Buscar

Aula 2 - A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
A constituição das políticas públicas, a função e as características dos serviços de saúde
mental no Brasil.
PROPÓSITO
O tratamento da pessoa com sofrimento psíquico grave, em liberdade e integrada na
sociedade, é complexo e desafiador, pois envolve diversos atores e áreas de atuação que
precisam atuar de forma complementar e seguir os valores antimanicomiais. O conhecimento
de todos os desafios envolvidos e das possibilidades existentes é fundamental para a prática
ética e eficiente dos profissionais inseridos no contexto de saúde mental.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os principais valores da reforma psiquiátrica no Brasil
MÓDULO 2
Aplicar os fundamentos do acompanhamento do paciente em exemplos concretos
MÓDULO 3
Reconhecer o funcionamento dos diferentes dispositivos da saúde mental pública
MÓDULO 4
Avaliar a importância e as peculiaridades dos serviços residenciais terapêuticos
INTRODUÇÃO
Ao trabalhar com saúde mental pública, você vai se deparar com uma realidade muito diferente
da que possa estar imaginando ou da representada em alguns filmes. Atualmente, o tratamento
das pessoas com transtornos mentais graves é realizado em liberdade.
A partir da década de 1970, houve uma mudança importante no mundo todo em relação ao
tratamento de pessoas com transtorno mental grave. Tendo iniciado na Itália, um movimento,
conhecido como psiquiatria democrática, se expandiu para diversos outros países.
No Brasil, esse movimento se associou à redemocratização do país e ao movimento
sanitarista, o que culminou na criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Aliada ao ideal de
libertação das pessoas, que até então ficavam fechadas em manicômios por décadas, essa
mobilização ansiava por melhores condições de trabalho para os profissionais da saúde
pública.
MÓDULO 1
 Identificar os principais valores da reforma psiquiátrica no Brasil
MARCOS NORMATIVOS IMPORTANTES NA
SAÚDE MENTAL
MUDANÇAS HISTÓRICAS NO TRATAMENTO DAS
PESSOAS COM TRANSTORNO MENTAL
A sociedade vai se modificando com a passagem do tempo. Pense na sua vida há dez anos: a
cultura e as tecnologias eram muito diferentes.
Na década passada, todos nós, em vários aspectos, pensávamos de forma muito diferente se
compararmos com a maneira como entendemos as coisas hoje em dia. É só observar os
programas de televisão, por exemplo, ou os filmes nos cinemas.
Nossas concepções também mudam: basta refletir que se nota que a consciência ambiental
das pessoas se desenvolveu bastante nos últimos anos. Também se modificou a forma como
nós tratamos os outros seres humanos.
 EXEMPLO
Antigamente, a aplicação de castigos físicos por pais e educadores era muito comum. Contudo,
atualmente, acreditamos não haver a necessidade desse tipo de disciplina – e até a achamos
prejudicial na criação das crianças e jovens.
Outro exemplo de mudança histórica é o destino das pessoas com grave sofrimento psíquico.
Atualmente, entendemos que alguém que sofre com um transtorno mental está doente, mas
não foi sempre assim.
No século XVIII, comportamentos desatinados e estranhos das pessoas chamadas de “loucas”
foram finalmente entendidos como doença mental por uma área do conhecimento conhecida
como alienismo. Posteriormente, essa área se tornou a especialidade médica denominada
psiquiatria (FOUCAULT, 2012).
 Ilustração de hidroterapia praticada em pacientes alienados. Paris, 1868.
TRATAMENTO MORAL
Em seu início, a psiquiatria utilizava um “tratamento moral” para tentar resolver as doenças
mentais, sendo ele aplicado com o paciente internado. Esse “tratamento” não utilizava
medicamentos ou qualquer forma de terapia como nós entendemos hoje em dia, e sim castigos
e rigidez disciplinar. Acreditava-se que, com isso, seria possível modificar o comportamento da
pessoa com transtorno mental para que ela passasse a agir de forma “normal” (FOUCAULT,
2012).
 SAIBA MAIS
O tratamento moral era realizado em manicômios, os quais, em seguida, seriam chamados de
hospitais psiquiátricos. Essas instituições eram fechadas e estavam afastadas dos grandes
centros, pois se entendia que os doentes mentais não poderiam conviver em sociedade.
Imagine alguém sofrendo com alterações mentais, tendo pensamentos que invadem sua
cabeça, uma convicção em ideias absurdas ou tão desanimada que mal consegue sair da
cama ou cuidar de si mesma. Agora suponha que essa pessoa seja colocada em internação
em um quarto de hospital longe da cidade onde ela vivia e que seu contato com todos fora da
instituição seja cortado.
Por fim, pense em um cotidiano totalmente controlado dentro desse hospital. Você acredita que
essa pessoa melhoraria ou pioraria seu transtorno mental? Se respondeu “pioraria”, você
acertou.
No entanto, os profissionais que acompanhavam as pessoas internadas nos manicômios
acreditavam que essa piora se devia à doença, e não ao ambiente. Posteriormente, foi dado
um nome a essa condição: institucionalização.
 
REFORMA PSIQUIÁTRICA
A situação começou a mudar quando alguns profissionais, no século XX, começaram a
modificar o tratamento, enfatizando as atividades em grupo dentro dos hospitais psiquiátricos
(BIRMAN; COSTA, 2014). Isso propiciou aos pacientes mais convivência e autonomia. Ambas
foram consideradas terapêuticas e levaram a uma melhora das condições de saúde mental
deles.
Porém, somente na década de 1970, com Franco Basaglia, na Itália, começou o movimento
pelo tratamento em liberdade, fora dos muros dos manicômios. Com sua experiência piloto em
um hospital da cidade de Gorizia, Basaglia (2014) utilizou certos fundamentos em sua
reorganização do funcionamento da instituição. Vejamos os mais importantes:
Utilização de medicações que permitiam eliminar as contenções físicas.
Reeducação teórica e humana dos profissionais.
Restabelecimento de vínculos com o exterior.
Destruição de barreiras físicas.
Abertura das portas.
Com isso, foi criada uma rotina: os pacientes poderiam ficar até mais tarde na cama, alimentar-
se quando quisessem e circular por espaços antes fechados. Isso também levou a uma recusa
da hierarquia e da opressão sofrida por eles lá dentro. Com isso, nascia a psiquiatria
democrática.
 ATENÇÃO
O ponto principal da psiquiatria democrática é o tratamento em liberdade, extramuros, fora do
manicômio. A partir dessa visão, entendeu-se que não adianta tornar o hospital psiquiátrico
mais humanizado, mais confortável ou com tratamentos mais eficazes em seu interior. A
segregação não é terapêutica e viola os direitos humanos da pessoa com transtorno mental.
A reforma psiquiátrica pode ser entendida como o movimento de tornar mais humanizado o
tratamento das pessoas com transtorno mental, reinserindo-as na sociedade e acabando com
o tratamento fechado em manicômios. Desse modo, o tratamento da pessoa com tal transtorno
mudou muito desde o surgimento da especialidade da Medicina que entendia a loucura como
uma doença mental.
Dois séculos depois, percebeu-se que o tratamento realizado com isolamento e exclusão em
manicômios era prejudicial. Teve início, com isso, um movimento de reforma psiquiátrica.
 
