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1 RENAN CORADIN SÍFILIS • Doença Infecciosa Sistêmica • Notificação Compulsória (atualizado em 2010) • Sífilis Adquirida e Congênita (CID 10 - A50) • A sífilis é uma infecção bacteriana de caráter sistêmico, curável e exclusiva do ser humano. • É causada pelo T. pallidum, uma bactéria Gram-negativa do grupo das espiroquetas, • Conhecida como: Lues, Grande impostor, simulador • Transmissão via de regra :sexual ETIOLOGIA: • Treponema pallidum spp. • Família das espiroquetas: Borrelia/ Leptospira; • Não pode ser cultivado; • Viável em meio favorável: por sete dias a 35º C ou 48 horas a 37º C; • Mais lesão em palma das mãos. CLASSIFICAÇÃO: • Existem duas classificações para as formas clínicas da sífilis adquirida, a saber, pelo tempo de infecção e por suas manifestações clínicas, conforme a descrição: • Segundo o tempo de infecção: • Sífilis adquirida recente (menos de um ano de evolução); • Sífilis adquirida tardia (mais de um ano de evolução). • Segundo as manifestações clínicas da sífilis adquirida: ➢ Primária ➢ Secundária ➢ Latente ➢ Terciária 2 RENAN CORADIN EPIDEMIOLOGIA • A partir de 2010 começou a ser notificação obrigatória; • Por volta de 2015 houve um aumento de casos, pois Brasil ficou desabastecido de Benzetacil. - Pesquisar epidemiologia atual da sífilis (prova) TRANSMISSÃO: • Sexual • Congênita (passagem através da placenta) • Contato íntimo com área com lesão ativa (ex: beijo), com mucosa íntegra ou não; • Transfusão de sangue humano ou hemoderivados (fresco) • Inoculação acidental; • Sífilis Latente: não transmite. MAIOR INFECTIVIDADE: • Estágios iniciais: ➢ Cancro duro ➢ Lesões de mucosa ➢ Condiloma plano (condilomata lata) PATOGÊNESE: • Tamanho do inóculo varia de paciente para paciente ➢ 04 espiroquetas podem estabelecer infecção • O treponema se divide a cada 30-33 horas • Lesões clínicas aparecem quando é atingida a concentração aproximada de 107 microrganismos/grama de tecido • O período de INCUBAÇÃO é proporcional ao tamanho do inóculo. A penetração do treponema é realizada por pequenas abrasões decorrentes da relação sexual. Logo após, o treponema atinge o sistema linfático regional e, por disseminação hematogênica, outras partes do corpo. A resposta da defesa local resulta em erosão e exulceração no ponto de inoculação, enquanto a disseminação sistêmica resulta na 3 RENAN CORADIN produção de complexos imunes circulantes que podem depositar-se em qualquer órgão. Entretanto, a imunidade humoral não tem capacidade de proteção. A imunidade celular é mais tardia, permitindo ao T. pallidum multiplicar e sobreviver por longos períodos. CARACTERÍSTICAS MICROBIOLÓGICAS: • Lesão característica: • Endarterite obliterante consistindo de espessamento concêntrico proliferativo endotelial e fibroblástico; • No cancro duro leucócitos PMN e macrófagos podem frequentemente ser demonstrados ingerindo treponemas; • Hiperceratose é frequentemente encontrada em lesões cutâneas de sífilis secundária e de forma marcante nas lesões de condiloma plano; ESTÁGIOS CLÍNICOS: INCUBAÇÃO: • Maioria dos pacientes controla a infecção e não progride para doença tardia • Fatores relacionados à espiroqueta e ao hospedeiro que determinam a evolução da infecção são desconhecidos ➢ Parece ser crítica a resposta imune do hospedeiro • Resposta imune intensa do tipo celular • Mudança do tipo de resposta predominantemente Th1 (celular) para Th2 (humoral) ➢ Evento crítico a favor do patógeno e o desenvolvimento de infecção crônica; • Escape a uma resposta efetiva do sistema imune ➢ Devido à “pobreza” de proteínas e lipoproteínas na membrana externa do microrganismo FASE PRIMÁRIA: • O cancro duro não se desenvolve em todos os casos ou pode ser tão discreto que não chega a ser percebido; • Podem ocorrer lesões múltiplas, especialmente em HIV(+); • Espiroquetas podem ser demonstradas nessas lesões; • Desaparecem espontaneamente dentro de 2 a 8 semanas, mas podem persistir por períodos mais longos, especialmente em imunossuprimidos; • Sífilis primária: após o contato sexual infectante, ocorre um período de incubação 4 RENAN CORADIN com duração entre 10 a 90 dias (média de três semanas). • A primeira manifestação é caracterizada por uma erosão ou úlcera no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais do tegumento). • É denominada “cancro duro” e é geralmente única, indolor, com base endurecida e fundo limpo, sendo rica em treponemas. Geralmente é acompanhada de linfadenopatia inguinal. Esse estágio pode durar entre2 a 6 semanas e desaparecer de forma espontânea, independentemente de tratamento. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: SÍFILIS PRIMÁRIA • Cancro no local da inoculação • Início como uma pápula única indolor • Erosão e induração • Base lisa e bordas elevadas e firmes, consistência cartilaginosa • “Limpa”, sem exsudato • Indolor, mas sensível ao toque • Linfadenopatia regional indolor (diagnóstico diferencial: linfagranuloma venéreo) FASE SECUNDÁRIA: • Ocorre quando o número máximo de treponemas (grande carga antigênica) está presente no corpo, particularmente na corrente sanguínea; 5 RENAN CORADIN • Treponemas podem ser demonstrados em vários outros tecidos, especialmente pele e linfonodos; • Anormalidades laboratoriais ou a presença de treponemas ou ambos pode ser detectados no SNC, inclusive no humor aquoso ocular, em até 40% desses pacientes; • Nesse momento a resposta imune se torna bastante intensa e então pode se desenvolver um quadro de glomerulonefrite; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: SÍFILIS SECUNDÁRIA • Erupção cutânea não pruriginosa, máculo- papular, acometendo tronco, palmas das mãos e plantas dos pés • Linfadenopatia generalizada, indolor • Condilomata lata • Lesões de mucosa “em placa” • Febre, adinamia (apático), astenia (fraqueza generalizada). 6 RENAN CORADIN FASE LATENTE: • Após o quadro secundário desaparecer, tem início uma fase de latência em que o diagnóstico somente pode ser feito através de uma resposta positiva a testes sorológicos para sífilis; • Como recidivas de quadro secundário podem ocorrer até quatro anos após o contato, essa fase latente é dividida em: • Latente precoce ou recente: recidivas possíveis; • Latente tardia: recidivas muito improváveis; • 75% das recidivas de secundarismo ocorrem no primeiro ano após o contato e são uma consequência de uma disfunção da imunidade celular (ex: durante o último trimestre da gravidez); FASE TERCIÁRIA: • Doença ativa com manifestações clínicas aparentes ou inaparentes; • Desenvolve-se em até 1/3 dos pacientes não tratados; • Maioria das lesões envolvem o vaso vasorum da artéria aorta ou de artérias do SNC, ou ambos; • O resto consiste principalmente de GUMAS, lesão granulomatosa característica com um centro coagulado ou amorfo e endarterite de pequenos vasos; • A pele, fígado, ossos e baço são os sítios onde mais comumente se desenvolvem as gumas; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: SÍFILIS TERCIÁRIA • Lesões gumatosas de pele, ossos e tecido celular subcutâneo • Lesões cardiovasculares ➢ Aneurisma de aorta; ➢ Insuficiência aórtica • Neurológicas: meningite aguda, goma do cérebro ou da medula, atrofia do nervo óptico, lesão do sétimo par craniano, paralisia geral, tabes dorsalis e demência. SÍFILIS TERCIARIA: • Ocorre aproximadamente em 30% das infecções não tratadas, após um longo período de latência, podendo surgir entre dois a 40 anos depois do início da infecção. • E considerada rara, maioria da população recebe indiretamente, ao longo da vida, antibióticoscom ação sobre o T. pallidum e que levam à cura da infecção. • Quando presente, a sífilis nesse estágio manifesta-se na forma de inflamação e destruição tecidual. É comum o acometimento do sistema nervoso e cardiovascular. 7 RENAN CORADIN • Além disso, verifica-se a formação de gomas sifilíticas (tumorações com tendência a liquefação) na pele, mucosas, ossos ou qualquer tecido. As lesões causam desfiguração e incapacidade, podendo ser fatais. NEUROSSÍFILIS A neurossífilis acomete o sistema nervoso central (SNC), o que pode ser observado já nas fases iniciais da infecção. Esse acometimento precoce, no entanto, ocorre por reação inflamatória da bainha de mielina, não havendo destruição anatômica das estruturas neurais. Estatisticamente, ocorre em 10% a 40% dos pacientes não tratados, na sua maioria de forma assintomática, só diagnosticada pela sorologia do líquor, exteriorizando-se clinicamente em apenas 1% a 2% como meningite asséptica. Meníngea: • Hidrocefalia sifilítica aguda (dor de cabeça, náusea e vômito); • Meningite aguda do vértex (sinais de envolvimento cortical) • Meningite basal aguda (envolvimento de nervos cranianos, principalmente par VII e VIII) • MENINGOVASCULAR: Forma clínica mais frequente. Combina forma vascular com inflamação meníngea. Cefaléias, vertigens, insônia ou crise, alterações de personalidade, entre outros. Paralisia geral progressiva: • Ocorre em 15-20 anos de infecção primária • Começa com distúrbios psiquiátricos não específicos. Nos estágios finais: convulsões, perda de força nos membros, incontinência anal e da bexiga. • Estudo macroscópico: atrofia cerebral com ventrículos aumentados; • Meninges geralmente são espessadas Tabes dorsalis: • Aparecimento tardio da forma • Dor episódica em membros inferiores, em territórios de múltiplas raízes lombares. 