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License-530327-37472-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Definições e conceitos Neste tópico, você vai aprender sobre a cultura organizacional nas empresas, algumas posturas dos pesquisadores em relação a ela e o embasamento teórico mais utilizado. Vamos lá! Introdução A cultura está para um grupo, assim como a personalidade ou carácter está para uma pessoa. No entanto, quando falamos em cultura organizacional, temos que ter cuidado com a palavra cultura que, de forma geral, está relacionada aos conhecimentos, costumes, crenças, arte, moral, leis e padrões de comportamento do ser humano na vida social. A cultura organizacional trata, estritamente, das organizações. Fonte: iQoncept, Shutterstock, 2018. License-530327-37472-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Com base na nossa vivência, conseguimos opinar sobre a cultura organizacional das empresas. Quantas vezes já ouvimos dizer, por exemplo, que “isto é da cultura da empresa”, ou já pensamos que o nosso trabalho seria mais agradável se tivéssemos uma “empresa com a cultura igual à das empresas do Vale do Silício”? A cultura organizacional diferencia uma empresa da outra, sendo um sistema de valores compartilhado por seus colaboradores. Para os pesquisadores, estudar comportamento e cultura organizacional é uma tarefa desafiadora, uma vez que, dentre outras questões, é uma tarefa complexa chegar a um entendimento do que é cultura, pois há múltiplas definições utilizadas para descrevê-la. Para começar, o pesquisador pode ter três tipos de postura em relação às investigações dos fenômenos culturais: empiricista: investiga a organização sem um referencial teórico prévio; antropólogo: formula questões e busca por respostas baseado em referenciais teóricos, procurando agir como um observador; clínico/terapeuta: é semelhante ao antropólogo, mas as questões não são elaboradas previamente, elas emergem da própria organização. O quadro a seguir revela uma síntese das posturas de investigação da cultura organizacional: Empiricista Antropólogo Clínico/terapeuta Referencial teórico Não Sim Sim Observador - Sim Sim Elaboração das questões - Previamente Emerge da organização License-530327-37472-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL As raízes antropológicas Os estudos da cultura organizacional têm forte influência da antropologia. Fonte: CoraMax, Shutterstock, 2018. A necessidade de entender os elementos simbólicos das organizações tem levado os pesquisadores na direção de uma elaboração de propostas conceituais inseridas em modelos teóricos, nos quais podemos recuperar as raízes antropológicas e sociológicas que dão fundamento conceitual para a área organizacional. Na perspectiva antropológica, a dimensão simbólica é entendida como capaz de integrar todos os aspectos da prática social. A perspectiva antropológica tende a ver os padrões culturais como as regras do jogo, isto é, uma estrutura que permite atribuir significado a certas ações e em função da qual se jogam infinitas partidas. Os profissionais, quando trabalham em várias empresas, costumam perceber que há comportamento considerados adequados em algumas empresas, mas entendidos como impróprios em outras. São as regras do jogo. License-530327-37472-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL A perspectiva sociológica procura explorar o processo de elaboração do universo simbólico. Podemos observar, nas organizações, como símbolos são criados e os procedimentos para legitimá-los. Um exemplo é o mito da empresa como uma grande família, como na afirmação: “essa empresa é uma mãe”. Conceituação Existem pesquisas sobre cultura organizacional com os mais variados enfoques teóricos. Estas vão desde as propostas mais simplistas, como as pesquisas de clima organizacional com uma postura mais empirista, até propostas mais elaboradas, em que é assumida a postura de antropólogo com questionamentos acerca do significado dos símbolos nas organizações. Entre tantas formas de se investigar a cultura, Edgar Shein é um dos pesquisadores que vai mais adiante na proposta de trabalhar, do ponto de vista conceitual e metodológico, a cultura. Ele tem o mérito de propor um instrumental conceitual e metodológico para se trabalhar com cultura organizacional, sendo a favor da adoção da postura do clínico/terapeuta. O seu conceito de cultura organizacional – e talvez o que tenha mais influência na área da pesquisa organizacional – considera que a cultura organizacional é o padrão de pressupostos básicos que um dado grupo tem inventado, descoberto ou desenvolvido na aprendizagem para enfrentar seus problemas de adaptação externa e integração interna, e tem trabalhado bem o suficiente para ser considerado válido e, por isso, é ensinado a novos membros como o caminho correto para compreender, pensar e sentir em relação a aqueles problemas. License-530327-37472-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018 Essa definição captura um dos desafios básicos enfrentados por uma cultura para conciliar os frequentes objetivos e ações divergentes de seus membros. Também mostra que a efetividade e grau de consistência interna de uma cultura decorre do grau de estabilidade do grupo, do tempo que o grupo existe, da intensidade da experiência de aprendizado do grupo, do mecanismo pelo qual tem acontecido o aprendizado e da efetividade e clareza dos pressupostos apreendidos pelos fundadores e líderes do grupo. Cultura organizacional é o padrão de pressupostos básicos desenvolvido na aprendizagem para enfrentar problemas. Apesar das suas raízes antropológicas e psicológicas, segundo Schein, a dimensão do poder é ausente. Nesse ponto, o trabalho desenvolvido por Max Pages e colaboradores representou um marco significativo, pois eles estudaram o fenômeno do poder nas organizações. License-530327-37472-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Na concepção desses autores, a organização hipermoderna se configura como um lugar autônomo de produção simbólica, articulada às demais práticas da empresa: mercadológica, financeira e comercial. A empresa hipermoderna investe nos aparelhos ideológicos da sociedade global (notadamente por meio da intermediação do Estado) procurando influenciar suas orientações, tornando-se um dos locais da produção ideológica. Essas organizações ambicionam e, geralmente, conseguem se tornar lugares de produção de significados e de valor. É possível pensar, de forma figurada, que a empresa hipermoderna é como uma nova “religião” que é colocada em prática nos dispositivos da política de pessoal. As organizações hipermodernas são os grandes conglomerados multinacionais, em que se pratica não apenas uma dominação econômica, mas também política, ideológica e psicológica. Elas têm um significativo poder político que influencia e age sobre governos e grupos sociais. Podem destruir culturas e mobilizar um comportamento uniforme e padronizado dos indivíduos. Para Fleury, o debate de várias linhas que trabalham com a cultura organizacional aponta a necessidade de incorporar a dimensão política às concepções de Schein. Nesse sentido, é possível afirmar que a cultura organizacional é concebida como um conjunto de valores e pressupostos básicos, expresso em elementos simbólicos que, em sua capacidade de ordenar, atribuir significado e construir a identidade organizacional, tanto age como elemento de comunicação e consenso como oculta e institucionaliza as relações de dominação. Portanto, para fins de sistematização, podemos afirmar que a antropologia é um importante referencial para quem procura entender as organizações a partir dos elementos simbólicos dos padrões culturais. Com a evolução dos estudos, outros referenciais foram sendo agregados, como os teóricos da psicologia. Por fim, foi agregada também a dimensão do poder para se estudar como ela age em relação a todos os outros elementos. Com esse embasamento,já podemos seguir nossos estudos. Até a próxima! License-322360-39314-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Níveis e elementos da cultura Na unidade anterior, aprendemos o conceito de cultura organizacional. Nesta unidade, vamos apresentar para você os níveis e os elementos da cultura organizacional, bem como a dinâmica que permeia esses níveis e elementos. Níveis da cultura Você acha que é fácil tirar conclusões acerca da cultura de uma empresa? Conseguimos observar certos comportamentos, por exemplo, o nível de formalidade nas relações dos colaboradores, e ter ideia de algumas nuanças. Mas será que podemos compreender a cultura a partir apenas do que conseguimos observar? Schein acredita que não é tão simples assim, pois há também aspectos que não são facilmente identificados. Esse autor nos apresenta o seu modelo de cultura organizacional em três níveis: externo, intermediário e interno, que serão estudados nesta unidade. O modelo de cultura organizacional de Schein apresenta três níveis: externo, intermediário e interno. Fonte: Jane0606, Shutterstock, 2018. License-322360-39314-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL No nível externo, a cultura é manifestada por meio de artefatos e criações – que são as mais visíveis manifestações da cultura. São os fenômenos que vemos, ouvimos e sentimos; é um nível fácil de ser observado, mas difícil de ser decifrado. Você consegue imaginar quais são esses artefatos? Entre eles, podemos mencionar arte, tecnologia e padrões de comportamento visíveis e audíveis, como mitos, heróis, linguagem, rituais e cerimônias. Perceba que os artefatos também podem ser observados e sentidos no layout físico, na maneira de se vestir, na maneira como as pessoas de dirigem às outras, no aroma e na sensação do local, na sua intensidade emocional e outros fenômenos mais permanentes, como registros, produtos, afirmações filosóficas e relatórios