O INÍCIO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO
BRASIL
O Brasil, como diversos países do mundo, possui uma história marcada por tratamentos
desumanos em relação ao tratamento das pessoas com transtornos mentais. A longa
permanência de internados em condições insalubres levou a dezenas de milhares de mortos
por décadas a fio até que houvesse um levante contra o que já foi chamado de “holocausto
brasileiro”.
Agora vamos entender como o movimento de mudança dessa triste realidade começou no
país. O maior consenso em relação ao marco inicial da reforma psiquiátrica foi o processo de
redemocratização do país, no final da década de 1970, que incentivou outros movimentos
sociais. Um fator que é considerado o estopim para a reforma foi a deflagração de uma greve
pelos trabalhadores da saúde mental devido às condições precárias de trabalho (AMARANTE,
2016).
A pauta inicial de reinvindicaçõesgirou em torno da regularização da situação trabalhista,
aumento salarial, redução do número excessivo de consultas por turno de trabalho, críticas à
cronificação do manicômio e ao uso do eletrochoque, por melhores condições de assistência à
população e pela humanização dos serviços. O movimento seguiu por meio da presença em
Congressos de Saúde Mental em âmbito nacional e na incorporação de seus militantes no
serviço público (AMARANTE, 2016).
 SAIBA MAIS
Chamada de “eletrochoque”, a eletroconvulsoterapia é uma forma de tratamento utilizada até
hoje em casos de depressão ou psicose em pacientes que não melhoram com o uso de
medicações e quando isso representa um risco para eles. No entanto, ela é um tratamento
muito criticado por pessoas da luta antimanicomial, pois, além de extremamente invasivo,
causa efeitos colaterais significativos, como perda de memória recente. A eletroconvulsoterapia
foi utilizada durante muito tempo de maneira errada, funcionando como forma de castigo nos
manicômios.
Outro fator importante no contexto em que se situa o surgimento da luta antimanicomial foi a
batalha pela garantia de uma assistência de saúde pública e de qualidade. Denominada
reforma sanitária, tal luta levou ao surgimento do SUS.
No meio dessas reivindicações por melhores condições de trabalho na saúde mental e da
criação de uma saúde pública para todos, surgia ainda a luta contra todos os tipos de maus-
tratos sofridos pelos pacientes nos manicômios. Ela foi estimulada por denúncias das terríveis
condições sofridas por essas pessoas.
 
LEI Nº 10.216 – LEI DA REFORMA PSIQUIÁTRICA
Em 1989, é apresentado o projeto de lei que viria a ser conhecido como a Lei da Reforma
Psiquiátrica. Quais eram os itens mais importantes a serem garantidos por essa lei?
Vamos enumerá-los a seguir:
Diminuir os leitos em hospitais psiquiátricos.
Investir em dispositivos que tratassem fora dos manicômios.
Impedir a internação feita de forma arbitrária.
A lei foi homologada somente no ano de 2001 como Lei nº 10.216/2001 (BRASIL, 2004a).
Porém, antes disso, já havia portarias ministeriais que regulamentavam os serviços, por
exemplo, os centros de atenção psicossocial.
Um dos aspectos mais significativos da Lei nº 10.216 é sua garantia dos direitos da “pessoa
portadora de transtorno mental”. Destacaremos adiante alguns dos direitos mais importantes
garantidos por essa lei federal para as pessoas acometidas de transtorno mental:
Os direitos e a proteção dessas pessoas são assegurados sem qualquer forma de
discriminação.
Direito de ser tratado com humanidade e respeito, e de acordo com suas necessidades,
pelo que o sistema de saúde tenha melhor a oferecer.
Direito de ser tratado visando unicamente ao benefício de sua saúde, tendo como
objetivo alcançar sua melhora por meio da reinserção do paciente na família, no trabalho
e na comunidade.
Direito a esclarecimento médico relacionado a assuntos pertinentes à internação
involuntária.
Direito de ser informado ao máximo em relação à sua doença e a seu tratamento.
Direito de que seu tratamento se dê por meios minimamente invasivos tanto em ambiente
terapêutico quanto em serviços comunitários.
As pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser
realizadas sem o consentimento expresso do paciente ou de seu representante legal.
Percebe-se que a lei busca garantir direitos até então negados às pessoas que sofrem de
transtornos mentais. Também é possível notar uma preocupação com a transparência do
atendimento: todo o tratamento, afinal, tem de ser esclarecido ao paciente.
 ATENÇÃO
Ao trabalhar com o público que sofre com transtornos mentais, é preciso conhecer os
fundamentos do que se concebe atualmente como o tratamento mais indicado. A ideia na qual
se baseia essa lei é a utilização de locais comunitários e descentralizados de centros de saúde,
permitindo, assim, uma maior integração ao território.
TERRITÓRIO
O termo “território” aqui faz referência à territorialização do SUS. Esse fato permite a
organização dos serviços oferecidos segundo as necessidades do território, pois entende-se
que são os serviços de saúde que devem se adequar às necessidades da população.
Você pode estar pensando agora: essa lei prevê o fim dos hospitais psiquiátricos? A
resposta é não. No entanto, a Portaria GM nº 52, de 2004, prevê a diminuição progressiva dos
leitos psiquiátricos.
Com essa redução, os recursos que mantinham esses leitos seriam redirecionados para os
dispositivos de atenção psicossocial extra-hospitalares, como os centros de atenção
psicossocial, os quais, aliás, estudaremos posteriormente (BRASIL, 2004a).
Dessa forma, a Lei nº 10.216 garante a interrupção da violação de direitos ocasionada pela
forma como a psiquiatria vinha intervindo na vida das pessoas com transtorno mental ao longo
de dois séculos. Mais do que o tratamento em liberdade, ela pretende ratificar, na verdade, a
javascript:void(0)
cidadania a todos que possam ser vítimas do poder médico no âmbito da saúde mental. A
legislação deve servir de base para uma nova forma de se pensar o acompanhamento com o
paciente com transtorno mental.
 
