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Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá OBJETIVOS • ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS: DESENHOS EM PESQUISA EPIDEMIOLÓGICA • INTRODUÇÃO AOS TESTES DIAGNÓSTICOS EM EPIDEMIOLOGIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS INTRODUÇÃO A pesquisa epidemiológica se baseia na coleta sistemática de dados sobre eventos ligados à saúde em uma população/grupo pré-definido e na quantificação desses eventos. A partir disso, os fatores investigados seguem 3 procedimentos relacionados: • Mensuração das variáveis • Estimativas de parâmetros populacionais • Testes estatísticos de hipóteses para comprovação ou refutação de hipóteses de associação Dessa forma, entende-se que o método científico da epidemiologia é o um processo pelo qual se busca conectar observações e teorias, de tal forma que as hipóteses conceituais mais amplas são confrontadas com dados obtidos na investigação para se tentar chegar a uma inferência indutiva • Observam-se fenômenos → identificam relações constantes entre eles → generaliza-se essas relações para além do conjunto particular observado (inferência indutiva) • Para que se realize todo esse processo, existem diferentes metodologias dentro da epidemiologia, chamadas de delineamentos ou estudos epidemiológicos CLASSIFICAÇÃO DOS DELINEAMENTOS / ESTUDOS A fase de delineamento do estudo é a fase de planejamento e depende do objetivo do investigador, não existindo, portanto, um certo e um errado ESTUDOS OBSERVACIONAIS Posicionamento passivo do pesquisador/investigador • Não controla a exposição nem distribui os indivíduos entre os grupos expostos e não expostos • De forma sistemática e acurada, apenas observa a produção de doentes em uma população • Esses estudos geralmente não apresentam problemas éticos para investigação de fatores de risco, pois a exposição ou não de indivíduos a uma doença independe da interferência do investigador Segundo o método epidemiológico, podem ser classificados em descritivos ou analíticos • Estudos descritivos: estudam a distribuição da doença e função das variáveis tempo, espaço e pessoa o Descrevem o objeto em observação, sem fazer análises ou medidas de associação sobre essa descrição o Geralmente são os primeiros (pioneiros) estudos de uma determinada doença (importância fundamental, pois a partir disso surgem os estudos analíticos) o Faz uso de dados primários (coletados para o desenvolvimento do estudo) e/ou secundários (preexistentes em bancos de dados) o Examinam como a incidência ou a prevalência de uma doença ou condição relacionada à saúde varia de acordo com determinadas características (de pessoa, espaço ou tempo) • Estudos analíticos: examinam a existência de associação entre a exposição e um determinado fator e o aparecimento de uma doença ou condição relacionada à saúde o Têm a capacidade de comprovar ou refutar hipóteses de associações entre variáveis ESTUDOS EXPERIMENTAIS Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá Conhecidos como estudos de intervenção, clinical trials (aplicados de modo individual) ou community trials (aplicados em comunidades interias) Posicionamento ativo do pesquisador/investigador: • O pesquisador realiza manobras de intervenção nas diferentes etapas do estudo que têm como objetivos: o Isolar efeitos o Controlar intercorrências externas o Desencadear processos • São estudos essencialmente analíticos • O pesquisador determina os grupos expostos e não expostos o Os indivíduos são alocados de forma aleatória em diferentes grupos de exposição aos fatores de interesse (risco ou prognóstico) • O pesquisador controla a exposição ao fator de interesse • “estudo quase-experimental”: o investigador controla o fator de estudo, mas a alocação dos indivíduos nos diferentes grupos não pode ser aleatória por questões éticas o Acabam sendo considerados como estudos experimentais, mas interpretação de seus resultados exige mais cautela TEMPO EM RELAÇÃO AO SURGIMENTO DO DESFECHO Classificação de estudos epidemiológicos com relação ao tempo de ocorrência do desfecho • Estudos transversais ou seccionais: quando o desfecho e/ou fatores associados estão no presente • Estudos longitudinais: quando o desfecho e/ou fatores associados não estão no presente o Estudo longitudinal prospectivo: quando o desfecho e os fatores associados estão no futuro em relação ao início da pesquisa ▪ Ex: conhecer a frequência com que as pessoas ficam doentes a partir da exposição a determinados fatores o Estudo longitudinal retrospectivo: quando o desfecho e/ou fatores associados estão aconteceram antes do início da pesquisa Unidade de estudo em análise: • Estudos focados no indivíduo: avaliam grupos de pessoas o É possível se obter o cálculo do risco individual à doença • Estudos focados em agregados: trabalham com dados populacionais, e não com indivíduos o Incapazes de avaliar o risco individual à doença TIPOS DE DELINEAMENTOS / ESTUDOS RELATO DE CASO OU SÉRIE DE CASO Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá Descrição cuidadosa e detalhada por um ou mais profissionais da saúde (geralmente clínicos) das características clínicas de 1 a 3 pacientes (relato de caso) ou de mais de 3 pacientes (relato de série de casos) • Foco na interpretação de sinais e sintomas • Não existe comparação analítica → não é possível realizar inferências acerca da ocorrência do(s) caso(s) • Pode auxiliar na descrição de um quadro clínico específico que pode ser importante para a epidemiologia conhecer padrões de doenças ou de doentes ESTUDO ECOLÓGICO Analisa um grupo ou determinada população de um dado local por meio de dados secundários, não envolvendo contato do pesquisador com os indivíduos • Frequentemente são realizadas combinações de bases de dados de grandes populações • Muito relevantes para a saúde pública, pois permitem avaliar a ocorrência de uma doença na comunidade e a efetividade das intervenções feitas no local • São geralmente mais baratos e mais rápidos • A qualidade desse tipo de estudo depende do sistema de informação de origem da base de dados Principais objetivos: • Gerar hipóteses etiológicas a respeito da ocorrência de determinada doença • Avaliar a efetividade de intervenções na população que prevenção de doenças ou promoção da saúde É considerado por muitos um estudo essencialmente descritivo, contudo já foram mostradas, por meio desse tipo de estudo, associações entre mudanças no tempo do nível médio de uma exposição e das taxas de doença em uma população em um dado local. Isso pode ser entendido como estudo analítico Pode ser delineado em um eixo transversal (avalia-se vários agregados com dados no mesmo período) ou, mais comumente, em um eixo longitudinal (avalia-se tendências construídas por meio de análises de séries históricas por meio de dados retrospectivos) • O eixo longitudinal é muito interessante para a saúde pública e a gestão em saúde Classificação dos estudos ecológicos de acordo com a base de referência para produção de dados: • Estudo territorial: há definição geográfica das unidades de observação (bairros, municípios, países) • Estudo institucional: há organizações coletiva como parâmetro (escolas, fábricas) Nesse tipo de estudo não existem informações em nível individual, sendo assim, não se trabalha com tabelas de contingência. Utiliza-se métodos de correlação (variação linear concomitante entre 2 ou mais variáveis quantitativas contínuas) Vantagens dos estudos ecológicos: • Examinar a associação entre exposição e doença na coletividade estudada • Baixo custo • Facilidade e rapidez de execução Desvantagens dos estudos ecológicos: • Não podem tirar conclusões sobre a causa da doença porque não há informações sobre o status de cada pessoa quanto à exposição e ao desfecho (ausência de acesso aos dadosindividuais) • Dificuldade para controlar os fatores de confusão • Falácia ecológica: atribuir a um indivíduo o que se observou com análises de grupo ESTUDO TRANSVERSAL Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá Pode ser chamado também de estudo seccional, de corte, de prevalência ou de inquérito epidemiológico É um delineamento observacional que pode ser tanto descritivo quanto analítico, ambos de base individual • Caracteriza-se pela seleção de pessoas de todo uma população ou amostra, sem considerar a exposição ou estado da doença • As medidas de exposição e efeito são realizadas ao mesmo tempo Objetivo principal: estimar a prevalência de uma doença ou de fatores associados na população São relativamente baratos, fáceis de conduzir e úteis na investigação das exposições que são características individuais fixas (como tipo sanguíneo, etnia) • Exemplo de uso de estudo transversal: investigação de surtos epidêmicos (geralmente é o primeiro passo para determinar sua causa) Os dados obtidos com