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Objetivos I. Compreender a avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor e seus marcos. II. Discorrer sobre as orientações necessárias durante o inicio da puericultura (vacina e aleitamento) III. Descrever as etapas da rotina de consultas na puericultura. Desenvolvimento neuropsicomotor Desenvolvimento é caracterizado pela evolução dinâmica do ser humano a partir da concepção, ou seja, vai crescendo desde desenvolvimento cerebral a capacidades, podendo ser determinado pela genética e meio ambiente, sendo que o primeiro é determinante e o segundo é crucial para alcançar a potencialidade, assim, o desenvolvimento humano emerge a partir das interações com meio ambiente e o sucesso no desenvolvimento depende da integridade dos vários órgãos e sistemas (principalmente no SNC). Conceito: processo de construção da idade humana, resultante da interação entre as influências biológicas, a história de vida e seu contexto cultural e social. Prevalência: estima-se que 1 a cada 8 crianças tenha alterações do desenvolvimento, segundo a OMS, 200 milhões de crianças abaixo de 5 anos tem desenvolvimento abaixo do seu potencial; “se conseguirmos reverter essas alterações, aumentará o potencial de pessoas que consigam transformar-se em mão de obra para o país”, ainda ocorre atraso no diagnóstico, mesmo nas crianças regularmente acompanhadas. Plasticidade neuronal O tecido nervoso cresce e amadurece nos primeiros anos de vida, por isso ele fica mais vulnerável a agravos de natureza nesse período, deve-se sempre proporcionar um meio para que essa criança possa se desenvolver de forma propícia a ajudar nesse processo, a criança responde melhor aos estímulos e intervenções nesse período (intervenção precoce - fisioterapias, fonoaudiologia, terapias incentivadoras), ou seja, quanto mais estímulos e mais intervenções, melhores os resultados no desenvolvimento desta. O crescimento e desenvolvimento ocorrem de forma mútua e a evolução se dá em uma sequência fixa, mas em ritmo variável, ou seja, sempre será da cabeça para baixo e centro para fora dependendo da quantidade de estímulos que foi realizado, para transpor um marco, é necessário a aquisição de capacidades motoras, físicas, a direção é céfalo- caudal/próximo-distal. Domínios de função interligados no desenvolvimento: • Sensorial • Motor (grosseiro ou fino - depende da visão); • Linguagem • Social • Emocional • Cognitivo • Aprendizagem • Linguagem (depende da audição) • Adaptativo • Psicológico (comportamento). Avaliação Fundamental na atenção à saúde da criança avaliar tópicos como: nutricional, alimentar, desenvolvimento e imunização, deve ser feita de forma rotineira e sistemática e NÃO há limites fixos, deve-se respeitar a individualidade. O momento da avaliação serve para estimular e ensinar, a meta é atingir o potencial da criança, identificar precocemente crianças em risco e intervir na consulta, o examinador irá conduzir os pais do que fazer com a criança. A avaliação deve ser um processo contínuo de acompanhamento da criança, capaz de detectar precocemente desvios e atrasos, a Caderneta de saúde da criança disponibiliza uma sistematização para vigilância do desenvolvimento dos 0 a 3 anos e deve acompanhar aquisições dos principais marcos do desenvolvimento. Fatores de risco para distúrbios do desenvolvimento: - A mãe não ter feito pré-natal ou ter feito incompleto; - Problemas na gestação ou no parto; - Prematuridade; - Criança abaixo de 2,500kg - Criança baixo peso; - Criança que apresenta icterícia grave; - Hospitalização no período neonatal; Puericultura rotina - Parentesco entre os pais; - Doenças graves, como meningite, traumatismo craniano e convulsões; - Casos de deficiência ou doença mental na família; - Fatores de risco ambientais, como violência doméstica, depressão materna, drogas ou alcoolismo entre os moradores da casa, suspeita de abuso sexual, etc; Alterações físicas Perímetro cefálico (RN meninas com 