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Disciplina: Direitos Humanos REVISÃO PARA AV1 Profa. Louise Campos Guilherme Kramer série multidões CONCEITO BÁSICO Os direitos humanos consistem em um conjunto de direitos considerado indispensável para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade. Os direitos humanos são os direitos essenciais e indispensáveis à vida digna. (RAMOS, 2014, p.24) El mestizaje. Oswaldo Guayasamín Não há um rol predeterminado desse conjunto mínimo de direitos essenciais a uma vida digna. As necessidades humanas variam e, de acordo com o contexto histórico de uma época, novas demandas sociais são traduzidas juridicamente e inseridas na lista dos direitos humanos. (RAMOS, 2014, p.24) El mestizaje. Oswaldo Guayasamín História dos direitos humanos o estudo do passado – mesmo as raízes mais longínquas – é indispensável para detectar as regras que já existiram em diversos sistemas jurídicos e que expressaram o respeito a valores relacionados à concepção atual dos direitos humanos. (RAMOS, 2014, p.29) História dos direitos humanos Referente às fases dos direitos humanos, organizadas por Ramos (2014), observamos diferentes períodos históricos, e dentre esses, no séc. XVII a crise do absolutismo na Europa. Além disso, no séc. XVIII, o iluminismo. Referência (RAMOS, 2014) Os Direitos Humanos na História Referente à fase do constitucionalismo liberal e das declarações de direitos, situam-se as revoluções inglesa; americana e francesa. É essencial destacar que cada declaração não adveio com o intuito de contestar ou anular a anterior, mas para reafirmar e trazer novos direitos. Rev.Inglesa Petition of Rights Rev. Americana Declaração do Bom Povo de Virgínia; Declaração de Ind. Dos EUA Rev. Francesa Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão; Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã A fase do constitucionalismo liberal e das declarações de direitos “Revolução Francesa”: adoção da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão pela Assembleia Nacional Constituinte francesa, em 27 de agosto de 1789, que consagra a igualdade e liberdade, que levou à abolição de privilégios, direitos feudais e imunidades de várias castas, em especial da aristocracia de terras. Lema dos revolucionários: “liberdade, igualdade e fraternidade” (“liberté, egalité et fraternité”). “Revolução Francesa”: insatisfação popular com a manutenção do status quo pela monarquia, organização da economia que não atendia as necessidades da população. Autoproclamação de uma “Assembleia Nacional Constituinte”, em junho de 1789, pelos representantes dos Estados Gerais (instituição representativa dos três estamentos da França pré-revolução: nobreza, clero e um “terceiro estado” que aglomerava a grande e pequena burguesia, bem como a camada urbana sem posses). Em 12 de julho de 1789, iniciaram-se os motins populares em Paris (capital da França), que culminaram, em 14 de julho de 1789, na tomada da Bastilha (prisão quase desativada), cuja queda é, até hoje, o símbolo maior da Revolução Francesa. Em 27 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte adotou a “Declaração Francesa dos Direitos do Homem e dos Povos”, que consagrou a igualdade e liberdade como direitos inatos a todos os indivíduos. O impacto na época foi imenso: aboliram-se os privilégios, direitos feudais e imunidades de várias castas, em especial da aristocracia de terras. “todos os homens nascem livres e com direitos iguais.” (RAMOS, 2014, p.38) Projeto de Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã: de 1791, proposto por Olympe de Gouges, reivindicou a igualdade de direitos de gênero foi condenada à morte em plena Revolução Francesa Marie Gouze foi uma dramaturga, ativista política, feminista e abolicionista francesa “Na Paris de Maria Antonieta e Luís XVI, ela defendia a emancipação das mulheres, a instituição do divórcio e o fim da escravatura. À frente de um grupo de teatro formado apenas por mulheres, Olympe debatia suas ideias nas peças que escrevia, em panfletos e até em cartazes, que mandava colar pela cidade.” (Por Luiza Villamé, fonte: geledés.org.br) • 