esse estudo são úteis para avaliar as necessidades em saúde da população, pois fornecem indicadores de tendências Para ser válida, a pesquisa precisa ter um propósito muito claro, questionário bem elaborado, amostra de tamanho apropriado e boa taxa de resposta Vários países conduzem pesquisas transversais regulares que enfatizam características demográficas, doenças e hábitos relativos à saúde • Pesquisas transversais sobre fatores de risco para o desenvolvimento de doenças têm sido desenvolvidas em vários países ESTUDOS DE COORTE Também chamados longitudinais ou de incidência Inicia-se com a seleção de indivíduos saudáveis (principal característica desse tipo de estudo) que são classificados em subgrupos de acordo com a exposição (expostos e não expostos) a um fator de interesse que se deseja analisar (variáveis de exposição). Esses indivíduos são então acompanhados ao longo de um tempo para apurar incidência do desfecho/doença de interesse O objetivo principal desse estudo é a comparação da incidência de determinada doença entre os grupos (expostos e não expostos). Para isso, é necessário garantir que todos os participantes não apresentem o desfecho (doença) de interesse no início do estudo • Isso permite a determinação de uma relação temporal confiável entre a exposição e o desfecho São subdivididos em 2 tipos, segundo a localização temporal do delineamento: • Prospectivo ou concorrente o Seleção dos participantes no presente e acompanhamento sistemático até o desfecho o Permite uma coleta de dados mais detalhada da exposição o Estudo longo que demanda grande quantidade de recursos o Dificuldades: abordar patologias pouco frequentes e com longo período de latência • Retrospectivo ou não concorrente (coorte histórica) o A investigação inicia-se em um ponto no tempo em que tanto exposição quanto desfecho já ocorreram o O registro inicial depende de dados já coletados para outros propósitos (a definição entre exposição e desfecho é feita com base em informações do passado) o A qualidade e o grau de detalhamento das informações obtidas dependem do indivíduo e de sua memória o Estudo mais rápido e econômico, desde que haja dados passados disponíveis Principais vantagens dos estudos de coorte: Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá • Cálculos de incidência de desfechos entre expostos e não expostos • Permitir o estudo de múltiplos efeitos/consequências de um mesmo fator de exposição Principais desvantagens: • Potencial viés associado à perda de seguimento (morte, migração, desistência e falta de adesão) ESTUDO CASO-CONTROLE Seleciona indivíduos que desenvolveram e que não desenvolveram um desfecho de interesse (caso e controle, respectivamente), procurando avaliar a frequência de exposição passada a fatores que acreditam ser associados ao desfecho • Constituem uma forma relativamente simples de investigar a causa das doenças, particularmente de doenças raras • Inclui pessoas com a doença (ou com outra variável de desfecho) e pessoas não afetadas pela doença ou por variáveis de desfecho (grupo controle, de comparação ou de referência) o Os controles devem ser pertencentes à mesma população a que pertencem os casos para que a comparação seja válida • Trata-se de um estudo observacional, longitudinal e necessariamente retrospectivo • A escolha do caso deve ser baseada em critérios de inclusão claros e bem documentados o A maioria envolve casos incidentes, mas existem casos prevalentes que são possíveis de serem encaixados também ▪ Casos prevalentes são mais difíceis de serem considerados porque não existe certeza da data em que a condição se manifestou, então é difícil estabelecer uma linha temporal exata para a presença dos fatores de interesse Os casos e controles devem ser comparáveis • Pareamento: para cada caso selecionado, devem ser recrutados até 4 controles idênticos com relação a certas características o A escolha para as variáveis de pareamento deve envolver possíveis variáveis de confusão Inicia-se com a seleção de um grupo de indivíduos afetados pelo desfecho de interesse. Depois os pesquisadores buscam outros indivíduos com características semelhantes para comparar a presença dos fatores entre os casos e os controles • Após selecionados, ambos os grupos são pesquisados acerca de exposições diversas de interesse no passado • É interessante que o entrevistador não saiba quais são os casos e quais são os controles • Os