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1 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto ASMA x BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA ➢ A Asma e a Bronquiolite Viral Aguda apresentam sinais e sintomas muito semelhantes, fazendo diagnóstico diferencial uma com a outra ASMA INTRODUÇÃO ➢ A asma é uma doença comum e potencialmente grave: • Tem alta demanda nos prontos-atendimentos no período sazonal (no inverno) • Caso não se consiga detectar precocemente a gravidade da doença e não se consiga manejar, pode-se ter um desfecho fatal para a criança ➢ Caracteriza-se, principalmente, por uma inflamação crônica das vias aéreas inferiores com períodos de agudização: • Ocorre um aumento da responsividade das vias aéreas a variados estímulos, com consequente obstrução ao fluxo aéreo, de caráter recorrente e tipicamente reversível (reverte-se espontaneamente ou com o uso de broncodilatadores) → na maioria das vezes necessita-se do uso de broncodilatadores para desobstruir as vias aéreas ➢ Quando suspeitar que o paciente está desenvolvendo um quadro de asma: • Quando ele apresenta episódios recorrentes de: ▪ Sibilos ▪ Dispneia ▪ Opressão torácica ▪ Tosse (particularmente à noite ou no início da manhã) • Esses sintomas ocorrem principalmente quando a criança está exposta aos fatores desencadeantes FISIOPATOLOGIA ➢ Comprometimento dos bronquíolos → decorre do edema de mucosa e da produção de muco ou de líquido inflamatório, que fazem com que a luz do bronquíolo fique extremamente diminuída/estreita, causando a dificuldade respiratória e as alterações vistas na ausculta do aparelho respiratório • Na ausculta pode-se ter (a depender do grau de obstrução da via aérea): ▪ Sibilos ▪ Estertores úmidos (estertores bolhosos) ▪ Tórax silencioso → ocorre nos quadros mais graves ➢ Na Asma, tem-se as seguintes alterações: • Hiperrresponsividade do tecido brônquico a fatores desencadeantes • Espessamento da parede de vias aéreas • Aumento do muco • Broncoconstrição • Limitação variável, principalmente do fluxo expiratório ➢ O que caracteriza o paciente asmático: • No início, a dificuldade respiratória do paciente ocorre na expiração, pois: ▪ A inspiração é um movimento dinâmico que necessita de força para “puxar” o ar. Assim, em um paciente asmático, nos quadros iniciais, à medida em que ele faz um esforço para inspirar, o ar consegue vencer a resistência da via aérea estreita, chegando ao pulmão ▪ Porém, a expiração é um movimento passivo, o que causa dificuldade nos asmáticos, pois eles não conseguem expulsar todo o ar que inspiraram, já que a via aérea desses pacientes se encontra obstruída ▪ Assim, ao mesmo tempo em que o asmático faz uma grande força para inspirar, conseguindo vencer a resistência, na expiração, que é um movimento passivo, ele não consegue colocar força para expulsar o ar. Dessa forma, esse paciente começa a reter o ar, caracterizando um pulmão hiperinsuflado, que é típico do asmático • Em quadros mais graves → o asmático apresentará dificuldade tanto na inspiração quanto na expiração FATORES DESENCADEANTES ➢ Infecções virais ➢ Atividade física ➢ Tabagismo passivo ou ativo (em casos de adolescentes) → porém, a maioria é pelo tabagismo passivo, por meio do contato com fumantes ➢ Mofo/Bolor (fungos) ➢ Pólen das flores ➢ Animais de estimação (o pelo desses animais) ➢ Bichinhos de pelúcia (também devido aos pelos) ➢ Fator emocional → pode ser um desencadeante das crises asmáticas PARA O DIAGNÓSTICO ➢ PRESUNÇÃO DIAGNÓSTICA → inicialmente, de acordo com o quadro do paciente, pode-se ter uma suspeita de que ele, possivelmente, seja asmático: • Paciente com história recorrente de sibilância e opressão torácica, por exemplo • Muitas vezes, o paciente relata dor no peito e, quando se investiga, observa-se que tem relação com problema pulmonar, e não cardíaco ➢ Deve-se identificar os critérios clínicos e funcionais, que são obtidos por meio dos seguintes: • Anamnese • Exame físico 2 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto • Exames de função pulmonar (Espirometria) ➢ Em crianças < 5 anos de idade → o diagnóstico de asma é predominantemente clínico, devido à dificuldade de realização de provas funcionais nessas crianças com menos de 5 anos • Assim, é muito difícil diagnosticar um quadro asmático nessas crianças, pois não se consegue realizar a espirometria • Atenção → uma espirometria negativa (ou não realizada) não exclui o diagnóstico de asma, pois em uma criança com fatores preditivos positivos associados a um quadro clínico característico, pode-se fechar o diagnóstico de asma • Ou seja, o diagnóstico de asma não necessariamente necessita da espirometria, pois o quadro epidemiológico e as características clínicas podem elucidar o diagnóstico. Porém, a espirometria é responsável por fornecer dados importantes sobre o quadro da criança ➢ Deve-se afastar outros diagnósticos DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ EM MENORES DE 5 ANOS DE IDADE → podem simular episódios recorrentes de sibilância: • Fibrose Cística • Malformações das vias aéreas • Bronquiolite Obliterante Pós-infecciosa: ▪ O paciente vira um sibilante crônico, não apenas na faixa etária < 2 anos que se resolve de forma espontânea, mas esse paciente se mantém sibilante por toda a vida • Aspiração de corpo estranho: ▪ Exemplo: paciente chega ao pronto-socorro com extremo desconforto respiratório, uso de musculatura acessória e queda da saturação de oxigênio → com esse quadro, pode-se até pensar em um quadro de asma, porém é essencial que se investigue a presença de um corpo estranho na via aérea dessa criança ▪ Para fazer o diagnóstico diferencial com a asma, deve- se perguntar sobre: ✓ Quando se iniciou o quadro de desconforto respiratório ✓ História de outros episódios de sibilância nessa criança ✓ Melhora ou não do quadro com uso de broncodilatador, caso ela tenha apresentado outros episódios de sibilância e desconforto respiratório ▪ Atenção → muitas vezes, quando se pergunta se a criança já apresentou outros quadros de desconforto respiratório, os pais afirmam apenas que ela já se cansou outras vezes. Porém, “cansar” não necessariamente significa sibilar ✓ Assim, deve-se perguntar se esse cansaço é precedido de tosse e se há melhora