PORTARIA Nº 148 E O SERVIÇO HOSPITALAR DE
REFERÊNCIA PARA ATENÇÃO A PESSOAS COM
SOFRIMENTO MENTAL
Outra legislação que vale a pena mencionar aqui é a Portaria nº 148, de 2012, que
regulamenta os leitos de internação. Esses leitos são chamados de serviço hospitalar de
referência para atenção a pessoas com sofrimento mental e necessidades decorrentes do uso
de crack e outras drogas.
Sua função principal é preservar a vida e garantir a continuidade do cuidado pelos outros
serviços da rede de atenção psicossocial (BRASIL, 2012). Ou seja, esse serviço deverá ser
utilizado em casos de risco para o paciente ou outras pessoas no seu entorno até que a
situação seja estabilizada e se torne possível continuar o acompanhamento pelos outros
dispositivos.
Uma diretriz a ser destacada dos serviços hospitalares é a sua integração à RAPS, pois eles
precisam funcionar em articulação e corresponsabilidade com os outros serviços, não
operando como uma instituição separada ou deslocada.
Os serviços que compõem a RAPS não são somente os dispositivos específicos de saúde
mental, e sim todos os serviços de saúde que devem acompanhar as pessoas com transtorno
mental, como as unidades básicas de saúde e os hospitais.
É claro que os serviços hospitalares de internação funcionam 24 horas por dia e 7 dias por
semana. A portaria também estabelece que as internações devem ser de curta duração. É
importante salientar que certas demandas clínicas podem exigir um atendimento em unidades
hospitalares mais complexas.
Falaremos adiante da internação, recurso que ainda deve ser usado em situações mais graves.
Contudo, já cabe salientar que ele é utilizado de forma muito diferente das internações
ocorridas antes da reforma psiquiátrica. A principal diferença é que, hoje em dia, elas são de
curta permanência, enquanto antes se internava o paciente por anos – e até mesmo por
décadas.
DO HOLOCAUSTO BRASILEIRO ÀS
POLÍTICAS ANTIMANICOMIAIS
Vamos refletir a seguir sobre a triste história do holocausto brasileiro, o qual, em grande parte,
motivou as transformações alcançadas pelas políticas antimanicomiais e os serviços oferecidos
pela RAPS na atualidade.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Mudanças históricas no tratamento das pessoas com transtorno mental
Lei nº 10.216 – Lei da Reforma Psiquiátrica
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Aplicar os fundamentos do acompanhamento do paciente em exemplos concretos
PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR, A
ATUAÇÃO INTERDISCIPLINAR E FAMÍLIA
COMO PROTAGONISTA NO CUIDADO
PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR
Quando acompanhamos uma pessoa que faz tratamento na saúde mental, temos de traçar um
plano de trabalho com ela. Esse planejamento é denominado projeto terapêutico singular
(PTS).
Primeiramente, precisamos entender que uma pessoa que sofre com transtornos mentais não
precisasomente de medicamentos ou de psicoterapia. Ela pode ter diversos problemas
diferentes na sua vida que requeiram algum cuidado, como necessidade de renda para
sobreviver. Além disso, essa pessoa pode sofrer de outra doença e não conseguir acessar os
serviços especializados para se tratar.
Mas você pode estar pensando: tais problemas precisam ser atendidos apenas pelo serviço
social ou também pelas unidades básicas de saúde e pelas policlínicas da cidade?
A questão é que, como já vimos, a pessoa com transtorno mental historicamente era uma
excluída da sociedade, sofrendo um enorme preconceito em diferentes ambientes. Vai ser
necessário, portanto, todo um trabalho de inclusão social para mudar esse cenário.
O PTS é um instrumento que busca atender a todas essas demandas do usuário na rede de
serviços públicos. Ele se constitui de uma série de ações que, construída em conjunto com o
usuário, tem como finalidade a melhoria de sua qualidade de vida nas diferentes esferas da
vida: física, mental e social.
 ATENÇÃO
A pessoa que busca e necessita do centro de atenção psicossocial não é vista somente como
um paciente, ficando passivo frente à oferta de cuidados, mas também como um usuário
protagonista de sua vida e cidadão portador de direitos e voz política. Por isso, é importante
que o PTS seja elaborado com o usuário do serviço e busque satisfazer às demandas de todas
as esferas que compõem sua vida.
AÇÕES QUE COMPÕEM O PTS
O PTS não deve se concentrar somente na saúde do usuário do serviço, mas também buscar
reintegrá-lo na sociedade e evitar que seus direitos sejam violados.
Mas, afinal, que ações podem compor um PTS? Eis alguns exemplos (BRASIL, 2004b):
Inclusão em atividades no CAPS, como convivência e oficinas (de esporte, de música,
expressiva ou de geração de renda).
Atendimento psicoterápico individual ou em grupo.
Realização de visitas domiciliares (VD) para avaliação do entorno e do contexto social no
qual o paciente está inserido.
Atendimento aos familiares do paciente em reuniões de família ou em consultas
específicas.
Auxílio para obtenção de benefícios governamentais, como benefício de prestação
continuada, Minha Casa, Minha Vida ou auxílio-doença.
Inserção do usuário em atividades no próprio bairro ou nas proximidades para vinculá-lo à
sua comunidade e ao suporte que ela pode oferecer.
Ações em conjunto com a atenção primária ou a rede de assistência.
Cada PTS será elaborado com um conjunto variado de ações. Todo projeto terapêutico é único,
pois cada caso apresenta suas especificidades, isto é, cada pessoa é singular e precisa ser
atendida sem nenhuma ideia preconcebida.
Após a elaboração do projeto terapêutico, o que acontece? Devemos acompanhar se as ações
propostas tiveram o efeito esperado. Essa avaliação periódica do PTS serve para saber se ele
é adequado e se está sendo eficiente para atender e resolver as demandas às quais se propôs.
ATUAÇÃO INTERDISCIPLINAR
Como já apontamos, a pessoa em tratamento na saúde mental possui diversas necessidades
além da estabilização de seu quadro de transtorno mental. Ela pode estar passando por
problemas sociais, como dificuldades financeiras e de moradia, ou ter problemas motores que
prejudicam sua autonomia, por exemplo.
Por isso, entendemos que o ser humano precisa ser visto como alguém constituído de
diferentes dimensões (biológica, psicológica, social e histórica). Seu tratamento, assim, tem de
levar em conta todas essas esferas.
Para dar conta do ser humano integralmente, o trabalho nos CAPS é realizado por uma equipe
multidisciplinar na qual nenhuma especialidade possui qualquer tipo de protagonismo ou
superioridade hierárquica. Antes da reforma psiquiátrica, salientamos, o poder médico era
exercido de forma absoluta.
Ainda temos a tendência de buscar prioritariamente um médico ou um psicólogo quando
precisamos cuidar de um transtorno mental. Porém, como enfatizamos, os problemas das
pessoas nos serviços de saúde mental pertencem a campos muito variados.
 EXEMPLO
Questões sociais, ocupacionais e jurídicas.
ESPECIALIDADES
É claro que, se uma pessoa tem um problema específico de certa área, ela precisa de um
profissional especializado no assunto. Por isso, não podemos desprezar o conhecimento do
especialista.
Mas existem diversas tarefas que todo profissional no CAPS pode fazer, como elaborar um
PTS. Já outras coisas, como receitar uma medicação, somente o médico pode realizar.
 ATENÇÃO
O campo da saúde mental é muito complexo e plural, demandando um intercâmbio intenso de
diversos saberes para a realização de um trabalho efetivo e de qualidade.
Também temos questões que não podem ser resolvidas somente com a equipe do CAPS, por
mais variada que ela seja. Por vezes, é preciso que o paciente acesse serviços da assistência
social ou da Justiça – e assim por diante.
Por conta disso, o acompanhamento não pode ser feito de forma centralizada no CAPS. Deve
haver a atuação conjunta de toda a rede de serviços de saúde, de assistência social, de
educação e de cultura, entre outros, que possam auxiliar nos cuidados e na reinserção social
da pessoa com transtorno mental.
Dessa forma, o atendimento à pessoa com transtorno mental deve ser realizado de forma
integral, isto é, não fragmentada, levando-se em conta que as diversas dimensões da pessoa
se influenciam mutuamente e não podem ser tratadas de forma separada.
PAPEL DA FAMÍLIA NO ACOMPANHAMENTO
Na época das internações de longa permanência, a pessoa com transtorno mental era retirada
da sociedade e separada de sua família. Atualmente, nosso modelo de tratamento prevê que o
acompanhamento em um CAPS tem de ocorrer em parceria com as famílias (BAGNOLA;
SOUZA, 2007).
Mas deve-se ter cuidado ao abordar as famílias dos usuários dos serviços de saúde mental. É
preciso evitar uma vertente que as culpe pelos problemas dos pacientes, assim como não
devemos responsabilizá-las por todo o cuidado com eles.
Muitas vezes, o surgimento e a presença de uma pessoa com transtorno mental na família
causam uma reestruturação no funcionamento familiar. O paciente pode requerer maior
vigilância ou – sendo até então alguém produtivo – estar incapacitado para o trabalho. Desse
modo, é importante entender como a família vê esse membro, que sofre com todas as
implicações de um transtorno mental, o qual, em muitos casos, é incapacitante.
 
