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DESCRIÇÃO Fundamentos do desenvolvimento motor, da aprendizagem motora e do controle motor. PROPÓSITO Compreender o conceito do desenvolvimento motor para fins de conhecimento das teorias da aprendizagem motora e do controle motor é imprescindível no processo de formação do profissional que atua com o corpo e o movimento. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a funcionalidade do movimento a partir da correlação entre crescimento, desenvolvimento e maturação MÓDULO 2 Reconhecer a relação entre habilidade e capacidade motora MÓDULO 3 Identificar uma prática de intervenção profissional a partir das habilidades desenvolvidas no comportamento motor INTRODUÇÃO Neste conteúdo, vamos estudar os fundamentos básicos do desenvolvimento, da aprendizagem e do controle motor, bem como suas conexões e aplicabilidades na prática do profissional, relacionando as principais características de cada um e suas inter-relações. O PROFISSIONAL QUE TRABALHA COM O CORPO EM MOVIMENTO PRECISA COMPREENDER A ORIGEM DO MOVIMENTO, SUAS POSSIBILIDADES NATURAIS DE FUNCIONAMENTO (DESENVOLVIMENTO MOTOR), A AQUISIÇÃO DE NOVOS GESTOS MOTORES (APRENDIZAGEM MOTORA) E O APERFEIÇOAMENTO DELES (CONTROLE MOTOR). Além disso, é necessário saber quais aspectos intervêm no desdobramento desse processo, qual é a faixa etária adequada e como as habilidades motoras são desenvolvidas no comportamento motor. MÓDULO 1 Identificar a funcionalidade do movimento a partir da correlação entre crescimento, desenvolvimento e maturação DESENVOLVIMENTO MOTOR Para compreender o desenvolvimento motor, é imprescindível conhecer os conceitos que compõem tal processo, pois eles são anteriores ao próprio nascimento do ser humano e interferem em todo o ciclo vital. VOCÊ JÁ PAROU PARA PENSAR QUE O MOVIMENTO HUMANO OCORRE ANTES MESMO DO PENSAMENTO? Agora, iniciaremos o estudo do desenvolvimento motor pela compreensão do desenvolvimento humano. DESENVOLVIMENTO HUMANO O desenvolvimento humano compreende todas as alterações sofridas pelo homem, da fecundação até a morte. Essa questão é bastante abrangente e orientou grande parte dos estudos no decorrer da evolução da humanidade. Tais estudos envolvem discussões intrínsecas às três principais correntes que norteiam as teorias do desenvolvimento humano (SILVA, 1994). São elas: CONCEPÇÃO INATISTA CONCEPÇÃO AMBIENTALISTA CONCEPÇÃO INTERACIONISTA CONCEPÇÃO INATISTA O desenvolvimento é determinado somente por fatores biológicos, em que as características físicas e psicológicas são decorrentes da herança genética. Segundo essa concepção, o ser humano, ao nascer, já apresentaria capacidades definidas e as fases do desenvolvimento predeterminadas. Os padrões do comportamento já estariam presentes no nascimento e o surgimento de uma nova habilidade dependeria somente do processo de maturação do sistema nervoso. SEGUNDO SILVA (1994), AS CONDIÇÕES DO AMBIENTE NÃO TERIAM GRANDE INFLUÊNCIA NA AQUISIÇÃO DE HABILIDADES, POIS DEFENDE QUE FORAM DETERMINADAS PELA HEREDITARIEDADE. CONCEPÇÃO AMBIENTALISTA O desenvolvimento é determinado pelo ambiente e o indivíduo nasce sem características predeterminadas, cabendo ao ambiente decidir. CONFORME SILVA (1994), A PARTIR DESSA ABORDAGEM, A CRIANÇA É UM SER PASSIVO FRENTE AO AMBIENTE, ENQUANTO OS ADULTOS A SEU REDOR TERIAM O PAPEL DE ADMINISTRAR E PROMOVER SEU DESENVOLVIMENTO. CONCEPÇÃO INTERACIONISTA O desenvolvimento infantil é compreendido dentro de um contexto mais complexo como um processo contínuo e dinâmico, que ocorre pela plena interação entre organismo e ambiente, na qual há uma influência mútua de um sobre o outro. Essa corrente é a junção das concepções inatista e ambientalista. CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E MATURAÇÃO O desenvolvimento como processo é caracterizado pela integração entre crescimento e maturação do indivíduo. ATENÇÃO Embora o desenvolvimento e o crescimento sejam processos constantemente dinâmicos, com início na fecundação e término na morte do indivíduo, trata-se de questões muito diferentes. Segundo Lima (1981), o crescimento é o aumento de massa, resultado da incorporação e aumento das células. Com o crescimento, as células se reproduzem e aumentam seu número total no organismo. Já o desenvolvimento “é a diferenciação, aquisição ou aperfeiçoamento de funções orgânicas, capacidades cognoscitivas, emocionais ou sociais, que se consegue através do tempo” (LIMA, 1981, p. 305). Embora alguns autores tratem o crescimento e o desenvolvimento como sinônimos, são processos diferentes que se desenvolvem em paralelo. Foto: Shutterstock.com ATIVIDADE DE REFLEXÃO DISCURSIVA QUESTIONAMENTOS TÊM SURGIDO SOBRE OS FATORES HEREDITÁRIOS E AMBIENTAIS. VOCÊ SABERIA RESPONDER SOBRE AS SEGUINTES QUESTÕES: O QUANTO É HERDADO? O QUANTO É INFLUENCIADO PELO AMBIENTE? RESPOSTA Outra questão inerente ao processo de desenvolvimento humano é a maturação, que corresponde a “uma sequência de mudanças físicas determinada biologicamente e de comportamentos que resultam do processo de envelhecimento, e não da aprendizagem ou da experiência de vida” (PAPALIA; OLDS, 1998, p. 72). javascript:void(0) SAIBA MAIS A maturação anatômica tem suas próprias leis de evolução: uma sucessão maturativa do sistema nervoso. O desenvolvimento estrutural é necessário para o desenvolvimento funcional, e o aparecimento de novas formas de conduta corresponde a modificações de estruturas. Embora seja imprescindível para o desenvolvimento, a maturação não é uma condição suficiente para explicar o comportamento, que é resultado de uma composição entre maturação, ambiente e hereditariedade. Imagem: Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito Fatores que compõem o desenvolvimento. IDADE CRONOLÓGICA E BIOLÓGICA O DESENVOLVIMENTO PODE SER CLASSIFICADO DE VÁRIOS MODOS. A idade cronológica, embora de uso universal, não é um indicador confiável do estágio de maturação biológica. Ela demonstra características bastante específicas no início da vida, mas que, depois, tornam- se generalistas. Possivelmente, isso ocorre porque, com os anos de vida, o sujeito fica cada vez mais influenciado pelo ambiente em que vive, podendo ampliar suas potencialidades genéticas ou não, o que determina seu nível de desenvolvimento. RESUMINDO Portanto: “[...] a idade cronológica é uma estimativa bruta do nível de desenvolvimento do indivíduo, que pode ser determinado de modo mais preciso por outros meios” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 28). A idade cronológica é capaz de mostrar há quanto tempo o indivíduo nasceu, pois indica o tempo cronos, mas, como índice de envelhecimento, ela é falha. O índice que realmente mensura a idade de cada indivíduo é a idade biológica, que fornece a taxa de progressão relacionada à maturidade. É uma idade variável e possui correspondência aproximada com a idade cronológica (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Corresponde ao conjunto de fatores que explicam a eficiência sistêmica do organismo humano. ORGANISMO Nosso organismo é um sistema complexo, formado por órgãos que funcionam de maneira integrada e, por consequência, influenciam todo o sistema. A forma de calcular a idade biológica é multifatorial: não se restringe a apenas um fator, como a idade cronológica, que tem apenas o tempo como referência. Segundo Gallahue e Ozmun (2013), a idade biológica é determinada pela medição das seguintes idades: javascript:void(0) Imagem: Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito Idade biológica. OUTROS INDICADORES PODEM SER CONSIDERADOS: IDADE MORFOLÓGICA Comparação do tamanho da pessoa, em termos de estatura e peso, com uma padronização normativa. VOCÊ SABIA O tamanho normativo foi estabelecido pela primeira vez na década de 1940, por meio da elaboração de gráficos de alturas e pesos de milhares de indivíduos. Atualmente, “os pediatras usam gráficos de crescimento físico desenvolvidos pelo National Center for Health Statistics” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 29), muito similares ao seguinte gráfico: Imagem: Shutterstock.comadaptado por Tiago Figueiredo Gráfico de Índice de Massa Corporal. IDADE ESQUELÉTICA É a idade biológica do crescimento do esqueleto. “Ela pode ser determinada com precisão por um raio-X dos ossos carpais das mãos e do punho” (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 29). É muito utilizada em casos de crescimento atrasado ou acelerado da criança e no desporto de alto rendimento. Imagem: Shutterstock.com Raios X dos ossos da mão e do punho. IDADE DENTÁRIA Outro meio interessante e preciso de determinação da idade biológica ocorre por meio da sequência do desenvolvimento dos dentes, que pode ser medida pela idade de calcificação (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Imagem: Shutterstock.com Raios X dentário de uma criança. IDADE SEXUAL Compõe mais um método de mensuração da idade biológica. A maturação sexual é determinada pelo crescimento/desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Foto: Shutterstock.com Foto: Shutterstock.com O SURGIMENTO DE PELOS NA FACE DE MENINOS E A MENARCA EM MENINAS ESTÃO RELACIONADOS À IDADE SEXUAL. Além desses, existem outros métodos de classificação da idade de um indivíduo. Eles incluem medições das seguintes idades: IDADE EMOCIONAL – DADA PELA MEDIÇÃO DA CAPACIDADE DE SOCIALIZAÇÃO E DE FUNCIONAMENTO DENTRO DE UM AMBIENTE SOCIAL/CULTURAL; IDADE MENTAL – DADA PELA MEDIÇÃO COMPLEXA DO POTENCIAL MENTAL DO INDIVÍDUO NO QUE TANGE AO APRENDIZADO E À AUTOPERCEPÇÃO; IDADE AUTOCONCEITUAL – DADA PELA MEDIÇÃO DA AVALIAÇÃO PESSOAL QUE O INDIVÍDUO FAZ DO PRÓPRIO VALOR OU DA PRÓPRIA CAPACIDADE; IDADE PERCEPTIVA – DADA PELA AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO PESSOAL. (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 29) PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO INTRAUTERINO O ovo fecundado, que vai se tornar um novo ser humano, inicia sua segmentação poucas horas após