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Primeiramente, é necessário compreender o conceito de clínica ampliada e a sua proposta. A clínica ampliada é uma das diretrizes propostas pela Política Nacional de Humanização (PNH), que busca humanizar e qualificar o fornecimento da saúde. Dessa forma, a clínica ampliada surge como contraponto do modelo convencional de atenção em saúde (que é baseado na centralidade da figura médica e focado no diagnóstico e remediação dos problemas), a fim de basear a saúde de forma integral – considerando aspectos biológicos, sociais, psicológicos, ambientais e políticos em um território - através da participação, singularidade e autonomia dos sujeitos no projeto terapêutico. Nesse sentido, para que o processo ocorra de forma integral, a clínica ampliada prevê o trabalho em equipes multiprofissionais, já que a interação entre os diferentes sujeitos que compõe a equipe também faz parte do processo de ampliação e de humanização, o que possibilita inúmeras formas de intervenção e de tratamentos muito mais eficazes com a participação das pessoas envolvidas. Nesse contexto, pode-se desenvolver e utilizar o projeto terapêutico singular (PTS), que compõe uma séria de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva da equipe interdisciplinar, com apoio matricial se necessário. Além desse aspecto, o conceito de clínica ampliada também abrange a intersetorialidade, já que a parceria e a ajuda mútua entre os diferentes setores permitem o enfrentamento mais articulado dos problemas de saúde. Ademais, a clínica ampliada visa reconhecer os limites dos conhecimentos dos profissionais da saúde e das tecnologias por eles usadas e buscar, quando necessário, outros conhecimentos em diferentes áreas, para que a história e a situação social dos usuários do sistema de saúde possam ser contempladas e, posteriormente, questões que as envolvam possam ser resolvidas devido à ação inicial da equipe de saúde. Na prática, a clínica ampliada se faz presente através de vários aspectos, como na escuta, momento em que o profissional da saúde, além de recolher possíveis dados diagnósticos, vai buscar, junto do usuário, os motivos pelos quais ele adoeceu e como ele se sente em relação aos sintomas, bem como compreender a doença e se responsabilizar pela promoção da saúde do paciente. Nessa relação, faz-se importante que o profissional esteja bem atento aos fluxos e intensidade de afetos, para melhor compreender-se e ao outro também, a fim de ajudar o doente com sua compreensão e autonomia a respeito da doença. Além desse aspecto, é importante que o profissional da saúde evite o uso de recomendações pastorais e culpabilizantes, já que tal abordagem dificulta o diálogo e uma proposta de tratamento aceita pelo paciente, uma vez que essas recomendações podem gerar resistência e sentimento de humilhação no indivíduo. Outrossim, também é fundamental que os profissionais da saúde da clínica ampliada estejam atentos a outros aspectos além dos supracitados, como trabalhar com ofertas e não apenas com restrições, especificar as ofertas para cada sujeito, evitar iniciar consultas questionando aferições e comportamentos, perguntar o que o usuário entendeu do que foi dito sobre sua doença e medicação, evitar assustar o usuário, equilibrar combate à doença com produção de vida, atuar nos eventos mórbidos com o máximo de apoio e o mínimo de medicação, respeitar o direito à diferença e contar com o apoio matricial, a fim de que o atendimento seja feito de modo a diminuir o máximo de problemas possíveis para cada pessoa. Portanto, a clínica ampliada propõe, então, que todos os profissionais da saúde desenvolvam a capacidade de ajudar os usuários de modo a, não só combater e curar as enfermidades, mas sim a transformar o papel de cada indivíduo acerca das doenças, considerando todas as circunstâncias que o cercam, de forma que, mesmo sendo um limite de natureza física ou psicológica, as moléstias não os impeçam de viver inúmeras coisas na vida. Ademais, conclui-se que a clínica ampliada é um modelo de atenção à saúde que articula todas as condições biopsicossociais (que compõem os determinantes sociais da saúde) com a qualidade de vida, propondo o diálogo entre os profissionais e entre a equipe multidisciplinar com todos os pacientes, o que permite a criação do olhar humanizado no atendimento, beneficiando os pacientes, os profissionais da saúde e o serviço de saúde como um todo. Assim, a clínica ampliada é uma das mais fundamentais diretrizes da PNH, pois consolida, na prática, a humanização prevista na política, incluindo todas as diferenças no processo de gestão e de cuidado e estimulando a produção de novos modos de cuidar e de novas formas de organizar o trabalho em saúde, o que torna todo os processos relacionados à saúde mais efetivos, integrais e participativos, já que os sujeitos passam a apresentar singularidade e autonomia no processo terapêutico.
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