anuais. Assim, podemos dizer que no nível externo está aquilo que conseguimos observar, como, por exemplo, o tipo de roupa que as pessoas usam: terno e gravata ou jeans e camiseta. No nível intermediário, temos os valores que representam as manifestações da cultura, as quais significam crenças e valores expostos ou assumidos, identificando o que é importante para um grupo cultural. Crenças e valores expostos aceitos passaram por uma validação social, que é a experiência social compartilhada de um grupo, que os confirmou. Quando analisamos crenças e valores, devemos ter o cuidado de buscar entender o que está de acordo com as suposições básicas e o que são aspirações para o futuro. Além do mais, frequentemente crenças e valores expostos ou assumidos deixam áreas do comportamento sem explicação, criando lacunas no entendimento da cultura que, por sua vez, serão preenchidas apenas pelo entendimento dos pressupostos inconscientes. Podemos dizer que neste nível estão os valores assumidos e que são importantes para as pessoas. Seguindo o exemplo anterior, poderíamos supor que usar jeans e camiseta está associado ao valor da simplicidade. Por fim, no nível interno, temos os pressupostos inconscientes, que são o cerne da cultura e representam um sistema de crenças que os indivíduos têm para com o comportamento humano, os relacionamentos, a realidade e a verdade. De acordo com Schein, os pressupostos inconscientes que foram assumidos como verdadeiros têm pequena variação dentro de um grupo, e esse License-322360-39314-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL consenso resulta do repetido sucesso em implantar crenças e valores. Os pressupostos inconscientes representam as estruturas cognitivas ou esquemas interpretativos que as pessoas utilizam para perceber situações e fazer senso de existentes eventos, atividades e relacionamentos pessoais, formando a base da ação coletiva. A cultura, como um conjunto de pressupostos inconscientes, define aquilo a que se deve prestar atenção, o que as coisas significam, como reagir emocionalmente e que ações adotar em vários tipos de situações. Em outras palavras, são as verdades profundas tão assumidas como certas e inquestionáveis que as pessoas nem as percebem e, muitas vezes, as sentem como inatas ou como uma essência humana universal. No caso do valor da simplicidade, pode estar associado ao pressuposto inconsciente do desapego às coisas materiais. Para ilustrar, o esquema a seguir mostra os níveis de cultura de Schein: Artefatos Crenças e valores expostos Pressupostos inconscientes Fonte: Adaptado de SCHEIN, 2009. Vejamos um outro exemplo prático que ilustra os três níveis da cultura e suas relações. Em uma empresa hipotética, os colaboradores têm como pressuposto básico que a pessoa deve cuidar e preservar o mundo onde vivemos. Nessa organização, portanto, os valores assumidos, como cuidado com meio ambiente e sustentabilidade, são muito importantes. Nos artefatos, esses valores se refletem no logo da empresa, em que predomina o verde; nos recipientes de coleta seletiva para todos os tipos de lixo; em seus prédios, que têm sistemas de coleta da água da chuva para, entre outras funções, o funcionamento das descargas dos banheiros; e na exigência de que toda empresa fornecedora seja considerada ecologicamente correta. License-322360-39314-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Você entendeu o modelo de cultura organizacional de Schein? Vamos estudar, agora, os elementos da cultura organizacional. Elementos da cultura organizacional Podemos destacar três tipos de elementos da cultura organizacional que estão relacionados aos níveis estudados no subtópico anterior: artefatos visíveis no nível mais externo; valores no nível intermediário; pressupostos inconscientes no nível mais interno. Para Schein, valores são mais fáceis de analisar do que pressupostos inconscientes. E por quê? Porque estes são invisíveis e pré-conscientes, por isso não são tão facilmente passíveis de análise, bem como artefatos culturais (tecnologia, arte, comportamentos visíveis e audíveis), que, sendo mais visíveis, não são facilmente decifráveis. Os pressupostos profundamente apreendidos começam historicamente, como valores que, conforme vão suportando o teste do tempo, gradualmente vão sendo tomados como certos e, em seguida, vão virando característica do pressuposto, tornando-se cada vez menos abertos à discussão. Fonte: Shutterstock, 2018. License-322360-39314-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Vamos retomar o exemplo anterior. Imagine que, em algum momento da história da empresa, seus dirigentes adotaram o valor sustentabilidade. Em um primeiro momento, os colaboradores até estranharam, mas, com o passar do tempo, perceberam os resultados de ser sustentável, como a diminuição do desperdício, a geração de menos impacto ambiental, colaboradores mais motivados e a sociedade admirando essa conduta da empresa. Em um segundo momento, fixou-se o pensamento de que ser sustentável é o correto, ninguém mais questiona e ninguém mais resgata a história da empresa para saber. As ações sustentáveis são entendidas como corretas, pois agora isto se tornou um pressuposto inconsciente. Valores são mais fáceis de analisar do que pressupostos inconscientes. Decifrar a cultura organizacional Schein afirma que, para se decifrar a cultura de uma organização, é preciso mobilizar os pressupostos inconscientes ou básicos dela. Quando as organizações evoluem, as suposições se desenvolvem, refletindo os pressupostos mais profundos sobre questões gerais que demandam um consenso das pessoas para se manterem em um entendimento mútuo das coisas. Isto quer dizer que as pessoas precisam ter algum nível de concordância sobre que é a verdade, falsidade, como viver em sociedade, quais são as regras de convivência, etc. Em resumo, para chegar a esse nível, devemos nos perguntar sobre: a relação com a natureza; a natureza da realidade ou da verdade; a natureza humana;a natureza da atividade humana; a natureza das relações humanas. License-322360-39314-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Observe que essas dimensões mais profundas impactam nas questões de adaptação externa e integração interna. As pessoas que formam as organizações podem vir de ambientes diferentes, de culturas diferentes e ter profissões diferentes. Assim, podem ter pressupostos diferentes sobre essas dimensões. Isto pode trazer alguma dificuldade de convivência para as pessoas, mas, à medida que elas vão desenvolvendo pressupostos comuns nesse nível interno, a cultura vai se estabelecendo e a integração interna melhora. Essa situação de adaptação da cultura organizacional em nível de pressupostos básicos pode ficar bem evidente nas fusões e aquisições de empresas. Nessas situações, culturas diferentes são unidas, levando muitas vezes à dominação de uma cultura sobre a outra. O que pode ocorrer também é que as fusões e aquisições podem não ser bem-sucedidas devido ao choque das culturas corporativas. Clique na figura para assistir ao vídeo License-322360-39314-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Fonte: 3d brained, Shutterstock, 2018. Assim, constatamos que a cultura apresenta aspectos simples e complexos, que podem ser muito desafiadores em um processo de análise. A formação dos aspectos da cultura começa com valores adotados que, se suportarem o tempo, tornam-se o que é correto e esperado pelos membros. Para estudar todas essas questões culturais, Schein defende a postura clínica, que é pautada na observação para mobilizar (ou fazer emergir) os pressupostos inconscientes da cultura da organização. Com isso, podemos avançar em nossos estudos. Até a próxima unidade! License-532354-39312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Criação e manutenção da cultura Vamos tratar de alguns aspectos da cultura organizacional relacionados à sua criação e manutenção. Também vamos ver alguns elementos que influenciam essa situação. Criação da cultura organizacional Quando uma organização inicia sua jornada, como será que sua cultura se forma? Como esse processo é construído? Ou podemos identificar padrões na sua formação? Quando observamos a cultura de uma organização, buscamos em momento anteriores os resultados do que foi feito no passado e deu certo. De acordo com Robbins, seguindo essa trajetória nos encadeamentos da evolução da organização, chegamos aos fundadores da empresa. É a eles que se atribui a maior importância na formação da cultura organizacional, já que os fundadores desenvolvem formas próprias de resolver os problemas, imprimindo sua visão de mundo aos demais e o papel da organização no mundo. Os fundadores concebem a organização, a estruturam e a desenvolvem constantemente, tecendo elementos simbólicos de acordo com a sua visão. Os fundadores da organização têm grande importância na formação da cultura organizacional. Quando a empresa é bem-sucedida, a visão dos fundadores passa a ser vista como o principal fator do sucesso. Assim, tudo o que os fundadores representam se torna uma parte da cultura organizacional. Em empresas estatais, em que não há uma pessoa fundadora, certos diretores assumem esse papel, imprimindo sua visão à organização. License-532354-39312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Fonte: ChristianChan, Shutterstock, 2018. Você já se deu conta de que algumas empresas são mais conhecidas pelo nome de seu fundador? E que há características dessas organizações que estão enraizadas na personalidade desse fundador? Consolidação e manutenção da cultura organizacional A cultura organizacional inicial, após ser estabelecida, deve ser mantida. Você sabe como ela se mantém? Será que basta apenas a figura do fundador para mantê-la? Para manter a cultura organizacional, são realizadas práticas com esse objetivo. Podemos observar essa situação nas práticas de