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Objetivos I. Compreender a fisiologia do trabalho de parto e as mudanças corporais promovidas pelo puerpério. II. Listar os hormônios envolvidos no trabalho de parto e no puerpério. III. Discorrer sobre assistência à mulher no trabalho de parto e no puerpério. Trabalho de parto Definição O trabalho de parto é caracterizado pela presença de contrações uterinas sequenciais capazes de gerar mudanças plásticas do colo uterino e a descida da apresentação fetal. Alguns dias antes do início do trabalho de parto, ocorre aumento gradativo das contrações uterinas, dando início a insinuação da apresentação fetal, esvaecimento e dilatação progressiva do colo e distensão do segmento inferior para preparar o útero para o trabalho de parto. A fase preparatória, denominada de pré-parto, precede esses eventos em alguns dias ou semanas. Os sinais mais importantes dessa fase são: descida do fundo uterino geralmente de 2 a 4 cm, eliminação do muco pelas glândulas cervicais podendo vir acompanhado ou não de pequena perda sanguínea, amolecimento do colo com posterior apagamento, modificação do direcionamento do colo para o centro do eixo da vagina, contrações uterinas dolorosas, descoordenadas e irregulares. Pressupõe-se dilatação cervical de 3 a 4 cm ou mais como sendo dados confiáveis para o diagnóstico do trabalho de parto, momento em que termina a fase de pré-parto e se inicia a fase de dilatação. Fisiologia Estágios do parto O estudo da contratilidade uterina tem sua maior importância em três situações: • para a inibição de contrações nos casos de trabalho de parto prematuro; • para a indução do trabalho de parto em casos em que seja necessária a resolução do parto; • no período pós-parto para o miotamponamento e a para a regressão do útero nos dias seguintes ao nascimento. → Participam da mecânica do parto o conteúdo uterino em si, ou seja, o feto e seus anexos, a passagem materna representada pela bacia obstétrica e o motor, representado pelas contrações uterinas durante o trabalho de parto. → A contratilidade uterina com ritmo só é possível por acontecer notáveis modificações na estrutura do Miométrio (hipertrofia e hiperplasia das céls). O Miométrio é composto por células musculares lisas que apresentam grau máximo de diferenciação no sistema muscular. Essas fibras musculares estão dispersas dentro da MEC, principalmente com fibras colágenas. A unidade da contração uterina geradora é formada por: complexo proteico (actina-miosina) disposto com fuso dentro do citoplasma. Assim, essas fibras estão dispostas em feixes e envoltas por uma matriz de tecido conjuntivo com colágeno (função: facilitar a transmissão das forças contráteis geradas pelos feixes musculares. Contrações uterinas durante o parto O diagnóstico de trabalho de pano se firma diante de contrações uterinas regulares e da modificação cervical progressiva. O início desse trabalho é considerado quando a dilatação atinge 2 cm, estando a atividade uterina compreendida entre 80 e 120 Unidades Montevidéu. As contrações uterinas se iniciam na parte superior do útero, local em que são mais intensas, e se propagam com intensidade decrescente pelo corpo do útero até atingir o segmento inferior. A essas 3 características das contrações uterinas intraparto Alvarez e Caldeyro-Barcia deram o nome de tríplice gradiente descendente. A manutenção desse tríplice gradiente descendente é fundamental para o adequado desenrolar do trabalho de parto. Durante a fase de dilatação, a frequência das contrações uterinas é de 2 a 3 em 10 minutos, com intensidade de mais ou menos 30 mmHg; já no período expulsivo, pode chegar a 5 contrações em 10 minutos, com intensidade de 50 mmHg. Nessa fase, soma-se às contrações uterinas a contração voluntária da musculatura abdominal, denominada puxo, Parto trabalho de cuja função é aumentar a pressão abdominal e facilitar a expulsão do feto. A cada contração uterina, durante o trabalho de parto, admite-se que sejam impulsionados do território placentário cerca de 300 mL de sangue, determinando o aumento do retorno venoso ao coração e consequente incremento do volume ejetado na sístole cardíaca. Soma- se a esse incremento, após a expulsão do feto, a redução da pressão exercida pelo útero gravídico sobre a VCI. Esses fenômenos devem ser observados de forma cuidadosa, sobretudo em pacientes cardiopatas ou como síndromes hipertensivas graves, pois o aumento súbito do