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Análise dos Crimes contra a Vida - Artigos JusBrasil

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14/05/2015 Análise dos Crimes contra a Vida | Artigos JusBrasil
http://cdaun.jusbrasil.com.br/artigos/188043211/analise-dos-crimes-contra-a-vida?print=true 1/39
Análise dos Crimes contra a Vida
Por Camila Daun
Publicado por Camila Daun - 22 horas atrás
1. Introdução
A parte especial do Código Penal é composta por 11 títulos. Sendo o objeto de estudo deste semestre
apenas o primeiro título, dos crimes contra a pessoa.
A evolução da parte especial mostra, de alguma forma, a posição que cada entidade ocupa dentro do
nosso estado democrático. É curioso que no nosso código anterior, de 1870, se iniciava com os Crimes
contra a Administração.
O Código Penal de 1940, em vigor no Brasil, altera essa perspectiva, pois se inicia com os Crimes contra
a Pessoa e termina nos Crimes contra a Administração. Como se fosse uma gradação de importância do
em jurídico. A pessoa é considerada em primeiro lugar e o Estado em último, ocupando a função de servir
os seus habitantes.
Crimes contra a Pessoa: (Título I).
Para as pessoas, o bem mais importante é a vida.
Crimes contra a Vida:
Homicídio (art. 121)
Infanticídio (art. 122)
Participação em Suicídio (art. 123)
Aborto (art. 124 a 128)
1. Homicídio
“Homicídio simples - Art. 121. Matar alguém:
JusBrasil - Artigos
14 de maio de 2015
14/05/2015 Análise dos Crimes contra a Vida | Artigos JusBrasil
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Pena - reclusão, de seis a vinte anos.”
Bem Jurídico é o interesse que é protegido pelo tipo.
*Ex.: Um sujeito viola uma sepultura, e, ao fazê-lo, descobre a ausência do cadáver. Por qual crime o
violador poderia ser punido?
*O sujeito não responderia por tipo algum. Pois a jurisprudência entende que, ainda que o sujeito tenha
efetivamente violado a sepultura, conduta prevista no nosso ordenamento, o bem jurídico tutelado nesse
tipo é o de respeito aos mortos e, na ausência do morto, não há bem jurídico a ser tutelado. Assim, a
conduta do sujeito é atípica.
‘Bem Jurídico do Homicídio:
Trata-se da vida humana a partir do início do parto e até o final da vida, independentemente de viabilidade
ou duração (do parto ou do tempo restante de vida).
Existe um delito que protege a vida antes do homicídio, que é o crime de aborto. Imagine que o médico,
ao realizar o parto de uma mulher, com o feto ainda dentro do útero, pratica uma manobra entranhista
(uso de fórceps, por exemplo) e acaba matando a criança. Seria aborto ou homicídio?
O marco divisório entre o aborto e o homicídio é o início do parto. E este se dá, nos casos de cesárea,
no momento da primeira incisão, e, nos partos naturais, no momento do rompimento do saco amniótico
ou com o início da dilatação do colo do útero. Ou seja, a partir do início do processo de dilatação do colo
do útero, ou do rompimento do saco amniótico, por mais que a criança permaneça no útero por horas e
horas, ela será vítima de homicídio e não de aborto.
Para demonstrar de forma mais clara que não é o nascimento com vida, nem a primeira respiração, que
iniciam a tutela contra o tipo de homicídio, Magalhães Noronha elaborou um exercício acadêmico com as
seguintes características: mulher mãe de gêmeos; nasce o primeiro filho, que ela mata asfixiado; a
segunda criança se encontrava com a cabeça para fora da abertura vulvar e a mulher, a tamancadas, o
mata. Por qual crime a mãe responderia?
A segunda criança não tinha nascido efetivamente, na esfera civil, não iniciara sua personalidade jurídica,
por não ter dado a primeira respiração, mas penalmente, iniciado o parto não existe mais a possibilidade
de se punir pelo crime de aborto, restando as opções homicídio e infanticídio que diferenciaremos no
decorrer do semestre.
Assim, se o bem jurídico vida não estiver presente, não haverá homicídio por atipicidade material. Não
haverá homicídio por não haver bem jurídico a ser protegido.
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‘Tipo Objetivo: Matar / alguém.
Analisar o tipo objetivo é, antes de mais nada, uma interpretação gramatical do artigo, especificando o
que significam as palavras. Primeiramente, analisaremos o verbo do tipo que é “MATAR”.
~ Matar -> Provocar a cessação da atividade encefálica (morte encefálica).
O conceito de morte no Brasil, como nos demais países civilizados, tem o propósito de atender uma
necessidade prática, que é a necessidade de transplante de órgãos. Tanto que o conceito de morte
encefálica se encontra na Lei de Transplantes, regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina.
E isso porque, por um lado, não se poderia permitir o transplante de órgãos de pessoa viva, descabendo a
consideração de morte como parada cardiorrespiratória, por exemplo; e por outro, não se pode aguardar a
morte completa, a morte metabólica de todas as células, pois nenhum órgão poderia ser transplantado.
Foi então que se considerou como limite viável a morte encefálica, uma vez em que esta é, atualmente,
irreversível. E, enquanto a parada encefálica for irreversível, sua existência caracteriza a morte, sendo
provocar a morte provocar a parada da atividade encefálica.
Destarte, por exemplo, se a pessoa se encontra em estado vegetativo permanente, após ser atingida por
58 tiros, isso não equivale à morte, respondendo o agente por tentativa de homicídio devido à ausência do
resultado morte.
~ O homicídio é um crime que pode ser cometido por um infinito de maneiras, por facada, tiro, susto,
envenenamento, emparedamento, provocando a queda, por esganamento, por meios morais, com palavras,
mediante fraude, dentre outras milhares de maneiras existentes.
Trata-se de crime comissivo praticado, em regra por ação. O verbo matar, ou seja, provocar a cessação
da atividade encefálica, exige uma ação, uma conduta. No entanto, pode ser, excepcionalmente, praticado
por omissão, como prevê o artigo:
“Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O
dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
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b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.”
Porque quando uma pessoa deixa de alimentar uma criança de rua não responde por homicídio, mas se é
a mãe dessa criança quem deixa de fazê-lo, ela responde por homicídio. A diferença entre elas é que a
mãe tem o dever de cuidar do filho.
O homicídio, assim, pode excepcionalmente ser praticado por omissão (Comissivo por Omissão, ou
Omissivo Impróprio), quando quem se omite tinha o dever de agir para impedir a morte. Neste crime, só
quem tem o dever de agir, quem se encontra em posição de garante é quem tem de evitar o resultado.
Somente o garante pode responder pelo crime de homicídio por omissão e é a situação fática quem
determina se o agente se encontra ou não nessa posição. Essa questão pode ser observada claramente
no célebre caso do Réveillon, onde uma garota levou um tiro na cabeça, e, ao chegar ao hospital,
descobriu-se que o neurologista de plantão não se encontrava no hospital.
Pelo o que a mídia noticiou, o médico fora indiciado preliminarmente no delito de homicídio, não ter agido
quando tinha o dever de fazê-lo. Juridicamente, tal situação é um absurdo, vistoque o médico não estava
presente no local, e, inclusive, avisou que não estaria lá, podendo ter cometido uma falta administrativa,
trabalhista, ou o que seja, mas ele certamente não figurava na posição de garante.
Não havia expectativa de que o bem jurídico estaria tutelado pelo médico naquele momento. O diretor do
hospital, sabendo que não haveria médico, deveria ter tomado uma atitude rápida, fosse convocando outro
médico, fosse encaminhando a garota para outro hospital, mas o médico que não estava lá, e avisou que
não estaria, não pode ser punido por homicídio comissivo por omissão.
Afinal, todos cometem faltas funcionais, por exemplo, uma mãe que não está junto ao filho, não está na
posição de garante dele. É claro que a posição de garante de uma mãe está presente 24h/dia, não cessa,
mas caso o filho, no momento em que ela não estiver presente, caia e quebre o braço, a mãe não
responderá por crime comissivo por omissão.
Uma vez em que ela não estava presente, não havia sequer a possibilidade de agir. Caso ela não
estivesse presente por desídia, ou se atrasasse, não importa, naquele momento ela não estava
fisicamente presente, então, não existe por parte das pessoas que presenciam a situação, nenhuma
expectativa de que ela atuará, por não ter maneira dela atuar à distância.
Alguns livros declaram expressamente que não há crime comissivo por omissão quando a pessoa não
está fisicamente presente, com algumas exceções. Por exemplo, se a pessoa liga para o médico, fala
com ele pelo telefone e, nessa conversa, ele disse que estaria presente, mas, mesmo assim, não
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comparece ao hospital. Nesse caso, o médico tinha condição de estar presente, pois ele sabia do perigo
e tinha condições de estar presente.