recursos humanos, tais como processo de seleção, critérios de avaliação de desempenho, atividades de treinamento e desenvolvimento de carreira e procedimentos de promoção de colaboradores. Note que isto assegura que os novos integrantes se ajustem à cultura e, desta forma, que quem License-532354-39312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL progride na organização são aqueles que se enquadram na cultura organizacional. Quem a adota é recompensado e quem a contesta é penalizado – às vezes até demitido. Mas será que toda a cultura organizacional é formada somente a partir dos fundadores e líderes? A situação é mais complexa. Toda organização que passou por experiências comuns pode ter uma forte cultura organizacional que prevaleça. Por outro lado, também podemos notar que, dentro da organização, grupos de atividades semelhantes desenvolvem subculturas próprias, por exemplo, a cultura dos gerentes, da Tecnologia da Informação (TI) e dos engenheiros. Assim, essas subculturas podem reforçar ou entrar em colisão com a cultura da organização. E os colaboradores da organização também influenciam a cultura organizacional? Para Scholz, a cultura organizacional tem uma relação de influência em dois sentidos em que, resumidamente, a cultura organizacional influencia os comportamentos e vice-versa. A cultura organizacional tem uma relação de influência em dois sentidos, pois a cultura organizacional influencia os comportamentos e vice-versa. Fonte: Shutterstock, 2018. License-532354-39312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL A cultura organizacional atua como um direcionador do comportamento individual. Todos os três níveis têm, em diferentes graus, o poder de levar os indivíduos em uma direção cultural desejável. Se a cultura é visível e comunicada para os membros da organização, então a cultura organizacional direciona o comportamento individual. Por outro lado, existem pressupostos e valores dos membros da organização que influenciam o comportamento organizacional. Em um processo seletivo de agregação, isto também constrói a cultura organizacional, que são os padrões comumente aceitos na organização. Nesse sentido, a cultura organizacional também resulta do comportamento organizacional. Essa influência em dois sentidos, além de explanar sobre a criação da cultura, também é importante para favorecer a gestão de questões mais complicadas, como o problema das subculturas e o da mudança cultural ao longo do tempo. A cultura da organização e as mudanças Para sobreviver, uma organização tem que responder às mudanças em seu ambiente. Assim, difícil ou não, eventualmente as organizações vão passar por transformações, pois, cada vez mais, enfrentam um ambiente dinâmico e de mudanças constantes, o que exige que se adaptem às novas condições. Para a organização mudar, na maioria das vezes, é necessário mudar a cultura organizacional. Segundo Robbins, mudança no ambiente é um dos principais motivos que levam as organizações a tentarem mudar a cultura organizacional. Mas a grande questão é: é possível mudar a cultura organizacional? É possível, mas a dificuldade é bem grande.Quando a organização atua na manutenção da cultura organizacional vigente, as possibilidades de sucesso são maiores. No entanto, muito mais complexa é a mudança de padrões culturais, pois as resistências dos vários segmentos da organização são mais significativas. License-532354-39312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL É possível mudar a cultura organizacional, mas é algo bastante difícil. Fonte: alphaspirit, Shutterstock, 2018. Mudar a cultura organizacional inevitavelmente leva a um desaprender do que se sabe e, ao mesmo tempo, aprender coisas novas. A mudança inicia com uma negação da validade de algo em que se acreditava, que se fazia, que estava consolidado, e isto produz ansiedade ou até culpa. A ansiedade de ter que mudar as competências, papéis e elementos de identidade gera negação e resistência a mudança. Os momentos de mudança são de ruptura, detransformação, de criação, envolvem riscos, principalmente o risco das alterações nas relações de poder. Disso também surge a resistência a mudança. Em certo sentido, a resistência pode ser boa porque oferece estabilidade e previsibilidade ao comportamento. Só que a resistência a uma mudança pode ser também uma grande fonte de conflitos em tempos de necessidade de mudança. License-532354-39312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Considere que o dono da empresa convoca você para dizer que tudo que você tem feito até então não está mais certo e que, para fazer o certo, você vai ter que aprender tudo de novo? Ou que você vai precisar ter novas habilidades e competências? Como você se sentiria? Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2018. Os momentos de crise são mais propícios para mudanças. Nos períodos de estabilidade, as resistências são mais fortes. Lembremos a velha expressão popular: “não se mexe em time que está ganhando”. Enfim, qualquer estratégia prática para modificar a cultura organizacional vai ter que envolver pensamento e ação tanto no nível das crenças básicas como de suas manifestações culturais. Portanto, o nível mais profundo é o núcleo das crenças e pressupostos dos principais tomadores de decisão da empresa, pois estes podem tanto inibir como facilitar mudanças na empresa. O quadro a seguir mostra algumas forças para a mudança e seu respectivo exemplo: License-532354-39312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Força Exemplo Natureza da força de trabalho Maior diversidade cultural Tecnologia Computadores Choques econômicos Mudança na taxa de juros Competição Concorrência globalizada Tendências sociais Redes sociais na internet Política internacional Crescimento acelerado da China Fonte: Adaptado de ROBBINS, 2010. Podemos dizer ainda que a cultura organizacional é desenvolvida com maior ou menor influência pelos fundadores, líderes e demais integrantes. É um processo de criação conjunta, para o qual não existem receitas prontas. Clique na figura para assistir ao vídeo Agora que já identificamos as questões relacionadas com a mudança cultural nas organizações, podemos avançar em nossos estudos. Até a próxima! License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Dimensões culturais de Hofstede Neste tópico, você terá contato com a noção de cultura na visão do pesquisador Geert Hofstede. Em seus estudos, é possível ver como os valores diferem de uma cultura local para outra. Modelo de cultura de Hofstede Para Hofstede (2010), cultura é a programação coletiva da mente que distingue membros de um grupo ou categoria de pessoas de outros. Mente representa pensamento, sentimento e ação; por consequência, crenças, atitudes e habilidades. Nesse sentido, é possível incluir os valores. Os valores são elementos centrais da cultura. São invisíveis até que se tornem evidenciados no comportamento, mas a cultura também se manifesta em elementos visíveis. Os elementos visíveis, tais como símbolos, heróis e rituais, junto com os valores, cobrem hábil e totalmente o conceito de cultura de Hofstede. Para Hofstede (2010), a cultura é a programação coletiva da mente que distingue membros de um grupo. Fonte: mypokcik, Shutterstock, 2018. License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL De forma semelhante à de Schein, o modelo de cultura de Hofstede descreve os aspectos da cultura dos mais observáveis aos menos observáveis. Hofstede (2010) mostra os elementos da cultura em diferentes níveis de profundidade, como camadas de uma cebola. No centro estão os valores e, seguindo as camadas para fora, estão rituais, heróis e símbolos (a mais externa). Símbolos são palavras, gestos, desenhos e objetos que, frequen- temente, carregam significados complexos reconhecidos apenas por aqueles que compartilham a cultura. Alguns exemplos são a maneira de se vestir, os estilos de cabelo, as bandeiras, os símbo- los de status e as palavras de um idioma ou jargão pertencente a uma categoria profissional. Alguma vez, conversando com um médico, advogado ou um profissional da área de computação, você já teve a sensação de não estar entendendo nada do que estão falando? Essa situação representa o símbolo. Heróis são pessoas, vivas ou mortas, reais ou imaginárias, que têm características que são altamente valorizadas em uma cultura e, assim, servem de modelo para comportamentos. Alguns exemplos são o Batman, nos Estados Unidos; o Asterix, na França; o Maradona, na Argentina; e o Airton Senna, no Brasil. Fonte: Scott Maxwell LuMaxArt, Shutterstock, 2018. License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Rituais são atividades coletivas que são tecnicamente desnecessárias para a realização de um fim desejado, mas, dentro de uma cultura, são consideradas socialmente essenciais, mantendo o indivíduo de acordo com as normas da coletividade. Consegue pensar em algum exemplo? É possível citar a maneira de cumprimentar ou expressar respeito ao outro ou às cerimônias sociais e religiosas. No Ocidente, a forma de se cumprimentar uma pessoa é um aperto de mão com a mão direita, porém, no Oriente, para as pessoas se cumprimentarem, inclinam o tronco do corpo para frente. Símbolos, heróis e rituais estão agrupados sob o termo prática. Eles são visíveis para um observador externo, mas seus significados são invisíveis e residem na maneira como essas práticas são interpretadas pelos integrantes da cultura. O centro da cultura é formado pelos valores. De acordo com Hofstede (2010, p. 9), valor é “[...] uma ampla tendência para se preferir certos estados a outros em uma questão”. Fonte: Alexander Limbach, Shutterstock, 2018. License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Valores são como uma seta indicando o lado positivo e o negativo. Eles lidam com pares, como é revelado no quadro a seguir: Positivo Negativo Bem