retorno venoso pode predispor a quadro de edema pulmonar agudo. Determinismo do parto Na primeira metade da gestação, o útero se expande por hiperplasia e hipertrofia celular, ocorrendo em seguida acomodação da unidade fetoplacentária e crescimento contínuo por estiramento do miométrio. Com a progressão da gravidez, o útero apresenta contrações de dominância não fúndica, e então, mais próximo ao parto, há início da dominância fúndica e coordenação das contrações. O processo de amadurecimento cervical que ocorre algumas semanas antes da dominância fúndica envolve a redução da concentração total de colágeno, alteração da solubilidade do colágeno, dependendo da degradação e também da síntese das fibras de colágeno com estrutura mais fraca, e aumento da colagenólise. Associada a esta situação existe franca resposta inflamatória caracterizada pela maior concentração de macrófagos, neutrófilos e eosinófilos e pelo aumento de interleucinas (IL,8) e prostaglandinas. A ativação uterina é realizada pelas uterotropinas (representadas pelos receptores da ocitocina, receptores de prostaglandinas, gap junctions, IL (1-β, 6 e 8) e cicloxigenase (COX)), cuja principal função é tornar o útero responsivo aos estímulos contráteis determinados pelas uterotoninas (incluem as prostaglandinas e a ocitocina). Com o exposto, a gênese do trabalho de parto não pode ser considerada apenas em termos de contratilidade miometrial. É preciso incluir as alterações bioquímicas no tecido conjuntivo, que determinam o amadurecimento e o esvaecimento cervical. Entre as mais importantes teorias existentes para explicar o determinismo do parto, podem ser citadas: a ocitócica, a da gangorra, a da prostaglandina e a fetal. Admissão Quando a gestante é admitida, anotam-se sua pressão arterial, frequências cardíaca e respiratória, temperatura e peso, e observa-se a presença ou ausência de edemas. A urina é coletada para pesquisa de proteínas e glicose e se obtém sangue para hemograma e tipagem sanguínea. Realiza-se o exame físico. Durante o exame do abdome, o médico estima o tamanho, a posição e a apresentação do feto, utilizando as manobras de Leopold (Manobra de Leopold). Observam-se a presença e a frequência dos batimentos cardíacos fetais. Obtém-se dilatação cervical em centímetros, como o diâmetro de um círculo; com 10 cm é considerada completa. Estimativas preliminares de intensidade, frequência e duração das contrações também são obtidas. Avaliação dos 3Ps: → Poderes (força, frequência e duração das contrações); → Passagem (medições pélvicas); → Passageiro (p. ex., tamanho fetal, posição, padrão da frequência cardíaca) Manobra de Leopold 1º tempo: exploração do fundo uterino, delimitando-o e caracterizando onde os segmentos fetais se encontram. Este tempo orienta quanto à situação e à apresentação fetal; 2º tempo: exploração do dorso fetal; visa determinar a posição fetal, reconhecendo, com as mãos, o lado ocupado pelo dorso do feto (segmento endurecido e convexo) e o lado onde estão os membros fetais; 3º tempo: exploração da mobilidade do polo fetal (altura da apresentação) que está no estreito superior; procura-se apreender o polo entre o polegar e o dedo médio, imprimindo-lhe movimentos de lateralidade que indicam o grau de penetração na bacia. Quando insinuado, o polo se apresenta fixo, quando móvel, este se encontra alto; 4º tempo: exploração da escava (confirma situação, apresentação e altura).Fases clínicas do trabalho de parto Fase da dilatação Período de esvaecimento e dilatação do colo uterino e formação do segmento inferior do útero e da “bolsa das águas”. Nas nulíparas, geralmente o esvaecimento do colo precede a dilatação, enquanto nas multíparas esses processos são concomitantes. Começa com contrações uterinas (metrossístoles) intensas, dolorosas e regulares que se iniciam a cada 30 minutos e vão aumentando de intensidade e frequência. Para um efetivo trabalho de parto, essas contrações devem apresentar frequência regular entre duas e três contrações a cada 10 minutos, intensidade em média de 40 mmHg e duração entre 30 e 90 segundos (média de 60 segundos). A sensação dolorosa se deve à hipóxia das fibras musculares do útero durante as contrações. Essas contrações provocarão a dilatação do colo, devido à tração que as fibras musculares do corpo uterino exercem sobre o segmento inferior. A dilatação do orifício externo do colo tem por finalidade ampliar o canal e completar a continuidade entre