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Concurso de pessoas É a colaboração entre duas ou mais pessoas para a prática de uma infração penal, ou seja, tem-se a pluralidade de pessoas e a unicidade da infração. Requisitos necessários Para que se configure o concurso de pessoas, é necessário que o crime preencha alguns requisitos, são eles: - Pluralidade de agentes - Liame subjetivo entre os agentes; - Relevância causal das condutas; - Identidade da infração penal Pluralidade de agentes É o requisito fundamental do concurso de pessoas. Contudo, não é necessário que os agentes desempenhem as mesmas condutas ou sequer sejam identificados. Liame subjetivo É o vínculo existente entre os agentes que atuam conscientes de que estão reunidos para a prática do crime. Dúvida: o ajuste prévio é requisito para o concurso de pessoas? Não. Segundo a doutrina, basta que o indivíduo saiba que contribui com outro para o resultado criminoso. Exemplo: um arrastão na praia em que um pequeno grupo inicia a prática de furtos e roubos até um ponto em que uma multidão pratica os crimes em grande escala. Dúvida: o que é coautoria sucessiva? A coautoria sucessiva ocorre quando o agente adere a uma conduta já iniciada por terceiro. Por exemplo, “A” é segurança de um estabelecimento comercial, agride um suposto ladrão que tentava subtrair produtos da loja. Ao ver a situação, “B”, também segurança, ajuda seu colega na agressão. Identidade da infração penal** Para configurar o concurso de pessoas, todos os envolvidos devem contribuir para o mesmo evento criminoso. Atenção: mencionado requisito está diretamente ligado à teoria monista, adotada como regra no Código Penal. Teorias Existem algumas teorias que buscam explicar a responsabilização penal na prática de concurso de pessoas, são elas: - Teoria Monista - Teoria Dualista - Teoria Pluralista Teoria Monista Para a teoria monista, ainda que o fato tenha sido praticado por vários agentes, conserva-se único e indivisível, sem qualquer divisão entre os agentes. Por exemplo, “A” e “B”, com a intenção de assaltar um estabelecimento comercial, rendem o proprietário. Enquanto “A” vigia o comerciante, “B” coloca os produtos no veículo de fuga. Nesse caso, ambos responderão pelo crime de roubo. (CP, art. 157). Essa teoria é regra no Código Penal Brasileiro. Teoria Pluralista É uma exceção à teoria monista, e atribui tipo penal autônomo para a conduta de cada agente. Como correspondentes a essa teoria temos: o crime de corrupção, aborto, crime de contrabando de descaminho. Particularmente, o crime de corrupção pode ser praticado de forma passiva ou ativa. A diferenciação entre essas modalidades se dá na análise de quem é corrompido e quem corrompe. - Passiva: aquele que é corrompido. Numa relação de corrupção o corrompido é sempre o funcionário público, ainda que este solicite. - Ativa: é o corruptor. Aqui, tem-se a figura do particular. Assim, no mesmo contexto criminoso, tem-se dois tipos penais diferentes: um para o funcionário público e outro para o particular. Teoria Dualista A teoria dualista apresenta consequências penais distintas para autor e partícipe. CARLA GABRIELE S. NASCIMENTO - FAHESP/IESVAP O Código Penal Brasileiro não adota essa teoria. Exemplo: “A” quer matar “B”. Para isso, pede ajuda a “C”, que o entrega uma arma já carregada e o instrui a manusear o objeto. “A” então, munido da arma e com o conhecimento necessário, tira a vida de “B’”. Nesse contexto, segundo a teoria dualista, “B” responderia por crime de homicídio como autor e “C”, na forma de partícipe, responde por outro tipo penal. Assim, existe um tratamento diferenciado entre autor e partícipe nessa teoria. Comparativo Autoria A autoria é a imputação relativa ao agente responsável por uma conduta tipicamente lesiva. As teorias para a conceituação de autoria de crimes são: - Teoria subjetiva - Teoria objetiva - Teoria do domínio final do fato Teoria Subjetiva - unitária Não há distinção alguma entre autor e partícipe, isso com fundamento na teoria da equivalência dos antecedentes. Exemplo: “A” fornece a “B” uma arma de fogo para que, assim, possa matar um desafeto em comum. No dia seguinte, “B” mata a vítima. O Código Penal Brasileiro não adota essa teoria. Teoria Objetiva Essa corrente faz distinção entre a figura do autor e do partícipe. A teoria objetiva tem ainda, duas subespécies: - teoria objetiva-formal - teoria objetiva-material Teoria objetivo-formal O autor é quem pratica o núcleo do tipo (verbo), ou seja, quem realiza a conduta descrita na figura penal incriminadora. Por outro lado, partícipe é aquele que concorre para o crime, sem praticar o verbo, ou seja, que presta auxílio material ou moral. Exemplo: “A” fornece a “B” uma arma de fogo para que, assim, possa matar um desafeto em comum e ainda o incentiva a prática do crime. Nesse caso, “B” executa o verbo do tipo penal. “A”, apesar de não ter disparado a arma, presta apoio ao autor, contribuindo para o resultado final. Essa é a teoria adotada pelo Código Penal. Teoria objetivo-material O autor é aquele que colabora de forma mais relevante para o resultado e o partícipe, colabora de forma menos relevante. Em ambos os casos, não importa quem praticou o núcleo do tipo penal (verbo); Assim, a análise aqui é feita em volta de quem “encabeça” o crime, daqueles que desempenham o papel mais importante na ocorrência do resultado. ex: em organizações criminosas ou tráfico internacional em que os chefes ficam longe da execução do esquema. O Código Penal Brasileiro não adota essa teoria. Dúvida: qual a teoria adotada pelo Código Penal? Segundo a doutrina majoritária, o Código Penal adotou a teoria objetivo-formal. Nesse sentido, o autor é quem pratica o verbo e partícipe é todo aquele que concorre de qualquer forma para o crime. Teoria do domínio final do fato É autor não só aquele que pratica o tipo penal mas também quem tem o controle finalístico do fato, ou seja, determina a atuação dos demais. Por outro lado, partícipe é aquele que colabora para o crime, contudo, sem ter o domínio da ação. Atenção: a teoria do domínio do fato amplia o conceito de autor, pois além daquele que pratica o núcleo do tipo penal (verbo), é também aquele que determina a conduta de terceiro. CARLA GABRIELE S. NASCIMENTO - FAHESP/IESVAP A teoria do domínio do fato traz três conceitos novos de autor. Como dito acima, para a teoria do domínio do fato, autor é: - autor imediato: aquele que pratica o núcleo do tipo penal, o verbo; - autor intelectual: aquele que organiza o grupo criminoso para ser executado por outras pessoas; ex: o professor em la casa de papel - autor mediato: é aquele que utiliza de terceiro inculpável ou que age sem dolo ou culpa como instrumento para a prática do crime. Por exemplo, “A” encomenda a um menor de idade (inimputável) a execução de um desafeto, e o menor pratica o homicídio. Comparativo Autoria Mediata O autor mediato é o sujeito que, sem realizar diretamente a conduta descrita no tipo penal, comete o fato típico por ato de pessoa inculpável ou que age sem dolo ou culpa, utilizando-a como seu instrumento. Situação hipotética: "A", médico, entrega veneno ao invés de remédio para “B”, enfermeiro, que, sem saber, aplica a substância no paciente ”C”, desafeto de “A”, que vem a falecer. Após o óbito do paciente, o enfermeiro que administrou o veneno não pode ser responsabilizado, pois não sabia da atenção de “A”, não agindo nem como dolo nem com culpa. Assim, o médico é considerado autor mediato. Atenção: a autoria mediata não é espécie de concurso de pessoas, pois não há liame subjetivo entre os envolvidos. Resumo Comparativo A diferenciação entre partícipe e autor mediato Dúvida: E se o autor imediato for, também culpável? que sabe o que está fazendo? Nesse caso