Mas estes são casos excepcionais da jurisprudência. A regra é que para que a pessoa se inclua na
posição de garante, ela tem que estar fisicamente presente. Se não estiver, a sociedade tem de se
articular para tutelar o bem jurídico de uma outra forma.
‘Tipo Subjetivo: Para analisar o tipo subjetivo, em geral, analisar-se-á se ele admite dolo e dolo eventual,
se se exige um elemento subjetivo especial e se existe previsão na modalidade culposa.
~Admite tanto o dolo direto quanto o eventual, que se dá quando o sujeito assume o risco de produzir o
resultado.
Exige o “animus necandi” do agente, a intenção e vontade de matar alguém.
~Não exige nenhum elemento subjetivo especial, que se caracteriza pela existência de uma intenção
específica para o agir. Existem alguns crimes que exigem, além do dolo, uma intenção específica para o
agir, como o crime de abandono de recém-nascido com o fim de ocultar desonra própria, por exemplo.
~Prevê modalidade culposa. No caso de Santa Maria, por exemplo, o delegado tipificou a conduta dos
integrantes da banda e dos donos da boate Kiss, como homicídio doloso. O primeiro BO foi lavrado como
homicídio culposo. Para analisar a existência de dolo ou culpa, há de se verificar o caso concreto, mas
não são todos os casos em que isso fica claro, como acontece no caso de Santa Maria.
A atitude dos donos da boate foi de: “Dane-se, por mim se morrerem 300 pessoas tudo bem, construímos
outro. Afinal, ainda existirão muitas pessoas querendo dançar”. Ou será que a conduta dele estava mais
voltada para: “Tomara que não aconteça”. A razão de o delegado ter alterado a espécie de homicídio neste
caso é claramente processual, pois não haveria modo de mantê-los presos por um delito culposo.
~Erro de Tipo é uma classificação que exclui o dolo, pois constitui a falta de consciência e a falta de
vontade de preencher os elementos do tipo. Haverá erro de tipo se o agente matar alguém sem
consciência de fazê-lo.
Ex.: Certa noite o sujeito estava caçando um jacaré, em seu meio natural, e atira em um deles. Quando
chega perto com uma lanterna, ele se surpreende ao perceber que não atirara num jacaré, mas em uma
mulher que mantinha conjunções carnais no local. Por qual crime este agente deveria ser punido?
A clássica questão da caçada trata de erro de tipo. Objetivamente, ele matou alguém. Mas ele sabia que
estava matando alguém? Esse alguém estava na sombra, ele olhou e viu um jacaré, que posteriormente
constatou ser uma mulher.
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O erro de tipo pode ser de duas espécies, que dependem do caso concreto para sua determinação: o erro
de tipo evitável, que exclui o dolo, mas permite a punição por crime culpo, se previsto; e o erro de tipo
inevitável, que tem como consequência excluir o dolo e a culpa, pois o juiz entende que qualquer um o
teria cometido.
‘Sujeito Ativo: qualquer pessoa pode praticar o homicídio. Então, trata-se de Crime Comum.
~Existem crimes que só podem ser praticados em conjunto, como o crime de quadrilha, por exemplo. São
crimes plurissubjetivos; do outro lado estão os crimes unissubjetivos, os quais o agente pode praticá-lo
sozinho.
O homicídio é Crime Unissubjetivo, ou de concurso eventual, que pode ser praticado por uma única
pessoa. Admite o concurso de pessoas tanto na forma de co-autoria (praticar o verbo do tipo), quanto de
participação (induzir, instigar ou auxiliar quem pratica o verbo do tipo).
~Então, tanto quem mata, quanto quem induz, instiga ou auxilia alguém a matar, pratica homicídio.
‘Sujeito Passivo: Qualquer pessoa a partir do início do parto pode ser vítima do crime de homicídio.
‘Consumação: Consuma-se com a morte.
~Trata-se de crime material, pois precisa da ocorrência do resultado morte para a sua consumação.
~Admite tentativa. Nos termos do art. 14, II, do CP, a tentativa ocorre quando o agente deseja o
resultado, mas este não acontece por razões alheias a sua vontade. Via de regra, os crimes tentados tem
a mesma pena do homicídio consumado, uma vez em que a intenção do agente era de praticar o verbo do
tipo, mas diminuída de um a dois terços, justamente porque o resultado não se concretizou.
“Art. 14, II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime
consumado, diminuída de um a dois terços.”.
~Quando o crime não se consuma por motivos alheios à vontade do agente, haverá tentativa de homicídio.
Ex.: Tício atira cinco vezes em Mevil, com vontade de matá-lo, mas não consegue, deixando-o
incapacitado para suas ocupações habituais por mais de 30 dias. Tício pratica tentativa de homicídio,
pouco importando o resultado de sua conduta se enquadra em outro tipo penal, neste caso, Lesão
Corporal Grave.
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Mas se o crime não se consuma pela interferência da própria vontade do agente, incide a desistência
voluntária, prevista na primeira parte do art. 15 do CP.
“Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado
se produza, só responde pelos atos já praticados.”.
Ex.: O marido esfaqueia sua mulher na cabeça por 21 vezes e não disfere outro golpe por sua própria
vontade. Havia meios para que ele o fizesse, mas por sua própria vontade, o marido parou de golpeá-la.
Se a mulher não morrer, o marido responde apenas pelos atos praticados até o momento da desistência.
1. Comentários acerca da Eutanásia
Ano passado, o Conselho Federal de Medicina regulamentou o testamento vital, que é um instrumento no
qual a pessoaconsciente pode fazer disposições de última vontade, de como pretende ser tratado se um
dia estiver em estado inconsciente e terminal.
A idéia do testamento vital, seja expresso, seja implícito, é muito forte nos EUA e na Europa. Tanto é que
no caso da Terry Squiavo, uma mulher que ficou em estado vegetativo permanente durante um bom tempo
e foi objeto de uma batalha judicial.
Ela era uma moça de 25 anos, em profunda depressão, que desenvolvera bulimia, e consequentemente,
uma grave anemia, vindo a desmaiar, ficando sem oxigenação no cérebro durante vários minutos. Isso
provocou uma lesão de vasta magnitude em sua atividade cerebral, deixando-a em estado vegetativo
permanente, durante mais de dez anos.
Quando da doença, separava-se do marido, e ele entrou, contra os pais dela, numa batalha judicial para
retirar a sonda de alimentação e hidratação que a mantinham viva. Assim, com a retirada dos aparelhos,
fatalmente em dois ou três dias Terry seria levada a morte.
A primeira decisão judicial concedeu a retirada, os pais apelaram e a sonda foi recolocada. Por duas
vezes a sonda foi retirada e recolocada, até que, na terceira vez, o marido ganhou a batalha judicial,
retirando-se definitivamente os aparelhos da moça.
Durante todo o embate judicial, discutia-se o que a Terry quereria se ali estivesse, se ela pudesse se
manifestar. Nos EUA, a idéia de que o consentimento, o desejo, do paciente tem preponderância sobre
tudo, é muito forte. Especificamente, Terry não deixara testamento escrito, mas o marido alegava que ela,
em determinado momento da vida, havia dito que não queria ser deixada naquele estado. Até que ponto
isso deve ser levado a sério?
No Brasil, não havia a previsão do testamento legal. Em 2012, ele foi criado, iniciando uma grande
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discussão jurídica de se o Brasil estava legalizando a Eutanásia.
Medicamente, existem três conceitos a serem analisados de forma clara para que se possa iniciar os
debates sobre o tema. São eles: Eutanásia Ativa ou Passiva; Distanásia; e Ortotanásia.
Do ponto de vista jurídico, Eutanásia é a antecipação do momento natural da morte. A morte naturalmente
ocorreria daqui a pouco, ou dali a muito, e se antecipa o momento de sua ocorrência.
O filme “Mar Adentro” conta a história de Ramón, um mergulhador atlético, que aos 20 anos de idade, fica
tetraplégico. Ele não tinha nenhum movimento do pescoço para baixo, mas, certamente, aquela condição
não o levaria, por si só, à morte. Então, inicia uma batalha judicial pelo seu direito de morrer.
A batalha judicial se dá porque ele não pode se matar sozinho e não quer que os parentes sejam
incriminados por fazê-lo, e também não querem fazê-lo para não se privarem da sua companhia, porque o
amam.
Ramón estava tetraplégico há 20 anos e decidiu que não mais queria viver assim. Abreviar a sua morte
seria um caso de eutanásia. A eutanásia pode ser praticada de forma ativa, por envenenamento, e de
forma passiva, deixando de alimentá-lo. Com ambas as condutas se anteciparia o momento da morte
natural. A morte natural não aconteceria, mas o agente, seja por ação ou por omissão, de alguma forma
provoca o processo antecipado da morte.
