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1 - Clínica Médica (neurologia) Aula de meningites e meningoencefalites INTRODUÇÃO • O que mais limita a gente para evitar a morbimortalidade é o diagnóstico clínico. o A disponibilidade do tratamento é muito ampla • A única técnica essencial para o correto diagnóstico seria a punção lombar, porém não é obstáculo para o tratamento seguro do paciente MENINGITE X MENIGOENCEFALITE • Meningite é a inflamação da meninge e a meningoencefalite é a infecção do encéfalo. • Diferença clínica – se eu tenho acometimento encefálico eu tenho alteração do nível (estado de alerta) ou estado (qualidade da consciência – paciente está orientado ou confuso) de consciência, vou ter algo compatível com o delirum, o que não acontece na meningite. ETIOLOGIA • Existem inúmeras etiologias, uma vez que meningite significa simplesmente inflamação das meninges. • Exemplos: quadros autoimunes, imunomediados, neoplásicos, para- neoplásicos, químicos (exposição a vários tipos de substâncias inclusive medicamentos), bacterianas, virais, fungo (paciente imunossuprimido), tuberculose (TBC – desafio diagnóstico, com quadro mais insidioso), agentes infecciosos atípicos (espiroquetas, lime, parasitas, como esquistossomose, neurocisticercose, sífilis) AGUDO X CRÔNICO • Existem uma série de contextos que podem levar a cronificação da inflamação • O agente infecioso mais comum de meningite crônica seria a tuberculose, porém temos outras causas como neoplásicas por carcinomatose meníngea e idiopáticos (sem definição de agente etiológico), normalmente relacionados a doenças autoimunes sem diagnóstico INCIDÊNCIA DE MENINGITE ------------------ 1,2 milhão/ano --------------- DIAGNÓSTICO Quando que suspeitamos de meningite? • Principal sintoma = cefaleia • Dentro do cenário de cefaléia aguda temos o SNOOP (rigidez de nuca e alteração do Glasgow – nos obrigam a pensar em meningite) CEFALEIA COM FEBRE NÃO É SINÔNIMO DE SINUSITE!!! • Cuidado com Rx de seios da face – exame muito limitado, sendo que diagnóstico de sinusite é clínico • Toda meningite bacteriana IRÁ virar uma meningoencefalite, é somente uma questão de tempo • Tríade clássica: o Os três sintomas juntos só estão presentes em 46% dos casos – menos da metade dos pacientes apresentaram um quadro tão típico o Se NENHUM dos sintomas estiver presente, NÃO é meningite bacteriana Rigidez de nuca Febre Alteração do sensório 2 Diagnóstico - Clínica Médica (neurologia) • Sinal de Kerning e Brudzinski são testes extremamente específico, porém pouco sensível. o Não servem para fazer diagnóstico, porém se presentes na técnica de rigidez de nuca corrobora com o diagnóstico de meningite AVALIAR RIGIDEZ DE NUCA EM TODAS AS CEFALEIAS AGUDAS!!! SINAL DE BRUDZINSKI Ao realizar o sinal da rigidez de nuca o paciente flexiona os quadris e joelhos. SINAL DE KERNING Passos: 1. Paciente em decúbito dorsal 2. Profissional realiza a flexão do quadril e joelho do paciente 3. Profissional realiza a extensão do quadril e joelho O sinal de Kerning é positivo quando ao estender o membro inferior do paciente ele refere uma dor em choque acometendo todo o território da coluna fazendo uma tendência de arco das costas. O QUE SE DEVE FAZER EM CASO SUSPEITO DE MENINGITE? • Tenho que o mais rápido possível colher os dados que eu preciso sem retardar o início da conduta. BASICAMENTE: • Revisão laboratorial o Hemograma investigando leucopenia – sugestão de infecção viral – ou leucocitose – sugestão de infecção bacteriana; linfopenia, desvio a esquerda; o PCR – ↑↑ indicador sugestivo de meningite bacteriana o Função renal, hepática – verificar metabolismo do paciente o Sódio, potássio, cálcio e magnésio – conhecimento metabólico do paciente o Pacientes com sinais clínicos mais exacerbados (sinais de toxemia pode ser necessário gasometria arterial, lactato...) - individualizar o Hemocultura - alta especificidade (colher 3 amostras em sítios diferentes, preferencialmente no momento de febre) • TC de crânio sem contraste – imediatamente, dá mais segurança para fazer punção lombar (sem HIC), nos ajuda em DD o E se não tenho TC? Fazendo o fundo de olho + paciente sem déficit focal está autorizado a fazer punção lombar com segurança • Punção lombar O QUE NOS AUXILIA NA SUSPEITA ETIOLÓGICA: • Petéquias: Meningococemia – a meningite meningocócica tem uma alta agressividade, porém responde bem ao tratamento com antibióticos, só que temos que realizar o tratamento rápido devido a agressividade. o Obs.: Se a criança tiver petéquias exclusivamente no rosto ou no pescoço depois de ter vomitado muito 3 Meningite bacteriana - Clínica Médica (neurologia) não é sinal de meningococemia é devido ao vômito • Hemograma: leucocitose X leucopenia • Hemocultura: Positiva em 50-90% dos adultos • TC: abcesso associado? Sinusite associada? Hemorragia subaracnóidea? • Líquor (“hemograma do neurologista”): o Buscar → Aumento de células. Normal = até 5 por campo ou mm³ (polimorfo ou linfomono?) o Buscar → Consumo de glicose? (A glicose do líquor é normal quando é 2/3 da glicemia) o Valor de proteína (normal = até 45 por campo ou mm³) o Gram e cultura – obs.: se tiver colhido depois