quando se faz uso de alguma medicação, como bombinhas ou nebulização com Berotec ✓ Muitas patologias outras patologias, inclusive cardíacas, podem simular um “cansaço” quando, na verdade, o paciente pode ter uma cardiopatia que está sendo confundida com asma ➢ Para que seja feito o diagnóstico diferencial, principalmente nessas crianças em que não se consegue realizar a espirometria, deve-se procurar por fatores de suspeição maior de asma. Assim, em quadros asmáticos, o que mais chamam atenção são: • Sinais e sintomas clínicos recorrentes e que pioram em períodos sazonais • Fatores preditivos maiores e menores ➢ Fatores Preditivos Maiores e Menores: • Tem-se maior risco para o desenvolvimento de asma nos pacientes com: ▪ Pelo menos 1 fator de risco maior ou ▪ Pelo menor 2 fatores de risco menores • Fatores de risco maiores: ▪ História familiar positiva (pais ou irmãos com asma) ▪ Criança com dermatite atópica ou eczema • Fatores de risco menores: ▪ Criança com Rinite alérgica ▪ Presença de Eosinofilia (> 4%) ▪ Sibilância na ausência de infecções virais: ✓ A sibilância na presença de uma infecção viral, no momento, é excluída como fator preditivo menor para asma, pois infecções virais podem causar sibilância. Assim, não há como caracterizar a sibilância como sendo associada à asma DIAGNÓSTICO ➢ ANAMNESE: • Deve-se buscar associar o quadro clínico com os fatores preditivos maiores ou menores para a doença e a probabilidade de os sinais e sintomas indicarem um quadro asmático• Quadro Clínico: ▪ Sibilos: ✓ Muitos pais chegam afirmando que a criança está com um “chiado no peito” ▪ Tosse noturna ou pela manhã: ✓ Inicialmente é uma tosse seca → é um indício de broncoespasmo ✓ 12 a 24 horas após o início, essa tosse passa a ser uma tosse produtiva → como o processo inflamatório já se encontra instalado após esse período, começa-se a ter mediadores inflamatórios e produção de muco, que serão lançados na luz dos brônquios. Assim, a tosse passa a ser uma tosse produtiva ▪ Dificuldade para respirar (Dispneia): ✓ A broncoconstrição e a produção excessiva de muco dificultam a entrada do ar, fazendo com que essa criança apresente dificuldade para respirar ▪ Aperto no peito (opressão torácica): ✓ Crianças mais velhas relatam sensação de dor no peito, devido ao esforço que ela está tendo para manter a troca gasosa pulmonar 3 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto ▪ O que geralmente se vê na prática: ✓ Os pais da criança afirmam que a criança começou a tossir bastante, sendo inicialmente uma tosse seca e, geralmente, depois de 12 a 24 horas após o início da tosse, referem que a criança começou a “chiar” e a cansar, apresentando também uma tosse produtiva • Maior probabilidade de ser um quadro asmático: ▪ Mais de um tipo de sintoma característico ▪ Sinais e sintomas pioram à noite ou ao despertar ▪ Sinais e sintomas variam de intensidade ao longo do tempo ▪ Quadro clínico associado a fatores desencadeadores: ✓ Exemplo: criança sempre ao entrar em contato com o gato de estimação apresenta tosse, cansaço e chiado no peito → nesse caso, além do quadro clínico, a presença de um fator desencadeante aumenta as probabilidades de o quadro se tratar de uma asma ➢ EXAME FÍSICO: • Sibilos Expiratórios: ▪ São mais característicos dos asmáticos crônicos e daqueles que são caracterizados por ter uma asma não controlada ▪ Ocorrem pelo fato de a expiração ser um movimento passivo, no qual a musculatura ventilatória não é adaptada para forçar a expiração. Dessa forma, a criança não consegue vencer a resistência presente em sua via aérea ao expirar, causando-se os sibilos expiratórios • Sibilos Inspiratórios + Expiratórios: ▪ Ocorrem em quadros asmáticos mais graves ▪ Os sibilos inspiratórios ocorrem quando essa criança não consegue mais fazer força suficiente para puxar o ar para os pulmões na inspiração • Tórax silencioso (Silencio Ventilatório): ▪ Acontece quando a criança já utilizou todo o seu esforço e musculatura ventilatória ▪ Ocorre em crises asmáticas gravíssimas (exacerbações), quando o paciente já se encontra em exaustão e em franca insuficiência respiratória. Assim, não há presença de sibilos, pois toda a via aérea desse paciente se encontra fechada ▪ Esses pacientes irão apresentar: ✓ Baixa saturação de oxigênio ✓ Nível de consciência comprometido → pois estará em hipóxia grave e com grande retenção de CO2 ✓ Ausência de entrada ou saída de ar (ausência dos sibilos) • Deformidades Torácicas: ▪ Quando a criança está no período intercrise (sem crise), a presença de deformidades torácicas indica a quantidade de esforço respiratório que essa criança faz → Deformidades: ✓ Pectus Excavatum ✓ Pectus Carinatum ▪ Às vezes, a presença de uma deformidade torácica pode também indicar que a sibilância e a dificuldade respiratória da criança são decorrentes dessa limitação estrutural, e não de um quadro asmático, como, por exemplo: ✓ Escoliose → pode haver uma restrição funcional na expansividade torácica • Sinais de Esforço Respiratório: ▪ Tiragem intercostal: ✓ As fibras musculares que responsáveis pela tiragem intercostal são aquelas fibras externas que respondem primeiro. Assim, qualquer mínimo esforço respiratório pode ser associado a tiragem intercostal ✓ Não é valor preditivo de gravidade → Apenas a presença de tiragem intercostal não é sinal de gravidade, mas sim, no mínimo, um sinal de alerta que indica que a criança está com um grau de desconforto respiratório ▪ Tiragem Subcostal: ✓ É fator de gravidade! ✓ Uso de fibras musculares mais internas e da musculatura diafragmática, que são indicativos de fator de gravidade, pois, quando o paciente não melhora da crise asmática e progride no esforço respiratório, ele começa a necessitar do esforço de outras fibras musculares ✓ Com a piora do quadro, essa criança vai necessitando cada vez mais do uso de outras musculaturas para manter a frequência respiratória e a saturação de oxigênio → assim, ele começa a fazer uso da musculatura superior: o Musculatura supraclavicular o Tiragem de fúrcula ▪ Batimento de Aleta Nasal (asa de nariz): ✓ À medida em que o paciente vai usando cada vez mais a musculatura superior, até chegar a batimento de aleta nasal, significa que essa criança se encontra em franca insuficiência