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Interdisciplinar Astronomia Auta Stella de Medeiros Germano Joel Câmara de Carvalho Filho Astronomia Natal – RN, 2012 Interdisciplinar Astronomia Auta Stella de Medeiros Germano Joel Câmara de Carvalho Filho 2ª Edição COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Marcos Aurélio Felipe GESTÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luciana Melo de Lacerda Rosilene Alves de Paiva PROJETO GRÁFICO Ivana Lima REVISÃO DE MATERIAIS Revisão de Estrutura e Linguagem Eugenio Tavares Borges Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Kaline Sampaio de Araújo Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Thalyta Mabel Nobre Barbosa Revisão de Língua Portuguesa Camila Maria Gomes Cristinara Ferreira dos Santos Emanuelle Pereira de Lima Diniz Janaina Tomaz Capistrano Priscila Xavier de Macedo Rhena Raize Peixoto de Lima Sandra Cristinne Xavier da Câmara Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva EDITORAÇÃO DE MATERIAIS Criação e edição de imagens Adauto Harley Anderson Gomes do Nascimento Carolina Costa de Oliveira Dickson de Oliveira Tavares Leonardo dos Santos Feitoza Roberto Luiz Batista de Lima Rommel Figueiredo Diagramação Ana Paula Resende Carolina Aires Mayer Davi Jose di Giacomo Koshiyama Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Rafael Marques Garcia Módulo matemático André Quintiliano Bezerra da Silva Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira Thaísa Maria Simplício Lemos IMAGENS UTILIZADAS Acervo da UFRN www.depositphotos.com www.morguefi le.com www.sxc.hu Encyclopædia Britannica, Inc. FICHA TÉCNICA Catalogação da publicação na fonte. Bibliotecária Verônica Pinheiro da Silva. Germano, Auta Stella de Medeiros. Astronomia / Auta Stella de Medeiros Germano e Joel Câmara de Carvalho Filho. – 2. ed. – Natal: EDUFRN, 2012. 378 p.: il. 978-85-7273-985-6 Disciplina interdisciplinar nas grades dos cursos a distância da UFRN. 1. Astronomia. 2. Céu. 3. Sol. 4. Eclipse. 5. Estrelas. I. Carvalho Filho, Joel Câmara de. II. Título. CDU 52 G373a Governo Federal Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Vice-Presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação Aloizio Mercadante Oliva Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Reitora Ângela Maria Paiva Cruz Vice-Reitora Maria de Fátima Freire Melo Ximenes Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) Secretária de Educação a Distância Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Secretária Adjunta de Educação a Distância Eugênia Maria Dantas © Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educacão – MEC Ast_pretext_B.indd 2Ast_pretext_B.indd 2 21/12/12 15:2621/12/12 15:26 Sumário Apresentação Institucional 5 Aula 1 Contemplando o céu 7 Aula 2 Esfera celeste e coordenadas geográfi cas 35 Aula 3 Sincronismos e medidas de tempo: o tempo solar 59 Aula 4 Ano solar e estações astrônomicas 83 Aula 5 Ciclos lunares e calendários 113 Aula 6 Eclipses 137 Aula 7 Sistemas de coordenadas celestes 161 Aula 8 Sistemas cosmológicos 179 Aula 9 Galileu e a nova Física 203 Aula 10 Leis de Kepler e a gravitação universal 225 Aula 11 O Sistema Solar 247 Aula 12 O Sol 271 Aula 13 Vida e morte das estrelas 297 Aula 14 Elementos de Cosmologia 323 Aula 15 Instrumentos e tendências 351 5 Apresentação Institucional A Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil – UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta-se para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações em Administração Pública e Administração Pública Municipal. Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfi co para atender às necessidades de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profi ssionais qualifi cados e que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas, livros, textos, fi lmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem. Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram o desafi o de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como moda- lidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto o acesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos de graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o conhecimento uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local. Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLE- TE O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA SEDIS/UFRN Contemplando o céu 1 Aula Aula 1 Astronomia 9 Apresentação Nesta disciplina, iniciaremos um estudo sobre um dos campos mais instigantes do conhecimento humano, a Astronomia. Um dos principais atrativos no contato com esse campo de conhecimento é a possibilidade de ampliar as perspectivas de tempo e espaço com as quais costumamos pensar sobre nossa própria existência. Nesse sentido, um objetivo central no ensino da Astronomia, particularmente nos contextos de formação de professores e de cidadãos, é favorecer a consciência de nossa condição planetária, bem como oferecer instrumentos para analisarmos as possibilidades de nossa história comum, nessa grande “nave” que é a Terra. Esperamos, assim, que as temáticas e abordagens estudadas na disciplina alcancem esse objetivo junto a você. Nas aulas 1 a 7, estudaremos fenômenos do nosso ambiente, tais como o ciclo claro- escuro, marés e alternâncias climáticas anuais, verifi cando sua relação com ciclos astronômicos. Devido à natureza desses conteúdos, propomos sua abordagem através de observações do céu a olho nu e da análise de modelos para os fatos observados. As aulas 8 a 10 abordam a mudança radical na visão de mundo ocorrida no século XVI, envolvendo a Astronomia e a compreensão do lugar do Homem no cosmos: a Terra deixou de ser considerada o centro do Universo para ser vista como um planeta “comum” ao redor do Sol; ao mesmo tempo, o céu deixou de ser visto como imutável. Você verá que essa revolução astronômica exigiu também uma revolução conceitual na Física. As aulas 11 a 15 abordam desde modelos sobre a Física dos astros, particularmente do Sol, até modelos sobre a origem e evolução do Universo. Esses conhecimentos resultam da introdução do telescópio na Astronomia, e do desenvolvimento cada vez mais abrangente da Física, particularmente com o estudo das radiações eletromagnéticas.Abordaremos esses conteúdos através da aplicação de leis físicas na descrição dos astros e de comparações entre suas previsões e medidas observacionais. Nesta aula, partiremos de onde tudo começou, ou seja, do contato com o céu. A proposta é que você desenvolva uma observação noturna a olho nu e, a partir da discussão dos seus registros, possa compreender melhor a natureza dos procedimentos e das motivações sociais que deram início à Astronomia. 1 2 3 4 5 Aula 1 Astronomia10 Astronomia: fascínio e praticidade A Astronomia é considerada um dos campos mais antigos do conhecimento humano. É difícil identifi car uma cultura que não tenha se encantado e se ocupado em observar cuidadosamente o céu. Quanto mais longe viajamos no passado, mais fascínio imaginamos que tenha causado a escuridão do céu noturno, com sua multidão de estrelas; ou a Lua, com sua face mutante e cíclica, por vezes imensa, por vezes um traço pálido, sendo esquecida à luz do dia. Difícil imaginar uma época em que não sentíssemos admiração pelo nascer e pôr do Sol, ou deixássemos de apontar uns aos outros esse astro que trazia e levava consigo a visão clara das coisas que nos rodeiam. Que estranhezas devem ter sentido nossos ancestrais, frente a uma chuva de “estrelas cadentes” ou à visita inesperada de fl amejantes cometas? Certamente, o fascínio que os astros exercem até hoje foi um dos motores para uma produção de conhecimento sobre os fenômenos celestes. Ainda assim, chega a surpreender o cuidado e a regularidade com que os antigos registraram tais fenômenos. Reconhecemos aí a infl uência não apenas de uma admiração e fascínio, mas também da necessidade de agir sobre o ambiente, aliada à percepção de que as mudanças neste ocorriam muitas vezes em sincronia com eventos astronômicos. sincronia Dois eventos sincronizados possuem etapas que ocorrem ao mesmo tempo, ou que se relacionam sempre de uma mesma forma. Por exemplo, ocorre sincronia entre o alvorescer do dia e a abertura das folhas de algumas plantas. Objetivos Perceber o céu como um cenário regular de eventos. Reconhecer a observação do céu a olho nu como importante forma de obter conhecimentos sobre os astros. Interpretar observações locais do céu, numa perspectiva que adota a Terra como uma esfera rodeada pelo espaço. Identifi car motivações sociais para o desenvolvimento inicial da Astronomia nas sociedades antigas. Diferenciar Astronomia de Astrologia. Atividade 1 2 1 3 Aula 1 Astronomia 11 Muitas pessoas identifi cam a Astronomia apenas com as belíssimas imagens coloridas produzidas em observações dos astros com telescópios. Contudo, já nas civilizações ocidentais mais antigas identifi camos a Astronomia sendo desenvolvida inteiramente por observações a olho nu. O céu a olho nu: uma visão noturna Para compreender a natureza desses conhecimentos, propomos a você um primeiro exercício de intimidade com o céu, a ser realizado na atividade 1. Nesta atividade, você vai contemplar o céu noturno, fazendo uma observação sistematizada. Identifique um lugar escuro e seguro da sua cidade, sem construções próximas que limitem a visão do horizonte, onde possa desenvolver uma observação do céu. Leve uma caderneta e uma caneta para anotações e, se possível, providencie também um colchonete, uma esteira ou uma coberta, para