Prévia do material em texto
“LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 2 Apresentação Neste ensaio, é descrita de forma sintetizada a vida do Sensei Jigoro Kano. A Comissão de Grau da Federação Paranaense de Judô (FPrJ) tem o intuito de apresentar, de forma objetiva aos praticantes desta modalidade, como foi a sua infância, educação e motivação para aprender jujutsu, além de sua vida acadêmica, criação do judô e fundação do Kodokan, internacionalização do judô como membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) e sua atuação, sendo esses os conhecimentos que fazem parte da formação cultural a qual interage com a parte técnica dos praticantes de judô. Os historiadores dizem: "o povo que não conhece a sua história é um povo sem memória". Baseado nessa afirmação, observa-se que, atualmente, muitos locais de prática do judô estão se distanciando cada vez mais da sua cultura, considerando que a história constrói uma cultura. Caso não haja preocupação em transmitir sistematicamente a sua história, ela tende a desaparecer. Aqui, registra-se um "Sincero Parabéns" aos dirigentes dessa modalidade no estado do Paraná, por essa iniciativa que consiste na divulgação da história para preservar a essência do judô. É nessa essência que a sociedade acredita quando se trata de judô, sendo ele um esporte que educa o jovem para a vida, formando-o como um cidadão íntegro para compor a sociedade. E falar da vida dessa celebridade não tem fim. Pode se dizer que, neste ensaio, foi exposta parte da história da vida dele sobre o relevante legado do judô. Como não era objeto deste ensaio, nessa oportunidade não foi relatado a obra de grande relevância dele, na inovação e sistematização da educação japonesa voltada para a nova era do Japão e para o mundo, interagindo com alunos, funcionários da escola, pais e sociedade. Nessa ação o Judô teve participação significativa como meio de Educação Física na escola para promover o desenvolvimento físico saudável e a formação do caráter dos escolares, que perdurou até o término da 2ª Guerra Mundial, também, a criação do curso de Educação Física visando a formação do professor de Judô ideal. Aqui fica uma observação: os conteúdos deste ensaio, já estão em forma de "prelo" para serem publicados em livro, após algumas inserções de conteúdos e revisões, com o título: A HISTÓRIA DA VIDA DO MESTRE JIGORO KANO E SEUS LEGADOS EDUCACIONAIS E CULTURAIS, e está amparada na lei dos Direitos Autorais Lei Nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Os conteúdos desse ensaio podem ser utilizados para fins de pesquisa, na elaboração de trabalhos acadêmicos ou de outras naturezas, sempre observando as normas dos direitos autorais, ou seja, citando nome do autor, título e ano. Yoshihiro Okano “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 3 HISTÓRIA DA VIDA DO SENSEI JIGORO KANO I - SEUS PAIS E SUA FAMÍLIA A família de Jigoro Kano teve por parte de pai a família Maretake Shoguenji, com tradição de mais de 1.100 anos de dedicação ao sacerdócio da religião Hiyoshikyô, e seu pai era segundo filho dessa família e se chamava Mareshiba. Por parte da mãe, a família Jissaku II Kano era renomada e uma tradicional produtora de saquê da marca "Kiku Massamune" desde 1659 até a presente data, e a sua mãe, Sadako, era a filha mais velha dessa família. Na ocasião em que Mareshiba estava realizando uma viagem cultural por diversas regiões do Japão, passou pelo vilarejo Mikague, distrito da atual cidade de Kobe, capital da província de Hyogo, e se hospedou na residência do produtor de saquê Jissaku II Kano. Na ocasião, foi solicitado que proferisse uma palestra sobre a literatura chinesa, que ele discorreu com extrema desenvoltura, e isso despertou o interesse do produtor de saquê para que esse jovem extremamente culto fosse a pessoa ideal como esposo adotivo da sua filha Sadako (Revista Judô. Vol. 61, Nº 3, Ed. Kôdôkan, mar.. 1990)(Revista Judô. Vol.58,Nº10,Ed. Kodokan, oct.1987). Com a anuência de ambas as famílias, foi realizado o casamento entre Mareshiba e Sadako, que se tornou esposo adotivo da família Kano, tendo ele adotado o nome de Jirossaku Kano e passando a colaborar na administração da produção e comercialização do saquê. Passado algum tempo, começam a surgir agitações políticas visando uma grande mudança no Japão, com o anseio do povo à "Restauração Meiji", a qual significaria o fim do governo feudal Edo. Esse fato passa a alimentar em Jirossaku a vontade de participar do movimento para a construção do novo Japão e dizia, "eu também quero prestar serviços para a construção da nova pátria". Na ocasião da missa de falecimento do 49º dia de Jissaku II, após a cerimônia, os parentes estavam reunidos e ele disse: “o momento não é adequado para que vou anunciar, mas se eu deixar para outra ocasião, vou ter que solicitar a todos que compareçam novamente para ouvir o que vou comunicar agora”. Jirossaku agradece pela confiança e consideração que ele teve por parte de Jissaku II e sua família durante todo o tempo e anuncia a sua renúncia ao cargo de administrador da produção e comércio de saquê da família Kano, transferindo essa responsabilidade para o irmão da sua esposa, que na ocasião do casamento deles, era menor de idade e inexperiente. Então, a oportunidade tão desejada de Jirossaku se realiza. E diz, "a partir de hoje, vou passar a prestar serviços para a marinha". E constituiu a sua própria família Kano. Ele passa a