1791: edição da primeira Constituição da França revolucionária, que consagrou a perda dos direitos absolutos do monarca francês, implantando-se uma monarquia constitucional, mas, ao mesmo tempo, reconheceu o voto censitário. • Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão consagrada como sendo a primeira com vocação universal. Esse universalismo será o grande alicerce da futura afirmação dos direitos humanos no século XX, com a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esse contexto de constante luta dos revolucionários com os exércitos das monarquias absolutistas europeias impulsionou a Revolução Francesa para além das fronteiras daquele país, uma vez que os revolucionários temiam que as intervenções estrangeiras não cessariam até a derrota dos demais Estados autocráticos. Esse universalismo será o grande alicerce da futura afirmação dos direitos humanos no século XX, com a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos. (RAMOS, 2014, p.40) Nós conversamos sobre a caminhada histórica dos direitos humanos, como as revoluções e declarações que influenciaram essa caminhada, até ao marco histórico da Declaração Universal dos direitos humanos, em que destaca-se a fase de internacionalização dos direitos humanos. A internacionalização dos direitos humanos Até meados do século XX, o Direito Internacional possuía apenas normas internacionais esparsas referentes a certos direitos essenciais, como se vê na temática do combate à escravidão no século XIX, ou ainda na criação da OIT (Organização Internacional do Trabalho, 1919), que desempenha papel importante até hoje na proteção de direitos trabalhistas. Contudo, a criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos está relacionada à nova organização da sociedade internacional no pós-Segunda Guerra Mundial. (RAMOS, 2014, p.43) A internacionalização dos direitos humanos Conferência de São Francisco (abril a junho de 1945) Como marco dessa nova etapa do Direito Internacional, foi criada, na Conferência de São Francisco em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU). O tratado institutivo da ONU foi denominado “Carta de São Francisco”. A reação à barbárie nazista gerou a inserção da temática de direitos humanos na Carta da ONU, que possui várias passagens que usam expressamente o termo “direitos humanos” (RAMOS, 2014, p.43) A internacionalização dos direitos humanos Declaração Universal de Direitos Humanos -1948 A Carta da ONU não listou o rol dos direitos que seriam considerados essenciais. Por isso, foi aprovada, sob a forma de Resolução da Assembleia Geral da ONU, em 10 de dezembro de 1948, em Paris, a Declaração Universal de Direitos Humanos (também chamada de “Declaração de Paris”), que contém 30 artigos e explicita o rol de direitos humanos aceitos internacionalmente. (RAMOS, 2014, p.43) Declaração das Nações Unidas de 1948 – Declaração universal – família humana. Universal referente à ideia de que esses direitos deviam estar acima de um ou outro país e proclamava que esses direitos pertencem a todo mundo sem nenhuma condição ou exceção. Declaração Universal de Direitos Humanos -1948 A Declaração das Nações Unidas de 1948 é o maior documento legal de direitos humanos produzido e, para chegar a todos os seres humanos, essa declaração se tornou o texto mais traduzido no mundo. A declaração foi e é analisada e estudada intensivamente por juristas de todas as nacionalidades. Diante disso, destaca-se características, como: universalidade; interdependência e invisibilidade. Direitos Humanos C ar ac te rí st ic as Universalidade Interdependência Indivisibilidade Os direitos devem estar disponíveis ao acesso de todos os membros da família humana igualmente, não podendo ser restringidos a ninguém. Não é permitido que algum direito seja aplicado a apenas uma pessoa ou grupo.Nenhum direito é mais importante do que os demais. A existência de um, está condicionada à existência dos demais. significa que não pode haver uma divisão desses direitos em categorias. É preciso entender e respeitá-los como um todo, enxergando que os direitos individuais, políticos, sociais e econômicos