respiratória ✓ Atenção → o fato de uma criança manter uma boa saturação (Ex: 96%) com muito esforço respiratório é muito mais preocupante do que aquele paciente que não tem um esforço respiratório tão grande associado a uma saturação relativamente menor (Ex: 94%) ➢ Atenção → o quadro clínico e o exame físico irão variar de acordo com o estágio/período da asma • Quando a criança está em crise → tem-se os sinais e sintomas característicos da doença • Quando a criança não está em crise → o que ajuda na elucidação diagnóstica é a história clínica pregressa dessa criança, pois o exame físico pode ser normal 4 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto TRATAMENTO ➢ Objetivo → melhora da qualidade de vida ➢ O tipo de tratamento depende do quadro do paciente: • Criança no período intercrise (sem sintomas) → tratamento intercrise (geralmente, nesses casos, os pais levam a criança para o ambulatório) • Criança com exacerbação da asma (os pais levam para o pronto-socorro) → inicialmente deve-se tratar a exacerbação para que, posteriormente, enquadre-se um tratamento de manutenção na intercrise ➢ O tratamento pode ser caracterizado, na maior parte dos casos, por: • Medidas não farmacológicas (corresponde a 80% do tratamento): ▪ Medidas educativas ▪ Controle de fatores desencadeantes/agravantes ▪ Medidas de controle do ambiente e higienodietéticas • Farmacoterapia (corresponde a 20% do tratamento): ▪ Não adianta instaurar vários tipos de tratamento farmacológico para a criança se as medidas não farmacológicas não forem cumpridas TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ➢ CARACTERÍSTICAS GERAIS: • Objetivo → alcançar e manter o controle clínico (evitar as exacerbações) • Com base na anamnese e no exame físico detalhados, deve- se iniciar uma intervenção farmacológica planejada, que é baseada em uma das cinco etapas do GINA • Cinco etapas do GINA: ▪ Cada paciente deve ser alocado para uma dessas etapas de acordo com o tratamento atual e o seu nível de controle ➢ AVALIAÇÃO DO CONTROLE CLÍNICO ATUAL: ASMA CONTROLADA ASMA PARCIALMENTE CONTROLADA ASMA NÃO CONTROLADA Paciente que apresenta todos os parâmetros abaixo Paciente com 1 ou 2 dos parâmetros abaixo 3 ou mais dos parâmetros da asma parcialmente controlada PARÂMETROS Sintomas Diurnos Nenhum ou ≤ 2 por semana 3 ou mais por semana 3 ou mais por semana Limitação de atividades Nenhuma Qualquer limitação Qualquer limitação Sintomas e despertares noturnos Nenhum Qualquer sintoma Qualquer sintoma Necessidade de medicação de alívio Nenhuma ou ≤ 2 vezes por semana 3 ou mais por semana 3 ou mais por semana Função Pulmonar (PFE ou VEF1) Normal < 80% predito ou do melhor prévio (se conhecido) < 80% predito ou do melhor prévio (se conhecido) ➢ AVALIAÇÃO DOS RISCOS FUTUROS: • Exacerbações, instabilidade, declínio da função pulmonare efeitos adversos • Características que estão associadas com aumento dos riscos de eventos adversos no futuro: ▪ Mau controle clínico ▪ Exacerbações frequentes no ultimo ano ▪ Admissão prévia em UTI ▪ Baixo VEF1 ▪ Exposição à fumaça do tabaco ▪ Necessidade de usar medicações em altas dosagens ➢ TRATAMENTO FARMACOLÓGICO EM CRIANÇAS < 5 ANOS DE IDADE – ETAPAS DO GINA: • Após avaliar o controle clínico do paciente, deve-se encaixá- lo em uma das etapas do GINA para que seja iniciado o tratamento medicamentoso adequado • Ao colocar a criança em uma das etapas e iniciar o tratamento farmacológico, deve-se: ▪ Reavaliar o paciente a cada 3 meses para saber a resposta ao tratamento: ✓ Paciente estável (sem exacerbações e com bom controle clínico) → pode-se tentar voltar uma etapa de controle o Ex: paciente que estava na etapa 2 e que, depois de 90 dias, não apresentou piora do quadro, pode-se tentar colocá-lo na etapa 1 ✓ Paciente instável (com exacerbações mesmo fazendo uso da terapêutica adequada) → nesse 5 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto caso, deve-se elevar a etapa da terapêutica desse paciente • ETAPA 1: ▪ Beta-2 agonista de curta duração (SABA) ▪ Corticoide Inalatório (CI) intermitente → pode ou não ser associado ao SABA (ou seja, seu uso é facultativo) ✓ Hoje em dia, a tendencia é que se associe SABA + CI, já que a asma é uma doença inflamatória e, quando se tem um processo inflamatório instalado, utilizar apenas um broncodilatador de resgate não vai obter respostas tão boas • ETAPA 2: ▪ Beta-2 agonista de curta duração (SABA) ▪ Antileucotrieno (LTRA) ▪ Corticoide Inalatório Intermitente → dose baixa diária de corticoide inalatório • ETAPA 3: ▪ Beta-2 agonista de curta duração (SABA) ▪ Antileucotrieno (LTRA) ▪ Corticoide Inalatório → dobrar a dose baixa de corticoide • ETAPA 4: ▪ Beta-2 agonista de curta duração (SABA) ▪ Antileucotrieno (LTRA) ▪ Corticoide Inalatório → aumentar a frequência ▪ Corticoide Inalatório Intermitente → deve ser acrescentado • ETAPA 5: ▪ Quando o paciente chega nessa etapa, deve-se encaminhá-lo para o Pneumologista ➢ TRATAMENTO FARMACOLÓGICO EM CRIANÇAS > 5 ANOS DE IDADE – ETAPAS DO GINA: • ETAPA 1: ▪ Beta-2 agonista de curta duração (SABA) ▪ Corticoide Inalatório intermitente → deve ser associado ao SABA ➢ MANTER O CONTROLE DA DOENÇA: • O tratamento deve ser ajustado de acordo com o estado de controle do paciente • Se a asma não for controlada com a terapêutica instaurada na etapa em que se colocou o paciente → deve-se subir uma etapa • Quando se obtém o controle da doença mantido por pelo menos 3 meses → pode-se reduzir a etapa do paciente, diminuindo-se os medicamentos EXACERBAÇÕES/CRISE DE ASMA ➢ CARACTERÍSTICAS GERAIS: • As exacerbações são manifestações comuns na vida do asmático • São uma causa de grande morbimorbidade • A manutenção do controle da asma reduz o risco de exacerbações e de óbito • As crises asmáticas são uma das maiores causas de atendimentos em serviços de emergência e de hospitalizações • As exacerbações ocorrem de forma gradual, com deterioração clínica progressiva em um período de 5 a 7 dias • Causas mais comuns de exacerbações: ▪ Infecções virais ▪ Exposição a alérgenos ambientais ➢ AVALIAÇÃO INICIAL DA GRAVIDADE DA CRISE DE ASMA EM LACTENTES E PRÉ-ESCOLARES: SINTOMAS LEVE MODERADA/GRAVE Alteração da consciência Não Agitação, confusão, sonolência Oximetria no início do quadro (SaO2) > 95% < 92% Fala