permanecer mais na cidade de Osaka para exercer a nova atividade, consegue do governo feudal o empréstimo de frotas de navios a vapor e de velas para transportes marítimos de rota regular de Osaka a Tóquio, transportando muitas mercadorias para o governo feudal e particulares. II - NASCIMENTO, INFÂNCIA E EDUCAÇÃO “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 4 No dia 28 de outubro de 1860, nasce o 5º filho do casal Sadako e Jirossaku, no vilarejo de Mikague no distrito da atual cidade de Kobe, capital da província de Hyogo. Durante a sua infância seu nome era Shinnosuke. Na época, o seu pai quase não voltava para casa, ficando vários meses ausente por causa do trabalho. Portanto, a educação dele ficou sob responsabilidade de sua mãe. Conforme o depoimento dele com idade bastante avançada, sua mãe "era uma pessoa muito meiga, mas muito temerosa", e quando os amigos iam até sua casa brincar, ela os tratava com meiguice e a ele com rigorosidade e durante a brincadeira se ele cometesse alguma atitude indigna, depois que eles fossem embora, ela o colocava de castigo até reconhecer onde havia errado e pedisse desculpas, aí o liberava do castigo. Ela também dizia sempre: "Torne-se uma pessoa dedicada à sociedade e seja gentil com as pessoas" KONDÔ Takao,(2019). Jigoro conclui que “essa educação severa da minha mãe contribuiu sobremaneira na formação do meu caráter que sou hoje", com expressão de gratidão. Quanto à educação intelectual dos filhos, Jirossaku, que era uma pessoa atarefada de trabalhos, foi um pai entusiasta nos estudos, incentivando-os a estudarem diversas áreas de conhecimento, mas deu mais importância ao estudo da Literatura Chinesa (sobre o clássicode Confúcio) e Shodo (caligrafia com pincel). Devido ao vilarejo de Mikague não ter ninguém que ministrasse esses conhecimentos, convidou da cidade de Kyoto o senhor Tikuun Yamamoto para ser o mestre de Shinnosuke, e ele passou a ter aulas de Literatura Chinesa aos cinco anos. Não deve ter sido fácil para ele. Algum tempo depois, o mestre Yamamoto ficou impressionado com a excepcional capacidade mental de Shinnosuke na assimilação e interpretação dos textos nos quais muitos adultos não teriam facilidade, e profetizou dizendo "esse menino vai ser um grande homem" com essa excepcional capacidade mental. Aos oito anos, ele organizou em forma de painel os assuntos que ele tinha aprendido e passou a ensinar para as crianças da vizinhança. Nessa época, em outubro de1867, ocorre a mudança de governo feudal Edo para governo imperial Meiji. Em 1869, quando Shinnosuke tinha nove anos, faleceu a sua mãe Sadako e ele derramou muitas lágrimas. Para Jirossaku, a perda da estimada esposa foi um baque emocional muito grande. Mal teve tempo de se entristecer, pois nessa época o Japão com o novo governo pujante tinha pressa em tudo, portanto, a pedido do Kaishu Katsu (na época, considerado pai da marinha), Jirossaku volta a Tóquio para assumir a função de diretor do departamento de captação de lenha como fonte de energia para navios no ministério da marinha do novo governo. Por esse motivo, em 1870 Shinnosuke muda-se para Tóquio junto ao seu irmão mais velho e próximo, Kensaku, e passa a morar com seu pai em Tókio (KONDÔ Takao,2019). III - JUVENTUDE E FORMAÇÃO EDUCACIONAL “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 5 O jovem Shinnosuke ao chegar em Tóquio, recebe um grande impacto das novidades que surgiam à sua frente e sentiu uma alegria muito grande em poder aprender essas novidades que não conhecia. Provavelmente, nessa época, ele passa a se chamar Jigoro Kano. O pai Jirossaku, ao observar seu filho ficar impressionado com tudo que via, incentiva-o, dizendo “Tóquio é bem maior que Mikague e tem muitas coisas para você aprender e, para aprender, dedique-se aos estudos”. Mal acabara de chegar a Tóquio, incentivado aos estudos pelo pai, Jigoro matriculou-se na escola Seitatsusho do Keido Ubukata e deu continuidade aos estudos da Literatura Chinesa e Shodo, que já estudava na sua terra natal. Ubukata logo notou a excepcional capacidade de assimilação e interpretação de Jigoro e passou a ensiná-lo com mais dedicação. Também disse a ele "daqui em diante, vão ter diversas mudanças das épocas do Japão e é bom conhecer as coisas do Ocidente e, para isso, é necessário estudar a língua inglesa". Ubukata apresenta a escola particular de língua inglesa de Shuhei Mitsukuri, que era uma pessoa muito conhecida e respeitada, onde Jigoro passa a se dedicar ao estudo da língua inglesa e cultura ocidental de que ele ouvia Mitsukuri falar: "a cultura ocidental está bem mais avançada do que a do Japão, mas na cultura do Japão, há virtudes que não existem na cultura ocidental e, de agora em diante, nós precisamos pensar em harmonizá-las". Essas palavras educacionais penetraram bem no fundo da mente do adolescente Jigoro e, posteriormente, foram a fonte de uma ampla visão. Essa concepção foi lapidada nesse ambiente de pessoas sábias. Quando Jigoro tinha 12 anos, sofreu bullying pela primeira vez, pois, para estudar inglês e alemão, ele se matriculou na escola particular Ikueigui e para frequentá-la teve que morar na casa de outra família, longe do pai e passar a conviver somente com homens. É nesse ambiente que Jigoro passa a sofrer bullying dos veteranos e passa a vivenciar sofrimentos que contribuiram na formação do caráter forte para superar as adversidades da vida. Ele comenta esse episódio, "como tinha adquirido