Se eutanásia é pegar a morte no momento certo e antecipá-la, a distanásia é o oposto. Distanásia,
também chamada de obstinação terapêutica, é o emprego de meios desproporcionais e inúteis que
prolongam o sofrimento e a vida do paciente.
Ex.: uma senhora com Mal de Parkinson tem sua condição piorada e é levada ao hospital, de onde não
sai mais, passando por procedimentos e mais procedimentos que de nada adiantariam. A senhora já
estava inconsciente e, cada dia que passava, novos problemas surgiam, não aproveitando em nada os
poucos momentos de lucidez que tinha. Sempre dopada com expressão de dor e gemendo. Depois de um
ano e meio, a família entrou em um acordo e decidiu que não mais seriam realizados procedimentos, que
seria melhor deixar que a morte seguisse o seu curso natural.
A idéia de recursos desproporcionais, inúteis, fúteis, que prolongam o sofrimento do paciente é o conceito
de distanásia.
Por fim, a ortotanásia é interrupção dos meios inúteis, porque pouco prolongam a vida, roubando toda a
qualidade que ela poderia ter, e que provoquem sofrimento em caso de paciente terminal portador de
doença grave incurável. São os casos em que a pessoa vive um pouco mais, mas vive sem qualidade.
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Dá-se sempre de forma omissiva, ao contrário da eutanásia, que pode ser tanto ativa, quanto passiva.
Nunca é matar, e sim deixar de tentar, parar. Muitas pessoas se confundem, pois na eutanásia passiva
se antecipa a morte, e a ortotanásia deixa que a morte venha em seu momento natural.
Um exemplo famoso é o do Papa Paulo II, que, em determinado momento da sua doença, resolveu parar
com a realização dos tratamentos que não o conduziriam a um momento maior de sobrevida. Da mesma
forma, o Ex-Governador Mário Covas.
Quando o paciente está consciente, a idéia de ortotanásia parece até natural. Porque, ainda que o médico
ou a família quisessem, não poderiam obrigar o paciente a se submeter a um novo tratamento.
O problema é que, muitas vezes, quando se chega a este ponto de precariedade da vida, o paciente não
tem mais possibilidade de prestar consentimento. Então, no Brasil hoje, se um médico praticasse
eutanásia, ortotanásia, ou distanásia, ele responderia pelo quê?
Certa vez, um médico questionou sobre a punição da distanásia, pois esta se dá pela submissão de
pacientes a tratamento, sem que isso seja de sua vontade, sendo alguns deles desumanos e que
provocam sofrimento, estendendo a vida sem qualidade. Isso poderia ser considerado tortura?
Nenhum jurista jamais defendeu essa posição. Não pode ser considerada homicídio, diante da sua
característica de prolongar a vida. E a distanásia não é, assim, considerada fato típico.
A eutanásia é um conceito médico, que do ponto de vista jurídico, constitui homicídio.
De acordo com a legislação brasileira atual, frequentemente aceita, a eutanásia, seja ela ativa ou passiva,
configura homicídio privilegiado. O homicídio é um crime comissivo, então se a eutanásia for praticada da
forma ativa, haverá homicídio.
Mas a sua forma passiva só será considerada homicídio se for praticada por quem tiver posição de
garante, pois o homicídio só possui forma omissiva quando o agente tem o dever de garantia da vítima. Se
quem tinha o dever de agir para manter a sua vida, deixar de praticá-lo, haverá, juridicamente, um
homicídio por omissão, e medicamente, eutanásia passiva.
Quanto à eutanásia não há muita dúvida, pois o crime de homicídio é matar alguém, e, portanto, se o
agente matar alguém, ainda que pela melhor das razões, essa conduta será tipificada como homicídio.
Pode-se até pensar em legalizar a eutanásia, como uma excludente de ilicitude. Ou seja, o fato continua
sendo típico, mas passa a ser lícito. Pois nenhum direito é absoluto, nem o direito à vida. O aborto, por
exemplo, é um fato típico, que, em determinadas situações, passa a ser lícito. Quando a gravidez decorre
de estupro, o aborto será um fato típico, mas lícito.
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Mas essa é uma discussão social, que deve ser apresentada perante toda a sociedade. Hoje, com a
legislação na forma como se encontra, a eutanásia é um fato típico e ilícito, portanto a pessoa pode ser
punidapor ela na forma do crime de homicídio.
Por exemplo, um garoto sofreu um acidente de moto com 20 anos, entrando em coma e ficando em
estado vegetativo, sem chance de seu quadro médico voltar à normalidade. Os pais do rapaz e seu irmão
mais velho combinaram com o médico de desligar os aparelhos, de retirar os aparelhos de alimentação
que o mantinham vivo.
Isso é eutanásia, e não ortotanásia. Muitas pessoas confundem o estado vegetativo permanente com o
estado de terminalidade. Uma pessoa em estado vegetativo permanente não tem processo de morte já em
curso, já em progresso, ela pode ficar ali, sustentada pelos aparelhos, por um longo período.
Então, o desligamento de aparelhos, que é uma conduta omissiva, apesar de alguém retirar ou desligar os
aparelhos. E essa conduta tem valor omissivo porque se para de alimentar a vida, a pessoa morrerá de
fome, por ação de seu próprio organismo.
No caso acima, o rapaz tinha um irmão mais novo que não concordou com o desligamento dos aparelhos,
foi à delegacia e denunciou todos os envolvidos. Tanto o médico, quanto os pais, que tinham posição de
garante, foram processados no Tribunal do Júri por homicídio por omissão. Foram beneficiados com o
homicídio privilegiado, mas não foram absolvidos.
E a ortotanásia? É considerada crime? Se a ortotanásia fosse considerada crime, seria um crime
omissivo, pois é sempre passiva. A eutanásia é típica por se classificar como um homicídio comissivo por
omissão, que só se dá quando a pessoa possui posição de garante, um dever de agir.
O médico, então, numa situação de ortotanásia, em que a morte é natural, tem o dever de agir para
prolongar a vida? Se o médico tem o dever de tentar qualquer coisa, quando permite a ortotanásia, comete
crime de homicídio por omissão. Mas se se entender que o médico não tem esse dever de fazer qualquer
coisa para manter a vida da vítima, não há posição de garante, e, assim, não se constitui homicídio por
omissão, sendo sua conduta atípica.
Existe a idéia de que os médicos tem o dever absoluto de cuidar, mas não de curar a vítima, até porque,
muitas vezes, esta não é possível. Seu dever consiste em cuidar, fornecer meios paliativos, meios de
controle da dor e do sofrimento. O médico tem o dever de chagar à distanásia, ou será que ele não tem
esse dever?
O Conselho Federal de Medicina, embora não legisle, pode nos dizer qual é o dever de agir e esse dever
de agir integra a norma penal, porque a norma penal define o crime de homicídio por omissão só para
quem possui esse dever. Se o próprio Conselho Federal de Medicina entender que existe, ou que não
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existe, esse dever de agir, seguiremos por essa linha.
Em 2006, o CFM elaborou a resolução nº 1.805/06, que dizia ser permitido ao médico limitar ou
suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal de doença
grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal. O médico tem a
obrigação de esclarecer ao doente ou ao seu representante legal, as modalidades terapêuticas
recomendáveis ao caso, e a decisão deve ser registrada e fundamentada no prontuário.
Essa resolução descreve a situação de ortotanásia, ou seja, um paciente com doença grave e incurável,
em estado terminal. Sendo necessário o consentimento do paciente, ou seu representante legal para
limitar ou suspender os procedimentos e tratamentos.
Se o paciente quiser prolongar seu tratamento, chegando à distanásia, ele tem esse direito, mas com o
seu consentimento, a limitação ou suspenção dos procedimentos estaria autorizada.
O MP-DF não concordou com a resolução do CFM e ingressou com uma ação civil pública, na Décima
Quarta Vara Criminal da Justiça Federal de Brasília, alegando estar o CFM legislando sobre matéria penal
de forma a descriminalizar o homicídio.
A Procuradora da República que assumiu, posteriormente, essa ação, em suas alegações finais, pediu a
improcedência da ação, dizendo que a resolução não legaliza o homicídio, sendo, inclusive um argumento
bastante razoável, que esclarece o que já é feito na prática, importando num procedimento mais seguro,
evitando que o médico omita essa informação do prontuário, e, assim, possibilitando uma melhor
fiscalização. A ação foi julgada improcedente em dezembro de 2010, mas entre sua publicação e a
improcedência da ação, sua aplicabilidade ficou suspensa em caráter liminar.
