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Odontologia UFPE Periodontia | Antibióticos no tratamento da doença periodontal �2021.2� Antibióticos no tratamento da doença periodontal Os antibióticos são medicamentos que eliminam ou bloqueiam a multiplicação de bactérias em concentrações que são relativamente inócuas aos tecidos do hospedeiro e podem ser usados para tratar as infecções causadas por bactérias. Eles são um grupo de antimicrobianos, que incluem antivirais, antifúngicos e antiparasitários. A capacidade de o medicamento chegar ao local infectado e de as bactérias-alvo resistirem ou desativarem o agente determina a efetividade da terapia. Com base em concentrações toleradas pelo hospedeiro pode se classificar os antibióticos em bactericidas ou bacteriostáticos. Além disso, dependendo da gama de bactérias susceptíveis, pode-se classificar os antibióticos em espectro estreito ou amplo espectro. No fim da década de 1930 e início da de 1940, o surgimento de sulfonamidas, penicilina e estreptomicina revolucionou o tratamento das infecções bacterianas. O excelente sucesso desses agentes no tratamento das doenças anteriormente fatais, levou muitos a acreditarem que as infecções bacterianas nunca mais seriam uma preocupação importante. Sete décadas de experiência com esses e com centenas de outros medicamentos antimicrobianos desenvolvidos adicionalmente mostram que, apesar do sucesso desses fármacos, tal visão era muito otimista. Hoje, muitos problemas surgiram a partir do uso generalizado dos antibióticos: muitas bactérias desenvolveram capacidade significativa de resistir aos agentes antibióticos ou repeli-los. Princípios do uso de ATBs em Periodontia Ao falar da etiopatogenia das doenças periodontais, é a partir do desenvolvimento de um biofilme, de uma comunidade microbiana que os primeiros sinais e sintomas das doenças periodontais vão aparecer. Quando a placa subgengival não é removida, ela alcança um determinado nível quantitativo e qualitativo de complexidade bacteriana, há uma incompatibilidade com a saúde periodontal e assim a gengivite se desenvolve. Portanto, a placa supragengival é o fator etiológico principal na inflamação gengival e para o adequado tratamento, é necessário que haja a remoção desse fator etiológico. Por outro lado, a placa subgengival deriva da placa supragengival e está associada às lesões avançadas das doenças periodontais. Então, compreender que a periodontite é uma infecção causada ou sustentada por bactérias presentes nos locais acometidos, é fundamental para qualquer conceito de tratamento antimicrobiano, pois a presença contínua de grandes massas de bactérias sobre as superfícies orais duras induz à inflamação nos tecidos moles adjacentes, como a gengiva ou a mucosa. Assim, os antibióticos podem eliminar ou suprimir as bactérias residentes, mas não são capazes de remover o cálculo e os resíduos bacterianos, o que é considerado crucial na terapia periodontal. Por isso, o pilar da terapia periodontal é a remoção mecânica do biofilme e do cálculo supra e subgengival, visto que a importância da eliminação dos depósitos bacterianos para a resolução da gengivite ou da mucosite peri-implantar é inquestionável. Além disso, é extremamente necessária a limpeza mecânica completa das superfícies radiculares. Entretanto, a instrumentação mecânica sozinha pode não ser capaz de remover completamente os patógenos periodontais de todos os locais infectados. As bactérias podem estar em locais inacessíveis aos instrumentos mecânicos, em concavidades, lacunas, túbulos dentinários e nos tecidos moles invadidos Além disso, existem algumas regiões onde foi realizado o tratamento periodontal, que no entanto, não houve uma boa resposta do sítio à terapia. Assim, deve-se considerar que, há um limite de raspagens considerado não danoso aos tecidos, que quando ultrapassado, pode provocar um trauma substancial no tecido duro. No mais, também deve ser considerado o fato de locais tratados com sucesso serem susceptíveis a recolonização por patógenos persistentes das áreas não dentárias. Odontologia UFPE Periodontia | Antibióticos no tratamento da doença periodontal �2021.2� Características específicas da infecção periodontal Os microrganismos nos depósitos subgengivais podem causar danos aos tecidos sem penetrá-los. Além disso, a invasão e a multiplicação das bactérias nos tecidos periodontais não são consideradas indispensáveis para o desenvolvimento da doença. Para serem efetivos, os agente antimicrobianos usados na terapia periodontal precisam estar disponíveis em concentração alta suficientemente não apenas dentro, mas também fora dos tecidos afetados, visto que o biofilme dentário possui a maioria das características de outros biofilmes conhecidos atualmente, com a resistência antimicrobiana sendo de especial relevância. Para mais, patógenos periodontais como Aa e Pg possuem níveis mais altos de tolerância a vários agentes antimicrobianos quando incorporados pelos biofilmes do que como células planctônicas. Por isso, há um consenso entre a comunidade científica de que as doenças periodontais