controles devem ser selecionados de populações sob risco de ocorrência do desfecho #Cuidado!! Não confundir estudos de coorte retrospectivo com estudo de caso-controle • Coorte retrospectivo: medem a frequência do desfecho, pois nenhum dos indivíduos que iniciou o estudo apresentava o atributo de interesse • Caso-controle: o grupo com o desfecho é definido a priori e estuda-se o impacto das exposições Vantagens: • Estudo de doenças raras ou com longos períodos de incubação • Mais econômico e mais rápido de montar e conduzir e necessita de menos indivíduos que os estudos de coorte • Permite o estudo de vários possíveis fatores predisponentes ao mesmo tempo, podendo ser utilizado para avaliar componentes genéticos e ambientais Desvantagens: Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá • Assim como no estudo de coorte retrospectiva, é preciso confiar na memória dos participantes (dados podem ser incompletos ou inadequados) • Dificuldade de selecionar o grupo controle Estudo de caso-controle aninhado (nested): população total é enumerada e acompanhada, de tal forma que o número de casos descritos é o total de casos da população ou uma fração representativa destes e os controles são selecionados entre os indivíduos que estavam na população no momento em que cada caso ocorreu • Grande vantagem desse tipo: minimizar o viés de seleção, pois se tem certeza de que os controles selecionados são da mesma população dos casos • Permite estimar a frequência do desfecho de expostos e não expostos (incomum em estudos caso- controle convencionais) • São muito comuns esses estudos associados a coortes, sendo estudos híbridos Risco relativo (RR): não pode ser utilizado em estudos tipo caso-controle porque não há como saber sobre taxas da doença, já que os grupos são determinados pelos critérios de seleção do pesquisador, e não por eventos da natureza • A OR é uma estimativa desse parâmetro Odds Ratio (OR): medida de associação do tipo probabilidade utilizada em estudos caso-controle, sendo a razão entre as chances de doença no grupo exposto em relação à doença no grupo não exposto • Razão entre a chance de um indivíduo ser exposto no grupo de casos e a chance de ser exposto no grupo controle ENSAIOS CLÍNICOS São estudo analíticos, prospectivos e experimentais que têm comoobjetivo testar o efeito de uma intervenção em saúde Trata-se de um estudo em que um grupo de pessoas é acompanhado (como no coorte) porém há intervenção terapêutica (testar uma nova droga) ou preventiva (exames de rastreamento) pelo pesquisador Ensaios clínicos: estudos de intervenção com indivíduos Ensaios clínicos comunitários: estudos de intervenção com agregados populacionais Grande vantagem desse tipo de estudo: randomização (ferramenta mais poderosa para controle dos fatores de confusão entre os grupos) • Ao selecionar uma amostra e randomizar em 2 grupos, presume-se que todos os fatores confundidores, pelas leis da probabilidade, estarão balanceados entre os grupos, de tal forma que para qualquer intervenção realizada, o desfecho será devido à intervenção e não a outros fatores o O ensaio clínico randomizado é o desenho que mais se aproxima do ideal para a inferência causal Estudo de intervenção controlado: são acompanhados 2 grupos, de tal forma que o primeiro é tratado com esquema terapêutico em estudo e o outro recebe o placebo ou o convencional (grupo controle) • Estudos “antes-depois”: estudos não controlados em que todos os participantes recebem a mesma intervenção e suas condições são verificadas no início e no final do tratamento Os ensaios clínicos apresentam a mesma estrutura de uma coorte prospectiva, mas nesse caso os grupos de exposição não ocorrem naturalmente, mas sim são expostos ou não experimentalmente por critérios de randomização. Porém, diferentemente dos coorte, todos os participantes dos ensaios clínicos iniciam com a doença/desfecho • Com o tempo, é verificada a diminuição da frequência do desfecho quando o fator experimental tem algum impacto na diminuição da doença Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá O ensaio clínico controlado pode ser: • Randomizado: alocação dos participantes nos grupos de intervenção e controle é feita de forma aleatória (sorteio) o Somente os indivíduos devem ser randomizados, não as comunidades (quando randomizadas podem correr o risco de falácia ecológica) o O ensaio clínico randomizado é considerado o