Em abril de 2010, enquanto a resolução nº 1.805/06 continuava suspensa, elaborou-se o novo Código de
Ética Médica, na forma da resolução nº 1.931/10. Seu artigo 41, § único, também trata da ortotanásia,
possibilitando ao médico, nos casos de doença terminal, oferecer todos os métodos paliativos, sem
empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a
vontade expressa do paciente, ou na impossibilidade, de seu representante legal.
Assim, o que os médicos estão nos dizendo é que o médico não tem um dever de distanásia, podendo
parar de praticar procedimentos, desde que com o consentimento do paciente.
Portanto, considerando que o homicídio por ortotanásia só poderia ser praticado de forma omissiva, que o
crime comissivo por omissão só pode ser praticado com a violação de um dever de agir, e que, segundo o
CFM, o médico não tem o dever de empreender ações terapêuticas fúteis, inúteis e que provoquem
sofrimento ao paciente, a conclusão a qual se chega é que a ortotanásia é um fato atípico.
A interpretação do próprio artigo 13 do CP nos leva a essa conclusão, não sendo necessário alterar o
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previsto no código.
Se o próprio CFM defende que o médico não tem o dever de agir por obstinação terapêutica, então se ele
de fato optar por não agir, sempre dentro dos parâmetros da ortotanásia (doença grave, incurável, estado
terminal, consentimento), não poderá ser punido.
Só que ainda ficava uma lacuna, justamente pelo fato de o consentimento do paciente ser algo meio
ilusório. Via de regra, quem chega nesse estado, não tem mais capacidade para consentir, e por outro
lado, os representantes legais podem não entrar em um acordo, ou até mesmo não poder determinar qual
seria a vontade do paciente.
Para complementar as resoluções tratadas anteriormente, o CFM elaborou a resolução nº 1.995/12, que
prestigia a vontade do paciente, instituindo o testamento vital. Considerando a necessidade bem como a
inexistência de regulamentação sobre as diretivas antecipadas de vontade do paciente no contexto da
Ética Médica Brasileira, tal como a necessidade de disciplinar a conduta do médico em face das
mesmas, a atual relevância da autonomia do paciente na relação médico-paciente sobre as diretivas
antecipadas de vontade, a presente manifestação dessas situações na vida prática do médico, e que os
novos dispositivos tecnológicos permitem a adoção de medidas desproporcionais, que prolongam o
sentimento do paciente em estado terminal, sem trazer benefícios, vem o CFM definir diretivas
antecipadas de vontade como o conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente,
sob os cuidados que quer ou não receber no momento em que estiver incapacitado de expressar livre a
autonomamente a sua vontade.
O testamento vital pode ser elaborado de qualquer forma, inclusive verbalmente ao médico, que as
registrará no prontuário. O paciente pode discriminar diretrizes humanas de como será tratada em seus
momentos finais.
Trata das diretivas antecipadas de vontade EXCLUSIVAMENTE nos casos de ortotanásia. Preponderandoa
vontade do paciente no testamento vital sobre todas as outras. Da mesma forma se o paciente tiver
designado representante para tal fim. Para ambas as hipóteses isso será válido desde que não se
contrarie a Ética Médica, e muito menos, o Código Penal, por isso não é aplicável no caso da eutanásia,
dentre outros.
Na falta de conhecimento das diretivas antecipadas de vontade do paciente, por ele mesmo expressas, ou
por meio de seu representante instituído, considerar-se-á a vontade dos familiares, e, em caso de
divergência, o médico recorrerá ao Conselho de Ética para decidir.
O projeto do novo Código Penal trata a eutanásia como um crime autônomo, que será de: “Matar, por
piedade ou compaixão, paciente em estado terminal, imputável e maior, a seu pedido, para abreviar-lhe
sofrimento físico insuportável em razão de doença grave. Pena de 2 a 4 anos”.
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“§ 1º - O juiz deixará de aplicar a pena, avaliando as circunstâncias do caso, bem como a relação de
parentesco ou estreitos laços de afeição entre o agente e a vítima”.
“§ 2º - Não há crime quando o agente deixa de fazer uso de meios artificiais para manter a vida do
paciente, em caso de doença grave irreversível, e desde que essas circunstâncias estejam previamente
atestadas por dois médicos e haja consentimento do paciente, ou na sua falta, de ascendente,
descendente, cônjuge ou irmão.”
O caput fala da eutanásia ativa, discutindo-se ainda sobre o cabimento do testamento vital. O § 1º prevê o
perdão judicial do crime de eutanásia, permitindo que a eutanásia, um fato típico, ilícito e culpável, fique
isenta de pena por uma causa de exclusão da punibilidade do agente.
Já o § 2º legalizaria a eutanásia passiva, tornando-a um fato típico, que não é ilícito. Mas sua incidência é
muito ampla, pois não exige que o paciente esteja em estado terminal, e apenas que seja portado de
doença grave e irreversível, o que englobaria a situação do paciente em estado vegetativo.
Um paciente com câncer, por exemplo, pode figurar como paciente com doença grave e irreversível, mas
os médicos lhe estimaram uns 10 anos de vida, já poderia se aplicar o § 2º e, assim, prestar eutanásia
passiva ao paciente?
A sociedade brasileira não discutiu com maturidade suficiente esse tema para que a lei seja tão ampla
nesse sentido, mas seria possível se o legislador assim previr.
Outra discussão interessante envolve a ordem de preferência prevista no texto, pois o processo penal
normalmente adota como ordem o cônjuge, seguido do ascendente, do descendente e do irmão. Aqui o
legislador adota o ascendente (pai/mãe) e o descendente (filho) em preferência ao cônjuge.
Obviamente, que seria considerado o disposto em testamento vital e a consulta aos entes do paciente só
seria necessária na sua ausência. A idéia do § 2º é de que os outros entes do paciente só seriam
consultados se não existir a figura que tem preferência legal. Mas existe uma corrente que sustenta a
necessidade do consentimento de todos, numa interpretação pró-vida.
15/02/2013 – Homicídio Privilegiado (art. 121, § 1º, CP)
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um
sexto a um terço.
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O homicídio terá pena reduzida de 1/3 a 1/6 se presentes determinadas circunstâncias.
‘Homicídio Privilegiado x Homicídio Minorado
Na dosimetria da pena, existem circunstâncias que alteram a pena para mais ou para menos,
qualificadoras e privilegiadoras, atenuantes e agravantes, tal como causas de aumento e diminuição da
pena.
As atenuantes e agravantes são definidas na parte geral, não sendo foco do nosso estudo. Mas as
qualificadoras, privilegiadoras, causas de aumento e diminuição, são previstas na parte especial, e nos
ateremos a elas.
A figura do homicídio privilegiado se enquadra na hipótese de circunstância privilegiadoras, ou minorante,
que é causa de diminuição da pena? O que diferencia uma causa de diminuição de pena de uma
privilegiadora não é a essência da circunstância, sendo a diferença puramente técnico-jurídica.
As privilegiadoras e as qualificadoras alteram as balizas da pena em abstrato, o legislador a preveria com
uma pena de 2 a 6 anos, por exemplo. Enquanto as causas de aumento e diminuição de pena, as
majorantes e atenuantes, aplicadas na forma de fração, que alteram a pena em concreto determinada na
terceira fase de dosimetria da pena.
~Embora a doutrina chame essa figura de homicídio privilegiado, trata-se, na verdade, de causa de
diminuição de pena. Consiste em uma fração aplicada pelo juiz na terceira fase da dosimetria e que pode
conduzir a pena abaixo do mínimo legal.
~Natureza das Minorantes: todas as circunstâncias que afetam a pena podem ter caráter pessoal, ou
subjetivo, ou caráter objetivo.
Será de caráter pessoal sempre que a circunstância disser respeito à pessoa do criminoso. Por exemplo,
a agravante da reincidência, ser reincidente é uma circunstância agravante subjetiva. Por outro lado, ter
praticado o crime contra menor de 14 anos é uma circunstância agravante objetiva, pois não diz respeito à
pessoa do criminoso. (Ou porque assim está descrita como elementar do crime no tipo penal).
As causas de diminuição de pena do homicídio são: relevante valor social, relevante valor moral e sob o
domínio de violenta emoção. O agente que tem um motivo de relevante valor social, o agente que tem um
motivo de relevante valor moral, o agente que se encontra sob o domínio de violenta emoção. Por estarem
ligadas à pessoa do agente, estas são minorantes subjetivas.
Todas as causas de diminuição de pena do homicídio tem natureza subjetiva ou pessoal. Dizem respeito
aos motivos do crime ou ao estado de ânimo do agente.