a “copulação”. Essa é operada por um único espermatozoide, no meio de 300 a 500 milhões de espermatozoides que são depositados no interior da vagina após a ejaculação (teoria monospérmica). Assim, o desenvolvimento começa com uma célula altamente especializada, o ovócito fertilizado ou zigoto, que é totipotente. TOTIPOTENTE Pode dar origem a todos os tipos de células. ATENÇÃO A vida existente desde a fecundação do óvulo deve ter seu desenvolvimento acompanhado ainda no ventre materno. Fonseca (1998) relata que o desenvolvimento intrauterino é a base do desenvolvimento extrauterino, pois as questões relativas à concepção e ao período pré-natal influenciam completamente no desenvolvimento da criança. PERÍODO PRÉ-NATAL Período que vai da concepção ao nascimento. javascript:void(0) javascript:void(0) O DESENVOLVIMENTO HUMANO INTRAUTERINO É DIVIDO EM TRÊS PERÍODOS: Período pré-embrionário – da concepção ao primeiro Período embrionário – do primeiro ao segundo mês Período fetal – dos 2 aos 9 meses Imagem: Shutterstock.com Fases do desenvolvimento humano intrauterino VAMOS DETALHAR CADA UM DELES A SEGUIR: PERÍODO PRÉ-EMBRIONÁRIO Este período abrange da primeira à terceira semana de gestação, da fecundação até o início do desenvolvimento do sistema cardiovascular. Em meio a isso, surgem os processos de segmentação, gastrulação e neurulação. A mistura cromossômica recebida pelos pais forma o zigoto. Com a mitose, javascript:void(0) ocorre a formação dos blastômeros, que se desenvolvem e se solidificam na mórula, transformando-se em uma cavidade com líquido chamada de blástula. MISTURA CROMOSSÔMICA 23 cromossomos da mãe + 23 cromossomos do pai = 46 pares de cromossomos = 2 pares sexuais (genossomas) + 44 pares somáticos (autossomas) BLASTÔMEROS “Qualquer uma das várias células resultantes das divisões iniciais do zigoto, que formam as fases do embrião denominadas mórula e blástula.” Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa MÓRULA “Estágio embrionário, caracterizado por uma massa de células aglomeradas – [parecida com uma amora, o que originou seu nome] –, formadas por mitoses sucessivas do zigoto. Em humanos, corresponde aos três ou quatro primeiros dias após a fertilização.” Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa javascript:void(0) javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com adaptado por Tiago Figueiredo Desenvolvimento embrionário. 1 Ao mesmo tempo em que a segmentação ocorre, o zigoto é rodeado de células nutritivas e vai sendo empurrado até o útero. Ao chegar ao útero, a mórula lança secreções ricas em açúcar e sais – ação associada a uma ativação hormonal à base de progesterona, que provoca a hipervascularização da mucosa uterina. 2 3 O processo de especialização celular vai se operando por meio de mecanismos bioquímicos ativados em nível do código genético. As células do trofoblasto (exteriores), que originam os anexos embrionários, segregam um líquido para dentro da blástula, o qual permite a nidação (implantação) no útero. Essa ocorre, mais ou menos, sete dias após a fecundação, que, em termos gerais, completa o período do zigoto ou período pré- embrionário (FONSECA, 1998). 4 TROFOBLASTO “Camada de células epiteliais que forma a parede externa da blástula dos mamíferos (blastocisto) e atua na implantação e nutrição do embrião.” Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa PERÍODO EMBRIONÁRIO Neste período, que vai de três a oito semanas, formam-se os órgãos e os principais sistemas corporais. Imagem: Shutterstock.com Período embrionário - 8 semanas de gestação. javascript:void(0) Nascem os olhos e as orelhas; na face, surge o lábio superior, o palatino, os maxilares e a língua. No fim do segundo mês, surgem os primeiros movimentos. Os folículos pilosos e as glândulas sudoríparas começam a crescer e a atuar. O coração pulsa com maior intensidade, os braços crescem, o estômago e o fígado iniciam suas funções. ATENÇÃO Todas as estruturas que o recém-nascido vai apresentar já se encontram no embrião (FONSECA, 1998). PERÍODO FETAL Neste período, o desenvolvimento intrauterino que se observa do terceiro ao nono mês é o desenvolvimento estatural, ponderal e motor. Fonseca (1998) relata as principais características do feto mês a mês de seu desenvolvimento. Imagem: Shutterstock.com Feto – 3º mês. No terceiro mês, surgem os movimentos de flutuação com fixação na âncora do cordão umbilical. A boca entreabre-se, as inalações e sucções são desencadeadas. O feto pode realizar uma enormidade de padrões de comportamento, dentro, evidentemente, de um envolvimento líquido. Imagem: Shutterstock.com Feto – 4º mês. No quarto mês, o feto já tem 24cm. Aparecem unhas nos dedos. A velocidade do crescimento é máxima nesse período. Já é possível detectar o batimento cardíaco e a estrutura da placenta aumenta de tamanho. Imagem: Shutterstock.com Feto – 6º mês. No quinto e no sexto mês, o feto tem 31cm. Surgem o lanugo, as sobrancelhas, as pestanas e o cabelo. O vernix seosa cobre a totalidade do corpo, protegendo a pele, que se torna mais consistente. Ouve-se sons, e os testículos saem das bolsas. Ocorre uma motilidade espontânea, ampla e lenta de exploração da piscina uterina. javascript:void(0) javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com Feto – 9º mês. No sétimo, oitavo e nono mês, há uma diferenciação de período de vigilância e sonolência. O crescimento ponderal e estatural cresce segundo novas proporções. A formação de gorduras protetoras da pele opera uma função homeopática, já mais eficaz. O nascimento prematuro é viável. A motricidade fetal pode ser detectada por uma simples palpação da parede abdominal e é do tipo anfíbio. A respiração é mais regular, a hipotonia diminui, os reflexos são mais vivos, rápidos e duráveis, e ocorrem sinergias tônico-reflexivas. LANUGO Lã, em latim, que cobre a maioria do corpo do feto. VERNIX SEOSA Substância gordurosa esbranquiçada que lubrifica a pele do feto para facilitar o parto. Podemos fazer uma analogia com o mecanismo protetor idêntico ao das espécies anfíbias.SAIBA MAIS SOBRE ESSE ÚLTIMO PERÍODO DO FETO: 1 A “cambalhota” final, com a colocação cefálica, vai preparando o terreno para a ultrapassagem do “estrangulamento público”, que culmina no parto. A postura predominante é caracterizada pela flexão da coluna e pela flexão dos membros. Há que se ocupar o mínimo espaço uterino possível. Ocorre hipertonia ao nível dos flexores e hipotonia nos extensores. Os movimentos espontâneos são mais amplos, o automatismo primário está prestes a funcionar, e as recepções auditivas manifestam-se por reações tônico-motoras em cadeia. Há sinergia entre os olhos e a cabeça. Por falta de espaço, a motricidade diminui. Separam-se as pálpebras, e os cabelos estão mais desenvolvidos. 2 3 O desenvolvimento do sistema nervoso envolve a extensão dos axônios e a arborização dendrítica, bem como a modificação das sinapses e a aquisição das bainhas protetoras de mielina, refletindo uma produção de efeitos químicos mais ativada e adequada. Ao fim dos 9 meses, a penugem cai em grande parte, e as proporções corporais harmonizam-se. O corpo ajusta-se à forte compressão uterina. As contrações uterinas tendem a ser mais sensíveis à medida que se aproxima o parto. Restam, agora, o rompimento da bolsa d’água, a queda do tampão mucoso e o início do trabalho de parto. A adaptação da vida aérea acelera-se e consolida-se. O córtex ainda não é excitável, mas o feto está maduro. 4 Após o nascimento, vem o chamado período neonatal, no qual há necessidade de o recém-nascido sobreviver por si só. PERÍODO NEONATAL Período de transição da vida intrauterina, que corresponde às quatro primeiras semanas de vida do bebê. Papalia e Olds (1998) afirmam que, antes de nascer, a circulação sanguínea, a respiração, a ingestão de nutrientes, a eliminação dos dejetos e a regulação da temperatura eram acompanhadas pelo corpo da mãe. Depois de nascer, o bebê precisa efetuar todas essas funções sozinho. “Nunca mais ele sofrerá tamanha mudança para manter sua vida” (PAPALIA; OLDS, 1998, p. 131). Saindo da placenta para a terra, o neonato terá de aprender a sobreviver fora do ventre materno, crescendo e se desenvolvendo dia a dia. As conquistas são diárias! Imagem: Shutterstock.com VOCÊ SABIA javascript:void(0) Segundo os estudiosos do evolucionismo, a conquista da bipedia trouxe ônus e bônus à evolução da espécie. Um ponto de atenção é que, a partir desse momento, a mulher não pode mais carregar o feto em gestação por um período maior que 42 semanas, o que faz com que o recém-nascido humano nasça extremamente frágil se comparado com neonatos de outras espécies, mesmo os primatas (TONI et al., 2004). Assim que um bebê nasce, o pediatra o examina para verificar seu bem-estar. É a primeira nota de sua vida, o chamado Score de Apgar, que, segundo Holland (2004, p. 9): “é realizado no primeiro e no quinto minuto depois do parto e alerta a equipe médica caso o bebê precise imediatamente de qualquer cuidado extra para se adaptar ao novo ambiente”. Nele, são analisados: Frequência cardíaca Respiração Tônus muscular Resposta reflexa Cor da pele Fonte: Shutterstock.com O TESTE É UM INDICADOR DE SAÚDE GERAL DO RECÉM-NASCIDO. Ao nascer, a postura do neonato é a mesma de dentro do útero materno: fetal. Quanto à fisiologia do bebê, o metabolismo do recém-nascido apresenta uma taxa basal duas vezes maior que a do adulto em relação a seu peso corporal. Esse aumento se deve, em parte, ao aumento do gasto energético em função de débito cardíaco (duas vezes maior) e ao volume respiratório por minuto (GUYTON, 1977). Veja o quadro a seguir sobre as variáveis pré e pós-natal: VARIÁVEIS PRÉ-NATAL PÓS-NATAL 1. Envolvimento Líquido amniótico. Gasoso (ar). 2. Temperatura externa Mais ou menos constante. Varia consoante às condições externas. 3. Fornecimento de O2 Hemotrófico: difusão através da barreira da placenta. Dos alvéolos para o sangue. 4. Nutrição Realizada pelos elementos nutritivos do sangue da mãe. Depende da alimentação que é fornecida pelos adultos. 