do início de antibiótico terapia o gram ainda pode corar, porém a cultura já se torna comprometida o Látex – teste rápido que procura antígenos bacterianos específicos, tenta direcionar rapidamente para uma etiologia bacteriana específica, porém alta frequência de falso positivo INTERPRETAÇÃO DO LÍQUOR Células Glicose Proteína Aspecto Bacteriana ↑ polimorfo ↓ ↑ Turvo Viral ↑ linfomono - ↑ Transparente Tuberculose ou carcinomatose meníngea ↑ linfomono ↓↓ ↑ Límpido ou xantocrômico e hipertenso Fungo Muito heterógeno, normalmente se pensa em paciente imunossuprimido. Teste nanquim em pacientes imunossuprimidos é rotina (pesquisa de Cryptococcus) MENINGITE BACTERIANA NUNCA ATRASR NO INÍCIO DO TRATAMENTO • O atraso de mais de 3 horas no diagnóstico e início de tratamento de uma meningite bacteriana é um fator de risco independente de mortalidade, sendo maior do que a infecção por um microrganismo resistente a penicilina • Iniciar ATB logo após a punção lombar e coleta de culturas. Se não houver como realizar a punção iniciar tratamento empírico CORTICOIDE • Muitas das vezes a agressão tecidual maior provêm da resposta inflamatório do corpo, e não do ataque do microrganismo • Sempre iniciar corticoide (a não ser se houver contraindicação) caso suspeita de meningite bacteriana, logo antes (15-20minutos) ou no máximo junto com o antibiótico (NUNCA DEPOIS – já que a maior resposta inflamatória advém do contato inicial com o antibiótico). • Contraindicação de uso de corticoide o Já tiver iniciado a antibioticoterapia o Em pacientes imunodeprimidos ou desnutridos (qualquer coisa que aumente o risco de queda da imunidade) • Sempre interromper o uso de corticoide se a infecção não for por pneumococo o O único benefício do corticoide é na infecção por pneumococo na redução da incidência de surdez – lesão de ouvido interno – não se sabe o porquê disso. • Obs: Ao se usar corticoide em pacientes usando vancomicina no esquema, associar rifampicina o O corticoide diminui a resposta inflamatória, fazendo com que a 4 - Clínica Médica (neurologia) entrada de vancomicina no SNC caia, dessa forma temos que associar a rifampicina para termos uma sinergia a nível central TRATAMENTO EMPÍRICO • Não existem estudos randomizados no adulto – é impossível esse tipo de delineamento devido a gravidade da doença, sua urgência e questões éticasdevido ao risco de morte. • As recomendações são baseadas em susceptibilidade in vitro, dados farmacodinâmicos, estudos randomizados em crianças e experiência clínica. DISTRIBUIÇÃO DOS AGENTES ETIOLÓGICOS Ref.: https://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/atm_racional/modulo3/meningite2.htm • A etiologia varia de acordo com o país, podendo variar até mesmo de hospital para hospital. • Nós temos apenas dois patógenos capazes de levar a transmissão aérea (necessidade de profilaxia de contatos): Hemophilus influenza e Neisseria meningitidis (patógenos mais relacionados a infância) MENINGITE ASSÉPTICA • Definição: Meningite com cultura negativa → liquor sem bactéria (liquor transparente) • Na maioria das vezes tem algum microrganismo = vírus • O agente viral mais comum é os enterovírus • Outras causas: Outros vírus (herpes), micobactéria, fungo, espiroqueta (tuberculose), autoimune, infecção para- meníngea, medicamentos, doença oncológica, AINE • Importância da anamnese: vida sexual (sem relação com orientação), se usa proteção ou não; viagens, exposição a medicamentos ou outras substâncias • Meningites virais – bom prognóstico o Os enterovírus praticamente não causam encefalite, não leva a alteração do estado de consciência • Meningite X meningoencefalite viral o Se houver alteração do nível ou estado de consciência nós temos que pensar no herpes, sendo muito grave e precisa de tratamento imediato 5 Meningoencefalite viral - Clínica Médica (neurologia) • Não há tratamento específico no caso de meningite viral isolada MENINGOENCEFALITE VIRAL • Agente mais comum: Herpes tipo 1 (HSV1) • Prognóstico ruim se atraso no tratamento • Responde muito bem ao aciclovir venoso 30mg/kg/dia ÷ 8/8h • PCR para herpes: altamente sensível e específico no diagnóstico de HSV1 • Tem alto tropismo pelo lobo temporal, podendo causar grande edema, como mostrado na RM abaixo PONTOS IMPORTANTES • Se você não pode colher liquor – não sei se é viral ou bacteriana, não tenho nenhum resultado que me ajude = corticoide, antibiótico e aciclovir e tentar colher o liquor o mais rápido possível • O tratamento adequado começa em um diagnóstico correto e rápido • Não comprometer o início do tratamento por nenhuma dificuldade técnica • Sempre que possível, ter um exame de imagem cerebral e líquor além do exame de sangue antes do início do tratamento • Avaliar sinais clínicos e laboratoriais que sugiram a etiologia da meningite ou meningoencefalite • Escolher o tratamento empírico de acordo com o contexto do paciente e epidemiologia local • Usar dexametasona na meningite bacteriana se o paciente não for imunodeprimido, mantendo se for pneumococo • Iniciar aciclovir imediatamente em paciente com clínica de meningoencefalite e com líquor transparente
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