Fala frases Somente palavras Pulso < 100 bpm > 200 bpm (0 a 3 anos) > 180 bpm (4 a 5 anos) Cianose central Ausente Pode estar presente Sibilos (intensidade) Variável Tórax pode estar silencioso • O manejo da crise asmática é de acordo com a gravidade dessa exacerbação ➢ TRATAMENTO DAS EXACERBAÇÕES: • O manejo da crise asmática baseia-se nos seguintes: ▪ Quadro clínico ▪ Avaliação objetiva da limitação ao fluxo aéreo (por Espirometria ou por PFE – Pico de Fluxo Expiratório) ▪ Verificação da oximetria → é uma das principais medidas, pois deve-se saber a saturação dessa criança para se ter noção do quanto de oxigênio que ela irá precisar ✓ < 94% = hipoxemia → nesse caso, deve-se colocar um suporte de O2 nesse paciente • OXIGENOTERAPIA: ▪ Meta de SpO2 nas crianças → ≥ 94 – 95% ▪ Escolha do dispositivo de oferta de O2: ✓ Ex: cateter nasal, Venturi, máscara facial simples 6 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto ✓ A escolha do sistema depende da disponibilidade de equipamentos em um dado serviço, devendo ser baseada: o No grau de hipoxemia o Nos sinais clínicos de disfunção respiratória o Na adaptação/conforto do paciente ▪ Atenção → Exemplo: paciente com saturação de 97%, porém com grande esforço respiratório, que é visto através da presença de batimento de asa de nariz ✓ Nesse caso, mesmo com a saturação boa, esse paciente deve receber oxigenioterapia, pois ele está com uma insuficiência respiratória (uso de musculatura acessória) • BRONCODILATADORES DE CURTA DURAÇÃO: SALBUTAMOL → é o preferencialmente utilizado no pronto atendimento ✓ É um Beta2 de curta duração seletivo para a musculatura lisa brônquica. Assim, ele não terá o efeito Beta cardíaco FENOTEROL (Berotec®): ✓ Também apresenta efeito beta cardíaco ▪ Como o paciente apresenta broncoconstrição, ele necessita fazer uso de um broncodilatador de curta duração ▪ Como usar: ✓ Deve-se fazer doses repetidas de β2-agonistas por via inalatória com ou sem Brometo de Ipratropio, de acordo com a gravidade ✓ São 3 ciclos, com 1 ciclo a cada 20 minutos na primeira hora → em cada ciclo desses deve-se fazer 1 jato para cada 2 a 3kg, não excedendo-se os 10 jatos por ciclo ▪ Doses: ✓ 1 jato para cada 2kg de peso ou 1 jato para cada 3kg de peso (não excedendo 10 jatos por vez): o Paciente com franca insuficiência respiratória → fazer 1 jato por cada 2kg de peso (Ex: em um paciente com 14kg deve-se fazer 7 jatos) ✓ Dose máxima: 10 jatos por vez ▪ Dispositivos: ✓ Inalador pressurizado acoplado com espaçador valvulado ou não valvulado → é a famosa bombinha, sendo o mais utilizado ✓ Nebulizadores → a vantagem é que se pode acoplar o oxigênio o Assim, quando se tem um paciente em oxigenioterapia, para que se utilize a bombinha é necessário retirar o suporte de O2, o que não ocorre com os nebulizadores • CORTICOIDES: ▪ Corticoides Sistêmicos → são essenciais e devem ser usados precocemente ▪ A depender do grau da crise do paciente, instaura-se o corticoide já na primeira hora → principalmente na crise moderada a grave ▪ O uso de corticoide chega a ser tão importante quando o uso de broncodilatadores ▪ Quando usar o Corticoide: ✓ Crise leve → o corticoide não é usado na primeira hora o Assim, nessa primeira hora faz-se o B2- agonista, os 3 ciclos, com 1 a cada 20 minutos o Se o paciente não melhorar com o broncodilatador na primeira hora → utilizar corticoide na segunda hora ✓ Crise moderada a grave → usar corticoide na primeira hora ▪ Ações: ✓ Reduzem a inflamação ✓ Aceleram a recuperação ✓ Reduzem recidivas e hospitalizações ✓ Diminuem o risco de asma fatal ▪ Forma do Corticoide: ✓ Oral, inalatório ou parenteral ✓ Não existem evidências suficientes que suportem a utilização dos corticoides inalatórios em substituição aos orais ou parenterais no tratamento das exacerbações, tanto em adultos quanto em crianças → não se tem evidencias de que o corticoide inalatório consiga retirar essa criança da crise ✓ Se o paciente já fazia uso de corticoide inalatório na fase de manutenção → na crise, mantém-se o corticoide inalatório e acrescenta-se o corticoide oral ou endovenoso ✓ Se o paciente não fazia uso de corticoideinalatório na fase de manutenção → deve-se fazer uso do corticoide oral ou endovenoso já na primeira hora em uma crise de moderada a grave ✓ Corticoide Oral ou Endovenoso: HIDROCORTISONA endovenosa METILPREDNISOLONA endovenosa PREDNISOLONA oral o Ambos podem ser usados, pois apresentam efeito clínico equivalente (meia vida, mecanismo de ação e potência iguais) → corticoide endovenoso não age mais rápido que o oral! o O que determina o uso de um ou outro é justamente o nível de comprometimento respiratório do paciente: ❖ Paciente em franca insuficiência respiratória e nível de consciência prejudicado → corticoide endovenoso, pois ele não consegue ingerir a medicação oral ❖ Paciente com nível de consciência preservado (consegue falar e deglutir) → corticoide oral 7 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto ➢ ARSENAL TERAPÊUTICO QUE SE UTILIZA NO PRONTO-SOCORRO: TERAPIA DOSE E ADMINISTRAÇÃO Oxigênio Complementar - 24% fornecido por máscara facial (em geral 1L/min) - Manutenção SpO2 de 94 a 98% SABA Inalatório - 2 a 6 jatos de SALBUTAMOL com espaçador ou 2,5mg (10 gotas) por nebulizador a cada 20 minutos na primeira hora e, depois, reavaliar a gravidade - Se sintomas persistirem ou retornarem → aplicar 2 ou 3 jatos adicionais por hora - Hospitalizar caso sejam necessários mais de 10 jatos em um espaço de 3 a 4 horas Corticosteroide Sistêmico Dar uma dose inicial de um dos seguintes: - PREDNISOLONA oral → 1 a 2 mg/Kg até o máximo de 20 mg para crianças < 2 anos ou até 30mg para crianças entre 2 e 5 anos - METILPREDNOISOLONA endovenosa → 1 mg/Kg OUTRAS OPÇÕES NA PRIMEIRA HORA DE TRATAMENTO Brometo de Ipratrópio Para exacerbações moderadas a graves → aplicar 2 jatos de Brometo de Ipratrópio 80 mcg (ou 250 mcg por nebulizador = 20 gotas) a cada 20 minutos somente por 1 hora Sulfato de Magnésio (MgSO4) Considerar uso de 3 doses de MgSO4 isotônico por nebulizador (150mg) na primeira hora para crianças ≥ 2 anos de idade com exacerbação grave (ou endovenoso 40 a 50 mg/Kg, máximo d 2g, de forma lenta) • Brometo de Ipratrópio: ▪ Ação → é um anticolinérgico que tende a potencializar o relaxamento