5. Eliminação dos produtos metabólicos Através do sangue maternal. Eliminação pelos pulmões (CO2), pela pele, pelos rins e pelos intestinos. 6. Estimulação sensorial Reduzida, essencialmente tátil-cinestésica e vestibular. Interoceptividade. Ampliada de acordo com a estimulação social, envolvendo todas as modalidades sensoriais: proprioceptivas e telerreceptivas (audição e visão). 7. Atividade Significativa, Reflexos incondicionados e deslocamentos passivos. motora diversificada e viva. Sinergias tônico- reflexas. Movimentos espontâneos. Movimentos indiferenciados. Descargas tônicos-emocionais. Dialéticas hipotenia-hipertonia, satisfação- necessidade. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Variáveis pré e pós-natal. Extraída de Pugliese, 2018, p. 69. ATENÇÃO Entre as muitas adaptações sofridas pelo bebê ao nascer, apontou-se como principal a adaptação da respiração ou a adaptação respiratória que o neonato tem de sofrer. Isso porque, uma transição bem- sucedida do sistema respiratório e circulatório pulmonar do estado fetal para o neonatal determina a sobrevida do recém-nascido. INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA A partir de agora, veremos duas fases com características marcantes do desenvolvimento humano: a infância e a adolescência. INFÂNCIA Partindo para as questões inerentes à infância, este período é marcado por mudanças regulares nos domínios cognitivo, afetivo e motor, bem como por aumentos regulares de altura, peso e massa muscular. SAIBA MAIS No início da infância, a taxa de crescimento desacelera, mas se mantém constante até a puberdade. Foto: Shutterstock.comm Segundo Beresford (1999), o desenvolvimento da criança é uma complexa teia que envolve o desenvolvimento biofísico/biológico, bioemocional/psicológico, biomoral/humano, biossócio/histórico e biotrancendente/cósmico, em que um aspecto interfere no outro. Papalia e Olds (1998, p. 12) relatam que diferentes áreas “se sobrepõem e interagem entre si durante toda a vida, já que o desenvolvimento em uma área afeta o desenvolvimento nas outras”. Relacionando essa complexa teia com o que a criança traz de informação genética mais as influências que ela recebe do meio, Wallon (1989) acrescenta que, a cada idade, estabelece-se um tipo particular de interações entre o sujeito e seu ambiente. Os espaços, as pessoas, a linguagem e a cultura formam o contexto do desenvolvimento. O MEIO TRANSFORMA-SE COM A CRIANÇA, ASSIM COMO A CRIANÇA TRANSFORMA-SE COM O MEIO. A maturação também é uma condição essencial para que haja o desenvolvimento. Segundo Gesell e Amatruda (2000), existem leis sobre o amadurecimento que explicam as tendências do desenvolvimento infantil, porém, cada criança tem um ritmo característico de sua individualidade. ADOLESCÊNCIA A adolescência ocorre a partir da transição da infância e é marcada por mudanças significativas que influenciam no crescimento e no desenvolvimento. Quando entra na adolescência, o sujeito é afetado por uma série de mudanças biológicas e sociais. Foto: Shutterstock.comm Mudanças expressivas acontecem nessa fase da vida: o estirão de crescimento, o início da puberdade e a maturação sexual são marcadores biológicos primários da adolescência. Alguns fenômenos culturais têm ocorrido nessa faixa etária. Segundo Gallahue e Ozmun (2013), o surgimento da maturação sexual está cada vez mais prematuro, demonstrando uma redução na média de idade da puberdade. Paralelo a isso, a dependência econômica se alongou. CARACTERÍSTICAS GENÉTICAS E CULTURAIS DE ACORDO COM A FAIXA ETÁRIA O desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento motor ao longo da vida. Isso ocorre a partir da influência dos aspectos biológicos do indivíduo, das condições do ambiente em que o indivíduo está inserido e da necessidade da tarefa a ser cumprida (GALLAHUE; OZMUN, 2013). A DEMANDA GERA O DESENVOLVIMENTO,MAS ESSE OCORRE A PARTIR DAQUILO QUE O INDIVÍDUO É GENÉTICA E CULTURALMENTE. O quadro a seguir demonstra as principais características observadas no crescimento e no desenvolvimento de um ser humano sem nenhuma patologia associada: Faixa etária Principais desenvolvimentos Estágio pré-natal: da concepção ao nascimento A estrutura básica do corpo e dos órgãos se forma. O crescimento físico é o mais rápido do ciclo vital. A vulnerabilidade às influências do meio ambiente é grande. Infância: do nascimento aos 3 anos O recém-nascido é dependente, mas competente. Todos os sentidos funcionam desde o nascimento. O crescimento físico e o desenvolvimento das capacidades motoras são rápidos. A habilidade para aprender e lembrar está presente, mesmo nas primeiras semanas de vida. As ligações afetivas aos pais e aos outros se formam próximo ao final do primeiro ano. A autoconsciência desenvolve-se no segundo ano. A compreensão e a fala se desenvolvem rapidamente. O interesse por outras crianças aumenta. Infância: dos 3 aos 6 anos A família ainda é o foco da vida, embora outras crianças comecem a se tornar mais importantes. As habilidades motoras fina e geral e a força aumentam. O jogo, a criatividade e a imaginação se tornam mais elaborados. A imaturidade cognitiva leva a muitas ideias “não lógicas” sobre o mundo. O comportamento é bastante egocêntrico, mas a compreensão da perspectiva de outras pessoas evolui. Infância: dos 6 aos 12 anos Os companheiros assumem importância central. As crianças começam a pensar de modo lógico, embora bastante concretamente. O egocentrismo diminui. As habilidades de memória e linguagem aumentam. Os ganhos cognitivos aprimoram a habilidade para se beneficiar da escolarização formal. O autoconceito se desenvolve, afetando a autoestima. O crescimento físico é mais lento. A força e as capacidades atléticas se aprimoram. Adolescência: dos 12 até cerca de 20 anos As mudanças físicas são rápidas e profundas. A maturidade reprodutiva é atingida. A busca pela identidade se torna central. Grupos de colegas ajudam a desenvolver e a testar o autoconceito. A habilidade para pensar abstratamente e usar o raciocínio científico se desenvolve. O egocentrismo adolescente persiste em alguns comportamentos. O relacionamento com os pais geralmente é bom. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Quadro: Principais desenvolvimentos na infância e na adolescência. Adaptado de Papalia e Olds, 1998, p. 23. CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E MATURAÇÃO A especialista Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito apresenta os conceitos principais de crescimento, desenvolvimento e maturação: VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR SOBRE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO: I. ALGUNS AUTORES TRATAM O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO COMO SINÔNIMOS, MAS SÃO PROCESSOS DIFERENTES. II. O CRESCIMENTO ENVOLVE O AUMENTO DE MASSA CORPORAL (TAMANHO E SUPERFÍCIE), RESULTANTE DA INCORPORAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS QUE AUMENTAM O TAMANHO DAS CÉLULAS. III. DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO SÃO CONCEITOS AFINS. ESTÁ(ÃO) CORRETA(S) A(S) AFIRMATIVA(S): A) I somente B) I e II C) III somente D) II somente E) II e III 2. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR SOBRE AS IDADES CRONOLÓGICA E BIOLÓGICA: I. A IDADE CRONOLÓGICA É CAPAZ DE MOSTRAR HÁ QUANTO TEMPO O INDIVÍDUO NASCEU, MAS, COMO ÍNDICE DE ENVELHECIMENTO, ELA É FALHA, POIS A IDADE BIOLÓGICA NEM SEMPRE LHE CORRESPONDE. II. O ÍNDICE QUE MENSURA A IDADE DE CADA INDIVÍDUO NÃO PODE SER A IDADE BIOLÓGICA. III. A IDADE BIOLÓGICA DO INDIVÍDUO FORNECE A TAXA RELACIONADA À MATURIDADE. ESTÁ(ÃO) CORRETA(S) A(S) AFIRMATIVA(S): A) I somente B) I e II C) III somente D) II e III E) I e III GABARITO 1. Analise as afirmativas a seguir sobre crescimento e desenvolvimento humano: I. Alguns autores tratam o crescimento e o desenvolvimento como sinônimos, mas são processos diferentes. II. O crescimento envolve o aumento de massa corporal (tamanho e superfície), resultante da incorporação de substâncias que aumentam o tamanho das células. III. Desenvolvimento e crescimento são conceitos afins. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): A alternativa "B " está correta. Os termos “crescimento” e “desenvolvimento” não são sinônimos. Esse entendimento é fruto de um grande erro conceitual. O crescimento envolve aspectos concretos, ganhos possíveis de mensurar, vistos a olho nu. Já o desenvolvimento envolve aspectos abstratos de ganhos no comportamento. 2. Analise as afirmativas a seguir sobre as idades cronológica e biológica: I. A idade cronológica é capaz de mostrar há quanto tempo o indivíduo nasceu, mas, como índice de envelhecimento, ela é falha, pois a idade biológica nem sempre lhe corresponde. II. O índice que mensura a idade de cada indivíduo não pode ser a idade biológica. III. A idade biológica do indivíduo fornece a taxa relacionada à maturidade. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): A alternativa "E " está correta. A idade cronológica é uma contagem de tempo (tempo cronos), enquanto a idade biológica é uma contagem diante das mudanças de seus processos.. MÓDULO 2 Reconhecer a relação entre habilidade e capacidade motora. AQUISIÇÃO DE HABILIDADES E CAPACIDADES MOTORAS O termo motor refere-se ao desenvolvimento dos fatores biológicos e mecânicos que influenciam o movimento. No entanto, raramente, é usado sozinho, servindo de prefixo ou sufixo em diversos termos. Já a capacidade motora é uma qualidade do indivíduo relacionada a sua capacidade funcional, o que envolve qualidades físicas definidas geneticamente. VOCÊ SABIA Historicamente falando, a informação antes aceita de uma capacidade motora geral foi impugnada. Tal fato representa uma grande evolução científica. TER CAPACIDADE SUPERIOR EM UMA ÁREA NÃO GARANTE CAPACIDADE SIMILAR EM OUTRAS. O DESENVOLVIMENTO MOTOR É ALGO [EXTREMAMENTE] ESPECÍFICO. O CONCEITO ANTIQUADO DE QUE A PESSOA TEM OU NÃO TEM CAPACIDADE EM SITUAÇÕES DE MOVIMENTO FOI SUBSTITUÍDO PELO CONCEITO DE QUE CADA UM TEM POTENCIALIDADES ESPECÍFICAS DENTRO DE CADA UMA DAS MUITAS ÁREAS DO DESEMPENHO. (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 23) EM OUTRAS PALAVRAS, NINGUÉM É BOM EM TUDO! A habilidade motora é uma tarefa ou ação de movimento voluntária realizada pelo corpo, que pode ser aprendida e dirigida para uma finalidade (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Veja o quadro a seguir com os termos usados no desenvolvimento motor: Comportamento motor Estudo de alterações no aprendizado motor, controle motor e desenvolvimento motor, realizadas pela interação do aprendizado e dos processos biológicos. Controle motor Mudanças neurais e físicas na performance de tarefas isoladas. Aprendizado motor Mudanças envolvendo a aquisição e o refinamento de habilidades de movimento. Aptidão física Habilidade de realizar atividade física, combinada com a constituição genética do indivíduo e com a manutenção da adequação nutricional. Pode ser subdividida em componentes relativos à saúde (resistência cardiovascular, resistência muscular, força muscular, flexibilidade e composição corporal) e relativos à performance (velocidade, potência, agilidade, equilíbrio e coordenação). Desenvolvimento motor Alterações progressivas do comportamento motor, no decorrer do ciclo da vida, realizadas pela interação entre as exigências da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente. Motor Fatores que afetam o movimento. Movimento Ato observável de se mover. Padrão motor Processos biológicos e mecânicos comuns. Padrão de movimento Série organizada de movimentos relacionados (por exemplo, um padrão lateral do braço). Padrão motor fundamental Processo comum de movimentos básicos. Padrão de movimento fundamental Série organizada de movimentos básicos (por exemplo, empurrar). Habilidade motora Processo comum de ganho de controle do movimento voluntário do corpo, dos membrosou da cabeça (também chamado de “tarefa” ou “ação”). Habilidade de movimentos especializada Forma, precisão e controle no desempenho de um movimento (por exemplo, derrubar um objeto que se arremessou em sua direção ou rachar lenha). Habilidade esportiva Combinação de um padrão de movimento fundamental com forma, precisão e controle no desempenho de uma atividade relacionada ao esporte (por exemplo, rebater no beisebol ou no softbol). Educação motora Processo permanente de alteração do comportamento motor que se realiza em função de fatores ambientais específicos de oportunidades para a prática, de encorajamento, instrução e da ecologia (isto é, o contexto) do ambiente (por exemplo, alteração nas habilidades de derrubar no decorrer do tempo). Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Conceituação dos termos comumente usados no desenvolvimento motor. Quadro: Adaptado de Gallahue e Ozmun, 2013, pág. 32. GENÓTIPO: FATORES GENÉTICOS NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS Todos somos produtos de estruturas genéticas específicas e das experiências que acumulamos desde a fecundação. Desse modo, a interação entre atividade física, genética e nutrição sugere os limites máximo e mínimo da aptidão física que podem ser esperados de um indivíduo. 1 A união do óvulo e do espermatozoide marca o ponto da concepção e a determinação da herança genética da pessoa. A mãe e o pai contribuem, cada um com 23 cromossomos. Os dois núcleos celulares alinham-se lado a lado, por algumas horas, depois se fundem e formam o zigoto. 2 3 javascript:void(0) As heranças genéticas, tanto da mãe quanto do pai, são transferidas para essa única célula. É nesse instante que o potencial genético se determina. CROMOSSOMOS Estruturas em forma de barra, existentes nas células, que carregam todas as informações genéticas do indivíduo. A ESTRUTURA GENÉTICA DETERMINA O NÍVEL EXTREMO DE APTIDÃO FÍSICA QUE PODE SER OBTIDO (GALLAHUE; OZMUN, 2013). ATENÇÃO A aptidão física é resultado da constituição genética do indivíduo somada à boa nutrição. A herança genética controla os limites mínimo e máximo do funcionamento do comportamento motor. FENÓTIPO: FATORES AMBIENTAIS NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS Sobre a relação social das crianças, é importante sinalizar que (BARROS, 1987): Entre os 4 ou 5 meses, um bebê nota outros bebês e pode vir a sorrir para eles. Aos 8 ou 9 meses, pode tentar se relacionar com outro bebê a partir de um brinquedo e fica atento ao choro de outras crianças. Aos 9 ou 10 meses, o bebê já é capaz de imitar os movimentos de outro bebê, mas não dá seu brinquedo a ele. Muitos estudos sobre a necessidade de socialização dos bebês foram desenvolvidos. Com base nesses estudos, é possível afirmar que o processo de socialização dos pequenos é iniciado por meio de mecanismos de identificação, a partir dos quais se inicia a formação de esquemas em direção aos processos cognitivos iniciais. Esse conceito de associação/identificação só se refere a um lugar exterior entre os elementos associados, ao passo que a “ideia de assimilação implica a integração dos dados a uma estrutura anterior ou mesmo a constituição de uma nova estrutura sob a forma elementar de um esquema” (PIAGET, 2002, p. 12). O desenvolvimento da criança possui um constante estado de equilíbrio/desequilíbrio, é um processo dinâmico, fruto do próprio desenvolvimento. SAIBA MAIS “A maneira como o ambiente doméstico da criança se comporta para com ela tem também a sua influência” (GESELL; AMATRUDA, 2000, p. 266). Quando os pais compreendem o temperamento de seus filhos como seu estado de desequilíbrio/equilíbrio, podem ajudar mais em seu desenvolvimento, equilibrando o ambiente ao redor da criança. ATENÇÃO O meio é um fator de influência para equilibrar e desequilibrar, pois o comportamento dos bebês varia conforme o ambiente a seu redor e as interações sociais. Isso tende a se transformar de acordo com a idade. Os estudos realizados sobre o comportamento social do ser humano observam as primeiras relações sociais do bebê, ou seja, sua ligação afetiva com a mãe. Várias teorias sobre Psicologia do Comportamento afirmam que essa ligação com a mãe, por meio da amamentação (alimentação), de cuidados e da preservação da vida, é, sem dúvida, seu primeiro contato social. No decorrer da vida, a influência do meio é interminável! Conforme Alcock (2011), o ser humano é um organismo que demanda do ambiente e é sensível a ele. O desenvolvimento comportamental é um processo de interação entre informação genética e influências ambientais, tanto internas quanto externas. Desenvolvimento comportamental Genética Influências ambientais internas e externas A hereditariedade tem uma influência marcante e limitada, mas o meio, também marcante, não é limitado, pois, desde o nascimento até a morte, o indivíduo é influenciado pelo ambiente em que vive. Assim, tanto a maturação quanto o aprendizado desempenham papéis importantes na aquisição das habilidades de movimento. A EXPERIÊNCIA PODE AFETAR O SURGIMENTO DOS MOVIMENTOS E O NÍVEL DE SEU DESENVOLVIMENTO (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Para que isso ocorra, é fundamental que a criança possa ser oportunizada a praticar as habilidades quando estiver pronta em termos desenvolvimentais, para tirar o maior benefício delas. Antes da prontidão maturacional, não haverá benefícios. RESUMINDO Para que haja aprendizagem motora, é necessária uma análise prévia sobre em que fase está o desenvolvimento motor, o qual implica a compreensão dos fatores genéticos, ambientais e maturacionais. Hoje, tanto a privação quanto a estimulação têm potencial para influenciar o ritmo do desenvolvimento (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 90). O QUE SÃO HABILIDADES MOTORAS? A especialista Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito esclarece os conceitos de habilidade motora e sua importância fundamental no universo da aprendizagem motora: VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR SOBRE A HABILIDADE MOTORA: I. A EXPERIÊNCIA PODE IMPLICAR O SURGIMENTO DOS MOVIMENTOS E O NÍVEL DE SEU DESENVOLVIMENTO. II. ANTES DA MATURAÇÃO, JÁ HÁ BENEFÍCIOS. III. APRENDIZADO E MATURAÇÃO SÃO IMPORTANTES NA AQUISIÇÃO DAS HABILIDADES DE MOVIMENTO. ESTÁ(ÃO) CORRETA(S) A(S) AFIRMATIVA(S): A) I somente B) I e III C) III somente D) II somente E) II e III 2. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR SOBRE A APTIDÃO FÍSICA: I. PODE SER SUBDIVIDIDA EM COMPONENTES RELATIVOS À SAÚDE – RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA, FORÇA MUSCULAR, COMPOSIÇÃO CORPORAL, FLEXIBILIDADE E RESISTÊNCIA CARDIOVASCULAR. II. POSSUI CINCO COMPONENTES RELATIVOS À PERFORMANCE – COORDENAÇÃO, EQUILÍBRIO, AGILIDADE, VELOCIDADE E POTÊNCIA. III. SEUS COMPONENTES SÃO VELOCIDADE, COMPOSIÇÃO CORPORAL, FLEXIBILIDADE E POTÊNCIA. ESTÁ(ÃO) CORRETA(S) A(S) AFIRMATIVA(S): A) I somente B) I e II C) III somente D) II e III E) I e III GABARITO 1. Analise as afirmativas a seguir sobre a habilidade motora: I. A experiência pode implicar o surgimento dos movimentos e o nível de seu desenvolvimento. II. Antes da maturação, já há benefícios. III. Aprendizado e maturação são importantes na aquisição das habilidades de movimento. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): A alternativa "B " está correta. Antes da prontidão maturacional, nada se desenvolve. Afinal, a maturação é condição básica para o desenvolvimento humano. 2. Analise as afirmativas a seguir sobre a aptidão física: I. Pode ser subdividida em componentes relativos à saúde – resistência muscular localizada, força muscular, composição corporal, flexibilidade e resistência cardiovascular. II. Possui cinco componentes relativos à performance – coordenação, equilíbrio, agilidade, velocidade e potência. III. Seus componentes são velocidade, composição corporal, flexibilidade e potência. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): A alternativa "B " está correta.Compreender a subdivisão da aptidão física é um bom indicador para planejar o desenvolvimento, a aprendizagem, o controle e o posterior desempenho motor. MÓDULO 3 Identificar uma prática de intervenção profissional a partir das habilidades desenvolvidas no comportamento motor. NEUROCIÊNCIA DO EXERCÍCIO A Neurociência é a ciência que estuda o Sistema Nervoso Central (SNC) e o Sistema Nervoso Periférico (SNP), integrada com as bases cerebrais da mente e do comportamento humano, diante dos estudos do conhecimento científico entre a mente e o cérebro, a consciência e a cognição, para entender as questões da aprendizagem e o comportamento humano (RELVAS, 2017). O sistema nervoso tem como função receber e transmitir impulsos elétricos. Ele é dividido em Sistema Nervoso Central (SNC), formado pelo encéfalo e pela medula espinhal, e Sistema Nervoso Periférico (SNP), constituído por nervos e gânglios. Imagem: OpenStax/Wikimedia Commmons/ CC BY-SA 4.0 adaptado por Tiago Figueiredo Sistema nervoso. O tecido nervoso é composto, principalmente, por: neurônios, células com longos prolongamentos e células da glia ou neuroglias, que sustentam os neurônios e participam de outras funções importantes. Os neurônios aferentes são os responsáveis por levar informações do SNP para o SNC. Os eferentes transmitem informações do SNC para o SNP. A glia é constituída por células não neurais que auxiliam os neurônios, formando uma cobertura que circunda e isola os axônios por uma barreira chamada bainha de mielina, cuja função é transmitir os impulsos nervosos. Existem, ainda, células gliais, que nutrem, sustentam e protegem os neurônios. PARA COMPREENDER A COMUNICAÇÃO ENTRE SNC E SNP E SUA RELAÇÃO COM O COMPORTAMENTO MOTOR, É NECESSÁRIO COMPREENDER O CONCEITO DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL, IMPLÍCITO NA DIFERENCIAÇÃO ENTRE SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO. Imagem: Glaunakamura / Wikimedia Commmons / CC BY-SA 4.0 Inervação do SNP em comunicação com o SNC – caminho percorrido por todas as sensações. O QUE SÃO SENSAÇÕES? A palavra sensação vem do latim sentio, que significa ter ou experimentar pelos sentidos. Portanto, as sensações são os sentimentos, aquilo que se manifesta como reações neurovegetativas. Elas estão divididas em três grupos: Imagem: Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito. Sensações. 1 INTEROCEPTIVAS Sensações oriundas do meio interno do organismo, que asseguram a regulação das necessidades elementares. São elas que expressam fome, estados de tensão, satisfação etc. PROPRIOCEPTIVAS Sensações oriundas das informações sobre a posição do corpo no espaço e sobre as posturas, garantindo a regulação dos movimentos. Estão vinculadas aos receptores periféricos, ou seja, músculos e articulações – canais semicirculares que informam as mudanças da posição no espaço. 2 3 EXTEROCEPTIVAS Sensações oriundas do mundo exterior, ou seja, olfato, visão, audição, tato e paladar. O QUE SÃO PERCEPÇÕES? A palavra percepção vem do latim percepiere, que significa se apoderar, movimento de colher. As percepções surgem a partir das sensações. As sensações são as informações como são. Já as percepções passam por um processamento, no qual são organizadas e analisadas a partir de nossas experiências anteriores, o que gera um olhar subjetivo. EXEMPLO A sensação do frio para todos nós é a mesma – fria –, mas sua percepção é subjetiva, isto é, para alguns, agradável e, para outros, nem tanto. Merleau-Ponty (1999) afirma que um dos prejuízos da humanidade, em especial, na análise das filosofias clássicas, é relacionar sensação e percepção como sinônimos. Para ele, a sensação ocorre pelos órgãos dos sentidos e possui qualidades primárias e secundárias. É o juízo de uma realidade concreta, o visível: “A sensação pura será a experiência de um ‘choque’ indiferenciado, instantâneo e pontual” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 23). Já a percepção é a maneira pela qual somos afetados, é um estado de nós mesmos, é a interpretação daquilo que sentimos, pois olhar sem sentir é não perceber a essência do que observamos. Assim, o sentido do que vemos é a essência, é o fenômeno, é o invisível (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 23). AS CONEXÕES ENTRE SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO, EM ESPECIAL, A COMPREENSÃO DO CONCEITO DE PERCEPÇÃO, SÃO FRUTOS DOS ESTUDOS DO PSIQUISMO. PARA ENTENDERMOS ISSO, VAMOS VOLTAR UM POUCO NA HISTÓRIA DO CORPO. Antes de interpretar os aspectos psíquicos da Psicomotricidade, é preciso compreender o ser humano por meio de seu corpo, em conexão com seu mundo interno e externo. Vejamos como esse processo ocorre. Imagem: Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito. Integração sensorial. Os órgãos do sentido são responsáveis por levar as informações sensoriais para o SNC, são as vias sensitivas por meio dos neurônios aferentes que direcionam as informações para o SNC. De lá, as informações processadas produzem respostas motoras que, por meio das vias motoras e dos neurônios eferentes, dão o estímulo necessário ao sistema muscular. ATENÇÃO Os neurônios motores são células que controlam as atividades dos músculos esqueléticos. As fibras musculares esqueléticas são inervadas diretamente pelos neurônios motores inferiores. Os neurônios na região espinhal interagem e determinam as informações transmitidas pelos neurônios motores inferiores aos músculos. Sendo assim, a integração sensorial só ocorre pela comunicação neurológica entre SNC e SNP, entre o processamento da sensação para a percepção e consequente resposta. ASSIM, O MOVIMENTO É PRODUZIDO. DO PROCESSAMENTO DA SENSAÇÃO ATÉ A RESPOSTA MOTORA HÁ UM LONGO CAMINHO BIOLÓGICO. PARA COMPREENDER ESSE CAMINHO, TRATAREMOS, A SEGUIR, DO FUNCIONAMENTO CEREBRAL. FUNCIONAMENTO CEREBRAL Existem inúmeras teorias sobre como ocorre a organização funcional do cérebro humano, dentre elas, a teoria de Alexander Luria, que descreveu um modelo no qual o cérebro humano opera a partir de unidades funcionais que trabalham em conjunto em prol de uma função complexa, independentemente de sua distribuição. “Luria apresenta uma alternativa à questão tão debatida das localizações cerebrais, distinguindo a função como funcionamento de um tecido particular e a função como sistema funcional complexo” (LURIA, 1980 apud FREITAS, 2006, p. 91-92). Ele relata que os processos mentais são sistemas funcionais complexos. Luria pensou o Sistema Nervoso Central estruturado de modo hierarquizado e verticalizado. As estruturas superiores são dependentes das estruturas inferiores. Quanto mais superior, mais elaborada a função. ALEXANDER LURIA (1902-1907) javascript:void(0) Foto: Autor desconhecido / Wikimedia Commmons / Public domain Alexander Luria, foto tirada por volta de 1940. Grande pesquisador, médico e psicólogo russo, que trabalhou com o psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934), por quem tinha grande admiração. Foi um dos pioneiros da ciência do sistema nervoso. Suas pesquisas inauguraram um novo capítulo do estudo do cérebro e da função interna de funcionamento, introduzindo um novo ramo científico, chamado de Psiconeurologia. Dentre os muitos legados deixados por ele, a formulação do conceito de neuroplasticidade foi um dos mais extraordinários para a humanidade. Segundo Luria (1984), o cérebro contém sistemas individuais que fornecem as condições para operacionalizar a atividade mental superior, a qual antecede a conduta consciente humana. Imagem: Shutterstock.com O autor começa a abordar a noção de função como um sistema complexo e plástico, que, para realizar uma tarefa particular, utiliza um grupo de componentes diferentes e permutáveis. Qualquer que seja a tarefa, trata-se de uma atividade conjunta de níveis corticais e subcorticais que se retroalimentam em um processamento simultâneo. COMENTÁRIO Essa visão das relações entre cérebro e comportamento permite encarar a lesão cerebral de modo diferente dos estudos anteriores. Isso poque, aqui, a função é distribuída por várias zonas do cérebro, o que faz comque uma lesão produza um efeito distinto no comportamento. Assim, o efeito da lesão atua como elemento de desorganização do sistema de trabalho das diferentes áreas dispersas e interativas. De acordo com Luria (1984), a reabilitação da função não é atribuída à regressão ao estágio anterior de organização nem à transferência de função para um novo centro, mas sim, a uma reorganização estrutural de um novo e dinâmico sistema, englobando informações superiores e inferiores, corticais e subcorticais. Segundo Fonseca (2012), Luria introduziu a noção de organização sistêmica, que ajuda a explicar a reabilitação da função, em especial, nas crianças e jovens e, assim como Vygotsky, reforçou que as formas superiores de atividade mental têm sua gênese nas questões sócio-históricas e culturais, as quais emergem no desenvolvimento da motricidade e da linguagem, guiando e organizando a atividade psíquica superior, ou seja, a atividade do próprio cérebro. Vejamos alguns objetos de estudo de Luria (1984) que refletem na motricidade e na linguagem humana: Estrutura interna da atividade mental. Organização dos diferentes componentes que contribuem para a estrutura final da atividade mental. Análise da atividade psicológica humana que está por trás da ação propriamente dita. Ao abordar a noção de função como um sistema complexo e plástico, Luria (1984) aponta que as condições para a operacionalização das atividades mentais superiores que antecedem toda conduta consciente humana estão diretamente vinculadas a esses sistemas do cérebro. As funções psicomotoras e os substratos neurológicos utilizados por elas passam a ser vistos como sistemas organizados, dinâmicos e complexos. ATENÇÃO Ausentes no instante do nascimento, as zonas de trabalho responsáveis pela atividade cognitiva complexa (psicomotora ou simbólica) são encadeadas estruturalmente durante o processo de desenvolvimento. Toda aquisição cognitiva da criança – postura bípede, manipulação práxica, compreensão