se deitar sobre ela no chão. Chegando ao seu “observatório”, deite-se de costas sobre o chão e passe cerca de 10 minutos em silêncio, contemplando o céu. Registre as sensações e percepções que essa observação lhe provocou. Fique de pé e identifi que o caminho descrito pela linha do horizonte. Esta é a linha imaginária delimitada pelo “encontro” do chão com o céu, quando olhamos para longe, até perder as coisas da vista. Como lhe parece ser a forma da Terra? Registre com desenhos e observações a sua percepção do horizonte e da forma da Terra nesse instante. Em seguida, voltando a observar o céu, não necessariamente deitado, responda: se tivesse que voltar amanhã a esse lugar, à mesma hora, que partes do céu você reconheceria, ou seja, que conjuntos de estrelas e outros astros você acha que seria possível identifi car novamente? Faça desenhos desses conjuntos, anotando o horário de sua observação. Aula 1 Astronomia12 Vamos, agora, refl etir sobre suas observações. O contato com o céu Se você realizou a primeira etapa da atividade anterior com tranqüilidade e concentração, possivelmente compreende um pouco do que sentem muitos astrônomos e astrônomas quando se reúnem em observatórios para desenvolverem suas observações. Observe o depoimento, a seguir, de alguém íntimo do espaço. Todo o texto de Marcos Pontes, do qual apresentamos apenas uma parte (MEDEIROS, 2006), ilustra como nossos conhecimentos científi cos, e em particular a Astronomia, podem e devem integrar nossa forma de ver o mundo, nossa sensibilidade ao interagir com ele. Nesta disciplina, você certamente atribuirá novos signifi cados a esse texto, da mesma forma que novas aproximações com o céu possibilitarão aprimorar sua sensibilidade e percepção do espaço em que nos encontramos. Por enquanto, são muitos os questionamentos: o que seria essa grande esfera e por que considerar o nosso mundo como 1% dela? Como é possível dizer que estamos a essa tremenda velocidade se não percebemos? E o que imaginarmos sobre esses pontos cintilantes? Qual é o seu espaço? O BARULHO DA CIDADE FICOU PARA TRÁS. No momento, só a calma da fazenda, o vento suave, o cheiro de mato e o ritmo dos grilos. Noite estrelada. Lua cheia. Deitado sobre o teto do carro, observo a imensidão cintilante do céu. Logo ali, quase ao alcance das mãos. Penso no que tudo isso signifi ca. Quem somos nós? O que fazemos por aqui? O que realmente representamos como parte desse Universo? Afi nal, o que é todo esse “espaço” que nos envolve? A mente viaja. Velocidade, movimento. Nada está absolutamente parado. Lembro do nascer e do pôr do Sol. Imagino a dinâmica do nosso planeta. Rotação, translação, vertigem. Como somos pequenos nessa escala! Estranho perceber que o “nosso mundo”, onde normalmente vivemos toda a nossa vida, representa apenas 1% dessa grande “esfera”. Mais ou menos como viver “na casca de um ovo”. Você já parou um minuto para pensar sobre isso? Embarcados nessa espaçonave Terra, viajando juntos pelo espaço a mais de 100.000Km/h, todos nós somos, de certa forma, astronautas. [...] (Trecho de depoimento de Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro a visitar o espaço extraterrestre). Fonte: Medeiros (2006) Aula 1 Astronomia 13 A observação do horizonte e a percepção da forma da Terra Uma dessas questões relaciona-se com a observação do céu e da linha do horizonte, na atividade 1. É muito comum que essa observação gere as seguintes idéias: a Terra é como um disco achatado, com as estrelas todas a uma mesma distância de nós, sobre uma casca esférica no céu. Ainda que você possa ter outros conceitos sobre a forma da Terra, a percepção do planeta como um disco achatado, numa observação como esta, permite entender por que muitos povos, de fato, atribuíram à Terra a forma de disco. Segundo Neves (1999), poemas gregos datados de 900 a.C. apresentam essa representação da Terra, circundada ainda por um enorme rio de nome oceano. Idéia semelhante era defendida pelo fi lósofo grego Tales (640-562 a.C.), que via a Terra como um cilindro achatado, à deriva sobre o oceano; Anaximandro (611-545 a.C.), que a considerava uma coluna em equilíbrio no centro do mundo; e ainda Anaxímenes (585-528 a.C.), que acreditava numa Terra chata, mas suspensa no ar (NEVES, 1999). Já a idéia de uma forma esférica para nosso planeta foi proposta inicialmente por Parmênides, com base na narrativa de viajantes, os quais perceberam que algumas estrelas deixavam de ser visíveis quando se viajava mais para o Norte. Pitágoras (580-500 a.C.) defendeu essa mesma idéia acrescentando outras observações registradas pela cultura vigente, comoa forma com que um barco desaparecia da vista ao se afastar da costa: via-se primeiro sumir sua base e, por fi m, suas partes mais altas, indicando que ele navegava sobre uma superfície curva. Perceba que, embora hoje sejamos bastante bombardeados com a informação de que a Terra é esférica (e achatada nos pólos), é comum encontrarmos pessoas, inclusive professores de Ciências, que ainda não construíram uma representação dessa esfericidade. Figura 1 – Percepção do céu e da forma da Terra, muito freqüente ao se observar o céu em local aberto. Atividade 2 Aula 1 Astronomia14 As pesquisas sobre o ensino envolvendo concepções alternativas acerca dos fenômenos astronômicos evidenciam difi culdades com essa representação. Uma pergunta muito usada para evidenciar e discutir a concepção das pessoas sobre a forma da Terra é explorada na atividade 2. Uma das difi culdades comuns nesse tipo de atividade é que, para uma representação esférica da Terra, é necessário dar novos signifi cados à idéia de “embaixo” e “em cima”. A idéia de uma Terra plana sugere que há uma única direção (e sentido) para a qual podemos usar as palavras “em cima” e “embaixo”. Ao contrário, o pensar a Terra como sendo redonda impõe novidades: atirar uma pedra “para cima” agora signifi ca atirá-la para longe do centro da Terra; enquanto “para baixo” signifi ca para perto do centro. Concepções alternativas são concepções que diferem das concepções correntes da Ciência sobre um dado fenômeno. Usualmente, são muito resistentes a mudanças. A idéia de que a Terra é como um disco achatado é um exemplo de concepção que, atualmente, é alternativa. Imagine que você está em uma nave e que se afaste mais e mais da Terra, sem perder a visão do planeta como um todo. a) Faça um desenho representando a Terra. Em seguida, desenhe três pessoas: uma no Pólo Norte, uma no Pólo Sul e uma no Equador. Suponha que cada uma dessas pessoas joga uma pedra para o alto. Desenhe a trajetória de cada uma das pedras. b) Resuma as difi culdades que encontrou ao desenhar seu esquema. Caso não tenha encontrado difi culdade, proponha essa questão para uma pessoa da vizinhança com mais de 10 anos de idade e analise as respostas dela. Figura 2 –- Pessoas em diferentes lugares da Terra atirando uma pedra para cima. Aula 1 Astronomia 15 Dessa forma, quaisquer das pessoas descritas na Figura 2 estão atirando uma pedra “para cima”. Note, inclusive, que após alguns instantes as três pedras irão atingir o solo. Por outro lado, alguém pode se perguntar: mas como conciliar a percepção que temos do disco delimitado pela linha do horizonte com a idéia de uma Terra esférica? Você imagina alguma solução? A resposta a essa questão está num fator importante: a dimensão da Terra. Devido à Terra ser tão imensamente maior do que nós, num desenho em que ela possua 10cm de raio, não conseguiremos visualizar sequer a maior elevação do planeta, o Monte Everest (menos de 10km de altura). Toda a troposfera (13km de espessura) terá a dimensão de uma linha de aproximadamente 1mm, ou seja, a própria linha de desenho da Terra. Imagine o que signifi ca a altura de um ser humano frente às dimensões do planeta! Nosso campo de visão acaba delimitando apenas um pequeno disco da superfície gigantesca do planeta (Figura 3). Talvez uma boa estratégia para nos visualizarmos de fora da Terra seja compará-la com uma laranja: devemos lembrar que não habitamos o interior dessa “laranja” (o núcleo e o manto), mas a sua “casca” (litosfera), da qual enxergamos uma pequena região circular. Figura 3 – Ao olharmos o céu num local aberto, a Terra nos parece ser um disco e não uma esfera. A Figura 3 pode ser usada ainda para explicitar que, devido à esfericidade da Terra, observadores em diferentes lugares da Terra visualizam partes diferentes do céu. Como exercício, identifi que na Figura as estrelas que não são visíveis para o observador, no momento ilustrado. Note que, se a Terra fosse um disco “chato”, as estrelas vistas por um observador seriam vistas de qualquer outro lugar sobre o disco. Terra esférica Pensar a Terra esférica é pensar que ela está solta no espaço sem se apoiar sobre nada, a não ser sobre si mesma. Na aula 9 (Galileu e a nova Física), você conhecerá como diferentes modelos de mundo lidaram com essa possibilidade. diego Realce Terra plana diego Nota Ademais, muitos foram os observadores ao longo da história que conseguiram perceber que algumas constelações só eram visíveis de certos pontos da Terra (a Estrela Polar, por exemplo, só pode ser vista a partir do Hemisfério Norte) e também que, quando se afastavam no horizonte, os barcos desapareciam gradativamente, deixando à mostra seus mastros e velas antes de sumirem por completo. α γ ζ β ε κ δ Esfera Celeste O Aula 1 Astronomia16 Padrões de estrelas Retomemos agora seus registros da atividade 1 sobre as estrelas. Você deve ter percebido que a melhor estratégia para reconhecer estrelas é memorizá- las juntamente