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‘Comunicabilidade das Minorantes
Um pai contrata um matador de aluguel para matar o estuprador de sua filha, logo após o estupro ter sido
cometido. O pai matar o estuprador se sua filha é um exemplo livresco de homicídio privilegiado, mas o
matador contratado por ele não agiu sob o domínio de violenta emoção ou mesmo por relevante valor
moral/social, e sim por que lhe foi prometida uma recompensa pelo feito, friamente.
De acordo com a Teoria Monista, quando há concurso de pessoas, todas devem responder pelo mesmo
crime. Mas a causa de diminuição de pena aplicável ao pai comunica-se também ao matador de aluguel?
Juridicamente, as causas de diminuição de pena do homicídio, por serem circunstâncias pessoais, não se
comunicam nos termos do art. 30 do CP.
“Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida
de sua culpabilidade.
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste;
essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime.”.
As circunstâncias relevantes para a pena de caráter pessoal não se comunicam, cada agente responderá
pela sua. Então o pai responderia por homicídioprivilegiado e o matador de aluguel, por homicídio
qualificado.
‘Apreciação das Minorantes
Imaginem que uma mulher e seu namorado estavam comendo num restaurante Pizza Hut, e ela rompe o
relacionamento dos dois discutindo e gritando, dizendo ao namorado que ele não era de nada, não dava
conta de satisfazê-la, e que ela sairia do local e manteria relações sexuais com quem cruzasse o seu
caminho. Ao ouvi-la dizer isso, o rapaz ficou descompensado e a esfaqueou no peito.
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O homicídio é um crime de competência do Tribunal do Júri e a apreciação das causas de diminuição de
pena incumbe ao Conselho de Sentença, nos termos do artigo 483 do CPP (Quesitos). No caso
apresentado, a defesa do estado emocional do agente, enquadrando-o na minorante do domínio de violenta
emoção, deve ser apresentada aos jurados, que decidirão se o agente se encontrava ou não sob essa
circunstância.
‘Aplicação das Minorantes
Segundo posição majoritária, a aplicação da causa de diminuição de pena é obrigatória. A
discricionariedade judicial limita-se ao quanto da redução, tal discricionariedade, no entanto, deve ser
sempre motivada, sobretudo, quando o juiz optar por redução mínima.
‘Minorantes em Espécie
~Motivo – A pena será reduzida se o crime for praticado por relevante valor moral ou social.
-> Relevante valor moral é aquele aprovado pela moral prática da comunidade. Trata-se do motivo que, em
outra situação, seria considerado nobre. Ex.: Eutanásia, pai que mata o estuprador de sua filha, etc. O
amor paternal pela filha, que é um motivo, em si mesmo, nobre, faz com que ele tenha o impulso de
matar.
-> Relevante valor social é o que corresponde ao interesse da coletividade. Ex.: o cidadão, que por
sentimento cívico, mata o traidor da pátria ou o ditador.
~Estado de Domínio – A pena será reduzida quando o crime for praticado sob o domínio de violenta
emoção logo após injusta provocação da vítima.
-> Domínio de violenta emoção trata-se de um estado de intensa e incontrolável perturbação emocional.
Ex.: O pai que chega em casa e vê o filho que acabou de ser morto fica num estado absolutamente
descontrolado.
“Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
I - a emoção ou a paixão”.
Pela letra do artigo 28, a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade, salvo quando assumam o
caráter patológico, mas podem figurar como causas de diminuição de pena. Para figurar a diminuição não
basta que o agente esteja meramente incomodado, existe a necessidade do descontrole, de ficar sob o
domínio da emoção.
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Isso é importante porque existe uma atenuante genérica que também reduz a pena e contenta-se com a
influência de violenta emoção. A mera influência de violenta emoção configura a atenuante genérica do art.
65, III, c, CP.
“Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III - ter o agente:
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade
superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;”.
-> Injusta provocação da Vítima significa que a perturbação emocional tem que ser decorrente de
comportamento ilícito (em algum âmbito, não necessariamente penal) da vítima.
Então não é qualquer homicídio passional que será minorado, é preciso que a vítima tenha contribuído e
tenha contribuído com uma atitude que seja, em si mesma, ilícita. Lembrando que não há necessidade de
ela ser penalmente criminosa, como o adultério, por exemplo, que não é um fato penalmente típico, mas é
uma conduta ilícita e, que pelo seu conteúdo injusto, provoca no agente essa violenta emoção.
-> É, por fim, necessário que a conduta do agente tenha sido praticada logo após a injusta provocação da
vítima, ainda sob o domínio da violenta emoção. Não existe uma quantificação temporal, mas é preciso
que o estado de perturbação emocional não tenha cessado, e que ele tenha continuado de forma a
dominar o sujeito e não apenas a influenciá-lo.
Então, é preciso que haja um curto espaço de tempo entre a emoção e a ação homicida. Depois que o
sujeito se acalma, pode até configurar a atenuante genérica, mas não é mais uma causa de diminuição
de pena.
1. Homicídio Qualificado (art. 121, § 2º, CP)
“Homicídio qualificado
§ 2º Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que
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possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível
a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.”.
‘Homicídio Qualificado x Homicídio Majorado
Trata-se de tipo efetivamente qualificado, uma vez em que possui pena em abstrato independente daquela
prevista para o homicídio simples.
‘Natureza das Qualificadoras
Tudo o que diz respeito ao porquê é subjetivo e tudo que diz respeito ao como é objetivo.
~As qualificadoras dos incisos I, II e V são pessoais, ou subjetivas, pois dizem respeito aos motivos do
agente, ao porque do crime.
~As qualificadoras dos incisos III e IV são objetivas, pois dizem respeito à forma com que o crime é
praticado.
‘Comunicabilidade das Qualificadoras
Imagine que um matador de aluguel consegue um serviço, e o faz apenas por causa do dinheiro. Ele mata
mediante paga, que é a primeira qualificadora. Mas pessoa que o contratou não possuía essa
característica e vontade, ela tinha seus motivos para querer a morte da vítima, só que o dinheiro pelo feito
não era um deles. Ela se comunica?
~Quanto às qualificadoras objetivas: Não há dúvida de que se comunicam a todos os envolvidos no crime,
desde que sejam conhecidas.
Só se pode aplicar uma qualificadora aos co-autores e partícipes que anuíram em praticá-la. Por exemplo,
se o Valter e a Patrícia combinam de matar a vítima a tiros, mas o Valter, sem consultar a Patrícia,
resolve explodir a vítima e assim o faz. Nesse caso, a qualificadora da explosão não se aplica à Patrícia,
por não integrar o seu dolo.
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Em regra, as circunstâncias de caráter objetivo são comunicáveis entre todos os envolvidos. Então, todos
respondem tanto pelo mesmo tipo básico, quanto pelas circunstâncias de caráter objetivo da dosimetria da
pena (qualificadoras, majorantes, atenuantes, etc.).
~Quanto às Qualificadoras Subjetivas: Há controvérsia, apresentando-se duas posições.
-> Não se comunicam, por serem circunstâncias de caráter pessoal (majoritária - posição da 5ª Turma do
STJ). Dessa forma, como exemplo, a qualificadora da paga não se comunica ao mandante, por ser
subjetiva.
-> Comunicam-se, uma vez em que as qualificadoras configuram elementares do tipo qualificado
(minoritária – posição da 6ª Turma do STJ). O que se defende aqui é que o tipo qualificado tem uma pena
independente, funcionando como se fosse um crime autônomo, e se ele assim o é, as qualificadoras não
são mais “accidentalia”, passando a “essenctialia” do tipo derivado, o qualificado. O tipo qualificadotem
elementares próprias e essas elementares são, justamente, as qualificadoras, que, então, sempre se
comunicam.
Para esse entendimento, por exemplo, a qualificadora da paga comunica-se ao mandante.
Da mesma forma, aconteceria se o Zé, para cobrar uma dívida de jogo (qualificadora subjetiva), matasse
A, dificultando completamente a sua defesa (qualificadora objetiva), e Churrasco, seu amigo e fiel
companheiro o instigasse a fazê-lo.
Nesse caso, a qualificadora do motivo torpe não seria aplicável ao Churrasco, não tendo ele nenhuma
intenção de ficar com o dinheiro da dívida, mas apenas acompanhar seu amigo Zé, enquanto este cometia
o crime.
‘Apreciação das Qualificadoras
A apreciação das qualificadoras incumbe ao Conselho de Sentença, conforme o art. 484 do CPP
(Quesitos).
‘Aplicação das Qualificadoras
Uma vez reconhecida pelos jurados integrantes do Conselho de Sentença, a aplicação da qualificadora é
obrigatória.
Havendo mais de uma qualificadora, o juiz-presidente empregará uma para qualificar o crime e as demais
como circunstâncias agravantes, previstas no art. 61 do CP.
