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Ano V I • Nº 19 • Fev/Abr - 2003 ISSN 1519-0412 Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 3 Fev/Abr - 2003 Pensar Editorial Balanço Contábil de 2002: Realidade ou Ficção? ............................................................. 4 Hugo Rocha Braga O Tratamento Contábil de Instrumentos Financeiros Derivativos no Brasil Um Estudo de Caso: Banco Itaú S/A. ................................... 6 Adolfo Henrique Coutinho e Silva Carlos Eduardo V. da Silva Ativos e Passivos Fiscais Diferidos: ..................................... 13 Paulo Henrique Barbosa Pêgas A Ausência da Taxionomia na Contabilidade de Custos: Uma Proposta de Estudo ....................................................... 21 José Carlos Sardinha Artur Olavo Ferreira Heber Luiz de Souza Financiamento do Capital de Giro ........................................ 26 André da Costa Ramos Ativo Intangível e Garantia do Capital .................................. 31 Antônio Lopes de Sá ICMS: O Crédito nas Aquisições de Materiais Para Uso e Consumo .............................................. 34 Helmuth Wieland Schmidt O Contabilista Como Mediador no Processo Cognitivo ................................................................ 41 Maria Elisabeth Pereira Kraemer O Uso de Informações Contábeis na Pequena Empresa .............................................................. 45 Irineu Afonso Frey Márcia Rosane Frey Índice Expediente CONSELHO REGIONAL DECONTABILIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Praça Pio X, 78 - 6º, 8º e 10º andares Rio de Janeiro - RJ - CEP 20091-040 Tel. (21) 2216-9595 - Fax (21) 2516-0878 Home Page: www.crc.org.br E-mail: pensarcontabil@crcrj.org.br Contábil ISSN 1519-0412 Uma publicação do CONSELHO DIRETOR Presidente: Nelson Monteiro da Rocha Vice-Presidente de Desenvolvimento Profissional: Antonio Miguel Fernandes Vice-Presidente de Administração e Finanças: Diva Maria de Oliveira Gesualdi Vice-Presidente de Fiscalização do Exercício Profissional: Vitória Maria da Silva Vice-Presidente de Registro: Carlos de La Rocque Vice-Presidente de Controle Interno: Paulo Cesar de Castro Vice-Presidente de Interior: Cezar Stagi CONSELHO EDITORIAL Coordenador: Antonio Miguel Fernandes Conselheiro Jorge Ribeiro dos Passos Rosa Conselheiro Josir Simeone Conselheiro Walter Conceição Conselheiro Waldir Ladeira Editora: Rosa Helena Martire (MT 21405) Projeto Gráfico: W&C- Comunicação Diagramação: Adriano Antunes dos Santos Revisão: Claudia Stivelman Estagiário: Marcelo Bernardo Pereira A leitura que constrói o futuro A vontade de dominar o conhecimento acompanha a trajetória humana. Em seus diálogos, Platão bus- cava compreender a natureza do conhecimento. A presença do conhecimento na história humana vai muito além das idéias e crenças. No importante livro “A riqueza e a pobreza das nações”, David Lan- des, demonstra de forma cabal que, nos últimos 600 anos, é a existência de uma sociedade aberta focali- zada no trabalho e no conhecimento que explica por- que alguns países ficaram muito ricos do que se po- deria esperar a partir de suas dimensões ou de seu poder militar. Nesse sentido, a Revista Pensar Contábil tem con- tribuído com diversas e valiosas oportunidades de reflexão sobre a dinâmica dos processos de geração e difusão do conhecimento, pois este é a única van- tagem competitiva de que os indivíduos e as organi- zações possuem. Por outro lado, educar-se a si mesmo é um ato de vontade baseado na não aceitação passiva do futu- ro. Nesse contexto, a Revista Pensar Contábil signifi- ca uma fonte importante para àqueles que desejam assumir responsabilidade não apenas de escolha, mas de fazer um esforço especial para, de fato, cons- truir o futuro. Boa leitura! Walter Carlos da Conceição Contador, Professor da UFF e Conselheiro do CRC-RJ. Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Fev/Abr - 2003 4 Pensar Contábil Em 1996, o governo federal efetuou, novamente, uma alteração na legisla- ção do imposto de renda da pessoa ju- rídica, vedando a utilização de qualquer sistema de correção monetária de de- monstrações contábeis, inclusive para fins societários. Acreditavam as autoridades fiscais que, com a queda dos índices de infla- ção, o fim da correção monetária dos balanços das empresa era coerente com todo o seu plano de desindexação da economia – Plano Real. Argumentavam os ministros da área econômica que, se a lei não mais garantia o reajuste dos salários dos trabalhadores pelo aumento da infla- ção, as empresas não poderiam ter tal prerrogativa. Era a forma de elimi- nar a chamada memória inflacionária da sociedade brasileira. Durante muitos anos, a bem da ver- dade, a inflação provocou uma perda continuada no poder aquisitivo da mo- eda nacional, determinando, em con- seqüência, elevados aumentos no ní- vel geral de preços da economia – ten- do superado, em diversos períodos, a faixa dos 100%. Uma inflação dessa magnitude pro- duziu efeitos tão significativos nas tran- sações das empresas, que suas de- monstrações contábeis não traduziam, adequadamente, a sua real situação fi- nanceira e os seus verdadeiros resul- tados, a ponto de torná-las úteis e con- fiáveis para seus usuários. Devido a isso, foi necessária a apli- cação de um sistema de contabiliza- � Hugo Rocha Braga Balanço Contábil de 2002: Realidade ou Ficção? ção que refletisse os efeitos das varia- ções de preços sobre as informações contidas nas demonstrações contá- beis, de modo a se obter uma apresen- tação correta das posições patrimoni- al, financeira e dos resultados de cada período considerado. A chamada atualização monetária do balanço (correção monetária) é uma téc- nica contábil, inclusive aceita interna- cionalmente (price level accounting), que tem como finalidade atualizar a ex- pressão monetária das demonstrações contábeis das empresas.Essa atuali- zação é necessária em decorrência da perda da capacidade aquisitiva da mo- eda nacional, causada pela inflação. Sem tal procedimento, os valores fi- cam distorcidos, os resultados tornam- se irreais e, desta forma, a maioria das empresas acaba pagando mais impos- to de renda, dividendos e participações do que deveriam, além de ficar com seu patrimônio subavaliado, prejudicando, também, os seus sócios ou acionistas. Com a eliminação da correção mo- netária, o governo fez com que as in- formações contidas nas demonstra- ções contábeis ficassem distorcidas, na medida em que, desde janeiro de 1996, não mais foram atualizados os seus valores pela variação do poder aquisitivo da moeda nacional. Tais variações, quando não com- putadas nos registros contábeis das empresas, provocam uma série cres- cente de decisões inadequadas, como distribuição de lucros inexisten- tes ou evidenciação de prejuízos não ocorridos, além da falta de transparên- cia e de um provável processo de des- capitalização. Que as empresas não possam con- siderar estas variações para efeitos tri- butários ou sejam impedidas de repas- sar os seus efeitos (custo das depreci- ações) para os seus preços, até se po- deria admitir, como medida de controle da inflação, em contraposição com al- gumas compensações que poderiam ser oferecidas. Todavia, vedar sua utiliza- ção, quando o IGP-M do período (janei- ro/1996 a novembro/2002) acumulou uma variação de, aproximadamente, 111% (IPC 61%), significa prejudicar a qualidade das informações que devem ser divulgadas aos usuários das de- monstrações contábeis (investidores, acionistas, credores, analistas e o pró- prio governo), gerando, inclusive, a ins- titucionalização da mentira contábil, le- galizando a maquiagem dos balanços, de recente e tão triste memória, até no mercado norte-americano. Aliás, esta equivocada decisão de acabar com a atualização monetária das demonstrações contábeis, infelizmente não foi uma novidade do governo ante- rior, pois já havia sido implementada nos vários planos econômicos, pelo menos nos últimos vinte anos (Cruzado, Verão, Bresser, Collor I e II etc). Entretanto, a sistemática de ajustamento era sempre restabelecida. Porém, como não pode- � Contador, Administrador e Professor Universitário Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 5 Fev/Abr - 2003 ria deixar de ser, gerando muitas se- qüelas, criando uma grande defasagem, que assumiu proporções anormais, ao longo dos anos, e provocou sérios pro- blemas para a credibilidade do merca- do de capitais. É preciso que os governos aprendam, de uma vez por todas, que o sistema contábil de correção monetária não necessita ser abolido, pois nos perío- dos de inflação baixa ou nula, os efei- tos também serão reduzidos ou nulos. Em outras palavras, com inflação re- duzida ou nula, qualquer sistema de atualização monetária não geral ne- nhum efeito. Portanto, continuar insistindo no la- mentável erro de pensar em quebrar o terrmômetro para acabar com a fe- bre é melhor desistir também de se implantar sistemas de governança cor- porativa. É triste, mas é real, porque a febre (inflação) voltou e a safra dos balanços de 2002, infelizmente, não vai eviden- ciar aquilo que a lei societária e a boa governança recomendam, ou seja a si- tuação financeira e os resultados da companhia... Vamos todos refletir a respeito. Participe! Publique seu livro! Verifique o regulamento no portal do CRC-RJ. Envie seu original para o CRC-RJ. Maiores informações no Departamento de Desenvolvimento Profissional (Despro) Tels: (21) 2216-9543/2216-9544/2216-9571 FREITAS BASTOS Prêmio FREITAS BASTOS Prêmio Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Fev/Abr - 2003 6 Pensar Contábil 1. Introdução A utilização de instrumentos financeiros derivativos tem sido uma prática muito comum entre