delineamento padrão-ouro, pois é o que menos sofre influência de fatores de confusão e vieses em geral • Não randomizado: quando os grupos de intervenção e controle são formados com base em critérios de disponibilidade e conveniência (maior possibilidade de presença de fatores de confusão) Ensaio clínico controlado cruzado (crossover): um grupo de pacientes recebe o tratamento e outro grupo recebe o placebo. Depois há uma inversão, em que o 1° grupo recebe o placebo e o 2° recebe o tratamento • Deve-se afastar a possibilidade de o tratamento na primeira ou sua falta não interferir na 2ª Técnica de mascaramento ou avaliação cega: evitar que os pacientes do estudo saibam qual o tratamento que estão recebendo • Evitar o efeito Hawthorne: tendência de os pacientes mudarem seu comportamento quando são alvos de atenção especial • Uso de placebo: substância de aparência, forma e administração semelhantes às do tratamento que está sendo testado, porém sem princípio ativo o Por questões éticas, só deve ser utilizado caso não exista um tratamento padrão alternativo de eficácia conhecida Ensaio multicêntrico: quando o tamanho da amostra necessária é muito grande e o ensaio é realizado em vários centros Estimadores de efeito de tratamento: • Redução absoluta de risco (RAR): diferença de risco entre os indivíduos controles em relação aos tratados, ou seja, frequência do desfecho do grupo controle subtraída da frequência do desfecho do grupo tratado • Risco relativo (RR): razão entre as incidências do desfecho (entre o risco de morte no grupo tratado e o risco de morte no grupo controle) • Redução relativa de risco (RRR): expressa a redução percentual do evento no grupo tratado em relação ao grupo controle, sendo calculado pela subtração 1 - RR • Número necessário para tratar (NNT): número de pacientes que devem ser tratados a fim de que um evento adverso adicional seja evitado o Exemplo: se uma droga tem NNT = 5, significa que 5 pacientes precisam ser tratados para que uma morte adicional seja evitada. Em outras palavras, para cada 5 pacientes tratados, uma morte é evitada Pesquisa de novos medicamentos: • Os ensaios clínicos são utilizados no desenvolvimento e investigação de novos medicamentos o Dividido em 5 fases, sendo a última uma etapa pós comercialização em que se busca conhecer as reações adversas do medicamento ainda não detectadas → o órgão responsável pela vigilância de produtos poderá suspender sua comercialização caso surjam novas evidências de que a droga apresenta risco significativo à população • Avaliação ética: evitar o uso de seres humanos apenas como cobaias de testes, sem o menor respeito em dignidade, integridade e valores o Estudos prévios em animais, análise de riscos e benefícios, não indução à participação (sendo esta um consentimento voluntário do participante) e direito de se retirar no decorrer do ensaio Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá ESTUDOS QUALITATIVOS O método clínico qualitativo busca interpretar os significados de natureza psicológica e sociocultural trazidos pelo indivíduo acerca dos múltiplos fatores envolvidos no campo dos problemas da saúde-doença Os métodos qualitativos valorizam vivências e experiências de vida, adesão e não adesão ao tratamento, estigmas, fatores facilitadores e dificultadores perante as abordagens ERROS POTENCIAIS EM ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS Os erros podem ser aleatórios ou sistemáticos ERRO ALEATÓRIO O valor medido na amostra do estudo diverge do verdadeiro devido ao acaso Nunca pode ser completamente eliminado porque quase sempre o estudo é conduzido em uma pequena amostra da população Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá Decorre de medida imprecisa de associação, tendo 3 principais causas: • Variação biológica individual • Erro de amostragem: falta de representatividade da amostra, não contempla toda a variedade da população o Forma de reduzir esse erro: aumentar o tamanho da amostra o Tamanho da amostra: deve ser grande o suficiente de tal forma que o estudo tenha poder estatístico de detectar diferenças importantes ▪ Frequentemente é determinado por questões logísticas e financeira • Erros de medida: nenhuma medida é perfeitamente precisa por conta de variações individuais o Podem ser reduzidos com usos de protocolos rigorosos ERRO SISTEMÁTICO Pode ser chamado também de viés Resultados diferem de uma maneira sistemática