografia de Mahommah Gardo Baquaqua. Revista História 
Brasileira, São Paulo, v. 8, n. 16, p. 269-284, 1988.
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: O Trato dos Viventes: Formação do Brasil 
no Atlântico	Sul	–	Séculos	XVI	e	XVII.
Autor(a): Luiz Felipe de Alencastro.
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: O padre Antônio Vieira escrevia: “Angola... de cujo triste 
sangue, negras e infelizes almas se nutrem, anima, sustenta, ser-
ve e conserva o Brasil”. Em O trato dos viventes, o historiador Luiz 
Felipe de Alencastro mostra que a colonização portuguesa, ba-
seada no escravismo, deu lugar a um espaço econômico e social 
bipolar, englobando uma zona de produção escravista situada no 
litoral da América do Sul e uma zona de reprodução de escravos 
centrada em Angola.
FILME/VÍDEO
Título: Amistad
Diretor: Steven Spielberg
Ano: 1997
 Sinopse: Costa de Cuba, 1839. Dezenas de escravos negros se 
libertam das correntes e assumem o comando do navio negreiro La 
Amistad. Eles sonham retornar para a África, mas desconhecem 
navegação	e	se	veem	obrigados	a	confiar	em	dois	tripulantes	so-
breviventes, que os enganam e fazem com que, após dois meses, 
sejam capturados por um navio americano, quando desordenada-
mente navegavam até a costa de Connecticut. Os africanos são 
inicialmente julgados pelo assassinato da tripulação, mas o caso 
toma vulto e o presidente americano Martin Van Buren (Nigel Haw-
thorn), que sonha ser reeleito, tenta a condenação dos escravos, 
pois agradaria aos estados do Sul e também fortaleceria os laços 
com a Espanha, pois a jovem Rainha Isabella II (Anna Paquin) 
alega que tanto os escravos quanto o navio são seus e devem ser 
devolvidos. Mas os abolicionistas vencem, e, no entanto, o governo 
apela e a causa chega a Suprema Corte Americana. Este quadro 
faz o ex-presidente John Quincy Adams (Anthony Hopkins), um 
abolicionista não assumido, sair da sua aposentadoria voluntária, 
para defender os africanos.
34UNIDADE I História e Cultura Africana
WEB 
Apresentação	 do	 link:	Canal	Revisão.	Tráfico	Negreiro.	Apresentação	 de	Pirula.	
Tópicos abordados: Os africanos na formação do Brasil, para além da escravidão; História 
do	tráfico	de	pessoas	escravizadas	na	África,	e	da	África	para	a	América;	O	predomínio	
português e brasileiro no mercado atlântico de escravos; O processo de escravização da 
perspectiva de um africano (Mahommah Gardo Baquaqua); As experiências e as estraté-
gias para a conquista da liberdade.
Link do site: https://www.youtube.com/watch?v=TjcQTVLQDF0
Apresentação do link: Canal Nerdologia. A Origem da Escravidão no Brasil. Apre-
sentação e Roteiro de Felipe Figueiredo. Tópicos abordados: A origem da escravidão nas 
sociedades agricultoras; As primeiras sociedades escravagistas na antiguidade; A escravi-
dão como prática durante a Idade Média; A escravidão árabe e europeia; A escravidão no 
continente africano; A escravidão moderna no Oceano Atlântico e seu caráter econômico e 
racial; A escravidão do Atlântico como fenômeno novo e incomparável aos demais tipos de 
escravidão.
Link do site: https://www.youtube.com/watch?v=qXBmkswwRfw
https://www.youtube.com/watch?v=TjcQTVLQDF0
https://www.youtube.com/watch?v=qXBmkswwRfw
35
Plano de Estudo:
●	 Os agentes da abolição da escravidão no Brasil
●	 O maior legado da escravidão: o racismo
Objetivos da Aprendizagem:
●	 Compreender o processo de abolição no Brasil e evidenciar o movimento 
abolicionista para destacar que foram os negros que lideraram esse processo e não uma 
princesa branca ou grupos brancos como se está no imaginário popular.
●	 Contextualizar o racismo no Brasil como um fenômeno que surge com a escravidão 
e	não	acaba	com	o	fim	da	mesma,	pois	vários	mecanismos	de	desprezo	a	população	
negra	no	Brasil	ocorrem	durante	a	nossa	história	pós	fim	da	escravatura.