interagem e não podem ser afastados uns dos outros. essencialidade, superioridade normativa e reciprocidade. Direitos Humanos C ar ac te rí st ic as A essencialidade implica que os direitos humanos apresentam valores indispensáveis e que todos devem protegê-los. Além disso, os direitos humanos são superiores a demais normas, não se admitindo o sacrifício de um direito essencial para atender as “razões de Estado”; logo, os direitos humanos representam preferências preestabelecidas que, diante de outras normas, devem prevalecer. Finalmente, a reciprocidade é fruto da teia de direitos que une toda a comunidade humana. Não há só o estabelecimento de deveres de proteção de direitos ao Estado e seus agentes públicos, mas também à coletividade como um todo. (RAMOS, 2014, p.25) Módulo 2.2 Argumentos teóricos e críticas Podemos observar três correntes filosóficas que constituem a fundamentação teórica dos Direitos Humanos Fundamentação teórica (jurídicas; filosóficas) Jusnaturalista Moralista Positivista Referência (RAMOS, 2014) Ler cap. III – Tópico 4. Os Fundamentos dos Direitos Humanos Módulo 2.2 Argumentos teóricos e críticas Jusnaturalismo - o direito como algo intrínseco e natural ao ser humano e às leis, como resultados desse pensamento, funcionando antes mesmo de serem legalizadas pelas constituições ou pelo Estado. Desse modo, existe um conjunto de normas vinculantes anterior e superior ao sistema de normas fixadas pelo Estado (direito posto). (RAMOS, 2014) Referência (RAMOS, 2014) Ler cap. III – Tópico 4. Os Fundamentos dos Direitos Humanos Ex: Peça grega Antígona, de Sófocles Antiguidade (origem divina) Visão religiosa – São Tomas de Aquino “A lei humana deve obedecer a Lei natural, fruto da razão divina Idade Média consagração da razão e laicidade das normas de direito natural. Hugo Grocio Plano internacional - séculos XVII e XVIII • Jusnaturalismo contratualista (Lock e Rousseau e • Aprofunda a razão humana; direitos inerentes à qualidade de homem Iluminismo Hugo Grocio (1583-1645) e o Direito natural No seu livro O direito da guerra e da paz (1625), Grócio defendeu a existência do direito natural, de cunho racionalista – mesmo sem Deus, ousou dizer em pleno século XVII –, reconhecendo, assim, que suas normas decorrem de princípios inerentes ao ser humano. Assim, é dada mais uma contribuição – de marca jusnaturalista – ao arcabouço dos direitos humanos, em especial no que tange ao reconhecimento de normas inerentes à condição humana. .(RAMOS, 2014, p.36) Dignidade da pessoa humana e ordem jurídica (diversidade sociocultural) “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Art I da Declaração universal dos DH O Brasil, que participa da ONU e que firmou o compromisso de garantir os direitos humanos a seus indivíduos, positivou essa ideia na Constituição de 1988, que está em vigor. Também no primeiro artigo da nossa Carta Magna, registra-se que a “República Federativa do Brasil (...) tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana”. Dignidade da pessoa humana são as condições mínimas necessárias para que uma pessoa viva uma vida justa, em condições adequadas e sem depreciação. Este é um valor absoluto, regulador de todos os objetivos do ser humano, pois nada é mais importante do que a garantia das condições vitais para a sobrevivência nesse mundo. Dignidade da pessoa humana e ordem jurídica (diversidade sociocultural) Não há uma definição legal única que determine que condições são essas, pois elas variam em cada cultura ou sociedade, é certo que todos os grupos e culturas nutrem valores básicos que formam seu conceito de dignidade humana. Diante disso, conforme vimos a partir do artigo da profa. Vera Candau seria uma reconceitualização dos direitos humanos, referente à relação entre igualdade e diferenças identitárias, por meio do diálogos entre culturas, na perspectiva da interculturalidade, em que não trata-se de ocultar as contraposições culturais, mas reconhecer as diferenças e propor formas de interação, diálogo, a partir dos valores de diferentes culturas, em que uma cultura não se sobreponha a outra. Desse modo, critica-se que