dos verdadeiros valores Estudo com pouco erro sistemático é dito de alta precisão (acurácia) • A precisão não é afetada pelo tamanho da amostra Existem mais de 30 já identificados, sendo os principais: • Viés de seleção: diferença sistemática entre as características das pessoas selecionadas para o estudo em relação àquelas que não foram selecionadas o Muito comuns em estudos com seleção voluntária (autosseleção), pois geralmente vão pessoas que se interessam pelo assunto por estarem doentes ou se preocuparem com sua saúde ▪ Ex: em estudos sobre hábitos de fumar os tabagistas que participam são diferentes dos tabagistas que não aceitam participar, os quais costumam ser tabagistas mais pesados o Muitas vezes o viés de seleção surge quando a doença ou fator de risco por si só excluem a pessoa do estudo ▪ Ex: epidemiologia ocupacional → “efeito do trabalhador sadio” → os trabalhadores são suficientemente saudáveis para executarem suas funções, pois os que não eram nem chegaram a ser admitidos no emprego o É necessário considerar esse viés em todos os tipos de delineamento epidemiológico • Viés de mensuração ou de classificação: ocorre quando a medida individual ou classificação da doença são imprecisas, não medindo corretamenteo que se propõem a medir o Medidas bioquímicas ou fisiológicas nunca são completamente precisas o Diferentes laboratórios frequentemente produzem diferentes resultados para um mesmo indivíduo o Viés de memória: há um diferencial de memória na informação entre casos e controles, de tal forma que alguns indivíduos se lembram mais facilmente de determinada exposição que outros ▪ Pode exagerar ou subestimar o efeito da exposição o Viés de observador: quando o investigador, técnico do laboratório ou participante sabem sobre a condição da exposição podem influenciar na medida ▪ Estudo “cego”: o investigador não sabe se o participante pertence aos casos ou aos controles ▪ Estudo “duplo-cego”: nem os participantes nem os investigadores sabem a que grupo pertencem Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá FATOR DE CONFUSÃO Ocorre quando, em um estudo de associação entre exposição a uma determinada causa ou fator de risco e a ocorrência da doença, há outra exposição (estranha) no estudo que está associada com a doença e/ou com a exposição em estudo. O problema surge, sobretudo, quando esse fator estranho se encontra desigualmente distribuído entre os subgrupos expostos • Ex: relação entre consumo de café e doença cardíaca coronariana, em que há, entre os participantes consumidores de café, o hábito de fumar oculto, de tal forma que o fumo confunde a aparente relação entre o consumo de café e a doença coronariana Podem levar a conclusões incorretas de que os efeitos são devido a uma variável e não outra A variável de confusão pode estar associada com a exposição e não ser consequência dela e/ou pode estar associada com o desfecho, independente da exposição É resultado da distribuição não randômica do fator de risco, tanto na população quanto na amostra, podendo levar a uma estimativa errada do efeito • Não resulta de erros sistemáticos no delineamento da pesquisa CONTROLE DOS FATORES DE CONFUSÃO Podem ser utilizados métodos que controlam esses fatores de confusão tanto no delineamento do estudo quanto na análise dele Métodos de controle no delineamento do estudo: • Randomização: método ideal para assegurar que potenciais variáveis de confusão sejam igualmente distribuídas entre os grupos que estão sendo comparados o Aplicável somente a estudos experimentais • Restrição: limitar o estudo a pessoas que apresentam uma característica em particular o Ex: no caso do efeito do café na ocorrência de doença coronariana, o estudo poderia se limitar somente não fumantes • Emparelhamento: os participantes do estudo são selecionados de forma a assegurar que as variáveis de confusão sejam igualmente distribuídas nos 2 grupos de comparação o Cada paciente pode ser emparelhado com um controle de mesma faixa etária, seco, etnia, entre outros, de tal forma a evitar que essas variáveis atuem como fatores de confusão o Sobre-emparelhamento: problemas de seleção de controles em que se tem muitos critérios ou critérios muito restritos o Pode ser caro e demorado Métodos de controle na análise do estudo: • Estratificação: medidas da força de associação entre categorias homogêneas bem definidas (estratos) das variáveis de confusão o Ex: se