●	 Compreender os dois tipos de preconceitos categorizados por Oracy Nogueira, o de 
marca e o de origem para que o aluno possa compreender que o racismo se apresenta de 
diversas formas em diversos locais do mundo.
●	 Estabelecer a importância de entendermos que o Brasil é um país racista e que esse 
racismo	é	camuflado,	escondidoe	que	se	torna	evidente	
em	momentos	de	conflito	de	forma	cruel.
UNIDADE II
O Negro no Brasil: 
Abolição e seu Legado
Professor Especialista Cleber Henrique Sanita Kojo
Professor Especialista Paulino Augusto Peres
36UNIDADE II O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
INTRODUÇÃO
Olá, caros alunos. Tudo bem? Vamos dar continuação a nossa viagem histórica. 
Preparado? Vale ressaltar que no módulo anterior iniciamos nossa viagem ao passado para 
compreendermos como foi a escravidão e a forma de resistência em nosso país. A partir de 
agora damos prosseguimento a nossa viagem, partindo do suspiro de liberdade que nasce 
da abolição da escravatura no nosso país.
Em uma de nossas paradas nessa viagem, perceberemos que a abolição da escra-
vidão no Brasil não teve grande participação de movimentos brancos. Então entenderemos 
que abolicionismo em si foi liderado por negros. Perceberemos ainda que a princesa Isabel, 
abolicionista, era apenas uma personagem na abolição e os principais protagonistas foram 
os negros em si.
Daremos prosseguimento a nossa jornada através de uma comparação realizada 
pelo sociólogo Oracy Nogueira sobre o preconceito nos Estados Unidos e Brasil. Sendo 
assim, conheceremos a diferença entre preconceito de origem e no Brasil e preconceito de 
marca.
Espero que você compreenda o racismo como legado da escravidão negra no 
Brasil durante mais de 300 anos.
Espero que esteja entusiasmado com e apreensivo com nossa viagem. Entusias-
mado para que se encante nesse processo de ensino-aprendizagem e apreensivo para 
compreender a origem do racismo em nosso país.
Vamos lá? 
37UNIDADE II O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
1. OS AGENTES DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL
Em 2018 tivemos o aniversário de 130 anos da assinatura da lei áurea que encer-
rou escravidão de pessoas negras no Brasil. Costumamos ver essa lei nas escolas como 
se	tivesse	acontecido	de	repente	com	uma	assinatura	e	fim.	A	Lei	Imperial	nº	3.353,	nome	
oficial	da	Lei	Áurea,	foi	apresentada	à	Câmara	Geral,	atual	Câmara	dos	Deputados,	pelo	
então ministro da agricultura no dia 8 de maio de 1888. Foi aprovada e levada ao Senado 
que também a aprovou no dia 13 de maio e após foi assinada pela princesa Isabel como 
regente do Brasil.
A luta pela abolição, entretanto, tinha começado bem antes. Os primeiros movimen-
tos abolicionistas no Brasil foram sociedades religiosas como os jesuítas que protestavam 
contra	a	escravidão	de	indígenas	ainda	no	século	XVII.	O	modelo	de	escravidão	indígena	já	
estava em declínio, substituído pela escravidão negra africana, mais lucrativa e geralmente 
aceita.
Oficialmente	a	escravidão	indígena	foi	proibida	em	1757	por	meio	de	um	decreto	
do Marquês de Pombal, então Secretário de Estado do Reino de Portugal. Alguns anos 
depois	em	1761	o	mesmo	Marquês	de	Pombal	decretou	o	fim	da	escravidão	negra,	porém,	
isso foi implementado apenas na metrópole europeia, territórios na Índia e depois à ilha de 
madeira.
Para a Coroa abolir a escravidão negra na América seria um grande impacto eco-
nômico	tanto	na	queda	de	produção	nos	territórios	quanto	no	fim	do	tráfico	de	pessoas.
38UNIDADE II O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
Em 1822 o Brasil quase foi fundado como um país sem escravidão e teria sido o 
primeiro país da América do Sul, mas foi a do Chile que aboliu toda forma de escravidão 
em 1823 logo após a sua independência. Nessa época o abolicionismo já era discutido 
mundialmente por movimentos abolicionistas ingleses e estados que já haviam abolido a 
escravidão nos Estados Unidos.
