Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147 G745 Gramática histórica da língua espanhola / Marina Leivas Waquil... [et al.] ; [revisão técnica: Adriana Carina Camacho Álvarez]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 134 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-369-7 1. Língua espanhola - Gramática. I. Waquil, Marina Leivas. CDU 821.134.28(035) Revisão técnica: Adriana Carina Camacho Álvarez Doutora e Mestra em Letras Bacharel e Especialista em tradução Português/Espanhol GHLE_Iniciais_Impressa.indd 2 14/03/2018 15:02:10 Fase latinista Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Analisar o contexto histórico no qual floresceu o latinismo na língua espanhola. � Listar os principais traços linguísticos característicos da fase latinista. � Relacionar a gramática de Nebrija com a vertente latinista. Introdução Aprender uma língua não consiste apenas em decorar novas palavras. Compreender a cultura, a origem e a estrutura de uma língua é fundamen- tal para qualquer estudante que almeje se tornar proficiente na língua de estudo. Dessa forma, ao estudar a língua espanhola, é muito importante que você conheça os aspectos linguísticos históricos que ocorreram nela. Neste capítulo, você vai conhecer uma importante fase da história da língua espanhola, a fase latinista, que vai auxiliá-lo na compreensão do sistema linguístico castelhano. Do latim ao espanhol atual O espanhol é uma língua romance. Durante o processo em que o latim se transformou nas diferentes línguas neolatinas, foi perdendo muitas marcas que caracterizavam o substantivo latino, por exemplo. O latim possuía um sistema de três gêneros e distribuía os substantivos em cinco declinações. Hoje em dia, por exemplo, o espanhol possui um sistema de dois gêneros que não têm declinações. Sendo assim, não é possível estabelecer uma relação direta entre essas duas línguas. Contudo, é possível explicar qual foi o processo pelo GHLE_U3_C05.indd 73 14/03/2018 15:33:57 qual os três gêneros latinos acabaram se reduzindo a dois e o modo como as suas cinco declinações desapareceram. Perda dos casos latinos e das declinações O latim apresentava um sistema de declinações no qual cada substantivo possuía 12 flexões. Segundo Penny (2014), essas 12 flexões eram conhecidas como casos e se separavam exatamente em seis de singular e seis de plural. Dessa forma, havia seis casos, e cada um possuía duas variantes: uma para o singular e outra para o plural. Cada um desses casos indicava a formação sintática que realizava um substantivo dentro da oração. Portanto, o nomi- nativo era o caso próprio da função de sujeito léxico e atributo. Já o vocativo desempenhava a função de apelação. O acusativo era usado para a função de complemento direto ou alguns tipos de complemento circunstancial. O genitivo indicava que o substantivo se encontrava na função de complemento nominal. O dativo, por sua vez, era o caso usado para a função de complemento indireto. E, finalmente, o ablativo se realizava como os complementos circunstanciais. Já Reinosová (2009) apresenta cinco classes de substantivos que, de acordo com a sua vogal temática e a sua desinência, se agrupavam em cinco declina- ções. Na primeira declinação, por exemplo, encontravam-se substantivos com a vogal temática (VT) em –a e sem desinência no seu nominativo singular. As palavras desse grupo, de modo geral, possuíam o gênero feminino (rosa), mas também era possível encontrar algumas palavras de gênero masculino (agrícola). As outras declinações apresentavam diferentes VTs que designavam o gênero, as classes e os casos de cada grupo de palavras. A questão é que esse sistema complexo funcionava apenas no latim escrito, pois no latim falado as dificuldades estavam sempre presentes. Em função de sua complexidade e pelo fato de a língua estar sempre em constante reformulação, uma série de mudanças (principalmente fonéticas e sintáticas) levou à perda do sistema latino de casos e declinações. O mais conhecido foi a perda do –m