Mal Limpo Sujo Seguro Perigoso Permitido Proibido Decente Indecente Moral Imoral Bonito Feio Natural Não natural Normal Anormal Paradoxal Lógico Racional Irracional A cultura normalmente não é notada pelos seus membros até que exista algum conflito, isto é, os membros a percebem quando sua própria cultura entra em choque com outra. Com a globalização das empresas que estabeleceram unidades em diversos países, esse choque de culturas vem ocorrendo com frequência e, para entendê-lo, Hofstede empreendeu um grande estudo. Essa pesquisa serviu de base para a teoria da cultura de Geert Hofstede, que foi um dos maiores estudos empíricos já realizados sobre diferenças culturais. Trata-se de um referencial para a avaliação cultural, e é uma das abordagens mais amplamente utilizadas na análise da variação entre diversas culturas (ROBBINS, 2010). Nesse estudo, Hofstede utilizou informações coletadas de duas grandes pesquisas que realizou, conduzidas durante os períodos de 1967-1969 e 1971-1973 com colaboradores das subsidiárias da IBM em 72 países e que englobava 20 idiomas. A partir dessas pesquisas a respeito dos valores dos colaboradores relativos ao License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL trabalho, foram obtidas 116 mil respostas individuais cobrindo mais de 30 tópicos. Na primeira fase, os resultados foram obtidos com base em informações coletadas em 40 países; mais tarde, esse número aumentou para 50 países e três regiões. As respostas individuais passaram por uma análise, que procurou as diferenças no funcionamento das empresas e chegou à conclusão de que as diferenças identificadas advinham da cultura dos empregados e, em grande parte, da cultura do país em que elas estavam. Assim, foram obtidos, para cada país, valores típicos que resultaram em quatros dimensões de valores de uma cultura nacional. Mais recentemente, foi identificada uma quinta dimensão das diferenças entre as culturas nacionais. Assim, as dimensões da cultura nacional de Hofstede são: distanciamentodo poder (grande versus pequeno); individualismo versus coletivismo; feminilidade versus masculinidade (quantidade de vida versus qualidade de vida); aversão à incerteza (forte versus fraco); orientação para longo prazo versus orientação para curto prazo. Nos tempos atuais, devido a todas as facilidades de mobilidade e tecnologias de comunicação, é bastante comum trabalhar com pessoas de diferentes culturas, certo? É possível trabalhar em locais de culturas diferentes, pode-se ter colegas que vieram de outras culturas. Hoje, é frequente ver equipes de trabalho que estão espalhadas ao redor do mundo trabalhando virtualmente juntos, mas sem proximidade física. Assim, também podemos ter contato remoto com pessoas de outras culturas. O Brasil, especificamente, é um país muito grande e apresenta diversas culturas regionais. Você já teve algum colega de outra região do Brasil? Observou alguma diferença? Algum comportamento ou linguajar que é estranho para sua cultura local? License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2018. Trabalhar com pessoas de diferentes culturas pode ser um grande desafio. Contudo, é muito importante entendê-las, por isso, as dimensões da cultura nacional de Hofstede são um grande apoio nessa questão. Dimensões da cultura nacional de Hofstede Como já foi estudado, as cinco dimensões de valores variam conforme a cultura do país. A seguir, haverá mais detalhes sobre cada uma delas. As cinco dimensões de valores da cultura nacional variam conforme a cultura dos países e nos ajudam a entendê-los. License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL O distanciamento do poder, também chamado de distância hierárquica, é uma medida do quanto os membros menos poderosos de uma cultura aceitam e esperam distribuição desigual de poder na sociedade. É medido a partir dos sistemas de valores daqueles que têm menos poder e varia de relativamente igual (pouco distanciamento) até o extremamente desigual (muito distanciamento do poder). Esta dimensão está diretamente relacionada com a forma encontrada por diferentes culturas para lidar com a questão fundamental de fazer a gestão das desigualdades entre os indivíduos. O individualismo versus coletivismo é o grau com que as pessoas preferem agir mais como indivíduos (rede social sem relação entre os indivíduos) em vez de como membros de um grupo (há um tecido social fechado no qual os indivíduos se dividem entre membros, e não membros de grupos, e esperam que o grupo ao qual pertencem os proteja). Coletivismo significa um baixo grau de individualismo. A masculinidade versus feminilidade, também conhecida como quantidade de vida versus qualidade de vida, refere-se ao grau de predomínio relacionado à assertividade e à aquisição de coisas versus o predomínio da valorização dos relacionamentos, sentimentos, bem-estar dos demais e qualidade de vida. Aqui, é preciso ter noção de que, nesta dimensão, Hofstede não está se referindo exatamente sobre gêneros ou sobre indivíduos, mas sobre os papéis de gênero emocional esperados (HOFESTED, 2018). Em uma sociedade masculina, os homens devem ser durões. Ganhar é importante para ambos os sexos. Em uma sociedade feminina, os gêneros estão emocionalmente mais próximos. Competir não é tão abertamente endossado. A aversão à incerteza é o grau de ameaça percebido por membros de uma cultura em situações desconhecidas ou de incertezas. Reflete a insegurança com riscos, caos e situações não estruturadas. Nas culturas em que prevalece alto grau de aversão à incerteza, as pessoas apresentam altos níveis de ansiedade. License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL A orientação para longo prazo versus orientação para curto prazo é o quanto as pessoas pensam no futuro e valorizam a persistência versus o quanto pensam no passado e presente e valorizam as tradições e o cumprimento das obrigações sociais. Fonte: Tatiana53, Shutterstock, 2018. De acordo com o quadro que você verá a seguir a seguir, nas dimensões da cultura nacional de Hofstede para o Brasil e os EUA, por exemplo, é possível constatar que o Brasil teria muitas dificuldades em chegar aos mesmos resultados lidando da mesma maneira com brasileiros e norte-americanos na mesma equipe. Por exemplo, os brasileiros valorizam muito mais o pertencimento a um grupo (coletivismo), que pode ser visto até como um fator de segurança para eles, ao contrário dos norte- americanos, que são mais individualistas: License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL País Distanciamento do poder Individualismo X coletivismo Masculinidade X Feminilidade Aversão à incerteza Orientação para longo prazo X Orientação para curto prazo Argentina 49 46 56 86 20 Alemanha 35 67 66 65 83 Brasil 69 38 49 76 44 Canadá 39 80 52 48 36 Chile 63 23 28 86 31 China 80 20 66 30 87 Coréia do Sul 60 18 39 85 100 EUA 40 91 62 46 26 França 68 71 43 86 63 Grã-Bretanha 35 89 66 35 51 Itália 50 76 70 75 61 Uruguai 61 36 38 100 26 * O quadro apresenta uma relação parcial dos países. ** Os valores podem variar de 0 a 100. Fonte: Adaptado de HOFSTEDE, 2015. Perceba, então, que saber as diferenças de uma cultura em relação a outra pode ser de grande importância para a explicação e a previsão do comportamento de funcionários vindos de diferentes culturas nacionais. Por exemplo, com relação a incerteza, seria necessário ter diferentes maneiras de lidar se o trabalho fosse realizado com chineses ou com uruguaios. Decorrências da pesquisa de Hofstede Você notou, nas análises dos estudos de Hofstede, que empresas com unidades em países diversos apresentam diferenças em seus funcionamentos, mesmo sendo orientadas por um mesmo método de gestão padrão para a organização. Assim, é possível constatar que essa diferença se deve à cultura do país onde está instalada a filial. License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Não existe um método universal de gestão, mas este deve estar baseado e adaptado à cultura local das unidades. Por isso, várias empresas multinacionais recorreram a esse estudo para tentar explicar por que as suas filiais são geridas de maneiras diferentes, apesar dos esforços para implantar procedimentos e normas comuns. Nesse sentido, as empresas que querem ingressar no mercado brasileiro, por exemplo, devem observar os graus das dimensões da cultura nacional de Hofstede e projetar uma abordagem adaptada de acordo. A empresa que tenta ingressar deveria refletir sobre a seguinte questão: de que forma essas dimensões influenciam a implantação de um padrão gestão no Brasil? Clique na figura para assistir ao vídeo Empresas que querem entrar em um país de cultura diferente precisam adaptar a cultura organizacional nas unidades nesse país. License-526680-51380-0-10 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Fonte: xtock, Shutterstock, 2018. Para compreender a forma como é feita a gestão em um país, deve-se ter conhecimento do ambiente local e tentar se colocar na posição das pessoas daquele país. O grau das dimensões da cultura nacional de Hofstede de um país faz com que se tome consciência de que as pessoas podem pensar, sentir e agir de formas diferentes, mesmo quando confrontadas com problemas iguais aos de outros países. Com isso, constata-se que a gestão de empresa que trabalha a questão de valores pode se beneficiar considerando as dimensões da cultura nacional de Hofstede. Em qualquer situação, os seres humanos tendem a pensar, sentir e agir a partir das suas próprias experiências, e suas percepções em relação a isso estão baseadas na sua cultura. License-506032-51312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Compreendendo a cultura organizacional Neste tópico, você verá alguns pontos para compreender melhor a cultura de uma organização. Cultura organizacional Como você estudou nas unidades anteriores,a cultura organizacional se refere a um sistema de valores compartilhado pelos membros de uma organização e que a diferencia das demais. No entanto, identificar e entender esse sistema de valores não é algo muito simples. Será que algo mais pode ajudar a apreender a cultura de uma organização? Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018. License-506032-51312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL O sistema de valores permeia toda a organização e influencia as formas de os membros agirem e realizarem suas atividades. Nessas formas, é possível identificar um conjunto de características-chave que a organização valoriza. Considerando a forma como colaboradores agem, é possível capturar as características da cultura de uma organização. Assim, é possível apontar sete características básicas que capturam a essência da cultura de uma organização, conforme você pode observar no quadro a seguir: Característica Explicação Inovação e propensão a assumir riscos Grau em que os funcionários são estimulados a inovar e a assumir riscos Atenção aos detalhes Grau em que se espera que os funcionários demonstrem precisão, análise e atenção aos detalhes Orientação para os resultados Grau em que os dirigentes estão direcionados mais para os resultados do que para as técnicas e os processos empregados para alcançá-los Orientação para as pessoas Grau em que as decisões dos dirigentes levam em consideração o efeito dos resultados sobre as pessoas dentro da organização Orientação para a equipe Grau em que as atividades de trabalho são mais organizadas em termos de equipes do que de indivíduos Agressividade Grau em que as pessoas são competitivas e agressivas, em vez de dóceis e acomodadas Estabilidade Grau em que as atividades organizacionais enfatizam a manutenção do estado das coisas em contraste com o crescimento Fonte: Adaptado de ROBBINS, 2010. Note que essas características reveladas no quadro podem variar de graus baixos a altos. As possibilidades de combinações de graus mostram um panorama da complexidade que é a cultura organizacional. Podemos ter empresas do mesmo tipo com culturas organizacionais completamente diferentes. License-506032-51312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Para ilustrar, considere a seguinte situação: pense nas organizações de vendas de roupas. Você já deve ter passado por alguma loja, geralmente as estabelecidas em ruas (não em shopping), em que algum vendedor sai da loja, tenta trazer o cliente para dentro e vender alguma peça de maneira insistente. Consegue se lembrar de alguma situação dessas? Pode-se afirmar que essa organização tem características de orientação para o resultado e agressivamente competitiva. Por outro lado, existem lojas em que o vendedor aguarda o cliente procurar a loja; ao recebê-lo, pergunta o que ele está procurando; orienta-o na compra e pode até indicar uma outra loja caso não tenha o produto desejado por ele. Embora também seja uma loja de roupas, caracteriza-se por se orientar pela forma como as vendas são feitas mais do que pelos resultados, e também oferece um atendimento mais dócil e compreensivo do que competitivamente agressivo. Clique na figura para assistir ao vídeo A influência da cultura organizacional Além de ser um referencial que distingue uma organização das outras, a cultura organizacional também gera um sentimento de identidade nos membros da organização a que estão associados a algo maior que os interesses individuais de cada um. A cultura License-506032-51312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL organizacional fornece padrões adequados para todas as ações de seus colaboradores, estimulando, assim, uma estabilidade do ambiente social. A cultura organizacional atua como um mecanismo de controle que orienta os comportamentos dos funcionários e define as regras do jogo (ROBBINS, 2010). É como em um jogo de futebol que, para acontecer, tem uma série de regras que devem ser seguidas (padrões adequados). Se o jogador as segue, está tudo bem; porém, se não seguir as regras, pode ser chamado à atenção (falta), receber alguma punição (cartão amarelo) ou até ser expulso do jogo (cartão vermelho). Fonte: Stokkete, Shutterstock, 2018. A cultura organizacional orienta os comportamentos dos funcionários, assegurando que todos caminhem na mesma direção. A cultura organizacional fornece padrões adequados, mas será que uma organização pode ter uma cultura única e uniforme? Será que isto é possível em uma organização com muitos colaboradores, com diversos tipos de profissionais e dividida em várias unidades? License-506032-51312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Embora haja uma cultura dominante nas organizações, que representa os valores compartilhados pela maioria, pode haver variações da cultura em grupos de membros da organização. Um exemplo bem típico são as variações relacionadas às classes profissionais. O grupo dos engenheiros, por exemplo, pode ter alguns aspectos diferenciados da cultura em relação à cultura dominante. Esse fenômeno é chamado de subcultura. Você já percebeu que a cultura de algumas organizações tem mais influência sobre os colaboradores do que outras? As que têm grande impacto no comportamento dos membros são chamadas de culturas fortes. Nas organizações com culturas fortes, os valores essenciais da organização são fortemente assimilados e largamente compartilhados. Também apresentam grande concordância entre os membros sobre as visões da organização. Para Robbins (2010), o impacto de uma cultura forte leva à consistência de comportamento funcionando como um substituto da formalização e está relacionado com a redução de rotatividade. [...] à medida que as organizações expandiram a amplitude de controle, ‘achataram’ a estrutura, introduziram o trabalho em equipe, reduziram a formalização e deram mais autonomia aos fun- cionários, os valores compartilhados, decorren- tes de uma cultura organizacional forte, assegu- raram que todas as pessoas caminhassem para a mesma direção” (ROBBINS, 2010, p. 68). Assim, pode-se entender que o papel da cultura na influência do comportamento dos funcionários tem ganhado importância cada vez maior no ambiente de trabalho. Cultura como um passivo A cultura organizacional consolidada é útil e traz uma série de benefícios, que viemos estudando até aqui. Mas você acha que ter uma cultura forte e bem consolidada é sempre positivo para a organização? É importante considerar que, algumas vezes, essa mesma cultura forte pode se tornar uma barreira. License-506032-51312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2018. Veja agora algumas situações em que a cultura se torna uma barreira. A barreira a mudanças ocorre quando os valores compartilhados não estão em concordância com aqueles que podem melhorar a eficácia da organização. A barreira à diversidade acontece na não contratação de novos funcionários que não se pareçam com a maioria dos membros da organização. Há casos que podem chegar à discriminação quando, por exemplo, são colocadas barreiras devido a raça, sexo, deficiências ou outras diferenças. As culturas fortes exercem uma pressão considerável sobre a conformidade dos funcionários e limitam a amplitude da variação dos valores e estilos que podem ser aceitos. A barreira a aquisições e fusões acontece quando há alguma incompatibilidade cultural na junção de duas ou mais organizações. Nas decisões sobre aquisições e fusões, além de analisar vantagens financeiras, também é necessário que haja preocupação com o choque das culturas. Um fator expressivo no sucesso da aquisição ou fusão está relacionado ao grau em que as duas culturas são compatíveis entre si. License-506032-51312-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Uma cultura forte pode ter aspectos negativos, como a resistência a mudanças, o que pode atrapalhar o desenvolvimento da organização. Como foi apresentado,compreender a cultura da organização não é algo fácil, mas, observando como são as atitudes de seus membros, é possível ter uma boa ideia de suas características culturais. Nessas atitudes, pode-se analisar também se há uniformidade entre os membros ou não e, se há, é viável afirmar que a organização tem uma cultura forte. No entanto, com maior ou menor uniformidade, a cultura não é totalmente uniforme em toda a organização. Alguns padrões se disseminam por todos, outros não; nos grupos em que a cultura se diferencia, pode-se constatar que há subculturas. Entretanto, na cultura forte, há meios de encontrar, por exemplo, a resistência a mudanças, que pode interferir negativamente no desenvolvimento da organização. License-506032-39834-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Modelos contemporâneos Neste tópico, você aprenderá que a cultura organizacional pode ir além dos valores estritamente relacionados ao negócio em si na influência que exerce sobre seus membros. Nessa direção, será possível constatar alguns modelos que têm sua abordagem em determinadas questões como ética, relação com o cliente e espiritualidade. Cultura organizacional ética A cultura de uma organização tem influência sobre o comportamento dos seus colaboradores e, quanto mais forte a cultura, maior será a influência. Essa influência pode se desdobrar em uma série de aspectos, inclusive sobre o comportamento ético das pessoas. Se a cultura for forte e adotar padrões éticos elevados, terá uma influência positiva sobre o comportamento dos funcionários. Por outro lado, uma cultura forte que encoraje a ultrapassar limites, pode estimular comportamentos antiéticos. Segundo Robbins (2010), a cultura organizacional com maior probabilidade de atingir um alto padrão ético é aquela que tem alta tolerância aos riscos, agressividade entre baixa e moderada e é voltada tanto para os fins como para os meios. Fonte: iQoncept, Shutterstock, 2018. License-506032-39834-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Mas o que