a idade puder atuar como um fator de confusão, a associação pode ser medida em grupos de 10 anos apenas o Apesar de conceitualmente simples e fácil, frequentemente é limitada pelo tamanho do estudo e não pode ajudar no controle simultâneo de muitos fatores de confusão ▪ Nesse caso, modelagens estatísticas pode, ser úteis VALIDADE Capacidade de um teste de medir aquilo que ele se propõe a medir (os resultados do estudo correspondem à verdade). Quando isso ocorre, não existe erro sistemático e o erro aleatório é o menor possível Validade interna de um estudo: grau no qual os resultados da observação estão corretos em relação ao grupo particular de pessoas que estão sendo estudadas Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá Validade externa de um estudo (ou generalização): é a extensão na qual os resultados de um estudo são aplicados para pessoas que não participaram dele • A validade interna não garante validade externa • Requer controle de qualidade das medidas e julgamento sobre o quanto os resultados de um estudo podem ser extrapolados • É garantida quando resultados similares forem obtidos em diferentes populações, tendo, portanto, constância QUESTÕES ÉTICAS Dizem respeito a todas as ações políticas certas ou erradas, leais ou desleais, justas ou injustas Todos os estudos epidemiológicos devem ser revisados e aprovados por um comitê ético. Os princípios éticos aplicados à pesquisa e à prática epidemiológica incluem: • Consentimento informado livre ou voluntário o Deve ser obtido dos participantes dos estudos epidemiológicos e eles têm direito de abandonar o estudo em qualquer momento o É impraticável o consentimento para obtenção de informações de registros médicos → deve- se respeitar a privacidade do participante o Dizer o que está sendo feito e por que o Devolver os resultados dos estudos e sua significância para a população envolvida • Confidencialidade: preservar a confidencialidade das informações obtidas nos estudos (registros médicos, registros de casos e arquivos de dados) • Respeito pelos direitos humanos • Integridade científica: anseio dos cientistas pelo sucesso muitas vezes os levam a agir de maneira não ética, como invenção de dados e influência de conflitos de interesse INTRODUÇÃO AOS TESTES DIAGNÓSTICOS INTRODUÇÃO Métodos diagnósticos (MDs): processo analítico pelo qual o especialista examina uma doença ou um quadro clínico, compreendendo anamnese, exame clínico, exames complementares, provas terapêuticas e acompanhamento clínico “A probabilidade pós-teste de uma doença é função da sensibilidade e da especificidade do exame e da prevalência da doença na população (probabilidade pré-teste)” – Thomas Bayes (XVIII) Ao solicitar um teste diagnóstico deve-se considerar fatores como: • Risco atribuído a ele, podendo ser grande ou pequeno → segurança do teste • Gravidade da doença • Aceitação do teste e de seus parâmetros POSSIBILIDADES DIAGNÓSTICAS Para que o teste seja considerado útil, ele deve identificar corretamente a presença da doença Os testes podem ter 2 resultados cabíveis (positivo ou negativo) e para o paciente que foi examinado existem 2 possibilidades (doente ou não doente). Somam-se então 4 diferentes situações: Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá • 1 e 4: verdadeiros positivo e negativo respectivamente • 2: falso negativo • 3: falso positivo Acurácia do teste: capacidade do teste de indicar se a doença está realmente presente ou realmente ausente • Quanto maior for o número de verdadeiros positivos e verdadeiros negativos que ele indicar, maior será sua acurácia → padrão-ouro Algumas vezes o teste padrão-ouro é por si só simples e de baixo custo, mas muitas vezes é preciso recorrer a teste relativamente mais elaborados, caros e arriscados para se ter certeza da presença ou ausência da doença PARÂMETROS Eficiência de um teste: capacidade de distinguir doentes e não doentes • Essa capacidade é dada pelo aumento da sensibilidade e da especificidade Os parâmetros de testes diagnósticos servem, sobretudo, para avaliar as proporções de seus acertos e para mensurar a probabilidade de um indivíduo diagnosticado como positivo ou negativo ser, de fato, positivo ou negativo (valores preditivos) #tanto a sensibilidade quanto a especificidade são atributos intrínsecos ao teste, sendo chamados de propriedades do teste SENSIBILIDADE Capacidade do teste de reconhecer os verdadeiros positivos em