37 semanas ou mais PC < 31,5cm; e RN pré-termo PC<-2 desvios-padrão -intergrowth) e presença de alterações fenotípicas (fenda palpebral oblíqua, olhos afastados, implantação baixa de orelhas, lábio leporino, fenda palatina, pescoço curto e/ou largo, prega palmar única e 5° dedo da mão curto e recurvado). Observe os marcos de desenvolvimento de acordo com a faixa etária da criança: Peso e altura • A altura aumenta 25 cm e 12 cm ao final do IF ano de vida e 2º ano de vida, respectivamente • Em relação ao peso, no final do 1º ano de vida seu peso praticamente triplica em comparação com o peso do nascimento - 20 a 30g/dia no 1º trimestre - 15 a 20g/ dia no 2° trimestre - 10 a 15g/dia no 3ª trimestre - 5 a 10g/dia no 4° trimestre • Crianças na fase pré-escolar crescem por volta de 6 a 7 cm/ano. Além disso, essa fase é marcada por uma queda no apetite e um ganho de peso anual que gira em torno de 2 kg/ano • Na fase escolar, o ganho de estatura vai ser em torno de 6 cm/ano e o peso cerca de 3 a 3.5 kg/ano • Nos 6 primeiros meses de vida é comum que o peso dobra e altura aumente I5 cm • O perímetro cefálico aumenta 2cm/mês no l° trimestre. 1cm/mês no 2° trimestre e 0,5cm/mês na 2° semestre. Reflexos Recém-nascido - Tono/reflexo profundo: hipertonia flexora dos 4 membros, hipotonia axial e hiper-reflexia profunda; - Reflexos primitivos: todas estão presentes no RN a termo; - Funções cerebrais superiores: pode seguir objetos com os olhos, iniciando a corticalização; - Reflexo tônico cervical: vira a cabeça do bebê para um lado, e nesse lado, ele vai esticar o braço e perna e, no lado oposto, a perna e braço estará fletida; - Reflexo de marcha: segura o bebê em pé, e ele irá fazer o movimento de andar; - Reflexo de voracidade: se encostar algo perto da boca, ele irá virar procurando a mama; - Reflexo plantar: passa um objeto pontiagudo no pé e ela irá automaticamente abaixar os dedos. No recém-nascido, pode acontecer de levantar o dedo ao invés de abaixar, pois ainda pode estar descorticalizado. - Reflexo de Moro: levanta os braços e solta, a criança levará um ‘’susto’’; - Reflexo de pressão palmar: coloca o nosso dedo na mão da criança e ela irá segurar. 03 meses - Tono/reflexo profundo: inicia a hipotonia fisiológica, então a criança para de ter aquela contração dos 4 membros; Normalmente quando a criança de 3 meses chega no consultório e ainda apresenta a hipertonia, ou seja, ainda tem a contração dos 4 membros, provavelmente o motivo é devido ao fato da mãe continuar embrulhando a criança, logo, deve-se deixá-la mais ‘’solta’’, e deve tirar as luvas. - Reflexos primitivos ainda presentes: sucção, moro, mão- boca, preensão palmar, preensão plantar, cutâneo-plantar extensor; - Reflexos primitivos que desaparecem: marcha reflexa, apoio plantar, tônico-cervical assimétrico; - Equilíbrio estático: firmando/estabilizando o pescoço; - Equilíbrio dinâmico: movimento da cabeça; - Coordenação: junta as duas mãos na linha média; - Funções cerebrais superiores: fixa o polegar, sorri socialmente, atende ao som com procura da fonte emissora e usa vogais (gorjeio). 06 meses - Tono/reflexos profundos: hipotonia fisiológica importante e reflexos profundos semelhantes ao adulto, a hiperreflexia já vai ter sumido. - Reflexos primitivos ainda presentes: preensão plantar, cutâneo plantar extensor; - Reflexos primitivos que desapareceram: sucção, preensão palmar, moro, mão-boca; - Equilíbrio: senta com apoio, iniciando sem apoio; - Equilíbrio dinâmico: muda de decúbito, ou seja, consegue rolar na cama e mudar de posição; - Coordenação: retira pano do rosto, preensão voluntária (pega objeto voluntariamente); - Funções cerebrais superiores: atende pelo nome, demonstra estranheza diante de desconhecidos, localiza o som lateralmente, usa vogais associadas a consoantes (lalação). 