as empresas financei- ras e não financeiras que atuam no Brasil. Estes instrumen- tos propiciam a elaboração de estratégias para proteção (hedge) contra variações de preços ou de taxas dos ativos e passivos, captação ou aplicação de recursos, bem como, para redução de custos operacionais ou diluição (gerencia- mento) de riscos inerentes às atividades das empresas. (TAKANO, 1999, p. 125) No início deste ano o Banco Central do Brasil - BACEN emitiu uma nova norma contábil (circular nº 3.082 de 30/01/02) com o objetivo de estabelecer critérios para registro e avaliação das operações realizadas com derivativos efetuados pelos bancos e demais instituições financeiras por ele regulados. Nesta nor- ma, os critérios de registro e avaliação consideram a intenção da empresa para cada operação com derivativos realizada, quais sejam: hedge, especulação/arbitragem ou captação de recur- sos. Este estudo tem por objetivo avaliar o impacto desta nova norma nas demonstrações contábeis das empresas através de um estudo de caso de uma instituição financeira de gran- de porte que atua no Brasil, o Banco Itaú S.A. Cabe esclare- cer que este estudo não tem por objetivo abordar as rotinas de contabilização e controle dos instrumentos financeiros de- rivativos. O artigo foi dividido em quatro partes além desta introdução. Na primeira parte é discutido o referencial teórico da pesquisa que está subdividido em dois itens: a prática contábil utilizada no Brasil antes e depois da vigência da circular nº 3.082/02. Na segunda parte, são apresentadas as informações colhidas so- bre a empresa objeto deste estudo. Na parte seguinte, é feita a � Adolfo Henrique Coutinho e Silva �� Carlos Eduardo V. da Silva � Mestrando em Ciências Contábeis pela UFRJ �� Mestrando em Ciências Contábeis pela UFRJ O Tratamento Contábil de Instrumentos Financeiros Derivativos no Brasil análise dos impactos causados pela vigência da circular nº 3.082/ 02 na empresa. Por fim, são apresentadas as considerações finais. 2.Referencial teórico 2.1 A prática contábil brasileira A primeira norma contábil brasileira específica sobre o tema foi elaborada pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, ór- gão regulador do mercado de capitais, em 1995 (Instrução Nor- mativa nº 235/95). Nesta norma, é requerida, basicamente, a evidenciação detalhada, em notas explicativas, das característi- cas das operações com derivativos realizadas pelas empresas. No caso das instituições financeiras, reguladas pelo BACEN, as operações com instrumentos financeiros derivativos continu- avam também sendo consideradas como operações “Off-Balan- ce Sheet” por não estarem registradas nas demonstrações con- tábeis, mas apenas evidenciadas em notas explicativas. O re- gistro dos valores nocionais relativos as operações derivativos em contas de compensação específicas estava prescrito no COSIF, exceto para as operações a termo (por conta própria) que são registadas em contas patrimoniais. - Antes da circular BACEN nº 3.082/02. Basicamente, antes da Circular BACEN nº 3.082/02, o trata- mento contábil utilizado pelas instituições financeiras para os instrumentos financeiros derivativos esta resumido na tabela a seguir. Um Estudo de Caso: Banco Itaú S/A. Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 7 Fev/Abr - 2003 Tabela 1 – Tratamento contábil de derivativos antes da Circu- lar nº 3.082/02.1 Instrumento Tratamento Contábil Mercado a Termo Valor do contrato: registrado em con- ta patrimonial pelo preço a vista. Diferença entre o preço à vista e a termo: registrado em despesas/ren- das a apropriar (conta retificadora). Taxas e emolumentos: registadas como custo do bem ou direito. Mercado Futuro Valor do contrato: registra-se em con- ta de compensação. Ajuste diário: faculta-se o seu regis- tro em conta patrimonial com con- trapartida em receita e despesa, respectivamente. Taxas e emolumentos: apropriadas em contas de resultado. Mercado de Opções Valor do contrato: registra-se em con- ta de compensação. Prêmio: quando pago, registrado em conta patrimonial do ativo circulan- te, quando recebido, registrado em conta patrimonial do passivo circu- lante. Devem ser valorizados men- salmente, título por título, sendo que, só será admitido o reconheci- mento contábil no caso de desva- lorização da carteira. No caso de exercício da opção pelo titular, o prêmio deverá ser baixado como redução ou aumento do custo do bem ou direito, enquanto, no caso de não exercício da opção pelo ti- tular, deve-se proceder a apropria- ção como receita ou despesa, con- forme o caso. Taxas e emolumentos: apropriadas em contas de resultado. Mercado de SWAP Valor do contrato: registra-se em con- ta de compensação. Diferencial a pagar e a receber: re- gistrado em conta patrimonial com contrapartida em receita e despe- sa, respectivamente. Taxas e emolumentos: apropriadas em contas de resultado. Fonte: Elaborada com base nas informações encontradas nos estudos de TAKANO (1999, p. 132), NIYAMA (1999, p. 227) e IRAN e LOPES (1999, p. 34). Até então, as instituições financeiras, deveriam, por ocasião da publicação das demonstrações financeiras, evidenciar em nota específica, os valores líquido e global das posições manti- das em operações a termo, futuro, opções e swaps, na respecti- va data-base. (NIYAMA, 1999, p. 227) - Após a circular BACEN nº 3.082/02: O BACEN, sabendo que o não reconhecimento das opera- ções com derivativos compromete a utilidade e integridade das demonstrações contábeis, publicou a circular nº 3.082 em 30 de janeiro de 2002. (com vigência a partir de 30 de junho de 2002). Esta nova norma obrigou o reconhecimento das operações com derivativos2 segundo uma classificação preestabelecida, a saber: operações de hedge3 e não hedge, sendo a primeira subdividida em duas categorias, hedge de risco de mercado e hedge de fluxo de caixa. Segundo LOPES e LIMA (2001, p. 28) as operações a serem classificadas no item hedge de valor de mercado (fair value hed- ge) dizem respeito as operações que destinam-se a proteção de uma exposição a mudanças no valor justo de um ativo ou passi- vo ou de um compromisso firme ainda não reconhecido. Por outro lado, às operações classificadas como hedge de fluxo de caixa (cash flow hedging) destinam-se a proteção de uma expo- sição de fluxo de caixa futuro estimado da instituição decorrente de um ativo ou passivo reconhecidos. Mais uma vez, o órgão regulador emitiu uma norma onde a intenção do administrador da empresa é importante na classifi- cação das operações nas demonstrações contábeis, e, por sua vez, na sua forma de contabilização. A seguir é demonstrado a representação gráfica relacionada a classificação e forma de reconhecimento dos derivativos con- forme a circular nº 3.082/02. Figura 1 – Representação da forma de classificação e a for- ma de reconhecimento de derivativos. Operações com Derivativos Finalidade Classificação Forma de Reconhecimento dos ganhos/ perdas Não-Hedge Outros Contrapartida em Resultado Fluxo de Caixa Risco de Mercado Contrapartida em Pat. Líq. Contrapartida em Resultado Hedge Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Fev/Abr - 2003 8 Pensar Contábil O reconhecimento contábil das operações não destinadas a hedge devem seguir o esquema demonstrado na tabela a se- guir: Tabela 2 – Tratamento contábil das operações com derivati- vos não destinados a hedge segundo a circular nº 3.082/02. Instrumento Tratamento contábil Operações a termo Balanço patrimonial: Registra-se, em contas de ativo ou passivo, o valor final contratado deduzido da diferença entre esse valor e o preço à vista do bem ou direito. Demonstração de resultado: apropriação das receitas e des- pesas em razão do prazo de flu- ência dos contratos. Operações de futuro Balanço patrimonial: Registra-se, em contas de ativo ou passivo, o valor dos ajustes diários. Demonstração de resultado: apropriação das receitas ou des- pesas como contrapartida dos ajustes diários. Operações com opções Balanço patrimonial: Registra-se, em contas de ativo ou passivo, o valor dos prêmios pagos ou re- cebidos até o efetivo exercício da opção. No caso de exercício da opção pelo titular, o prêmio de- verá ser baixado como redução ou aumento do custo do bem ou direito. Demonstração de resultado: apropriação como receita ou des- pesa no caso de não exercício da opção pelo titular. Operações de swap Balanço patrimonial: Registra- se, em contas de ativo ou pas- sivo, o diferencial a receber ou a pagar. Demonstração de resultado: apropriação das receitas ou des- pesas como contrapartida do di- ferencial mencionado. Outras Registra-se, em contas de ativo, passivo receita ou despesas, de acordo com as características do contrato. Fonte: Circular BACEN nº 3.082/02. Os instrumentos financeiros derivativos caracterizados como hedge devem ser reconhecidos conforme descrito na tabela a seguir. Tabela 3 – Tratamento contábil das operações com derivati- vos destinados a hedge segundo a circular nº 3.082/02. Tipo de hedge Tratamento contábil Hedge de risco de mercado Balanço patrimonial: o objeto do hedge e o derivativo devem ser ajustados ao valor de mercado. Demonstração do resultado: a valorização e desvalorização deve ser registrada em contra- partida a adequada conta de re- ceita e despesa. Hedge de fluxo de caixa Balanço patrimonial: o objeto do hedge e o derivativo devem ser ajustados ao valor de mercado. Demonstração do resultado: a valorização ou desvalorização diretamente relacionada a pro- teção do ativo objeto (valor acu- mulado) deve ser lançado em contrapartida a conta no patrimô- nio líquido, deduzida dos efei- tos tributário. Outras valoriza- ções ou desvalorizações deve ser registrada em contrapartida a adequada conta de