final do acusativo, a confusão do –u com o –o e a convergência do –i com o –e. Em função disso, em muitas ocasiões, a dificuldade em distinguir os casos estava presente. Por exemplo, diante de uma palavra como rosa, não se sabia se se tratava de um caso nominativo, acusativo (devido à perda do –m) ou ablativo. Com isso, entraram as preposições, com o objetivo de desambiguar esses tipos de situações. Como afirma Pidal (1973), em uma frase como cum amicis deliberavi, a ideia de companhia não se expressa pelo ablativo, e sim pela preposição que está presente. Fase latinista74 GHLE_U3_C05.indd 74 14/03/2018 15:33:57 Portanto, as preposições passaram a ser utilizadas abundantemente no latim, pois seu uso era um facilitador da comunicação, já que era possível expressar perfeitamente a intenção de um complemento circunstancial. Dessa forma, o ablativo foi substituído por diversas preposições (in, cum, de, ab, pro) que indicavam o tempo exato da relação semântica que se tentava ex- pressar (estamo in Italia; vengo con mi hermano; procedo de Madrid; lo hice por correo). Por outro lado, esse uso abundante preposicional fez com que o ablativo desaparecesse. Com isso, os casos foram sendo naturalmente substituídos pelas preposições. O dativo, por exemplo, se tornou a preposição ad, a qual, atualmente, indica o complemento indireto (pagué a María). O genitivo teve como marcação a pro- posição de, que hoje em dia possui a função sintática de complemento nominal (la casa de Luís). Todavia, as preposições não acabaram com o vocativo, posto que ele não possuía nenhuma relação sintática com os elementos da oração. Dessa forma, da fase latinista, permaneceram apenas o nominativo e o acusativo. Eram casos que, em muitas situações, se confundiam. Por isso, o acusativo se impôs ao nominativo e muitos substantivos do espanhol atual evoluíram da forma acusativo. A perda dos casos latinos resultou na perda das declinações. No latim vulgar, se mantiveram apenas as três primeiras declinações e, consequentemente, os substantivos terminados em –o, –a e –e ou em consoante. Alguns substantivos da quinta declinação passaram à terceira, mas, de modo geral, assumiram o papel da primeira declinação. Simultaneamente, os substantivos da quarta declinação passaram à segunda, em função das inúmeras terminações que tinham em comum. À vista disso, segundo Noriega e Forascepi (2001), permaneceram os substantivos femininos terminados em –a (precedentes da primeira e da quinta declinação), os masculinos e os neutros terminados em –o (precedentes da segunda e da quarta declinações) e uma série de masculinos, femininos e neu- tros terminados em –a, –o ou consoantes (precedentes da terceira declinação). A perda do gênero neutro Mesmo que o gênero neutro tenha se mantido em toda a história do latim, no espanhol, por diversas razões, ele acabou se perdendo. Houve uma redis- tribuição dos substantivos neutros, passando alguns a assumirem o gênero masculino e outros o feminino. Dois aspectos caracterizavam fundamentalmente o gênero neutro: o pri- meiro era possuir o acusativo como o nominativo, o singular com diversas 75Fase latinista GHLE_U3_C05.indd 75 14/03/2018 15:33:57 terminações e o plural terminado em –a. O segundo aspecto era que ele representava os substantivos inanimados. O critério para a redistribuição dos substantivos neutros, de acordo com Penny (2014), era o seguinte: se o substantivo latino neutro tinha uma vogal na sua sílaba final que assumia na sua forma de plural a terminação –a, deveria ser incluído no gênero feminino. Nos outros casos, o gênero neutro deveria ser masculino. Logo, o gênero neutro foi se perdendo no espanhol. Esse processo de redistribuição se manteve em muitas palavras, mas em outros casos (de ne- ologismos, por exemplo) o gênero da palavra foi designado de formaarbitrária. Embora o gênero neutro tenha se perdido na língua espanhola, ainda há marcas desse gênero no espanhol atual. O artigo neutro lo ou os demonstrativos esto, eso e aquello são bons