Uma	das	principais	figuras	da	independência	e	da	institucionalização	do	Brasil	foi	
José	Bonifácio	que	classificava	a	escravidão	como	um	câncer	que	destruiu	as	bases	de	uma	
sociedade. Seu desejo, entretanto, não se tornou realidade com as oligarquias defendendo 
seus	interesses	de	manutenção	do	regime	escravista.	No	fim	das	contas	o	Brasil	foi	o	último	
país de todo o continente americano a abolir a escravidão.
No	período	regencial	o	Brasil	sofreu	pressões	do	Reino	Unido	para	abolir	o	tráfico	
de pessoas. Nesse período surge a expressão “para inglês ver” quando algo é prometido 
sem intenção de ser cumprido, no caso, “para inglês ver” foram as primeiras leis brasileiras 
contra o comércio de africanos, como as leis do Sexagenário e Ventre-livre. Na verdade, 
o efeito foi contrário, os fazendeiros brasileiros passaram a investir cada vez mais nesse 
comércio	e	ocorreu	um	aumento	de	preços	pois	 temiam	que	o	 tráfico	poderia	acabar	a	
qualquer momento.
O comércio atlântico de pessoas negras é progressivamente combatido com forte 
pressão	britânica,	incluindo	o	uso	da	força	contra	navios	e	chega	ao	fim	em	1856.	Ele	foi	
substituído, porém, pelo comércio interno entre diferentes regiões do Brasil que transforma 
o comércio de pessoas em um fenômeno nacional. A isso soma-se a Guerra do Paraguai, 
quando milhares de soldados negros retornaram vitoriosos corriam o risco de voltar à condi-
ção de escravidão. O movimento abolicionista brasileiro vai ter grande impulso com a soma 
desses dois contextos.
Alonso	(2015)	afirma	que	o	movimento	abolicionista	foi	essencial	para	exercer	pres-
são	para	exigir	pressão	e	exigir	o	fim	da	escravidão	no	Brasil.	A	coroa	não	podia	se	indispor	
com as principais oligarquias promovendo a escravidão. Essas, por sua vez, tinham inte-
resse na manutenção do escravismo e dominavam políticos marcada pelo voto censitário. 
Já a revolta contra a escravidão levava repressão com o uso da força, com pouca simpatia 
popular. Desta forma, o movimento abolicionista, sabendo da falta de popularidade das 
repressões, aumentava sua pressão ao Governo.
Algumas	figuras	abolicionistas	são	bem	conhecidas,	como	o	poeta	Castro	Alves,	a	
maestrina Chiquinha Gonzaga e o diplomata Joaquim Nabuco, dentre outros. De grande 
39UNIDADE II O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
importância para a época foram os abolicionistas negros, que eram usados de exemplo na 
prática	de	como	as	políticas	do	país	não	os	beneficiavam.
Um	abolicionista	negro	famoso	foi	Luiz	Gama,	filho	de	uma	negra	livre	e	pai	branco.	
Mesmo tendo nascido livre foi escravizado aos 10 anos de idade, situação que durou até 
os seus 17 anos. Após ter passado pela escravidão, Luiz Gama conseguiu se alfabetizar e 
se tornou advogado, defendendo outros negros gratuitamente. Outro exemplo foi José do 
Patrocínio,	filho	de	um	clérigo	branco	com	uma	negra	escravizada.	Patrocínio	cresceu	como	
liberto, protegido pelo pai e formou-se em farmácia. Outro abolicionista negro foi André Re-
bouças, engenheiro que hoje é homenageado com o nome de locais em diversas cidades 
brasileiras.	Em	comum	os	três	atuaram	como	jornalistas,	escrevendo	panfletos	e	sátiras	e	
criando jornais abolicionistas para colocar a sociedade brasileira contra a escravidão.
O	fim	da	escravidão	no	Brasil	foi	um	processo	demorado	que	sofreu	resistência	e	foi	
consequência de pressão popular com diversos movimentos organizados e manifestações 
culturais e sociais contra o escravismo.
Os Estados Unidos têm uma história particular em que a escravidão era legalizada 
no sul do país e ao norte fora abolida logo após a independência ou era pouco presente e 
abolida	na	primeira	metade	do	século	XIX.	Isso	permite	compararmos	hoje,	mais	de	150	
anos	depois	do	fim	da	escravidão	nos	Estados	Unidos	os	contrastes	entre	as	regiões	livres	
e as com escravidão. O IDH (índice de desenvolvimento humano) é uma medida compara-
tiva	para	classificar	diferentes	regiões	pelos	critérios	de	expectativa	de	vida,	escolaridade	e	
renda por pessoa. O IDH fornece um parâmetro objetivo sobre o desenvolvimento de cada 
sociedade.