QUAL É, ENTÃO, O OBJETIVO DO TRABALHO
COM OS FAMILIARES?
Pode-se dizer que ele visa a auxiliar na relação e na gerência do paciente no cotidiano,
gerando uma melhor cooperação, diminuindo os fatores que podem levar a um conflito
intrafamiliar e incentivando a participação de todos no tratamento.
 ATENÇÃO
É importante destacar que o acompanhamento da pessoa com transtorno mental deve ser feito
com a família, pois entende-se que os familiares podem tanto auxiliar como prejudicar o estado
do paciente. O atendimento técnico a eles pode ter como consequência uma mudança positiva
na atitude da família como um todo em relação ao usuário do serviço.
Ao receber a família de um paciente no serviço, é necessário algum tipo de atividade que a
envolva no tratamento para intermediar suas relações no núcleo familiar ou para obter outro
tipo de informação sobre ele. Ainda é essencial disponibilizar um espaço de escuta para os
familiares dentro do serviço para que também exista um momento para o sofrimento deles, do
cuidador e dos envolvidos, destacam Bagnola e Souza (2007).
Muitas vezes é a família que primeiramente busca o tratamento, pois a pessoa com transtorno
mental pode não ter consciência de seu estado alterado. Com isso, o próprio paciente pode
não frequentar o CAPS. Nesses casos, o trabalho realizado em conjunto com o familiar pode
auxiliar ou ser o único vínculo entre a pessoa com transtorno mental e o serviço de saúde
mental.
Agora você pode estar pensando que é muito pesado para um só profissional acompanhar o
paciente e toda sua família. Por conta disso, é recomendadoque o acompanhamento dos
familiares do usuário seja feito por um funcionário diferente daquele que acompanha o próprio
usuário. Além de dividir a carga do caso, o vínculo e a confiança podem ser comprometidos
quando o acompanhamento é feito a ambos, pontuam Bagnola e Souza (2007).
Desde o início, temos visto que a ideia mais atual do acompanhamento de pessoas com
transtorno mental é o tratamento feito em liberdade. Isso significa que ele preferencialmente vai
estar em casa ao longo desse processo.
Então, mesmo que seu quadro de transtorno mental fique agudo, ele terá de ser – de modo
preferencial, insistimos – tratado da seguinte forma: o paciente vai ao serviço, mas tem de
voltar para sua residência todos os dias. Com isso, a família precisa ser esclarecida sobre seu
papel de apoio e orientada a como cuidar do paciente, além de ter suas angústias acolhidas e
elaboradas em um trabalho profissional eficiente.
Muitas vezes, os transtornos mentais mais graves são crônicos. Isso quer dizer que não existe
cura, mas somente o tratamento. O acompanhamento feito de forma eficiente permite que esse
quadro fique estabilizado.
Porém, no momento que chamamos de “crise”, a situação se desestabiliza. Resultado: pode
haver alterações capazes de representar um risco para a própria pessoa ou para os outros.
 
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
Um dos conceitos que perpassa todo o pensamento da reforma psiquiátrica é o de
desinstitucionalização, que pode ser entendido como “desconstrução” da ideia tradicional de
que os transtornos mentais devem ser tratados somente com a internação nos hospitais
psiquiátricos (AMORIM; DIMENSTEIN, 2009, p. 196).
Essa tendência “manicomial” não está presente somente nos hospitais psiquiátricos, mas
também em toda a nossa cultura. É muito comum a tendência de patologizar o diferente,
excluir o disforme e segregar o que vai contra as normas e os valores com os quais estamos
acostumados.
Por isso, a luta antimanicomial é muito mais do que simplesmente retirar os internos dos
hospitais psiquiátricos: é necessária uma mudança cultural mais ampla. Uma parte importante
da desinstitucionalização é a consciência de que os transtornos mentais podem não ser
curados no mesmo sentido que as outras doenças.
É por isso que utilizamos o termo “transtorno” no lugar de “doença. Não há uma causa
definida para os transtornos mentais; então, tampouco existe uma medicação ou outra
ferramenta que resolva esse problema de forma definitiva.
Na saúde mental, trabalhamos com o conceito de redução de danos. Trata-se de um termo
mais conhecido no trabalho com as pessoas que sofrem prejuízos com o uso de álcool e de
outras drogas.
Ao atender um dependente químico, não se utiliza a abstinência (ou a interrupção do uso de
substâncias psicoativas) como critério de inclusão e continuidade no tratamento, cujo objetivo,
em qualquer caso de transtorno mental, é diminuir os prejuízos que ele causa à vida da
pessoa, e não a eliminação completa das alterações. Como não existe um local que resolva
definitivamente o transtorno mental, a pessoa terá de ser acompanhada dentro do território
onde vive e estabelece seus vínculos.
Território é um conceito que não é definido como uma região geográfica, mas pelas pessoas
que o compõem e por suas relações (BRASIL, 2004b).
 ATENÇÃO
Um ponto importante do trabalho do território é a construção de uma rede de serviços e de
pessoas que possam dar o suporte às necessidades da pessoa com transtorno mental.
Ao trabalhar em rede, entende-se que não existe um centro ou um elemento de destaque em
importância. Todos as pessoas envolvidas no cuidado são essenciais. Da mesma forma,
nenhum serviço é mais importante que os outros.
Os centros de atenção psicossocial, que vamos conhecer no próximo módulo, podem ser a
referência no atendimento à pessoa com transtorno mental, mas, entre outros, eles dependem
de outros serviços de saúde, das instituições não governamentais (ONGs), da família, dos
órgãos da educação e da assistência social.
A responsabilidade pela reinserção social da pessoa em sofrimento psíquico grave não deve
ficar restrita a certos espaços. Ela precisa ser difundida por toda a cultura, o que permite uma
javascript:void(0)
mudança na tendência de impedir a livre circulação e o acesso a certos espaços por quem
sofre com transtornos mentais.
IMPLICAÇÕES DO CONCEITO DE
REDUÇÃO DE DANOS E OS CENTROS DE
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Vamos refletir a seguir sobre a ideia de cura no caso dos transtornos mentais, além de explicar
o conceito de redução de danos e a filosofia de atendimentos nos CAPS. Confira!
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Projeto terapêutico singular
Papel da família no acompanhamento
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
(CAPS), ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E
ATENÇÃO BÁSICA
CARACTERÍSTICAS DOS CENTROS DE
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 
MÓDULO 3
 Reconhecer o funcionamento dos diferentes dispositivos da saúde mental pública
Como já pontuamos, as pessoas que sofrem com transtornos mentais possuem necessidades
de tratamento que vão além de questões da saúde propriamente dita. Muitas possuem
dificuldades de convívio ou de inserção social.
Por isso, os centros de atenção psicossocial não devem ser apenas dispositivos de saúde.
Eles, na verdade, precisam ser espaços aonde os usuários do serviço também vão para
conviver com outros e exercer sua cidadania.
Para isso, esses serviços devem ser acolhedores e não reprimir a singularidade dos usuário,
para que as pessoas com transtornos mentais possam apresentar supostos comportamentos
bizarros e discursos delirantes sem o medo de sofrer represálias ou preconceitos.
 