receita e despesa. Fonte: Circular BACEN nº 3.082/02. A principal preocupação no tratamento contábil das ope- rações de hedge está relacionada a adequada confronta- ção das variações no preço do ativo objeto e dos efeitos relativos às operações com derivativos. Desta forma, o va- lor destes itens deve ser ajustado a valor de mercado na mesma data, se possível mensalmente, e os ganhos e per- das decorrentes reconhecidos no resultado simultaneamen- te. O BACEN exige que a avaliação dos derivativos seja feita pelo seu valor de mercado que pode ser apurado de quatro formas: (a) preço médio de negociação (em mercado ativo); (b) o valor líquido provável de realização obtido através da utiliza- ção de técnica ou modelo de precificação; (c) preço de instru- mento financeiro semelhante; ou (d) valor do ajuste diário no caso das operações realizadas no mercado futuro (art. 2 da cir- cular nº 3.082/02). Apesar de relativa flexibilidade na seleção da metodologia de apuração do valor de mercado a instituição fi- nanceira é obrigada a utilizar critérios consistentes e passíveis de verificação. As informações qualitativas e quantitativas requeridas são (art. 6, circular nº 3.082/02): (a) política de utilização; (b) ob- jetivos e estratégias de gerenciamento de riscos; (c) riscos associados a cada estratégia de atuação no mercado, contro- les internos e parâmetros utilizados de gerenciamento des- ses riscos; (d) critérios de avaliação e mensuração, métodos e premissa aplicados na apuração do valor de mercado; (e) valores registrados em contas de ativo, passivo e compensa- Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 9 Fev/Abr - 2003 ção segregados, por categoria, risco e estratégia de atuação no mercado; (f) valores agrupados por ativos, indexador de referência, contraparte, local de negociação (bolsa ou bal- cão) e faixas de vencimento, destacados os valores de refe- rência, de custo, de mercado e em risco da carteira; (g) gan- hos e perdas no período em contrapartida no resultado e pa- trimônio líquido; (h) principais transações e compromissos futuros objeto de hedge de fluxo de caixa, destacados os pra- zos para o previsto reflexo financeiro; (i) valor e tipo de mar- gens dadas em garantia. As informações normalmente apresentadas são bastante detalhadas e permitem ao investidor mais sofisticado recalcular o montante do ativo ou passivo quando considerar que as pre- missas adotadas não são adequadas. Em 05.07.02, o BACEN emitiu a carta-circular nº 3.026 que cria e mantém títulos e subtítulos no COSIF, assim como, escla- rece acerca dos critérios a serem observados para o ajuste de- corrente da aplicação do disposto nas circulares nº 3.068/01 e nº 3.082/02. Em 11.09.02, a circular nº 3.082/02 sofreu uma modifica- ção em face a emissão da circular nº 3.150 (vigência a par- tir de 13.09.02). Esta circular esclarece que quando o ins- trumento financeiro derivativo for contratado em negocia- ção associada à operação de captação ou aplicação de recursos, a valorização ou desvalorização decorrente de ajuste a valor de mercado poderá ser desconsiderada, des- de que: (a) não seja permitida a sua negociação ou liqui- dação em separado da operação a ele associada; (b) nas hipóteses de liquidação antecipada da operação associa- da, a mesma ocorra pelo valor contratado; seja contratado pelo mesmo prazo e com a mesma contraparte da opera- ção associada. 3. Estudo de caso A seguir é apresentado o caso do Banco Itaú S.A. Esta empre- sa tem por objeto a atividade bancária, operando na forma de banco múltiplo, ou seja, através de carteiras comerciais, de in- vestimento, crédito ao consumidor, crédito imobiliário e, inclusi- ve, operações de câmbio. Segundo dados de dezembro de 2001, a empresa em questão é o segundo maior banco privado do país, com ativos da ordem de R$ 70 bilhões de Reais4 e, no final do primeiro semestre de 2002, apresentava uma base de clien- tes de aproximadamente 8,7 milhões entre pessoas físicas e jurídicas. As demonstrações contábeis consolidadas, referentes ao semestre findo em 30/06/02, foram obtidas através de pu- blicação no Jornal Gazeta Mercantil em 08 de agosto de 2002 (págs. A-13 até A-23). Todas as demonstrações con- tábeis e respectivas notas explicativas utilizadas neste es- tudo foram auditadas sendo que não existe nenhum tipo de ressalva. A partir de 30/06/02, os instrumentos financeiros derivativos passaram a ser classificados conforme a circular BACEN nº 3.082/ 02, ou seja, de acordo com a intenção da administração em utilizá-los como instrumento de proteção (hedge) ou negocia- ção (trading). Na tabela abaixo apresenta-se o saldo relacionado às opera- ções com derivativos registrados no balanço patrimonial conso- lidado do Banco Itaú S.A.. Tabela 4 - Balanço Patrimonial consolidado - Banco Itaú S.A. (em Milhares de Reais). Itens patrimoniais 30.06.2002 30.06.2001 (a) Ativo Circulante – Derivativos 340.486 - (b) Ativo Realizável a longo prazo – Derivativos 188.044 - (c) Total – Derivativos (a + b) 528.530 - (d) Ativo Total 87.021.746 74.885.902 Variação (%) (c / d) 0.61% - (e) Passivo Circulante - Derivativos (524.504) - (f) Passivo Exigível a longo prazo – Derivativos (129.866) - (g) Total – Derivativos (e + f) (654.370) - (h) Passivo Exigível Total * (78.733.433) (71.574.998) Variação (%) (g / h) 0.83% - Patrimônio Líquido (i) Ajuste ao valor de mercado – TVM e Derivativos ** (44.865) - (j) Lucros acumulados – Ajustes de exercícios anteriores 31.884 - (k) Sub-total (i + j) 12.981 - (l) Total do Patrimônio Líquido (8.288.313) (7.310.904) Variação (%) (k / l) - - Fonte: Gazeta Mercantil, 08/08/2002, pág. A-15 (adaptado). * Refere-se ao somatório do passivo circulante, passivo exi- gível a longo prazo, resultado de exercícios futuros e partici- pação de acionistas minoritários. ** Este valor refere-se apenas ao ajuste a valor de mercado de Títulos e Valores Mobiliários, sendo parte deste valor rela- cionada à ajuste de exercícios anteriores (R$ 7.863 mil). Na demonstração de resultado do exercício consolidada, observa-se que a conta “Resultado com Instrumentos Financei- ros Derivativos”, classificada no grupo “Receitas da Intermedia- ção Financeira”, não apresenta saldo em 30/06/02 e 30/06/01. Entretanto, conforme entrevista com o superintendente de rela- ção com os investidores do Banco Itaú S.A., o efeito da circular nº 3.082/02 (R$ 142.049 Mil) referente ao saldo líquido do ajuste entre os valores de custo e mercado dos derivativos ativos e passivos, encontra-se na rubrica “Resultado de Operações com Títulos e Valores Mobiliários”. Nestas datas o lucro líquido do Banco Itaú S.A. consolidado totalizou R$ 1.047.831 Mil e R$ 1.456.829 Mil, respectivamente. As operações que utilizam instrumentos financeiros derivati- vos, efetuados por solicitação dos clientes, por conta própria, ou que não atendam aos critérios de proteção (principalmente de- rivativos utilizados para administrar a exposição global de ris- co), são contabilizadas pelo valor de mercado, com os ganhos e as perdas realizados e não realizados, reconhecidos diretamente na demonstração do resultado. (nota explicativa 4d, p. A-17). Isto é, o Banco Itaú não possui operações de hedge específicas dando o tratamento contábil de trading para suas operações com derivativos. As informações complementares referentes aos instru- mentos financeiros derivativos encontram-se nas alíneas Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Fev/Abr - 2003 10 Pensar Contábil 4d, 5c e 15a das notas explicativas. De uma maneira ge- ral, os instrumentos financeiros derivativos são adquiri- dos para funções de hedge ou trading. O valor justo dos instrumentos financeiros é estimado através das seguin- tes técnicas de precificação: (a) futuros e termo: cotações em bolsa; (b) swaps: fluxo de caixa descontado a valor presente; e, (c) opções: modelo de Black & Scholes. São evidenciadas em notas explicativas os valores referenci- ais destes contratos, o valor de custo de aquisição e o valor de mercado, bem como os respectivos ajustes ao valor de mercado destes instrumentos financeiros. A seguir, na tabela 7, é apre- sentado um resumo destes valores. Tabela 5 - Resumo dos valores apresentados na nota explicativa 15a e 5a, em 30/06/2002. (em milhares de reais) ** Custo Valor de Ajuste no Ajuste no Valor de mercado Resultado Patr. Líquido Referência * Ativo – Derivativos (a) 848.923 528.530 (320.393) - 19.326.481 Prêmios de Opções (a.1) 81.789 105.257 23.468 - 2.485.596 Termo de Ações (a.2) 54.328 55.095 767 - - Swaps – Ajuste a Receber (a.3) 712.806 368.178 (344.628) - 16.840.885 Passivo – Derivativos (b) (832.715) (654.370) 178.344 - 18.394.475 Swaps – Ajuste a Receber (b.1) (763.365) (576.558) 186.806 - (16.891.444) Prêmios de Opções (b.2) (69.350) (77.812) (8.462) - (1.503.031) Total ( a – b ) 16.208 (125.840) (142.049) - 932.006 Fonte: Gazeta Mercantil, 08/08/2002, pág. A-21 (adaptado). * Valores apresentados em notas explicativas e também registrados em contas de compensação. ** Este quadro detalha as informações apresentadas no quadro 1. Os montantes apresentados na tabela 5 são um resumo dos valores apresentados na nota explicativa 15a. Nesta nota, os ins- trumentos financeiros derivativos são divulgados de forma detalha- da estando ainda subdivididos em operações ativas e passivas, assim como, agrupados por tipo de operação: moeda estrangeira, mercado interfinanceiro, pré-fixados, índices, ações e outros. Além dos derivativos mencionados, o Banco Itaú S.A. tam- bém realizou operações de contratos futuros, os quais estão registrados na conta de “Outros Créditos – Negociação e Inter- mediação de Valores”, quando operações ativas, e “Outras Obri- gações - Negociação e Intermediação de Valores”, quando ope- rações passivas. O saldo patrimonial líquido destas operações de contratos futuros totalizou R$ 10.926 Mil negativos. Em nota explicativa (5g) estão evidenciados os efeitos da implantação dos critérios constantes das circulares BACEN nº 3.068/01 e nº 3.082/02 (estas normas entraram em vigor simulta- neamente), que consistiram em R$ 335.876 Mil no Lucro Líqui- do, provocado pelo ajuste a mercado dos títulos disponíveis para venda e pelo ajuste a valor de mercado dos instrumentos financeiros derivativos – Swaps, e R$ (40.106) Mil no Patrimônio Líquido, que contempla os ganhos referentes aos ajustes a va- lor de mercado das carteiras de títulos e dos instrumentos finan- ceiros derivativos (Swaps). Porém, cabe ressaltar que, o valor apresentado na conta referente ao ajuste a valor de mercado (patrimônio líquido) - R$ (44.865) Mil – referem-se única e exclu- sivamente ao ajuste a valor de mercado dos títulos e valores mobiliários. 