não devem ser tratadas apenas com agentes antimicrobianos, haja vista que o debridamento mecânico completo precisa sempre ser realizado para desfazer os agregados estruturados que protegem as bactérias incorporadas e reduzir acentuadamente a massa microbiana que pode inibir ou degradar o agente antimicrobiano. Vias de administração Na terapia das doenças periodontais, existem duas vias principais: via sistêmica (via oral) ou por inserção direta na bolsa periodontal. Comparação entre terapia antimicrobiana local e sistêmica Questão Administração sistêmica Administraçã o oral Distribuição do medicamento Ampla Estreito alcance Concentração do medicamento Níveis variáveis em diferentes compartimentos do corpo Dose alta no local tratado, níveis baixo nos outros lugares Potencial terapêutico Pode alcançar melhor microrganismos amplamente distribuídos Age melhor localmente nas bactérias associadas ao biofilme Problemas Efeitos colaterais sistêmicos Reinfecção a partir dos locais não tratados Limitações clínicas Requer bom envolvimento do paciente A infecção precisa estar limitada ao local tratado Problemas diagnósticos Identificação dos patógenos, escolha do medicamento Padrão de distribuição das lesões e dos patógenos, identificação dos locais a serem tratados. Via de administração sistêmica Medicamentos mais investigados para uso sistêmico Tetraciclina; Minociclina; Doxiciclina; Clindamicina; Ampicilina; Amoxicilina (c/ ou s/ ác. clavulânico), macrolídeos (eritromicina, espiramicina, azitromicina e claritromicina) e metronidazol, ornidazol, compostos do nitroimidazol e certas combinações derivadas. Os primeiros antibióticos usados na terapia periodontal foram as penicilinas administradas Odontologia UFPE Periodontia | Antibióticos no tratamento da doença periodontal �2021.2� sistemicamente. A escolha foi inicialmente baseada em evidências empíricas. Penicilinas As Penicilinas assim como as Cefalosporinas agem inibindo a síntese da parede celular. Elas têm espectro estreito de atividade e são consideradas bactericidas. Entre as penicilinas, a amoxicilina deve ser a principal escolhida para o tratamento periodontal porque ela tem uma considerável atividade contra diferentes patógenos periodontais em níveis alcançáveis no líquido gengival. A sua estrutura molecular inclui um anel betalactâmico que pode ser clivado por enzimas bacterianas. Algumas betalactamases bacterianas possuem alta afinidade pelo ácido clavulânico, uma molécula betalactâmica sem atividade antimicrobiana. Por isso, o ác. clavulânico foi adicionado à amoxicilina, visando inibir a atividade da betalactamase bacteriana. Essa combinação foi testada na terapia periodontal em estudos clínicos. Tetraciclinas, Clindamicina e Macrolídeos Atuam inibindo a síntese de proteína, são fármacos de amplo espectro e bacteriostáticos. Além do efeito antimicrobiano, as tetraciclinas são capazes de inibir a colagenase. Para mais, elas unem-seàs superfícies dentárias, a partir de onde podem ser liberadas lentamente ao longo do tempo. Nitroimidazóis �Metronidazol e Ornidazol) e Quinolonas �Ciprofloxacino) Atuam inibindo a síntese de DNA. O Metronidazol ainda tem a peculiaridade de ser especificamente ativo contra a parte obrigatoriamente anaeróbica da microbiota oral �Pg e outros microrganismos gram-negativos pigmentaodss de negro), mas não contra Aa (anaeróbica facultativa). Isto posto, fica evidente que dificilmente um antimicrobiano vai conseguir dar conta dos diferentes tipos de patógenos periodontais, visto que existe uma comunidade polimicrobiana, com patógenos tanto aeróbicos quanto anaeróbicos facultativos. Por conta disso, vem a lógica da associação de Antimicrobianos. Associação de antimicrobianos Sabendo que microbiota gengival abriga várias espécies patológicas para o periodonto, com diferentes susceptibilidades antimicrobianas, há a necessidade da combinação de agentes antimicrobianos com atividade de espectro mais amplo do que um agente único. Em contrapartida, a superposição dos espectros antimicrobianos pode reduzir o possível desenvolvimento de resistência bacteriana. Reações adversas Penicilinas Efeitos frequentes: Hipersensibilidade, náusas, diarreia Efeitos não frequentes: Toxicidade hematológica, encefalopatia, colite pseudomembranosa (ampicilina). Tetraciclinas Efeitos frequentes: Intolerância gastrintestinal, candidíase, mancha e hipoplasia dentária na infância, náuseas, diarreia, interação com contraceptivos orais. Efeitos não frequentes: Fotossensibilidade, nefrotoxicidade, hipertensão intracraniana. Metronidazol Efeitos frequentes: Intolerância gastrintestinal, náuseas, efeito antabuse, diarreia, gosto metálico desagradável. Efeitos não frequentes: Neuropatia periférica, saburra lingual. Clindamicina Efeitos frequentes: Erupções,, náusas, diarreia. Efeitos não frequentes: Colite pseudomembranosa, hepatite Terapia antimicrobiana sistêmica em ensaios clínicos As evidências defendendo o uso dos antibióticos sistêmicos precisam vir de ensaios clínicos em humanos com periodontite. RS Herre et al. �2002�� pacientes tratados com antibióticos “Nas bolsas