com a “vizinhança” delas. Nesse processo, é comum imaginarmos desenhos no céu, associando conjuntos de estrelas a padrões que nos são familiares, a imagens como: sinos, tercinhos, chapéus etc. A um conjunto de estrelas que, vistas de onde estamos, nos sugerem uma associação a algum padrão conhecido, chamamos de constelação. Note que dissemos: “vistas de onde estamos”, pois esses padrões, de fato, não se baseiam nas posições reais das estrelas. Como exemplo, veja na Figura 4 uma situação em que as estrelas k e �, mais afastadas entre si do que o par � e �, são vistas por um observador como se estivessem bem mais próximas entre si, infl uenciando os padrões que ele irá identifi car no céu. Constelação Diferentemente da idéia de constelação, o conceito que caracteriza um conjunto de estrelas fi sicamente próximas umas das outras com um movimento coletivo comum em relação a outros corpos é o de aglomerado estelar. Figura 4 – Estrelas projetadas numa casca esférica imaginária, no céu de um observador O. Para este, as estrelas k e β parecerão tão próximas entre si quanto o par α e γ. Aula 1 Astronomia 17 Após esse esclarecimento, retome as constelações – observadas na atividade 1 – e verifi que se elas parecem com as indicadas nas cartas celestes das fi guras 5 e 6, no decorrer da aula. Estas mostram constelações vistas do hemisfério Sul, em diferentes épocas do ano. Observe-as e note que o Oeste está representado à direita e o Leste à esquerda da carta celeste. O usuário da carta deverá girá-la para fazer coincidirem os pontos cardeais da fi gura com os pontos cardeais do horizonte dele. Dessa forma, a carta deve fi car acima da cabeça do usuário, com as constelações voltadas para baixo. Assim, ao olhar para a carta, verá uma reprodução do céu. No nosso caso, por enquanto, desejamos utilizá-la apenas para reconhecer as constelações. É provável que algumas de suas constelações coincidam com aquelas apresentadas nas Figuras 5 e 6, ou com partes delas. As estrelas de Ursa Maior, por exemplo, no Nordeste brasileiro são usualmente associadas a um barco ou a uma panela. Já as três estrelas que fi cam bem no centro da constelação de Orion são conhecidas pelo nome de Três Marias. Quando tiver oportunidade, identifi que qual das cartas celestes (Figuras 5 e 6) lhe permite reconhecer mais padrões, nas referidas épocas do ano, e utilize-a para reconhecer novas constelações. Aula 1 Astronomia18 Figura 5 – Céu visível no dia 10/10/07 às 19h16min, para um local de latitude –7° 13’ 50’’ e longitude -35° 52’ 52’’ (coordenadas geográfi cas de Campinha Grande-PB). Aula 1 Astronomia 19 Figura 6 – Céu visível no dia 10/04/2008 às 19h, para um local de latitude –7° 13’ 50’’ e longitude –35° 52’ 52’’ (coordenadas geográfi cas de Campinha Grande-PB). Aula 1 Astronomia20 Note que, na percepção dos grupos indígenas, a constelação de Escorpião é apenas uma pequena parte do padrão que identifi cam no céu, a Ema;isso ilustra uma tendência recorrente nesses grupos: a de utilizar regiões bem maiores no céu, ao identifi carem constelações. Da mesma forma que se percebem variações na forma com que diferentes culturas produzem suas constelações, semelhanças inesperadas também têm sido encontradas, sugerindo que culturas hoje distantes podem ter tido pontos de contato em suas histórias. É o caso do sistema astronômico dos extintos Tupinambá do Maranhão, [...] muito semelhante ao utilizado, atualmente, pelos Guarani do Sul do Brasil, embora separados pelas línguas (Tupi e Guarani), pelo espaço (mais de As semelhanças e diferenças entre as constelações que você identifi cou e aquelas apresentadas nas cartas, adotadas pelos gregos há aproximadamente dois mil anos, apontam aspectos interessantes. Mostram, por exemplo, que é característico da mente humana buscar padrões, relacionar as coisas que vê com aquelas que já conhece. Além disso, vemos que as experiências culturais infl uenciam a forma como as pessoas enxergam um mesmo conjunto de pontos no céu. Os mesopotâmios, de quem os gregos adotaram parte das constelações, relacionavam esse pontos a animais (leão, escorpião) e personagens míticos da cultura deles. Assim, além do céu noturno que visualizamos, não ser “o mesmo” que aqueles povos viam, haja vista que a experiência cultural deles os levaram a padrões distintos dos que projetamos hoje. Para visualizar as diferenças de padrões entre as culturas, compare, por exemplo, a constelação da Ema, identifi cada em várias tribos indígenas do nosso país, com a interpretação do mesmo pedaço de céu pelos gregos (Figuras 7 e 8). Nesse exercício, aproveite a leitura do estudioso Germano Afonso sobre pequenos detalhes da constelação indígena (AFONSO, 2007), afi m de entender essas comparações: [...] As estrelas α Centauri (Rigel Kentaurus) e β Centauri estão dentro do pescoço da Ema. Elas representam dois ovos que a Ema acabou de engolir. [...] A constelação Scorpius, excluindo suas garras e as estrelas que estão acima de Antares, representa uma Cobra (Mboi, em Guarani) para os índios brasileiros, sendo Antares a sua cabeça. De fato, é muito mais fácil imaginar uma cobra que um escorpião nessa região do céu. [...] (AFONSO, 2007, p. 2). Figura 7 – Padrões identifi cados pelos gregos antigos, uma região do céu. Figura 8 – Padrões identifi cados por vários grupos indígenas, na mesma região do céu. Aula 1 Astronomia 21 2.500 km, em linha reta) e pelo tempo (quase 400 anos). [...] algumas das constelações dos índios brasileiros, utilizadas no cotidiano, são as mesmas de outros índios da América do Sul e dos aborígines australianos (AFONSO, 2007, p. 1). Essas observações têm contribuído para o desenvolvimento da Etnoastronomia, cujos estudos fornecem subsídios, entre outras coisas, para a análise das datas e dos lugares em que eventos astronômicos foram descritos. Considerando a relevância desses estudos, vemos que há pelo menos dois sistemas de constelações que você deve procurar aprender: aquele utilizado pelos astrônomos no intercâmbio de conhecimentos sobre o céu (Figuras 5 e 6) e o transmitido em sua própria cultura. Outros eventos astronômicos noturnos Você deve ter notado em sua observação noturna que as estrelas se apresentam em padrões estáveis no céu e que este está em aparente movimento. Desde a hora em que você chegou até ir embora, o conjunto de suas constelações mudou de posição em relação ao horizonte, realizando um lento movimento coletivo, “desenhando” frações de círculos semelhantes à trajetória diurna do Sol. Esse movimento coletivo é repetido diariamente. Se repetirmos a observação que você realizou, num mesmo horário da noite, por meses seguidos, constataremos um terceiro evento de natureza astronômica: o fato das constelações visíveis acima do nosso horizonte mudarem ao longo do ano. A passagem de algumas “estrelas” errantes, de brilho intenso, através do cenário estável das constelações foi outro tipo de fenômeno que os antigos observaram durante meses, anos, séculos. Foi assim que identifi caram Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, todos a olho nu. Planetas, cujo signifi cado é astros errantes, era como denominavam essas “estrelas” que não mantinham um mesmo lugar no mapa das constelações. Hoje sabemos que os planetas diferem das estrelas, por não emitirem luz própria. Etnoastronomia Ramo da Astronomia que estuda o conhecimento e a relação estabelecida com o céu, em culturas de diferentes lugares e épocas. Aula 1 Astronomia22 O céu a olho nu: uma visão diurna Até agora, utilizamos os resultados da atividade 1 para explorar possíveis observações sobre o céu noturno a olho nu. Agora, vamos realizar uma observação diurna do céu, observando especifi camente o comportamento do Sol. O movimento do Sol e outros eventos diurnos Certamente, todos já tivemos a oportunidade de acompanhar um nascer do Sol e verifi car a noite se desfazer lentamente, enquanto estrelas que se encontram acima do nosso horizonte tornam-se invisíveis aos nossos olhos. Você já parou para pensar por que o Sol é a única estrela que vemos durante o dia? Afi nal, durante a manhã, da mesma forma que à noite, temos uma miríade de estrelas espalhadas no fi rmamento! A questão é que, pelo fato de estar muito mais próximo de nós que qualquer outra estrela, a intensidade de luz que chega do Sol até nós é bem maior. Tão maior que mesmo a atmosfera, ao espalhá-la, ofusca a luz de estrelas e astros mais distantes. Além do Sol, há um conjunto de astros e fenômenos celestes que podem ser vistos à luz do dia. Nesse sentido, podemos citar a Lua, em certos períodos do mês; o planeta Vênus, também conhecido como estrela D´Alva (até as primeiras horas do amanhecer, quando visível); e eventos menos freqüentes, como as chuvas de meteoros e cometas. Observação Como sabemos, o aparecimento do Sol no horizonte é a causa do dia claro, e seu desaparecimento na direção oposta, a causa da noite. Não há relação estrita entre a Lua e a noite. As idéias de que a Lua causa a noite ou de que ela só aparece à noite são incorretas. Vemos a partir dessa listagem – ainda incompleta – que para uma primeira sistematização sobre o céu diurno, a regularidade que mais interessa é o comportamento do Sol. A relação do Sol com a alternância entre dia e noite será nosso ponto de partida, embora devamos chamar a atenção para o fato de encontrarmos, na história das civilizações, e na visão de algumas pessoas, idéias que não identifi cam o movimento do Sol como a causa do dia e da noite. Exemplos dessas visões, que não são coerentes com o que se compreende hoje na Ciência, são, por