TIPOS DE CAPS
Os CAPS podem variar em três níveis de acordo com o número de habitantes:
CIDADES MENORES (ENTRE 15.000 E 70.000
HABITANTES)
Os CAPS I atendem a toda a demanda de saúde mental desses municípios.
CIDADES MEDIANAS (ENTRE 70.000 E 150.000
HABITANTES)
Atuam os CAPS II, que têm mais dois subtipos: CAPSi (para atendimento infantojuvenil) e
CAPS-ad (para atender a população que sofre com o uso de álcool ou outras drogas).
CIDADES COM MAIS DE 150.000 HABITANTES
Contam com os CAPS III e CAPS ad III. Esses dispositivos podem funcionar 24 horas por dia,
ter vagas para acolhimento noturno e atender a todas as faixas etárias.
A divisão em subtipos de CAPS busca melhorar o atendimento a demandas específicas de
cada público, além de especializar o serviço. Imagine que você consiga uma vaga no serviço
público e que sua lotação seja em um serviço de tratamento para dependentes químicos. Ou
pode ser que você vá para um local de atendimento infantil.
São duas situações bastante diferentes, não é verdade? Dependendo da situação, você vai
precisar se especializar em um assunto ou no outro. Por conta disso, o CAPS infantojuvenil
(CAPSi), por exemplo, se dedica aos casos mais comuns que acometem as pessoas menores
de idade, trabalhando mais de perto com os conselhos tutelares.
Os profissionais que atuam no CAPSi vão precisar conhecer a fundo o Estatuto da Criança e
do Adolescente e as principais psicopatologias da infância. Por outro lado, quem trabalha em
um CAPSad tem de conhecer amplamente o universo da dependência química e das
substâncias psicoativas. Todos os serviços da saúde mental, porém, seguem os fundamentos
da reforma psiquiátrica, como vimos na primeira parte de nosso estudo.
 
ESTRUTURA FÍSICA
COMO DEVE SER UMA ESTRUTURA FÍSICA DE UM CAPS?
Você pode estar pensando que isso não é tão importante. O CAPS, afinal, pode funcionar em
qualquer tipo de casa – contanto que tenha salas de atendimento, como um consultório.
Porém, conforme já verificamos, o acompanhamento do paciente em um CAPS vai além do
cuidado com sua saúde. A pessoa com transtorno mental tem de ser atendida levando-se em
conta todas as esferas de sua vida. O ser humano, afinal, deve ser visto como um ser
biopsicossocial e histórico.
Com isso, o ambiente do CAPS (BRASIL, 2004b) precisa ter:
Espaços de convívio social.Áreas para atividades dos mais diversos tipos (chamadas de “oficinas”).
Refeitório para os pacientes que precisam passar o dia lá.
Sanitários e salas para atendimentos.
 ATENÇÃO
O CAPS não deve tornar o paciente dependente do serviço. As atividades internas do serviço
precisam resolver as demandas do usuário para que ele consiga conviver na sociedade de
forma mais satisfatória.
Apesar da estrutura abrangente, a equipe não deverá ficar restrita ao CAPS se quiser atender
a todas as demandas do usuário. É preciso, em suma, atuar com toda a RAPS, os serviços de
assistência social, a rede de educação e quaisquer outras instituições que possam auxiliar na
melhoria da saúde mental e da qualidade de vida da pessoa atendida.
Em resumo, cada CAPS varia de acordo com o tamanho da cidade. Nas medianas ou grandes,
existe a subdivisão em três tipos de CAPS (de transtornos mentais de adultos, infantojuvenil e
de transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas). Cada tipo precisa cuidar de
seus pacientes em todas as dimensões relacionadas à sua existência sem deixar de estimular
a autonomia deles.
 
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Uma pessoa procura um CAPS quando está sofrendo por causa de um transtorno mental
próprio ou de outra pessoa. Esse sofrimento não precisa ser somente da esfera mental: ele
também pode ser social ou um problema físico.
A causa desse sofrimento muitas vezes é consequência da exclusão social que a pessoa com
transtorno mental sofre em nossa sociedade. Mesmo alguém sem esse tipo de transtorno pode
ter um sofrimento psíquico devido a uma situação de preconceito.
A ausência de recursos materiais, o preconceito, os conflitos familiares e a falta de acesso à
educação e à cultura já fazem sofrer uma significativa parcela da população. Todos esses itens
deixam mais grave ainda a situação de quem tem um transtorno mental.
Por isso, a atenção psicossocial deve levar em conta todo o entorno e o contexto no qual o
paciente está inserido. O PTS tem de contemplar todas essas esferas da vida da pessoa em
questão. No entanto, isso não quer dizer que a equipe do CAPS vai resolver os problemas da
vida das pessoas por elas.
 ATENÇÃO
O objetivo do acompanhamento do paciente é estimular a autonomia e o protagonismo do
usuário para evitar ações que estimulem a dependência, a submissão e a incapacidade da
pessoa em ser responsável por si mesma.
Outro ponto que já mencionamos é que o trabalho da atenção psicossocial não deve ficar
restrito a espaço do CAPS. É preciso lutar pelo fim das fronteiras que impedem o livre fluxo das
pessoas com transtornos mentais na sociedade.
Não pode existir um local específico para que as pessoas frequentem. Tampouco deve haver
impedimentos para uma pessoa com transtorno mental visitar certos locais por conta do
preconceito, por exemplo. Nosso trabalho na saúde mental também inclui, portanto, modificar a
consciência das pessoas em relação a esse problema.
 
ALÉM DA CLÍNICA
É importante entender que o trabalho clínico muitas vezes pode se assemelhar a um controle
social em vez da busca pela autonomia e independência das pessoas. Afirmar que o outro
precisa de ajuda, afinal, pode configurar uma forma de interferir, aliciar, tutelar, dominar etc.
Por isso, a atenção psicossocial precisa encontrar o delicado equilíbrio entre dar suporte sem
retirar a possibilidade de escolha do sujeito.
É preciso observar atentamente que existe o perigo de tornar o espaço interno dos CAPS
excludente e manicomial.
Isso pode acontecer na oferta de atividades que nada mais são do que meros “passatempos”.
Além desse fato, a tendência em serviços do tipo é a de ser um ambulatório com atividades
diversas, embora lhes falte a produção de cultura e de práticas inovadoras, assim como um
trabalho político.
É necessário ir além da produção de saúde ao se acompanhar o paciente na saúde mental.
Tendo isso em vista, a reinserção social e a atividade como cidadão devem ser estimuladas e
auxiliadas.
Deve-se abandonar, então, o modelo de consultas individuais e agendadas, dando prioridade a
ações e atividades coletivas no CAPS em que outros atores sociais estejam envolvidos; caso
contrário, tal espaço acaba servindo como excludente. O usuário pode tê-lo como local único
de convívio e de entretenimento; afinal, muitas vezes, mesmo em casa, ele fica segregado de
sua família.
Então, ao trabalhar em um CAPS, devemos entender que nosso papel não é torná-lo o único
local seguro e agradável para o paciente, e sim possibilitar sua convivência em um território
cada vez mais amplo. Com isso, o nosso trabalho tem de transpor as paredes do CAPS.
MATRICIAMENTO
Imagine que você seja um profissional lotado em um centro de atenção psicossocial. Você
precisa acompanhar dezenas de pacientes em um território amplo da cidade.
Muitos deles não vão ao CAPS e, por isso, demandam visitas domiciliares. Contudo, o carro do
serviço é utilizado para diversas funções ao longo dos dias. Além disso, você possui uma
agenda de atividades dentro do serviço.
A solução para esse tipo de situação é realizar o acompanhamento dos pacientes da saúde
mental com a atenção básica (ou a primária) presente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).
O nome dado a esse trabalho em conjunto feito pelos CAPS e pelas UBS é matriciamento.
 SAIBA MAIS
A atenção em saúde é dividida em três níveis: primário, secundário e terciário. O nível primário,
também denominado atenção básica, é composto pelas UBS nas quais se organiza a
estratégia da saúde da família.
A atenção primária realiza o acompanhamento básico de todos os moradores de dada região.
Trata-se de um acompanhamento de saúde descentralizado que visa à prevenção e ao
acompanhamento de doenças muito comuns que precisam ser monitoradas constantemente,
como hipertensão e diabetes.
Esse trabalho é realizado pelos agentes comunitários de saúde (ACS), que são profissionais de
nível médio. Na abordagem de pacientes com transtornos mentais, o suporte especializado da
saúde mental – representado pelos profissionais dos CAPS – pode ser necessário.
 ATENÇÃO
A equipe de saúde mental dos CAPS, chamada, nesse âmbito, de “equipe matriciadora”, deve
dar apoio matricial à equipe de saúde da família (ESF). A ESF é constituída pelos ACS, os
quais, nesse contexto, são denominados “equipes de referência”.
O acompanhamento do paciente pelos ACS é imprescindível para levar em conta sua saúde
integral e o acompanhamento mais próximo no próprio território onde ele reside. Os agentes de
saúde devem ser capacitados e instrumentalizados pela equipe de saúde mental para lidar com
demandas mais simples e avaliações iniciais dos pacientes para que haja uma resolução de
demanda inicial nos postos de saúde.
A ideia desse acompanhamento conjunto é que se elabore um projeto terapêutico singular com
o paciente e com os agentes comunitários. O acompanhamento dele pode ser feito pela
atenção primária: a equipe de saúde mental pode funcionar somente como uma retaguarda e
acompanhar de perto os casos mais graves.
O acompanhamento matricial tem como consequência a mudança na forma de funcionamento
e organização dos serviços de saúde. O matriciamento tem como objetivo evitar uma
comunicação “precária e irregular” feita por intermédio de encaminhamentos sem muita
efetividade (CHIAVERINI, 2011). Ao se trabalhar em conjunto e responsabilizar cada setor com
seus papéis específicos, é possível haver uma atenção à saúde eficiente.
A ideia do matriciamento não é ter um especialista em saúde mental nas unidades básicas de
saúde atendendo ou tomando decisões por conta própria. Pelo contrário: seu papel é dar um
suporte especializado para a equipe encarregada do acompanhamento na atenção básica.
Dessa forma, esse especialista permite “um suporte técnico-pedagógico, um vínculo
interpessoal e o apoio institucional no processo de construção coletiva de projetos
terapêuticos” (CHIAVERINI, 2011, p. 14 e 15).
 