profundas, um benefício específico em termos de mudança no nível de inserção clínica Odontologia UFPE Periodontia | Antibióticos no tratamento da doença periodontal �2021.2� periodontal para a combinação de amoxicilina + metronidazol.” RS Haffajee et al. �2003�� antibióticos têm efeito maior nos locais com bolsas profundas “Bolsas mais profundas se beneficiam mais das terapia mecânicas associadas aos antimicrobianos Além disso, 23 artigos mais recentes relacionados a 19 ensaios clínicos randomizados confirmaram o benefício específico da suplementação RAR com amoxicilina + metronidazol. Cronologia da terapia antibiótica sistêmica A maioria das pesquisas testou antibióticos como adjuntos do debridamento não cirúrgico. Com base nesses achados, ensaios clínicos e no fato de que o biofilme íntegro protege as bactérias dos antibióticos, é recomendado que a terapia antimicrobiana comece imediatamente depois da terapia mecânica (ou seja, na noite após a última sessão do tratamento não cirúrgico). Os antibióticos foram administrados assim em vários estudos com bons desfechos. Assim, é muito importante ressaltar que os antibióticos sistêmicos devem ser sempre considerados adjuvantes à RAR para os pacientes com: - Bolsas profundas; - Formas de evolução rápida de periodontite �Grau C�; - Locais “ativos”; - Perfis microbiológicos específicos. Por isso, é importante observar critérios como a gravidade da doença, envolvimento do paciente, diagnóstico, perfil microbiológico e risco de eventos adversos. A gravidade é importante devido ao fato de bolsas mais profundas serem mais beneficiadas pelo uso de antibióticos do que as rasas. Contudo, a ATBs não deve ser prescrita para contrabalancear o debridamento mecânico incompleto. Diagnóstico - Efeito benéfico: Periodontite estágios III e IV e Grau C� Amoxicilina � Metronidazol - Indicação potencial desse regime especialmente nos casos de lesões com supuração ativa. É sabido que a combinação de Amoxicilina + Metronidazol tem a capacidade comprovada de suprimir Aa de lesões periodontais e outros locais orais. Portanto, é a primeira escolha para o tratamento da periodontite nos estágios III e IV, ou Grau C associado ao Aa. Contudo, os riscos de efeitos adversos devem ser considerados, especialmente quando prescrito mais do que um antibiótico. Assim, deve-se analisar qual a frequência e quais as consequências dos efeitos adversos, bem como as consequências de não utilizar o antibiótico para a saúde do paciente. Pode-se concluir então que a RAR e amoxicilina metronidazol são capazes de diminuir os sinais clínicos da inflamação e os biomarcadores inflamatórios no FGG mais profundamente do que a SRP sozinha. Parece preferível, do ponto de vista de saúde geral, que os pacientes se beneficiem precocemente dos efeitos sistêmicos positivos da terapia periodontal com sucesso. Estratégias para reduzir risco de resistência bacteriana aos antimicrobianos Para limitar o desenvolvimento da resistência microbiana antibiótica em geral e evitar o risco dos efeitos sistêmicos indesejáveis dos antibióticos para o indivíduo tratado, uma atitude cautelar restritiva diante do uso dos antibióticos é apropriada. Para superar a resistência ao antibiótico único, a combinação de agentes pode ser vantajosa. Outros estudos clínicos de outros campos sugerem que é preferível fornecer antibióticos em alta dose durante tempo menor. As infecções associadas ao biofilme são notoriamente resistentes à terapia antimicrobiana, a menos que o biofilme seja rompido mecanicamente. Portanto, toda terapia antimicrobiana deve ser precedida por debridamento mecânico. Além disso, os antimicrobianos devem ser evitados sempre que houver ampla evidência de que o meticuloso debridamento mecânico não cirúrgico consegue solucionar o problema, como é o caso das periodontites estágios I e II e Graus A e B. A prescrição de Metronidazol + amoxicilina deve ser de 250 a 500 mg, 3x ao dia | 375 a 500mg 3x ao dia, por 7 dias. Em pacientes que têm alergia a Odontologia UFPE Periodontia | Antibióticos no tratamento da doença periodontal �2021.2� amoxicilina, pode-se substituí-la por Metronidazol + Ciprofloxacino 25 a 500 mg 3x ao dia | 500 mg 2x ao dia por 7 dias. Diagnóstico A administração de antibiótico, sistêmica ou localmente, pode melhorar o efeito da terapia periodontal. No entanto, o uso deve ser limitado, não havendo prescrição quando houver amplas evidências que o debridamento mecânico não cirúrgico sozinho possa resolver o problema, caso das periodontite Estágio I e II. Em casos de bolsas periodontais profundas, existe um benefício adicional à RAR. Os antibióticos sistêmicos podem reduzir a necessidade de terapia cirúrgica adicional, bem como em casos adjuntos no retratamento das situações em que houve resposta insatisfatória à terapia mecânica. Toda terapia antimicrobiana deve ser precedida por debridamento mecânico meticuloso. Uma vez resolvida a infecção periodontal, o paciente deve ser colocado em um programa de cuidado de manutenção adaptado individualmente para prevenir a reinfecção.
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