o útero e a vagina, sendo assim se formará um espaço entre o útero e a vagina, no qual será coletado o líquido amniótico (bolsa das águas) que auxiliará as contrações uterinas no deslocamento do istmo. A pressão exercida pela apresentação fetal e pela bolsa das águas forma o segundo fator responsável pela dilatação das porções baixas do útero Definição, duração e conduta → Fase de latência do primeiro período do trabalho de parto: há contrações uterinas dolorosas e há alguma modificação cervical, incluindo apagamento e dilatação até 4 cm. → Trabalho de parto estabelecido: há contrações uterinas regulares E há dilatação cervical progressiva a partir dos 4 cm. → A duração do trabalho de parto ativo pode variar: • nas primíparas dura em média 8 horas e é pouco provável que dure mais que 18 horas; • nas multíparas dura em média 5 horas e é pouco provável que dure mais que 12 horas. → Intervenções e medidas de rotina: • O enema (lavagem intestinal) não deve ser realizado de forma rotineira durante o trabalho de parto; • A tricotomia pubiana e perineal não deve ser realizada de forma rotineira durante o trabalho de parto. • A amniotomia precoce, associada ou não à ocitocina, não deve ser realizada de rotina em mulheres em trabalho de parto que estejam progredindo bem. • As mulheres devem ser encorajadas a se movimentarem e adotarem as posições que lhes sejam mais confortáveis no trabalho de parto. Gráfico: dilatação cervical x Tempo (FRIEDMAN) Com base nas observações gráficas, elaborou o conceito de três divisões funcionais do trabalho de parto. Na primeira divisão, divisão preparatória ou de aceleração, mesmo que haja dilatação mínima, já se iniciam alterações plásticas do colo. A analgesia de parto pode interromper essa divisão do trabalho de parto. A divisão de aceleração máxima ou de dilatação, período de dilatação rápida, quando a dilatação vai de 3 a 9 cm, não é afetada pela analgesia de parto. Por fim, a divisão pélvica ou de desaceleração precede a dilatação completa. A fase latente, corresponde à divisão de preparação, e a fase ativa, que corresponde à dilatação, sendo esta composta, segundo Friedman, em fase de aceleração, fase de aceleração máxima e fase de desaceleração. → Fase latente: parturiente percebe as contrações uterinas regulares, pouco dolorosas. Normalmente, é o período até a dilatação de 3 a 5 cm, definido como limite de dilatação da fase latente e o início da fase ativa. A fase latente é considerada prolongada quando se estende por mais de 20 horas nas nulíparas e 14 horas nas multíparas. → Fase ativa: caracterizada por contrações dolorosas, com aumento gradual de frequência e intensidade, levando à rápida dilatação do colo. A fase ativa tradicionalmente se inicia com entre 3 e 4 cm. Fase de expulsão O período se inicia com a dilatação cervical total estendendo-se até o nascimento do feto. Tem duração média de aproximadamente 50 minutos para nulíparas e 20 minutos para multíparas. Tem duração média de aproximadamente 50 minutos para nulíparas e 20 minutos para multíparas. A evolução de descida do polo cefálico é representada por uma curva hiperbólica e divide-se em fase pélvica e fase perineal. A fase pélvica representa a dilatação total do segmento do colo uterino com apresentação fetal acima do plano +3 de DeLee, já na fase perineal a apresentação encontra-se inferior ao plano +3 de DeLee. Alguns fatores podem influenciar no tempo de duração desse período; no caso de mulheres com pelve contraída, feto grande a para idade gestacional ou com efeito de analgesia, esse período pode tornar-se mais duradouro. Definição, duração e conduta → Fase inicial ou passiva: dilatação total do colo sem sensação de puxo involuntário ou parturiente com analgesia e a cabeça do feto ainda relativamente alta na pelve; → Fase ativa: dilatação total do colo, cabeça do bebê visível, contrações de expulsão ou esforço materno ativo após a confirmação da dilatação completa do colo do útero, na ausência das contrações de expulsão; → Se a dilatação completa do colo uterino for confirmada em uma mulher sem analgesia regional e não for identificado puxo, uma nova avaliação mais aprofundada deverá ser realizada em 1 hora para identificação da fase do segundo período; → Nulíparas: o parto deve ocorrer no prazo de 3 horas após o início da fase ativa do segundo período; → Multíparas: o parto deve ocorrer no prazo de 2 horas após o início da fase ativa do segundo período; → Ambiente