um direito seja aplicável a todas as culturas, uma possibilidade para isso é entendendo as diferenças e criando um direito multicultural e a partir da perspectiva intercultural. Dignidade da pessoa humana e ordem jurídica (diversidade sociocultural) TRANSFORMAÇÕES NO CONCEITO Também é necessário compreendermos que, assim como os direitos humanos são um conceito construído a partir das demandas históricas que se modificam na medida em que novos acontecimentos surgem, a noção de dignidade da pessoa humana de cada grupo e de cada época também é mutável. Uma significativa transformação desse conceito aconteceu no momento após a Segunda Guerra Mundial, quando houve a chamada “virada kantiana”, que rejeitou qualquer espécie de coisificação e instrumentalização dos homens e mulheres. A dignidade da pessoa humana passou a ser considerada um fim para a humanidade e não um meio para a construção do mundo. Dignidade da pessoa humana e ordem jurídica Diferentemente do que ocorre com direitos como liberdade, igualdade, entre outros, a dignidade humana não trata de um aspecto particular da existência, mas sim de uma qualidade inerente a todo ser humano, sendo um valor que identifica o ser humano como tal. Logo, o conceito de dignidade humana é polissêmico e aberto, em permanente processo de desenvolvimento e construção. (RAMOS, 2014, p.69) Referência (RAMOS, 2014) cap. III, tópico 3. Dignidade humana Dignidade da pessoa humana e ordem jurídica Há dois elementos que caracterizam a dignidade humana: o elemento positivo e o elemento negativo. O elemento negativo consiste na proibição de se impor tratamento ofensivo, degradante ou ainda discriminação odiosa a um ser humano. Por isso, a própria Constituição dispõe que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante” (art. 5º, III) e ainda determina que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais” (art. 5º, XLI). Já o elemento positivo do conceito de dignidade humana consiste na defesa da existência de condições materiais mínimas de sobrevivência a cada ser humano. Nesse sentido, a Constituição estabelece que a nossa ordem econômica tem “por fim assegurar a todos existência digna” (art. 170, caput). (RAMOS, 2014, p.69) Referência (RAMOS, 2014) cap. III, tópico 3. Dignidade humana Brasil na proteção dos Direitos Humanos O Brasil faz parte do Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos e do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, que visa garantir a efetivação desses direitos em nível regional e dar apoio aos cidadãos de país que se encontram desassistidos pelo Estado. Compromisso com 8 tratados internacionais da ONU: Módulo 2.4 Estruturação dos direitos humanos Brasil e o contexto da proteção dos direitos humanos Mas isso nos faz pensar nos desafios de direitos humanos no Brasil Como desenvolver leis que tenham por princípio que todas as pessoas são iguais em um país de extrema desigualdade? Conseguiremos superar nosso passado de atraso? Em qual estado nos encontramos e quais são nossas perspectivas? Brasil e o contexto da proteção dos direitos humanos Esses desafios estão relacionados à formação política, econômica e territorial brasileira, referente à colonização, ao processo de escravidão. Relação de exploração entre metrópole e colônia 1530 - 1822 Estrutura colonial - A mão-de-obra escrava nos engenhos de açúcar Mesmo depois da independência do Brasil em 1822, ainda permanece a estrutura colonial Após a lei Aurea em 1888, não houveram políticas de assistência aos libertos Em 1889, ano da proclamação da República no Brasil, ainda havia uma limitada participação política, como das mulheres Dentre outros fatores na formação política, econômica e territorial brasileira, como por exemplo o período da ditadura militar, que antecederam a promulgação da constituição de 1988. Brasil e o contexto da proteção dos direitos humanos A Constituição Federal de 1988 A elaboração dessa Carta foi discutida por mais de um ano e meio por deputados e senadores eleitos democraticamente em 1986. É importante destacar que, dos mais de 500 congressistas participantes, menos de 30 eram mulheres, sendo