vários conhecimentos através dos estudos da Literatura Chinesa, inglês, alemão, shodo, no tocante a estudos não levava desvantagem de ninguém, mas quando se tratava de força física, como o meu corpo não era grande, sempre levava desvantagem na luta corporal”. Durante o ano tinham algumas férias e podiam voltar para casa. Quando voltou para casa e como na sua infância tinha ouvido falar que no Japão existia uma luta chamada Jûjutsu, que mesmo sendo de corpo pequeno e pouca força conseguiria vencer um grandalhão, Jigoro pergunta para seu pai se ele não conhece alguém que saiba Jujutsu para ensiná-lo. O pai fica meio espantado com o pedido e pergunta o porquê dele querer aprender Jujutsu, que era uma luta de cultura ultrapassada, no momento em que o povo japonês clamava pela cultura moderna. Jigoro explica o motivo, aí o pai em tom de reprimenda, responde “não fique perdendo tempo com essas bobagens e se esforce mais nos estudos, pois cada vez mais vão aumentando os assuntos a serem aprendidos”. Mesmo assim, Jigoro não desistiu dessa idéia. “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 6 Nessa época, era grande quantidade de pessoas que entravam e saiam na casa do Jirossaku e dentre essas, algumas pessoas tinham praticado Jujutsu, mas nenhuma delas atendera o pedido de Jigoro, respondendo a ele que se atendessem seu pedido, seu pai ficaria muito bravo com quem o atendesse e ninguém deu ouvidos a ele. Assim, sem ter outro jeito, passa a viver dia após dia com muita paciência, o que influiu no futuro caráter dele. IV - VIDA ACADÊMICA E JUJUTSU Para Jigoro, estudar era um grande prazer e por isso frequentar a escola não era um desprazer, mas o deixava um tanto sem ter a confiança em si por não poder vencer na briga e assim continuava a viver dias de angustias. Em 1875, aos 14 anos de idade, Jigoro matricula-se na escola pública Kaisei. No ano de 1877 essa escola se integra com outras escolas e torna-se Universidade de Tóquio. Com essa mudança, Jigoro se transfere para o curso de Letras dessa universidade, cujo curso era constituído das disciplinas Ciências Políticas, Ciências Econômicas, Filosofia, Literaturas Chinesa e Japonesa. Nesse período também foi alvo de "bullyng" e apanhava dos grandes. Cada vez mais ia crescendo nele a vontade de ficar forte. Logo que passou a ser universitário, sem ter que pedir ao pai, ele próprio saiu a procura na cidade pela pessoa que poderia ensinar o Jujutsu. Ele tinha ouvido falar que se encontrasse uma placa de ortopedista, essa pessoa teria também o conhecimento de Jujutsu. Baseado nesse comentário, cada vez que encontrava essa placa pedia informação, mas foram negadas dizendo que não conhecia essa luta ou que parou de ensinar. Outro respondia dizendo “para que aprender essa luta que já está ultrapassada”. Certo dia, andando pela cidade, Jigoro acaba encontrando uma placa de ortopedista e imediatamente se dirige e pede informação. Aparece de dentro desse recinto uma pessoa de cabelo e bigode branco e o corpo com uma musculatura vigorosa de nome Teinosuke Yagui e Jigoro pergunta “conhece Jujutsu? Se conhece, por favor gostaria que me ensinasse”. Aí, ele com uma feição achando estranho o pedido, pergunta o por quê, onde Jigoro explica minuciosamente os acontecidos na vida dele e o desejo dele em aprender o Jujutsu. Yagui fica entusiasmado e explica que no momento ele está se dedicando somente a ortopedia, mas ele disse: “vou apresentar a você, a pessoa que praticou comigo o Jujutsu do estilo Tenjinshinyoryû, mestre Hatinossuke Fukuda” e escreveu uma carta de apresentação. O Jujutsu Tenjinshiyôryû foi criado em 1822 por Mataemon Isso (TÔDÔ Yoshiaki, 2014), com a fusão de dois estilos Yôshinryû e Shinnoshindôryû. Jigoro dirige-se a academia do mestre Hatinosuke Fukuda que vai ser o seu primeiro mestre de Jujutsu. Entrega a carta para o mestre, ele a lê e pergunta"você é universitário, por que quer aprender Jujutsu?”.Jigoro responde "quero ficar forte", aí o mestre Fukuda diz "numa época dessa, não há necessidade de aprender Jujutsu. Se quer ficar forte “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 7 perante a sociedade, não acha melhor estudar cultura ocidental e tornar uma pessoa importante?". Jigoro responde, "não mestre, não é isso, é para me defender!" Com um certo desdém o Mestre responde "Ahhh tá bom, então amanhã você pode começar". Jigoro entusiasmado, imaginava que passaria a aprender o Jujutsu começando pelos fundamentos com orientação, como nos estudos da literatura chinesa ou da caligrafia. No dia seguinte Jigoro chegou na academia, se trocou e adentrou ao dôjô e o mestre Fukuda o chama "venha!!!" e meio surpreso ele se aproximou e Jigoro relatou que só "sentiu o corpo dele voando no ar e cair no tatami estarrecido", levantou e pediu para mestre explicar "como é que executa essa técnica, ele simplesmente disse venha!!! e novamente foi projetado, levantou e pediu novamente para explicar e o mestre responde: "vai caindo que o seu corpo vai aprender". Assim continuaram os dias de ser projetado no tatami. E continuou questionando cada vez mais, com que movimento estava sendo projetado. Ao voltar para casa, com o auxílio do boneco que tinha construído, passou a reproduzir vária vezes os movimentos realizados durante as aulas e com tempo passou a assimilá-las. Como Jigoro freqüentava a academia todo dia, aos poucos foi assimilando e quando fez um mês, no "randori" já não estava sendo projetado com