exemplo, a de que a Lua ou, alternativamente, a presença de nuvens ocultando o Sol, seria a causa da noite. Atividade 3 2 1 4 3 Aula 1 Astronomia 23 Sabemos que, após o nascente, o Sol continua se elevando numa trajetória aparentemente circular, de tal modo que, após atingir uma determinada altura, desce pelo lado oposto do céu, até sumir do nosso horizonte de visão. O fato do Sol “nascer” sempre de um mesmo lado propiciou um mecanismo de referência espacial, através das direções Norte, Sul, Leste e Oeste. As direções do Leste e do Oeste associam-se aos lados em que o Sol nasce e se põe, respectivamente. Você lembra a forma comumente usada para identifi car essas direções, provavelmente vista nas aulas de Ciências e Geografi a? Apontando o braço direito para o Leste, do lado em que o Sol nasce, se você direciona o braço esquerdo para o lado oposto, estará identifi cando o Oeste. À sua frente, tem o Norte e, às costas, o Sul (Figura 9). De frente à sua casa, identifi que o lado em que o Sol “nasce”. Anote informações sobre essa localização do nascente, de tal modo que se alguém chegar pela primeira vez em casa, à noite, possa utilizá-las para descobrir esse local. Novamente, de frente à sua casa, peça para uma pessoa ler sua descrição e apontar o lugar que você indicou. Se necessário,ajuste sua descrição. Pergunte a essa pessoa se o Sol nasce sempre nesse lugar e peça para ela justifi car a resposta. Em seguida, anote a resposta identifi cando que elementos foram usados para justifi car o “sim” ou o “não”. As evidências sugeridas lhe parecem convincentes para a conclusão a que a pessoa consultada chegou? Quais as suas considerações a esse respeito? Aula 1 Astronomia24 Na verdade, é comum escutarmos das pessoas, ou lermos em livros de Ciências, a informação de que o Sol nasce sempre num mesmo lugar. Mas, se conversarmos, com pessoas que têm a experiência cotidiana de colocar roupa para secar ao Sol, por exemplo, elas dirão que em horários bem semelhantes, em meses diferentes, o Sol ocupa posições distintas. Assim, devido à mudança de posição do Sol em relação ao muro, ao longo do ano, determinada parte do quintal, meio dia, pode receber luz ou ter sombra. De fato, o Sol não nasce sempre no mesmo lugar, e o movimento circular que realiza ao longo do dia não se dá sempre sobre um mesmo círculo. Figura 9 – Procedimento para localizar os pontos cardeais Fonte: <www.cdcc.sc.usp.br/cda/producao/sbpc93/index.html> Acesso em: 12 maio 2007. Trajetórias diurnas do Sol 19h 5h 7h 9h 12h 15h 15h 17h 18h Oeste Norte Sul Leste dia mais longo que a noite dia mais curto que a noite dia igual a noite 17h 6h7h 9h 8h 10h 12h 12h 14h 16h Aula 1 Astronomia 25 Na Figura 10, cada semicírculo corresponde à trajetória diurna do Sol num período específi co do ano para um mesmo observador. A fi gura ilustra que a posição do nascer do Sol não é exatamente a mesma ao longo do ano, ela varia continuamente num intervalo de pontos cujo centro é o verdadeiro ponto cardeal Leste. Note que, como conseqüência desse nascimento do Sol em diferentes posições, os dias têm duração diferente ao longo do ano: o Dia correspondente ao círculo superior é aquele em que o Sol se mantém por mais tempo (das 5h às 19h) acima do horizonte, enquanto no Dia representado pelo círculo inferior da fi gura, o período de Sol visível é o mais curto do ano (das 7h às 17h). Assim, o Sol não nasce no mesmo lugar todos os Dias, e os dias não possuem a mesma duração. O período em que ele volta a nascer no mesmo lugar, e os dias a repetirem uma mesma seqüência de duração é o que denominamos de ano solar. Dias Dia (com D maiúsculo) é o período em que a Terra realiza uma rotação completa em torno de si; dia (com d minúsculo) é o período do Dia em que o Sol se encontra acima do horizonte. Figura 10 – Trajetórias diurnas do Sol, em três dias do ano. Fonte: <http://pessoais.ov.ufrj.br/massaf/cursos/iam/iam2004_fundamental_arquivos/apostila_fund4.htm>. Acesso em: 11 maio2007. diego Realce Aula 1 Astronomia26 A prática da Astronomia nas sociedades antigas Com os exercícios e discussões anteriores, será bem mais fácil para você compreender a natureza das observações e saberes que deram início à Astronomia. É importante chamar a atenção para o fato de que, como alguns autores (NEVES, 1986; VERDET, 1991) apontam, é difícil precisar o início de uma observação consciente e sistemática do céu pelo Homem e, por essa razão, sendo a Astronomia um conhecimento tão antigo, não há consenso sobre os seus primórdios. Ainda assim, costuma-se assumir que, por ter adquirido uma vida sedentária, o ser humano, por volta de 10.000 a.C. (conforme você estudou na aula 5 – Formação da sociedade –, da disciplina Educação e Realidade), havia acumulado, necessariamente, conhecimentos astronômicos sistemáticos. Porém, pesquisadores têm defendido que as cavernas de Lascaux, na França, apresentam registro das estrela das Plêiades. Se aceita essa interpretação, essa carta pré-histórica de 17.000 a.C. seria o indício mais antigo de um conhecimento astronômico. Em períodos mais “recentes”, cerca de 3.000 anos a.C., encontramos evidências da prática astronômica em monumentos que impressionam pela grandiosidade, e cuja disposição indica que se tratava de observatórios. Pedras e outros tipos de marcos, nesses monumentos, mostram que os povos antigos acompanhavam as diferentes posições dos astros ao longo do ano: o nascer e o pôr do Sol, da Lua e, por vezes, de planetas. Pela grandiosidade e pelos arranjos dessas construções, sugerindo altares em posições diferenciadas, imagina-se que além de observatórios esses monumentos consistiam em espécies de templos. Figura 11 – Monumento de Stonehenge, na Inglaterra Fonte: <www.artelousa.com/saibamais.php?id=1>. Acesso em: 12 maio 2007. Aula 1 Astronomia 27 Entre essas evidências, destaca-se o monumento de Stonehenge, na Inglaterra. Construído em diferentes períodos, de 3.000 a.C. a 1.000 a.C., até hoje, milhares de pessoas o visitam por ocasião do nascer do Sol no Solstício de Verão, para celebrarem o dia em que se inicia o Verão. Se nos detivermos sobre os registros textuais, é nas civilizações da Mesopotâmia (3.500 a.C.) e do Egito (3.100 a.C.) que encontraremos as evidências mais antigas de um conhecimento astronômico sistematizado. A Astronomia dos mesopotâmios Para os povos que habitaram a Mesopotâmia (atual Iraque e terras próximas), as difíceis condições do ambiente em que viviam tiveram infl uência signifi cativa na produção de conhecimentos astronômicos: eram obrigados a enfrentar variações climáticas, ventos cortantes, chuvas torrenciais e enchentes devastadoras, que escapavam a seu controle. [...] o rei e seus conselheiros permaneciam atentos a presságios passíveis de interpretação, de tal modo que as calamidades pudessem ser previstas e, se possível, evitadas. Pensava-se que havia nos eventos humanos uma contrapartida para cada fenômeno celeste [...]. (WHITROW, 1988, p. 43-45). Nessa civilização, o desenvolvimento da Astronomia vincula-se à tentativa de compreender supostos presságios, sinais que os astros revelariam. Por isso se diz que a Astronomia nasce ligada à Astrologia. De modo geral, a Astrologia supõe que há uma relação entre padrões formados pelas posições dos astros e os acontecimentos na vida das pessoas. Em seu início, os padrões formados pelas posições dos astros foram utilizados para a leitura de grandes acontecimentos, que atingiriam a sociedade como um todo: as previsões abrangeriam a corte real, e não pessoas comuns da sociedade. Segundo Whitrow (1993), somente por volta de 410 a.C..na Babilônia, com os Caldeus, é que se encontram registros de uma Astrologia horoscópica, a qual toma a posição dos astros no nascimento da pessoa para deduzir aspectos do seu destino individual. Com pressupostos e crenças de que os astros oferecem sinais sobre os acontecimentos terrenos, a Astrologia criou uma demanda pelo conhecimento detalhado do movimento dos astros; não somente sobre o movimento do Sol, o que a prática da agricultura também solicitava, mas também o dos planetas e da Lua. Esse contexto ajudou os babilônios (os mesopotâmios que mais contribuíram com a Astronomia) a tornarem-se um dos primeiros povos a registrar os cinco planetas visíveis a olho nu: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno (MILLONI, 2003). Os astrônomos babilônios catalogaram cuidadosamente hora, brilho e cor das estrelas e planetas, ao despontarem no horizonte; reuniram, com particular detalhamento, dados sobre o aparecimento e desaparecimento do planeta Vênus. Outro conhecimento também associado à Astrologia foi a identifi cação do Zodíaco, um “círculo” de constelações localizadas por trás do Atividade 4 Aula 1 Astronomia28 Sol, enquanto este se move ao longo do ano. Herdamos desses povos os nomes que damos a algumas dessas constelações: Leão, Touro, Escorpião, Gêmeos, Capricórnio e Sagitário. Além das demandas sociais colocadas pela prática da Astrologia, deve-se reconhecer nesses povos a infl uência da necessidade de medir a passagem do tempo, e ainda de organizar as atividades sociais em função de ciclos naturais, ou seja, através de calendários. A Astronomia egípcia No caso dos egípcios, sua motivaçãoem relação à Astronomia centrava-se na construção de um calendário que organizasse as atividades agrícolas, intimamente relacionadas com as cheias do Rio Nilo. Em função das cheias, foi adotado um calendário que dividia o ano em três estações: tempo de inundação, da semeadura e da colheita. Percebeu-se uma sincronia entre o ciclo das estações e o intervalo