Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RESUMO DE NEUROANATOMIA E NEUROFISIOLOGIA – Sistema Límbico MARIANA AFONSO COSTA REFERÊNCIAS: MACHADO, Ângelo B. M. Neuroanatomia funcional. 3 ed. São Paulo: Atheneu Editora, 2007; Netter, Frank H. Netter – Atlas de Anatomia Humana. 6ª edição. Editora Elsevier, 2015. MARIANA AFONSO COSTA – MEDICINA: 3º PERÍODO 1 CAPÍTULO 1 SISTEMA LÍMBICO 1.0 INTRODUÇÃO O sistema límbico é uma área terciária do córtex cerebral que integra diversas outras áreas para exercer funções complexas e abstratas. De modo geral, ele tem relação com as emoções – criação do comportamento emocional subjetivo – e memórias – consolidação das memórias de longo prazo. É um conjunto de estruturas corticais e subcorticais interligadas morfológica e funcionalmente, que não se localizam em uma região específica. 2.0 PRINCIPAIS ESTRUTURAS E CONEXÕES Componentes Corticais: ∙ Giro do Cíngulo; ∙ Giro Para-Hipocampal; ∙ Córtex Entorrinal; ∙ Hipocampo. Componentes Subcorticais: ∙ Amígdala; ∙ Área Septal; ∙ Núcleos Mamilares; ∙ Núcleos Anteriores do Tálamo; ∙ Núcleos Habenulares; ∙ Núcleo Accumbens. É importante entender, que o sistema límbico funciona como um todos, e não de maneira isolada. Desse modo, o sistema límbico possui conexões intrínsecas (entre suas próprias estruturas) e extrínsecas (ligação com outras estruturas que não fazem parte do sistema). A principal conexão intrínseca do sistema límbico é o Circuito de Papez: O circuito se inicia no hipocampo (telencéfalo), segue, pelo fórnix, para os corpos mamilares (hipocampo) e daí para os núcleos anteriores do tálamo, através do fascículo mamilo-talâmico; do tálamo, segue para o giro do cíngulo pela cápsula interna (formada, em partes, por fibras dos núcleos anteriores do tálamo), indo para o giro para- hipocampal, e por fim, para o hipocampo novamente. CIRCUITO DE PAPEZ hipocampo --> fórnix --> corpo mamilar --> fascículo mamilo-talâmico --> núcleos anteriores do tálamo --> cápsula interna --> giro do cíngulo --> giro para-hipocampal --> hipocampo. A amigdala e a área septal também se ligam ao circuito para interferir de diversas maneiras. E, em relação as conexões extrínsecas, além de receber informações sensoriais de toda as áreas secundárias de associação do córtex, o sistema límbico se conecta com o hipotálamo, tálamo, área pré-frontal e núcleos do tronco encefálico. 3.0 FUNÇÕES As principais funções exercidas pelo sistema límbico estão relacionadas a consolidação das memórias (capítulo 2) e à subjetividade das emoções (capítulo 3). Córtex Cingular Anterior Córtex Insular Anterior Córtex Pré-Frontal Orbitofrontal Hipotálamo Área Septal Núcleo Accubens Habênula Amigdala Hipocampo Giro Denteado Córtex Entorrinal Córtex Para-Hipocampal Córtex Cingular Posterior Fórnix Corpo Mamilar Trato Mamilotalâmico Núcleos Anteriores do Tálamo S IS T E M A L ÍM B IC O Áreas Corticais Áreas Subcorticais Áreas Corticais Áreas Subcorticais E m o çõ es M em ó ri a MARIANA AFONSO COSTA – MEDICINA: 3º PERÍODO 2 CAPÍTULO 2 CONSOLIDAÇÃO DAS MEMÓRIAS 1.0 TIPOS DE MEMÓRIA É importante entender que a função do sistema límbico é consolidar as memórias, e não as armazenar, o que é feito em diversas outras áreas do encéfalo. Inicialmente, existem três tipos de memória quando se fala em “tempo”: ∙ Memória Operacional/ de Trabalho: é o tipo de memória que permite que a informação seja retida durante tempo o suficiente para dar sequência a um raciocínio. Ex.: memorizar um número de telefone até discá-lo. ∙ Memória de Curta duração: permite que a informação seja retida por algumas horas (3 a 6 horas). Ex.: o que você comeu no café da manhã. ∙ Memória de Longa duração: permite que a informação seja retida por meses ou anos. Ex.: datas de aniversários, nomes, etc. A memória também pode ser classificada quanto a natureza das informações, sendo elas: ∙ Memória Declarativa: quando a informação memorizada é explicita, ou seja, pode ser descrita. Ex.: nomes, datas de nascimento, etc. ∙ Memória não-Declarativa: quando a informação memorizada é implícita, ou seja, não tem como descrevê- la. Ex.: som da voz de alguém, você se lembra, mas não tem como descrevê-la para os outros. 