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Odontologia UFPE Periodontia | Terapia periodontal não cirúrgica �2021.2� Terapia periodontal não cirúrgica De um forma abrangente, a terapia periodontal tem o objetivo de prevenir, eliminar e/ou controlar a doença periodontal, além da recuperação de tecidos perdidos e a manutenção dos resultados conseguidos. A terapia não cirúrgica é a base para o tratamento das doenças periodontais, independentemente da necessidade de haver um tratamento cirúrgico. Ou seja, todo paciente, desde a forma mais branda à mais grave de periodontite, passa pela terapia não cirúrgica. Em muitos casos, ela é a única forma de tratamento ativo, no entanto, ela também é considerada uma etapa pré-cirúrgica fundamental. Isso se dá devido ao fato de ela reduzir a inflamação, o que garante dois aspectos indispensáveis: 1. Os tecidos não inflamados são mais firmes, o que garante uma maior assertividade nas incisões realizadas durante o tratamento cirúrgico; 2. Faz com que haja menos sangramento durante o procedimento operatório. No mais, muitas vezes a terapia não cirúrgica complementa a cirúrgica, sendo essencial na fase de terapia de suporte para a manutenção dos resultados obtidos pelo tratamento. Durante um plano de tratamento periodontal, a terapia não cirúrgica é realizada nas seguintes etapas: ● Urgências/Terapia sistêmica ● Terapia inicial/básica ● Reavaliação ● Terapia cirúrgica ● Terapia restauradora ● Nova OHB ● Nova reavaliação ● Terapia de suporte Sabendo que, de acordo com a etiopatogenia da doença periodontal, o fator iniciador da doença é o acúmulo de biofilme, que por meio de secreções provenientes do metabolismo bacteriano, as quais penetram o tecido gengival e desencadeiam uma série de respostas imunes do indivíduo, que se manifesta clinicamente como uma inflamação da gengiva. Pode-se dizer que o quadro de gengivite é diretamente dependente da resposta imune do indivíduo, e quando deficiente ou exagerada, há grandes chances dessa gengivite progredir para periodontite. É válido lembrar, que esses eventos são diretamente influenciados por fatores etiológicos secundários locais e gerais, que por si só não podem dar início a doença, todavia, quando a doença está presente, esses fatores podem contribuir para uma maior predisposição a uma manifestação clínica mais severa. Estratégias Haja vista a existência desses fatores etiológicos secundários, a terapia não cirúrgica conta com algumas estratégias, tais quais: ● Eliminação dos fatores etiológicos ● Modulação da resposta imune; ● Estímulo de reparo ou regressão da doença. Procedimentos Instrumentação não cirúrgica A instrumentação periodontal é utilizada na periodontia há mais de 100 anos, mesmo que utilizada empiricamente. No mais, a sua importância aumentou bastante desde os conhecimentos adquiridos acerca da natureza biofilme e da sua estrutura polimérica, a qual garante uma certa insusceptibilidade das bactérias a ação dos mecanismos de defesa e a ação de antimicrobianos, visto que ela não estão dentro do tecido, mas sim na superfície dentária. Desse modo, a única maneira de atingir essas bactérias é por meio da desagregação do biofilme, que ocorre mecanicamente pela instrumentação periodontal. A instrumentação periodontal visa a eliminação do biofilme e de manchas. Elas são divididas em duas modalidades: raspagem e profilaxia/polimento Raspagem O objetivo primário da raspagem é a remoção do biofilme mineralizado (cálculo). Didaticamente ela é dividida em raspagem supragengival e subgengival + alisamento radicular. Ela é descrita na ficha do plano de tratamento como RACR (raspagem + alisamento corono-radicular) ou RAR (raspagem e alisamento radicular). Como objetivo secundário, pode-se dizer a eliminação de manchas. Odontologia UFPE Periodontia | Terapia periodontal não cirúrgica �2021.2� Os instrumentos utilizados na raspagem radicular podem ser divididos em dois grandes