que nenhuma delas ocupava uma cadeira do Senado Federal, o que mostra ainda a gritante desigualdade de gênero na representação dos brasileiros no setor legislativo. Na Constituição consta o compromisso com os direitos em nível universal e, logo nos primeiros artigos, determina que o Brasil deve prezar nas relações internacionais pelo predomínio dos direitos humanos. Brasil e o contexto da proteção dos direitos humanos Final de 1980 – Direitos positivados na Constituição de 1988 Nessa Carta, foram garantidos os princípios fundamentais do Brasil como a igualdade em direitos e obrigações dos homens e mulheres na sociedade, a liberdade de expressão e a divisão de poderes, que garante que não teremos um poder concentrado nas mãos de uma única pessoa, como nos regimes absolutistas. Também foram assegurados uma série de direitos sociais, como o acesso permanente à educação, à saúde, ao trabalho e ao lazer. Brasil e o contexto da proteção dos direitos humanos A Constituição Federal de 1988 De acordo com o art. 1º da Constituição de 1988, a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constituindo-se em um Estado Democrático de Direito, que tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Seu parágrafo único reitera a vocação democrática do Estado, ao dispor que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Os fundamentos da República convergem para a proteção dos direitos humanos. (RAMOS, 2014, p.347) Tradicionalmente os direitos fundamentais têm sido classificados em três gerações: Compreende os direitos individuais e políticos, surgiu juntamente com a afirmação do individualista e abstencionista Estado Liberal de Direito, no fim do século XVIII. Abrange os direitos sociais, econômicos e culturais, foi produto das lutas e reivindicações sociais que deflagraram o intervencionista Estado Social de Direito, consolidado na segunda década do século XX. Abarca todos os direitos difusos, está ainda em fase de desenvolvimento e ampliação do atual Estado Democrático de direito 1ª geração 2ª geração 3ª geração Estado social de Direito: direitos sociais como prestações positivas do Estado. Estado Democrático de Direito é uma forma de Estado em que a soberania popular é fundamental. Nessa forma de Estado é o respeito aos DH são fundamentais e naturais a todos os cidadãos • Na temática dos direitos humanos, a Constituição de 1988 é um marco na história constitucional brasileira. Em primeiro lugar, introduziu o mais extenso e abrangente rol de direitos das mais diversas espécies, incluindo os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, além de prever várias garantias constitucionais (...) De forma inédita na história constitucional brasileira, a abertura da Constituição aos direitos foi baseada também nos tratados internacionais celebrados pelo Brasil. (RAMOS, 2014, p. 349) Como vimos, em relação aos pactos internacionais. O • Brasil, após a Constituição de 1988, acatou a indivisibilidade e interdependência de todos os direitos humanos, ao ratificar indistintamente os tratados voltados a direitos civis e políticos e direitos sociais, econômicos e culturais. BRASIL E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS : CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Tradicionalmente, as Constituições brasileiras começavam tratando da estrutura do Estado e no final versavam sobre os direitos fundamentais. A Constituição de 1988 inverteu isso: os primeiros artigos tratam de direitos. Essa mudança topográfica transmite a ideia de que o mais importante são os direitos. O Estado existe em boa parte para protegê- los, promovê-los e assegurar que a pessoa humana seja respeitada. A Constituição de 1988 dividiu os direitos humanos, com base no seu Título II (denominado, sugestivamente, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”). BRASIL E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS: CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 BRASIL E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS: CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Direitos individuais (art.5) • consistem no conjunto de direitos cujo conteúdo