de assistência: deve-se desencorajar a mulher a ficar em posição supina, decúbito dorsal horizontal, ou posição semi-supina. A mulher deve ser incentivada a adotar qualquer outra posição que ela achar mais confortável incluindo as posições de cócoras, lateral ou quatro apoios; → Puxos e manobra de Kristeller: deve-se apoiar a realização de puxos espontâneos no segundo período do trabalho de parto em mulheres sem analgesia, evitando os puxos dirigidos. A manobra de Kristeller não deve ser realizada no segundo período do trabalho de parto. → Dieta: a restrição da ingestão oral foi recomendada durante o trabalho de parto ativo devido ao risco de pneumonite por aspiração, que pode ocorrer como uma complicação de uma eventual anestesia geral. No entanto, este risco é muito baixo e a restrição da ingestão oral pode levar à desidratação, cetose e prolongamento do trabalho de parto. A ingestão de líquidos e de alimentos com baixo teor de resíduos pode ser permitido nas parturientes com risco habitual de necessitarem de uma anestesia geral. → Cuidados com o períneo: • Não se recomenda a aplicação de spray de lidocaína para reduzir a dor perineal no segundo período do parto; • Tanto a técnica de ‘mãos sobre’ (proteger o períneo e flexionar a cabeça fetal) quanto a técnica de ‘mãos prontas’ (com as mãos sem tocar o períneo e a cabeça fetal, mas preparadas para tal) podem ser utilizadas para facilitar o parto espontâneo; • Não realizar episiotomia de rotina durante o parto vaginal espontâneo; se uma episiotomia for realizada, a sua indicação deve ser justificada. Fase de dequitação Período também denominado de secundamento, delivramento ou decedura. Corresponde ao período do nascimento do feto até a expulsão da placenta e membranas. A descida da placenta provoca contrações uterinas pouco dolorosas. Nesse processo de dequitação, ocorre perda de sangue de aproximadamente 300 a 500 mL. O sangramento, em condições fisiológicas normais, cessará após a expulsão da placenta. O processo de dequitação dá- se em média de 5 a 10 minutos, sendo considerado prolongado se acima de 30 minutos, quando complicações hemorrágicas se tornam mais frequentes. Existem dois tipos de mecanismo de dequitação, conforme o local do útero em que a placenta está inserida: → Baudelocque-Schultze (BS): mecanismo central de decedura, em que a placenta seencontra inserida posteriormente no fundo do útero. No momento do descolamento, ocorrerá primeiro a exteriorização pela face fetal da placenta, para então haver a eliminação do coágulo (hematoma retroplacentário). Acontece em 85% dos casos; → Baudelocque-Duncan (BD): mecanismo periférico, menos comum, em que a placenta se encontra inserida na parede lateral do útero. No momento do descolamento pela face materna, ocorre primeiro o sangramento e logo em seguida a exteriorização da placenta. Definição e duração O terceiro período do parto é o momento desde o nascimento da criança até a expulsão da placenta e membranas. → Conduta ativa: uso rotineiro de substâncias uterotônicas; clampeamento e secção precoce do cordão umbilical; e tração controlada do cordão após sinais de separação placentária. A conduta ativa é recomendada na assistência ao terceiro período do parto pois está associado com menor risco de hemorragia e transfusão sanguínea. Para a conduta ativa, administrar 10 UI de ocitocina intramuscular após o desprendimento da criança, antes do clampeamento e corte do cordão. A ocitocina é preferível, pois está associada com menos efeitos colaterais do que a ocitocina associada à ergometrina. Após a administração de ocitocina, pinçar e seccionar o cordão. → Conduta fisiológica: sem uso rotineiro de uterotônicos; clampemento do cordão após parar a pulsação; expulsão da placenta por esforço materno; → Considerar terceiro período prolongado após decorridos 30 minutos; → Manter observação rigorosa da mulher, com as seguintes avaliações: condição física geral, através da coloração de pele e mucosas, respiração e sensação de bem-estar; perda sanguínea. Primeira hora pós-parto Denominado de quarto período de Greenberg, corresponde à primeira hora após a dequitação. Nesse período, após o desprendimento da placenta, ocorre a retração uterina com a formação de coágulos fisiológicos. Deve-se ter cuidado particular nesse período, devido ao fato de que poderão ocorrer hemorragias significativas, tendo como causa a atonia uterina. Esse período é caracterizado por mecanismos que