auditiva, fala, leitura, escrita etc. – é consequência de uma atividade simultânea e integrada dos centros de trabalho dispersos no cérebro. DO MESMO MODO QUE NÃO PODEMOS DESVINCULAR A LINGUAGEM GESTUAL, A COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL EMOCIONAL E MÍMICA, A ATENÇÃO, A PERCEPÇÃO, A MEMÓRIA E O PENSAMENTO DA LINGUAGEM FALADA, NÃO PODEMOS ESTUDAR A MOTRICIDADE HUMANA DE FORMA ISOLADA. AFINAL, PARA QUE ELA OCORRA, DEVE HAVER A ORGANIZAÇÃO DO TÔNUS DE REPOUSO E DE AÇÃO, O CONTROLE POSTURAL, A REGULAÇÃO VESTIBULAR ANTIGRAVITACIONAL E ESPACIAL, A NOÇÃO DO CORPO E SUA RELAÇÃO COM O ESPAÇO, A MEMÓRIA E AS AFERÊNCIAS DO MEIO. UNIDADES FUNCIONAIS DO CÉREBRO Para Luria (1984), o cérebro é composto de múltiplas estruturas funcionais, que estão sistematicamente integradas em três grandes unidades funcionais fundamentais, as quais participam de todo tipo de atividade mental, seja no movimento voluntário, na elaboração práxica e psicomotora, seja na produção da linguagem falada ou escrita. As três unidades funcionais de Luria (1984) são: PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL SEGUNDA UNIDADE FUNDAMENTAL TERCEIRA UNIDADE FUNDAMENTAL A atividade mental do ser humano, em geral, e sua atividade consciente, em particular, acontecem a partir da participação conjunta das três unidades funcionais fundamentais. Cada uma delas tem sua função no processamento mental materializado no comportamento humano. Segundo Fonseca (2012), cada uma das três unidades funcionais básicas apresenta uma estrutura hierarquizada em três zonas corticais, organizadas verticalmente. São elas: Imagem: Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito. Estrutura hierarquizada em três zonas corticais. PROJEÇÃO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) PROJEÇÃO-ASSOCIAÇÃO SOBREPOSIÇÃO PROJEÇÃO Recebe e emite os impulsos para a periferia. PROJEÇÃO-ASSOCIAÇÃO Processa a informação integrada e prepara os programas. SOBREPOSIÇÃO Organiza as formas mais complexas de atividade, exigindo a participação conjunta de muitas áreas corticais – razão pela qual é a última estrutura a se desenvolver em termos filogenéticos e ontogenéticos. ATENÇÃO A diferenciação estrutural de unidades funcionais atinge graus de progressiva organização. Imagem: Shutterstock.com PRIMEIRA UNIDADE Sobre a primeira unidade, para o desenvolvimento humano, o estado de alerta e vigilância é fundamental. Além disso, certo nível tônico cortical é imprescindível a qualquer atividade mental, da mesma forma que certo nível tônico postural é imprescindível ao movimento voluntário. Esta unidade se estrutura a partir do tronco encefálico, o qual fica localizado entre a medula e o cérebro. A primeira função do tronco cerebral é a regulação do ciclo sono-vigília em estados atencionais. VOCÊ SABIA O aumento e a modulação da vigilância foi uma necessidade para a sobrevivência da espécie humana, da filogênese à ontogênese. A preparação para o inesperado é uma condição de sobrevivência ainda hoje. A adaptação e a superação de situações inesperadas necessitam de uma mobilidade energética, compatível com a modificação tônica ocorrida nas respostas adaptativas. Sem uma modulação tônica, nem a atividade mental nem a atividade corporal que lhe dá suporte podem se desenvolver (FONSECA, 2012). A PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL ESTÁ LOCALIZADA NO TRONCO CEREBRAL, NO DIENCÉFALO E NAS REGIÕES MÉDIAS DO CÓRTEX. SEGUNDA UNIDADE A segunda unidade é específica em termos de modalidade sensorial, capaz de receber informações visuais, auditivas, gustativas, olfativas, vestibulares e tátil-cinestésicas. É o grande sistema de recepção (input), análise e armazenamento oriundo do mundo exterior e do mundo interno ao indivíduo, que reúne um mecanismo sensorial específico dos processos gnósicos, ou seja, instrumentos perceptivos. É nessa unidade que as sensações, após serem processadas, transformam-se em percepções. Isso é o processo gnósico! É na segunda unidade funcional que ocorrem a sensação e a percepção a partir dos sentidos (interoceptivos, exteroceptivos e proprioceptivos). Cabe a ela receber e analisar as informações que chegam dos órgãos sensoriais, interpretando-as e lhes atribuindo significado. São os chamados processamento, interpretação, organização e armazenamento das informações. A SEGUNDA UNIDADE FUNCIONAL ESTÁ LOCALIZADA NAS REGIÕES POSTERIORES E LATERAIS DO NEOCÓRTEX, QUE REPRESENTA A CONVEXIDADE SUPERFICIAL DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS. TERCEIRA UNIDADE A terceira unidade é responsável por programar, regular e verificar, ou seja, organizar a atividade consciente. O córtex frontal participa da preparação dos processos de ativação que surgem com as formas mais complexas de atividade consciente. Segundo Fonseca (2012), o desenvolvimento dessa terceira unidade funcional está associado à progressiva corticalização das funções de programação, regulação e verificação das atividades conscientes – funções inseparáveis da linguagem, que é o maior regulador do comportamento humano. A TERCEIRA UNIDADE FUNCIONAL (CÓRTEX ANTERIOR) É RESPONSÁVEL PELA REGULAÇÃO DA RESPOSTA E DA AÇÃO MOTORA. ELA ESTÁ LOCALIZADA NA REGIÃO DO CÓRTEX ANTERIOR, EXATAMENTE À FRENTE DO SULCO CENTRAL, FORMANDO OS LÓBULOS FRONTAIS. ATENÇÃO As três unidades apresentam atividade hierarquizada, mas, dialeticamente, são recíprocas, colocando em prática a atividade de uma unidade em interação com as outras. DESENVOLVIMENTO, APRENDIZAGEM, CONTROLE E DESEMPENHO MOTORES O processo de desenvolvimento motor é o resultado das características pessoais do indivíduo (aspectos biológicos) somado a suas experiências e necessidades. Desenvolvimento motor Aspectos biológicos Experiências e necessidades De acordo com Gallahue e Ozmun (2013), são três os fatores a serem considerados para análise operacional da causa do desenvolvimento motor: indivíduo, ambiente e tarefa. A interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente alteram continuamente o comportamento motor deum indivíduo durante seu ciclo da vida, ocasionando seu desenvolvimento motor. O desenvolvimento motor também pode ser definido como o estudo das mudanças que ocorrem no comportamento motor humano durante as várias fases da vida. É um processo sequencial e contínuo que se relaciona com a idade, mas não depende exclusivamente dela, podendo ser mais rápido ou mais lento, algo ordenado. RESUMINDO Determinado avanço serve de base para a aquisição seguinte, de maneira irreversível, ordenada e controlada. Essas mudanças no comportamento motor são o resultado das interações entre o indivíduo e o ambiente. Isso inclui aspectos físicos, sociais, afetivos e cognitivos. NO ENSINO DE HABILIDADES MOTORAS, UMA ÁREA QUE INVESTIGA FATORES QUE AUXILIAM NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM É A ÁREA DA APRENDIZAGEM MOTORA. DENTRE OS FATORES INVESTIGADOS ESTÃO AS FORMAS DE FORNECER INFORMAÇÃO PRÉVIA À PRÁTICA, O ESTABELECIMENTO DE METAS A SEREM ATINGIDAS DURANTE A PRÁTICA, AS FORMAS DE CORREÇÃO APÓS A PRÁTICA E, POR ÚLTIMO, A PRÁTICA PROPRIAMENTE DITA. AS FORMAS DE FORNECER INFORMAÇÃO PRÉVIA À PRÁTICA DO GESTO MOTOR PODEM SER A INSTRUÇÃO VERBAL E A DEMONSTRAÇÃO. (UGRINOWITSCH; BENDA, 2011, p. 25) A APRENDIZAGEM MOTORA PODE SER APRESENTADA EM DOIS PROCESSOS FUNDAMENTAIS: ESTABILIZAÇÃO E ADAPTAÇÃO. O PRIMEIRO É AQUELE EM QUE SE BUSCA, COMO A PRÓPRIA PALAVRA INDICA, A ESTABILIDADE FUNCIONAL, QUE RESULTA NA PADRONIZAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL DO MOVIMENTO, ISTO É, NA FORMAÇÃO DE UMA ESTRUTURA. MOVIMENTOS INICIALMENTE INCONSISTENTES VÃO SENDO GRADATIVAMENTE REFINADOS ATÉ SE ALCANÇAR PADRÕES DE MOVIMENTO PRECISOS E CONSISTENTES. NESSE PROCESSO, O ELEMENTO FUNDAMENTAL É O FEEDBACK, OU SEJA, MECANISMO DE REDUÇÃO DO ERRO. O SEGUNDO É AQUELE EM QUE SE PROCURA ADAPTAÇÕES ÀS NOVAS SITUAÇÕES OU TAREFAS MOTORAS (PERTURBAÇÃO), MEDIANTE A APLICAÇÃO DAS HABILIDADES JÁ ADQUIRIDAS. NESSE PROCESSO, EXIGEM-SE MODIFICAÇÕES NA ESTRUTURA DA HABILIDADE JÁ ADQUIRIDA E SUA POSTERIOR REORGANIZAÇÃO EM UM NÍVEL SUPERIOR DE COMPLEXIDADE. EXISTEM PERTURBAÇÕES PARA AS QUAIS A ADAPTAÇÃO SE FAZ PELA FLEXIBILIDADE INERENTE À ESTRUTURA ADQUIRIDA, OU SEJA, PELA MUDANÇA DE PARÂMETROS DO MOVIMENTO. ENTRETANTO, EXISTEM PERTURBAÇÕES DE TAL NÍVEL QUE, POR MAIS QUE HAJA DISPONIBILIDADE NA ESTRUTURA, NÃO HÁ CONDIÇÕES DE ADAPTAR-SE. NESSE CASO, EXIGE-SE UMA REORGANIZAÇÃO DA PRÓPRIA ESTRUTURA, QUE, QUANDO CONCLUÍDA, REFLETE UMA MUDANÇA QUALITATIVA DO SISTEMA. (TANI, 2000, p. 56) O CONTROLE MOTOR ESTÁ RELACIONADO AO SISTEMA NERVOSO, RESPONSÁVEL POR CONTROLAR MÚSCULOS E NERVOS, BEM COMO POR COORDENAR MOVIMENTOS E PERMITIR AS SENSAÇÕES NECESSÁRIAS PARA O DESENVOLVIMENTO MOTOR. COMENTÁRIO Compreender o funcionamento do sistema nervoso é fundamental para entender como o desenvolvimento motor ocorre e como utilizamos diversos parâmetros, como idade, sexo e características físicas e motoras, para ampliar nossos estudos e o conhecimento necessário para uma intervenção profissional que efetivamente favoreça a aprendizagem e o controle motor. No estudo do movimento humano, o desempenho motor está relacionado a fatores biológicos e mecânicos que influenciam o movimento, o que remete à necessidade de um ambiente que encoraje, assegure e favoreça o desenvolvimento motor, ou seja, a interação social com aqueles que “cuidam” das crianças. A prática da atividade física no decorrer do ciclo da vida é imprescindível por motivos bastante peculiares a cada ciclo. Vejamos sua relevância em cada fase de desenvolvimento: Foto: Shutterstock.com CICLO INICIAL Neste ciclo, a atividade física é capaz de apresentar o mundo ao bebê a partir das sensações absorvidas pelo próprio corpo. À medida que os bebês crescem, conhecendo o mundo pela perspectiva sensório-motora, seus corpos desenvolvem-se. Foto: Shutterstock.com INFÂNCIA A infância chega e, ainda a partir do corpo e da atividade física, a criança torna-se mais saudável do ponto de vista físico; mais