não há autoria mediata e sim autoria intelectual, pois o autor sabia da natureza criminosa da conduta. Segundo a doutrina, essa é uma hipótese de autoria de escritório. A autoria de escritório é aquela que, tanto o indivíduo que ordena quanto aquele que executa,são considerados culpáveis. Dúvida: É possível autoria mediata em crime próprio? Crime próprio: aquele que só pode ser cometido por determinadas pessoas, tendo em vista que o tipo penal exige certa característica do sujeito ativo. Sim. Segundo a doutrina, é possível a autoria mediata em crime próprio, desde que o autor mediato possua a qualidade especial exigida no tipo penal. Exemplo: "A", funcionário público, se utiliza de menor de idade para subtrair bem da repartição pública. Nesse caso “A” será responsabilizado pelo crime de peculato. (CP, art. 312). CARLA GABRIELE S. NASCIMENTO - FAHESP/IESVAP Dúvida: É possível autoria mediata em crime de mão própria? Crimes de mão própria são aqueles que só podem ser cometidos diretamente pela pessoa, não admitindo co-autoria. Não. Inicialmente, vale ressaltar que o crime de mão própria é aquele que só pode ser praticado pelo indivíduo apontado no tipo penal, por exemplo, o crime de falso testemunho. (CP, art. 342). Hipóteses de aplicação Existem algumas hipóteses de aplicação da autoria mediata dentro do Código Penal, apesar de o CP não trazer este conceito: Autoria colateral A autoria colateral, conhecida como coautoria imprópria, ocorre quando dois ou mais agentes, desconhecendo a conduta um do outro, concorrem para a prática de um crime. Dessa forma, ainda que haja pluralidade de agentes, não há liame subjetivo entre os concorrentes, razão pela qual não se trata de concurso de pessoas. Atenção: a autoria colateral não é hipótese de concurso de pessoas, ante a ausência de liame subjetivo entre os envolvidos. Por exemplo, “A” possui desafetos com “B” e “C”. Estes então decidem, separadamente, matar “A”. Sem saber das intenções um do outro, “B” e “C” armam uma emboscada no mesmo lugar e hora, onde cada um dispara, ao mesmo tempo, um tiro contra “A”, que vem a óbito. Autoria Incerta A autoria incerta ocorre quando não é possível identificar, no contexto da autoria colateral, quem foi o responsável pela produção do resultado. Assim, no exemplo acima “A” e “B” atiram contra “C”, levando-o à morte, e se não for possível identificar qual foi o tiro fatal, haverá hipótese de autoria incerta. Atenção: a consequência jurídica da autoria incerta é a impossibilidade de imputação do resultado aos concorrentes. Nesse sentido, “B” e “C” responderão por tentativa de homicídio, ainda que haja o resultado morte da vítima. Coautoria A coautoria é a modalidade em que dois ou mais indivíduos, com vínculo subjetivo, concorrem para o resultado criminoso. Dúvida: é possível coautoria em crime próprio? Crime próprio: aquele que só pode ser cometido por determinadas pessoas, tendo em vista que o tipo penal exige certa característica do sujeito ativo. Sim. A coautoria é compatível com o crime próprio, para tanto, basta que ao menos um dos coautores possua a qualidade especial exigida pelo direito penal. Exemplo, dois funcionários públicos armam um esquema para desvio de verbas da prefeitura, ou ainda, um funcionário público e um particular. Dúvida: é possível coautoria em crime de mão própria? Não. Tendo em vista que o crime de mão própria aponta que somente o agente descrito no tipo penal pode praticá-lo, torna-se inviável a coautoria. Por outro lado, crime de mão própria admite participação. Exemplo, um advogado instrui a testemunha a mentir em seu depoimento. Dentro da coautoria, temos ainda uma subdivisão em duas espécies: - coautoria direta - coautoria parcial CARLA GABRIELE S. NASCIMENTO - FAHESP/IESVAP Participação A participação é a modalidade de concurso de pessoas em que o agente realiza atos que concorrem para o resultado