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Aconteceu assim no caso dos Nardoni, em que foram-lhes atribuídas três qualificadoras: por conexão para
ocultar crime anterior; de modo cruel; e que dificultou a defesa da vítima. A primeira foi utilizada para
qualificar o crime, elevando sua pena abstrata para as balizas de 12 a 30 anos, e, na segunda fase da
dosimetria, foram utilizadas as outras duas como agravantes.
A ordem dos quesitos determina que primeiro os jurados responderão sobre as causas de diminuição de
pena e depois pelas qualificadoras. Supondo que o Conselho de Sentença tenha reconhecido a minorante
do relevante valor moral, e a qualificadora do emprego de veneno, aplica-se tanto a qualificadora quanto a
privilegiadora?
Sim, desde que uma das circunstâncias seja subjetiva e a outra objetiva e elas não forem, entre si,
contraditórias. E como as privilegiadoras são todas subjetivas, para se aplicar uma qualificadora, esta
deverá sem objetiva.
Assim, não se pode admitir a aplicação da minorante relevante valor moral qualificada por motivo torpe;
por relevante valor social e motivo fútil; sob o domínio de violenta emoção mediante paga. As
circunstâncias subjetivas se aplicáveis tanto como minorantes quanto como qualificadoras se tornam
contraditórias e não são aplicadas em conjunto.
É possível o homicídio qualificado-privilegiado desde que a qualificadora seja objetiva. No caso da garota
assassinada no Pizza Hut, por exemplo, foi privilegiado pelo domínio de violenta emoção e qualificado pelo
modo que dificultou a defesa da vítima (objetiva), pois o promotor entendeu que ser esfaqueada em meio a
uma pizza de pepperoni dificultou a defesa da vítima, uma vez em que ela não esperava ser esfaqueada
em um restaurante.
Via de regra, os homicídios qualificados são considerados crimes hediondos, mas quando são vinculados
a uma circunstância privilegiadora, perde-se a característica de hediondez, sendo-lhe afastados todos os
malefícios dos crimes hediondos.
‘Qualificadoras em espécie
~Subjetivas: Dizem respeito aos motivos que levaram ao cometimento do homicídio.
-> Motivo Mercenário: Trata-se do homicídio praticado mediante paga ou promessa de recompensa. Exige
a figura de pelo menos duas pessoas: a do mandante (que promete a recompensa) e a do executor (que
recebe para matar). E prevalece o entendimento de que não se comunica ao mandante por ser pessoal.
Mas e se a paga não for efetivada? Se o mandante prometer uma recompensa ao executor, mas não
pagar o prometido ainda incide a qualificadora? Sim, haverá a qualificadora mesmo que a paga não se
efetive, pois o motivo do cometimento do delito envolvia a remuneração prometida.
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-> Motivo Torpe: Trata-se do motivo imoral, sendo exemplo clássico ter por objetivo a herança. (Perfil do
Psicopata, que age com frieza, premedita).
Matar com o objetivo de ficar com a herança, é uma qualificadora que se corresponde intimamente com a
qualificadora anterior (mediante paga), pois exige do agente a mesma falha de caráter, a mesma ambição
desmedida e o desvio de personalidade para as duas hipóteses.
A vingança, por outro lado, não é necessariamente um motivo torpe. Há vinganças torpes e outras não,
depende da análise do caso concreto para se caracterizar como torpe. Da mesma forma, o ciúme. O caso
do Pizza Hut, por exemplo, não só não caracterizou um motivo torpe, como privilegiou seu ato.
-> Motivo Fútil: Trata-se do motivo desproporcional. A ausência de motivo e o motivo desconhecido não se
equiparam ao motivo fútil. (Perfil do Esquentadinho, que age por impulso sem medir as consequências).
A ausência de motivo não pode ser considerada um motivo fútil, pois se o agente não tinha um motivo, é
um caso que beira à inimputabilidade, e, por outro lado, se o agente o fez por sadismo, este não é um
motivo fútil, um motivo banal, mas torpe.
Assim, seria fútil um homicídio decorrente de um leve acidente de trânsito, ou motivado por uma
discussão de futebol, etc., onde o motivo é banal quando comparado às consequências que atinge.
O mesmo motivo pode ser torpe e fútil? Em tese, sim, mas o MP não costuma denunciar por duas
qualificadoras de motivo, verificando qual delas prevalece, se a torpeza ou a futilidade.
-> Motivo de Conexão: Trata-se do homicídio praticado para assegurar a execução, ocultação, impunidade,
ou vantagem de outro crime. É o homicídio relacionado ao crime conexo. A “queima de arquivo” é um
exemplo clássico dessa qualificadora.
Supondo que o delator estupra a vítima e, para evitar que ela o reconheça, mata a pessoa estuprada. O
agente comete dois crimes: estupro e homicídio qualificado pela conexão. O homicídio foi qualificado pelo
resultado do crime anterior.
A extinção da punibilidade (prescrição) do crime conexo, não afasta a qualificadora da conexão. Então,
ainda que o crime conexo prescreva, o homicídio para ocultar a realização desse crime será qualificado.
Por exemplo, se duas pessoas furtam uma casa vazia, levando tudo de valor que nela tinha, e uma delas
mata a outra para ficar com todo montante arrecadado, o sobrevivente responderá pelo homicídio
qualificado pela vantagem obtida com o crime conexo, aqui o furto, ainda que este prescreva.
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~Objetivas: Dizem respeito ao meio ou à forma de matar.
-> Meio: O legislador destacou como meios qualificadores aqueles mais tenebrosos de se tirar a vida,
como por meio de fogo, explosão, asfixia (qualquer ato que evite que a pessoa respire: afogamento,
emparedamento, estrangulamento, etc.), tortura e veneno, ou qualquer outro meio insidioso (dar açúcar a
diabético), cruel (pauladas), ou que cause perigo comum (cortar os freios de um carro).
-> Modo: O destaque se dá aos modos desleais de matar a vítima, mediante traição (fingir relação e
cometer o crime de surpresa), emboscada (agente que espera de tocaia), dissimulação (fantasiar-se para
ocultar a identidade), ou qualquer modo que dificulte ou impeça a defesa do ofendido (vítima dormindo,
drogada, etc.).
1. Homicídio Culposo (art. 121, § 3º do CP)
“Homicídio culposo
§ 3º - Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.”.
‘Excepcionalidade do crime culposo: A conduta culposa só será considerada típica quando houver
expressa previsãolegal. O homicídio é o único crime contra a vida que prevê modalidade culposa.
Uma gestante, com sete meses, que desejava intensamente ser mãe, decidiu praticar rafiting, esporte
radical, que resultou no abortamento do feto. O aborto foi provocado pela conduta imprudente da mãe. Por
qual crime esta mãe deveria ser punida? Homicídio, Aborto Doloso, Aborto Culposo, Nada?
Primeiramente, há de se analisar o tipo objetivo. A interrupção da gravidez antes do parto, com a morte
do produto da concepção, caracteriza aborto. Não caberia homicídio, uma vez em que este só se
configura após o início do parto.
Outra alternativa a se descartar de pronto seria o Aborto Culposo, pois o aborto não admite a modalidade
culposa, sendo esta atípica. Como o enunciado não descreve o dolo da gestante, esta não responderia
por crime algum, justamente pela ausência da modalidade culposa do crime de aborto.
O que aconteceu, na realidade, foi um aborto culposo, mas este não é típico, então a gestante não deve
ser punida por nada.
O conceito jurídico de aborto é a interrupção artificial da gravidez com a morte do produto da concepção.
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Um aborto pode ser natural ou provocado. Mas por interrupção, tem-se qualquer interrupção da gravidez,
no espaço temporal do aborto, ou seja, desde a fecundação até o início do trabalho de parto.
Se uma gestante, com nove meses de gravidez, sofresse uma agressão na barriga, e isso causasse o
parto prematuro, ocorrendo a morte da criança fora do útero materno, ainda se configura aborto. Pois o
aborto não exige que se configure a morte dentro do útero, mas apenas as elementares: interrupção da
gravidez; morte do produto da concepção; morte diretamente decorrente da interrupção violenta.
‘Modalidades de Culpa (art. 18 do CP)
“Art. 18 - Diz-se o crime:
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
Crime culposo
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como
crime, senão quando o pratica dolosamente.”.
~Imprudência: Realização da ação perigosa. Audácia.
~Negligência: Ausência da ação cuidadosa. Descuido.
Apenas o Brasil realiza essa classificação. Quando um motorista sai com o carro de casa sem verificar
os pneus é negligente, mas também não seria imprudente? Quando se dirige em excesso de velocidade
está sendo imprudente, mas também não seria negligente em não reduzir a velocidade?
Então, na verdade, negligência e imprudência, são maneiras diferentes de se analisar a mesma realidade.