as organizações podem fazer para criar uma cultura mais ética? Robbins (2010) sugere a combinação das seguintes práticas: Ser um modelo visível: os funcionários observam o comportamento dos executivos de alto escalão como um ponto de referência para o seu próprio comportamento. Comunicar expectativas éticas: criar e divulgar um código de ética organizacional que deve conter os valores essenciais da organização e estabelecer as regras éticas que os funcionários devem seguir. Oferecer treinamento ético: organizar seminários, workshops e outros programas de treinamento ético para reforçar os padrões de conduta desejáveis. Ser claro ao recompensar as atitudes éticas e punir as antiéticas: as avaliações de desempenho dos executivos devem ser transparentes e analisar detalhadamente o quanto as suas decisões estão à altura do código de ética da organização. Essas avaliações devem considerar tanto os fins como os meios. As pessoas cujo comportamento sempre foi ético devem ser recompensadas publicamente. Da mesma forma, aquelas que transgredirem o código devem ser punidas exemplarmente. Fornecer mecanismos de proteção: a organização precisa fornecer aos funcionários mecanismos formais para discussão de questões éticas e para relatar atitudes antiéticas sem medo. Assim, é possível perceber a ética de uma organização no comportamento dos seus membros, que são um reflexo da cultura da organização. Os fundadores e líderes da organização têm grande peso na formação da cultura, então, um dos passos mais importantes para que uma organização seja ética é que seus fundadores e líderes sejam éticos, já que são a referência e o exemplo para os demais. Não adianta empreender práticas para elevar o padrão ético da organização se os principais influenciadores da cultura não são exemplos dessa prática. Uma das características mais importante para uma empresa ser ética é que seus líderes sejam éticos e sejam o exemplo. License-506032-39834-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Cultura organizacional orientada ao cliente O que será de uma organização que não tiver cuidado com seus clientes? Direcionar a cultura organizacional para atender bem o cliente é essencial para conquistar sua fidelidade e, por consequência, uma lucratividade mais consistente. Atender bem o cliente é a chave para conquistar sua fidelidade e uma lucratividade mais consistente. Fonte: Dmitry Kalinovsky, Shutterstock, 2018. Segundo Robbins (2010), as organizações com a cultura voltada ao cliente apresentam as seguintes características: contratam colaboradores extrovertidos, amáveis e que sabem ouvir e entender o que o cliente quer; dão aos colaboradores autonomia e liberdade para se adaptarem às mudanças nas demandas dos clientes; evitam regras rígidas que tornem difíceis essas adaptações para agradar os clientes. License-506032-39834-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Por fim, os colaboradores têm suas dúvidas reduzidas sobre a melhor maneira de realizar o trabalho e a importância de cada atividade e estão sempre prontos para tomar iniciativas para satisfazer as necessidades do cliente, mesmo que isto exija mais do que suas funções normais. Cultura organizacional e espiritualidade Se você logo pensou em algo relacionado a Deus ou práticas religiosas, logo perceberá que não é disso que estamos falando. A espiritualidade na organização está relacionada à preocupação com a vida interior das pessoas, uma vez que é orientada por um trabalho que tem um significado maior, não apenas o lucro em si. As organizações com uma cultura espiritual entendem que as pessoas buscam um sentido e um propósito no trabalho realizado, que querem se relacionar com outras pessoas e que querem fazer parte de uma comunidade. Fonte: Shutterstock, 2018. License-506032-39834-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL A espiritualidade na organização está relacionada à preocupação com a vida interior das pessoas e com o fato de que elas buscam um sentido maior no trabalho. Mas por que o tema espiritualidade vem ganhando espaço nas organizações? Segundo Robbins (2010), a espiritualidade pode ser uma contrapartida para o estresse de um ritmo de vida agitado, em que se acentua a falta de laços comunitários, aumentando, assim, a necessidade de uma interação mais próxima entre as pessoas. As exigências do trabalho, muitas vezes, o tornam o centro da vida em detrimento da vida pessoal e familiar. Muitos se questionam: viver para trabalhar ou trabalhar para viver? No quadro a seguir, são mostradas as características da organização espiritual: Caraterística Descrição Forte sentido de propósito Cultura em torno de um propósito significativo. O lucro é importante, mas não é o valor essencial. Foco no desenvolvimento individual Valoriza o ser humano. É muito mais que mera fornecedora de empregos. Confiança e respeito Há confiança mútua entre seus membros, honestidade e transparência. Práticas humanistas de trabalho Implementação de diversas práticas humanistas de trabalho, como esquemas flexíveis de horários, sistemas de recompensas, limitação de diferenças salariais e de status, garantia dos direitos trabalhistas, autonomia dos funcionários e estabilidade no emprego. Tolerância com manifestações de funcionários Não impede a expressão das emoções de seus funcionários. Fonte: Adaptado de ROBBINS, 2010. License-506032-39834-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Existem muitas críticas à espiritualidade nas organizações. Uma delas é se a organização tem o direito de impor valores espirituais a seus funcionários; contudo, se a organização espiritual tem o objetivo apenas de ajudar as pessoas a encontrarem um sentido no trabalho, essa crítica pode perder sentido. As organizações espirituais se preocupam em ajudar as pessoas a desenvolver e alcançar seu pleno potencial, bem como dão mais atenção aos conflitos gerados entrevida profissional e pessoal. Assim, foi apresentado, até aqui, que a cultura organizacional influencia os comportamentos dos funcionários. A partir da forma como estes agem, podemos capturar características da cultura da organização. Essa influência tenta assegurar que todos caminhem na mesma direção e, quanto mais forte for a cultura, mais isto se torna viável de acontecer. Lembre-se, porém, de que em uma cultura forte pode haver a resistência a mudanças, o que pode atrapalhar o desenvolvimento da organização. Por outro lado, a cultura organizacional pode ir muito além dos valores estritamente relacionados ao negócio em si. Pode influenciar positivamente os colaboradores em questões éticas se a cultura adotar padrões éticos elevados, além de dar ênfase a atender bem o cliente e conquistar sua fidelidade. Por fim, pode dar uma ênfase espiritual, tendo uma preocupação com o interior das pessoas para que elas tenham um sentido maior no trabalho e até na vida. License-518536-51316-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Grupos culturais Quando a questão dos traços culturais é tratada, cria-se a ideia de que toda a cultura local terá as mesmas características. Contudo, se você já esteve em uma comunidade, pôde observar que parecem existir variações dela de acordo com os grupos, certo? Há meios de entender, portanto, que é possível existirem outras culturas, uma espécie de subcultura, mas unidas por um jeito de ser dominante. Cultura: o modo de vida particular de um grupo definido A identidade – o que diz quem você é – é relativa ao contexto, ou seja, para dizer quem você é, você precisa de uma referência, uma classificação baseada em ideias que não são suas. Mas como seria a identidade de um grupo de pessoas ou de um povo? Por onde começaria sua definição? A cultura, um dos conceitos estudados pela antropologia cultural, pode nos ajudar a encontrar essas respostas. Fonte: Prill, Shutterstock, 2018. O ponto de partida para essa reflexão será o entendimento do conceito de cultura: o que seria esse modo de vida particular, específico, essa identidade de um grupo? Uma das primeiras definições de cultura segundo a literatura antropológica é a de Tylor (1871 apud CARVALHO, 1997), cultura é “[...] aquele todo License-518536-51316-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, leis, moral, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Identidade é aquilo que nos faz reconhecer, o que caracteriza uma organização, seus principais traços compartilhados por todos os seus membros. Essa explicação do que é cultura mostra o que a cultura tem, mas, neste estudo, você pode ir além disso: pode entender como ela se forma e muda. Para tanto, é necessário falar um pouco sobre um dos antropólogos mais famosos, o Franz Boas (2004). Esse autor afirmava que todos os grupos humanos têm cultura, e esta se desenvolve por meio da interação, ou seja, o comportamento humano não pode ser entendido pelo – ou reduzido ao – exame de indivíduos isoladamente. O que o ser humano pensa e faz, seus atos e consequências, são influenciados pela vida em sociedade. Assim, o comportamento é sempre social e não pode ser reduzido a uma compreensão estritamente individual. A cultura existe, na maior parte do tempo e na maioria das formas, como um código socialmente herdado de padrões, um código presente há um bom tempo. Ela aparece nos comportamentos, que são frequentemente produzidos e reproduzidos de maneira automática. Pense na seguinte situação: o fundador da empresa ensinou você a selecionar os funcionários por meio de indicação de pessoas conhecidas, ou seja, ele contratava apenas as pessoas que eram indicadas por outras, nunca contratava sem indicação. Só que, um dia, você pergunta para ele: “por que você só contrata por indicação? A seleção fica melhor?”