facilidade, as vezes chegando a projetar o companheiro de aula Aoki, que também comparecia regularmente e outras quatro a cinco pessoas que iam esporadicamente (KONDÔ Takao, 2019). Também nessa época, ele praticou um pouco de ginástica olímpica, corrida, remo e beisebol, e ao analisar os benefícios físicos e as praticidades nas práticas de cada um, Jigoro concluiu que o Jujutsu é mais eficaz, porque todo músculo do corpo é exigido durante a prática e além disso tinha a parte moral e ética que não tinha nos outros esportes ocidentais. Todo dia a tarde, após as aulas da universidade, ele ia para academia praticar Jujutsu. Passados quase dois anos, Jigoro sentiu que o seu corpo havia se tornado mais vigoroso e percebeu também um progresso no desempenho das técnicas, se sobressaindo nas aulas de "nokoriai", que seria o futuro "randori". Porém tinha uma pessoa chamada Kanekiti Fukushima, de altura aproximadamente 1,80m e peso corporal de quase 90kg e que quase não participava das aulas de "kata", mas era a única pessoa que no "nokoriai" Jigoro não conseguia projetar e ainda era projetado por ele. Então ele começou a pensar como projetar Fukushima e para isso teria que ser através de uma técnica diferente e pesquisou sobre as técnicas de Sumô, onde não encontrou a técnica apropriada. Certo dia ele estava na biblioteca pública e se deparou com o livro da história da luta ocidental greco-romana e folheando as páginas viu a figura de uma técnica onde introduzia o braço até o ombro entre as pernas do oponente e o carregava sobre o próprio ombro e o projetava para o outro lado. “É essa!!!!” disse ele olhando a figura atentamente. E na universidade durante o intervalo de aula, com a colaboração do colega testou a eficácia da técnica que tinha visto na biblioteca e o resultado do teste deixou Jigoro irradiante, “é com essa que vou projetar o Fukushima”. Treinou a técnica por mais alguns dias e durante uma “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 8 aula na academia, Jigoro convida Fukushima para lutar, aí ele estranha e pensa,”o que é que está acontecendo hoje, sempre eu que convido Jigoro para lutar” e tomou a posição de prontidão e estranha novamente, porque hoje Jigoro não se aproxima sendo que sempre se aproximou. Nesse momento Fukushima foi em cima para agarrá-lo e ficou com o tronco inclinado ligeiramente para frente e Jigoro se abaixou levemente, introduziu o braço direito até altura ombro direito entre as pernas e com a mão esquerda segurando a manga carregou-o sobre seu ombro e o projetou para o outro lado. Fukushima se levantou e novamente foi em cima de Jigoro, que repetiu os movimentos. Na terceira projeção ele levanta meio tonto, impressionado e pergunta "que técnica é essa?”. Jigoro responde, “pretendo dar nome de kataguruma” (KONDÔ Takao, 2019). Para Jigoro foi uma experiência de vida de como "superar a adversidade da vida" causando nele uma sensação de uma realização muito grande, proporcionando a sua pessoa uma autoconfiança, uma grandeza espiritual, e a partir desse momento mudou o seu objetivo da pratica de Jujutsu, que era apenas de ficar forte para se defender dos outros, para proporcionar aos jovens esse benefício como educação do corpo e mente. Em agosto de 1879 falece o mestre Fukuda e a esposa dele pede para Jigoro assumir a responsabilidade da academia e ele nega, dizendo que ainda está na fase de aprendizagem, mas pela insistência dela Jigoro acaba assumindo. Após algum tempo, mesmo sendo na condição de mestre de uma academia, a sua vontade de aprofundar mais nos estudos de Jujutsu não dissipou e ele saiu a procura de outro mestre e acabou encontrando o mestre Massatomo Isso que também era do estilo Tenjinshinyôryû, e que foi o mestre do seu falecido mestre Fukuda e solicita que seja aceito como seu discípulo. O mestre Isso, meio surpreso nega dizendo, "como vou aceitar você se você já é um mestre?”. Jigoro argumenta que para ser mestre ele ainda precisa se aprofundar muito mais, e essa humildade acaba o convencendo a aceitá-lo como discípulo. Fukushima, seu companheiro de treino, também se matricula junto. Já nessa época, mestre Isso estava com mais de 60 anos e quase não participava do treino de "randori", mas ele era um renomado e dedicado mestre no ensino de kata, cujo aprendizado foi de extrema importância para Jigoro na elaboração do fundamento da pedagogia das técnicas do Judô que ele criou. As aulas de "randori" eram conduzidas por dois alunos assistentes e logo Jigoro também foi designado para essa função, mas como os dois não compareciam regularmente, Jigoro passou a ser responsável pelas aulas de "randori". Essa vivência de ensino do Jujtsu, deve ter sido de suma importância na elaboração do método de ensino do futuro Judô, com o kata interagindo com o randori. Após as aulas, na volta para casa de tão cansado que estava, de vez em quando trombava com poste e quando chegava em casa já era quase meia noite. Isso era todos os dias. Em junho de 1881, mestre Isso falece. Novamente, Jigoro perde o mestre de Jujutsu. Ele ainda sente a necessidade de se aperfeiçoar mais e sai a procura de outro mestre de Jujutsu e por intermédio do pai do colega de estudos Motoyama, foi “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 9 apresentado a Tsunetoshi Iikubo, mestre de Jujutsu estilo Kitô. Este estilo foi criado em 1637 por Matazaemon Ibaraki (TÔDÔ Yoshiaki, 2014). Mestre IIkubo já estava com mais de 50 anos, mas ainda era muito