09 meses - Tono/reflexosprofundos: hipotônia fisiológica em declínio, pois agora terá uma tonicidade coordenada de acordo com as características da criança e as capacidades dela; - Reflexos primitivos: preensão plantar e cutâneo plantar extensor em desaparecimento; - Equilíbrio estático: senta sem apoio e fica na posição de engatinhar; - Equilíbrio dinâmico: engatinha e pode andar com apoio; - Coordenação: pega objetos em cada mão e troca, consegue fazer a coordenação fina (pega em movimento de pinça o objeto); - Funções cerebrais superiores: localiza o som de forma indireta para cima e para baixo, ou seja, sabe se o som vem de baixo ou de cima; fala silabas repetidas e com significado (‘’papa’’, ‘’auau’’). 12 meses - Tono/reflexos profundos: semelhante ao do adulto; - Reflexos primitivos: estão em desaparecimento: preensão plantar e cutâneo-plantar extensor; - Equilíbrio estático: fica em pé com apoio Equilíbrio dinâmico: inicia a marcha sem apoio; - Coordenação apendicular: pinça superior individualizada, logo, já podemos estimular a criança a se alimentar sozinha, pois já é capaz de fazer a pinça; - Funções cerebrais superiores: localiza a fonte sonora direto para baixo e indireto para cima, usa palavras corretamente e produz jargão. 02 anos - Sobe e desce escada; - Fala mais de 10 palavras; - Começa a correr; - Pula com 2 pés; - Aprimoramento do equilíbrio; - Inicia controle de esfíncteres; Marcos de desenvolvimento Puericultura Definição É a consulta periódica de uma criança feita com o propósito de avaliar seu crescimento e desenvolvimento de maneira próxima. Durante essas consultas deve-se realizar orientações educativas, ações de promoção da saúde, ações relacionadas à prevenção de doenças e observação dos riscos e vulnerabilidades sob a qual está submetida a respectiva criança. Além disso, é papel da puericultura observar fatores de risco e vulnerabilidades que cercam as diferentes fases do processo de crescimento e desenvolvimento da criança. Frequência de consultas Nos primeiros 2 anos de vida as consultas são mais frequentes devido ao processo de crescimento e desenvolvimento ser mais intenso, por isso, no 1° ano de vida é recomendado um mínimo de 7 consultas de rotina, na 1°/2°/4°/6°/9° e 12° mês. No 2° ano de vida, deve se ter um mínimo de 2 consultas de rotina: no 18° e 24° mês. A partir dos 2 anos de idade as consultas podem se tornar anuais. Além da oportunidade de avaliar o desenvolvimento da criança, tal organização da frequência de consultas adotada pelo Ministério da Saúde toma como base o calendário de vacinação, permitindo a verificação do cartão vacinal em meses oportunos: ao nascimento, com 1, 2, 3, 4, 5, 6, 12 e 15 meses. Anamnese A anamnese deve ser completa, com todos os itens de uma anamnese comum, mas devendo também abordar: 1. Antecedentes pessoais da criança com informações desde a sua concepção, com ênfase nos antecedentes patológicos e alimentares, questionando acerca da gestação, nascimento e período neonatal. 2. Desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) onde é preciso colher um relato da família sobre o aparecimento de habilidades motoras, aquisição de linguagem gestual e falada, controle esfincteriano e desenvolvimento socioafetivo da criança com membros da família e amigos. 3. Antecedentes vacinais devendo além de registrar as vacinas tomadas e períodos em que foram realizadas, registrar eventos adversos (locais ou sistêmicos) caso tenham ocorrido. 4. História de formação da família, relacionamento dos pais e aceitação da criança neste processo. 5. Habitação é um ponto importante para a compreensão do profissional acerca das condições de vida e saúde da criança e sua família, de modo a conseguir compreender se existem fatores de risco para doenças respiratórias, infecto-parasitárias e dermatológicas. 