. Ele não tem certeza da resposta, mas diz que aprendeu com a pai dele, o ex-proprietário da empresa. Assim, você resolve ligar para o ex- proprietário, que responde que sempre contratou por indicação porque não tinha outro meio de comunicar as vagas a não ser por meio dos conhecidos dele. Veja que o atual dono aprendeu, sem questionar, como deveria fazer a seleção dos funcionários, e você estava aprendendo também. A cultura se forma a partir de comportamentos aprendidos sem perguntar o porquê. Assim, as pessoas se comportam seguindo exemplos, pois, naquele momento, eram os comportamentos que elas tinham como License-518536-51316-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL modelo. Contudo, posteriormente elas podem conhecer formas diferentes de se comportar, e assim optar por desenvolverem hábitos e cultura diferentes. Com esse exemplo, a ideia de cultura pode ter ficado um pouco negativa, mas não se atenha a isso: a proposta deste texto está focada no comportamento aprendido sem questionamento e reproduzido. A cultura, portanto, manifesta-se por diferentes tipos de comportamentos, verbais, não verbais, estruturais, físicos, gastronômicos, ambientais. Enfim, mantenha seu foco nesta reprodução não consciente, que é diferente entre os grupos, mas semelhante entre alguns. Clique na figura para assistir ao vídeo Relativismo cultural Para iniciar a reflexão sobre relativismo, reflita sobre as seguintes questões: existem sociedades mais evoluídas culturalmente? Algumas têm uma cultura melhor do que outras? Já parou para pensar no que você dá valor no desenvolvimento de uma sociedade? É à tecnologia, à produção de conhecimento, aos valores morais? License-518536-51316-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL As sociedades evoluíram de formas diferentes de acordo com os acontecimentos de sua história. Em alguns locais, houve mais trocas de conhecimentos entre os povos, como na Europa, por exemplo. Já em continentes ou ilhas mais isoladas do restante dos territórios, o processo de trocas de experiências foi mais demorado, pois a comunicação com outros povos dependia do contato físico (imagine, por exemplo, as distâncias a serem percorridas pelos moradores das ilhas da Tailândia). Essas longas distâncias fizeram com que as descobertas ficassem concentradas em alguns locais. Como resultado dessa geografia, é possível perceber diferenças culturais mais acentuadas. Isto é o relativismo cultural: cada região tem modos de funcionar diferentes, que são influenciados por fatores locais, da região geográfica, por exemplo. Dessa forma, existe uma tendência de pensar que há regiões do nosso planeta mais privilegiadas no quesito evolução, porém, quando entramos em contato com estudos de antropólogos, percebemos que cada sociedade tem características valorosas para seu desenvolvimento. Fonte: asantosg, Shutterstock, 2018. License-518536-51316-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Nesse sentido, há diferenças entre as sociedades, especialmente diferenças na tecnologia usada. Contudo, não é possível afirmar que uma é mais evoluída que a outra, uma vez que não existe um padrão definido para o que é considerado evolução. Se você pudesse conversar com um indígena, por exemplo, poderia achar a cultura do povo indígena de onde ele veio muito rica em aspectos morais, ou, por outro lado, você poderia valorizar a tecnologia do seu local de origem, julgando que esse povo é muito atrasado. A importância das diferenças O preconceito é um processo mental de estranhar o diferente, negar, rejeitar o que é desconhecido, definir antes de conhecer todas as partes. Parte dele surge, segundo Ciarelli e Avila (2009), de um processo natural, automático do funcionamento mental dos seres pensantes, ou seja, é natural, biológico, uma programação humana, julgar algo com poucas informações, um processo neurológico conhecido por heurística. Como a cultura é um apanhado de diferenças; como tratar isso de maneira positiva? Ser preconceituoso é agir conforme umaideia preconcebida de algo, sem considerar todas as partes e acreditando que o diferente é pior. Você já deve ter percebido que essa mesma capacidade de julgar os outros, de atribuir uma qualidade ou defeito ao que você percebe nas outras pessoas, também se aplica a você mesmo(a), certo? Da mesma forma que apontam defeitos nos outros, os humanos normalmente o fazem com os próprios defeitos. Então, qual o problema? Bem, quem sofre com seus conflitos internos? Quanto mais intensidade é colocada neste julgamento sobre o que é certo e errado, mais dificuldade de aceitar os próprios erros, pois a culpa e a vergonha não geram soluções, elas limitam a capacidade criativa. Agora, pense nas dificuldades de lidar com as diferenças entre as pessoas, entre os grupos, entre as sociedades. Quantos conflitos você consegue lembrar das aulas de história gerados por preconceito? Com isso, você é convidado a refletir sobre o License-518536-51316-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL fato de cada pessoa ter características diferentes e o quanto é complexo julgar aquilo que o outro faz como incorreto, mas, principalmente, a partir desse julgamento, agir de modo que cause sofrimento. Fonte: Pixelbliss, Shutterstock, 2018. Olhar pra si mesmo sem se dar conta das próprias dificuldades tende a gerar uma ideia de que as outras pessoas devam ser capazes de mudar o modo de se comportar com facilidade. Pois se você não reconhece suas limitações e suas dificuldades, você tende a desejar que os outros se comportem como você, visto que você não tem tido problemas, mas, ao observar com mais atenção, há diversas maneiras de se comportar. Olhar ao redor traz a percepção de que as sociedades são feitas pelo diferente. Linguagem, costumes, jeitos de pensar são variações que contribuem para o desenvolvimento. License-518536-39840-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Subgrupos culturais Como o ser humano se une para realizar tarefas? Seria sempre uma união baseada nas necessidades externas? Por exemplo, é necessário construir uma casa, um abrigo. Assim, são convidados apenas aqueles que precisam de um abrigo para essa construção ou pessoas que têm outros interesses para ajudar nessa construção? Por exemplo, pessoas que querem apenas amizade ou desejam aprender como construir casas podem querer colaborar. As pessoas se unem em um projeto por motivos diversos e o executam para realizar diferentes propósitos, mesmo que o resultado seja o mesmo, ou seja, estão unidas por motivos diferentes em um projeto, e assim surgem as subculturas dentro das organizações, comunidades, etc. As afinidades culturais estão mais relacionadas aos motivos do que aos projetos em si. O que são subgrupos culturais Imagine o processo de formação de uma organização. Ele começa desde a ideia de seus fundadores e vai se constituindo pelo processo de abertura, de organização e execução do projeto. Quando tudo isso está acontecendo, a cultura já está se formando. À medida que a organização dá seus primeiros passos, vai se transformando a partir das pessoas que nela trabalham, das leis e normas a que se submetem, dos desejos de seus donos ou acionistas, entre muitos outros fatores. O fato é que uma organização nunca fica sem receber influências e, dessa forma, será transformada ao longo do tempo. Os elementos da cultura estarão presentes em seus subgrupos, diferenciando-se por peculiaridades daquele grupo. License-518536-39840-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Nesse processo de constituição de sua cultura, surgem também os grupos culturais, que se formam a partir do momento em que uma organização se constitui com um certo número de pessoas que o possibilite. Os grupos culturais expressam a cultura da organização de forma mais fragmentada. No entanto, têm elementos que os mantêm unidos à organização como um todo e, ao mesmo tempo, características que os diferenciem do restante, fazendo como que tenham uma identidade própria. Dessa forma, é possível compreender que uma organização tem muitas subculturas que são unidas por uma cultura geral, manifestada por todos os seus membros. As subculturas, por sua vez, são manifestadas apenas pelos membros de determinados grupos dentro da organização. Para facilitar sua compreensão, no quadro a seguir, há um exemplo de constituição de grupos culturais em uma organização educacional: Organização educacional Metodologia de ensino Áreas de estudo (Humanas, Exatas, Naturais, etc.) Subgrupo A Subgrupo B Subgrupo C Note que as pessoas podem se agrupar formando subculturas de acordo com suas ideias a respeito de métodos didáticos ou também pelas áreas a que dedicaram sua formação. License-518536-39840-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Como se formam os grupos culturais Os grupos culturais se formam à medida que a organização cresce. Quanto maior for seu número de funcionários, departamentos, projetos, filiais, mais grupos e subgrupos culturais se constituem. Fonte: d3images, Shutterstock, 2018. Esse fenômeno se deve às muitas influências que uma organização sofre enquanto viva. Ao longo de sua vida, você sofreu muitas transformações, não é mesmo? De um bebê que sequer se alimentava sozinho, passou a um ser humano mais autônomo e independente. No decorrer da vida, muitas pessoas e situações te ensinaram o que fazer e o que não fazer, e tudo isso, hoje, faz parte do que você é. O mesmo acontece com as organizações pelo simples fato de serem constituídas por pessoas e estarem inseridas em contextos sociais. Grupos culturais não são apenas grupos de pessoas, mas agrupamentos com características culturais semelhantes dentro de uma organização. License-518536-39840-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Assim, é possível observar três motivos principais que fazem com que os grupos culturais se diferenciem dentro das organizações: I. Contato social frequente: as pessoas que trabalham juntas têm contato frequente e tendem a formar, a partir de suas características, a natureza do seu trabalho, suas formações