INTERNAÇÃO
Você sabe que diversos tratamentosde saúde demandam internação hospitalar por alguns dias
ou até semanas. Na saúde mental, isso não é diferente. No entanto, precisamos estar atentos
ao fato de que ela não pode ser prolongada como era na época manicomial.
Por isso, a Lei nº 10.216 define que a internação só será utilizada quando o tratamento extra-
hospitalar não for suficiente para evitar riscos para o próprio paciente ou para terceiros. Então,
antes de se indicar uma internação, deve-se buscar o suporte familiar e comunitário, além de
estimular a autonomia do paciente no próprio tratamento.
Na internação, a assistência integral à pessoa ainda precisa ser garantida, incluindo serviços
médicos, psicológicos e do serviço social, além de outros. Essa preocupação se baseia na
tendência anteriormente em voga, já que antigamente a internação em manicômio privava o
paciente de qualquer tipo de assistência, configurando-se simplesmente como uma reclusão e
isolamento da sociedade.
A internação pode ser de três tipos (BRASIL, 2004a):
VOLUNTÁRIA
INVOLUNTÁRIA
COMPULSÓRIA3
VOLUNTÁRIA
O paciente aceita a decisão de ser internado.
INVOLUNTÁRIA
O paciente recusa a indicação. Nesse caso, ela deve ser notificada ao Ministério Público em
até 72 horas.
COMPULSÓRIA
Ela é determinada pela Justiça.
A alta da internação não depende apenas da estabilização do quadro do transtorno mental,
pois ela também tem de ser planejada para que os fatores que possam ter agravado o quadro
sejam revertidos. O trabalho de atenção psicossocial, portanto, não se interrompe com o
paciente internado. Na verdade, ele apenas se intensifica.
Deve haver também uma abordagem com a família do paciente internado para que sejam
dadas “orientações sobre o diagnóstico, o programa de tratamento, a alta hospitalar e a
continuidade do tratamento em outros pontos de atenção da rede de atenção psicossocial”
(BRASIL, 2012).
A INTERNAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA NO
FUNCIONAMENTO DA RAPS
Vamos refletir a seguir sobre os diversos tipos de internação, assim como sua importância tanto
para os usuários dos serviços oferecidos pela RAPS quanto para o funcionamento desses
serviços nos CAPS. Confira!
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Características dos centros de atenção psicossocial
Matriciamento
VERIFICANDO O APRENDIZADO
SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO
(SRT)
MÓDULO 4
 Avaliar a importância e as peculiaridades dos serviços residenciais terapêuticos
CRIAÇÃO DOS SRT
Imagine como deve ser difícil mudar hábitos constituídos ao longo de anos ou de décadas. As
pessoas que passaram grande parte de suas vidas enclausuradas dentro de uma instituição
adquirem prejuízos devido a anos e décadas de uma vida controlada, regulada e vigiada. Isso
é chamado de institucionalização. E não basta tirar as pessoas do aprisionamento dos
manicômios para desfazer esses efeitos deletérios.
Um estudo muito profundo sobre as alterações causadas pela internação em hospitais
psiquiátricos e outros locais foi feito por Erving Goffman. Esse sociólogo norte-americano
(1996) descreveu as características e os efeitos da estadia em uma instituição total.
 