entre dois nascimentos da estrela Sírius ao alvorecer, e utilizou-se esse evento para contabilizar o período do ano solar em 365 dias. Posteriormente, através de observações indiretas do Sol, com o uso do gnomon, chegaram a um valor ainda mais próximo do atual, acrescentando 1 dia a cada quatro anos, em sua contagem do ano. Os egípcios não desenvolveram estudos sobre o movimento dos planetas, mas deixaram uma contribuição importante, a divisão (até certo ponto arbitrária) do dia em 24 horas. No Egito, a exemplo de Stonehenge, encontramos monumentos gigantescos com arquitetura cuidadosamente estruturada em função de pontos astronômicos, como é o caso das pirâmides construídas em Gizé. A maior delas (de Quéops) possui cerca de 147m e foi construída por volta de 2550 a.C., sendo que, do ponto de vista da Astronomia, o que chama a atenção é o alinhamento dos lados dessas pirâmides com as direções Norte-Sul e Leste-Oeste. Especulações sobre o alinhamento de corredores dentro da pirâmide com certas estrelas sugerem que ela pode ter sido utilizada como observatório. Que práticas sociais motivaram o desenvolvimento inicial da Astronomia, na Mesopotâmia e no Egito? Sistematize a relação entre essas práticas e o tipo de conhecimento astronômico que cada uma dessas civilizações produziu. Aula 1 Astronomia 29 Astrologia e Astronomia Astronomia e Astrologia são a mesma coisa? Que diferenças você estabelece entre elas? No início de nossa aula, identifi camos a Astronomia como um ramo da ciência que estuda os astros. Podemos dizer que a Astrologia é uma aplicação que algumas pessoas (astrólogos e adeptos) fazem de conhecimentos sobre a posição dos astros para prever eventos signifi cativos na vida de outras pessoas. Essa aplicação pressupõe que o padrão constituído pela posição dos astros, num determinado momento, se constitui numa marca ou sinal sobre a vida dos indivíduos. No entendimento de algumas correntes, a relação pressuposta pela Astrologia entre os astros e a vida das pessoas é uma relação que se daria no campo simbólico e não físico. A Astronomia estuda os astros em si mesmos, ou seja, a posição relativa que ocupam, seus movimentos, sua constituição, os fenômenos que neles ocorrem, e sua evolução de modo geral, independentemente das infl uências que eles exerçam sobre a Terra. No âmbito da Astronomia, também estudamos infl uências que os astros exercem sobre acontecimentos na Terra, mas aqui cabe uma segunda distinção: essa infl uência é analisada com base no conhecimento científi co atual sobre as possibilidades de interações materiais. A radiação solar, por exemplo, tem infl uência sobre o clima de diferentes lugares, da mesma forma que a posição da Lua tem infl uência sobre os oceanos, gerando o fenômeno das marés através de interações gravitacionais entre o astro e o nosso planeta. Assim, a infl uência estudada pela Astronomia é admitida desde que tenha base em interações físicas reconhecidas por outros experimentos. As interações físicas conhecidas atualmente não oferecem base teórica para o principal pressuposto ou crença da Astrologia: de que os astros infl uenciam a vida dos indivíduos. As intensidades das interações conhecidas hoje (gravitacionais e eletromagnéticas) entre astros e pessoas têm um valor muito menor do que a intensidade das interações entre essas mesmas pessoas e os objetos que as rodeiam. Dessa forma, para algumas correntes, a Astrologia somente se justifi ca enquanto método interpretativo que estabelece relações simbólicas, e não interações físicas, entre os astros e as características ou acontecimentos na vida das pessoas. Essas correntes não afi rmam, por exemplo, que uma determinada constelação causa certos acontecimentos na vida das pessoas. O aparecimento dessa constelação, para essas correntes, é visto como um sinal, ou seja, signifi ca que acontecimentos de certo tipo deverão acontecer. Atividade 5 Resumo Aula 1 Astronomia30 Pode-se dizer que outra característica que diferencia a Astronomia da Astrologia é o fato da Astronomia rever a si mesma, enquanto assimila novos conhecimentos. Pela abrangência dos seus objetos de estudo, ela articula-se hoje com os mais diversos saberes desenvolvidos nas Ciências Naturais e Matemáticas, transformando-se e transformando essas áreas, continuamente, nesse processo. Você perceberá isso, na continuidade da disciplina. Para concluir a aula, antes de desenvolver a Auto-avaliação, procure sistematizar seu aprendizado teórico, identifi cando palavras-chave e desenvolvendo pequenos esquemas que resumam a idéia central de cada tópico da aula. Você poderá retomar alguns desses esquemas quando estivermos aprofundando esses conteúdos nas próximas aulas. Retome suas considerações sobre as diferenças entre Astrologia e Astronomia. Com base nas refl exões levantadas, que informações você acrescentaria ao seu texto inicial? Nesta aula, você realizou uma observação prolongada do céu noturno a olho nu. Fez registros sobre sua percepção do céu e da forma da Terra e identifi cou constelações que poderiam servir como referência para acompanhar eventos astronômicos em outros momentos. Viu que observações dessa natureza permitem acompanhar o comportamento de constelações durante a noite, e do Sol, durante o dia, bem como observar variações nesses comportamentos ao longo do ano. Ao fi nal, conheceu as motivações sociais que levaram à sistematização de conhecimentos astronômicos pelos mesopotâmios e egípcios, no nascimento da Astronomia. Durante a aula, você identifi cou concepções alternativas envolvendo conceitos astronômicos, tais como a forma da Terra, a causa do dia e da noite, e a relação entre Astronomia e Astrologia. 1 2 3 4 5 Aula 1 Astronomia 31 Autoavaliação Retorne à sua nave imaginada na atividade 2 para um novo exercício de afastamento da Terra. Desenhe esquematicamente como você visualizaria três garrafas sobre o solo, estando uma delas no Pólo Norte, outra no Pólo Sul e a terceira no Equador. Considere, nesse esquema, que cada uma dessas garrafas contém uma pequena quantidade de líquido. Um aluno do Ensino Médio está com a seguinte dúvida: “Como é possível que um rio, como o São Francisco, possa subir, contra a gravidade, do Sul para o Norte?”. Que concepções alternativas do aluno estão presentes nessa dúvida? A Lua ou a ocultação do Sol por nuvens são concepções alternativas sobre a causa da noite. Identifi que argumentos contrários a essas idéias. Defi na as seguintes unidades de tempo, a partir de eventos astronômicos, conforme você aprendeu até o momento: a) dia (com d minúsculo) b) ano Identifi que as práticas sociais que motivaram o desenvolvimento inicial da Astronomia entre os mesopotâmios e os egípcios. Aprofundamentos 1) Na disciplina Ciências da Natureza e Realidade, você identifi cou sítios arqueológicos na sua proximidade. Há registros de fi guras nesses sítios? Elas incluem fenômenos ou objetos astronômicos? Compare a data dessas imagens ou dos sítios com a idade das civilizações da Mesopotâmia e do Egito. 2) Converse com pessoas da sua comunidade que têm um conhecimento mais detalhado sobre os astros do que comumente se possui. Que motivações levaram essas pessoas a buscarem tais conhecimentos? São semelhantes às dos povos antigos, as quais discutimos nesta aula? Analise o porquê. 3) Anote questões que lhe intrigaram no desenvolvimento da aula e procure discuti-las com outras pessoas, na continuidade da disciplina. Lembre-se de que nossa página, no ambiente virtual, é um ótimo lugar para tais discussões! Aula 1 Astronomia32 Referências AFONSO, G. B.As constelações indígenas brasileiras. Disponível em: <http://www. telescopiosnaescola.pro.br/indigenas.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2007. ASTRONOMIA NO ZÊNITE. Disponível em: <http://www.zenite.nu/>. Acesso em: 18 jun. 2007. BOCZKO, Roberto. Erros comumente encontrados nos livros didáticos do ensino fundamental. Disponível em: <http://www.observatorio.diadema.com.br/conf3.html>. Acesso em: 05 jun. 2007. CAMPOS, M.C.C.; NIGRO, R.G. Didática de ciências: o ensino-aprendizagem como investigação. São Paulo: FTD, 1999. HEAVENS ABOVE. Disponível em: <http://www.heavens-above.com/>. Acesso em: 22 maio 2007. JAFELICE, Luiz Carlos. Nós e os céus: astronomia, antropologia e educação. Natal: Departamento de Física/UFRN, 2002. (Palestra junto ao PET-Ciências Sociais/UFRN). LANGHI, R. Idéias de senso comum em astronomia. Disponível em: <http://telescopios naescola.pro.br/langhi.pdf>. Acesso em: 13 maio 2007. MEDEIROS, J. R. Meu céu, o céu de cada um, céu de todos nós. São Paulo: Zian, 2006. MILLONE, A. C. A astronomia no dia-a-dia. São José dos Campos: INPE, 2003. 