atuarão na prevenção fisiológica do sangramento do leito uteroplacentário. O primeiro mecanismo é a contração do útero, pós-dequitação, provocando obliteração dos vasos miometriais pela contração muscular, o miotamponamento. Provocando um tamponamento devido à formação de trombos intravasculares que obliteram os grandes vasos uteroplacentários e de coágulos que preenchem a cavidade uterina, fase conhecida como segunda fase de proteção contra a hemorragia, o trombotamponamento. Na fase de indiferença miouterina, o útero intercala períodos de contração e relaxamento miometrial, podendo haver períodos de sangramento por enchimento de sangue intrauterino. Após 1 hora do parto, o útero evoluirá com a fase de contração uterina fixa, por adquirir maior tônus, mantendo a hemostasia. Observação e monitoração da mulher imediatamente após o parto • Temperatura, pulso e pressão arterial; • Lóquios e contrações uterinas; • Examinar a placenta e membranas: avaliar suas condições, estrutura, integridade e vasos umbilicais; • Avaliação precoce das condições emocionais da mulher em resposta ao trabalho de parto e parto; - micção bem sucedida. Hormônios Mudanças na relação progesterona/estradiol (P4/E2) são o inicio da determinação hormonal do parto devido a seus efeitos na sensibilidade uterina as prostaglandinas, catecolaminas e ocitocina em particular. A gestação é sempre caracterizada por um estado de dominância da progesterona, com concentrações plasmáticas e uterinas (de origem luteal e ou placentária) sempre mais altas que as de 17β estradiol (bloqueio da progesterona). O lactógeno placentário tem funções similares ao LH e a prolactina, atuando como modulador da ação do LH. No final da gestação, a secreção dos corticóides fetais teria efeito inibitório sobre a biossíntese de lactógeno placentário, diminuindo a secreção de progesterona. A progesterona durante a gestação está exercendo um efeito inibitório sobre a biossíntese de receptores de estradiol em nível do útero e da placenta. Inibida a secreção de progesterona no corpo lúteo pelo efeito luteolítico dos corticosteróides, ocorre o desbloqueio da inibição que a progesterona exerce sobre a biossíntese de receptores de estradiol no endométrio. O estradiol atua disparando a biossíntese de receptores de ocitocina. A ocitocina de origem ovariana atua provocando a síntese de PGF2α no endométrio, a qual potencializa o efeito luteolítico. A síntese de PGF2α é aumentada pelos níveis de estradiol de origem placentária e pelo desbloqueio na biossíntese de receptores de estradiol. Os estrógenos também ajudam na separação da placenta, por provocar o rompimento de lisossomos e a consequente liberação de hidrolases. A PGF2α estimula a secreção de relaxina pelo corpo lúteo um dia antes do parto. A PGF2α também exerce um feedback positivo sobre a ocitocina. O resultado destas alterações hormonais é um claro decréscimo na relação P4/E3 no plasma e tecidos. Então, o miométrio avança de um estado de dominância da progesterona, causando quiescência uterina, para um estado de alta impregnação estrogênica que é mais favorável a contração. Mudanças dinâmicas nas concentrações plasmáticas de progesterona e de 17β estradiol são elementos essenciais na iniciação do parto, se bem coordenadas uma com a outra: um precoce aumento nos níveis de estradiol por perfusão enquanto a queda na progesterona ainda não ocorreu ou, diferentemente, um aumento do estradiol muito tarde em relação a queda de progesterona, sempre causam severas anomalias no parto. Uma das principais consequências da remoção do bloqueio da progesterona e da diminuição da relação P4/E2 é permitir ou facilitar a ação de estimuladores da contratilidade miometrial. Assistência CONDUTA PERÍODO PREMONITÓRIO • Exame clínico e obstétrico. • Orientar a paciente quanto aos sinais e sintomas do trabalho de parto. • Prescrição de medicação antiespasmódica se indicado. • Orientação para retorno. FASE LATENTE • Após exame clínico e obstétrico detalhado, manter a paciente em observação por algumas horas para avaliar a evolução para trabalho de parto. INÍCIO DO TRABALHO DE PARTO • Internação. • Tricotomia – não há evidência de que traga benefícios para o parto ou puerpério. Preferencialmente, realizar a tonsura dos pêlos pubianos. • Acesso venoso – por ocasião da coleta dos exames laboratoriais na internação, é aconselhável manter o acesso por meio de jelco®, no 18 ou 16, salinizado. • Enema – desnecessário na