exemplos. Romanização ou latinização A dominação dos romanos foi um acontecimento determinante para a formação do espanhol como você o conhece hoje. O Império Romano era muito poderoso e domi- nou vários territórios e povos. Além de ótimos guerreiros, os romanos também eram muito inteligentes, introduziram o conceito de civilização e fizeram várias construções. Ainda hoje existem construções dessa época na Espanha. Os romanos chegaram na península por volta do 206 a. C. e começaram um processo de dominação territorial. Com a dominação romana, a vida na península mudou drasticamente. Roma determinou que não só sua língua como também sua cultura e suas leis fossem estabelecidas no novo território conquistado. O Império Romano impôs a língua latina (o latim) como forma de dominação so- bre os outros povos (já que para eles era mais vantajoso que os povos dominados aprendessem o latim do que eles aprenderem os idiomas falados pelos povos que ali viviam). As outras línguas não resistiram à imposição do latim e, após muitos anos de bilinguismos, quando as línguas primitivas (geralmente usadas somente em ambiente familiar) conviviam com o latim (falado em público), as outras línguas foram deixando de serem usadas pelos habitantes e o latim passou a ser a língua predominante. Fonte: Santos (2016). O estigma latinista espanhol Durante a Idade Média, permaneceu a herança gramatical greco-latina e os estudos relacionados à língua eram focados nas línguas clássicas. No entanto, era importante fixar a nova língua vulgar castelhana com o objetivo Fase latinista76 GHLE_U3_C05.indd 76 14/03/2018 15:33:57 de unificar um reino, tanto que o rei Alfonso X ordenou que todos escre- vessem em espanhol, não mais em latim. Com isso, em 1492, publicou-se a primeira gramática da língua castelhana, a gramática de Antonio Nebrija. Ela foi a primeira obra impressa e completa que se dedicou aos estudos da nova língua originada do latim vulgar. Além de consolidar o espanhol, foi também a primeira gramática das línguas românicas, servindo de modelo a outras posteriores. Ao estudar as línguas espanhola, portuguesa ou italiana, você pode perceber como elas são semelhantes. Como têm a mesma língua materna, podemos pressupor que são línguas irmãs, pois tiveram a mesma origem. Dessa forma, como você viu na seção anterior, o latim vulgar deu origem a novas línguas, as quais carregaram algumas características. Do ponto de vista gramatical, resumidamente pode-se dizer que o latim vulgar, ao se distanciar do latim clássico e originar suas novas línguas, apre- sentou as seguintes características inovadoras: 1. a substituição do acusativo com o infinitivo por construções formadas por conjunções e pronomes relativos; 2. a inflação no uso dos pronomes pessoais de primeira e segunda pessoas; 3. a inflação no uso dos diminutivos; 4. o emprego dos demonstrativos ille e ipse, às vezes com o sentido próximo ao de artigo definido das línguas românicas; 5. a confusão no emprego dos casos; 6. o aumento de frequência das preposições; 7. a confusão nas declinações, resultando no emprego da ordem da frase (sujeito, verbo e complemento); 8. as mudanças de gênero; 9. o uso de expressões tipicamente coloquiais. A língua latina influenciou o espanhol não apenas na construção da fala, mas também da gramática. Gómez Gayoso (1743), após numerar as classes de palavras na sua gramática, explica que quatro delas são invariáveis e que essa norma segue a tradição da gramática espanhola, pois ela está de acordo com a ideia das classes do latim, como você pode ver na afirmação do autor: La oracion Castellana tiene nueve partes, que son: Artículo, Nombre, Pro- nombre, Verbo, Participio, Preposicion, Adverbio, Interjeccion, y Conjuncion. Las cinco primeras se declinan: y las otras cuatro son indeclinables como las Latinas. 