inteligente e equilibrada do ponto de vista psicoemocional; capaz de se comunicar melhor do ponto de vista da socialização. Foto: Shutterstock.com ADOLESCÊNCIA Para os adolescentes, a atividade física é capaz de oferecer o equilíbrio biológico e emocional, tão necessários nessa fase turbulenta dos organismos, inicialmente, amenizando os efeitos da puberdade. Foto: Shutterstock.com FASE ADULTA Nesta fase, a atividade física auxilia na manutenção da saúde física e mental. As atividades desenvolvidas podem ser uma continuidade daquelas praticadas em fases anteriores, ou podem representar novas aprendizagens e descobertas. Foto: Shutterstock.com VELHICE A atividade física desacelera o processo de envelhecimento, muitas vezes, resgatando a autonomia. O corpo desenvolve o comportamento motor naturalmente, de acordo com as necessidades de cada fase da vida. Quando há a necessidade de um novo aprendizado motor, o comportamento motor modifica-se, porque aprendeu algo novo, e, assim, mais uma vez, o desenvolvimento acontece. Isso ocorre a partir do desenvolvimento e aperfeiçoamento das habilidades motoras. ATENÇÃO A aprendizagem e o controle motor podem ser mais exigidos para gestos motores muito elaborados. Quando isso ocorrer, o objetivo será o desempenho motor. Imagem: Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito. Desencadeamento de estruturas. COMO FUNCIONA A AQUISIÇÃO DE HABILIDADES MOTORAS? A especialista Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito esclarece o processo de desenvolvimento, aprendizagem e controle motor: VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR SOBRE OS CONCEITOS DE SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO: I. AMBOS OS CONCEITOS SÃO SINÔNIMOS. II. SE TENHO CALOR, É SENSAÇÃO E, SE ESSA EXPERIÊNCIA É INSUPORTÁVEL PARA MIM, É PERCEPÇÃO. III. SE TENHO CALOR, É PERCEPÇÃO E, SE ESSA EXPERIÊNCIA É INSUPORTÁVEL PARA MIM, É SENSAÇÃO. ESTÁ(ÃO) CORRETA(S) A(S) AFIRMATIVA(S): A) I somente B) II somente C) III somente D) I e II E) II e III 2. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR SOBRE A PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL DO CÉREBRO PROPOSTA POR LURIA (1984): I. O DESENVOLVIMENTO DO TÔNUS É IRRELEVANTE PARA O MOVIMENTO VOLUNTÁRIO. II. A ATIVIDADE MENTAL DEPENDE DE UM NÍVEL TÔNICO CORTICAL. III. ALERTA E VIGILÂNCIA SÃO ESTADOS ESSENCIAIS AO DESENVOLVIMENTO. ESTÁ(ÃO) CORRETA(S) A(S) AFIRMATIVA(S): A) I somente B) II somente C) III somente D) I e II E) II e III GABARITO 1. Analise as afirmativas a seguir sobre os conceitos de sensação e percepção: I. Ambos os conceitos são sinônimos. II. Se tenho calor, é sensação e, se essa experiência é insuportável para mim, é percepção. III. Se tenho calor, é percepção e, se essa experiência é insuportável para mim, é sensação. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): A alternativa "B " está correta. A sensação é igual para todas as pessoas. Já a percepção é individual, é subjetiva. 2. Analise as afirmativas a seguir sobre a primeira unidade funcional do cérebro proposta por Luria (1984): I. O desenvolvimento do tônus é irrelevante para o movimento voluntário. II. A atividade mental depende de um nível tônico cortical. III. Alerta e vigilância são estados essenciais ao desenvolvimento. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): A alternativa "E " está correta. A maturação do tônus representa a maturação da primeira unidade funcional. Para que ela ocorra, o tronco encefálico deve estar amadurecido, permitindo a passagem das informações sensoriais. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento motor saudável deve-se à prática da atividade física no decorrer do ciclo da vida. O exercício físico é proporcionado por meio das intervenções dos profissionais de Educação Física, os quais devem utilizar como ferramenta de seu planejamento o estímulo às habilidades motoras. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALCOCK, J. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. Porto Alegre: Artmed, 2011. BARROS, C. S. G. Pontos de psicologia do desenvolvimento. 2. ed.São Paulo: Ática, 1987. BERESFORD, H. Valor: saiba o que é. Rio de Janeiro: Shape, 1999. FONSECA, V. Da filogênese à ontogênese da motricidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. FONSECA, V. Manual de observação psicomotora. Rio de Janeiro: WAK, 2012. FREITAS, N. K. Desenvolvimento humano, organização funcional do cérebro e aprendizagem no pensamento de Luria e de Vygotsky. Ciências & Cognição, Rio de Janeiro, v. 9, p. 91-96, 2006. GALLAHUE, D.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor. São Paulo: Phorte, 2013. GESELL, A.; AMATRUDA, C. S. Diagnóstico do desenvolvimento: avaliação do desenvolvimento neuropsicológico no lactente e na criança pequena: o normal e o patológico. 4. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2000. GUYTON, A. C. Características especiais das fisiologias fetal e neonatal. In: GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro: Interamericana, 1977. HOLLAND, K. Seu bebê: do nascimento aos 6 meses. São Paulo: Publifolha, 2004. (Série Johnson’s Saúde e Carinho). LIMA, A. J. Crescimento e desenvolvimento da criança desnutrida. In: NÓBREGA, F. J. Desnutrição intrauterina e pós-natal. São Paulo: Panamed, 1981. LURIA, A. R. Fundamentos da neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1984. MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999. PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. O mundo da criança: da infância à adolescência. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1998. PIAGET, J. Epistemologia genética. 2. ed. São Paulo: Martins fontes, 2002. PUGLIESE, R. Bebê aquático. 1. ed. Curitiba: Appris, 2017. RELVAS, M. P. A neurobiologia da aprendizagem para uma escola humanizadora: observar, investigar e escutar. Rio de Janeiro: WAK, 2017. SILVA, S. M. M. Construção de um roteiro de observação para avaliar o desenvolvimento neuromotor de crianças desnutridas graves na 1ª infância. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) – Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 1994. TANI, G. Processo adaptativo em aprendizagem motora: o papel da variabilidade. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, p. 55-61, 2000. TONI, P. M. et al. Etologia humana: o exemplo do apego. Psico-USF, v. 9, n. 1, p. 99-104, 2004. UGRINOWITSCH, H.; BENDA, R. N. Contribuições da aprendizagem motora: a prática na intervenção em Educação Física. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 25, p. 25-35, 2011. WALLON, H. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 1989. EXPLORE+ Para se aprofundar nos assuntos estudados, sugerimos as seguintes leituras: FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 1998. MOSS, I. R. Considerações fisiológicas. In: OSKI, F. A. et al. (org.). Princípios e prática de pediatria. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992. TANI, G.; CORRÊA, U. C. Aprendizagem motora e o ensino do esporte. São Paulo: Blucher, 2016. CONTEUDISTA Rossana de Vasconcelos Pugliese Vito CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DESCRIÇÃO Conceituação do desenvolvimento motor, identificação das fases do desenvolvimento motor, compreensão da estrutura de controle neural do movimento e apresentação das fases do desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais. PROPÓSITO Compreender a estrutura do controle neural do movimento, as fases do desenvolvimento humano e das habilidades motoras fundamentais é primordial para a organização da prática profissional. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever os conceitos referentes à organização neural segundo as três unidades funcionais de Luria MÓDULO 2 Identificar a sistematização das fases do movimento segundo o desenvolvimento humano MÓDULO 3 Relacionar as habilidades motoras de acordo com seus estágios de desenvolvimento INTRODUÇÃO O comportamento motor absorve conhecimento de diversas áreas de estudo, dentre elas: Fisiologia, Biomecânica, Psicologia, Cinesiologia e Neurociência. Essa última promove sua contribuição por meio de estudos sobre as estruturas e o funcionamento da organização neural das funções mentais e orgânicas. Neste conteúdo, o foco será a compreensão do desenvolvimento motor e suas fases por meio de um embasamento teórico sobre os princípios que norteiam a relação entre as habilidades cognitivas e motoras, a partir de uma abordagem interdisciplinar do estudo do comportamento motor. Uma abordagem sobre o conhecimento a respeito do movimento humano depende de um olhar de especificidade em relação aos elementos que compõem esse conjunto de conceitos. Essa medida promove uma compreensão mais segura a respeito do movimento e de como o seu desenvolvimento acontece. A sequência dos conteúdos aqui apresentados será distribuída em alguns aspectos, como: conhecimento sobre as fases do desenvolvimento motor; controle neural que organiza e possibilita a realização motora e suas fases de evolução; e classificação das habilidades motoras, sobretudo com intuito de reconhecer a evolução dos elementos que compõem o desenvolvimento motor, o qual se dá a partir de um mecanismo mais simples até atingir uma organização mais complexa. MÓDULO 1 Descrever os conceitos referentes à organização neural segundo as três unidades funcionais de Luria ORGANIZAÇÃO CENTRAL DO CONTROLE NEURAL Tratar das fases do desenvolvimento motor nos remete, primeiramente, a entender o que é o desenvolvimento motor pela sua definição e abrangência. O que é preciso saber sobre o desenvolvimento motor? Qual a função do conhecimento sobre o desenvolvimento motor para a prática educativa? O desenvolvimento motor é um conhecimento muito abrangente que atende a uma esfera ampla de tópicos relacionados à estrutura física e à capacidade do movimento humano. Diz respeito aos indivíduos nas suas interações com o ambiente, com os objetos e com os outros no seu dia a dia, em atividades específicas relacionadas ao