grupos: os manuais (curetas e foices) e os automatizados (sônicos e ultrassônicos). Instrumentos ultrassônicos São indicados principalmente para cálculo supragengival e subgengival em locais de difícil acesso. O seu mecanismo se dá pela vibração da ponta, que gera ondas ultrassônicas que removem o cálculo por meio de 3 mecanismos básicos. O primeiro é a fratura do cálculo por meio das ondas ultrassônicas, o segundo é por meio da água utilizada para refrigeração das pontas, que consequentemente lava a região do cálculo removido e o terceiro mecanismo é conhecido como cavitação, que ocorre quando há a junção da vibração com a água, gerando bolhas que explodem na superfície do biofilme, matando as bactérias. Os aparelhos ultrassônicos podem ser divididos em Piezoelétricos e Magnetorrestritivos. A diferença mais importante entre esses aparelhos diz respeito a com que as pontas vibram. Nos piezoelétricos as pontas vibram de uma forma pendular e nos magnetorrestritivos as pontas vibram de maneira elíptica. Manual x Ultrassom A efetividade entre os dois grupos de instrumentos é bastante similar. Todavia, existem as vantagens e desvantagens entre cada um deles. O instrumento ultrassônico exige um menor esforço na remoção de cálculo e remove o cálculo com muito mais rapidez. Por outro lado, ele é associado à uma sensibilidade pós tratamento maior e mais frequente. Além disso, o uso do aparelho ultrassônico prova uma superfície radicular mais irregular, embora essa irregularidade não seja clinicamente significativa. Profilaxia/polimento É indicada para a remoção de biofilme não mineralizado, manchas e evidenciadores. Na prática, ela pode ser feita isoladamente ou após a raspagem como uma forma de deixar a superfície dental menos rugosa. A profilaxia é utilizada por meio de pastas abrasivas e jatos de bicarbonato. Associado a esses procedimentos, deve ser feita uma aplicação tópica de flúor �ATF�, visto que, toda raspagem desgasta um pouco da superfície dentária, o que aumenta o risco de ocorrer uma sensibilidade pós operatória. Assim, a ATF é utilizada para favorecer a remineralização do tecido dental. Protocolos de instrumentação Existem dois tipos de protocolos utilizados em periodontia: o convencional e o boca toda. No protocolo convencional, a boca é dividida em sextantes ou quadrantes, os quais serão trabalhados ao longo das sessões semanais. Nesse protocolo, é comum que ele decorra ao longo de várias semanas. O protocolo de boca toda é completado em apenas uma sessão. Ele previne a recolonização por meio da transferência de bactérias de outros sítios e estimula a resposta imune com maior afinco. Esse protocolo é dividido entre o protocolo original, modificado e o debridamento ultrassônico. Protocolo original �DBT� ● RACR em 24h, dividida em 2 sessões; ● Irrigação subgengival c/ gel clorexidina 1% �3x em 10min) - repetido após 8 dias; ● Escovação língua c/ gel clorexidina 1%; ● Bochechos clorexidina 0,2% durante 14 dias Não há diferenças significativas entre a efetividade dos dois protocolos. Por isso, deve ser levado em conta outros fatores como o custo, tempo, o desconforto do paciente, a preferência. No entanto, independentemente do protocolo escolhido, o controle pessoal de placa é indispensável. Efeitos da instrumentação Do ponto de vista microbiológico, pode-se observar tanto efeitos quantitativos quanto qualitativos. Quantitativamente falando, há uma diminuição no número de bactérias, o que permite que o sistema de defesa possa atuar de uma forma Odontologia UFPE Periodontia | Terapia periodontal não cirúrgica �2021.2� mais eficaz. Por outro lado, quando há essa diminuição de bactérias, há um maior aporte de oxigênio e nutrientes, o que favorece o surgimento de bactérias aeróbias. A nível tecidual, nos tecidos moles, há uma redução da inflamação, do sangramento e profundidade de sondagem. Não há ganhos no tecido ósseo e há uma redução da mobilidade dentária. Limitações