8 RENAN CORADIN • Estudo macroscópico: atrofia dos cordões medulares posteriores e espessamento das meninges na área afetada. • Marcha tabética: para iniciar a marcha ele sente dor. Neurolues: A forma parética da neurossífilis é uma meningoencefalite progressiva que ocorre cerca de 10 a 20 anos após a infecção inicial não tratada. Em relação às manifestações clínicas, o início geralmente é insidioso, com deterioração sutil da cognição que se manifesta como dificuldade de concentração, irritabilidade, falta de interesse e discretas alterações de memória. Frequentemente não se encontram outras alterações ao exame neurológico, exceto, como no caso do nosso paciente, presença de alterações pupilares: as pupilas de Argyll Robertson (pupilas pequenas, que não reagem à luz, mas que convergem). O quadro evolui de forma progressiva e pode mimetizar qualquer síndrome neuropsiquiátrica, mais frequentemente a demência associada a elementos paranóicos (delírios e alucinações) e a psicose maníaca. Com a progressão da doença, o paciente começa a apresentar hipotonia muscular, tremor de extremidades, disartria, convulsões, perda do controle de esfíncteres, e finalmente morte. Se não tratada, a doença progride de forma insidiosa em um período de 3 a 4 anos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL QUE PODE DAR FALSO + EM VDRL • Lúpus • Síndrome antifosfolipidica • Outras colagenoses; • Hepatite crônica • Usuários de drogas ilícitas injetáveis; • Hanseníase; • Gestação; • Vacinação. DIAGNOSTICO LABORATORIAL: • Raspado das lesões • IFD ou IFI • Campo escuro • Visualizar T. pallidum 9 RENAN CORADIN SOROLOGIA: Testes não treponêmicos: são os utilizados na triagem • VDRL, RPR, ART, RST, EIA, TRUST; • Positivos 1- 6 semanas após exposição. • O maior é a ida de 1/1 para 1/16. Testes treponêmicos: utilizados como confirmatórios quando os testes não treponêmicos são reativos. • TP-PA, MHA-TP, FTA-ABS (IGM/IGG); • Positivos antes do RPR. • Se tem VDRL + no licor tem sífilis, porque o certo é não ter nada no licor. • No VDRL de 1/8 para baixo NÃO trata. • Depois do tratamento espera que caia 2 títulos, tipo de 1/16 para 1/8. Se não cair você faz FTA-ABS. CASO CLÍNICO Paciente 16 anos, relata ser virgem, chega no PS com quadro de cefaleia intensa, subfebril e com dores articulares. A mãe tem artrite reumatoide. - Faz um LCR - VDRL (licor): 1/1256 - Diagnóstico diferencial: lúpus, lyme, leptospirose, meningite, neurotoxoplasmose. - Isso é um teste de rastreio, tem que pedir FTA- ABS, veio resultado IGG e IGM negativo. - Pode estar fora da janela imunológica ou ser outra doença (reação cruzada), que era Lúpus. EXAME DO LÍQUOR: • Celularidade, proteínas, VDRL qualquer valor positivo (1:1) Indicado: ➢ Sífilis congênita ➢ Terciária ➢ Manifestações neurológicas ➢ Estágio latente, VDRL > 1:16 ➢ Pessoas tratadas e sem resposta sorológica adequada ➢ HIV+, com quadro neurológico*, ou falta de resposta sorológica ao tratamento. *AVC, anormalidades de pares cranianos e uveíte INTERPRETAÇÃO LABORATORIAL: TRATAMENTO: 10 RENAN CORADIN Sífilis primária, secundária e latente com menos de 1 ano de duração: • Penicilina benzatina 2.400.000 U IM dose única (1,2 milhão em cada glúteo), ou: • Doxiciclina 100 mg via oral 12/12h por 14 dias • Gestantes com alergia à penicilina: Eritromicina 40 mg/Kg/dia por 14 dias. Sífilis latente com mais de 1 ano de duração: • Penicilina benzatina 2.400.000 U IM 1 vez por semana por 3 semanas seguidas. • Eritromicina por 28 dias. Para Gabriela Uso interno IM 1) Benzetacil 1.200.000 --------------- 6 amp Aplicar 2 ampolas em glúteo profundo 1x por semana por 3 semana. Neurossífilis: • Penicilina cristalina G 3-4 milhões U IV 4/4 h (16-24 milhões por dia) por 14 dias. Outras opções terapêuticas: ceftriaxone (2g dose única direta) e azitromicina. Acompanhamento sorológico: • Primária, secundária e latente recente: 3, 6, 12 e 24 meses após o tratamento • Latente tardia e terciária: 12 e 24 meses após o tratamento • Neurossífilis: 6, 12 e 24 meses após o tratamento • HIV+: 3, 6, 12 e 24 após tratamento e depois anualmente Resposta adequada: • PRIMÁRIA ➢ 2 títulos (exemplo: 1:32 a 1:8) em 6 meses; ➢ 3 títulos em 12 meses; ➢ 4 títulos em 24 meses • SECUNDÁRIA ➢ 3 títulos em 6 meses ➢ 4 títulos em 12 meses • LATENTE PRECOCE ➢ 2 títulos em 12 meses 11 RENAN CORADIN 12 RENAN CORADIN 13 RENAN CORADIN 14 RENAN CORADIN
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