4. Análise do caso Através da análise dos dados apresentados nas demonstra- ções contábeis consolidadas do Banco Itaú S.A. nota-se que a empresa implementou a contabilização dos instrumentos finan- ceiros derivativos conforme a circular BACEN nº 3.082/02. En- tretanto algumas considerações são necessárias: a) No balanço patrimonial são demonstrados os instrumen- tos financeiros derivativos de forma destacada (exceto opera- ções com futuros, conforme mencionado anteriormente), sendo mensurados pelo seu valor de mercado. Nas demonstrações de 30/06/01 os derivativos não eram evidenciados. A mudança de tratamento contábil não permite a adequada comparação das demonstrações relativas aos semestres findos em 2001 e 2002, apesar de estarem sendo apresentadas algumas informações complementares em notas explicativas relativas ao semestre anterior (30/06/01); b) Na demonstração de resultado do exercício não é possí- vel identificar os efeitos dos instrumentos financeiros derivati- vos. Estes estão adicionados na conta “Resultado de Opera- ções com Títulos e Valores Mobiliários” (R$ 142.049 Mil), con- forme mencionado; c) Na demonstração das mutações do patrimônio líquido é possível verificar os valores contabilizados no patrimônio líqui- do nas contas: “Ajuste ao valor de mercado – TVM e Derivativos” e “Lucros acumulados”. Nesta última, todo valor registrado diz respeito a mudança de critério contábil ocorrida no período, en- quanto, na primeira conta apenas parte (R$ 7.863 mil). Cabe ressaltar que, a decomposição dos efeitos na conta lucros acu- mulados não é apresentada em notas explicativas o que impos- sibilita sua análise; d) Quanto às informações evidenciadas em notas explicati- vas, pode-se destacar: - a inexistência de informações quantitativas sobre o risco proveniente das operações com derivativos; - informações bastante superficiais sobre política de utili- zação; os objetivos e estratégias de gerenciamento de riscos; e os critérios de avaliação e métodos aplicados na apuração do valor de mercado; Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 11 Fev/Abr - 2003 - ausência de informações sobre as premissas utilizadas nos métodos de avaliação; valor e tipo de margens dadas em garantia; riscos associados a cada estratégia de atuação no mercado, controles internos e parâmetros utilizados de gerenci- amento desses riscos; - em linhas gerais, pode-se dizer que a empresa apresen- tou adequadamente os valores agrupados por ativos, indexador de referência e faixas de vencimento, destacados os valores de referência, de custo, de mercado da carteira, assim como, os valores registrados como ganhos e perdas no período em con- trapartida no resultado e patrimônio líquido, conforme o art. 6 da circular nº 3.082/02; Adicionalmente, cabe destacar que todas as operações com instrumentos financeiros derivativos estão recebendo o trata- mento contábil de trading (com contrapartida em resultado), in- clusive aqueles destinados a administrar a posição global de risco da carteira que não podem ser relacionados como prote- ção de títulos específicos. Acredita-se, entretanto que, um pará- grafo afirmando tal fato reduziria as dúvidas dos usuários quan- to a real inexistência de operações com derivativos classifica- das como hedge de valor de mercado e hedge de fluxo de caixa. Através da observação dos números apresentados nas tabe- las 4 e 5, nota-se que o valor de mercado líquido registrado tanto no ativo quanto no passivo são inferiores a 1% do valor do ativo total e passivo exigível total, respectivamente. Apesar destes itens registrados no balanço serem pouco expressivos os valo- res de referência das operações realizadas são bastante signi- ficativos. Estes totalizam R$ 19,3 bilhões no ativo e R$ 18,4 bilhões no passivo, em 30/06/2002. Nesta data, a empresa apre- sentava uma posição patrimonial líquida negativa em derivati- vos de R$ 125.840 mil. Na tabela 7, observa-se que o ajuste a valor de mercado registrado na demonstração do resultado do exercício totaliza R$ 142.049 mil, representando 13,6% do resultado do semes- tre. Nota-se que estas operações com instrumentos financeiros derivativos impactaram significativamente o resultado. 5. Conclusão Antes da introdução da circular nº 3.082/02 o reconheci- mento dos instrumentos financeiros derivativos nas demons- trações contábeis pelas instituições financeiras praticamen- te não ocorria. Com a introdução desta, o Banco Central do Brasil estabeleceu um tratamento contábil de derivativos muito similar ao exigido nos Estados Unidos e internacio- nalmente. Pode-se dizer que houve uma significativa melhora das de- monstrações contábeis com o reconhecimento das operações realizadas com instrumentos financeiros derivativos, entretanto, esta alteração está limitada às instituições financeiras. A conta- bilidade segundo os padrões brasileiros deu espaço a uma nova forma de mensuração, inclusive, menos objetiva que as tradici- onalmente utilizadas. Entretanto, cabe ressaltar que a mensu- ração pelo valor de mercado fere o princípio do custo como base de valor. O presente estudo buscou analisar os principais impactos causados por esta norma através do estudo de caso do Banco Itaú S.A. Apesar da melhora introduzida nas demonstrações contábeis desta empresa, nota-se que a evidenciação ainda é deficiente. Cabe ressaltar que apesar da dificuldade e alto custo de melhoramento das notas explicativas, esta é necessária em face ao significativo impacto causado do desempenho da insti- tuição. A partir da vigência desta circular observou-se que as de- monstrações contábeis e respectivas notas explicativas, prepa- radas por esta empresa são mais transparentes em relação às operações com derivativos. Apesar dos efeitos provocados no balanço patrimonial serem pequenos (inferiores a 1%), o impac- to no resultado é significativo (13,6%). O montante relativo aos valores de referência dos instrumentos financeiros derivativos utilizados pelo Banco Itaú S.A. também são bastante expressi- vos o que merece de fato uma adequada evidenciação em nota explicativa. Por fim, mesmo com a notória melhora a partir da implemen- tação da circular nº 3.082/02, o BACEN precisa exigir das em- presas uma constante melhora na evidenciação das informa- ções, assim como, monitorar a utilização e aplicabilidade de suas normas à exemplo da revisão apresentada na circular nº 3.150/02. Recomenda-se, em trabalhos futuros, que este estudo seja reaplicado em outros casos ou mesmo em uma amostra expres- siva de instituições financeiras de modo a verificar suas ade- quações à circular do BACEN. Contabilista Crie seu e-mail gratuitamente com o domínio @crcrj.org.br Visite o portal do CRC (www.crc.org.br) e cadastre-se Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Fev/Abr - 2003 12 Pensar Contábil 6. Bibliografia BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN. Circular nº 3.068 de 08/11/2001. Estabelece e consolida critérios para registro e avaliação contábil de instrumentos financeiros. ___________. Circular nº. 3.082 de 30/01/2002. Estabelece critérios para registro e avaliação contábil de títulos e valores mobiliários. ___________. Carta-circular nº 3.026 de 05.07.02. Cria e mantém títulos e subtítulos no COSIF, esclarece acerca dos critérios a serem observados para o ajuste decorrente da aplicação do disposto nas Circulares 3.068, de 2001, e 3.082, de 2002, e estabelece outros procedimentos. ___________. Circular nº 3.150 de 11.09.02. Estabelece critérios para registro e avaliação contábil de instrumentos financeiros derivativos, contratados de forma associada a operação de captação ou aplicação de recursos. CARDOSO, Júlio Sérgio de Souza e COSTA JÜNIOR, Jorge Vieira. Instrumentos derivativos e a contabilidade do risco: a imperiosa busca pelo subjetivismo responsável. Boletim do IBRACON No. 284. Ano XXIV – Jan/Fev de 2002. P. 3-18. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS - CVM. Instrução CVM nº 235 de 23/03/1995. Demonstrações Financeiras do Banco ITAÚ S.A.. Publicadas no Jornal Gazeta Mercantil em 08/Ago/02 (págs. A-13 até A- 23). KIESO, Donald E., WEYGANDT, Jerry J., WARFIELD, Terry D. Intermediate Accounting. 10ª Ed. New York. Ed. John Wiley & Sons, INC. 2001. KPMG. Comparações entre práticas contábeis. 2ª Ed. Brasil: Departamento de Práticas Contábeis. Maio/2001. Site: www.kpmg.com, em 15/10/2001. LIMA, Iran Siqueira, LOPES, Alexsandro Broedel. Contabilidade e controle de operações com derivativos. São Paulo. Pioneira. 