impacta a esfera de interesse protegido de um indivíduo. direitos à vida, liberdade, segurança individual, integridade física. Também está presente nos outros direitos, como nos políticos (voto) e sociais (saúde). Direitos sociais (art.6) • consistem em um conjunto de faculdades e posições jurídicas pelas quais um indivíduo pode exigir prestações do Estado ou da sociedade ou até mesmo a abstenção de agir, tudo para assegurar condições materiais mínimas de sobrevivência. (Direitos trabalhistas; liberdade sindical; direito à greve) Direito à nacionalidade (art. 12) • A nacionalidade é definida como sendo o vínculo jurídico entre determinada pessoa, denominada nacional, e um Estado, pelo qual são estabelecidos direitos e deveres recíprocos. Ex: não pode o Estado obstar o desejo legítimo do indivíduo de renunciar e mudar de nacionalidade. Direitos políticos (art.14 e 17) • Os direitos políticos constituem um conjunto de direitos de participação na formação da vontade do poder e sua gestão. Essa participação não se dá tão somente no exercício do direito de votar e ser votado, mas também na propositura de projetos de lei (iniciativa popular) e na ação fiscalizatória sobre os governantes (a ação popular). Direitos coletivos (art.5) • direitos coletivos em sentido amplo todos os direitos que, indivisíveis ou não, regem situações que atingem um agrupamento de pessoas. Por exemplo, há direitos de expressão coletiva, a partir da união de vontades de vários indivíduos, como liberdade de reunião e associação. • Orientação de estudo: ler os documentos Declaração Universal dos direitos Humanos e a Constituição Federal brasileira, observar as relações entre o previsto nesses documentos. Disciplina: Direitos Humanos Aula 2.3 Diversidade das culturas Guilherme Kramer série multidões Guilherme Kramer série multidões Desde a Declaração Universal, os direitos humanos são apresentados, como o próprio nome diz, como universais. No entanto, a questão do universal e do particular, ou do universal e do relativo, suscitou uma discussão particularmente forte na Conferência de Viena (Conferência Mundial sobre Direitos Humanos). (CANDAU, 2008, p.47) http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/viena.htm Módulo 2.3 Diversidade das Culturas http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/viena.htm Módulo 2.3 Diversidade das Culturas Guilherme Kramer série multidões E, hoje em dia, vários grupos em diferentes países questionam a universalidade dos direitos tal como foi construída, considerando-a uma expressão do Ocidente e da tradição europeia. Partindo dessa perspectiva, é possível reconhecer as diferenças culturais, os diversos modos de situar-se diante da vida, dos valores, as várias lógicas de produção de conhecimento etc.? É possível construir uma articulação entre o universale o particular, o universal e o relativo? (CANDAU, 2008, p.47) Módulo 2.3 Diversidade das Culturas Universalismo e relativismo cultural Guilherme Kramer série multidões O debate entre os universalistas e os relativistas culturais retoma o dilema a respeito dos fundamentos dos direitos humanos: por que temos direitos? As normas de direitos humanos podem ter um sentido universal ou são culturalmente relativos? (PIOVESAN, 2007, p.22) Módulo 2.3 Diversidade das Culturas Universalismo e relativismo cultural Guilherme Kramer série multidões • Os direitos humanos decorrem da dignidade humana. Defende-se nessa perspectiva o mínimo ético irredutível. Universalistas • A noção de direitos está estritamente relacionada ao sistema político, econômico, cultural, social e moral vigente em determinada sociedade Relativistas G u ilh e rm e K ra m e r sé ri e m u lt id õ es (PIOVESAN, 2007, p.22) G u ilh e rm e K ra m e r sé ri e m u lt id õ es A igualdade é a base da utopia universalista que, ignorando as desigualdades econômicas, culturais e sociais dos indivíduos, prevê direitos cuja real eficácia se perde no formalismo, favorecendo e fortalecendo a maioria. Para os multiculturalistas, o espaço social é heterogêneo. Dessa forma, qualquer aplicação de uma lei que seja cega às diferenças existentes entre os