77Fase latinista GHLE_U3_C05.indd 77 14/03/2018 15:33:57 Neste momento, você vai estudar apenas o espanhol. No entanto, caso sinta- -se confortável, você pode fazer relações também com a sua língua materna, o português. Por exemplo, devido à perda dos casos, a construção da sentença passa a respeitar uma ordem. Dessa forma, as funções gramaticais e a ordem das palavras (sujeito e objeto) passam a ter outro valor para a língua, pois se tornam obrigatórias. Antes, na língua latina, a ordem pouco importava, pois as declinações eram os marcadores de classe. Outro ponto importante é que o latim vulgar agrega aos determinantes (possessivos e demonstrativos) os artigos definido e indefinido, os quais permaneceram até a gramática atual. Também, o pronome pessoal de terceira pessoa se fixou no espanhol em função do latim vulgar. Alguns traços linguísticos são característicos da fase latinista, os quais evidenciaram a língua espanhola em função da transformação do latim vulgar. Esses traços permearam muitos âmbitos, como o da fonética, o da morfologia e o da sintaxe. A seguir, você pode ver algumas marcas do espanhol prove- nientes do latim. Marcas em relação à fonética Em relação ao sistema vocálico atual, o espanhol possui características mar- cadas pelo sistema vocálico da baixa Idade Média. Nesse período, a influência do latim ainda era bastante forte, pois havia cinco fonemas vocálicos, como ocorre no espanhol atual. Em relação ao sistema consonantal, o fonema /f/ foi substituído pela ausência de som, mas na escrita sua substituição se deu para a letra h, como ocorreu em habla (fala) e hada (fada). Além disso, na fala, na época da Idade Média, a confusão entre /b/ e /v/ era tão recorrente que fez com que a pronúncia de ambas permanecesse praticamente a mesma. Marcas em relação à morfologia � Usos do particípio presente: las tremulantes manos, las estrellas cayentes. � Uso do plural como abstrato: las amistades, las virtudes, las confor- midades, etc. � Formas verbais como: andude (anduve), tenedes (tenéis/tenés), entre outras. � No paradigma verbal, –ades, –edes e –ides foram substituídos por –ais, –ás, –eis e –ís. Fase latinista78 GHLE_U3_C05.indd 78 14/03/2018 15:33:57 Marcas em relação à sintaxe � Supressão da conjunção que nas orações de verbos de opinião, pensa- mento e semelhantes: non creo las rosas sean tan fermosas. � Uso do infinitivo como uma oração subordinada: e desde los Alpes vi ser levantada. � Uso do verbo no final da oração: ¿Pues qué le aprovechó al triste... si su amor cumpliere, e aún el universo mundo por suyo ganare, que la su pobre de ánima por ello después en la otra vida perdurable detrimento o tormento padezca? � Anteposição do adjetivo em relação ao substantivo: los heroicos cantares del vaticinante poeta Omero. � Comparação com frases adverbiais: así como nieve, bien como riendo. � O não uso das preposições (somente a preposição a) com verbos de movimento. � Uso do adverbio así com adjetivos e advérbios: así contento que..., así virilmente que era maravilla, etc. Latim Significado em português Significado em espanhol A nativitate De toda a vida Desde el nacimiento Ab initio Desde o começo De siempre Ad absurdum Tipo de demonstração Al absurdo Ad infinitum Até o infinito Hasta el infinito Addenda Aquilo que se acrescenta a uma obra acabada Lo que hay que añadir Angelus Oração do meio-dia El ángel Ars gratia artis Fazer as coisas por prazer El arte por el arte Bona fide De boa fé De buena fe Caveat emptor Em relação à precaução Que tenga cuidado el vendedor Delirium tremens Sintoma do excesso de bebida alcoólica Delirio que tiembla Quadro 1. Expressões latinas. (Continua) 79Fase latinista GHLE_U3_C05.indd 79 14/03/2018 15:33:57 Latim Significado em português Significado em espanhol Detritus Depósito de materiais por agentes naturais Hecho trizas Ex officio Cargo ou feito já determinadoPor su cargo Exitus Morte Muerte Habeas corpus Lei que obrigatoriamente deve chegar ao juiz Tengas cuerpo In articulo mortis Momento da morte En el momento de la muerte In dubio pro reo Máxima jurídica En caso de duda a favor del reo In flagrante No momento do fato Al producirse In saecula seaculorum Para sempre Por los siglos de los siglos In