forte e no início, nas aulas de "randori" com ele, Jigoro foi projetado por várias vezes. Ao iniciar a prática do Jujutsu no estilo Kitô sob a orientação do mestre Iikubo, Jigoro percebe que a predominância são as técnicas de projeção. Jigoro ficou impressionado em como poderia ter uma diferença tão grande entre os estilos, pois no estilo Tenjinshinyôryû haviam apenas algumas técnicas de projeção com a predominância das técnicas de asfixia, domínio das articulações, de socar e chutar, sendo que as técnicas de projetar, estrangular,traumatismo articular utilizadas nas práticas de Jujutsu são praticamente iguais. Essa indagação leva Jigoro a pesquisar também outros estilos através dos manuais de estilos de Jujutsu. Também na universidade, se dedicou nos estudos e sempre manteve bom desempenho para não desagradar seu pai, uma vez que ele era contra a prática de Jujutsu. Em julho de 1881, se forma no curso de Letras com habilitações em Ciências Econômicas e Ciências Políticas e resolve permanecer por mais um ano na condição de "aluno portador de diploma" para cursar as disciplinas Princípios Morais, Senso Estético e Literatura Clássica Chinesa. V - DOCÊNCIA NO INSTITUTO DA EDUCAÇÃO DOS NOBRES Em janeiro de 1882, ainda na condição de aluno de pós-graduação na Universidade de Tóquio, Jigoro passa a lecionar as disciplinas de Ciências Econômicas e Ciências Políticas em língua japonesa e inglesa no Instituto de Educação dos Nobres, auferindo o salário mensal de 80,00 Yens. A descrição da influência dessa instituição na consolidação como pai da educação do Japão, fica para outra ocasião (MARUYA Takeshi, 2014). VI - CRIAÇÃO DO JUDÔ E FUNDAÇÃO DO KÔDÔKAN Em fevereiro de 1882, Jigoro locou acomodações no Eishôji e se mudou da hospedaria dos estudantes da casa do amigo do seu pai, juntamente com Tsunejiro Tomita, mais uma senhora idosa para cuidar da cozinha e alguns estudantes que estavam hospedados juntos na hospedaria. Reservou um recinto maior para academia e acomodou todos nos outros recintos um pouco menores. Assim inicia a prática do Jujutsu com Tsunejiro e alguns estudantes três vezes por semana. O mestre Iikubo passava na volta do trabalho para ensinar Jigoro. Com o passar do tempo, o treino foi ficando intenso e causando danos na base do assoalho, aí Tsunejiro com uma lamparina, entrava embaixo do assoalho para consertá-lo. As telhas saiam do lugar e o local onde o monge celebrava as cerimônias religiosa ficava ao lado da academia e “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 10 com as vibrações causadas no assoalho pelo treino intenso de Jujutsu, as estatuetas perfiladas no santuário para realização da cerimônia religiosa saiam do lugar ou tombavam e toda vez que o monge ia celebrar a cerimônia tinha que colocá-las nos lugares. Um dia o monge perdeu a paciência e comunicou Jigoro "você para com essa luta doida que não leva a nada ou se for continuar, ordeno que se mude daqui", prontamente Jigoro acatou a determinação do monge e interrompeu a prática de Jujutsu. Após alguns dias, Jigoro consegue a permissão do monge para construir uma academia no terreno do Templo. Isso foi no mês de maio de 1882 (Nota explicativa: em algumas fontes bibliográficas consta como fevereiro, mas nos acervos históricos do Kôdôkan consta como mês de maio, que é o correto). O dinheiro do salário que recebia do Instituto de Educação dos Nobres era consumido com alimentação e despesas de manutenção do pessoal. Portanto, para providenciar dinheiro para construção da academia, Jigoro realizou tradução de textos do inglês para o japonês a pedido do Ministério da Educação, muitas vezes até altas horas da noite. Quando ficou pronta a academia, ele disse "parece mais um depósito do que uma academia" e nessa academia com 12 tatamis e 9 alunos, mestre Jigoro Kano iniciou o ensino e divulgação do Judô, explicando o motivo de ter substituído a palavra "jutsu" pela palavra "dô". Se manter essa nova luta com o nome de "Jujutsu" a sociedade vai rotular como mais uma luta para formar "arruaceiros", "pessoas perigosas" e não vão olhar com bons olhos. Esse é um dos motivos para substituir a palavra "jutsu" que significa aprimorar as habilidades técnicas para combate nas batalhas de guerra, com a palavra "dô" que tem o significado material, que é onde transita pessoas e veículos, e outro significado, que é o espiritual, e significa "caminho filosófico, ou seja, filosofia de vida". Portanto, para praticar essa nova luta denominada de Judô, vai ser através das técnicas criteriosamente selecionadas, dentre as que são praticadas no Jujutsu como meios para combate, que não ofereçam riscos de causar traumatismo e nem riscos para a vida dos praticante(COMISSÃO COMEMORATIVA DE 150 ANOS DE NASCIMENTO DO MESTRE JIGORO KANO, Ed. Universidade de Tsukuba, 2011). Antes de prosseguir com a idéia anterior, abre-se aqui um espaço para o relato do Tsunejiro Tomita sobre a dedicação do mestre Jigoro nas pesquisas entre os anos de 1882 a 1887, que foi a época de prosperidade e difusão do Judô do Kôdôkan, e para esse fato diz Tomita "não poderia deixar de enaltecer a colaboração inestimável de uma pessoa que vou apresentá-la. Era um jovem muito bonito, ele não dormia, não bebia, não comia e não falava. E sempre que mestre Jigoro ia ministrar aula, ele estava presente, vestindo um pequeno dôgui. Enquanto aguardava a hora da sua participação, ficava deitado sobre a escrivaninha que ficava ao lado do mestre. Essa