indivíduos e os trate como se estivessem em igualdade de condições estará sendo claramente discriminatória. (LOPES, 2019,p.22) G u ilh e rm e K ra m e r sé ri e m u lt id õ es Neste debate, destaca-se a visão de Boaventura de Souza Santos, em defesa de uma concepção multicultural de direitos humanos, inspirada no diálogo entre culturas, a compor um multiculturalismo emancipatório. Para Boaventura “os direitos humanos têm que ser reconceitualizados como multiculturais. O multiculturalismo, tal como eu o entendo, é pré- condição de uma relação equilibrada e mutuamente potenciadora entre a competência global e a legitimidade local, que constituem os dois atributos de uma política contra- hegemônica de direitos humanos no nosso tempo. (PIOVESAN, 2007, p.23) Módulo 2.3 Diversidade das Culturas Para o sociólogo Boaventura de Souza Santos é necessária uma ressignificação dos direitos humanos na contemporaneidade, haja vista, as diferenças socioculturais presentes no mundo, diante de uma “universalidade” que é localizada, historicamente situada a partir da Europa. Para Santos, a construção dos direitos humanos foi feita dentro da perspectiva do “localismo globalizado”. E essa era a matriz hegemônica própria da modernidade, claramente presente no expansionismo europeu, portador da “civilização” e das “luzes”. É essa a óptica que tem predominado até hoje, com diferentes versões. (CANDAU, 2008, p.46) Reconceitualização dos direitos humanos - Boaventura de Souza Santos Módulo 2.3 Diversidade das Culturas 1. A superação do debate entre o universalismo e o relativismo cultural. O que se quer dizer com isso? Afirmar que todas as culturas ou grupos culturais têm valores e idéias, elementos fundamentais que aspiram a comunicar a outros e universalizar, mas o universalismo é incorreto, enquanto uma única cultura predomine e queira se impor a todos. No outro pólo está o relativismo cultural, que afirma que todas as culturas são relativas, nenhuma é absoluta, nenhuma é completa, mas é necessário propor diálogos interculturais sobre preocupações convergentes, ainda que expressas a partir de diversos universos culturais. Somente assim seremos capazes de construir algo juntos, um projeto comum. É necessário negar tanto o universalismo quanto o relativismo absolutos. (CANDAU, 2008, p.48) Reconceitualização dos direitos humanos - Boaventura de Souza Santos G u ilh e rm e K ra m e r sé ri e m u lt id õ es A história contemporânea dos direitos humanos pode ser vista como a luta contínua e sempre falível para fechar a lacuna entre o homem abstrato e o cidadão concreto; ou seja, adicionar carne, sangue e sexo ao contorno pálido do “humano” (COSTAS DOUZINAS, 2013, p.212) Acredita-se, de igual modo, que a abertura do diálogo entre as culturas, com respeito à diversidade e com base no reconhecimento do outro, como ser pleno de dignidade e direitos, é condição para a celebração de uma cultura dos direitos humanos, inspirada na observância do mínimo ético, alcançado por um universalismo de confluência. (PIOVESAN, 2007, p.23) Na atualidade, a diversidade cultural constitui marca inegável dos mais de 190 Estados membros da ONU. Praticamente não há Estado que não possa ser considerado multicultural ou multiétnico. Então, como garantir harmonia nas sociedades culturalmente diversas? Trata-se de uma discussão que não é nova, entretanto “se remota ao fim do domínio da Igreja nos séculos XVI e XVII, quando, pela primeira vez, cogitou-se a possibilidade do reconhecimento de direitos às minorias com base no princípio da tolerância” (PEREIRA; PINHEIRO; MELO, 2019, p.112) • Com efeito, considerando os diversos grupos de minorias existentes, há necessidade de adoção, ao lado das políticas universalistas, de políticas específicas, capazes de dar visibilidade a sujeitos de direito com maior grau de vulnerabilidade, visando ao pleno exercício de direito à inclusão social. Observa-se, desse modo, que o multiculturalismo, ao reconhecer e preservar as diferenças, trata-se de um instrumento de grande importância para firmar as minorias no Estado democrático de direito (PEREIRA; PINHEIRO; MELO, 2019, p.112) O