toto Totalmente En el conjunto In vino veritas Quando o bêbado fala a verdade En el vino la verdad Inter alia Entre outras razões Entre otras cosas Memento Lembrança Recuerda Modus tollens Idem Procedimiento que quita Nihil obstat Nada que objetar Nada se opone Opus dei Obra divina Trabajo de Dios Panem et circenses Pão e circo Pan y circo Post coitum Após o ato sexual Después del coito Post mortem Após a morte Después de la muerte Post quem O término que marca o limite Después del que Prima facie À primeira vista A primera vista Pro rata parte Proporcionalmente En razón de la parte proporcional Quadro 1. Expressões latinas. (Continuação) Fase latinista80 GHLE_U3_C05.indd 80 14/03/2018 15:33:57 A herança latina na obra de Nebrija: um eterno legado Durante o Renascimento, foram publicadas muitas gramáticas latinas inspi- radas na literatura greco-romana. Inclusive, cabe destacar que a gramática latina publicada em 1471 pelo italiano Valla foi editada inúmeras vezes por meio século. Para os homens da Idade Média, somente o latim e o grego eram considerados línguas cultas, pois carregavam uma grandeza merecedora de estudo e análise; no entanto, as línguas vulgares se mantinham apenas pelos falantes, sem necessidade de gramática, normatização ou regras. Foi nesse ambiente que o latinista Elio Antonio de Nebrija teve a ideia de aplicar o estudo de uma língua culta, o latim, em uma língua romance, que seria o latim vulgar, que havia se transformado no dialeto castelhano. Assim, o autor publicou — em 1492, ou seja, no mesmo ano do descobrimento da América — a primeira gramática da língua castelhana. Essa publicação foi um marco na história das gramáticas das línguas neolatinas, pois na Europa nunca se havia publicado uma gramática de uma língua vulgar. O italiano teve sua primeira gramática em 1529, o português, em 1536, e o francês, em 1550. A Espanha foi a pioneira em normatizar a primeira gramática das línguas neolatinas. O gramático vanguardista oficialmente marcou uma revolução cultural, porque pela primeira vez uma língua vulgar começava a ser vista como uma língua culta, com uma gramática própria que se caracterizava como mais um fator de expansão de um império que cruzava o Atlântico. Nebrija, ao publicar a primeira gramática da língua castelhana, tinha alguns objetivos: (i) uniformizar a língua de modo a criar condições para sua perpetuidade; (ii) fazer da língua um instrumento de auxílio na manutenção da unidade dos países espanhóis; (iii) criar material pedagógico para que se pudesse ensinar a língua nacional aos povos conquistados. O autor, ao utilizar a nomenclatura latina e seguir a divisão grega da gramática, apresentou sua obra em quatro partes: ortografia, prosódia, etimologia e sintaxe. Embora Nebrija seja eternizado pelo seu maior feito na história da língua espanhola (a primeira gramática), sua primeira obra se chama Introductiones latinas, cujo título procura explicar que se trata de um trabalho simples, es- colar e com a intenção de introduzir o leitor ao latim. Essa gramática serviu como material obrigatório na Universidade de Salamanca desde 1481, ano de sua publicação, até o início do século XX. Inclusive, o autor a modificou e a ampliou durante a sua vida. Além disso, essa publicação foi a inspiração para a sua Gramática de la lengua Castellana. Introductiones latinas foi uma obra 81Fase latinista GHLE_U3_C05.indd 81 14/03/2018 15:33:57 merecedora, inclusive, de uma tradução do latim para espanhol, publicada em 1486 a pedido da rainha Isabel. Nebrija considerava que a gramática era a base de toda a ciência e acredi- tava que ela era um manual pedagógico, além de unificadora de um povo. A gramática castelhana de Nebrija possuía a mesma divisão da sua gramática latina, pois, para o autor, o latim era uma língua superior a qualquer outra. Assim, quanto mais sua gramática se aproximasse do latim, mais perfeita seria. Contudo, a originalidade de Nebrija deu autenticidade à sua gramática, já que o humanista trouxe inovações sobre o