pessoa era um boneco de aproximadamente 30 cm. Esse boneco, uma vez nas mãos do mestre Jigoro se tornava um extraordinário malabarista. Utilizando-o, mestre Jigoro começava a explicar os fundamentos do kuzushi através dos graus de inclinação do boneco para frente, para trás, para o lado direito e lado esquerdo, e que essa inclinação iria causar o deslocamento da linha imaginária do centro de equilíbrio “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 11 do corpo para fora da base de sustentação em diferentes direções e enfatizava o kuzushi como o fundamento básico que antecede para execução das técnicas de projeção e também o estudo das eficiências das alavancas humanas e seus pontos de apoio. Esses eram os fundamentos teóricos das técnicas de Tewaza, Koshiwaza, Ashiwaza e outros. Tomita relata ainda que presenciou por várias vezes até altas horas da noite o mestre Jigoro sobre a sua escrivaninha em sua sala de estudos, realizando estudos com o boneco. E ele lamenta que foi uma pena que esse boneco que prestou inestimável contribuição para desenvolvimento e divulgação do Judô, tenha desaparecido misteriosamente durante a viagem do mestre Jigoro como adido cultural da corte imperial japonesa à Europa para pesquisar sobre o sistema de educação escolar europeu, no período de 1889 a 1891(01). Em outro depoimento para corroborar também sobre a dedicação do mestre Jigoro às pesquisas, Katsutaro Oda que na época exercia a função de administrador do Kôdôkan, relata que "o mestre apesar de ser uma pessoa atarefada com afazeres públicos e particulares, quando o assunto se referia a Judô ele era dedicadíssimo e quando voltava do Instituto de Educação dos Nobres a tarde, rapidamente se trocava e comparecia no dôjô e dedicava ao ensino de Judô diariamente de 2 a 3 horas, isto quer dizer que os alunos do "Kanojukussei" (alunos hospedados) praticavam no mínimo 2 horas todo dia que era o estabelecido pelo regulamento. Sempre aos domingos, eram ministradas as aulas de moral e cívica e após essas aulas ele colocava o boneco em cima da escrivaninha e explicava as teorias de Judô (01). Interagindo com essas pesquisas, as inovações criadas pelo mestre Jigoro na sistematização do kuzushi, com base nos princípios de equilíbrio e desequilíbrio do "Kata de Yoroikumiuti", (Yoroikumiuti significa "luta corpo a corpo com armadura"), cuja estrutura era baseada nas lutas que os samurais executavam nos combates, vestidos com uma armadura que pesava em torno de 18 quilos, conforme o criador desse Kata, mestre Terada, 2ª geração deste estilo Kitô, enfatizava que o princípio pedagógico da execução desse kata, se baseava que um samurai de físico forte com armadura (Yoroi) não adiantava querer dar soco,chutar ou cortar com espada, mas que se desequilibrasse para trás ou para frente, para lado direito ou lado esquerdo, a partir daí era só dar uma empurrada com dedo que cairia com o próprio peso do Yoroi, portanto, como processo, primeiramente desequilibra para a direção desejada e uma vez desequilibrado, projeta-se sem empregar muita força. Esse princípio era considerado como característica do Jujutsu do estilo Kitô (TÔDÔ Yoshiaki,2014). Também nesse período, com base nesse princípio do kuzushi, elaborou a pedagogia de aplicação da técnica: Kuzushi⇒Tsukuri⇒Kake⇒Kime, a estruturação, a divisão e classificação das técnicas de Judô, Nague no Kata, Katame no Kata, Ju no Kata, Kime no Kata, Itsutsu no Kata, ficando posterior a esse período a estruturação do Go Kyô em 1895, e reestruturação em 1920, estando vigente até presente data e em 1906 a mudança do nome Yoroi Kumiuti para Koshiki no Kata, com algumas alterações na nomenclatura das técnicas. “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 12 Conforme (TÔDÔ Yoshiaki,2014), dentre várias inovações criadas pelo mestre Jigoro, destaca-se a criação do "Ipon", quando é projetado com velocidade toca a região toda das costas no tatame, como uma forma de estabelecer a superioridade de um sobre o outro, o que no Jujutsu era decidido quando um dos dois não tinha mais condição de prosseguir o confronto por danos físicos ou por morte para decidir a superioridade de um de outro. Segundo (TÔDÔ Yoshiaki,2014), nas suas pesquisas nos diferentes estilos de Jujutsu, não encontrou evidências de dominar o oponente de costas no solo. Portanto conclui-se que a criação de "Ossaekomiwaza" no grupo de Katamewaza do Kôdôkan, dominando o oponente de costas sobre tatami por um determinado tempo e determinar a superioridade de um sobre o outro, sejam inovações do mestre Jigoro, visto que no Jujutsu, nesse grupo de técnicas, eram praticadas apenas as técnicas de efeitos instantâneos, tais como "Shimewaza e Kansetsuwaza" para poder eliminar o mais rápido possível o seu oponente. Esses relatos evidenciam o estudo científico realizado pelo mestre Jigoro Kano, com base nos princípios da Biomecânica que foi realizado no estudo com o boneco, nas estruturas e funções dos sistemas biológicos, utilizando métodos da mecânica. Para a prática dessa nova luta denominada de Judô, o mestre Jigoro enfatiza que seja realizada num ambiente de "respeito e harmonia", e para isso foi introduzido o sistema de "Rei Hô" e com a nova sistematização de ensino: 1º) sistema de Educação Física. - Proporcionar desenvolvimento físico. 