relação ao total de doentes, ou seja, a proporção de pessoas com a doença que tiveram o teste positivo Trata-se da divisão dosindivíduos diagnosticados como doentes no teste pelo total de indivíduos doentes Testes ditos altamente sensíveis possuem baixíssimos índices de falsos negativos São escolhidos quando as consequências de deixar passar uma doença são ruins. Além disso, também são utilizados para rastreamento populacional e estágios iniciais de um processo de diagnóstico (ex: teste de anticorpos para HIV) ESPECIFICIDADE Capacidade do teste de distinguir os verdadeiros negativos em relação ao total de doentes, ou seja, a proporção de pessoas sem a doença que tiveram seu teste negativo Trata-se da divisão dos indivíduos diagnosticados como negativos em um teste pelo total de indivíduos não doentes Testes ditos altamente específicos têm poucos falsos positivos • Um teste específico raramente é positivo caso a doença esteja ausente São escolhidos para confirmar um diagnóstico que tenha sido sugerido por outros métodos, como um exame clínico São bastante úteis quando um resultado falso positivo pode trazer prejuízos emocionais, físicos e/ou financeiros ABORDAGENS QUE ALTERAM A SENSIBILIDADE E A ESPECIFICIDADE Realização de testes em série: testes sequenciais em pacientes que tiveram um resultado positivo prévio, visando aumentar a especificidade às custas de uma redução da sensibilidade Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá Realização de testes em paralelo: múltiplos teses simultâneos visando aumentar a sensibilidade às custas de uma redução da especificidade VALORES PREDITIVOS Os valores preditivos são indicadores que variam de acordo com a prevalência • A prevalência da doença pode ser dita como a probabilidade pré-teste de o paciente ter a doença Valor preditivo positivo (VPP): proporção de verdadeiros positivos entre todos os indivíduos com teste positivo • É capaz de expressar a probabilidade de um paciente com teste positivo ter, de fato, a doença • Pode ser dito como a probabilidade pós-teste de o paciente ter a doença Valor preditivo negativo (VPN): proporção de verdadeiros negativos entre todos os indivíduos com teste negativo • É capaz de expressar a probabilidade de um paciente com teste negativo realmente não ter a doença Dessa forma, nota-se que os valores preditivos são influenciados não só pela sensibilidade e especificidade, como também pela prevalência da doença na população em que o teste é aplicado CURVA ROC Mostra a relação entre a sensibilidade e a especificidade de um teste e pode ser utilizada para decidir onde fica o melhor ponto de corte para separar resultados dicotômicos (doentes e não doentes) • A discriminação de um ponto de corte deve ser criteriosa, pois rotular doentes e não doentes é uma tarefa arriscada Utilizada em testes diagnósticos que não produzem resultados diretamente expressos, mas sim sob a forma de uma variável quantitativa discreta ou contínua. Daí, é traçado um ponto de corte para a rotulação Linha de referência: linha que corta o gráfico e não possui valor diagnóstico Leonardo Souza – Medicina Universidade Federal do Amapá TESTE DIAGNÓSTICOS E PREDIÇÕES CLÍNICAS Razão de verossimilhança positiva (LR+): expressa quantas vezes é mais provável encontrar um resultado positivo em pessoas doentes quando comparadas com pessoas não doentes • Quanto maior a LR+ de um teste, maior sua capacidade de diagnosticar a doença Razão de verossimilhança negativa (LR-): expressa quantas vezes é mais provável encontrar um resultado negativo em pessoas doentes quando comparadas a pessoas não doentes • Quanto menor a LR- de um teste, menor a suspeita da doença em pacientes com esse teste Popularização de smartphones e aplicativos que realizam o cálculo da probabilidade pós-teste → queda do nomograma de Fagan TESTES DE RASTREAMENTO DE DOENÇAS NA POPULAÇÃO Rastreamento = identificação de doença ou fator de risco não reconhecido por meio da história clínica, exame físico, exame laboratorial ou outro procedimento que pode ser aplicado rapidamente • Ideia de peneira: separar as pessoas que estão aparentemente bem, mas apresentam a doença ou fator de risco, daquelas que não os apresentam • As doenças-alvo de rastreamento devem ser aquelas que possuem probabilidade pré-teste (prevalência) alta na população em questão, caso contrário é um tiro no escuro
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