conduta rotineira. • Sinais vitais: pressão arterial, pulso, temperatura. • Exame obstétrico detalhado - Palpação abdominal. - Ausculta fetal. - Exame especular. - Toque vaginal • Características do colo uterino (orientação, dilatação, apagamento). • Diagnóstico da apresentação fetal: tipo, altura, atitude (flexão e sinclitismo), variedade de posição. • Arquitetura da pelve. • Avaliação laboratorial: VDRL, se necessário, teste rápido para HIV (se desconhecido e se autorizado pela parturiente), grupo sangüíneo e fator Rh. • Admission test: As pacientes admitidas em trabalho de parto devem ser submetidas à cardiotocografia na sala de admissão ou logo que entrarem no CO. Um resultado anormal indica risco de mau resultado neonatal. PERÍODO DE DILATAÇÃO Cuidados com a Mãe • Alimentação – optar por líquidos claros durante o trabalho de parto. Evitar alimentos sólidos. • Atividade e posição materna – caminhar durante o primeiro estágio do trabalho de parto é frequentemente recomendado e pode reduzir o desconforto materno. Não interfere na duração do trabalho de parto, na dose de ocitocina, no uso da analgesia e no índice de cesariana. Banhos de chuveiro também aumentam o conforto da paciente. Essas atividades dependem do status materno-fetal,da preferência pessoal e da necessidade de monitoração. • Controle do pulso e da pressão arterial. • Corrigir prontamente a hipotensão, a hipovolemia, a hipoglicemia e os distúrbios da contratilidade uterina. • Hidratação – se necessária: o Perfusão venosa de solução glicosada alternada com Ringer lactato. o Prescrever glicose hipertônica parenteral caso o trabalho de parto se prolongue. • Analgesia peridural contínua, sempre que possível, após certificar-se da adequada evolução do trabalho de parto (atividade uterina coordenada e evolução da dilatação cervical). Instalado o bloqueio, avaliar amiúde a atividade uterina e prescrever infusão venosa de ocitocina, se necessário. Progressão do Trabalho de Parto • A frequência dos toques vaginais depende da evolução do trabalho de parto. o Avaliar o grau de dilatação e apagamento, altura da apresentação, variedade de posição, estado da bolsa amniótica e perdas vaginais (sangue, líquido amniótico e sua coloração). o As informações devem ser anotadas em um gráfico horário – Partograma. • Quando indicada a amniotomia, praticá-la durante a contração uterina e aguardar o escoamento do líquido antes de terminar o toque vaginal. � Monitoração do parto: sempre que possível, os partos devem ser acompanhados com monitoração eletrônica. Na sua impossibilidade sugere-se: o Palpação abdominal minuciosa a cada 60 minutos, por no mínimo 10 minutos, anotando-se a frequência e a duração das contrações e o tono uterino. o Ausculta cardíaca fetal a cada 15/30 minutos, antes, durante e, no mínimo, um minuto após a contração uterina. o Corrigir distúrbios da contratilidade uterina PERÍODO EXPULSIVO • Posição da parturiente: classicamente a posição de decúbito dorsal com flexão máxima das coxas sobre o abdome e abdução dos joelhos, ou semi-sentada (permitida nos casos de leito PPP). • Ausculta fetal a cada 5 minutos ou, preferencialmente, monitorização eletrônica contínua. • Sonda vesical de alívio, se necessário (obrigatória na utilização do fórcipe). • Assepsia perineal. • Anestesia locorregional – caso a paciente não tenha sido submetida à analgesia peridural ou se ainda sentir dor perineal, apesar desta. 3o Bloqueio troncular bilateral do nervo pudendo interno na altura da extremidade da espinha ciática (10ml de lidocaína a 1%). o Infiltração dos músculos elevadores do ânus e da rafe mediana (10 a 20ml de lidocaína a 1%). o Infiltração em leque da pele e tecido celular subcutâneo a ser incisado (10ml de lidocaína a 1%). • Episiotomia mediolateral – deve ser limitada aos partos com risco de laceração perineal, com distocia de partes moles ou em caso de necessidade de facilitar o parto de feto possivelmente comprometido. Quando indicada: o Praticá-la antes que a apresentação fetal distenda o períneo. o Servir-se de bisturi para incisão da pele e tesoura para os planos profundos e mucosa vaginal. • Fórcipe de alívio. o Para abreviar o período expulsivo, quando indicado, preferir o fórcipe de alívio. Evitar a manobra de Kristeler. • No desprendimento da cabeça fetal nas apresentações de vértice: o Proteger o períneo posterior com compressa para prevenir o prolongamento da episiotomia. o Evitar a deflexão brusca da