2º) sistema de competição. - Superação das adversidades da vida. - Como forma de avaliar o progresso no Judô. 3º) sistema de Educação. - Intelectual. - Moral e ética Com base nessa pedagogia inovadora, o mestre Jigoro Kano, inicia o ensino dessa nova luta denominada de Judô, pautado na palavra "Dô". Para entender melhor o significado da palavra "Dô", vejamos a sua origem, extraída do livro “O Caminho e a Virtude”. A palavra foi criada pelo filosofo chinês Lao Tzi, nascido em 604 a.c., autor do livro. Há referencia de que ele seja o provável criador do ideograma chinês "Dô" que é definido por ele, como caminho para a busca da virtude através do comportamento (02). Presume-se que essa palavra tenha imigrada para o Japão com o Budismo. Portanto, a palavra "Dô" do Ju"dô", tem a sua essência como uma "filosofia de vida", que vai ser difundida através da prática ascética (forma de prática, o físico e a mente interagindo na intensidade quase no seu limite da capacidade, esse termo vem do Formação do Caráter “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 13 Budismo) das técnicas de Judô e que essa forma de prática interage com o "Dô" do caminho para desenvolver as habilidades técnicas e de "Dô" do caminho para a formação da virtude humana, pela educação do comportamento e espiritual para formação do caráter de pessoas com boas maneiras, como um cidadão íntegro que seja útil a sociedade (4). Como já foi descrito anteriormente, no período de 1882 a 1887 foi a época de prosperidade e de difusão do Judô do Kôdôkan, mas também foi nessa época que teve que enfrentar alguns desafios de desafiantes de destaque de vários estilos de Jûjutsu, desafios esses que foram superados pelos alunos denominados de "Kôdôkan Shitennô", que significa "quatro guardiões do Kôdôkan", juntamente com o apoio de todos os alunos. Essa terminologia "Shitennô, origina da terminologia dos "quatro guardiões do Buda" que o protegia pelos quatro lados de contra-ataques de inimigos. Os "Shitennô do Kôdôkan" eram formado por Tsunejiro Tomita, matriculado em 05 de junho de 1882, registrado como primeiro aluno, Shiro Saigo, matriculado em 20 de agosto de 1882, Yoshitsugu Yamashita, matriculado em 14 de agosto de 1884 e Sakujiro Yokoyama, matriculado em 15 de abril de 1886. Dentre os desafios, o mais memorável e que consolidou o Judô na sociedade japonesa e para o mundo, foi no dia 10 de junho de 1886, no Campeonato das Artes Marciais da Academia da Polícia Metropolitana de Tóquio. Conforme Tsunejiro Tomita que assistiu de "camarote" todos os confrontos com os resultados de 8 vitorias e 2 empates do Kôdôkan, ele narra o último confronto: - foi anunciado o nome de Taro Terushima, representante do Jûjutsu estilo Totsukaha Yôshin, na época ele era considerado um dos mais forte do Japão, de compleição física avantajada para a época com 1,73 m de estatura e 83 kg de peso, este adentra na área de confronto todo pomposo. Em seguida foi anunciado o nome de Shiro Saigo, representante de Kôdôkan. Ele adentra a área de confronto com seu 1,54 m de altura e 54 kg de peso, branquelo que parecia um garoto perdido olhando prá lá prá cá e se posiciona em frente do Terushima. A platéia num silêncio que dava para ouvir a respiração, um olhando para outro como se fosse dizer, será que esse garoto não está bem de cabeça ou está querendo se matar, nesse ambiente de suspense se inicia a luta. Terushima vai em cima do Saigo que se esquiva, quando ele conseguia agarrar qualquer parte do dôgui, Saigo era projetado e caia sobre o tatami em quatro apoios que nem gato, essa cena se repetiu por várias vezes. O tempo vai passando, o confronto vai se tornando cada vez mais emocionante até que surge alguém da platéia que vai contra Terushima dizendo, "Terushima está demorando muito, é apenas um garoto", isso deve tê-lo deixado muito nervoso, e ele ergueu os braços e avançou sobre o Saigo, ele segurou a gola direita do dôgui do Terushima na altura da clavícula com a mão direita, o dorso dela voltada para seu rosto e a mão esquerda segura a manga direita, a sola do seu pé direito colado na parte anterior na altura do tornozelo do Terushima e o projetou de Yamaarashi, com Terushima caindo estarrecido no tatami e não conseguindo mais se levantar. Com esse fato histórico, o Judô do Kôdôkan foi consolidado. Logicamente, “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 14 essa consolidação do Judô não dependeu somente do empenho do "Shitennô", teve também a contribuição de outras pessoas. A partir desse acontecimento a Academia de Polícia Metropolitana de Tóquio, passou a nomear os alunos do Kôdôkan como instrutores dela, assim consolidando cada vez mais o Judô e abrindo a primeira página da história da sua trajetória de mais de um século, tornando como uma cultura mundial. Não poderia deixar de discorrer sucintamente a história da promoção de graus do Kôdôkan que teve início emagosto de 1883, quando foi realizada a primeira promoção de grau, sendo promovidos Tsunejiro Tomita e Shiro Saigo para shodan. Porém, eles continuaram utilizando a faixa branca até logo após o memorável Campeonato de Artes Marciais da Policia Metropolitana de Tókio, quando houve a consolidação do Judô. Conforme Tomita, naquela ocasião todos os participantes de diversos estilos de Jûjutsu participaram de faixa branca, curiosamente, no último confronto Saigo adentrou no local de confronto de faixa preta, porém não se sabe se esse fato teve influência ou não na história da promoção de graus. Conforme o Conselho de Graus do Kôdôkan, deve ter sido instituído o uso de faixa preta no Kôdôkan, por volta de 