Sempre que uma pessoa se arrisca, ela deixa de ter cuidado, deixando de ter cuidado, a pessoa se
arrisca.
Nem mesmo o MP dá muita importância para essa distinção, limitando-se a mencionar o dever de cuidado
que o agente deixou de prestar.
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~Imperícia: Falta de habilidade técnica para o exercício de determinada profissão.
Quando o magistrado analisa a imprudência e a negligência, usa como parâmetro o homem médio, o
homem medianamente prudente. Bastando que a pessoa ande na velocidade permitida e com os pneus
em ordem, por exemplo.
Nos casos de imperícia, as habilidades necessárias vão acima do homem médio, sendo comparada a
conduta do agente com a do especialista na matéria. A idéia de imperícia é a do sujeito que teria, em
tese, a possibilidade de perícia, mas pessoalmente não corresponde a ela.
Um neurocirurgião que realiza uma cirurgia de forma tosca, de forma atabalhoada, que não corresponda à
perícia para a qual ele está preparado, será imperito. Já um dermatologista que se proponha a realizar a
mesma cirurgia, será imprudente, sendo sua imprudência de grau que beira ao dolo eventual.
Do ponto de vista da normatização da atividade médica, se lhe era permitido praticar determinado
procedimento, ainda que este não fosse de sua especialidade pessoal, e o agente está aquém da perícia,
será imperito. Mas se o agente não tinha a possibilidade de praticar aquele procedimento, por não possuir
características habilitáveis ao procedimento, haverá imprudência.
A discussão prática se baseará na linha divisória entre a culpa consciente e o dolo eventual. A ação do
agente era imprudente, negligente ou imperita, apenas, ou se encontrava na curva, pendendo para o lado
do dolo eventual? A falta de conhecimento era tamanha e a exigência do procedimento era tão sofisticada
que se arriscar a fazê-lo, o agente assume o risco de produzir o resultado morte?
‘Espécies de Culpa:
~Culpa Consciente: O agente prevê o resultado, mas espera sinceramente que o resultado não ocorra.
Daí decorre a discussão entre a culpa consciente e o dolo eventual, pois não há como diferenciar um
sentimento interno do agente. Não há como saber se o agente internamente estava prevendo o resultado,
esperando sinceramente que este não ocorresse; ou se ele previra o resultado e assumira o risco de
concretizá-lo.
O caso de Santa Maria, por exemplo, configura dolo eventual (“Dane-se se morrerem 800 pessoas no meu
estabelecimento”), ou culpa consciente (“Olha, pode acontecer, mas eu espero que não aconteça nada”)?
Ambas as posições são defensáveis, mas no caso de Santa Maria, o erro está em querer comparar a
gravidade e a proporção da tragédia, com a gravidade da responsabilidade pelo comportamento. É natural
que se faça isso como ser humano, mas de uma ação culposa pode decorrer uma grande tragédia.
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O impacto e o tamanho do resultado, não são os mecanismos aptos a decidir se houve dolo ou culpa.
Santa Maria configura culpas concorrentes, onde nenhuma das condutas ensejaria no resultado sozinha,
coisa que apenas deflagra a conduta culposa dos agentes envolvidos.
Há de se salientar que a diferença entre a culpa consciente e o dolo eventual não é exata, os defensores
argüirão culpa consciente e os acusadores o dolo eventual, e apenas a dinâmica do caso concreto
permitirá sua distinção.
A mera percepção do risco não configura dolo eventual, e sim culpa consciente. Assumir o risco deve ser
interpretado no sentido de concordar com a eventual ocorrência do resultado, quando a pessoa não se
priva do ato, mesmo sabendo que o resultado pode acontecer, é tolerável.
~Culpa Inconsciente: O agente não prevê o resultado, que, no entanto, era previsível.
A idéia de culpa sempre depende da previsibilidade do resultado. Mesmo que o agente não o tenha
previsto, o resultado poderia ser previsto pelo homem médio. Ex.: O agente excedeu a velocidade
permitida e nem percebeu, depois, acabou perdendo o controle do veículo e atingindo um pedestre.
Para o homem médio, essa situação seria previsível. Uma pessoa mais prudente que o agente teria
previsto o resultado. Como ocorreu também com o homem que esqueceu o filho no carro.
Para configurar a culpa consciente seria necessário que ele soubesse que deixou o filho no carro, e do
perigo que a sua conduta representa, mas pensa que não acontecerá nada. Como o pai nem percebeu
que esqueceu o filho no carro, sua conduta foi culposa, e a culpa inconsciente. Para fins de pena, não há
diferença, sendo relevante a discussão diante da possibilidade de dolo eventual.
‘Pena e Rito: A pena do homicídio culposo é de 1 a 3 anos, de rito Sumário.
Não comporta o rito especial de Júri, pois o Tribunal do Júri é competenteapenas nos casos de crimes
dolosos contra a vida.
A tipificação obedece a vários momentos, a fase de inquérito, a denúncia, seu recebimento, a instrução,
etc., podendo acontecer o entendimento culposo da conduta desde o inquérito policial. O caso do pai que
esqueceu o filho no carro, provavelmente seria de entendimento do Delegado a acusação por crime
culposo, seguindo nesse entendimento o MP e o Magistrado.
A classificação do Delegado de Polícia é provisória, podendo ser alterada pelo MP. E a classificação do
MP também é provisória, resolvendo o Magistrado quanto à culpa e dolo do agente.
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Imaginem que o Delegado de Polícia entende o crime como doloso, o MP denuncia por homicídio culposo,
ou o MP denuncia por homicídio doloso, levando o réu a Júri, e na primeira fase o juiz desclassifica para
culposo. Ainda pode acontecer de o juiz pronunciar o réu à Júri, e no Plenário, os jurados desclassificam
a conduta do agente.
A decisão entre homicídio doloso e culposo só será definitiva após a sentença. Durante as várias fases
processuais da persecução penal, desde a fase preparatória até a judiciária, os operadores do direito
trabalham com a classificação dada até o momento.
‘CTN: Quando o homicídio (culposo) é praticado na direção de veículo automotor incide o art. 302 da Lei
nº 9503/97 - Código de Trânsito.
“Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de
um terço à metade, se o agente:
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente;
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.
V - estiver sob a influência de álcool ou substância tóxica ou entorpecente de efeitos análogos. (Incluído
pela Lei nº 11.275, de 2006) (Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008)”.
Boa parte da doutrina critica, mas a pena do homicídio culposo decorrente de acidente de trânsito possui
pena maior do que a do homicídio culposo da forma tratada no CP. A pena prevista no CTN é de 2 a 4
anos.
Não existe a previsão de homicídio doloso na condução de veículo automotor. Na direção de um veículo
automotor, o agente pode cometer tanto um homicídio doloso (direto ou eventual), quanto culposo.
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Quando o homicídio for doloso e cometido na direção de veículo automotor, aplicar-se-á o tipo previsto no
art. 121 do Código Penal.
‘Perdão Judicial: (art. 121, § 5º, CP)
“§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da
infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.”.
O juiz poderá no homicídio culposo deixar de aplicar a pena quando as conseqüências do crime atingirem
o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal seja desnecessária.
Uma pessoa responsável pelo homicídio culposo de um ente querido receberá uma pena tão brutal, que
nenhuma sanção penal a ela se equipara, tornando-se desnecessária. Por exemplo, o pai que esqueceu a
criança no carro, o sofrimento provocado pela perda do filho será tão grave que qualquer pena jurídica se
tornará irrisória. Nesses casos, o juiz pode deixar de aplicar a pena.
Há de se tomar cuidado com a expressão ente querido, pois não é qualquer parente que configura a
hipótese de perdão judicial. E, da mesma forma, existem pessoas sem relações sanguíneas com a vítima
que provocam tal sensação. A aplicação do mecanismo do perdão judicial depende da apreciação do caso
concreto. Se o juiz perceber que as conseqüências do crime atingiram o próprio agente de forma tão grave
que o sofrimento dele torne desnecessária a pena, poderá deixar de aplicá-la.
Não há previsão de perdão judicial para o homicídio culposo do CTN, mas a doutrina entende que se
aplica por analogia “in bonam partem”. Por ser uma situação benéfica, pode ser aplicada por analogia a
um caso similar, se aplica para o CP, aplicar-se-á para o CTN também.
‘Causas de Aumento de Pena do Homicídio Doloso (121, § 4º e 6º, CP)
“§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.”
“§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada,
sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº
12.720, de 2012).”.
~Quanto à vítima: A pena será aumentada em 1/3 se a vítima for menor de 14 ou maior de 60 anos, no
momento da conduta (Teoria da Atividade).
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Ex.: Se a vítima é atingida com 13 anos e morre com 14, aplica-se o aumento. Mas se ela levar o disparo
com 59 e morrer com 60, não haverá aumento de pena.