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História ilustrada da ciência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987. v 1. VERDET, Jean-Pierre. Uma história da astronomia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991. Anotações Aula 1 Astronomia 33 WHITROW, G. J. O Tempo na história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. WHITROW, G. J. O que é tempo?: Uma visão clássica sobre a natureza do tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Anotações Aula 1 Astronomia34 Esfera celeste e coordenadas geográfi cas 2 Aula 1 2 3 4 Aula 2 Astronomia 37 Apresentação Na aula anterior (aula 1 – Contemplando o céu), você aprendeu que é possível descobrir informações sobre o céu, através de repetidas observações a olho nu. Nosso desafi o nesta aula é familiarizar-nos um pouco mais com o céu e utilizá-lo para inferir, de modo aproximado, o lugar em que estamos no planeta. Podemos compreender como é possível dessa forma, mapear o globo terrestre, a partir dos movimentos que este realiza. Com isso, o que buscamos é uma percepção mais ampla da nossa dimensão planetária, uma integração com os ciclos terrestres provenientes do movimento no cosmos, em proximidade com o Sol. Objetivos Relacionar a organização do espaço geográfi co com informações disponíveis no céu. Entender o conceito de esfera celeste. Conceituar pontos e linhas de referência astronômica e geográfi ca, a partir do movimento aparente da esfera celeste ao longo de um dia. Utilizar observações astronômicas para obter informações sobre sua localização no globo terrestre. Aula 2 Astronomia38 O céu como referência Suponha que você esteja num barco em alto mar, afastado da costa ou de qualquer referência de terra fi rme: casas, rochas ou faróis. Seu barco navega e com o passar das horas você não tem o controle sobre o caminho que ele faz. Há os ventos e as correntezas que o direcionam além da sua vontade ou orientação. Então, como saber onde está? Esse era mais ou menos o problema que enfrentavam os navegantes do século XVI, quando decidiram se afastar da costa e realizar viagens por alto mar. Tinham, ainda, o agravante de, por guerrearem com algumas localidades, não poderem ser pegos de surpresa, chegando em alguma delas por engano. Como os navegantes poderiam saber para onde estavam indo? Imagine um pescador experiente chamado Seu Mauro. Perguntemos como ele faz para saber onde está, quando sai para pescar à noite. Como era de se esperar, ele esclarece: “O céu” ou melhor, as estrelas do “barco”, do “tercinho” (Plêiades),...Indiretamente, o local das estrelas no céu permite retornar a direção da costa, bastando ele olhar para elas e relembrar a direção em que as via, quando estava em terra fi rme. Além dessa forma de localização no mar, quando fazemos trilhas na mata, ou caminhadas ecológicas de modo geral, podemos também utilizar o céu como referência para nos localizarmos, buscando as constelações que conhecemos. Para os navegantes espanhóis e portugueses do século XVI, era necessária uma precisão maior. Para isso, mesmo utilizando instrumentos rústicos, usaram a posição das estrelas para localizar as suas rotas. Assim, vamos compreender como é possível essa utilização do céu para achar um lugar no planeta. Zênite Meridiano Celeste Leste Plano do horizonte Sul Oeste Norte Aula 2 Astronomia 39 Raio arbitrariamente grande Dizer que o raio R da esfera celeste é arbitrariamente grande é dizer que se pode assumir qualquer valor para ele, desde que muito maior do que o tamanho da Terra. Esfera celeste e movimento Na aula 1, você foi levado(a) a discutir sua percepção do céu. Olhando ao redor, ele pode ser comparado a uma grande casca esférica, com a Terra em seu centro. Essa foi a imagem que os gregos antigos construíram e alguns chegaram a pensar nessa esfera como algo real, feita de um material cristalino onde estavam encrustadas as estrelas. A concepção de um céu esférico ou material não sobreviveu em nossa cultura, mas a idéia de esfera celeste continua muito útil na Astronomia, associada não ao céu em si, mas à percepção que temos dele, quando o observamos da Terra. Nessa perspectiva, a esfera celeste é uma esfera imaginária de raio arbitrariamente grande, em cujo centro está a Terra. Nessa esfera projetamos todos os astros que vemos daqui. A Figura 1 ilustra a metade da esfera celeste, na percepção de um observador qualquer. Como sabemos, praticamente tudo o que se encontra abaixo da linha do horizonte do observador não é visível para ele, já que a superfície da Terra em seu entorno impede essa visão. Na verdade, a luz das estrelas sofre um desvio quando atravessa a atmosfera. Isso permite que possamos ver também astros um pouco abaixo do nosso horizonte. Figura 1 – Observador percebendo as estrelas acima do seu horizonte, como se estivessem fi xadas na metade de uma esfera imaginária, ou seja, da esfera celeste. Fonte: <http://www.onr.navy.mil/focus/spacesciences/observingsky/sphere2.htm> Acesso em: 11 jun. 2007. Na Figura 1, são apresentados também um ponto e um plano de referência, os quais costumam ser utilizados localmente por um observador para se referir a objetos da esfera celeste: o zênite e o plano do horizonte. O zênite, para um observador específi co, é o ponto localizado acima da sua cabeça, sobre a vertical do lugar em que ele se encontra. O plano do diego Realce diego Realce diego Realce Atividade 1 Sagitário Pólo sul Terra Pólo Norte Cruzeiro do Sul Equador ce leste Peixes Equador Pólo celeste Sul Esfera celeste Ursa maior Cassiopéia Polo celeste Norte Estrela polar Gêmeos Orion Virgem Lira Aula 2 Astronomia40 O que podemos dizer de dois observadores, A e B, se sabemos que, sempre que uma estrela está no zênite de A, ela encontra-se no nadir de B? Ao longo de um dia, esses observadores conseguirão ver o mesmo conjunto de estrelas? Note que zênite, nadir e plano de horizonte são referências que mudam conforme o local dos observadoresna Terra. É possível utilizarmos um sistema de referência que independe do observador, o qual não estudaremos nesta aula, mas os conceitos que abordaremos facilitarão o estudo ao longo da disciplina. Na Figura 2, apresentamos uma ilustração da esfera celeste completa, com a Terra no centro. Distribuídas pela esfera estão algumas das constelações que a mapeiam. Figura 2 – Esfera celeste completa, de fora da Terra, com algumas constelações e pontos de referência representados nela. Fonte: http://www.pfm.howard.edu/astronomy/Chaisson/AT401/HTML/AT40102.htm Acesso em: 11 jun. 2007. horizonte, por sua vez, é o plano perpendicular à linha que une o observador ao seu zênite. Nesse mesmo contexto, podemos introduzir o nadir, que é o ponto oposto ao zênite do observador. No caso do observador da fi gura 1, seu nadir não se encontra ilustrado, uma vez que estaria na metade da esfera que não foi representada. diego Realce diego Realce Atividade 2 Aula 2 Astronomia 41 Você sabe qual parte da esfera celeste está visível hoje, a partir do seu lugar, ou seja, de onde você está localizado? Que tal uma nova observação noturna, para verifi carmos isso? Faça uma nova observação do céu à noite, no mesmo horário em que fez a observação solicitada na aula 1. Se o seu observatório não estiver acessível, você poderá fazer a observação em frente a sua casa ou em outro lugar próximo, desde que consiga ver um bom número de estrelas. Procure “suas constelações” e verifi que se elas ainda estão ao lado das mesmas constelações. E sobre a Lua, sua aparência e vizinhança são semelhantes às observadas na aula anterior? Faça anotações a esse respeito. Você deve ter chegado a conclusões bem diferentes sobre as constelações e a Lua, não é mesmo? As constelações parecem estar sempre a uma mesma distância umas das outras. Por apresentarem essa disposição estável, elas se constituem num verdadeiro mapa da esfera celeste, utilizado como referência para descrever o movimento de outros astros. Devido à importância dessa referência celeste e pensando em facilitar a comunicação sobre os estudos do céu realizados em diferentes lugares, os astrônomos, através da UAI (União Astronômica Internacional), adotaram um mapa padrão do céu, dividindo-o em 88 regiões, cada uma delas associada a uma constelação. Na sua maioria, as constelações adotadas são as herdadas dos gregos, algumas das quais remontando aos sumérios. Você pode consultar informações sobre essas regiões por meio de uma busca na internet. Para começar, sugerimos os sítios do Observatório Astronômico Frei Rosário e Astronomia no Zênite, recomendados ao fi nal da aula. Enquanto essas constelações se apresentam sempre numa mesma confi guração, a Lua, da mesma forma que o Sol, planetas e cometas, quando vistos da Terra, apresentam um movimento próprio através da esfera celeste. diego Realce D1 LO1 β1 a b LO2 β2 D2 Aula 2 Astronomia42 Para tentar chegar ao porquê disso, lembre como os objetos, de modo geral, parecem menores à medida que nos afastamos deles. Isso lhe sugere alguma coisa? Pois é, o fato do Sol, planetas e cometas estarem mais próximos da Terra é o que torna perceptível as mudanças de posição desses astros. Quanto aos astros que compõem as constelações noturnas, estes encontram-se tão distantes que não percebemos mudanças na sua posição relativa. Uma situação comum em nosso dia-a-dia ilustra bem esse aparente repouso dos corpos muito distantes. Você provavelmente já observou, ao viajar de ônibus ou de carro numa estrada, que as árvores diante de nós, os postes, as casas e os animais no pasto mudam claramente de posição, enquanto serras ou montes mais distantes permanecem durante um bom tempo na mesma direção ao fundo. Por mais que também estejamos nos movendo em relação a esses montes e serras, há demora para evidenciarmos mudanças na direção deles. Pense sobre a semelhança entre essa situação e a observação simultânea de astros próximos e distantes de nós, em movimento. O exemplo a seguir permite dimensionar quantitativamente o efeito em questão. Exemplo 1 Considere um deslocamento equivalente ao diâmetro da órbita da Terra ao redor do Sol (DTS). Compare o modo como esse deslocamento (o “tamanho” dele) será percebido por dois observadores, um deles supostamente em Júpiter e o outro, na estrela Próxima, da constelação de Centauro. A Próxima de Centauro está há aproximadamente 4 anos-luz e é a estrela mais próxima de nós, depois do Sol. Observação - Na sua comparação, suponha que esse deslocamento é visto frontalmente, por cada