CARACTERÍSTICAS DAS INSTITUIÇÕES TOTAIS
Uma instituição é total quando ela faz com que todas as atividades da vida de alguém sejam
realizadas dentro dela, causando uma ruptura com todos os outros espaços de convívio da
sociedade. Normalmente, nós realizamos atividades em locais diversificados: moramos em um
lugar, trabalhamos em outro, estudamos em um terceiro ambiente – e assim por diante.
Entretanto, algumas situações nos obrigam a ficar fechados em um local. Nesses casos, ele
precisa acumular diversas funções.
 EXEMPLO
Internação para tratamento intensivo de saúde ou prestação de serviço militar. Conventos e
prisões também apresentam características semelhantes.
As instituições totais possuem, entre outras, as seguintes características:
Os horários são rigorosamente estabelecidos.
Há constantemente vigilância e risco de punição.
O contato é restrito com o mundo externo.
Os internos não possuem informações nem poder sobre as decisões que lhes afetam.
Viver em um ambiente com essas características leva a uma perda da liberdade que tem
consequências graves. Perde-se a concepção de si mesmo e de suas crenças, o que é
denominado por Goffman (1996) como “mortificação do eu” e “desculturamento”,
respectivamente.
Por isso, deve ser feita uma reabilitação psicossocial assistida do paciente hospitalizado por
longa data ou em “situação de grave dependência institucional”. Muitas vezes, essas pessoas
já não podiam contar com a família para recebê-los após a saída dos manicômios; para esses
casos, foi necessária a criação de serviços residenciais terapêuticos, que são moradias
mantidas pelo Estado para que elas possam viver reinseridas na sociedade.
Desde os anos 1990, já existiam algumas iniciativas denominadas “pensões protegidas” ou
“lares abrigados”, uma espécie de protótipo dos serviços residenciais terapêuticos (FURTADO,
2006). Nessa época, já ficou demonstrada, na prática, a possibilidade da existência de
moradias dentro das cidades para os internados por longa data. Esses pacientes praticamente
“moravam” dentro dos manicômios e não conseguiam ser reinseridos em suas famílias ou não
tinham as condições de manter por si só uma residência.
LEGILAÇÃO
A legislação que criaria oficialmente os serviços residenciais terapêuticos só foi publicada no
ano 2000 pela Portaria GM nº 106. Ela estipula que as residências terapêuticas devem ser
casas, preferencialmente inseridas na comunidade, com o objetivo de acolher os “egressos de
internações psiquiátricas de longa permanência, que não possuam suporte social e laços
familiares” (BRASIL, 2004a, p. 100).
Essa ruptura com a família podia acontecer porque os hospitais não mantiveram a
documentação de seus pacientes internados há muitos anos e até mesmo décadas, o que
tornava impossível esse reencontro. Mas, mesmo quando eles eram localizados, poderia haver
diversas dificuldades para o recebimento desses internos (FURTADO, 2006, p. 786).
A transferência de pacientes de uma internação em um hospital psiquiátrico para uma vaga em
SRT prevê a redução ou o descredenciamento do leito previamente ocupado. Tal medida
pretendia não eliminar a verba que mantinha os leitos psiquiátricos de longa duração e
transferi-lo para o serviço que viria a substituí-lo.
 ATENÇÃO
A função das residências terapêuticas não é somente a de ser um local para a pessoa residir
após a saída do manicômio. Seu objetivo é a reabilitação psicossocial, graças a uma
reintegração social, de “programas de alfabetização, de reinserção no trabalho, de mobilização
de recursos comunitários, de autonomia para as atividades domésticas e pessoais e de
estímulo à formação de associações de usuários, familiares e voluntários” (BRASIL, 2004a, p.
101).
Os serviços residenciais terapêuticos devem ser de natureza pública, mesmo que eles sejam
não governamentais. Além disso, precisam ter um projeto terapêutico construído tendo em
vista os objetivos acima descritos. Com isso, sua atividade se centraliza nas necessidades de
seus usuários (BRASIL, 2004a).
Para ajudar a reabilitação de quem saía das internações longas em manicômios, foi estipulado
ainda um auxílio financeiro. Em 2003, é criada a Lei nº 10.708, que prevê um auxílio
reabilitação de caráter indenizatório para pessoas com transtornos mentais egressos de
internações de longa permanência (por pelo menos dois anos ininterruptos). Esse auxílio é
parte integrante de um programa intitulado "De volta para casa”.
CARACTERÍSTICAS E IMPORTÂNCIA DOS SRTS
As residências terapêuticas devem se situar fora de hospitais, evitando, assim, a tendência à
manicomialização de pessoas com transtornos mentais. Sua estrutura física precisa ser
compatível com o máximo de 8 usuários, com 3 por dormitório. Ele ainda tem de ser mobiliado
como qualquer casa confortável e contar com a garantia de três refeições diárias.
A legislação não prevê que uma equipeatue nos SRTs. Cada um deve estar referenciado a um
serviço de saúde, que será o responsável por realizar o acompanhamento especializado em
saúde mental dos moradores.
Já a Portaria nº 3.090, de 2011, diferencia os SRTs em tipo I e tipo II (BRASIL, 2011):
SRT TIPO I
Comporta até oito moradores que não possuem outra característica além de pessoas com
transtorno mental em processo de desinstitucionalização.
SRT TIPO II
Tem como público pessoas com “acentuado nível de dependência, especialmente em função
do seu comprometimento físico, que necessitam de cuidados permanentes específicos. Pode
comportar até 10 moradores e conta com uma equipe: 5 cuidadores e um técnico de
enfermagem”.
É importante frisar que os SRTs devem funcionar como uma moradia, sendo o tratamento dos
moradores realizados no serviço de saúde mental de referência do local (BRASIL, 2004a).
Então, apesar de ter “serviço” em seu nome, o local precisa possuir características de um lar,
“onde se estabelecem vínculos de afeto e cooperação, compartilham-se vivências prazerosas e
dolorosas, enfim, lugar de produção de subjetividade e de redes de sociabilidade” (ARGILES et
al., 2013, p. 2051).
A inserção de ex-internos na sociedade, além de cumprir um direito humano violado com sua
exclusão em um manicômio, também serve para descontruir a ideia da loucura como perigosa
ou como algo que exige uma reclusão para evitar danos. Como já pontuamos, o tratamento da
pessoa em sofrimento psíquico extramuros deve ser feito a partir do território e por intermédio
de uma rede na qual se entrelaçam serviços, instituições e pessoas.
Essas relações precisam ser percorridas de forma livre pelos indivíduos. A partir delas,
formam-se os “campos de sociabilidade” que vão estruturar o cotidiano dessas pessoas e
construir suas concepções de mundo (ARGILES et al., 2013, p. 2051).
Isso tudo será construído graças ao trabalho feito pelos SRTs, operando como um elemento
essencial no qual o ex-interno pode vivenciar de forma saudável a socialização da qual ele
havia sido segregado. Por conta da convivência com os outros moradores e os acordos que
vão se estabelecer entre eles, pode-se trabalhar questões de sociabilidade necessárias para a
reabilitação psicossocial.
Muitos daqueles que amargaram anos e até mesmo décadas de internação em hospitais
psiquiátricos podem sofrer com a desabilidade social, o que requer todo um trabalho para que
o convívio social possa ser satisfatório. Isso nos leva a compreender que resgatar a cidadania
dos ex-internos dos manicômios não é somente “a restituição de seus direitos formais, mas,
principalmente, [...] de reconstruir seus direitos ao afeto, às relações sociais, à moradia digna e
à produtividade” (ARGILES et al., 2013, p. 2056).
Interromper a violação de direitos humanos que o encerramento em um hospital psiquiátrico
impõe, portanto, é só o primeiro passo de um longo processo de restituição e reparação aos
usuários dos serviços de saúde mental.
 ATENÇÃO
As residências terapêuticas representam, além de um local possível de se viver, a possibilidade
de alcançar uma qualidade de vida retirada dessas pessoas por décadas de preconceito,
reclusão e exclusão.
Os SRTs, com isso, evitarão que o paciente simplesmente fique dependente de outra
instituição (FURTADO, 2006). Ou seja, de nada adiantaria fechar os hospitais psiquiátricos
para que, em seguida, os pacientes ficassem à mercê de outros serviços que não suprem suas
necessidades.
A pessoa pode não estar mais isolada em uma instituição total e, mesmo assim, não ficar
plenamente inserida na sociedade. Ela, afinal, só realiza trocas sociais nos serviços públicos
de saúde – e não em uma sociedade mais ampla.
 
DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS SRTS
Os serviços públicos no Brasil enfrentam muitos desafios relacionados à manutenção e aos
investimentos. Algumas dificuldades já foram verificadas logo nos primeiros anos de
implantação oficial dos SRTs. Vamos mencionar agora aquelas que dizem respeito à reforma
psiquiátrica e à luta antimanicomial de forma mais ampla.
Muitos proprietários resistem em alugar sua casa para nela se estabelecer um SRT devido ao
preconceito contra as pessoas com transtorno mental (FURTADO, 2006).
É claro que o preconceito sofrido pelas pessoas com transtorno mental é um problema mais
generalizado. De qualquer maneira, o trabalho na saúde mental também deve ter como
objetivo uma mudança cultural, que pode ser produzida por meio de campanhas de
conscientização sobre a desinstitucionalização de pessoas com transtorno mental. Também é
preciso desconstruir os mitos associados a quem sofre disso, como o suposto perigo que ele
representa.
Outro desafio enfrentado na implantação dos SRTs é a falta de capacitação dos profissionais
que devem acompanhar de perto os moradores, que são os mais prejudicados pelos anos de
internação. Esses funcionários precisam ser treinados no “novo referencial ético e clínico” da
saúde mental (FURTADO, 2006, p. 792); caso contrário, ocorre uma tendência de excesso de
tutela ou de aplicação de disciplina rígida no trato com esses usuários. Deve-se levar em conta
que muitos desses moradores podem estar bastante comprometidos pela institucionalização,
representando, por conta disso, comportamentos muito divergentes da norma social.
Outro problema notado é a dificuldade da gestão de um serviço peculiar como o das
residências terapêuticas. Além de ser visto como um serviço com 24 horas de duração, o que
acarreta um maior custo e uma manutenção mais complexa, ele, ao mesmo tempo, não é um
serviço de saúde, já que tem de ser gerido como uma residência. Resultado: pode ocorrer uma
resistência quanto à sua implantação em algumas localidades, diz Furtado (2006).
Porém, apesar dos desafios, a implantação de um SRT é muito importante, algo que você pôde
constatar ao longo deste texto. Trata-se, em suma, de um serviço que representa ao máximo a
desinstitucionalização e a luta antimanicomial.
Cada residência terapêutica em funcionamento significa menos pacientes enclausurados em
hospitais psiquiátricos, vivenciando um isolamento que não faz sentido.
A vida em liberdade não é somente um tratamento mais eficaz: ela também representa uma
restituição do direito de todo ser humano.
IMPORTÂNCIA E DESAFIOS DO SRT
Acompanhe uma reflexão sobre a importância, as características e os desafios enfrentados
com os SRT. Vamos lá!
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Criação dos SRT
Legislação
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história da reforma psiquiátrica é relativamente recente no Brasil e no mundo. Por isso, ela é
um campo de pesquisa que ainda pode revelar muito; além disso, seu conhecimento gerado é
muito instigante. A atuação profissional nesse campo exige, portanto, um rompimento com o
senso comum em relação aos transtornos mentais.
O trabalho na saúde mental pública precisa ir além dos elementos próprios do campo da
saúde. Ele, afinal, envolve cultura, assistência social e educação, entre outros itens. Com isso
em mente, pontuamos que o tratamento feito em liberdade coloca desafios que vão além do
campo da Medicina e da saúde tradicional.
Vimos que, em toda a RAPS, existem os mais diversos tipos de serviços de saúde: de atenção
básica, de urgência e emergência, hospitais e CAPS, além de outros. O importante é todos
eles seguirem os preceitos da reforma psiquiátrica: atenção humanizada, combate a
preconceitos e respeito aos direitos humanos.
Além dos profissionais de saúde, a família também é muito importante no acompanhamento da
pessoa com transtorno mental e deve ser responsabilizada. Na verdade, toda sociedade,
frisamos, é responsável pelo cuidado dessas pessoas, que, por tantos anos, foram excluídas e
submetidas a um tratamento desumano. Apontamos ainda que é papel dos servidores públicos
da saúde mental levar esse conhecimento a todos.
Por fim, destacamos que a reparação de todo mal feito ao longo da história manicomial
encontra seu ápicena manutenção pelo Estado de residências para aqueles que não
conseguem retornar para suas famílias e na garantia de uma renda para que eles possam se
manter. Só assim podemos tornar a sociedade mais justa e livre para todos.
 PODCAST
OS PRECEITOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA E
SUA MATERIALIZAÇÃO NA REDE DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL
Para encerrar, vamos refletir sobre os preceitos da reforma psiquiátrica e de sua materialização
na rede de atenção psicossocial no Brasil, assim como sobre os diversos desafios encontrados
nos serviços oferecidos.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AMARANTE, P. Loucos pela vida. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2016. 
AMORIM, A. K. M. A; DIMENSTEIN, M. Desinstitucionalização em saúde mental e práticas
de cuidado no contexto do serviço residencial terapêutico. Ciência & saúde coletiva. v. 14.
n. 1. jan./fev. 2009. p. 195-204. 
ARGILES, C. T. L. et al. Redes de sociabilidade: construções a partir do serviço residencial
terapêutico. Ciência & saúde coletiva. v. 18. n. 7. jul. 2013. p. 2049-2068. 
BAGNOLA, E. P. P.; SOUZA, S. F. M. O sujeito na família. In: AMARAL, H; MERHY, E. E. A
reforma psiquiátrica no cotidiano II. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Editores Ltda., 2007. 
BASAGLIA, F. et al. Considerações sobre uma experiência comunitária. In: AMARANTE, P.
(Org.). Psiquiatria social e reforma psiquiátrica.Rio de Janeiro: Fiocruz, 2014. p. 11-40. 
BIRMAN, J.; COSTA, J. F. Organização de instituições para uma psiquiatria
comunitária. In: AMARANTE, P. (Org.). Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2014. p. 41-72. 
BRASIL. Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Ministério da Saúde: Brasília, 2017.
BRASIL. Legislação em saúde mental 1990-2004. 5. ed. ampliada. Ministério da Saúde:
Brasília, 2004a. 
BRASIL. Portaria nº 148, de 31 de janeiro de 2012. Definir como normas de funcionamento e
habilitação do serviço hospitalar de referência para atenção às pessoas com sofrimento ou
transtorno mental e com necessidades de saúde decorrentes do uso de álcool, crack e outras
drogas, do componente hospitalar da rede de atenção psicossocial, e institui incentivos
financeiros de investimento e de custeio. Brasília, 2012. 
BRASIL. Portaria nº 3.090, de 23 de dezembro de 2011. Ministério da Saúde: Brasília, 2011.
Altera a Portaria nº 106/GM/MS, de 11 de fevereiro de 2000, e dispõe, no âmbito da Rede de
Atenção Psicossocial, sobre o repasse de recursos de incentivo de custeio e custeio mensal
para implantação e/ou implementação e funcionamento dos serviços residenciais terapêuticos
(SRT). Brasília, 2011. 
BRASIL. Saúde mental no SUS: os centros de atençãopsicossocial. Ministério da Saúde:
Brasília, 2004b. 
CHIAVERINI, D. H. (Org.). Guia prática de matriciamento em saúde mental. Brasília: Centro
de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011. 
FOUCAULT, M. História da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 2012.
FURTADO, J.P. Avaliação da situação atual dos serviços residenciais terapêuticos no
SUS. Ciência & saúde coletiva. v. 11. n. 3. jul./set., 2006. p. 785-795. 
GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. Ed. São Paulo: Perspectiva, 1996.
EXPLORE+
Assista a estes vídeos no YouTube:
a) DocumentárioHolocausto brasileiro
Baseado no livro de mesmo nome da jornalista Daniela Arbex, este documentário mostra a
triste história dos horrores que aconteceram no Hospital Colônia de Barbacena, por meio de
relatos de ex-funcionários, egressos e outras pessoas. 
ÍCONES NEGROS. Holocausto brasileiro - 2016 - documentário completo. Publicado em: 27
abr. 2018. 
b) Programa da série Profissão repórter
Este programa apresenta a vida de quem sofre transtornos mentais, assim como o drama das
famílias e as pessoas envolvidas. 
PROFISSÃO REPÓRTER. Doenças psiquiátricas (transtornos mentais). Publicado em: 26
nov. 2018. 
c) FilmeBicho de sete cabeças 
Rodrigo Santoro representa um jovem que está internado em um manicômio porque a família
não aceita o comportamento dele e seu uso de drogas. Esta obra retrata como experiências
traumáticas nesse contexto. 
FILOSOFIA EM PÍLULAS. Bicho de sete cabeças. Publicado em: 24 nov. 2012. 
c) FilmeDá pra fazer
Este filme italiano conta a história ficcional de uma cooperativa de trabalho na época da
reforma psiquiátrica italiana. 
FÁBIO PAZ. Si può fare. Dá pra fazer - filme completo legendado. Publicado em: 27 mar.
2014. 
CONTEUDISTA
Marcelo Renó Arbex

Outros materiais