Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REFERÊNCIA NA ARTE IMPRESSIONISTA BRASILEIRA: A LUMINOSIDADE DE GEORGINA DE ALBUQUERQUE Amanda Gabriela de Oliveira UNESP – Instituto de Artes, 2020 A fotografia sempre esteve ligada à pintura impressionista, ajudou a nutrir uma nova forma de criar e compor nas telas. A luz, os ângulos, as cores e outros aspectos do movimento foram diretamente influenciados pela introdução da técnica fotográfica, mas através dessa influência o impressionismo manejou se tornar uma nova visão para se ver o mundo, e representa-lo. A imagem fotográfica contribuiria para o nascimento de uma nova estrutura visual e, simultaneamente, também seria influenciada por ela. Uma outra ordem imaginária, até então inédita, seria doravante utilizável como verdadeiro modelo para conhecimento e interpretação do mundo sensível. (DE PAULA, 1999, p. 70). Eugène Boudin se referiu ao impressionismo como “um movimento que leva a pintura ao estudo da luz plena, do ar livre e da sinceridade na reprodução dos efeitos de céu”1, e de fato o que me leva a admirar obras impressionistas são a exploração do físico e sensível através do trabalho com luz. Cenas do cotidiano, as cores, a leveza e as transparências luminosas são alguns traços característicos do Impressionismo [...] os artistas agora buscavam o registro do momento, da luz, do aspecto do dia, o que proporcionava ao fruidor uma sensação de leveza e fluidez, mas também uma acentuação da noção da passagem do tempo, das transformações decorrentes a duração e do contato com a vida e as cambiantes percepções cotidianas. (ANDRADE, 2003, p. 295). E dentre grandes artistas seguidores do movimento, para mim, Georgina de Albuquerque se destaca, por sua singularidade artística, mas principalmente por ser quem era. Meu estudo e pesquisa pessoais tem um grande foco nas 1 LEITE, 1961. mulheres por trás da Arte, e no cenário brasileiro Georgina é uma grande figura e está entre as mulheres que conseguiram se firmar como artista no início do século XX, uma época, como ela mesma disse, “em que a mulher não tinha os mesmos direitos do homem”2. A artista criou trabalhos únicos no Brasil, onde muito ainda se prevalecia o acadêmico, contagiada pelas tendências europeias ela se entregou à visualidade impressionista, e mesmo quando o impressionismo passou a ser apropriado pelos artistas brasileiros, as obras de Georgina continuaram singulares, principalmente quanto seu conteúdo, como a mesma explicava “O impressionismo, como eu o pinto, é novo aqui e não deixou de encontrar resistências, logo que comecei a fazê-lo”3. teria, no seu trabalho, uma quantidade de temas que não se restringiam ao que era usual. E combinavam mobilidade, vibração luminosa, com uma visão particular do cotidiano, da mulher e da paisagem. (ANDRADE, 2003, p. 298). A obra “Dia de Verão” (1926), presente no Museu de Belas-Artes, no Rio de Janeiro, é uma de suas obras mais conhecidas e está entre seus melhores trabalhos, é uma cena do cotidiano de uma jovem afastando a cortina de uma varanda ensolarada e observando o exterior, o destaque, no entanto está na grande luminosidade da cena, é através do jogo de luz que Georgina de Albuquerque consegue a percepção de um dia de verão. Ademais, suas pinceladas rápidas, a transparência trabalhada com excelência, colocam na pintura uma atmosfera leve, a descontração da cena juntamente como a paisagem tratada com cores e contraste harmoniosos refletem a intenção da artista de criar a sensação de uma pausa no cotidiano a sentir e admirar, respectivamente a luz e vista do que seria a perfeita representação de um dia de verão. A referência a esse estilo de criar está presente em muitas escolhas artísticas feitas por mim, a obra “Dia de Verão com Marina” (2020) é uma referência direta a obra mencionada. A escolha foi de através de uma técnica 2 ANDRADE, 2003, p. 293. 3 ANDRADE, 2003, p. 298. fotográfica, a Cianotipia4, criar uma cena similar à de “Dia de Verão”, usando alta luminosidade e o cotidiano, mantendo o charme da fotografia experimental. Georgina de Albuquerque - “Dia de Verão” (1926) Óleo sobre tela, 130 x 89 cm Fonte: Museu Nacional de Belas Artes A.G. Oliveira - “Dia de Verão com Marina” (2020) Cianotipia em papel, Canson A4 200g/m² 4 Cianotipia é um processo de impressão fotográfica, que produz uma imagem em ciano, descoberto em 1842 pela botânica e fotógrafa inglesa Anna Atkins e pelo cientista e astrônomo inglês Sir John Herschel. (Wikipédia) REFERÊNCIAS ANDRADE, Adelaide de Souza. Croquis e intensificações da luz: A linguagem pictórica de Georgina de Albuquerque e as possibilidades expressivas de seu tempo. In: SÜSSEKIND, Flora. Vozes femininas: gêneros, mediações e práticas de escrita. Rio de Janeiro: 7letras, 2003. p. 293-300. DE PAULA, Jeziel. Imagem & Magia: fotografia e Impressionismo – um diálogo imagético. impulso nº24, abril 1999, pp. 53-72. LEITE, José Roberto Teixeira. Boudin no Brasil. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas-Artes, 1961. Referências
Compartilhar