cabeça para impedir traumatismos do períneo anterior. o Correção da circular cervical de cordão, caso presente. � Após o desprendimento do pólo cefálico, nas apresentações de vértice, aguardar que se complete espontaneamente a rotação fetal e auxiliar no desprendimento do ombro – abaixamento da cabeça para o ombro anterior e elevação do pólo cefálico para o ombro posterior. • Clampeamento do cordão umbilical 8 a 10 cm de sua inserção abdominal. Em parto sem intercorrências, o momento ideal é entre 1 e 3 minutos após o desprendimento fetal. SECUNDAMENTO • Proceder ao manejo ativo: o Imediatamente após a expulsão fetal, administrar agente úterotônico: ocitocina – 10 a 20 UI em 500 ml de solução salina endovenosa, ou 5 a 10 UI IM. Não havendo resposta ou em caso de sangramento persistente, usar metilergonovina 0,2 mg IM ou misoprostol 1000 mcg via retal. � Procedimentos indicados na condução do secundamento: o Tração controlada do cordão associada à sustentação do útero através da parede abdominal. o Procedimento de Harvey – quando houver demora na dequitação. o Artifício de Jacob-Dublin: facilita o desprendimento das membranas, após a expulsão placentária. • Revisão sistemática do colo uterino e da cavidade vaginal com sutura de lacerações porventura existentes, utilizando-se fios absorvíveis naturais ou sintéticos, 0 ou 00. • Episiorrafia por planos com fios absorvíveis naturais ou sintéticos, 0 ou 00. Pontos separados para aproximação do plano muscular e para a síntese da pele, chuleio na mucosa vaginal. É medida útil o reparo inicial da fúrcula vaginal para que se mantenha a simetria perineal. • Certificar-se de que o útero se encontra firmemente contraído. Desnecessária a administração rotineira de metilergonovina. • Não realizar expressão manual do útero para expulsão de coágulo que se forma já que essa etapa (trombotamponagem) faz parte do processo de hemostasia uterina puerperal. • A puérpera deverá ser mantida em observação por no mínimo uma hora após o parto (4º período do parto) • O secundamento que não se completa após 30 minutos do parto caracteriza a retenção placentária (ver capítulo específico). Lembretes → A placenta e seus anexos devem ser sistematicamente examinados para se afastar a retenção de restos. → O momento exato em que termina o período premonitório e tem início o período de dilatação, primeira etapa do trabalho de parto, é frequentemente impossível de ser determinado. Puerpério Definição O puerpério é o período que tem início após dequitação da placenta e se estende até 6 - 8 semanas (aproximadamente 42 dias) após o parto. Se divide em: → Puerpério imediato: até 2h de pós-parto (Período de observação e atenção nas principais complicações desse período, ex: hemorragia puerperal) → Puerpério mediato: da 3ª hora até fim do 10° dia após o parto (Ficar atento a infecções e alguns problemas relacionados a amamentação, ex: regurgitação) → Puerpério tardio: do 11° dia até o retorno das menstruações ou 6 a 8 semanas nas lactantes (risco de complicação mais difícil, mães que não amamentam possuem retorno mais precoce da menstruação) Modificações anatômicas e fisiológicas → Involução uterina: • Inicia imediatamente após a dequitação (Após liberação da ocitocina que contribui para contração uterina) • Aparência isquêmica (Roxeado, devido a contração uterina ajudar a diminuir o sangramento) • Fundo uterino: (é importante saber o tamanho, para caso após o parto o fundo uterino não tiver nessas localidades, devem ser pesquisados outras causas por ex: ainda há restos placentários?) → 24h pós-parto: cicatriz umbilical; → 10 - 12 dias pós-parto: sínfise púbica; → 15 dias pós-parto: órgão pélvico (não será mais possível a palpação); → 6 - 8 semanas de puerpério: dimensão pré gravídica; → Miomas, obesidade, gravidez gemelar podem dificultar o exame → O sangramento pós parto não se chama menstruação, se chama Lóquios fisiológico • Lóquios rubros: vermelho vivo (eritrócitos); • Lóquios fuscos: acastanhados (hemoglobina semi- degradada) – 3- 4 dias; • Lóquios flava: amarelados como exsudatos (leucócitos) – após 10 dias; • Lóquios alba: esbranquiçado; → Vagina e vulva: • Rugosidade reaparece na 3ª semana (cesárea eletiva não há perda da rugosidade) • Frouxidão da musculatura pélvica – distensão e lacerações? → Colo uterino • Reparo total 6 a 12 semanas (fenda devido dilatação); → Alterações sanguíneas e plasmáticas • Na gestante há uma expansão volêmica como se aumentasse 