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MFC II- Síndrome dispéptica

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Medicina de Família e Comunidade II - Dr Danilo Leão
Síndrome Dispéptica
→ é algo muito recidivante e intermitente
→ dispepsia é conhecida como “má digestão”
→ caracterizada pela presença recorrente ou persistente de dor ou desconforto epigástrico não relacionado ao uso de
AINE e acompanhado, ou não, de sensação de saciedade precoce, náuseas, vômitos, pirose, regurgitação e excessiva
eructação
→ A dispepsia pode ser classificada em dismotilidade, úlcera ou refluxo. Entretanto, não há correlação da sintomatologia
com o diagnóstico etiológico, sendo desnecessária a utilização desses critérios na prática clínica da APS.
O aparecimento da dispepsia ou sintomas
dispépticos pode estar associado a vários
distúrbios do trato gastrointestinal superior,
como doença ulcerosa péptica, doença do refluxo
gastroesofágico, gastrites, neoplasias do trato
gastrointestinal superior, doença do trato biliar e
a dispepsia funcional.
● Prevalência
- A prevalência de sintomas dispépticos na população adulta é de 44%
- Entretanto, a maioria não procura o serviço de saúde: a dispepsia é responsável por 1% dos atendimentos na
APS, mas, com frequência, surge como queixa secundária na prática clínica, podendo ser banalizada e medicalizada em
excesso.
● Critérios de ROMA IV
Segundo o critério de Roma IV, a dispepsia funcional (que é a grande maioria dos casos) engloba duas síndromes
clínicas diferentes:
- Síndrome da dor epigástrica
Caracterizada comumente por dor em região epigástrica, intermitente, com ausência de irradiação ou generalização,
pelo menos uma vez na semana e que não melhora após a defecação ou eliminação de flatos.
- Síndrome do desconforto pós-prandial
Decorrente de alteração na motilidade e/ou na acomodação gástrica; caracterizada por saciedade precoce, sensação de
plenitude pós-prandial e aumento da eructação.
→ O que pode ocasionar?
Na prática da APS, a maioria dos indivíduos com sintomas dispépticos são tratados como tendo dispepsia não
investigada, e sua causa é desconhecida. Como diagnósticos etiológicos possíveis, têm-se dispepsia funcional, úlcera
péptica, doença do refluxo gastroesofágico e, mais raramente, câncer
Gabriela de Oliveira | T3 | 6º período
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● Dispepsia funcional
- 60% dos casos
- caracterizada por sintomas presentes por pelo
menos 3 meses e que se iniciaram, no mínimo, 6
meses antes e ausência de alterações estruturais.
- A bactéria Helicobacter pylori está associada à
patogênese da úlcera péptica. No Brasil, a prevalência
da infecção varia de 62 a 81%
Anamnese
- A história deve ser dirigida para a detecção de
sinais de alerta (hematêmese, melena) e a presença
de sintomas que sugiram diagnósticos diferenciais à
síndrome dispéptica, como problemas cardíacos ou
biliares.
- Determinar a frequência dos sintomas,correlação com hábitos como comer demasiadamente, ingestão de
bebidas alcoólicas, alimentos específicos, tabagismo, etc
- Medicamentos responsáveis por sintomas dispépticos: AINE, antagonista do cálcio, bifosfonatos, biguanidas,
corticoides e teofilina
Exame físico
- maioria das vezes é normal, ou o paciente se apresenta com dor discreta na região epigástrica
Exames complementares
- EDA
- teste para detecção de H. pylori
- solicitar exame parasitológico de fezes para excluir parasitoses intestinais (Estrongiloidíase e giardíase) -
sintomas dispépticos
→ EDA
- padrão ouro para o diagnóstico de lesões estruturais e consequentemente de causas específicas da dispepsia.
- está indicada na abordagem inicial apenas naqueles que apresentarem sinais de alerta para a exclusão de
doença orgânica grave
- Ainda é controversa a indicação de EDA em indivíduos com mais de 55 anos sem alertas vermelhos.
Observou-se que pessoas acima dessa faixa etária apenas com dispepsia de início recente ou contínua não
apresentaram associação com câncer gastrintestinal à endoscopia. Sugere-se, portanto, solicitar o exame para
indivíduos maiores de 55 anos, quando os sintomas dispépticos persistem, independente de tratamento adequado
inicial
- Para aqueles que já realizaram EDA em algum momento e retornaram com os sintomas dispépticos, deve-se
introduzir terapêutica de acordo com o diagnóstico anterior. A repetição do exame está indicada somente naqueles
que apresentarem sinais de alerta não presentes no momento da intervenção anterior.
- IBP e antagonista de H2 devem ser suspensos 2 semanas antes da realização do exame → diminuem a
sensibilidade para detecção do H. pylori
- a maioria dos achados endoscópicos não influencia a terapêutica
→ H pylori
- pode ser identificado sem EDA → teste respiratório 13C uréia; exame sorológico ( sorologia detecta anticorpos
IgG específicos para H. pylori. É um exame mais sensível (90-100%) e de menor custo, mas permanecerá positivo
mesmo após a erradicação da bactéria)
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- esquema recomendado para erradicação: amoxicilina 1g + claritromicina 500 mg - 7 dias, em 2 tomadas
diárias, associadas ao IBP dose plena
- → Também pode ser usado levofloxacino ao invés da claritromicina, por 7 dias
Tratamento
- A estratégia inicial na dispepsia não investigada é o tratamento empírico com IBPs, que apresentou melhor
resposta e custo-efetividade quando comparado aos antagonistas H2 e antiácidos.
- “Testar e tratar” a infecção por H. pylori é mais efetivo do que a realização de EDA e reduz riscos e custos. É a
estratégia recomendada pelo National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE) após falha terapêutica do IBP
na dispepsia não investigada.
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Quando referenciar?
- achados suspeitos de malignidade à endoscopia
- se não houver disponível EDA na APS
Prognóstico e complicações possíveis
- condição recorrente e intermitente
- 50% dos que fizeram o tratamento adequado terão recidiva de sintomas em 1 ano, e até 80% terão recidiva em
algum momento
→ Apesar de não ser clara a associação entre tabagismo, sobrepeso, dieta inadequada e ingestão de álcool e café com
dispepsia, sugere-se recomendar modificações nos hábitos de vida, seja porque haverá ganho individual com as
medidas, seja porque essas oferecem benefícios para a saúde em geral.
→ Aqueles que sofrem por tempo prolongado com sintomas dispépticos devem ser encorajados a reduzir o uso das
medicações prescritas: inicialmente, usando a menor dose efetiva, passando ao uso livre conforme a demanda, até o
retorno ao autocuidado, com uso somente de antiácidos como sintomáticos.
→ suspensão do omeprazol: alguns autores observaram um efeito rebote, com um aumento na secreção gástrica de
ácido acima dos níveis de pré-tratamento após a suspensão de inibidores da bomba de prótons (IBPs) antes de retornar
aos níveis de pré-tratamento.
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