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PEDIATRIA Profª Nayara quarta-feira, 30 de março de 2022 A CRIANÇA VOMITADORA NAUSEAS E VÔMITOS · O vômito é angustiante para a criança e para os familiares. · É um sintoma comum a múltiplas afecções pediátricas, tanto de natureza funcional como orgânica. · Pode ser de evolução aguda e crônica. · As náuseas e vômitos podem ser: · Um sintoma de um processo autolimitado. · Primeira manifestação de um processo grave. · Causa de desidratação, desequilíbrio eletrolítico, complicações metabólicas e necessidade de internação. DEFINIÇÕES · Náusea: sensação desagradável, subjetiva associada ao desejo de vomitar · Vômito: é a expulsão do conteúdo gástrico, acompanhado da contração dos músculos abdominais, rebaixamento do diafragma e abertura da cárdia. Pode ser precedido e/ou acompanhado por náuseas, palidez, sudorese e sialorréia. · Regurgitação: expulsão involuntária e sem esforço do conteúdo gástrico através da boca. Não é acompanhado por náuseas, esforço abdominal ou reflexo emético. · Refluxo gastroesofágico (RGE): retorno do conteúdo gástrico para esôfago, atingindo, algumas vezes, a faringe, a boca e as vias aéreas superiores. RGE passagem do conteúdo gástrico para o esôfago com ou sem regurgitação e/ou vômito. · Ruminação: regurgitações repetidas seguidas de nova mastigação/deglutição ou expulsão do alimento que tem início logo após as refeições e não ocorre durante o sono. Não é precedida por náuseas. Ocorre em qualquer idade, no entanto mais frequente em adolescentes do sexo feminino. Ocorre por aumento da pressão intragástrica associada ao relaxamento do esfíncter esofágico inferior. A ruminação pode ser desencadeada por evento traumático psicossocial e pode se associar com manifestações psiquiátricas. FISIOPATOLOGIA DO VÔMITO O controle dos vômitos (êmese) ocorre em uma área denominada centro do vômito localizada no tronco cerebral, que recebe estímulos de diversas partes do organismo. Podem ser destacadas quatro vias principais: 1. Zona do gatilho quimiorreceptora: localizada no bulbo, 4º ventrículo, (zona postrema). A zona do gatilho receptora é rica em receptores dopaminérgicos (D2) e receptores de serotonina (5- hidroxitriptamina, 5-HT3). 2. O sistema vestibular: é importante na cinetose. Comunica-se através do nervo vestíbulo coclear (VIII nervo craniano). É rico em receptores muscarínicos (AchM) e histamínicos (H1). 3. O sistema nervoso central: desempenha papel importante na geração de vômitos, entretanto, os mecanismos são pouco conhecidos. Distúrbios psiquiátricos, estresse, odores e fatores psicológicos, entre outros, podem desencadear náuseas e vômitos. 4. Nervos aferentes vagais e espinhais do trato gastrintestinal: em Pediatria é a via mais frequentemente envolvida com os vômitos. Os principais receptores envolvidos no mecanismo do vômito no trato gastrintestinal são da neuroquinina, dopamina, colestistoquinina e serotonina (5-hidroxitriptamina), localizados nas terminações vagais aferentes. As células enterocromafins da mucosa gástrica e de todo tubo digestório produzem principalmente serotonina, em consequência de diversos estímulos, que sensibiliza os aferentes vagais. A ativação desses receptores estimula o centro do vômito e a zona do gatilho quimiorreceptora, que são ricos em receptores da serotonina (5-hidroxitriptamina). PRINCIPAIS CAUSAS DE VÔMITO SEGUNDO A FAIXA ETÁRIA - O mecanismo da hernia de hiato gira em torno da compressão; Criança prostada, hipotônica, pele rendilhada; ANAMNESE · Idade · Fatores de risco · História médica (dados recentes) · Duração (horas ou dias) deste o início da doença. Evolução aguda ou crônica · Número de episódios de diarreia ou vômitos e o valor aproximado de fluidos perdidos · Capacidade para ingestão de líquidos · Eliminação de urina e estado de hidratação · Condição neurológica · Horário de ocorrência dos vômitos e se existe relação com as refeições. · Caracterização dos vômitos quanto ao volume e conteúdo (por exemplo, se tem ou não alimentos) · Presença de sangue ou bílis nos vômitos. · Sintomas persistentes ou transitórios? Avaliar tempo entre sintomas. · Sintomas associados (febre, perturbações do trato gastrintestinal, dor abdominal) · Consumo de alimentos nas últimas 24 ou 48 horas e mudanças no hábito alimentar · Uso de medicamentos e alergias conhecidas · História de doença ou cirurgia prévia. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL VÔMITO CAUSAS GASTROINTESTINAIS DE VÔMITOS · Regurgitação do lactente · Doença do refluxo gastroesofágico · Alergia alimentar · Síndromes obstrutivas · Estenose hipertrófica do piloro · Invaginação intestinal · Hérnia encarcerada · Doença de Hirschsprung CAUSAS NÃO GASTROINTESTINAIS DE VÔMITOS Infecciosas: sepse, ITU, meningite Neurológicas: edema cerebral, hematoma subdural, kernicterus Metabólicas e endocrinológicas · Hiperplasia de suprarrenal, · Erros inatos do metabolismo, · Acidose tubular renal SINAIS DE ALARME EM CRIANÇAS COM REGURGITAÇÃO OU VÔMITO · Vômitos biliosos · Sangramento gastrointestinal (hematêmese, hematoquezia) · Diarreia · Distensão abdominal · Febre · Letargia · Vômitos frequentes e em jato · Início dos vômitos após 6 meses de vida · Persistência dos vômitos após 1 ano de idade · Perda de peso ou parada no crescimento · Hepatoesplenomegalia · Abaulamento de fontanela (p. ex. devido ao aumento do perímetro cefálico, meningite, aumento de pressão intracraniana) · Macrocefalia · Microcefalia · Convulsões · Síndrome genético-metabólica · Mal estado geral · Disúria CONCEITOS RGE X DRGE REFLUXO GASTROESOFÁGICO (RGE) · Regurgitações ou “golfadas” que não se associam a redução no ganho de peso ou outras manifestações clínicas · Distúrbio gastrointestinal funcional e dependente da imaturidade funcional do aparelho digestivo no primeiro ano de vida (critérios Roma IV) · Afeta até 60% dos lactentes · Inicia-se antes de oito semanas de vida · Frequência de regurgitações é variável (5% dos lactentes têm seis ou mais episódios de regurgitação por dia). · Aumentam em número e volume entre dois e quatro meses · 90% a 95% dos casos resolvem até o primeiro ano de vida REFLUXO GASTROESOFÁGICO FISIOLÓGICO (REGURGITAÇÃO DO LACTENTE) Critérios de Roma IV Obrigatória a presença das duas seguintes condições em lactentes sadios (3 semanas a 12 meses): 1. Dois ou mais episódios de regurgitação por pelos menos 3 semanas; 2. Ausência de náuseas, hematêmese, aspiração, apneia, déficit de ganho ponderal, dificuldade para alimentação ou deglutição, postura anormal. · Acompanhar a evolução natural com resolução dos sintomas até 12 meses · Tranquilizar os pais e orientá-los quanto aos cuidados ambientais e dietéticos Postural · Permanecer no colo em posição vertical após as mamadas cerca de 20-30 minutos · Dormir em posição supina (barriga para cima) com elevação da cabeceira do berço 30-40 graus ** Alimentação Se aleitamento materno exclusivo: manter aleitamento materno exclusivo · Rever técnica de amamentação, reduzindo a possibilidade de ingestão de ar excessiva. Se em aleitamento misto ou apenas fórmula láctea · Utilização de fórmula espessada (anti regurgitação) · Amidos de milho, de arroz ou de batata, de pH neutro, tornam-se viscosos em pH ácido a 37oC, proporcionados pelo meio gástrico · Fracionamento da dieta Evitar exposição passiva ao fumo (promove uma vasodilatação em um tempo maior do esfíncter esofágico inferior) SINAIS E SINTOMAS QUE PODEM ESTAR ASSOCIADOS COM A DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO – DRGE Não necessariamente, o paciente vai vomitar ou sair pela boca, nesse caso... memo na presençad de esofagite; · Hematêmese · Disfagia e odinofagia · Sibilância e estridor · Esofagite, estenose de esôfago e esôfago de Barrett · Inflamação de laringe ou de faringe · Pneumonia de repetição · Anemia · Erosão dentária · Outras alterações no exame otorrinolaringológico Outras manifestações além das regurgitações : ● Vômitos intensos ● Dificuldades nas mamadas ● Irritabilidade ● Choro intenso ● Alteração na posição cervical ● Deficit de ganho ponderoestaturalAPLV Proteínas: caseína, alfa, -lactalbumina e