1999. LOPES, Alexsandro Broedel. CARVALHO, L. Nelson G. Contabilização de operações com derivativos: uma comparação entre o SFAS No. 133 e o arcabouço emanado pelo COSIF. Caderno de Estudos. São Paulo. FIPECAFI. V. 11, No. 20, P. 42- 59. Janeiro/Abril 1999. LOPES, Alexsandro Broedel e LIMA, Iran Siqueira. Perspectivas para a pesquisa em contabilidade: o impacto dos deriva- tivos. Revista Contabilidade & Finanças FIPECAFI-FEA-USP. São Paulo. FIPECAFI. V. 15, No. 26, p. 25-41. Agosto/Maio 2001. NIYAMA, Jorge Katsumi. Comparação entre princípios contábeis Norte-americanos e Brasileiros – Principais divergências no âmbito das Instituições Financeiras. Semana de Contabilidade do Banco Central do Brasil. Maio de 1999. P. 219-231. TAKANO, Paulo. Derivativos. Semana de Contabilidade do Banco Central do Brasil. Maio de 1999. p. 123-136. 1 Segundo IRAN e LOPES (1999, p. 33) as principais normas emitidas pelo BACEN, antes da circular nº 3.082/02, são: (a) circulares: 2.278/93, 2.328/93, 2.379/93, 2.329/93, 2.402/94, 2.405/94, 2.511/94, 2.583/95, 2.637/96, 2.682/96, 2.754/97, 2.770/97, 2.771/97; (b) resoluções: 1.645/89, 2.138/94, 2.149/94. As circulares destacadas foram revogadas com a entrada em vigor da circular No. 3.082/02 (art. 13). 2 Esta norma diz respeito apenas as operações próprias da instituição financeira. 3 “Entende-se por hedge a designação de um ou mais instrumentos financeiros derivativos com o objetivo de compensar, no todo ou em parte, os riscos decorrentes da exposição às variações no valor de mercado ou no fluxo de caixa de qualquer ativo, passivo, compromisso ou transação futura prevista, registrado contabilmente ou não, ou ainda grupos ou partes desses itens com características similares e cuja resposta ao risco objeto de hedge ocorra de modo semelhante.” (Parágrafo 1, art. 3 da Circular BACEN nº 3.082/02). Na norma mencionada são descritas diversas condições necessárias para classificação de operações com derivativos como hedge, entre elas: comprovação da efetividade do hedge, não ter como contraparte empre- sa integrante do consolidado econômico-financeiro, identificação documental do risco objeto de hedge destacando o proces- so de gerenciamento do risco e a metodologia utilizada na avaliação da efetividade do hedge. 4 Fonte: www.febraban.org.br - acesso em 14 de outubro de 2002. Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 13 Fev/Abr - 2003 TRIBUTAÇÃO SOBRE O LUCRO: DEFINIÇÃO E CONCEITO A tributação sobre o lucro, embora tenha como objetivo retirar uma parcela específica do resultado positivo auferido pelas en- tidades empresariais, acaba não acontecendo exatamente so- bre o lucro apurado pela contabilidade. E o lucro apurado na contabilidade é o resultado efetivamente gerado por uma em- presa. Sabemos que a contabilidade ainda encontra dificulda- des para reconhecer a variação dos preços de mercado em seus ativos e passivos e que o registro dos ativos pelo custo histórico pode trazer distorções nos resultados entre os perío- dos. Mas, mesmo com esses e outros pequenos problemas no caminho, o lucro gerado por uma empresa deve ser sempre o apurado em sua contabilidade, principalmente se forem segui- dos de forma adequada os princípios fundamentais de contabi- lidade. Mas, a legislação fiscal, controlada e acompanhada pela Secretaria da Receita Federal (SRF, também chamada de Fis- co), não reconhece exatamente o lucro apurado na contabilida- de para encontrar a base necessária para cobrar seus tributos e, com isso, exige de todos nós um acompanhamento rigoroso da legislação e suas constantes alterações. O Fisco parte do lucro contábil para chegar ao lucro fiscal e, através deste lucro, cobrar seus tributos (imposto de renda e contribuição social). O Fisco então analisa conta por conta, des- pesa por despesa, receita por receita e, com base nesta análise, determina sua base de cálculo, que será composta pelas recei- tas tributáveis (exigidas pelo Fisco) menos as despesas dedutí- veis (aceitas pelo Fisco). Acontece que às vezes as receitas tributáveis não estão re- gistradas na contabilidade, devido a não ter ocorrido o GANHO efetivo, necessário para o reconhecimento da receita. O Fisco algumas vezes pode exigir uma receita pelo regime de caixa, enquanto a contabilidade somente irá registrar esta receita no momento da configuração do ganho. Ou então, uma receita de período anterior, que somente será registrada no ano seguinte, sendo contabilizada diretamente no patrimônio líquido, mas adicionada por representar receita para o Fisco. Neste caso, devemos efetuar uma ADIÇÃO ao lucro líquido. Por outro lado, as vezes a empresa tem um gasto que não representa despesa contábil, por não atender o princípio da con- frontação da receita com a despesa, enquanto o Fisco permite a imediata dedução do valor na sua base de cálculo. Neste caso, temos uma despesa que reduz o lucro fiscal, nascendo aí uma EXCLUSÃO ao lucro líquido. Portanto, lucro fiscal (denominado pela legislação como lu- cro real) é o lucro líquido ajustado pelas adições e exclusões, cuja explicação veremos a seguir: ADIÇÕES E EXCLUSÕES: TEMPORÁRIAS E DEFINITIVAS Adições são despesas contabilizadas, mas não aceitas pelo Fisco e receitas não contabilizadas, mas exigidas imediatamen- te pelo Fisco. Exclusões são receitas contabilizadas, mas não exigidas pelo Fisco e despesas não contabilizadas, mas aceitas pelo Fisco. As adições e exclusões, na maioria dos casos, estão registra- das na contabilidade e não são aceitas (despesas) ou exigidas (receitas) pela legislação fiscal. Uma despesa que não é aceita agora, nem será num período futuro, é considerada uma adição definitiva. Por exemplo, atual- mente a legislação fiscal proíbe terminantemente despesas com qualquer tipo de brindes. As empresas não vão deixar de forne- cer os famosos brindes por causa desta proibição, sendo que a despesa será adicionada ao lucro contábil, por não configurar despesa necessária (na opinião do Fisco) para a manutenção da atividade produtiva. Já uma despesa que não é aceita pelo Fisco num período, por não preencher determinado requisito, que será preenchido em períodos seguintes, é considerada como adição temporária. Esta despesa, na verdade, será dedutível nos próximos perío- dos, não sendo agora por determinação do Fisco. Por exemplo, uma provisão para perdas em um processo trabalhista movido por empregado contra a empresa é uma despesa não aceita pelo Fisco. Porém, quando o processo for encerrado, com qual- quer resultado, a despesa se tornará dedutível, portanto aceita. Com a receita, o entendimento é idêntico. A renda oriunda de participações em empresas controladas e coligadas não repre- senta base para a tributação sobre o lucro, pelo fato de este resultado já ter sofrido tributação na empresa de origem. Então, � Paulo Henrique Barbosa Pêgas � Contador e professor de contabilidade tributária em cursos de graduação e pós-graduação. Ativos e Passivos Fiscais Diferidos: Reais ou Fictícios Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Fev/Abr - 2003 14 Pensar Contábil esta receita que integra o lucro contábil, porém não compõe o lucro fiscal, deverá ser excluída, sendo considerada uma exclu- são definitiva. Já uma despesa que o Fisco aceita como dedução fiscal an- tes de seu reconhecimento contábil, representará uma redução antecipada do imposto de renda devido, gerando com isso um ajuste extracontábil no LALUR, para reduzir o lucro tributável. Quando ocorrer o efetivo registro na contabilidade, esta despe- sa não poderá ser aceita pelo Fisco, uma vez que já foi conside- rada dedutível no período anterior. Por emplo, a PETROBRAS pode abater como despesa fiscal os recursos investidos com a exploração de petróleo cru, mes- mo antes de registrar em despesa. Com isso, gera uma exclu- são no LALUR, sendo esta considerada uma exclusão temporá- ria, pois quando a despesa for registrada, não será aceita pelo Fisco, já que sua dedução fiscal ocorreu em período anterior, de forma antecipada. ENTÃO, AS ADIÇÕES E EXCLUSÕES TEMPORÁRIAS SÃO CONSIDERADAS, NA PRÁTICA, COMO DESPESAS DE- DUTÍVEIS E RECEITAS TRIBUTÁVEIS, MAS APENAS NOS PRÓXIMOS PERÍODOS. PORTANTO, NÃO DEVEM AFETAR O CÁLCULO DA DESPESA COM OS TRIBUTOS SOBRE O LUCRO CONTÁBIL. CRÉDITO FISCAL DE ADIÇÕES TEMPORÁRIAS O crédito fiscal pode ser constituído sobre adições temporári- as, que são dedutíveis pela legislação fiscal, porém não no mes- mo momento de seu efeito contábil, de sua efetiva integração no resultado empresarial. Como a parte teórica já foi desenvolvida, será feita uma simu- lação de crédito fiscal diferido, através de um exemplo didático: A Cia Prata apresentou a seguinte demonstração de resultado (que para fins de simplificação não está no modelo da Lei 6.404/ 76) em 31 de dezembro de 2002 (demonstrada na tabela 1): Tabela 1: Resultado da Cia Prata em 31/12/2001 Contas Resultado Fisco Resultado deresultado contábil (lucro tri- contábil butável) real RECEITAS 1.150 1.050 1.050 ou (1.150) - VENDAS 1.000 1.000 1.000 - PARTICIP.CONTROLADAS 100 0 0 (ou 100) - SOBRA DE CAIXA 50 50 50 DESPESAS 920 850 900 ou (920) - CUSTO DAS VENDAS 700 700 700 - DESPESAS GERAIS 150 150 150 - BRINDES 20 0 0 (ou 20) - PDD 50 0 50 LUCRO ANTES DE TRIBUTOS 230 200 150 (ou 230) CSL+IMPOSTO DE RENDA (*) (68) (51) LUCRO LÍQUIDO DE 2001 162 179 * Para fins de simplificação, foram utilizadas as alíquotas vigen- tes atualmente no país para as grandes empresas, ou seja, 9% de CSL e 25% de IR, totalizando 34%. Vamos entender, passo a passo, o resultado da Cia Prata e o cálculo de IR e CSL, com e sem o registro do crédito tributário diferido: a) A Cia Prata gerou um lucro antes de IR de R$ 230. b) Ocorre que o FISCO não tributou a receita de MEP, no valor de R$ 100, diminuindo este lucro de R$ 230 para R$ 130. Esta receita foi excluída do lucro por não ser tributável. É consi- derada uma exclusão definitiva. c) Depois, o FISCO não aceitou duas despesas: Brindes e PDD, mas com duas explicações