~Quanto ao agente: Se o crime é praticado por milícia privada a pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio a pena aumenta-se de 1/3 a ½ (Lei de Milícias – 2012).
A idéia de milícia é mais sociológica do que jurídica, mas o termo é empregado para as forças de reserva
das forças principais, normalmente as Forças Armadas. Por isso, a Polícia Militar, que é uma força
reserva das Forças Armadas, é chamada de milícia, uma milícia legal.
Acontece que em alternadas comunidades as quais o Estado não está presente, acabou surgindo o
formato da milícia privada, que é um grupo formado, muitas vezes de agentes públicos, não
exclusivamente, que começa a atuar prestando o serviço de segurança que não é prestado pelo Estado.
Tal prática é ilegal, sendo praticada às margens da lei.
Essas milícias foram ocupando espaço e percebendo que elas poderiam, inclusive, substituir os
criminosos em suas atividades: punindo, julgando, praticando delitos na região, cobrando pela segurança
dos comerciantes, do transporte público, etc.
Na década de 1980, havia famosos grupos de extermínio dedicados a exterminar determinadas parcelas
da população. Alguns até traziam ideais de limpeza social, eliminando os mendigos das ruas, dentre
outras práticas radicais.
Então, se o crime for praticado por uma milícia privada ou por grupo de extermínio (por exemplo, um
agente que pega um infrator furtando e o executa), comete homicídio e terá sua pena aumentada.
Como a Lei de Milícias é nova e “in pejus”, prejudicial ao réu, só se aplica aos casos posteriores à sua
entrada em vigor.
‘Causas de Aumento do Homicídio Culposo (art. 121, § 4º, CP)
“§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisãoem flagrante. Sendo doloso
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.”.
~Quanto à conduta: Aumenta-se a pena em 1/3 quando crime é praticado com inobservância de regra
técnica.
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Nem toda vez em que se age com culpa, se responde por homicídio culposo simples. Mas existem
determinadas atividades que pela sua própria periculosidade inerente, são cercados de procedimentos,
protocolos e regras técnicas. E praticar homicídio culposo por ter ignorado, inobservado intencionalmente
uma regra técnica, o agente sabe e não aplica a regra técnica propositalmente.
Tal dispositivo vem para diferenciar o agente que age ignorando propositalmente a norma técnica, daquele
que age por simples imperícia. Para que a pena seja aumentada é preciso que se demonstre que o
agente conhece, ou deveria conhecer, aquela regra técnica e que intencionalmente decidiu descumpri-la.
Imagine que um médico que realiza procedimentos estéticos mais invasivos, como uma lipoaspiração, em
clínica, quando a regulamentação exige que esses procedimentos sejam realizados exclusivamente em
ambiente hospitalar dotado de Unidade de Terapia Intensiva. E o médico, para agilizar e baratear o
procedimento, o realizava em sua clínica, deixando de observar essa regulamentação técnica.
A idéia é de que esse homicídio se aproxima perigosamente do dolo eventual, porque o agente sabe que
existe um protocolo de segurança e, ainda assim, não o aplica crendo que nada de ruim acontecerá. Por
isso, se aplica o aumento de pena.
~Quanto ao comportamento posterior: A pena aumenta-se em 1/3 quando o agente deixar de prestar
socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, deixar de tentar diminuir as conseqüências dos seus
atos, ou fugir para evitar o flagrante.
A atitude do agente após a conduta culposa demonstra indícios do seu caráter. Se o agente mata uma
pessoa culposamente, espera-se que ele fique atordoado e tente fazer alguma coisa pela vítima, como
chamar por socorro.
O terceiro item, fugir para evitar flagrante, tem um viés de inconstitucionalidade, pois se o agente prestar
socorro, ou a vítima não puder ser socorrida, por exemplo, por morte instantânea, não faz sentido o
agente continuar no local e esperar o flagrante, considerando o princípio da não auto-incriminação.
Fugir para evitar as responsabilidades penais emanadas de seus atos não pode ser algo que colabore
com a sua sanção, é inerente ao ser humano.
1. Infanticídio (art. 123, CP)
“Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.”.
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Todo infanticídio é um homicídio, mas com elementos classificadores.
‘Bem Jurídico: A vida, a partir do início do parto até logo após a sua ocorrência.
Se a vítima já estava morta no momento da prática da conduta, haverá crime impossível, que é um fato
atípico. Para se reconhecer infanticídio é necessária a prova da vida, reconhecendo-se tanto a vida do feto,
quanto à do bebê nascido vivo, deixando claro o nexo causal da conduta ter sido o motivo que levou a
criança à morte.
Uma mulher é denunciada por infanticídio. Acontece que, durante a instrução probatória, prova-se que a
criança já estava morta quando ela a jogou na lagoa. Por qual crime a mulher responderia? Nenhum, sua
conduta é atípica, pois não é possível tirar a vida de uma criança morta.
‘Tipo Objetivo: Matar / sob influência do estado puerperal / o próprio filho / durante o parto, ou logo após.
~Trata-se de crime comissivo, que pode ser praticado por omissão, uma vez em que o sujeito ativo (mãe)
tem o dever de agir para impedir o resultado. Ex.: a mãe que afoga o filho e a mãe que deixa de alimentá-
lo cometem infanticídio, desde que presentes os elementos especializadores, sendo o crime da primeira
comissivo, e da segunda omissivo impróprio.
MATAR – Provocar a cessação da atividade encefálica.
SOB INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL – É o conjunto de alterações psicofísicas que acomete as
mulheres logo após o parto e que pode deflagrar atitudes de agressividade ou rejeição em relação ao filho.
~A influência do estado puerperal sobre a conduta da mulher não pode ser presumida, mas tem que ser
comprovada pericialmente.
As alterações hormonais provocadas pelo estado puerperal não podem ser presumidas e podem ser
agravadas por um estado psicológico (abandono pelo parceiro, gravidez não desejada), não bastando,
assim, que a mãe esteja sob o estado puerperal, mas que a morte seja provocada em virtude da
ocorrência desse estado puerperal.
É necessário que o estado puerperal demonstre a condição específica de agressividade ou apatia voltada
ao filho e que tal condição seja comprovada por laudo técnico, por testemunhas, etc.
Se nada se falar sobre o estado puerperal, a mãe comete homicídio. Como o resultado pericial pode ser
inconclusivo, considerando a máxima “in dubio pro reu”, a mãe responderá pelo crime de infanticídio, por
este ser um delito menos grave que o homicídio.
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~O estado puerperal não possui duração pré-determinada. Enquanto perdurar o estado puerperal,
comprovado pericialmente, haverá infanticídio.
É claro que isso deve ser interpretado com razoabilidade, dificilmente se reconhecerá o estado puerperal
da mãe de uma criança de 5 anos. Caso a condição psicofísica da mulher não se altere depois de
terminado o estado puerperal, com o retorno e regularidade das menstruações, etc., é sinal de que o
estado puerperal evoluiu para uma patologia, e não poderá ser reconhecido como condição especializadora
do infanticídio.
~Caso a condição da mulher impeça qualquer capacidade de discernimento ou autodeterminação deverá
ser reconhecida a inimputabilidade para o crime de homicídio.
O PRÓPRIO FILHO – O crime só pode ser praticado pela mãe contra o filho nascente ou recém-nascido.
O próprio filho cuja gestação causou a situação do puerpério.
Se uma mulher, com seis filhos, engravida novamente e, logo após o parto do último filho, sob a influência
do estado puerperal, mata as sete crianças, comete seis homicídios e um infanticídio.
DURANTE O PARTO OU LOGO APÓS – Haverá infanticídio, desde que presentes os outros elementos, a
partir do início do trabalho de parto até a normalização do estado puerperal.
‘Tipo Subjetivo: É o dolo direto ou eventual.
~Não há previsão da forma culposa. Se a mãe, sob influência do estado puerperal, mata culposamente o
próprio filho, responderá por homicídio culposo.
A mãe, sob influência do estado puerperal, mata culposamente o próprio filho e a criança morre por
negligência dela. Responde por qual crime? Como o infanticídio é uma forma especial de homicídio,
quando a criança morre por sua culpa, haverá homicídio culposo.
‘Sujeito Ativo: Trata-se de crime próprio que só pode ser praticado pela mãe sob influência do estado
puerperal.
~Admite o concurso de pessoas, tanto sob a forma de co-autoria, quanto de participação. O terceiro que
concorre com a mãe responde junto com ela por infanticídio, por força da comunicabilidade das
elementares prevista no art. 30 do CP.
Por exemplo, a mãe, em estado puerperal, mata o próprio filho com o auxílio da enfermeira. A enfermeira
responde pelo crime de infanticídio ainda que não esteja sob influência

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