da musculatura lisa e a diminuição da secreção ▪ SABA + Corticoide + Brometo de Ipratrópio → pode-se utilizar para que se melhore o mais rápido possível a broncoconstrição, o processo inflamatório e o muco que está obstruindo a entrada de ar na via aérea do paciente ▪ Quando utilizar: ✓ Paciente com crise leve fez os 3 ciclos de SABA (Salbutamol) na primeira hora e não houve melhora → usar Salbutamol + Brometo de Ipratrópio na segunda hora o Faz-se os 3 ciclos na segunda hora ✓ Paciente com crise moderada a grave → pode- se usar Salbutamol + Brometo de Ipratrópio já na primeira hora ▪ Atenção → faz-se apenas os 3 ciclos (1 a cada 20 minutos) ✓ Não existem evidências de manter o Ipratrópio de manutenção • Sulfato de Magnésio: ▪ Ação → é um relaxante da musculatura lisa, promovendo a broncodilatação ▪ Quando utilizar: ✓ Nos casos em que já se fez o uso de SABA + Corticoide + Brometo de Ipratrópio (seja na primeira ou na segunda hora) e não houve melhora do quadro ▪ Sulfato de Magnésio endovenoso → seu uso está bem pautado às evidências ▪ Sulfato de Magnésio inalatório → seu uso ainda é algo novo, sendo falado no GINA de 2021 (ainda não existem evidência concretas. Por isso que se utiliza mais o endovenoso) ➢ AVALIAÇÃO DA RESPOSTA AO TRATAMENTO: • Avaliação da resposta terapêutica → deve ser feita 30 a 60 minutos após o tratamento inicial, com reclassificação da gravidade do paciente • SpO2 → é o parâmetro que melhor se correlaciona com a gravidade • Liberação para domicílio: ▪ Pacientes com boa resposta ao tratamento que não apresentam sinais de gravidade, com SpO2 > 95% → podem ser liberados para o domicílio • Internação Hospitalar: ▪ Pacientes que permanecerem com critérios clínicos de maior gravidade (SpO2 < 94%, após tratamento rotineiro pleno na emergência ou alguma complicação) → internação hospitalar ▪ Se houve necessidade de Sulfatar o paciente (Sulfato de Magnésio) → isso significa que o paciente tem uma crise moderada a grave com dificuldade de resposta à terapêutica. Assim, deve-se internar esse paciente ▪ Os critérios de internação devem ser menos rígidos para os pacientes com problemas socioeconômicos, em especial aqueles sem condições de tratamento domiciliar adequado ou com dificuldade de acesso a tratamento hospitalar → quando a família não tem noção da gravidade do quadro, por exemplo, correndo- se o risco de não se preocuparem tanto com o quadro do paciente, mesmo que o paciente responda bem aos tratamentos instaurados, em alguns casos, deve-se internar esse paciente • Quando transferir o paciente para a UTI → quando ele apresenta pelo menos 1 dos seguintes: ▪ Deterioração progressiva ▪ Manutenção dos critérios de exacerbação muito grave ▪ Necessidade de ventilação mecânica ▪ Ocorrência de parada cardiorrespiratória ➢ CONDUTA NA ALTA HOSPITALAR DOS SERÇOS DE EMERGÊNCIA: • Pacientes em condições de alta da emergência devem ser orientados a: ▪ Iniciar ou manter medicação preventiva por via inalatória ▪ Orientar a família sobre o controle do ambiente ▪ Usar corretamente os dispositivos inalatórios ▪ Usar prednisona ou prednisolona • A elaboração de um plano de ação na alta pode aumentar a adesão ao uso de corticosteroides inalatórios e melhorar o controle da asma • Pacientes devem ser encaminhados para programas de educação em asma ou para consulta médica em até 7 dias após a alta do pronto-socorro • Exacerbação grave ou asma persistente grave → consulta com um especialista 8 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA INTRODUÇÃO ➢ DEFINIÇÃO: • A bronquiolite é um quadro viral. Assim, todas as manifestações clínicas que o paciente irá apresentar são decorrentes de uma infecção viral ▪ Bronquiolite x Asma → na asma, não necessariamente haverá uma infecção viral para desencadear o quadro asmático, pois na asma o simples contato com alérgenos pode desencadear uma crise, por exemplo. Já a bronquiolite sempre será associada a infecção viral • A bronquiolite é o primeiro episódio de sibilância do lactente (< 2 anos de idade): ▪ Assim, sempre que se está diante de um lactente sibilante, deve-se pensar na Bronquiolite para o diagnóstico diferencial • Trata-se de uma obstrução inflamatória das pequenas vias aéreas, com a gravidade dependendo do grau dessa obstrução, indo desde leve a formas mais graves de apresentação clínica ▪ Bronquiolite x Asma → na asma não há o comprometimento apenas das pequenas vias aéreas, pois pode haver acometimento até mesmo da grande via aérea ➢ EPIDEMIOLOGIA: • É a principal infecção das vias aéreas inferiores em crianças < 2 anos de idade em todo o mundo • A bronquiolite é considerada a principal causa de hospitalização no primeiro ano de vida, com pico até os 6 meses de vida ▪ No período sazonal (inverno) são muito comuns quadros de crianças de 3 a 6 meses de idade, por exemplo, com desconforto respiratório decorrente de uma bronquiolite ETIOLOGIA ➢ Vírus Respiratório Sincicial Humano (VRSH) → é o principal patógeno • 70 a 80% dos casos de Bronquiolite viral aguda são causadas pelo vírus respiratório sincicial humano • Tem predomínio nas estações de outono e inverno • Assim, dificilmente tem-se bronquiolites no período do verão ➢ Adenovírus ➢ Influenza ➢ Rinovírus ➢ Parainfluenza TRANSMISSÃO ➢ A transmissão ocorre normalmente por contato direto ou próximo com secreções contaminadas (tosse, espirros...) • Assim, pessoas com a doença podem passar para essas crianças por meio de tosse ou espirros, por exemplo➢ Fonte de infecção → geralmente, é um membro da família ou da creche/escola • Crianças que vivem em ambientes de muita aglomeração tem um maior risco de transmissão ➢ Período de incubação → 2 a 8 dias, com média de 4 a 6 dias de duração • É imprescindível que se saiba o período de incubação, pois é um quadro viral e apresenta começo, meio e fim • Bronquiolite > 8 dias - Exemplo: criança internada com quadro de bronquiolite viral aguda (primeiro episódio de sibilância) há mais de 8 dias e sem melhora do quadro (continua dependente de O2 e com muito desconforto respiratório) → pelo período de incubação, esse quadro deveria ter melhorado até no máximo 8 dias porém. Nesse caso, deve-se pensar que em uma das seguintes causas para esse prolongamento da doença: ▪ Além da bronquiolite, a criança pode