multiculturalismo, também denominado de pluralismo cultural ou cosmopolitismo, tenta conciliar o reconhecimento e respeito à diversidade cultural presente em todas as sociedades. “A expressão multiculturalismo designa, originariamente a coexistência de formas culturais ou de grupos caracterizados por culturas diferentes no interior das sociedades modernas” (LOPES, 2008, p. 21). Assim, o multi culturalismo dentro de um parâmetro conceitual é visto como um movimento social e político que busca sobretudo reconhecimento social. (PEREIRA; PINHEIRO; MELO, 2019, p.108) Viver uma cultura democrática significa compartilhar com costumes e comportamentos diversos no campo político, religioso, cultural, linguístico e social. Se numa democracia, a realidade pluralista é um conteúdo presente que não pode ser ignorado, o respeito às minorias, à autonomia pessoal, à soberania, à dignidade de cada um e à existência individual são vetores que merecem ser lembrados e respeitados por todos. (PEREIRA; PINHEIRO; MELO, 2019, p.113) Referências CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre igualdade e diferença. Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 37 jan./abr. 2008 Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/5szsvwMvGSVPkGnWc67BjtC/?lang=pt COSTAS DOUZINAS. Sete teses sobre os Direitos Humanos, 2013. Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/hendu/article/view/6016/4840 LOPES, Ana Maria D´Ávila. Proteção constitucional dos direitos fundamentais culturais das minorias sob a perspectiva do multiculturalismo. Brasília a. 45 n. 177 jan./mar. 2008. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/160330 PIOVESAN, Flávia. Coordenadora. Direitos Humanos. Curiti ba: Juruá, 2007, v. 1. Disponível em: https://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=13395 PEREIRA, Maria Leda Melo Lustosa; PINHEIRO, Ailk de Souza; MELO, José Wilson Rodrigues de. O multiculturalismo na contemporaneidade e sua relação com as minorias. Revista Humanidades e Inovação v.6, n. 4 – 2019. Disponível em: https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/959 https://www.scielo.br/j/rbedu/a/5szsvwMvGSVPkGnWc67BjtC/?lang=pt https://periodicos.ufpa.br/index.php/hendu/article/view/6016/4840 https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/160330 https://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=13395 https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/959 FISCHMANN, Roseli. Constituiçãobrasileira, direitos humanos e educação. Revista Brasileira de Educação v. 14 n. 40 jan./abr. 2009 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos / André de Carvalho Ramos. – São Paulo : Saraiva, 2014. Disponível em: http://pergamum.ifsp.edu.br/pergamumweb/vinculos/000044/000044dd.pdf http://pergamum.ifsp.edu.br/pergamumweb/vinculos/000044/000044dd.pdf ORIENTAÇÕES PARA AV1 - TURMA 1001 CALENDÁRIO Período da AVA de 25 a 30 de abril. Obs: cada prova ocorrerá no dia e horário da aula na referida disciplina. (no caso dessa turma, na quinta-feira) Data da nossa prova: 28/04 segunda -feira ORIENTAÇÕES PARA AV1 - TURMA 1001 HORÁRIO A duração da prova será de 150min dentro do horário da aula. Início: 08:40 Término: 11:20 ORIENTAÇÕES PARA AV1 - TURMA 3001 Presença A turma deverá acessar a sala pelo teams, às 08:40. Entrar na sala teams para registro da presença. Link: https://teams.microsoft.com/l/meetup- join/19%3a50uawqoMpm2iqTKCwrj3Vlm- k0lUjDq1WjZmbaMpe7s1%40thread.tacv2/164811 8152776?context=%7b%22Tid%22%3a%22da49a84 4-e2e3-40af-86a6- c3819d704f49%22%2c%22Oid%22%3a%2287c8d68 3-fc13-44c6-bfb1-129c33ceda8c%22%7d https://teams.microsoft.com/l/meetup-join/19%3a50uawqoMpm2iqTKCwrj3Vlm-k0lUjDq1WjZmbaMpe7s1%40thread.tacv2/1648118152776?context=%7b%22Tid%22%3a%22da49a844-e2e3-40af-86a6-c3819d704f49%22%2c%22Oid%22%3a%2287c8d683-fc13-44c6-bfb1-129c33ceda8c%22%7d ORIENTAÇÕES PARA AV1 - TURMA 3001 O aluno deverá logar no ambiente de avaliações “BDQ” com a sua matrícula e senha do SIA. Para a realização da prova. Link: https://simulado.estaci o.br/alunos/ https://simulado.estacio.br/alunos/
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