distintas: § Brindes – Despesa não dedutível, pois o FISCO entende não ser necessária para a atividade da empresa. Este valor de R$ 20 não será dedutível agora nem depois, portanto, esta adi- ção é definitiva. § PDD – Despesa que o FISCO, embora entenda como necessária para a empresa, somente aceitará sua dedução quan- do os créditos (contas a receber) completarem seis meses de atraso (para valores até R$ 5.000). Então, esta adição de R$ 50 é temporária, pois os créditos serão recebidos ou não. Se forem recebidos, revertemos a PDD; se a expectativa de perda se con- firmar, a despesa com PDD sobre estes créditos será dedutível. d) Portanto, o resultado, que inicialmente era de R$ 230, passou para R$ 130 com a exclusão da receita de MEP. Agora passou para R$ 200, pois as duas despesas, no valor total de R$ 70, não foram aceitas pelo FISCO. e) Calculando o IR e a CSL devidos, temos: Lucro Antes de IR+CSL 230 (+) Adições 70 - Brindes 20 - PDD 50 (-) Exclusões 100 - Rendas de Participa. Controladas 50 Lucro Fiscal 200 IR+CSL Devidos - 34% 68 f) Este será o valor que a Cia Prata deverá pagar de IR+CSL. Mas, parte dos R$ 68 refere-se a uma despesa que é aceita pelo FISCO, apenas não sendo aceita neste período. No próximo período, com certeza, esta despesa será dedutível. g) Então, não é justo que a despesa com IR+CSL seja de R$ 68, pois parte desse valor foi uma antecipação exigida pelo Fisco e que será recuperado quando a despesa tornar-se dedutível. h) Portanto, devemos reconhecer um crédito tributário dife- rido (neste exemplo, ativo circulante) de R$ 17, que correspon- de a 34% do valor da adição temporária: R$ 50. i) Assim, a contabilidade, comprovando ser uma ciência completa, atende a todos: � O FISCO recebe o valor de R$ 68 exigido na legislação fiscal. � A despesa fica registrada por R$ 51, que foi a parcela efetivamente calculada sobre o resultado do período, consi- derando apenas as adições e exclusões definitivas. � O crédito tributário diferido (ativo) fica registrado por R$ 17, que é a parcela que será reduzida do IR+CSL a pagar nos períodos seguintes. Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 15 Fev/Abr - 2003 Veja o lançamento contábil da Cia Prata referente aos tribu- tos em 2001: Débito: Despesa de CSL+IR Referente a alíquota de 34% sobre o lu- cro contábil (ajustado pelas adições e exclusões definitivas) de R$ 150. R$ 51 Débito: Crédito tributário diferido Referente a alíquota de 34% aplicada sobre R$ 50 de despesa não aceita pela legislação fiscal (PDD) em 2001, mas que será aceita nos próximos perí- odos. R$17 Crédito: IR+CSL a PAGAR Referente a alíquota de 34% sobre o lucro tributável de R$ 200. R$ 68 DÉBITO FISCAL DE EXCLUSÕES TEMPORÁRIAS O débito fiscal deve ser constituído sobre as exclusões tem- porárias, que serão tributadas em período futuro e sofrerão en- cargos de imposto de renda e contribuição social. O raciocínio é muito parecido com o desenvolvido para créditos tributários di- feridos, porém sua utilização no Brasil é mais restrita, pela redu- zida quantidade de exclusões temporárias em comparação com as adições temporárias existentes. Também será apresentado um caso didático, para facilitar o entendimento do leitor e consolidar o estudo desenvolvido até aqui: A Cia Acre possui permissão para registrar gastos com explo- ração de petróleo, embora ainda não reconhecidos como des- pesa em sua contabilidade. Em 2001, a Cia Acre apurou um lucro de R$ 1.000, sendo todas as receitas tributáveis e as despesas dedutíveis. No mesmo ano, a empresa efetuou gastos com exploração de petróleo cru de R$ 400, que será registrado em despesa apenas em 2002. Em 2002, a Cia Acre apurou um lucro de R$ 800 (incluída a dedução da despesa de R$ 400 com a exploração do petróleo, iniciada em 2001). Veja na tabela 2, o cálculo do IR devido (alíquota de 34%) e o resultado apurado na contabilidade: Tabela 2 – Resultados da Cia Acre – Com e Sem Passivos Fiscais Diferidos Cálculo da Contri buição Social Legislação Fiscal Contabilidade e do IR 31/12/01 31/12/02 31/12/01 31/12/02 Lucro antes da CSL 1.000 800 1.000 800 (+) Despesa Não Dedutível 0 400 0 0 (-) Exploração de Petróleo Cru (400) 0 0 0 Base de cálculo da CSL e do IR 600 1.200 1.000 800 Imposto de Renda Devido – 34% 204 408 340 272 IR Total (em 2000 e 2001) – 30% 612 612 A despesa da Cia Acre com IR em 2001 será de R$ 340, sendo este o valor da obrigação total da empresa. Acontece que, apenas o valor de R$ 204 será devido no ano, sendo o valor de R$ 136 devido no futuro, quando a despesa for registra- da na contabilidade e não puder ser deduzida da base fiscal. Já a despesa com IR em 2002 será de R$ 272, devendo a empresa pagar, além deste valor, o valor de R$ 136, que não foi pago em 2001, devido à possibilidade de dedução de uma des- pesa apenas na base fiscal sem transitar pela contabilidade. Veja os lançamentos contábeis da Cia Acre em 2001 e 2002: Lançamentos da Cia Acre em 31/12/2001: Débito: Despesa de IR Referente a alíquota de 34% sobre o lu- cro contábil de R$ 1.000. R$ 340 Crédito: IR a Pagar R$ 204 Referente a alíquota de 34% sobre o lu- cro tributável de R$ 600. Crédito: Débito Tributário Diferido R$ 136 Referente aplicação da alíquota de 34% sobre R$ 400 de despesa aceita pela legislação fiscal antes do seu registro contábil em despesa (que somente irá ocorrer em 2002). Lançamentos da Cia Acre em 31/12/2002: Débito: Despesa de IR R$ 272 Referente a alíquota de 34% sobre o lucro contábil de R$ 800. Débito: Débito Tributário Diferido R$ 136 Referente a alíquota de 34% aplicada sobre R$ 400 de despesa reconhecida pela contabilidade apenas neste exer- cício, mas já deduzida pela legislação fiscal no ano anterior. Representa uma parte da despesa do ano de 2001 que não foi paga no ano, devendo ser agora em 2002. Crédito: IR a Pagar R$ 408 Referente a alíquota de 34% sobre o lu- cro tributável de R$ 1.200. Representa a parcela exigida pelo Fis- co em 2001. Se a Cia tivesse efetuado nova exploração de petróleo cru, este valor fatalmente seria menor, com con- trapartida do passivo fiscal diferido, por representar postergação de imposto devido. Além disso, o registro dos débitos tributários diferidos, nos casos de exclusões temporárias, visa permitir que as empresas não distribuam seus lucros de forma equivocada, através de um resultado que efetivamente ainda não existe. Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Fev/Abr - 2003 16 Pensar Contábil CRÉDITO FISCAL SOBRE PREJUÍZOS FISCAIS Outra forma de constituição de crédito tributário diferido é através da utilização de prejuízos fiscais, dependendo da ex- pectativa de recuperação deste prejuízo nos anos subseqüen- tes. Este tema vem sendo alvo de debates no mundo acadêmico e profissional, devido à subjetividade dos estudos técnicos que fundamentam a expectativa da capacidade efetiva de recupera- ção dos prejuízos fiscais nos anos seguintes. Mas, primeiro, antes de entrar na polêmica se o imposto de renda sobre prejuízos fiscais deve ser reconhecido contabilmente ou não, é importante entender a lógica da constituição dos cré- ditos fiscais. A Cia Lua Cheia foi aberta em fevereiro de 1999. No primeiro ano de suas atividades empresariais, o negócio ainda estava em expansão e a empresa obteve um prejuízo, recuperando-se totalmente nos anos seguintes. Veja na tabela 3 a evolução do seu resultado nos anos de 1999 a 2002: Tabela 3 - Apuração do Lucro Real da Lua Cheia de 1999 a 2002 APURAÇÃO DO LUCRO REAL Dez/99 Dez/00 Dez/01 Dez/02 TOTAL RESULTADO ANTES DOS IMPOSTOS (1.000) 1.000 1.500 1.000 2.500 COMPENSAÇÃO DE BASE NEGATIVA 0 (300) (450) (250) BASE TRIBUTÁVEL (1.000) 700 1.050 750 2.500 IR+CSL – PARCELA CORRENTE (34%) 0 (238) (357) (255) (850) LUCRO LÍQUIDO (100,00) 662 1.143 745 1.650 PERCENTUAL DE TRIBUTAÇÃO 0% 23,8% 23,8% 25,5% 34% Veja que a empresa deve pagar de IR+CSL os valores infor- mados como devidos, ou seja, R$ 238 em 2000, R$ 357 em 2001 e R$ 255 em 2002. Entretanto, a contabilidade deve reco- nhecer o crédito fiscal originado no ano de 1999 pela aplicação das alíquotas vigentes de IR e de CSL, devido à expectativa que a empresa possuía de geração de lucros nos anos seguintes. Já em relação ao lucro líquido dos quatro anos, a posição exposta na tabela 5 não demonstra a realidade econômica da companhia, pois como ela não teve nenhuma adição ou exclu- são definitiva em sua base, a tributação de IR+CSL deveria ser de 34% em cada ano e não apresentar a oscilação percentual demonstrada entre os anos. Para resolver este problema, que distorce consideravelmen- te o resultado econômico, há a constituição do crédito tributário diferido em 1999, que será baixado nos três anos seguintes, na medida em que a empresa gerar lucros e compensar o prejuízo fiscal demonstrado no primeiro ano. Reconhece-se um ativo, que será utilizado como redução da obrigação inicialmente registrada nos anos seguintes. O não reconhecimento deste ativo não impede a compensação dos prejuízos fiscais, mas deixa a demonstração do resultado com números entre os exercícios fora de sua realidade eco- nômica. A demonstração do Lucro Real e também do Lucro Líquido, após o registro do crédito tributário diferido, está evidenciada na tabela 4. Tabela 4 - Apuração do Lucro Real da Cia Lua Cheia de 1999 a 2002 APURAÇÃO DO LUCRO REAL Dez/99 Dez/00 Dez/01 Dez/02 TOTAL RESULTADO ANTES DOS IMPOSTOS (1.000) 1.000 1.500 1.000 2.500 COMPENSAÇÃO DE BASE NEGATIVA 0 (300) (450) (250) BASE TRIBUTÁVEL (1.000) 700 1.050 750 2.500 IR+CSL – PARCELA CORRENTE (34%) 0 (238) (357) (255) (850) IR+CSL – PARCELA DIFERIDA (34%) 340 (102) (153) (85) 0 LUCRO LÍQUIDO (680) 680 990 680 1.650 PERCENTUAL DE TRIBUTAÇÃO 34% 34% 34% 34% 34% Veja que o resultado entre os períodos