estar apresentando algum outro quadro, como uma infecção bacteriana secundária ▪ O diagnóstico de bronquiolite viral pode ter sido errôneo e essa criança apresenta outra doença FISIOPATOGENIA ➢ Há comprometimento da pequena via aérea → bronquíolos ➢ Como toda doença viral, ocorre um estímulo da mucosa que reveste os bronquíolos a produzir muito muco • Na bronquiolite tem-se um processo inflamatório devido a presença do vírus na mucosa lisa dos bronquíolos → assim, o vírus aumenta a produção de muco, que será responsável pela dificuldade da entrada do ar. Dessa forma, na bronquiolite tem-se, principalmente, sibilos inspiratórios, pois não se tem broncoconstrição na bronquiolite, mas sim diminuição da luz pelo preenchimento com muco (externamente o bronquíolo permanece com o diâmetro do mesmo tamanho) • Quadro clínico → a redução da luz dos bronquíolos pelo preenchimento com muco pode causar um quadro semelhante ao da asma ▪ Sibilos → são principalmente inspiratórios, diferentemente da asma, que são expiratórios ✓ Decorre da passagem do ar por uma luz estreita que, no caso da bronquiolite, decorre do acúmulo de muco e não da vasoconstrição ▪ Estertores Bolhosos → devido à dificuldade da passagem do ar pela reduzida luz dos bronquíolos pela presença de muco. Assim, o ar passando por um meio líquido promove crepitação bolhosa • Na asma: ▪ Na asma o muco é decorrente de um processo inflamatório, no qual estimula-se os mediadores inflamatórios de forma crônica e desencadeia-se o remodelamento de toda a árvore respiratória ▪ Há diminuição da luz e do diâmetro total dos bronquíolos, devido à vasoconstrição ▪ Tem-se principalmente sibilos expiratórios 9 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto ➢ A inoculação do Vírus sincicial respiratório ocorre provavelmente pela superfície da mucosa nasal nas vias aéreas superiores • Em 4 a 6 dias atinge as vias aéreas inferiores, resultando em inflamação do epitélio brônquico e infiltração peribronquiolar por linfócitos e edema de submucosa e adventícia • Há obstrução e diminuição do calibre da via aérea com subsequente atelectasia e distúrbio da ventilação e perfusão, que pode levar à hipoxemia FATORES DE RISCO ➢ Sexo masculino ➢ Prematuridade → é o principal fator de risco para o desenvolvimento de bronquiolite • O fator de risco está relacionado à imunidade. Assim, se essa criança prematura entrar em contato com o vírus sincicial respiratório ela irá desenvolver uma bronquiolite mais grave ➢ Tabagismo passivo ➢ Baixa idade ➢ Ausência de aleitamento materno → também é um importante fator de risco para o desenvolvimento de bronquiolite ➢ Doença pulmonar crônica → a bronquiolite é fator de risco para agravamento da doença de base, tendo pior desfecho ➢ Cardiopatia congênita → a presença de doença de base contribui para um pior desfecho da doença ➢ Baixo nível socioeconômico ➢ Baixo peso ao nascer QUADRO CLÍNICO ➢ História natural da doença: • Tem um quadro bastante clássico e em crianças < 2 anos de idade → criança que nunca apresentou cansaço ou sibilou, que teve um pródromo de um resfriado com ou sem febre e que, com 24 a 48 horas depois, apresentou desconforto respiratório • Exemplo: criança com 1 ano e 2 meses que começou a ter coriza e tosse e, depois de 24 a 48 horas, ele começou a ficar cansado e a “chiar” o peito ➢ No início → semelhante a um resfriado comum • Coriza hialina • Tosse seca • Febre usualmente baixa ➢ 2 a 3 dias após o início → ocorre evolução dos sintomas • Taquipneia • Sibilos • Tiragem intercostal → podendo piorar para uma tiragem subcostal ou até mesmo um batimento de asa de nariz ▪ O nível de desconforto respiratório está associado ao número de bronquíolos comprometidos • Febre pode estar elevada → a graduação da febre não está diretamente relacionada a gravidade da doença ➢ Na maioria dos casos, a bronquiolite é uma doença de evolução benigna e o que vai fazer com que se interne ou não o lactente é justamente o nível de desconforto respiratório que a criança apresenta e a questão socioeconômica da família QUANDO SUSPEITAR DE BRONQUIOLITE ➢ Deve-se pensar em Bronquiolite nos seguintes casos: • Nos períodos de sazonalidade (outono e inverno) • Idade < 2 anos (lactente) → deve ser um lactente, pois, caso não seja, não é considerada uma bronquiolite • Primeiro episódio de sibilância no lactente → é uma das principais características para se pensar em uma bronquiolite • Contato com pessoas com infecção de vias aéreas superiores • Período prodrômico de 2 a 3 dias com infecção de vias aéreas superiores (coriza, tosse seca, febre baixa) • Após o período prodrômico → quadro de obstrução de vias aéreas de intensidade variável com febre, taquipneia, sibilos, retração torácica, tempo de expiração prolongado e cianose ➢ Caso a criança preencha a maioria desses critérios, muito provavelmente se está diante de um quadro de bronquiolite ➢ Atenção → crianças que vivem em ambientes insalubres e que apresentam-se em situação de risco do ponto de vista socioeconômico, mesmo que não tenham fatores de risco clínicos, deve-se internar, pois viver nesse ambiente possivelmente pode fazer com que o quadro dessa criança piore AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR ➢ Características gerais: • Na bronquiolite, exames de imagem e exames laboratoriais podem não apresentar alterações • Assim, normalmente tem-se uma história clínica muito sugestiva da doença, mas nem sempre se tem, por exemplo, um leucograma típico de um quadro viral ➢ Exames Laboratoriais: • Leucograma → é inespecífico, tendo pouca utilidade diagnóstica ▪ Linfocitose → é característico de qualquer quadro viral ✓ Nesse caso, a associação da clínica da doença com o resultado de linfocitose indicando infecção viral pode ajudar na elucidação diagnóstica ➢ Oximetria de Pulso: • Saturação < 92% tem sido considerada preditor de gravidade: ▪ Considera-se a saturação < 92% para início de terapia com O2 pelo fato de que o epitélio respiratório de lactentes muito novos ainda está em desenvolvimento e o oxigênio é extremamente tóxico para esse epitélio ainda em fase de formação. Assim, a tolerância para o início da oxigenioterapia é um pouco maior do que nos casos de asma (na asma considera-se < 94%) • Deve-se sempre avaliar o nível de