2.0 PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO A memória operacional, é organizada pela área pré-frontal (área de associação terciária) e não deixa arquivos. Essa região, determina qual conteúdo da memória operacional será selecionado para armazenamento, ou seja, se irá se tornar uma memória curta ou de longa duração. Essa decisão, é feita baseada nas conexões que a área pré-frontal tem, levando em conta alguns fatores, como: (1). Se a informação já está armazenada – a conexão dessa área com outras regiões que armazenam informações, permite identificar se aquela informação já existe. (2). Dados emocionais – as conexões dessa área com estruturas do sistema límbico relacionadas as emoções (amigdala e área septal), permite que estas influenciem na consolidação da memória, de modo geral, uma resposta emocional intensa é armazenada mais facilmente. (3). Dados racionais – fornecidos pela própria área pré-frontal baseados na importância daquilo para o indivíduo. Uma vez selecionada, se inicia o processo de decisão entre ser armazenada como de curta ou de longa duração. De certo modo, é como se as memórias selecionadas iniciassem como uma memória de curta duração, e, após um período, os mecanismos que a mantiveram assim (de 3 a 6 horas), cessassem, extinguindo-a, ou se tornassem mais complexos, gerando uma memória de longa duração, que será, de fato, armazenada. Depois de decidir como a informação será armazenada, o circuito de Papez vai transportá-la para sua região de armazenamento. Este circuito recebe as informações do córtex pré-frontal, que as armazenam sempre nas regiões corticais de associação correspondente a cada função dessa memória. Por exemplo, as memorias visuais ficam no lobo occipital, as motoras no cerebelo, as auditivas no giro temporal superior, etc. De todas as estruturas desse circuito, o hipocampo é a principal delas a realizar a consolidação das memórias. Através do fórnix, o hipocampo projeta-se aos compor mamilares do hipotálamo e recebe fibras de diversas estruturas para que o processo de consolidação seja regulado, sendo uma das principais a amigdala, que reforça a memória associada a situações emocionais. OBS.: Como as memórias são armazenadas na área cortical de associação correspondente, isto é, áreas secundárias, que tem relação com a interpretação, pode-se entender que, sendo também uma área de armazenamento de memórias, estas passam a influenciar na interpretação de estímulos. Por exemplo, ao assistir um filme repetido, essa memória está armazenada no mesmo local onde a informação está sendo interpretada, de modo que esta será feita levando em conta o fato de você já ter assistido aquela cena. OBS.: Como os mecanismo de formação das memórias são baseados em sinapses, entende-se que o funcionamento do circuito de Papez se dá pelo fenômeno de potencialização a longo prazo. Isso significa MARIANA AFONSO COSTA – MEDICINA: 3º PERÍODO 3 que, quanto mais uma sinapse ocorre, melhor ela é consolidada e torna cada vez mais responsiva. É por isso que movimentos repetidos muitas vezes se tornam cada vez mais automáticos. 2.0 CORRELAÇÕES ANATOMOCLÍNICAS 2.1 Lesão no Hipocampo Como o hipocampo é o principal responsável por consolidar as memórias, sua lesão provoca no individuo a incapacidade de consolidar novas memórias, ou seja, uma amnésia anterógrada. Entretanto, as memórias já consolidadas antes da lesão ainda existem, já que elas não são armazenadas no hipocampo. O paciente pode apresentar também uma amnésia retrógada, incapacidade de se lembrar de eventos ocorridos logo antes da lesão, já que as memórias de curta duração ainda estavam nas proximidades do hipocampoe não tinham sido consolidadas. É o que acontece com a personagem principal do filme “Como se fosse a primeira vez”. 2.2 Síndrome de Korsakoff É causada pela degeneração bilateral dos corpos mamilares, o que geralmente é resultado do alcoolismo crônico (álcool tem muita afinidade com essa estrutura, se associando cronicamente a ela e gerando sua degeneração ao longo do tempo). A principal manifestação é a amnésia anterógrada pelo acometimento de estruturas relacionadas à consolidação de novas memórias. Como o lobo temporal medial não é afetado, nada acontece com as memórias recentes que ainda não foram transformadas em engramas. Além da sintomatologia, a síndrome de Korsakoff pode ser diferenciada de uma lesão no hipocampo pela sua causa mais comum ser o alcoolismo, fazendo com que o quadro se instale gradualmente, enquanto que na lesão do hipocampo isso ocorre de forma aguda por se tratar de uma lesão do lobo temporal medial. Também pode ser resultado da privação de vitamina B, principalmente a tiamina (B1), que gera a desmielinização do corpo mamilar. 