A eficácia da instrumentação diminui com o aumento da profundidade da bolsa periodontal, ou seja, quanto mais profunda for a bolsa, maior é a dificuldade de raspagem. Alémdisso, há a possibilidade de recolonização bacteriana, principalmente quando não há a remoção total do biofilme da região. A raspagem não elimina bactérias dentro da gengiva e isoladamente, sem o controle pessoal do biofilme, ela não garante sucesso. Eliminação/controle de fatores secundários ● Eliminação de fatores retentores de biofilme; ● Forças oclusais traumáticas; ● Fatores modificadores gerais modificáveis antes, durante e após a instrumentação Modulação da resposta imune A resposta imune é a principal responsável pela destruição tecidual observada pela periodontite. Contudo, a modulação da resposta imune não visa substituir as terapias tradicionais, tampouco suprimir totalmente a resposta imune. Doxiciclina em doses sub-antimicrobianas É a primeira estratégia de modulação da resposta imune. Em doses mais baixas, a doxiciclina inibe a ação de metaloproteinases (um dos mediadores químicos atuantes no processo de destruição dos tecidos periodontais). Portanto, elas limitam a inflamação e a perda óssea, não induzindo a resistência bacteriana. A doxiciclina é indicada para periodontite refratária moderada/severa, com uso diário durante 9 meses. AINES É um grupo de drogas amplamente investigado como estratégia de modulação das respostas imunes. Os AINES inibem a produção de mediadores da inflamação e da perda óssea, no entanto, apresentam efeitos adversos potencialmente sérios, principalmente no trato gastrointestinal e eventos adversos cardiovasculares e por isso não são amplamente utilizados. Bisfosfonatos Pamidronato, alendronato e ácido zoledrônico são os principais nomes. Eles inibem o desenvolvimento/atividade osteoclástica e reabsorção óssea. São amplamente utilizados no tratamento de osteoporose, Doença de Paget e tumores ósseos. Há evidência de que quando eles são utilizadas, há melhora de parâmetros periodontais, no entanto eles possuem o uso limitado devido ao fato de estarem associados a uma forma de osteonecrose. Lasers Os lasers são divididos em alta potência e baixa potência. Lasers de alta potência Os lasers de alta potência são utilizados para a remoção de cálculo e atuam principalmente por meio do aquecimento e da ablação. O laser que mais se adequa à remoção de cálculo é o Er:YAG. Eles possuem uma eficácia equivalente a métodos tradicionais, todavia, são estritamente utilizados. Laser de baixa potência Já os lasers de baixa potência (laser diodo) possuem efeito fotoquímico, inibindo a ação de enzimas. Eles têm a finalidade de redução da carga microbiana, redução da dor/inflamação e estimulação de reparo pós cirurgia. Dentro da periodontia, ele é utilizado para a redução da hipersensibilidade dentinária. Outros procedimentos (terapias em desenvolvimento) ● Probióticos: uso de bactérias associadas à saúde dentro de uma bolsa periodontal, com intuito de diminuir a patogenicidade dificultando a colonização de bactérias periodontopatogênicas. Odontologia UFPE Periodontia | Terapia periodontal não cirúrgica �2021.2� ● Choque extracorpóreo: choques dados na região das bochechas são capazes de estimular a regeneração óssea. ● Campos elétricos: utilização de campos elétricos com intuito de aumentar a eficácia de antibióticos. ● Polimento com pó de glicina: pode ser capaz de realizar a remoção de cálculo. ● Oxigênio hiperbárico: oferece uma grande concentração de oxigênio, dificultando a colonização de bactérias anaeróbias. ● Estatinas: podem estimular a regeneração óssea. ● Teriparatida: utilizado no tratamento de osteoporose com potencial de estimular reparo ósseo. ● Comidas, plantas, sementes; ● Vacinação, engenharia tecidual e terapia gênica ● Resolvinas: anti-inflamatórios naturais já existentes no nosso organismo.
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