observador. Solução Para resolver um problema de Física, em geral, a representação deste por fi guras é uma etapa muito útil. Uma ilustração para o nosso problema pode ser vista na fi gura 3. Figura 3 – a) Ângulo de visão (β1) para um objeto de comprimento L, quando visto pelo observador O1 situado à distância D1 desse objeto; b) Ângulo de visão (β2) para o mesmo objeto de comprimento L, quando visto pelo observador O2 situado à distância D2 desse objeto. (D) L/2 L/2 O1 β/2 Aula 2 Astronomia 43 Veja que essa representação (Figura 3 a e b) já evidencia a redução aparente do tamanho de um objeto, à medida que o observador se distancia do mesmo. Aqui nosso “objeto” é o comprimento L, o qual cabe num ângulo cada vez menor, à medida que o observador se distancia dele (β2 < β1). Agora, vejamos o quão menor parecerá o deslocamento DTS para os dois observadores propostos. O ângulo de visão (β1) com que percebemos um objeto L a uma distância D encontra-se indicado (β/2) pela Figura 4. Figura 4 – Triângulo retângulo, obtido a partir da descrição de um objeto de comprimento L, visto por um observador O situado a uma distância D do mesmo. Esse ângulo, portanto, é obtido através da expressão: tg(β/2) = L/(2D) (Equação 1). No nosso caso, o valor de L é igual ao diâmetro da órbita da Terra ao redor do Sol, aproximadamente 3 × 108 km. Calculando os ângulos para cada observador proposto, temos: a) para um observador em Júpiter, O 1 , adotaremos a distância D 1 , entre ele e o centro do deslocamento, como a distância média entre Júpiter e o Sol, ou seja, D1 = 778.330.000 km ≈ 7, 8 × 108 km . Substituindo L e D1 na Equação 1, obtemos: tg(β1/2) = L/(2D1) = (3 × 108 km)/(2 × 7, 8 × 108 km) = 0, 19. Utilizando a função inversa da tangente (veja na disciplina de Pré-Cálculo, aula 15 – Funções trigonométricas inversas), obtemos o valor de (β1) : β1/2 = arctg(0, 19) ≈ 10o, 9 , o que nos dá o valor de β1 = 21o, 8. b) para um observador O 2 em Próxima de Centauro, D2 = DPróxCent = 4 anos-luz . O valor de 1 ano-luz em quilômetros é 9, 46 × 1012 km , o que nos dá: D2 = 4 × 9, 46 × 1012 km = 3, 78 × 1013 km . Com isso, tg(β2/2) = L/(2D2) = (3, 0 × 108 km)/(2 × 3, 78 × 1013 km) ≈ 3, 97 × 10−6. β2/2 ≈ 2o, 28 × 10−4 , ou seja, β2 ≈ 4o, 56 × 10−4 . diego Realce diego Realce Atividade 3 Aula 2 Astronomia44 Vemos que, de Júpiter, o deslocamento angular associado ao deslocamento real DTS é percebido sob um ângulo facilmente perceptível a olho nu, aproximadamente 20º. Utilize um transferidor para se certifi car dessa afi rmação. Vemos ainda que, de “Próxima”, o mesmo deslocamento DTS corresponderia a uma distância angular de cerca de meio milésimo de um grau, insignifi cante a olho nu. Procure, novamente, imaginar esse ângulo com a ajuda de um transferidor. A comparação numérica entre os dois valores obtidos nos dá: β2/β1 = 4o, 56 × 10−4/(21o, 8) = 2, 1 × 10−5 . Isto é, o ângulo subtendido pelo deslocamento em análise é reduzido por um fator multiplicativo da ordem de centésimos de milésimo! Isso indica uma redução drástica na aparência de deslocamentos signifi cativos das estrelas distantes. Os cálculos que fi zemos utilizaram a distância da estrela Próxima de Centauro, a mais próxima do Sistema Solar. Parece razoável considerarmos estrelas ainda mais longínquas como fi xas, umas em relação às outras, e utilizar sua distribuição no céu comoreferência para descrever outros acontecimentos. Ao longo da aula, utilizaremos algumas aproximações nas representações dos corpos envolvidos em nossa temática. A fi m de analisar a pertinência dessas aproximações, propomos a atividade 3. Desenvolva alguns cálculos simples e compare as seguintes medidas. a) O raio da Terra (6.400Km) e a distância entre o centro da Terra e a estrela Próxima de Centauro (a 4 anos-luz). Esse resultado permite representar a Terra como um ponto no centro da esfera celeste, quando medimos posições angulares das estrelas. b) O ângulo em que um observador em Próxima de Centauro visualiza um deslocamento DTS igual ao diâmetro da órbita da Terra ao redor do Sol, e o ângulo em que um observador na estrela Gliese 581, que dista 20,5 anos-luz da Terra, visualiza esse mesmo deslocamento. Gliese 581 Gliese 581 é uma estrela da constelação de Libra; em 2007, foi encontrado junto a ela o primeiro planeta fora do Sistema Solar tido como habitável. Aula 2 Astronomia 45 Movimento e espaço: pontos e linhas de referência Em função dos exercícios que acabamos de realizar, adotaremos as estrelas como um mapa estável da esfera celeste. Vamos agora analisar informações sobre o movimento dessa esfera. Embora não evidenciem nenhuma mudança de posição entre si, quando fi zemos a nossa observação noturna na aula 1, você foi levado(a) a perceber que, ao longo da noite, as constelações mudam coletivamente de lugar. Se tiver oportunidade de observar o céu durante uma noite inteira, perceberá que essas constelações, e a esfera celeste como um todo, parecem girar ao redor da Terra através de um eixo imaginário. Também o Sol, a Lua, planetas e outros corpos no céu participam desse movimento coletivo da esfera celeste, ou seja, movem-se com a esfera ao longo de aproximadamente 24 horas, enquanto se deslocam simultaneamente através da esfera, em períodos que lhes são característicos. Hoje sabemos que o movimento de rotação da esfera celeste em relação a nós, que se completa repetidamente em cerca de 24 horas, poderá ser visto de outro referencial, como resultado da rotação da própria Terra em torno de um eixo imaginário que passa pelo centro dela. Alguém que estivesse observando nosso planeta de uma posição fi xa “em relação ao centro do Sol”, diria: “é a Terra, ao girar, que leva à percepção de que todos os outros astros estão girando ao redor dela”. Na aula 8 (Sistemas cosmológicos), você irá acompanhar a história dessa difícil mudança de pensamento, que nos levou a aceitar que a Terra estivesse em movimento. Por enquanto, para entender essa perspectiva, você pode usar uma comparação que, embora não correspondendo exatamente à situação real, ajuda a pensá-la sob outra perspectiva. No caso, você pode se imaginar num carrossel gigante, que gira lentamente à frente de uma pessoa parada no banco de uma praça (Figura 5). Do carrossel, você descreverá árvores, bancos de praça, brinquedos e estrelas, passando na sua frente (Figura 6). De fato, você verá as coisas girando, no sentido oposto àquele que a pessoa do parque descreveria o seu giro no carrossel. Figura 5 – Pessoa no banco de uma praça observando um carrossel que gira à sua frente. diego Realce diego Realce Equador Celeste Equador Terrestre Eixo de rotação da terra S´ N´ N S Eixo do mundo Aula 2 Astronomia46 Se você estiver girando da sua direita para a esquerda, irá descrever as coisas da praça se movendo da sua esquerda para a direita: “aquela árvore está saindo da minha esquerda, passando pela minha frente, e agora indo para a minha direita”. Teste essa afirmação, verbalizando o movimento de algum objeto à sua frente, enquanto gira de pé ao redor de si mesmo. De modo semelhante, como mostra a Figura 7, a Terra gira ao redor de si mesma no sentido oeste para leste, que é o sentido oposto àquele no qual percebemos o movimento diário do Sol, da Lua ou ainda da esfera celeste: do nascente (leste), ao poente (oeste). Figura 6 – Visão que a pessoa sobre o carrossel tem das coisas ao seu redor. Figura 7 – Linhas e pontos de referência na superfície da Terra e na esfera celeste, defi nidas a partir do movimento de rotação do nosso planeta. O movimento de rotação da Terra em relação aos astros ou, se adotarmos o referencial da Terra, o movimento de rotação da esfera celeste em relação a nós, determina pontos e linhas de referência importantes para a localização de observadores na superfície da Terra e para a observação dos astros no céu. Você, muito provavelmente, já entrou em contato com alguns desses pontos e linhas nas aulas de Geografi a, no Ensino Fundamental e Médio. Esperamos agora que entenda a relação entre essas referências e o movimento da Terra. Para começar, vemos na Figura 7 que o movimento de rotação do nosso planeta permite diferenciar dois pontos da superfície terrestre, que são os Pólos geográfi cos Norte e Sul. Estes são os pontos de intersecção entre o eixo de rotação da Terra e a superfície do planeta. Ainda com a ajuda dessa fi gura, você poderá visualizar duas intersecções do prolongamento do eixo de rotação da Terra com a Fonte: http://www.vialattea.net/eratostene/gloss/asse.html. Acesso em: 17 jun. 2007. diego Realce diego Realce diego Realce Atividade 4 Paralelo Meridiano N S Aula 2 Astronomia 47 esfera celeste, que nos dão, analogamente, dois importantes pontos de referência no céu, os Pólos celestes: Norte e Sul. O Equador terrestre é uma linha circular imaginária sobre a superfície da Terra, situada num plano perpendicular ao eixo de rotação (Norte-Sul), que divide o planeta em duas metades idênticas. Chamamos essas semi-esferas de hemisférios Norte e Sul do globo terrestre. Você deve lembrar que outras linhas imaginárias de circunferências na superfície da Terra, “paralelas” ao Equador, também poderão ser usadas como referência para localizar pontos sobre a Terra, recebendo por isso o nome de paralelos (Figura 8). Defi nimos ainda os meridianos como semicircunferências imaginárias sobre a superfície da Terra que possuem direção perpendicular ao Equador e passam pelos Pólos geográfi cos (Figura 9). Para um dado observador, falamos do meridiano local que, no caso, é o meridiano que passa por esse observador. A partir