apresentou um equilí- brio maior com o registro do crédito por ocasião do prejuízo gerado no ano de 1999. O resultado final apurado nos quatro anos foi o mesmo, tanto com registro do crédito tributário como sem seu registro. Porém, o resultado e, por extensão, o patrimô- nio líquido da empresa, apresentaram uma posição mais ade- quada durante os quatro anos e não apenas no último ano. Se algum acionista saísse ou entrasse na Cia durante os anos de 1999 e 2001 seria afetado, caso não houvesse o registro do imposto de renda diferido. O objetivo de registrar o crédito fiscal é exatamente o de ga- rantir maior coerência nas demonstrações contábeis, indepen- dente das exigências fiscais. É importante ressaltar também que os registros de ativos e passivos fiscais diferidos não são caprichos apenas da contabi- lidade brasileira, sendo uma exigência mundial, regulamentado no IAS (que regulamenta as práticas contábeis internacionais) nº 12 e no SFAS (que regulamenta as práticas contábeis dos Estados Unidos) 109. A CVM - Comissão de Valores Mobiliários vem normatizando o assunto em consonância com o IBRACON – Instituto dos Audi- tores Independentes do Brasil e os padrões internacionais. A Deliberação CVM nº 273 de 20 de agosto de 1998, aprova o Pronunciamento NPC 25 do IBRACON sobre a contabilização Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 17 Fev/Abr - 2003 do imposto de renda e da contribuição social diferidos. Este normativo é um marco para a contabilidade no Brasil, pois reco- nhece a necessidade de constituição dos créditos fiscais, que algumas pessoas, numa primeira análise, chamam de lucro com o imposto de renda, o que é inadequado. CONSTITUIÇÃO INDEVIDA DE CRÉDITO TRIBUTÁRIOS DIFERIDOS SEM EXPECTATIVA DE REALIZAÇÃO FUTURA O Brasil possui uma normatização contábil de excelente qua- lidade, apesar dos inúmeros problemas que temos, principal- mente de falta de apoio das autoridades governamentais para assuntos ligados à ciência contábil e sua utilização como fonte geradora de informações relevantes. Acontece que o uso inadequado das possibilidades abertas pela legislação acaba fazendo com que se perca a qualidade em detrimento da praticabilidade e da simplicidade de averiguação. No caso dos prejuízos fiscais apurados e o correspondente reconhecimento dos créditos tributários diferidos é exatamente o que ocorre. Os prejuízos fiscais devem ser reconhecidos como ativo, desde que haja expectativa efetiva de geração de lucros tributáveis no futuro. Não significa com isso que se devem regis- trar créditos em todas as empresas, em todas as situações. Quan- do uma empresa estiver sem expectativa de transformação de resultado negativo em lucros no futuro, não deve constituí-lo. Por exemplo, um grande grupo econômico, que tenha uma empresa subsidiária com prejuízo fiscal, deve reconhecer os créditos tributários, até porque, dificilmente o grande empresá- rio não encontrará, dentro do conglomerado de empresas, uma alternativa legal que aproveite aquele prejuízo. Mas, para coibir o abuso do registro de créditos tributários diferidos, a CVM emitiu em junho de 2002 a Instrução n° 371, complementando as informações contidas na Deliberação n° 273/98. Esta Instrução define que os prejuízos fiscais somente devem ser reconhecidos como crédito tributário se houver clara manifestação de geração de lucros tributáveis nos períodos se- guintes, estabelecendo prazos que não são compatíveis com a lógica do reconhecimento destes ativos. Não é pelo fato de uma empresa ter gerado prejuízo fiscal em três anos seguidos, que ela não deva reconhecer o ativo fiscal sobre estes prejuízos. Se houver um estudo técnico sério que demonstre a viabilidade do negócio e a tendência de geração de lucros futuros, não há porque não se reconhecer os ativos sobre estes prejuízos fis- cais, mesmo que eles se repitam por alguns anos. No exemplo didático desenvolvido a seguir, este raciocínio estará completo. Uma empresa que tem prejuízo fiscal por qua- tro anos seguidos, gera lucro tributável no quinto ano. Sem o registro do crédito tributário, a informação fornecida pela conta- bilidade estaria completamente desassociada do princípio con- tábil do confronto da receita com a despesa. CASO DIDÁTICO: A CIA RORAIMA A Cia Roraima possui o seguinte balanço patrimonial no iní- cio de 1998. CAIXA 10.000 CAPITAL 10.000 Neste momento, adquire um equipamento, que será depreci- ado contabilmente em 5 anos, porém conta com um benefício fiscal de “depreciação acelerada”, que permite sua dedução fis- cal em 4 anos, à razão de 25% ao ano. Para a simulação do resultado apurado pela Cia Roraima nos anos de 1998 a 2002, algumas informações são relevantes: a) A alíquota única de IR será de 34% (para simplificar o raciocínio, embora sabemos que as alíquotas vigentes atual- mente no país são: 9% de CSL e 15% de IR, com adicional de 10% sobre os lucros acima de R$ 240.000/ano.) b) Os prejuízos fiscais somente podem ser compensados pelo limite de 30% do lucro de cada período de apuração. c) O equipamento será alugado, gerando receita anual de R$ 2.400, refletida diretamente no caixa da empresa, assim como o imposto de renda devido no último ano será deduzido do caixa. Veja o resultado fiscal (cálculo do IR) nos cinco anos de uso do equipamento, evidenciado na tabela 5. Tabela 5: Cálculo do IR Devido pela Cia Roraima 1998 1999 2000 2001 2002 Lucro Antes de IR 400 400 400 400 400 (+) Adições ao L.Líquido 0 0 0 0 2.000 (-) Exclusões ao L.Líquido 500 500 500 500 0 Lucro Antes da Comp. de Prej. Fiscais (100) (100) (100) (100) 2.400 (-) Compensação de Prejuízos Fiscais 0 0 0 0 (400) Lucro ou Prejuízo Fiscal (100) (100) (100) (100) 2.000 IR Devido – 34% 0 0 0 0 680 Veja na tabela 6, a Demonstração de Resultado, sem considerar o reconhecimento de ativos e passivos (créditos e débitos tributários) diferidos. Tabela 6: Resultado da Cia Roraima - Sem Registro do IR Diferido DEMONTR.RESULTADO 1998 1999 2000 2001 2002 Acumulado Receitas 2.400 2.400 2.400 2.400 2.400 12.000 (-) Despesa depreciação (2.000) (2.000) (2.000) (2.000) (2.000) (10.000) Lucro Antes de IR 400 400 400 400 400 2.00 Despesa de IR 0 0 0 0 (680) (680) Lucro Líquido do Exercício 400 400 400 400 (280) 1.320 Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Fev/Abr - 2003 18 Pensar Contábil Verificando a tabela 6, nota-se que a Cia Roraima apresenta um resultado econômico constante nos cinco anos, porém, devi- do a legislação fiscal conceder um benefício de redução anteci- pada de uma despesa (depreciação), a empresa somente possui imposto de renda devido no quinto ano, ou seja, em 2002. Anali- sando de forma fria os números da tabela, poderíamos afirmar que a empresa estava lucrativa no período de 1998 a 2001, ge- rando um enorme prejuízo em 2002, que precisa ser explicado. Entretanto, a despesa com imposto de renda não está ade- quada. A empresa apresentou um lucro antes de IR de R$ 400 em todos os cinco anos. Não é adequado que a despesa com imposto de renda seja registrada apenas no último ano. Portanto, está faltando o adequado registro dos tributos so- bre o lucro, para atender principalmente ao princípio contábil do confronto da receita com a despesa. Na tabela 7, repetimos a demonstração de resultado da tabe- la 8, mas com o registro correto do imposto de renda sobre o lucro. Tabela 7: Resultado da Cia Roraima - Com Registro do IR Diferido DEMONTR.RESULTADO 1998 1999 2000 2001 2002 Acumulado Receitas 2.400 2.400 2.400 2.400 2.400 12.000 (-) Despesa depreciação (2.000) (2.000) (2.000) (2.000) (2.000) (10.000) Lucro Antes de IR+CSL 400 400 400 400 400 2.000 IR (Parcela Corrente) – 34% 0 0 0 0 (680) (680) IR Diferido (Prej.Fiscal) - 34% 34 34 34 34 (136) 0 IR (Depreciação Acel.) - 34% (170) (170) (170) (170) 680 0 Lucro Líquido do Exercício 264 264 264 264 264 1.320 Na tabela 7, o lucro apurado pela Cia Roraima apresentou maior coerência em relação a demonstração da tabela 6. De 1998 a 2001, foi registrada anualmente despesa de R$ 170 (34% de R$ 500) referente exclusão feita apenas no lucro fiscal e que não integra o resultado contábil do período. Este valor refere-se a obrigação com o imposto de renda, que será paga quando a despesa for registrada na contabilidade e considera- da não dedutível para fins fiscais. Já o resultado negativo de R$ 100 gerou um crédito tributário de R$ 34 (34% de R$ 100) por ano, representando quanto à empresa poderá compensar de IR no momento que for efetuar o pagamento. Então, a explicação referente aos quatro primeiros anos (de 1998 e 2001) é a seguinte: Lucro Apurado na Contabilidade de R$ 400, que repre- senta uma despesa de R$ 136 (34% de R$ 400), que é a obrigação efetiva que a empresa está assumindo em cada um dos quatro anos. A explicação para a despesa anual de R$ 136 nos quatro primeiros anos é a seguinte: (+) Uma obrigação futura de R$ 170, referente à exclusão temporária permitida pelo Fisco de R$ 500. (-) Um direito de compensação futuro de R$ 34, referente ao prejuízo fiscal apurado de R$ 100 e que será compensado em 2002. Em 2002 a Cia Roraima deverá pagar imposto de renda de R$ 680, explicado da seguinte forma: (+) IR Devido pelo Lucro Apurado no Ano = R$ 136 (34% de R$ 400) (+) IR Devido sobre Depreciação Excluída = R$ 680 (34% de R$ 2.000) (-) IR sobre Prejuízos Fiscais = R$ 136 (34% de R$ 400) Imposto de Renda a Pagar em 2002 = R$ 680 Portanto, a simulação didática com a Cia Roraima refle- te claramente a necessidade de reconhecimento dos ati- vos e passivos fiscais correntes e diferidos, para que a con- tabilidade possa informar qual a despesa efetiva que a empresa teve com a tributação sobre o lucro. E para de- monstrar também a evolução real do patrimônio líquido das entidades