2.3 Doença de Alzheimer É uma doença causada por fatores genéticos e ambientais que é caracterizada, inicialmente, pela perda da memória operacional e de curta duração e, gradualmente, pode comprometer também as memórias de longa duração e, em casos mais extremos, atingir a amnésia total. A fisiopatologia consiste na degeneração progressiva de neurônios da área entorrinal, que constitui a porta de entrada das vias que se dirigem do córtex ao hipocampo, resultando no característico isolamento do hipocampo. Há também perda dos neurônios colinérgicos do núcleo basal de Meynert, o que leva à perda das projeções modulatórias colinérgicas de praticamente todo o córtex cerebral MARIANA AFONSO COSTA – MEDICINA: 3º PERÍODO 4 CAPÍTULO 3 SUBJETIVIDADE DAS EMOÇÕES 1.0 INTRODUÇÃO A função do sistema límbico de gerar interpretações subjetivas de casa situação é possível através da aferência que esse sistema recebe de todas as áreas sensitivas secundárias, que permite reunir e interpretar todas as informações que o meio aplica no corpo, além daquelas do próprio organismo. Além disso, como já visto, as emoções também interferem no processo de consolidação das memórias, realizado a partir das conexões das estruturas relacionadas as emoções com as do circuito de Papez. 2.0 PRINCIPAIS ESTRUTURAS Além de outras estruturas envolvidas com as emoções, as principais são: giro do cíngulo, corpo amigdaloide e área septal. 2.1 Giro do Cíngulo Sua região anterior, chamada córtex cingular anterior, é responsável pelo processamento das emoções, sendo considerado um dos protagonistas na interpretação subjetiva, já que sua lesão resulta no sentimento de indiferença. Além disso, sua porção anterior também regula as funções autonômicas, sendo uma região motora visceral. 2.2 Amígdala ou Corpo Amigdaloide Uma aglomeração de núcleos situadas no interior do lobo temporal, é considerada a estrutura mais importante de sistema límbico, já que recebe aferência de todas as áreas sensórias e envia importante eferências por duas vias principais: vias amigdalofugas dorsal e ventral. a) Via Amigdalofuga Dorsal: através da estria terminal, a amigdala se projeta para os núcleos septais, accumbens, hipotalâmicos e habenulares. b) Via Amigdalofuga Ventral: a amigdala se projeta para o córtex, tálamo, hipotálamo, núcleos septais, substância inominada (sistema olfatório) e grísea periaquidural (se comunica com s núcleos do tronco encefálico). Acredita-se que a principal função da amigdala seja regular os impulsos emocionaria, agindo de maneira inibitória para que haja um certo raciocínio antes de uma reação impulsiva, por exemplo. Além disso, sua estimulação causa reações de medo e fugo, se relacionando com o sistema nervoso autônomo. Em relação ao seu envolvimento com o medo, pode se compreender dessa maneira: imagine que você acaba de se deparar com uma cobra, a informação visual é levada ao tálamo (corpo geniculado lateral) e daí a áreas visuais primárias e secundárias. A partir deste ponto, a informação segue por uma via direta e outra indireta. Na via direta, a informação visual é levada e processada na amígdala, que dispara o alarme para o sistema simpático, permitindo uma reação de alarme imediata com manifestações autonômicas e comportamentais típicas. Na via indireta, a informação passa ao córtex pré-frontal e depois à amígdala, permitindo que essa região cortical analise as informações recebidas e o seu contexto, de modo que a via indireta é mais lenta. 2.3 Área Septal Compreende grupos de neurônios subcorticais, os núcleos septais, que se estendem até a base do septo pelúcido. A área septal estabelece várias conexões, destacando as com a amígdala e com o Circuito de Papez, através do feixe prosencefálico medial. Por este feixe a área septal também recebe fibras dopaminérgicas do sistema mesolímbico, o sistema gerador de prazer do cérebro. Assim, a área septal é o ponto de integração entre o sistema mesolímbico e o sistema límbico. MARIANA AFONSO COSTA – MEDICINA: 3º PERÍODO 5 3.0 CORRELAÇÕES ANATOMOCLÍNICAS 3.1 Lesão Amigdaloide ou Síndrome de Klüver-Bucy A lesão bilateral das amígdalas gera uma tríade de sintomas: embotamento emocional (o indivíduo se torna dócil, incapaz de se estressar), hiperfagia (desejo incontrolável de estar sempre se alimentando) e hipersexualidade (desejo incontrolável de estar sempre em um ato sexual). A fome e o desejo sexual são estados permanentes que estão em constantemente inibidos, por isso estão exacerbados em caso de lesão das amígdalas, já que estas fazem essa inibição. Já no caso do embotamento emocional, este não condiz com a função inibitória da amígdala, pois neste caso o indivíduo deveria ficar agressivo, mas isso não ocorre porque a agressividade é um impulso ativo gerado pela amígdala apenas quando necessário. A síndrome de Klüver-Bucy é comum em casos de síndrome de Alzheimer, doença de Parkinson e de Huntington.
Compartilhar