gênero gramatical, por exemplo, e muito antes das outras línguas vulgares. Segundo Nebrija (1492), saber latim significava saber gramática. Margherita Morreale (1990), no seu artigo Yo fatigo sin rumbo los confines, relembra a verdadeira intenção das nomenclaturas e do vocabulário gramatical introdu- zidos na primeira gramática da língua espanhola. A autora afirma que, por mais interesse que Nebrija demonstrasse pelo espanhol, sua base e seu real interesse sempre foram a língua latina, e por esse motivo sua gramática se baseou tanto na gramática latina publicada anteriormente. Ou seja, a intenção do glossário é principalmente facilitar a tradução do latim e o não esquecimento dele. Assim, sistematizar e organizar o espanhol serviu para categorizar de forma correspondente o latim. Sobre a obra principal de Nebrija, é importante você saber alguns pontos relacionados à sua escrita: a letra v aparece como a letra u. Isso se explica porque desde o latim clássico até o nascimento da Real Academia Espanhola, em 1713, a distinção entre ambas era inexistente. Costumava-se usar o v para início de palavras e o u para o meio, pois eram consideradas a mesma letra. No entanto, usava-se u com valor de vogal quando estava entre uma consoante e uma vogal, e o u com valor de consoante quando estava entre duas vogais. As contrações dela, delo, delas e delos também ocorriam na primeira gramática da língua espanhola. Além disso, como você deve imaginar, havia outros detalhes que foram evoluindo com o passar do tempo. Além das duas gramáticas, Nebrija publicou mais duas grandes obras: o Diccionario latino-español (1492) e o Dictionarium (1495). Eles são dois dicionários bilíngues, nos quais Nebrija assume o modelo dos glossários manuscritos, sendo sua principal fonte os textos clássicos. São duas obras independentes; a primeira segue a ordem espanhol–latim e a segunda segue a ordem latim–espanhol. Ou seja, todas as obras de Nebrija mostram uma relação forte e clara do castelhano com a sua língua materna. Fase latinista82 GHLE_U3_C05.indd 82 14/03/2018 15:33:57 Leia mais sobre a língua espanhola e sua relação com o latim no link ou código a seguir. https://goo.gl/cfiKfZ 1. Sobre a comparação entre o gênero latino e suas declinações e a evolução da língua espanhola, é possível afirmar que: a) o latim possuía um sistema de três gêneros e distribuía os substantivos em cinco declinações. Hoje em dia, por exemplo, o espanhol possui um sistema de dois gêneros que não possuem declinações. b) o latim possuía um sistema de três gêneros e distribuía os substantivos em três declinações. Hoje em dia, por exemplo, o espanhol possui um sistema de dois gêneros que não possuem declinações. c) o latim possuía um sistema de três gêneros e distribuía os substantivos em cinco declinações. Hoje em dia, por exemplo, o espanhol também possui um sistema de três gêneros, o qual possui inclusive o gênero neutro, representado pelo artigo neutro; contudo, não possui declinações. d) o latim possuía um sistema de dois gêneros e distribuía os substantivos em cinco declinações; esse sistema inspirou a língua espanhola e sofreu poucas modificações. e) o latim possuía um sistema de dois gêneros e distribuía os substantivos em cinco declinações. Hoje em dia, por exemplo, o espanhol possui um sistema de três gêneros com algumas declinações específicas. 2. Na fase latinista, as preposições passaram a ser utilizadas de forma abundante, pois seu uso era um facilitador da comunicação, já que era possível expressarperfeitamente a intenção de um complemento circunstancial. Dessa forma, é incorreto afirmar que: a) o ablativo foi substituído inicialmente por diversas preposições (in, cum, de, ab, pro) que indicavam o tempo 83Fase latinista GHLE_U3_C05.indd 83 14/03/2018 15:33:58 https://goo.gl/cfiKfZ exato da relação semântica que se tentava expressar e, após isso, desapareceu. b) o dativo, por exemplo, se tornou a preposição ad, a qual, atualmente, indica o complemento indireto. c) o genitivo teve como marcação a proposição de, que hoje em dia possui a função sintática de complemento nominal. d) o uso das preposições resultou na perda dos casos latinos e das declinações. e) o vocativo, inicialmente, contou com o auxílio de muitas preposições, mas após determinado tempo foi substituído e desapareceu como ocorreu com o ablativo. 