das Figuras 7 e 8 e das defi nições de Equador terrestre e meridiano geográfi co local, defi na, de maneira semelhante: o Equador celeste e o meridiano celeste local. Teste o rigor da sua defi nição pedindo a um colega para achar essa linha, num desenho esquemático da Terra com a esfera celeste. Figura 8 – Linhas paralelas e meridianas, defi nidas a partir do Equador e do eixo Norte-Sul. Fonte: http://www.vialattea.net/eratostene/gloss/meridianiparalleli.html. Acesso em: 17 jun. 2007. diego Realce diego Realce diego Realce Atividade 5 10º 20º 30º 40º 50º 60º A 70º 80º 90º latitude Aula 2 Astronomia48 Movimento e espaço: as coordenadas geográfi cas Como você viu, paralelos e meridianos geográfi cos são linhas imaginárias utilizadas para localizar pontos sobre a superfície terrestre. Se adotarmos o modelo de uma esfera para a Terra, uma vez que estaremos numa superfície bidimensional, qualquer ponto sobre ela necessita apenas de duas informações ou coordenadas para ser precisamente identifi cado. As duas coordenadas que utilizamos, tomando como base os paralelos e os meridianos, são chamadas, respectivamente, de latitude e longitude e são conhecidas como coordenadas geográfi cas. A latitude é um número atribuído ao paralelo sobre o qual o ponto se encontra. Tal número corresponde ao ângulo que tem vértice no centro da Terra e é medido a partir da linha do Equador até o paralelo em que o ponto se encontra, seguindo-se sempre um mesmo meridiano. Pontos situados em paralelos “acima” do Equador possuem latitude Norte e pontos abaixo do Equador, latitude Sul. Pela própria defi nição de latitude, os valores que ela assume irão variar de 0º (pontossobre o Equador) até 90º, Norte ou Sul, a depender do ponto estar situado no hemisfério Norte ou no hemisfério Sul. Analise a Figura 9 e responda: quantos pontos possuem latitudes iguais a 90º? Quais são eles? Para fazer esta atividade, será necessário que você represente a Terra com uma bola (de isopor, com massa de modelar, de plástico, ou mesmo uma fruta), de aproximadamente 10 cm de diâmetro e espete nela qualquer material que lhe dê suporte (palito de churrasco, caneta, pedaço de madeira etc.), de maneira que o material atravesse todo “o globo”, passando pelo centro. Considerando que esse material simula o eixo de rotação da Terra, risque no globo a linha do Equador e outras linhas, paralelas a esta. Em seguida, distribua vários pontos sobre os paralelos e o Equador. Utilizando a defi nição de latitude, identifi que que pontos possuem: Figura 9 – Procedimento para identifi car a latitude de um ponto sobre a superfície da Terra. diego Realce Meridiano escolhido como referência 0º 30º A 15º longitude Aula 2 Astronomia 49 a) latitudes idênticas entre si; b) latitudes Norte; c) latitudes Sul; d) latitudes entre 45º Norte e 45º Sul (inclusive 45º) Note que pontos sobre um mesmo paralelo possuem a mesma latitude. Desse modo, se quisermos informar precisamente a localização de um ponto específi co, será necessária outra informação que, no caso do sistema de coordenadas geográficas, é dada pela longitude. A longitude é um número atribuído ao meridiano no qual o ponto se encontra. Tal número corresponde ao ângulo que tem vértice no centro da Terra e é medido sobre o Equador, desde um meridiano de referência até o meridiano em que o ponto se encontra (Figura 10). As longitudes assumem valores de 0º (pontos sobre o meridiano de referência) até 180º, Leste ou Oeste, conforme o meridiano esteja a leste ou oeste do meridiano de referência. Longitudes a oeste são também descritas na forma de ângulos negativos. Você tem alguma idéia do critério a ser utilizado para escolher esse meridiano de referência? O Equador é escolhido como paralelo de referência por possuir um diferencial, que é dividir o globo terrestre em duas esferas iguais. Nenhum outro paralelo, ou linha circular perpendicular ao eixo de rotação, tem essa propriedade. No caso dos meridianos, algum deles se diferencia naturalmente dos demais? O que você acha? Você deve ter concluído que, diferentemente dos paralelos, não há nenhum atributo natural que diferencie os meridianos terrestres. Contudo, como veremos na aula 3 (Sincronismos e medidas de tempo: o dia solar), desde 1884 uma conferência internacional escolheu o Meridiano de Greenwich, na Inglaterra, para ser o meridiano de longitude 0º, a partir da qual se mediria as outras longitudes. Figura 10 – Procedimento para identifi car a longitude de um ponto sobre a superfície da Terra. Fonte: http://www.esteio.com.br/newsletters/imagens/006/o-loc-longit.gif. Acesso em: 30 jun. 2007. diego Realce Atividade 6 Aula 2 Astronomia50 Esperamos que as atividades 5 e 6 tenham lhe oferecido uma melhor visualização espacial e clareza na defi nição de latitude e longitude. Note que a defi nição dos Pólos Norte e Sul e dos paralelos e meridianos leva em consideração a rotação da Terra ou, alternativamente, a observação da rotação diária da esfera celeste. Se explorarmos um pouco mais o signifi cado desses paralelos e meridianos, que construímos a partir do movimento aparente da esfera celeste, veremos que é possível determinar nossa latitude e longitude sobre o globo terrestre, a partir da observação dos astros. Vamos, pois, caminhar um pouco mais nessa direção. Retome o globo que você fez na atividade 3. Nele, desenhe vários meridianos, passando pelos pontos que você já destacou anteriormente. Escolha um desses meridianos para ser o de Greenwich e, para os demais pontos, determine: a) os grupos que possuem a mesma longitude; b) os pontos com longitude Leste e os pontos com longitude Oeste; c) a longitude de um ponto que estaria exatamente oposto a um que se encontre no meridiano de Greenwich. Plano do horizonte, observador no Pólo sul Polo celeste Sul Zê ni te Polo celeste Norte b Plano do horizonte, observador no Equador Polo celeste Sul Zê ni te Polo celeste Norte a Aula 2 Astronomia 51 Coordenadas geográfi cas e percepção do movimento da esfera celeste Um fato interessante, já sugerido em outros momentos, é que o movimento aparente das estrelas é percebido de forma diferente, a depender da localização dos observadores. Você pode intuir isso, primeiro, imaginando o plano do horizonte para um observador no Equador (Figura 11a) e idealizando como ele perceberá o movimento das estrelas acima do horizonte, ao longo da noite. Imagine a esfera celeste girando do sentido Leste para o Oeste, ao redor do eixo Norte-Sul. Para esse observador no Equador, as estrelas se moverão em planos perpendiculares ao do horizonte. Enquanto mantém na sua imaginação o mesmo movimento da esfera celeste, “desloque” imaginariamente o plano do horizonte, do Equador para um dos pólos (Figura 11b), e verá que nessas localidades as estrelas parecerão se mover num plano paralelo ao do horizonte. Figura 11 – Indicação da parte da esfera celeste visível para um observador específi co sobre a superfície da Terra, em um dado instante. Fonte: <www.geocities.com/.../Hall/1018/observacoes.html> Acesso em: 21 jul. 2007. A Figura 12 ilustra essas duas situações, bem como a percepção que teria um observador em posição intermediária, entre o Equador e um dos pólos. Observe-a e interprete-a cuidadosamente. Atividade 7 Z = Zênite, P = Pólo, PS = Pólo sul, N = Norte, S = Sul, L = Leste, O = Oeste a b c Z = P Latitude = 90 N Z PS S φ Latitude = φ L O Z Latitude = 0 O L SN Aula 2 Astronomia52 Figura 12 – Movimento aparente da esfera celeste (simbolizado por uma estrela), visto por observadores a diferentes latitudes na superfície da Terra. Fonte: <http://www.if.ufrgs.br/~fatima/planisferio/Planisfe.htm em 17/06/2007>. Acesso em: 21 jul. 2007. Elabore dois desenhos esquemáticos. Num deles, represente a percepção do movimento noturno de uma estrela por um observador no Pólo Sul e, no outro, a percepção de um observador ao Norte do Equador. Utilize setas para indicar o sentido do movimento. Sugestão – Adote as Figuras 11 e 12 como apoio para a “visualização espacial”. Na Figura 12, temos: em A - a visualização do movimento da esfera celeste por alguém no Equador; em B - a visualização por um observador em qualquer dos pólos geográfi cos (veja que, para especifi car o pólo, teremos que defi nir o sentido do movimento da estrela, exercício que você fará na atividade 7); e em C – uma visualização que pode ser obtida girando- se o plano do horizonte do observador em A (no Equador) no sentido horário. Perceba que a posição ilustrada em C corresponde a caminharmos na superfície da Terra para o Sul, logo, o observador representado encontra-se ao Sul do Equador. Daí inclusive, o pólo Sul acima do seu horizonte. Para compreender melhor essas descrições e exercitar seu raciocínio espacial, faça a atividade 7. As guardas da cruz Alfa-centauro Mimosa Estrela de Magalhães Intrometida Pálida Rubideas Aula 2 Astronomia 53 Esses resu l t ados sugerem como a observação do céu nos permite inferir a nossa localização no globo terrestre. Os navegantes das civilizações mais antigas, no hemisfério Norte, já sabiam disso. Eles tomavam a posição da estrela polar (Figura 13) em relação ao horizonte, para localizar a direção Norte, que coincide com a posição daquela estrela. No hemisfério Sul, não existe a mesma coincidência de uma constelação ocupar a direção do Pólo celeste. Mas, podemos utilizar a posição de outras constelações para achar esse ponto. No caso, uma constelação utilizada em diferentes países e culturas com esse fi m é o Cruzeiro do Sul. Também chamada de “a Cruz Austral”,
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