desconforto respiratório da criança e a saturação de O2 que ela apresenta para que se saiba quando é necessário o O2 • Para avaliar a necessidade de oxigenioterapia • Se a criança apresentar uma saturação > 92%, mas às custas de muito desconforto respiratório e com tiragem subcostal, por exemplo → deve-se iniciar oxigenioterapia 10 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto ➢ Radiografia de Tórax: • Pode-se ter: ▪ Áreas de Atelectasia → pois, como os bronquíolos estão obstruídos, há pouca quantidade de ar chegando ou não há entrada de ar nos alvéolos e eles acabam fechando ▪ Opacificação difusa (como se fosseminfiltrados): ✓ Ocorre devido à presença de muco na pequena via aérea (bronquíolos) → pois tudo que apresenta líquido no pulmão vê-se em algum grau de radiopacidade ▪ Sinais de Hiperinsuflação, como: ✓ Retificação do diafragma e dos arcos costais ✓ Hipertransparência pulmonar • Nem sempre é possível realizar ou visualizar algo no raio-x. Porém, é importante sempre ter em mente que a criança com bronquiolite apresenta algum grau de atelectasia alveolar e de obstrução dos bronquíolos por muco, que determinam o grau de desconforto respiratório e de hipóxia ➢ Identificação Viral: • Não se faz! • São mais utilizados em estudos epidemiológicos ou em períodos de surtos • Aspirado de Nasofaringe → possibilita a obtenção de amostra adequada para a detecção viral • Reação de cadeia de polimerase e cultura → são métodos usados para isolamento viral DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ Asma: • O que mais diferenciam a asma da bronquiolite são: ▪ Idade → a bronquiolite ocorre em lactentes (< 2 anos) ▪ Primeiro episódio de sibilância em um lactente → fala mais a favor de bronquiolite ➢ Pneumonia: • Pneumonias virais ➢ Fibrose Cística: • Tem-se outros achados na história clínica que podem remeter a pensar em fibrose cística → geralmente, a fibrose cística está associada a quadros de pneumonias graves e a uma história de ausência de liberação de mecônio nas primeiras 24 horas de vida dessa criança ➢ Corpo Estranho: • O que diferencia da bronquiolite é que na bronquiolite, como é devido a uma infecção viral, a criança apresentará pródromos catarrais (coriza, tosse...) para depois apresentar o quadro de sibilância e desconforto • A presença do corpo estranho faz com que a criança tenha quadros de tosse, mas não causa pródromos catarrais ➢ Malformações Pulmonares: • Discinesias mucociliares → são caracterizadas por quadros mais graves e recorrentes ➢ Cardiopatia Congênita e Insuficiência Cardíaca: • Tem-se a história de que a criança está apresentando cansaço, porém cansaço não é o mesmo que sibilância! • Por isso é essencial que também se faça a ausculta cardíaca dessas crianças TRATAMENTO ➢ CARACTERÍSTICAS GERAIS: • Como é uma doença viral, ela é autolimitada. Assim, nenhuma terapêutica medicamentosa instituída vai modificar a evolução da doença • Segundo literaturas, apenas 3% das crianças com bronquiolite viral aguda precisarão de internação • Porém, no Brasil, na realidade em que vivemos, a grande maioria dessas crianças com bronquiolite viral serão internadas, principalmente devido ao fato de viverem em ambientes insalubres e de estarem em condições sociais vulneráveis ➢ SUPORTE: • Oxigenioterapia → para manter SpO2 > 92% com conforto ▪ Pois não adianta uma criança estar saturando 97% com batimento de asa de nariz, por exemplo (isso não é o ideal, pois ainda indica desconforto respiratório significativo) • Hidratação adequada: ▪ O que causa a bronquiolite é a presença de muco na luz dos bronquíolos. Assim, esse muco fica bastante espesso e dificulta a entrada de ar. Dessa forma, deve- se deixar o muco mais fluido, para que ele não impressa essa entrada de ar ▪ Crianças com desconforto respiratório muito intenso perdem muita água pela respiração (persas insensíveis), devendo-se fazer a hidratação endovenosa ▪ Cuidado! → o excesso de hidratação pode fazer com que muito volume se distribua para o interstício, piorando a troca alvéolo-capilar e, consequentemente, o desconforto e a saturação de oxigênio ▪ Como hidratar: ✓ Quando a criança não tem Sinais de gravidade (Ex: sem queda da saturação ou esforço respiratório) → não há necessidade de internação, podendo- se orientar a família a hidratar essa criança com: o Aleitamento materno ao seio (se possível), quando a criança ainda está sendo exclusivamente amamentada o Água (quando a criança não está em aleitamento materno exclusivo) Opacificação Difusa 11 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto ✓ Quando a criança está internada → hidratação endovenosa (cerca de 80% da cota hídrica) e manutenção do aleitamento materno sempre que possível • Suporte nutricional: ▪ Não se pode deixar a criança em jejum! ▪ Tem-se o risco de broncoaspiração, mas isso não é contraindicação à alimentação da criança ▪ A grande maioria dos pacientes conseguem mamar diretamente ao seio, pois apresentam um desconforto de leve a moderado ▪ Caso a criança esteja com muito desconforto respiratório → deve-se passar uma sonda orofaríngea ou nasofaríngea, para que seja mantida a dieta dessa criança • Prevenção de aspirações: ▪ Em crianças com muito desconforto respiratório → passar sonda para que se alimente a criança e se evite a broncoaspiração ➢ TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: • Broncodilatadores (B2-agonista de curta duração - SABA): ▪ Evidências científicas mostram que os broncodilatadores não devem ser usados rotineiramente ▪ Está indicado o uso para teste terapêutico → faz uso e avalia se há melhora do desconforto da criança ✓ É usado para que se retire um dos fatores mecânicos que pioram o desconforto respiratório, que é a broncoconstrição ▪ Quando usar: ✓ Em crianças com quadro clássico de bronquiolite e com fatores preditivos positivos para asma → assim não se consegue diferenciar se ele está apenas com bronquiolite ou se está associada à asma também, por isso que nesses casos pode-se indicar o uso de broncodilatadores para teste terapêutico ▪ Como se usa: ✓ Faz-se os 3 ciclos de SABA em 1 hora (1 ciclo a cada 20 minutos) e observa-se a resposta à terapêutica: o Caso haja melhora clínica (Ex: melhora da saturação e da frequência respiratória) → isso não afasta a hipótese