30% de líquido intravascular • Ascensão dos níveis de hemoglobina até 14%, no puerpério o liquido sai primeiramente como formade edema e pela urina - hemoconcentração por exsudato; • Leucocitose de até 25mil (geralmente ocorre, mas sem desvio a esquerda, ou seja, sem sinais de infecção. Ficar atenta se houver leucócitos acima desse valor) • Trombocitose ou Plaquetopenia– 150.000; → Sistema endócrino • Β-hCG normaliza em 2- 4 semanas; • Lactantes têm atraso no retorno da ovulação em média 36 semanas (prolactina tem ação inibitória nos hormônios do ciclo menstrual) • Em média 45 dias para ovulação – não lactantes; → Perda ponderal • Imediata 4,5- 6kg; • Amamentação facilita, mas não expressiva. Consome cerca de 400 calorias por dia → Alteração óssea • Diminuição da densidade óssea; • Limitada e reversível; → Alterações dermatológicas • Eflúvio telógeno, ou seja, queda de cabelo (1 a 5 meses pós-parto e pode durar até 1 ano) – Não tem relação a amamentação e nem a anestesia: MITO! • É causado pelas alterações hormonais que a paciente sofre ou por anemia devido grande perda de sangue • Não há tratamento comprovado, mas pode ser realizado reposição de ferro → Sistema urinário • Bexiga - distensão excessiva e sensação de esvaziamento incompleto(reversível); • Retenção urinária além de 6h pós-parto pode ser devido lesão do nervo pudendo (Sempre ter atenção a esse sintoma) • Incontinência urinária pode ser devido a frouxidão da musculatura pélvica – pós-parto vaginal → Mamas • Produção de colostro nos últimos meses de gestação e/ou 2-5 dias pós-parto (rico em minerais, proteínas, vitamina A, imunoglobulina- anticorpos); • Leite maduro após 72 horas do parto (7% carboidratos, 3-5% de gorduras, 0,9% de proteínas e 0,2% de minerais); Assistência → Temperatura (febre- pensar em infecção puerperal), pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória (se estiver aumentada pode-se pensar em anemia devido grande perda de sangue) → Exame físico geral (realizar uma ectoscopia., mucosas estão coradas, sinais de edema, pulsos periféricos) → Avaliação das mamas, abdome (involução uterina), trato urinário, região perineal e membros inferiores (sinais de edema e trombose); → Monitorizar sangramento vaginal, palpar fundo uterino; → Queixas frequentes: Desconforto abdominal, dor na episiotomia ou cicatriz cirúrgica, ingurgitamento mamário; → Dieta e estimular a deambulação → Avaliação laboratorial quando necessária; → Avaliar imunização → 40- 80% blues puerperal (É a alteração do humor devido alterações hormonais: tristeza, cansaço, rejeita um pouco o bebê, chorosa, sonolenta- semelhante a depressão, mas se houver um bom suporte familiar não há necessidade do tratamento) – ocorre até 2 semanas; → Cuidados na alta: 24h pós-parto vaginal, 48h pós cesária; →Anticoncepção - cuidado pode ovular em 25 dias! → Amamentação – 6 semanas pós-parto – indicado progesterona, contracepção de estrogênio está contraindicado; → Não amamenta – iniciar ACO combinado (estrogênio e progesterona) 28 dias pós-parto; → LAM (Método da lactação por amenorréia): até 6 meses, em aleitamento materno exclusivo em livre demanda, não é um método muito confiável– eficácia de 98% de engravidar → Orientar anticoncepção antes da menstruação e orientar abstinência sexual por pelo menos 42 dias Orientações • SEXUALIDADE → Disfunção sexual- paciente não apresenta o desejo, a vontade de ter relação (fadiga, dor, sangramento, ressecamento/ atrofia genital – devido queda brusca da progesterona) • RETORNOS → 7-10 dias pós-parto: episiorrafia, infecções e hematomas, cicatriz cirúrgica; → 40 dias: orientação uso de métodos contraceptivos, retorno atividade sexual – DIU e progestágeno isolado; → Orientar sobre intervalo mínimo entre partos (18- 23meses), tempo de recuperação da puérpera. Referencias 1. TRATADO DE OBSTETRÍCIA; FEBRASGO – 2019; 2. WHO recommendations Intrapartum care for a positive childbirth experience – 2019. Disponível em: http://febrasgo.mccann.health/childbirth_experience_2018.p df 3. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal (versão resumida); Ministério da Saúde – 2017. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacio nais_assistencia_parto_normal.pdf 4. Cuidados no trabalho de parto e parto: recomendações da OMS – 2018. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/556-cuidados- no-trabalho-de-parto-e-parto-recomendacoes-da-oms
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