3. Do ponto de vista gramatical, resumidamente, pode-se dizer que o latim vulgar, ao se distanciar do latim clássico e originar suas novas línguas, apresentou a seguinte característica inovadora: a) A substituição do acusativo com o infinitivo por construções formadas por preposições. b) A obrigatoriedade na ordem das orações. c) A falta da marcação de gênero. d) A diminuição de frequência das preposições. e) A fixação do emprego dos casos. 4. Sobre a romanização ou latinização, é incorreto afirmar que: a) ocorreu em função da dominação do Império Romano. b) Roma determinou que não só sua língua como também sua cultura e leis fossem estabelecidas no novo território conquistado. c) o Império Romano impôs a língua latina como forma de dominação sobre os outros povos. d) a língua latina nunca chegou a ser a língua oficial, pois os dialetos sempre foram predominantes. e) as línguas dialetais não resistiram à imposição do latim e após muitos anos de bilinguismos foram deixando de serem usadas pelos habitantes; assim, o latim passou a ser a língua predominante. 5. Na história da língua latina, houve uma variante popular, conhecida como latim vulgar, e outra variante literária, conhecida como latim culto ou clássico. À medida que o latim vulgar foi sofrendo transformações, surgiram as línguas romances, mas, ao mesmo tempo, o latim culto perdurou com a literatura. Sendo assim, patrimonialismo significa: a) palavras resultantes da evolução do latim vulgar. b) palavras resultantes do latim clássico. c) palavras que não chegaram ao ponto do latim vulgar, mas que se distanciaram do latim clássico. d) palavras de origem greco-latina. e) palavras sem explicação etimológica. Fase latinista84 GHLE_U3_C05.indd 84 14/03/2018 15:33:58 GÓMEZ GAYOSO, B. M. Gramática de la lengua castellana reducida a breves reglas y fácil método para instrucción de la juventud. Madrid: Imprenta de D. Gabriel Ramírez, 1743. MORREALE, M. Yo fatigo sin rumbo los confines…: implicaciones verbales y lexicográ- ficas de los latinismos semánticos y su incomprensión en la actualidad. In: EMÍLIA AN- GLADA, M. B. El cambio lingüístico en la Romania. Estudi General de Lleida: Lleida, 1990. NEBRIJA, E. A. de. Gramática castellana. Madrid: Fundación Antonio de Nebrija, 1492. NORIEGA, J; FORASCEPI, M. A. El género en español. Nadetur: Avilés, 2001. PENNY, R. Gramática histórica del español. Barcelona: Ariel, 2014. REINOSOVÁ, N. El género de los sustantivos: (con especial atención al género femenino). (Tesis doctoral indédita) - Universidad Msaryk, Brno, 2009. SANTOS, A. História da língua española. 2016. Disponível em: <https://espanholsem- fronteiras.com.br/historia-da-lingua-espanhola-01/>. Acesso em: 13 mar. 2018. Leituras recomendadas ABELLÁN GIRAL, C. La labor científica de Antonio de Nebrija. Revista Electrónica de Estudios Filológicos, v. 5, abr. 2003. Disponível em: <https://www.um.es/tonosdigital/ znum5/peri/peri.htm>. Acesso em: 13 mar. 2018. BENTES, A. C.; MUSSALIM, F. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2000. v. 1. EL LÉXICO latino y su evolución: evolución fonética, morfológica y semántica. [200- ?]. Disponível em: <http://recursos.cnice.mec.es/latingriego/Palladium/latin/esl132ca1. php#dc00>. Acesso em: 13 mar. 2018. LAPESA, R. Historia de la lengua española. Madrid: Gredos, 1981. MEILLET, A. Esquisse d´une histoire de la langue latine. Paris: Klincksieck, 1933. 85Fase latinista GHLE_U3_C05.indd 85 14/03/2018 15:33:58 http://fronteiras.com.br/historia-da-lingua-espanhola-01/ https://www.um.es/tonosdigital/ http://recursos.cnice.mec.es/latingriego/Palladium/latin/esl132ca1. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. GHLE_U3_C05
Compartilhar