Figura 1: USA - Escravidão e Desenvolvimento humano
 
 
Fonte:	PERES,	Paulino	.(2018).	A	Escravidão	e	os	reflexos	do	desenvolvimento	humano	nos	Estados	Unidos.	
40UNIDADE II O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
No primeiro mapa dos Estados Unidos, quanto mais claraa cor do mapa menor o 
IDH. No segundo mapa vemos onde era e não era legal a escravidão nos Estados Unidos 
em 1861. Perceba que os antigos estados escravistas são hoje os estados com menor IDH. 
Também esses estados são os que possuem o menor índice de mobilidade social, onde 
a chance de alguém melhorar sua condição de vida por seus próprios esforços é menor. 
Estes estados também estão entre os com maior índice de pobreza nos Estados Unidos.
Esse exemplo americano é para percebermos que a escravidão gerou o seu legado 
na sociedade contemporânea, não só nos EUA, mas também em todos os países que 
tiveram a escravidão como instrumento de mão-de-obra em seu território, entre ele o Brasil. 
Esse legado da escravidão e seus modelos de sociedade autoritária e de economia pouco 
liberal dura até hoje, inclusive no Brasil.
41UNIDADE II O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
2. O MAIOR LEGADO DA ESCRAVIDÃO: O RACISMO
“Não é de bom tom puxar o assunto da cor”, pois, afinal de contas, “em casa de 
enforcado não se fala em corda”. Oracy Nogueira.
 
A desigualdade social é um fenômeno mundial na sociedade contemporânea e é 
reflexo	da	má	distribuição	de	renda.	Não	é	novidade	para	ninguém	que	o	Brasil	é	um	país	
onde muitos têm muito pouco e poucos têm muito. Hoje estamos entre os dez países entre 
os mais desiguais do mundo. Metade da população é negra, mas mesmo assim, o negro 
tem cinco vezes mais chances de ser analfabeto que um branco.
Oracy Nogueira (1998), em sua obra “Preconceito racial de marca e preconceito 
racial de origem” analisa o racismo através de um olhar sociológico e se orienta no sentido 
de desvendar o estado das relações entre os componentes brancos e negros da população 
brasileira.
O autor faz uma análise sobre o racismo no Brasil e nos Estados Unidos da América 
a partir de análises sociológicas e antropológicas e utiliza como método os tipos ideias de 
Weber.	Ele	apresenta	em	seus	estudos	que	Estados	Unidos	e	Brasil	representam	dois	tipos	
de situações raciais, o de origem e o de marca.
Analisando as obras brasileiras sobre o assunto, percebe-se que muitos ten-
taram negar ou subestimar o preconceito racial existente no nosso país. Até mesmo 
hoje em dia é possível ver essa ideia. Nas redes sociais existe uma enxurrada de ar-
42UNIDADE II O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
gumentos racistas, mas, também é possível ver a negação do racismo em livros como 
é o caso do livro “Não somos racistas” de Ali Kamel, atual diretor geral de jornalismo 
da Rede Globo. Essa ideia de Kamel não é novidade na intelectualidade brasileira. 
 Voltando a Nogueira, sua obra aponta também para a intensidade do racismo, onde 
nos Estados Unidos o racismo era explícito havendo, inclusive, diversas leis que separa-
vam brancos e negros na sociedade, já no Brasil, leis racistas também existiram, em menor 
quantidade e o racismo se apresentou de forma implícita. Desta forma, Nogueira (1998) 
chamou o racismo explícito norte-americano de racismo de origem, e sua versão brasileira, 
mais implícita de racismo de marca.
Entende-se racismo de marca como preconceito de cor, uma vez que está asso-
ciado ao fenótipo do indivíduo, já o de origem está relacionado a um preconceito ligado à 
genealogia do indivíduo.
Primeiro é necessário compreender o preconceito racial como uma disposi-
ção (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos 
membros de uma população, aos quais se têm como estigmatizados, seja 
devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que 
se lhes atribui ou reconhece. (NOGUEIRA, 1998, p. 38).
Sendo o racismo uma disposição desfavorável a alguém ou pela aparência ou pela 
etnia, ou pela cultura, explicaremos esse racismo de duas formas, já anunciadas aqui: 
1. quando o preconceito de raça se apresenta em relação à aparência da 
pessoa,	quando	toma	os	traços	físicos	do	indivíduo,	a	fisionomia,	os	ges-
tos, o sotaque, é nomeado como racismo de marca, mas; 
2. quando apenas a suposição de que este indivíduo descende de certo 
grupo étnico para que sofra as consequências do preconceito, denomi-
na-se, racismo de origem.