beta-lactoglobulina DIAGNÓSTICO FÓRMULAS ESPECIAIS NO TRATAMENTO DA ALERGIA ALIMENTAR TRATAMENTO · Possibilidade de Alergia alimentar - exclusão da proteína do LV · Exclusão PLV da dieta materna - aleitamento materno exclusivo (2- 4 semanas) · Fórmula extensamente hidrolisada ou à base de aminoácidos · Antiácidos ou procinéticos deve ser reservado para as situações mais graves após avaliação criteriosa (diretrizes e orientações Sociedades de Gastroenterologia Pediátrica Europeia (ESPGHAN) e Norte-americana (NASPGHAN)) CRIANÇA MAIOR E ADOLESCENTE ● Pirose ● Dor retroesternal ● Dor epigástrica INVESTIGAÇÃO · pHmetria esofágica prolongada de 24 hs · Identifica apenas os episódios de refluxo ácido quantifica a frequência dos episódios de refluxo ácido e sua duração no esôfago distal · permite avaliar se existe associação do registro dos episódios de refluxo ácido com sintomas digestivos e extra digestivos IR índice de refluxo é parâmetro mais importante (ambos abaixo estão na faixa de normalidade;) ● IR<10% no 1º ano de vida ● IR <7% crianças maiores Postural As mesmas para RGE fisiológico Alimentação ● Manter aleitamento materno exclusivo ● Modificação dietética – fórmula espessada – (se aleitamento misto ou apenas com fórmula láctea) ● Fórmula AR anti regurgitação (quando necessário, sem condições de AM) TRATAMENTO FARMACOLÓGICO • Se não for manifestação clínica de alergia alimentar e falha terapêutica com medidas posturais e uso de fórmula anti refluxo • IBP 🡪 p. ex: Omeprazol 1-2mg/kg/dia cedo em jejum (30min antes da mamada da manha): ciclo de 4-8 semanas CRIANÇAS MAIORES E ADOLESCENTES ● Se condição de sobrepeso ou obesidade – recomendação de perda de peso ● Elevação de decúbito durante o sono ● Evitar se alimentar antes de deitar (mínimo de 2 horas) ● Evitar alimentos ácidos - chocolates , frituras, café e bebidas cafeinadas, refrigerantes , apimentados , alimentos ácidos, a base de tomate ● Evitar consumo cigarro, álcool Medicamentoso 1. Prócineticos - Não devem ser usados de rotina 2. Inibidores ou neutralizadores da secreção ácida: Antagonistas dos receptores de histamina (ARH2s): Ranitidina (retirado do mercado) 3. Antiácidos e alginatos: Podem melhorar regurgitações, e /ou vômitos em lactentes curto período 4. Inibidores da bomba de prótons (IBPs) - esofagite. Melhor resposta em relação ao uso de inibidor de receptor H2 Dose alvo omeprazol 1-2,3mg/kg/dia Preferir otimizar dose 1x ao dia. ANTIEMÉTICOS TRATAMENTO DE CRISE ESTENOSE HIPERTRÓFICA DE PILORO Figura 1 - Sinal de Oliva pilórica ATRESAIA DUODENAL · Distensão gástrica, ausência de ar nas demais alças intestinais; · Sub oclusão alta: distensão gástrica, ausência de ar nas demais alças intestinais · Após EED: Redução de calibre da 1ª porção duodenal, caracterizando área de estenose Sinal da dupla bolha INTUSSUSCEPÇÃO INTESTIAL Figura 2 - Intussuscepção em uma criança devido a um pólipo no sigmoide US mostra a imagem em alvo da intussuscepção colocolica (set vermelha) A sequência das 4 imagens demonstra a redução da alça interrompida na projeção da flexura hepática. A criança recebeu alta após 3 dias na sequência do sucesso da redução da invaginação e retorno da função intestinal. CAUSAS DE VÔMITOS AGUDOS Infecciosas: gastroenterite, infecções respiratórias, meningite,hepatite Doenças gastrointestinais: úlcera péptica, apendicite, pancreatite Síndromes obstrutivas: estenose esofágica adquirida, invaginação intestinal, hérnia encarcerada, aderências pós cirurgia Neurológicas: hipertensão intracraniana CONSIDERAÇÃO FINAIS • Vômitos são umas das principais queixas gastrointestinais em consultório de pediatria • Refluxo gastroesofágico fisiológico🡪 principal síndrome associado à vômitos crônicos ( Curso benigno, sem necessidade de tratamento farmacológico) • Saber diferenciar em lactentes: DRGE x APLV • Tratamento não farmacológico para refluxo🡪 primeira linha • Sempre pensar em outras causas: Gastrointestinais x Não Intestinais • Curso benigno com bom prognostico na maioria dos casos
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