seu mundo profissional e particular. Outro aspecto interessante do desenvolvimento motor é que se trata de um fenômeno que se estende desde a concepção até o final da vida. Ainda inseridos no universo de estudo a respeito do movimento humano, existem variáveis ao estado de saúde relacionados às dificuldades e/ou alterações do desenvolvimento típico, como no caso das pessoas com deficiência. Imagem: Shutterstock.com A organização motora tem o seu controle funcional sediado no sistema nervoso sob a coordenação de estruturas centrais e periféricas que funcionam de forma integrada e harmônica, criando um perfeito sistema de realização motora. A motricidade humana passou por um processo de evolução em comparação aos demais seres vivos, sendo organizada a partir de uma postura bípede. Essa posição proporcionou ao ser humano a organização de uma motricidade fina que o permite não apenas a realização de tarefas em resposta a estímulos em relação ao ambiente, mas também a transformação desse ambiente a partir da associação dessa capacidade motora fina à sua capacidade cognitiva. Dessa forma, libertando os membros superiores para expressar sua emoção, estabelecer relações e transformar sua realidade. O controle neural da motricidade humana envolve estruturas específicas e uma organização de extrema complexidade, controlada e efetivada por estruturas do Sistema Nervoso Central e Periférico. O controle do movimento envolve também a compreensão na interrelação entre a realização motora propriamente dita e os componentes cognitivos, como as funções executivas, cognição, memória, percepção e atenção. Autores de fundamental importância se dedicaram ao desenvolvimento do conhecimento específico a respeito da organização neural do movimento, como Alexander Luria, que se dedicou à compreensão do controle motor a partir da organização cerebral sistematizada em unidades funcionais denominadas “Unidades Funcionais de Luria”. Alexander Luria teve reconhecimento mundial e criou um modelo de funcionamento da cogniçãoe da motricidade javascript:void(0) humana, baseando suas pesquisas na observação dos soldados que apresentavam lesões no cérebro no período pós-guerra. Imagem: Wikimedia Commons/CC-PD-Mark ALEXANDER LURIA Alexander Luria (1902 – 1977) foi um grande neuropsicólogo russo que trabalhou com Lev Vygotsky, sendo um dos pioneiros da ciência do sistema nervoso. A partir de 2008, o autor Vitor da Fonseca relacionou as unidades funcionais de Luria com os conhecimentos da Psicomotricidade, promovendo uma associação entre cognição, pensamento, funções cognitivas e funções motoras. Segundo o modelo de Alexander Luria e as especificações criadas por Vitor da Fonseca, é possível entender a motricidade humana a partir do estudo do cérebro em sua organização estrutural e funcional. VITOR DA FONSECA javascript:void(0) Professor catedrático agregado da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. Especializado em Intervenção Cognitiva, Dificuldades de Aprendizagem e Psicomotricidade. O estudo do comportamento das funções cognitivas, receptivas, integrativas intrínsecas à motricidade humana e, consequentemente, ao estudo da motricidade nas funções cognitivas e executivas de planificação, controle, organização funcional, monitoração e verificação da motricidade humana demonstra a operação de uma forma específica. Seu funcionamento básico pode ser representado pela recepção sensorial, pela integração (constituída pelo processamento, armazenamento, conhecimento, aprendizagem e emoções adquiridas) e pela expressão propriamente dita, que é a realização motora. Os estímulos captados pelo organismo humano são oriundos dos ambientes externo e interno. Essas informações são enviadas ao cérebro pelas vias aferentes e captadas pelos canais sensoriais em uma etapa denominada processamento central. As etapas seguintes podem ser identificadas como um planejamento da resposta e o envio dessa resposta pelo cérebro para o corpo por meio das vias eferentes. Assim, é dada a produção da ação, do gesto ou da motricidade enquanto resposta adaptativa ao comportamento humano. Desse modo, colocando em funcionamento as funções cognitivas e executivas de planificação, monitoração, priorização, decisão, verificação dos resultados e consequências. VIAS AFERENTES Vias que organizam a condução dos estímulos da periferia para as regiões centrais do sistema nervoso, passando por estruturas subcorticais, chegando ao córtex cerebral, onde ocorre a identificação, a decodificação e o processamento desses estímulos. VIAS EFERENTES javascript:void(0) javascript:void(0) Vias que levam a informação dos centros corticais superiores à periferia. Imagem: shutterstock.com Localização das unidades funcionais de Luria. Como dito, a motricidade humana é organizada a partir de uma sequência evolutiva na aquisição dos movimentos, desde reflexos e instintos, como as expressões mais básicas de sobrevivência, até as organizações motoras chamadas praxias, como expressões superiores de capacidade criativa máxima e relação com o ambiente cultural. Qualquer uma dessas respostas é responsável pela reação adaptativa e evoluída da espécie e, segundo Luria, pelo funcionamento sistêmico integrado do cérebro com base na integração de três unidades ou sistemas neurofuncionais. A primeira unidade indicada por Luria está relacionada ao processo de atenção. A segunda unidade está relacionada à capacidade de processamento. A terceira está relacionada à função de planificação e execução. ATENÇÃO Cada uma dessas unidades está envolvida em todos os tipos de motricidade, entretanto a contribuição relativa de cada uma delas varia conforme o comportamento em questão, ou seja, de acordo com uma motricidade mais ampla, ou de acordo com uma motricidade mais específica. As unidades funcionais de Luria serão detalhadas a seguir. UNIDADES FUNCIONAIS DE LURIA A primeira unidade de Luria está situada no plano inferior do cérebro e está relacionada com o processo de ativação, fornecendo ao cérebro o nível adequado e seletivo de alerta para atenção, controle da tonicidade corporal e da tonicidade cortical. A segunda unidade está situada no plano posterior do córtex cerebral, sendo responsável pelo processo de integração, codificação e processamento dos estímulos sensoriais. A terceira unidade está situada no plano anterior do córtex cerebral e se responsabiliza pela elaboração, planificação e produção do movimento. As três unidades obedecem a uma organização funcional hierárquica de baixo para cima, de trás para frente e da direita para a esquerda. PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL A primeira unidade relaciona-se fundamentalmente com a função de atenção e é composta pelas estruturas do tronco cerebral e as estruturas subcorticais e axiais do cérebro, as quais suportam os dois hemisférios, e integram o sistema de ativação reticular ascendente e descendente. É responsável pela moderação do alerta corporal e cortical, bem como pelas funções de sobrevivência, de vigilância tônico-postural, de filtragem, focagem e integração dos impulsos sensoriais. Em síntese, compreendem a atenção uniforme do pronto para a ação, ou a postura do organismo para agir e responder adequadamente às influências do meio externo ou do ambiente. Imagem: shutterstock.com Primeira unidade funcional – Atenção e vigília. Essa unidade compreende o tronco cerebral, o cerebelo, o diencéfalo, o sistema límbico, o hipotálamo e o tálamo. Sem a ação dessa unidade, o cérebro seria incapaz de organizar respostas eficazes aos estímulos advindos do mundo e seria ineficiente a manutenção de um nível ótimo do metabolismo fisiológico. Isso colocaria em risco não só a interação entre o corpo e o cérebro, mas também a interação entre a sensorialidade e a motricidade subjetiva e conotativa do organismo total do indivíduo com seus ecossistemas. Mais especificamente, essa unidade funcional se responsabiliza pelas funções mentais, atencionais e motoras, unindo a percepção e a ação. A motricidade humana é carregada da função da intencionalidade. Isso é decorrente de uma característica específica da espécie humana: a capacidade de consciência, ou seja, existe efetivamente uma cognição e um pensamento que se responsabiliza por organizar intencionalmente as ações através de uma planificação. Portanto, pode-se dizer que os humanos são possuidores de uma inteligência cinestésica e que os indivíduos não são apenas reprodutores de movimentos, e sim perceptores, conhecedores e controladores do meio em que vivem. Os seres humanos são capazes de regular a atenção, a tonicidade envolvendo uma capacidade de garantir o seu bem-estar, a orientação, a motivação e a seletividade. A sustentação modulada e harmonizada em relação às duas outras unidades funcionais permite acesso às funções psíquicas superiores de processamento, armazenamento, recuperação para planificação e execução intencional e adaptativa ao meio ambiente. Essa unidade funcional está implicada na filtragem, seleção, integração sensorial tônica e tônico-motora dos estímulos e das respostas. SAIBA MAIS Também possui a propriedade de impedir que o cérebro seja inundado desnecessariamente com informações sensoriais sem importância, as quais possam causar interferência negativa no processamento cognitivo mais elaborado, fazendo com que, de fato, seja cumprido o papel fundamental de concentração e foco na direcionalização e na fixação da atenção. Sem essa função, não é possível atingir patamares de reconhecimento de complexidade e organização seletiva com as outras unidades funcionais envolvidas em comportamentos e aprendizagens mais complexas. SEGUNDA UNIDADE FUNCIONAL A segunda unidade está localizada na zona posterior do cérebro e é composta pelo córtex occipital, responsável pela visão; pelo córtex temporal, responsável pela audição; e o córtex parietal, responsável pela discriminação tátil e pela motricidade, movimento ou cinestesia. Essa unidade opera
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