A atuação entre essas duas formas de racismo é diferente. O preconceito de marca 
se apresenta com o desprezo direcionado àquele que sofre o preconceito, enquanto que 
o de origem é marcado pela exclusão total dos membros do grupo atingido, no caso aqui 
especificado,	dos	negros.	Isto	é,	no	Brasil,	cujo	preconceito	é	o	de	marca,	conforme	Oracy	
Nogueira,	 um	negro	 teria	 dificuldades	em	participar	 de	 certo	 grupo,	 como	por	 exemplo,	
um clube recreativo. Os representantes do clube, normalmente de classe média, brancos 
se manifestam contrários à sua admissão, entretanto, se esse indivíduo de pele negra 
contrabalançar a suposta desvantagem da cor da pele apresentando vantagens inegáveis 
como	superioridade	intelectual,	diploma	de	curso	superior,	boa	profissão	e	boa	condição	
econômica, além de outras qualidades, pode ser aceito mais facilmente, abrindo-lhe uma 
exceção.
43UNIDADE II O Negro no Brasil: Abolição e seu Legado
Já nos Estados Unidos, ocorre o oposto, as restrições que são impostas aos negros 
são mais amplas e aceitas, independentemente das condições pessoais como nível esco-
lar, econômico e cultural. O preconceito racial nos Estados Unidos se apresenta da mesma 
forma a um operário e a um doutor. O negro naquele país será escanteado para bairros 
exclusivos para negros, mesmo que hoje não haja uma lei que determine isso, é cultural 
aceitar que a população negra não deva morar no bairro de brancos. Até há algumas déca-
das os negros não poderiam frequentar as mesmas escolas, faculdades, hospitais, ônibus, 
que os brancos. Também não poderiam aguardar na mesma sala de espera que os brancos 
e aeroportos, não poderiam beber no mesmo bebedouro ou utilizar o mesmo banheiro. Até 
mesmo igrejas que não aceitavam negros era comum por lá.
O preconceito de marca varia subjetivamente, a relação entre quem pratica e sofre 
preconceito é sempre subjetiva. O brasileiro olha o indivíduo negro e através da tonalidade 
de sua pele exerce seu preconceito. Pessoas de pele mais escura sofre mais preconceito 
que as pessoas de pele menos escura, desta forma, frases como “você não é negro, mas 
sim moreno” são comuns, pois, tenta-se clarear a pessoa, como se ser negro com uma pele 
mais escura não fosse bom. É bom lembrarmos que isso acontece largamente no Brasil de 
forma inconsciente, pois as pessoas que dizem tais frases não se percebem como racistas, 
e, portanto, não percebem que tal frase apresenta a tonalidade da pele do negro como algo 
que prioriza tons de pele mais claros.
Quando o preconceito é de marca podemos perceber que quando alguém que se 
gosta é negro (amigo ou familiar) o julgamento sobre essa pessoa sofre variação e frases 
como “ele é negro, mas é um cara legal”, “é negro, mas é inteligente” ou ainda “é negro de 
alma branca” mostram subjetividade do julgamento. Talvez a frase mais emblemática seja 
“negro de alma branca”, pois a palavra “negro” foi há muito utilizada como sinônimo para 
algo ruim: “peste negra”, “alma negra”, “livro negro”, etc., logo, o negro que se tem afeição 
teria “alma branca”, pois a cor branca é associada a coisas boas, mas, negro não.
Com o racismo de origem isso não ocorre, pois, não importa ao preconceituoso 
a tonalidade da pele do mesmo, frases como “ele não é negro, ele é moreno” não fazem 
sentido, pois o que importa é a ascendência do indivíduo. Nos Estados Unidos o grupo 
sofre preconceito por questões hereditárias.
Nos Estados Unidos [...] o branqueamento, pela miscigenação, por mais com-
pleto que seja, não implica incorporação do mestiço ao grupo branco. Mesmo 
de	cabelos	sedosos	e	loiros,	pele	[branca],	nariz	afilado,	lábios	finos,	olhos	
verdes, sem nenhum [traço] característico que se possa considerar como ne-
groide e, mesmo, lhe sendo impossível, biologicamente, produzir

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