empresariais, como poderá ser verificado nas tabelas 8 e 9. Tabela 8: Balanço Patrimonial - Sem Registro de Débitos/Créditos Fiscais CONTAS – Cia Roraima 1998 1999 2000 2001 2002 CAIXA 2.400 4.800 7.200 9.600 11.320 CRÉDITO TRIBUT. DIFERIDO 0 0 0 0 0 EQUIPAMENTOS 8.000 6.000 4.000 2.000 0 TOTAL DO ATIVO 10.400 10.800 11.200 11.600 11.320 DÉBITO TRIBUT. DIFERIDO 0 0 0 0 0 CAPITAL 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 LUCROS ACUMULADOS 400 800 1.200 1.600 1.320 TOTAL DO PASSIVO 10.400 10.800 11.200 11.600 11.320 Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 19 Fev/Abr - 2003 Tabela 9: Balanço Patrimonial - Com Registro de Débitos/Créditos Fiscais CONTAS – Cia Roraima 1998 1999 2000 2001 2002 CAIXA 2.400 4.800 7.200 9.600 11.320 CRÉDITO TRIBUT. DIFERIDO 34 68 102 136 0 EQUIPAMENTOS 8.000 6.000 4.000 2.000 0 TOTAL DO ATIVO 10.434 10.868 11.302 11.736 11.320 DÉBITO TRIBUT. DIFERIDO 170 340 510 680 0 CAPITAL 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 LUCROS ACUMULADOS 264 528 792 1.056 1.1320 TOTAL DO PASSIVO 10.434 10.868 11.302 11.736 11.320 Observe no balanço sem o registro do crédito tributário diferi- do que o Patrimônio Líquido da Cia Roraima evolui desde 1998, sendo reduzido de 2001 para 2002, o que é inadequado, já que, economicamente, a empresa obteve o mesmo resultado nos cinco anos. Já no balanço, com o registro do crédito/débito tributário dife- rido, há maior coerência, pois evidencia a evolução do PL como realmente ocorreu. NOTA EXPLICATIVA DE RECONCILIAÇÃO DAS ALÍQUOTAS DE IMPOSTO DE RENDA E CONTRIBUIÇÃO SOCIAL As notas explicativas são informações complemen- tares às demonstrações financeiras, sendo parte inte- grante das mesmas. Uma nota que tem grande impor- tância para fins de complemento de informação é a nota de reconcil iação da despesa de IR e CSL com as alí- quotas vigentes no país. O leitor ao se deparar com a demonstração de resultado do exercício, pode achar que a tributação sobre o lucro no país está elevada demais, pequena demais, enfim, pode ter interpreta- ções equivocadas que as notas explicativas tem a função de detalhar e elucidar. Chegamos a conclusão que as adições e exclusões temporárias não geram efeitos na despesa com IR e CSL. Um lucro de R$ 100 milhões, se não tiver nenhu- ma adição ou exclusão defini t iva nas bases de IR e CSL, irá gerar uma despesa fiscal de aproximadamen- te R$ 34 milhões, já que a alíquota vigente no país é de 34% (IR de 15%, mais adicional de 10% sobre o excesso de R$ 240 m e 9% de CSL). Esta nota explicativa portanto, faz este trabalho de explicar ao leitor os motivos que levaram a despesa de IR e CSL a ser diferente de 34%. Veja um exemplo didático: A Cia ILHA possui o seguinte re- sultado em 2002 (para fins de simplificação, a demonstração será feita a partir do Lucro Antes de IR e CSL): Lucro Antes de IR e CSL 1.200 (-) Despesa de IR e CSL (165) Lucro Antes das Participações 1.035 (-) Participações de Empregados (200) Lucro Líquido do Exercício 835 Com este resultado apresentado, poderia se dizer que a tri- butação sobre o lucro foi de 13,75%, afinal de contas de um lucro de R$ 1.200, tiramos R$ 165 de IR e CSL. Mas não é bem assim. É necessário olhar o LALUR da empresa para entender esta alíquota. Veja o cálculo resumido de CSL e IR da Cia ILHA em 2002: LUCRO ANTES DE IR+CSL 1.000 (+) ADIÇÕES 100 - Doações e Brindes 50 - PDD 50 (-) EXCLUSÕES 600 - Depreciação Acelerada 50 - Juros Sobre Capital Próprio 350 - Rendas de Participação em Controladas 200 LUCRO FISCAL 500_ IR E CSL – 34% (1) 170 (-) INCENTIVOS FISCAIS (5) DESPESA DE IR E CSL 165 (1) Para fins didáticos, será utilizada uma alíquota cheia de 34%. Assim, a nota de reconciliação da alíquota vigente com a despesa evidenciada seria apresentada da seguinte forma: Resultado antes do IR e da CSL 1.200 Encargo total de IR e CSL pelas alíquotas vigentes – 34% (408) Efeitos das adições e exclusões no cálculo dos tributos - Participações em controladas 68 - Juros sobre capital próprio 119 - Participações de empregados no lucro 68 - Incentivos fiscais 5 - Adições permanentes (17) IR e CSL Registrado na Demonstração de Resultado (165) A explicação para a montagem e entendimento da nota é a seguinte: 1º) Informa-se o lucro apurado no exercício, antes dos tribu- tos incidentes sobre o próprio lucro. 2º) A seguir, há a informação para o leitor das demonstra- ções financeiras de quanto seria a despesa de IR e CSL com a aplicação das alíquotas vigentes no país. No caso do Brasil esta alíquota encontra-se em 34%. Em condições normais, se o Fis- co considerasse exatamente o lucro contábil para encontrar o valor do encargo tributário, a despesa seria de R$ 408 (34% de R$ 2.000), conforme informado na nota. 3º) Mas, como a despesa registrada na DEREX (Demonstra- ção do Resultado do Exercício) não foi R$ 408 e sim R$ 165, é preciso justificar e explicar a diferença. 4º) Os ajustes começam pelas exclusões definitivas (como a participação em controladas e os juros sobre capital próprio) reduziram a despesa de IR e CSL. Então, a aplicação de 34% sobre o valor destas exclusões deve ser demonstrada com sinal Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Fev/Abr - 2003 20 Pensar Contábil positivo, sendo redução da despesa que deveria ser lançada pela alíquota de 34%. 5º) A despesa de participações de empregados nos lucros, embora não seja exclusão temporária, é evidenciada na DE- REX, após o IR e a CSL. Portanto, como se trata de uma despe- sa dedutível para fins fiscais é ajustada positivamente, reduzin- do a despesa. Em alguns casos, demonstra-se o lucro antes do IR, CSL e participações de empregados. 6º) Os incentivos fiscais reduzem diretamente o imposto de renda devido. Por isso, eles são informados pelo valor efetivo, sem precisar calcular 34% como as exclusões e adições. Como diminuem o IR devido, são informados na nota explicativa com sinal positivo. 7º) Após os ajustes positivos, acontece o primeiro e único ajuste negativo. São as adições permanentes (brindes e doa- ções) que aumentam a despesa de IR, sendo informadas com sinal negativo 8º) As adições e exclusões permanentes não geram ajustes na nota explicativa, a não ser quando o crédito ou débito fiscal diferido deixar de ser reconhecido. Como, na Cia ILHA, temos uma adição temporária e uma exclusão temporária no mesmo valor (R$ 100), elas não influenciarão nem a despesa de IR nem o valor a pagar. 9º) Após detalhar os ajustes, chega-se ao valor registrado na DEREX em despesa de IR e CSL, que foi de R$ 165. CONCLUSÃO: ALGUNS NÚMEROS DE EMPRESAS BRASILEIRAS Para concluir o trabalho, torna-se necessário demonstrar a importância de apurar e interpretar adequadamente os créditos tributários diferidos. Assim, resolvemos trazer os números reais dos principais bancos do país e também de algumas outras empresas fora do sistema financeiro. Nas tabelas 10 e 11, veja alguns saldos referentes a dezembro de 2001. Tabela 10: Saldo de Crédito Tributário Diferido – Setor Bancário – Em Dez/01 Conglomerado Prejuízo Adições Exclusões Saldo (Valores R$ Mil) Fiscal Temporárias Temporárias Líquido BANCO DO BRASIL 3.846.756 8.586.402 0 12.433.158 ITAÚ 782.137 2.368.580 (302.862) 2.847.855 BRADESCO 350.092 2.704.400 0 3.054.492 UNIBANCO 345.581 1.344.189 (141.550) 1.548.220 SANTANDER 233.826 687.626 0 921.452 ABN AMRO 173.868 628.715 0 802.583 HSBC 45.688 205.675 (16.072) 235.291 TOTAL 5.777.948 16.525.587 (460.484) 21.843.051 Tabela 11: Saldo Crédito Tributário Diferido – Demais Empresas – em Dez/01 Conglomerado Prejuízo Adições Exclusões Saldo (Valores R$ Mil) Fiscal Temporárias Temporárias Líquido PETROBRÁS 0 (*1) 2.059.574 (2.981.830) (922.256) SADIA 35.700 29.827 (7.146) 58.381 PERDIGÃO 3.446 32.897 (8.210) 28.133 PÃO DE AÇUCAR 16.605 (*2) 42.557 0 59.162 TELEMAR 0 1.424.178 0 1.424.178 TELEBRAS 28.635 537.411 0 566.046 GUARANIANA 132.081 120.466 0 252.447 (*1) A Petrobras possuía, em dez/00, um saldo de prejuízos fiscais de R$ 2.479.089 mil, que foram integralmente utilizados em 2001, com baixa do respectivo crédito tributário. (*2) Valor principal de R$ 39.667 menos provisão de R$ 23.062. A Gradiente, por exemplo, não constituiu crédito tr i- butário difer ido sobre prejuízos f iscais, por entender que não possuía expectativa imediata de geração de resultados posit ivos Informações extraídas dos balanços das empresas divulga- dos para o público em geral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS � Decreto nº 3.000/99 – Regulamento do Imposto de Renda � Deliberação CVM nº 273/98 � Instrução CVM nº 371/02 � FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade Tributária. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. � HIGUCHI, Hiromi, HIROSHI, Fábio. Imposto de Renda das Empresas – Interpretação e Prática. 27ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. � PEREZ JÚNIOR, José Hernandez. Conversão de Demonstrações Financeiras, 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. � OLIVEIRA, Luís Martins de, CHIEREGATO, Renato, PEREZ JÚNIOR, José Hernandez e Marliete Bezerra Gomes. Manual de Contabilidade Tributária. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. � IUDÍCIBUS, Sérgio de, MARTINS, Eliseu e Ernesto R. Gelbcke. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999. Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil 21 Fev/Abr - 2003 A Ausência da Taxionomia na Contabilidade de Custos: 1. INTRODUÇÃO Os componentes de um sistema de comunicação são: emis- sor, receptor, meio, mensagem e código. Para que a mensagem transmitida pelo emissor possa ser compreendida pelo receptor é importante que os dois tenham perfeito conhecimento do códi- go utilizado.
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