anteriores, um jeito de funcionar particular. II. Vivências compartilhadas: pessoas que passam por situações juntas dentro de uma organização ou fora delas tendem a estabelecer laços mais fortes e, portanto, influenciar no estabelecimento de um grupo cultural. Nesse caso, é possível mencionar funcionários de uma organização que passaram por um processo difícil de obtenção de algum tipo de certificação, por exemplo. III. Aspectos pessoais semelhantes: pessoas se aproximam de outras com quem se identifiquem, que tenham características semelhantes. Nas organizações, essas semelhanças favorecem a formação de grupos culturais. Fatores para a formação de grupos culturais Você já refletiu sobre quais são os fatores que contribuem para a formação de grupos culturais? Dependendo da característica e do porte da organização, pode-se observar a formação de inúmeros grupos e subgrupos culturais, e os fatores que influenciam nisso, também são os mais diversos. De uma forma geral, a formação (nível de escolaridade) dos membros de uma organização é um fator preponderante para a formação de grupos culturais. Outro ponto importante é a experiência de cada membro. Os que são considerados mais seniores tendem a ter interesses e percepções distintos daqueles que acabaram de chegar. Essa experiência pode ter sido adquirida na própria organização ou não. Membros com larga experiência procedente de outras culturas tendem a se diferenciar e podem ser peças fundamentais na formação de subgrupos culturais. License-518536-39840-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL As variáveis biográficas também são importantes no momento em que grupos podem ser formados. Organizações que estão presentes em muitos lugares do país e do mundo elevam esses fatores a uma outra potência. Já imaginou como seria gerenciar uma organização que está em vários países com culturasmuito distintas? Os grupos ainda podem se formar a depender da função ou dos departamentos. Dessa forma, a equipe de contabilidade pode formar uma cultura diferente do restante da organização, com regras próprias e uma maneira peculiar de se relacionar, por exemplo. Esse fenômeno é natural e esperado em um agrupamento de pessoas. O importante nesse caso é que você possa compreender de que forma isto acontece para que possa, posteriormente, identificar o funcionamento do grupo. Não são acontecimentos indesejáveis ou prejudiciais à organização de uma forma geral, mas seria ingênuo fazer o diagnóstico da cultura apenas pela cultura geral, desconsiderando os grupos que se formam por toda a sua estrutura e que estão sujeitos a influências muito além dos limites formais da organização. Fonte: Phovoir, Shutterstock, 2018. License-518536-39840-0-5 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Há algumas políticas e práticas da organização que favorecem o surgimento de grupos culturais. Quando uma organização tem uniforme, chapéus, bonés, coletes ou qualquer outra forma de identificação dos diferentes grupos, isto deixa as diferenças claras para todos e estabelece os limites. Uma empresa, por exemplo, que tinha um grande refeitório e nele havia um espaço – mais bonito, mesas forradas, uma pessoa servindo – restrito aos membros da diretoria. Enquanto isso, o restante dos funcionários fazia suas refeições em condições muito diferentes: mesas sem toalha, iam até o “bandejão” pessoalmente buscar a refeição, as opções de cardápio eram mais limitadas. Já em outra empresa, todos os funcionários – do presidente ao jovem aprendiz – almoçavam a mesma comida e no mesmo local, usavam o mesmo uniforme e dividiam o mesmo espaço. Essas práticas podem auxiliar na formação de subculturas, por meio da semelhança das crenças, valores e normas de conduta dos membros do grupo. License-518536-52227-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Cultura organizacional e seus grupos A vida nas empresas não difere da vida fora dela em diversos aspectos. Pense o quanto você muda ao entrar no seu local de trabalho em termos do que acredita, com quem gosta de estar e outros aspectos. O ser humano tende de se agrupar, não vive sozinho e evoluiu devido a esse motivo, formando grupos para atingir objetivos. Você acredita que estamos nos unindo por afinidades buscando realizar tarefas com mais efetividade? Subgrupos culturais nas organizações Agora que você já compreendeu a formação dos grupos culturais, aprenderá sobre subgrupos culturais, que seguem a mesma lógica de funcionamento, mas com maior especificidade. Vale lembrar que eles variam de acordo com a constituição da organização, porte, dimensão, localização, diversificação de atividades, etc. Podem surgir também grupos profissionais quando, dentro de uma organização, carregam consigo elementos da cultura de sua ocupação, mesclando com a do local onde se encontram. Os advogados, por exemplo, costumam manter sua forma de se vestir (terno e gravata) mesmo quando trabalham em organizações que adotam uniformes. Uma situação que pode acontecer é os membros do departamento jurídico serem orientados a usar uniforme quando estiverem nas dependências da empresa e terno e gravata apenas em audiências e julgamentos externos, a fim de evitar que o departamento jurídico fique muito distante da operação e tenha dificuldade de se relacionar com os outros gestores da organização. License-518536-52227-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Fonte: EmiliaUngur, Shutterstock, 2018. A cultura mais evidente, que mostra os valores centrais, aquilo que é identificado na maioria é o que chamamos de cultura organizacional. Os grupos culturais apresentam elementos culturais distintos, mas que não entram em conflito com os elementos da cultura organizacional. Da mesma forma, os subgrupos culturais apresentam elementos da cultura dominante, mas com suas características particulares. Situações como fusões e aquisições são eventos que podem favorecer o surgimento de subculturas. Quando duas organizações se fundem ou uma adquire outra, caso seus elementos culturais sejam muito divergentes, estes podem divergir e tornar a fusão penosa. Há relatos de empresas que adquiriram outras companhias e, posteriormente, a venderam por não conseguirem incorporar sua política aos novos membros. Imagine que você faz parte de uma organização, há algum tempo, e já está bem habituado(a) com seu jeito de funcionar. Você se sente adequado(a) nesse emprego e valoriza a maneira como a organização funciona. Certo dia, chega a notícia de que License-518536-52227-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL a empresa em que você trabalha foi vendida para um outro grande grupo e logo vão ser iniciados os processos de transição. Tudo é feito de forma diferente: novos processos, novas formas de trabalhar, novos gestores. Como você se sentiria? Já passou por algo parecido? Clique na figura para assistir ao vídeo Outro aspecto importante que deve ser considerado é que alguns grupos profissionais tendem a ter uma cultura que os une e identifica; quando essas pessoas vão para as organizações, carregam esses traços culturais, influenciando o ambiente em que trabalham. Isto pode ser mais ou menos forte de acordo com a formação do profissional e onde ela ocorre, com o código de ética e conduta, etc. Quanto maior e mais intenso o período de formação de um profissional, mais ele compartilhará de valores, normas e atitudes desse grupo. Ao ingressar em uma organização, certos valores ligados à sua categoria profissional tendem a ser menos influenciados pelo ambiente. Desse modo, o indivíduo tem uma dupla identificação: com sua categoria e com a organização para a qual trabalha. License-518536-52227-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Esse sentimento de identidade ocupacional pode ser tão forte que une – mesmo fora do ambiente de trabalho – esses profissionais em grupos sociais por laços de amizade. Além disso, amplia sua ligação, que inicialmente era apenas profissional, passando a abranger suas famílias e amigos, como um outro subgrupo formado a partir desses aspectos em comum. Os subgrupos profissionais dentro das organizações podem trazer alguns inconvenientes. Muitas vezes essas culturas limitam a autonomia de tomada de decisão da organização. O subgrupo dos pedreiros, por exemplo, pode discordar de uma decisão da construtora, limitando a capacidade da organização de controlar suas próprias atividades. Esses fatos podem levar a organização a adotar algumas posturas: a doutrinação e a capacitação. Nesta, a organização investe em treinamentos para mostrar aos trabalhadores o porquê de tomar determinadas decisões; naquela, a organização baixa normas e diretrizes que modelam os comportamentos de seus empregados a partir de então. Como você pode imaginar, isto não é tão simples quanto parece. Essas tentativas de manejo das subculturas requerem esforço direcionado e muita consciência dos movimentos culturais da organização. Ao mesmo tempo, demandam respeito aos valores de classe, que fazem com que esses profissionais se reconheçam em uma determinada categoria. Em uma perspectiva hierárquica, os subgrupos profissionais são subordinados à cultura organizacional. Você percebeu o quanto esses subgrupos são importantes e devem ser considerados dentro da organização por seu poder de influência? Cultura organizacional dominante e subculturas Uma subcultura pode atuar de forma independente quando tem autonomia de atuação dentro da organização. Sua produtividade e reconhecimento são altos, o que faz com que tenha liberdade para atuar e manter sua ideologia de grupo. Ela não entra em conflito com a cultura da organização. License-518536-52227-0-6 CULTURA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Ela pode ter um papel de apoio quando está identificada com a cultura dominante e servir como suporte para esta,
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