delitivo, sem, contudo, praticar o núcleo do verbo. adoção da teoria objetivo-formal Assim, a diferença é: - coautoria: pratica o núcleo do verbo - participação: não pratica o núcleo do tipo, porém concorre para o resultado criminoso Tipos de participação A participação pode ser tanto moral quanto material: Participação moral - instigação: reforçar uma ideia já existente - induzimento: fazer nascer a ideia criminosa Participação material É o auxílio, a assistência ao autor na execução da empreitada criminosa; A participação material só pode ocorrer antes da consumação. Se posterior, o agente poderá responder por crime autônomo: por exemplo, favorecimento real (art. 349, CP) Exemplo: "A" roubou um carro e, com medo de ser pego, pede que “B” o esconda em sua garagem por uns dias. Nesse caso, “B” responde por receptação, pois a conduta roubo já foi executada por “A” e sua ajuda é posterior ao fato. Teoria da acessoriedade A participação é uma conduta acessória que depende da existência da conduta (principal) praticada pelo autor. A partir daí, temos graus que variam de acordo com o critério de cada teoria. Dentre essas três, a adotada pelo CP é a teoria da acessoriedade limitada, que exige apenas que a conduta praticada pelo autor seja típica e ilícita para que o partícipe responda, não importante de quem praticou o verbo seja punível ou culpável. Participação de menor importância Consta no art. 29 do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Assim, em regra, não há distinção de gradação de participação. Pois o art. 29, caput, não faz diferenciação acerca da gravidade da pena do autor e do partícipe, ou seja, a reprimenda penal deste não é necessariamente menor do que a daquele. Art. 29 § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. Cooperação dolosamente distinta A cooperação dolosamente distinta ocorre quando um dos concorrentes quis praticar crime menos grave que os demais. Art. 29 § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até CARLA GABRIELE S. NASCIMENTO - FAHESP/IESVAP metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Assim, se o réu quis um crime menos grave e as circunstâncias demonstram isso, ele deve responder pelo ato menos grave mesmo que o resultado tenha sido grave. No entanto, há aumento de pena se o resultado gravoso for previsível desde o início. Exemplo: “A” e “B” combinam furto a residência de “C”, que supostamente estaria fora da cidade. Enquanto “A” faz a vigilância, “B” entra no imóvel e encontra “C”, que havia desistido da viagem. Para não ser reconhecido posteriormente, “B” mata a vítima. Dúvida: No caso do latrocínio, o fato do agente não estar armado caracteriza a cooperação dolosamente distinta, quando o comparsa armado atira contra a vítima? Não. Segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é impossível o reconhecimento da cooperação dolosamente distinta quando o agente atua durante todo o iter-criminis ao lado do corréu, assumindo, portanto, o risco do resultado mais grave. Circunstâncias incomunicáveis Dispõe o art. 30, CP: Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Seja uma circunstância subjetiva relacionada ao tipo penal, seja uma condição particular do réu, não há transferência para o corréu. Dúvida: qual a diferença entre circunstância e condição subjetiva (pessoal)? A condição, diferentemente da circunstância, é uma característica inerente ao agente, independentemente do tipo penal. Por exemplo, o motivo torpe é circunstância subjetiva do crime de homicídio, previsto no art. 121, § 2º, I, do Código Penal, mas não há previsão semelhante no crime de furto (CP, art. 155). Por outro lado, a reincidência é uma circunstância subjetiva que vai influenciar na dosimetria da pena, independentemente do crime praticado, seja homicídio ou furto. CARLA GABRIELE S. NASCIMENTO - FAHESP/IESVAP
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