6. Hábitos atuais da criança também devem ser questionados à família, abarcando seus respectivos hábitos: alimentares, intestinais, urinários, sono, higiene corporal e bucal, lazer e atividade física. Neste ponto, é relevante também questionar, quanto tempo a criança fica exposta a telas de telefone, tablets, televisão, etc. Exame físico É preciso estabelecer uma relação de confiança com a criança para poder realizar o exame físico completo, uma vez que estar em contato com uma figura desconhecida como a do médico muitas vezes pode causar estresse para a mesma. Na Puericultura nem sempre será possível realizar o exame físico na sequência crânio-caudal com costuma-se realizar nas outras áreas da Medicina, assim, é possível iniciar parte do exame físico com a criança ainda no colo de um dos seus familiares. Lembrando que a 1° consulta de toda criança deve ser ainda na sua 1° semana de vida é importante ressaltar alguns, dentre todos os sistemas que não devem ser esquecidos nesta consulta com o recém-nascido, conforme tabela do ministério da saúde: Segundo o Ministério da Saúde, as consultas seguintes à primeira não devem obrigatoriamente contar com todos os elementos de um exame físico completo, no entanto, até os 10 anos de idade recomenda que procedimentos específicos não deixem de ser realizados: Dados antropométricos: Nesta etapa do exame físico deve- se realizar as medidas de: peso, comprimento/altura, índice de massa corpórea (IMC), perímetro cefálico, perímetro torácico (até os 3 anos de idade) e circunferência abdominal. As informações do peso, altura, IMC e perímetro cefálico devem ser transpostas para as curvas disponíveis na Caderneta de Saúde da Criança e as informações devem ser compartilhadas com os pais. Rastreamento para displasia evolutiva do quadril: Duas manobras devem ser realizadas logo nas primeiras consultas até os 2 meses, testando um membro de cada vez a partir das manobras de Barlow (provocativa do deslocamento) e Ortolani (sua redução). Figura 1. Manobra de Barlow é um teste provocativo realizado com quadris e joelhos do recém-nascido fletidos. Seguram-se as pernas gentilmente, com a coxa em adução (A), e o examinador aplica uma força no sentido posterior. A manobra é positiva (B) se o quadril é deslocável (luxável). Fonte: PORTO, 2014 Figura 2. A manobra de Ortolani é o reverso de Barlow. O examinador segura as coxas do recém-nascido e gentilmente realiza a abdução do quadril enquanto move anteriormente o trocanter com os dois dedos (A). A manobra é positiva (B) quando a cabeça do fêmur luxada retorna ao acetábulo com um click palpável quando o quadril é abduzido (Fonte: PORTO, 2014) Ausculta cardíaca: Assim como em todo atendimento médico, a ausculta da frequência cardíaca (FC) deve ser realizada na Puericultura. Logo, é importante saber as faixas de FC, bem como a FC média em cada etapa da infância, podendo em caso de discrepâncias pensar em possibilidades diagnósticas: Aferição da pressão arterial: Segundo o Ministério da Saúde, recomenda-se que a pressão arterial (PA) seja aferida em crianças uma primeira medida aos 3 anos de idade e segunda medida aos 6 anos, no entanto, outras referências não fazem menção a idades específicas para a medida. Figura 3. Recorte de Tabela com valores de pressão arterial para meninas com idade e percentil de estatura (Fonte: TRATADO DE PEDIATRIA, 2010). Rastreamento para criptorquidia: Se aos 6 meses não houver testículos palpáveis, a criança deve ser encaminhada à cirurgia pediátrica. Se forem retráteis, deve ser monitorado a cada 6-12 meses entre os 4-10 anos de idade, pois pode ocorrer da criança crescer mais rápido do que o cordão espermático e haver saída dos testículos da bolsa escrotal. Diagnósticos Ao final de toda consulta de Puericultura devem ser elaborados no mínimo 6 diagnósticos (havendo outros diagnósticos estes devem ser elencados após). Podemos usar o mnemônico “CEVADA” para memorizar estes diagnósticos: Referencias Tratado de Pediatria:Sociedade Brasileira de Pediatria, 4ª edição, Barueri, SP: Manole, 2017. Bates - Propedêutica Médica - Lynn S. Bickley. 11ª Edição. 2015. DA COSTA, Yara Lima et al. Caderneta da gestante: avaliação dos dados perinatais. Interfaces Científicas-Saúde e Ambiente, v. 8, n. 2, p. 336-346, 2020.
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