diagnóstica de bronquiolite, pois é o primeiro episódio de sibilância na vigência de um quadro viral em um lactente. Porém, deve-se pensar que essa criança pode ter intrinsecamente o fator genético para ser um asmático no futuro. Assim, mantém-se o broncodilatador o Caso não haja melhora alguma ou haja piora do quadro → significa que esse paciente tem uma bronquiolite pura. Assim, não adianta continuar mantendo o uso do broncodilatador, pois ela não tem broncoconstrição ▪ Asma x Bronquiolite: ✓ Exemplo: criança asmática que adquiriu uma IVAS e teve uma exacerbação da asma → nesse caso, tem-se 3 fatores que contribuem para o desconforto respiratório: o aumento da produção de muco em decorrência do quadro infeccioso, a presença do muco do processo inflamatório da asma e o aumento da broncoconstrição devido à exacerbação da asma, que obstruem as vias aéreas ✓ Em quadros de bronquiolite, teoricamente, tem-se apenas o excesso de muco na luz dos bronquíolos ✓ Exemplo: lactente de 1 ano de idade apresentando primeiro episódio de sibilância, com história de coriza e tosse que, após 1 a 2 dias, evoluíram com cansaço e sibilância → diagnostica-se esse paciente com bronquiolite de acordo com essa história característica. Porém, ao se perguntar aos pais sobre o histórico familiar eles afirmam que são asmáticos. Assim, essa criança tem fatores preditivos positivos para asma, apesar de o seu quadro ser clássico de uma bronquiolite. Dessa forma, essa criança pode estar apresentando tanto a asma quanto o quadro de bronquiolite viral, tendo-se excesso de muco associado a broncoconstrição. Diante disso, faz- se testes terapêuticos com broncodilatadores • Corticosteroides: ▪ Não há indicações para o seu uso na bronquiolite e nem nos casos em que se suspeita que no futuro essa criança possa ser asmática! ➢ FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA: • É realizada apenas para desobstruir vias aéreas superiores: ▪ Crianças com bronquiolite apresentam muita secreção de muco, causando obstruções. Assim, deve-se lavar bem as narinas, pois a maioria dos bebês só conseguemrespirar pelo nariz, e, quando necessário, a fisioterapia respiratória pode ser feita apenas para fazer uma aspiração delicada da via aérea superior dessa criança • Não melhora nenhum dos seguintes: ▪ Gravidade da doença ▪ Parâmetros respiratórios ▪ Tempo de internação hospitalar MEDIDAS PREVENTIVAS ➢ Medidas preventivas gerais para todas as crianças → são as medidas higienodietéticas que se utiliza para todas as doenças respiratórias de origem viral • Manter os ambientes arejados • Evitar aglomerações... ➢ Anticorpo Monoclonal humanizado para VSR, intramuscular: PALIVIZUMABE SYNAGIS • Dose: 15mg/kg → são 5 aplicações intramusculares (1 aplicação por mês) antes do período sazonal 12 ASMA E BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Gizelle Felinto • É uma medida preventiva contra a bronquiolite, que está disponível para os grupos de risco de gravidade (para aquelas crianças que não podem entrar em contato com o vírus sincicial respiratório, pois eles desenvolverem bronquiolite podem ter um desfecho ruim ou podem piorar a doença de base que já apresentam) • Indicações: ▪ < 24 meses de idade portadores de doença pulmonar cônica ou de cardiopatia congênita (principalmente aquelas com hiperfluxo pulmonar) ▪ História de prematuridade (< 32 semanas de gestação) ▪ Crianças com Síndrome de Down ▪ Crianças com diagnóstico de Fibrose Cística... BRONQUIOLITE OBLITERANTE (BOOP) ➢ Características gerais: • É a principal complicação da bronquiolite • São aqueles pacientes que evoluem com áreas de fibrose dos bronquíolos • Após a agressão na fase aguda da bronquiolite viral aguda, ocorre proliferação de fibroblastos e colágeno e obstrução fixa do fluxo aéreo • Não se sabe ao certo quais crianças podem ou não evoluir para essa complicação. Assim, o que se faz é observar o quadro: ▪ Exemplo: criança internada com bronquiolite que no 9º dia de doença ainda não consegue ter uma boa saturação sem desconforto respiratório ao se retirar a oxigenioterapia → isso não é algo normal de ocorrer. Assim, investiga-se a possibilidade de se tratar de outras doenças ou de uma pneumonia associada que justifiquem esse quadro. Quando se afasta qualquer outra possibilidade diagnóstica e essa criança continua sem melhora ou quadro ou até mesmo com piora, deve- se solicitar uma Tomografia de tórax para que se veja as áreas comprometidas do pulmão com fibrose, atelectasia e bronquiectasia • São quadros bastante graves que, em alguns casos, podem necessitar de transplante de pulmão quando o comprometimento é muito extenso ➢ Epidemiologia: • É raro de ocorrer • Aproximadamente 1% dos pacientes com bronquiolite podem desenvolver BOOP ➢ Etiologia: • Adenovírus → é o agente etiológico mais associado ➢ Diagnóstico: • É suspeitado quando os pacientes persistem com sintomas após mais de 6 semanas da fase aguda QUESTÕES 1. 2012 – UFPR: Um lactente de 6 meses apresenta quadro de febre, coriza e tosse. No 3° dia de evolução, apresenta piora do quadro, com dificuldade respiratória, sibilância, tiragem intercostal e subcostal. História familiar: mãe com asma. Não há história de outros episódios de sibilância. Nasceu de parto normal com 34 semanas de idade gestacional. O diagnóstico mais provável nesse caso é: a) Bronquiolite viral aguda b) Asma c) Fibrose cística d) Bronquiolite obliterante e) Doença pulmonar crônica da prematuridade Resposta: A → mesmo com a presença de história familiar positiva para asma, o primeiro diagnóstico a ser pensado, como é um primeiro caso de sibilância em um lactente, é de bronquiolite 2. 2013 – Hospital das Clínicas de Porto Alegre: Menino de 4 meses de idade, previamente hígido, com quadro de nasofaringite aguda de início há 5 dias, evoluiu com tosse e dificuldade respiratória. Foi trazido à emergência taquipneico, com retrações intercostal e subcostal. A ausculta pulmonar revelou creptos bilaterais e alguns sibilos. Qual o tratamento inicial mais indicado? a) Administração de Ribavarina b) Oxigênio inalatório c) Corticosteroide sistêmico d) Nebulização com adrenalina e) Antibioticoterapia Resposta: B → pois trata-se de um quadro de bronquiolite
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