1886 (Revista Judô, vol.79, Nº9, set. 2008). No início, de Shodan a Jûdan era somente a faixa na cor preta. (Nota explicativa: Há bibliografias dizendo que a graduação do mestre Jigoro era 12º grau, isso não é verdade, pois ele era uma pessoa de muita humildade e que jamais faria uma auto promoção e na época, no âmbito do Judô, não tinha ninguém acima dele que pudesse outorgar grau a ele). O primeiro certificado foi entregue em maio de 1894. Ainda no Conselho de Graus do Kôdôkan, há muitas perguntas sobre os significados das cores das faixas preta, branca e vermelho e da vermelha, que continuará em mistério (Revista Judô, vol. 89 , Nº5, Ed. Kôdôkan maio, 2018). VII - OUTORGA DE TÍTULO DE MESTRE DE KITÔRYÛ Certo dia de agosto de 1883, durante o randori com o mestre Iikubo, surpreendentemente mestre Jigoro projetou seguidamente o mestre Iikubo e não foi projetado nenhuma vez por ele. O mestre Iikubo parou e ficou pensativo por um tempo. Aí, mestre Jigoro explicou a ele que havia desenvolvido um estudo sistematizado sobre kuzushi e a função deste para efetivação da projeção, onde mestre Iikubo disse "a partir de hoje não vou treinar randori com você, pois não tenho mais nada a ensiná-lo" e não treinou mais randori com Jigoro e se dedicou somente ao ensino do kata. Passados alguns dias, ele compareceu e todo cerimonioso outorgou o certificado de mestre de Kitôryû e também todos os pertences relativos a esse estilo, passando assim a ser configurado como o último mestre na árvore genealógica dos mestres de Kitôryû. Após a outorga do certificado de mestre de Kitôryû ele pendura a placa de Kôdôkan na frente da academia. O mestre Iikubo faleceu em setembro de 1888, com 55 anos (Revista Judô, Vol. 61, Nº6, Ed. Kôdôkan, jun. 1990)). VIII - ETIQUETAS DO REI “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 15 O mestre Jigoro disse que introduziu o "Reihô” na pratica do Judô para criar um ambiente de harmonia e respeito, reiterando a observação do professor MATSUMOTO Yoshizo (1975), que diz "o praticante de Judô tem que ter autoconsciência da palavra "dô", pois no bojo da palavra "dô" é onde está inserido o "espírito do Judô" que através do gesto de "Rei" expressa a educação do comportamento e espiritual das boas maneiras sociais, que é a forma de expressar respeito a pessoa. Aí, pergunta se, qual o significado de cada "Rei" realizado na academia de Judô durante à aula? Primeiramente, porque fazemos "Rei" ao adentrar e sair do "Dôjô", o motivo dessa importância será citada ao final desse capítulo. Como costumamos dizer, a aula de arte marcial japonesa, inicia com "Rei" e finaliza com "Rei". Por que, fazemos "Rei" no inicio e no final da aula para a "imagem do mestre Jigoro Kano"? No início é para expressar o sentimento de gratidão através do "Rei inicial" ao Mestre Jigoro Kano que deixou esse legado chamado Judô e que hoje tornou-se um esporte universal praticado quase que no mundo todo. Em seguida entre os alunos e Senseis que irão conduzir a aula do dia, eles executam o "Rei” e os alunos expressam respeitosamente em japonês (Onegaishimassu) que significa "por favor proporcione à nós uma aula de muita sabedoria e produtiva", e assim, se inicia uma aula de Judô. Na academia só é possível praticar Judô, porque tem parceiros para praticar os fundamentos, as técnicas e progredir na aprendizagem e também realizar com ele as competições. Para a pessoa que será seu parceiro para realizar a prática, é necessário dedicar "Rei" com muito respeito expressando em japonês (Onegaishimassu) que manifesta o sentimento de solicitação: "por favor me empresta o seu corpo para aprimorar o meu "Uti Mata", por exemplo, sendo que nesse caso está exercendo o princípio de "JITAKYOEI" durante a aula, pois você usa o corpo dele para aprimorar a sua técnica, mas ele também utiliza o seu corpo para desenvolver as habilidades das técnicas dele e assim os dois irão progredir mutuamente. E se encerra a prática entre os dois com "Rei" expressando em japonês (Arigatôgozaimashita) manifestando sentimento de gratidão (muito obrigado), porque através do seu corpo o meu Judô progrediu mais um degrau. Ao encerrar a aula, executa "Rei" respeitosamente entre Senseis e alunos expressando respeitosamente em japonês (Arigatôgozaimashita) manifestando sentimento de gratidão pela aula que contribuiu no progresso do meu Judô mais um degrau no desenvolvimento técnico e também no aspecto da cidadania da pessoa. Ao encerrar aula fazemos "Rei final", em sinal de gratidão ao "Pai do Judô" por ter oportunizado a participação de mais uma aula e, através dessa o meu Judô ter progredido um pouco mais do que antes. IX - ORIGEM DA PALAVRA DÔJÔ “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 16 "Dojo", essa palavra foi criada pelo "Buda", que era um príncipe indiano de nome Siddhartha Guantama (546~424 a.c.), nascido na Índia no sul do Nepal em Cathmandu, no sopé do Monte Everest, aproximadamente 500 anos antes do nascimento do Cristo. Sob uma figueira, após sete semanas de meditação, recebeu a "iluminação espiritual", e ele disse "esse local onde recebi a iluminação espiritual irá se chamar "Bodhimandala". A palavra indiana "Boddhimandala", transcrita em ideograma chinês e com a pronuncia japonesa é "Dôjô", onde a palavra "Dô" significa "a estrada que o príncipe caminhou espiritualmente durante sete semanas de meditação e recebeu a iluminação espiritual" e "jô" é o local onde ele recebeu a iluminação. E como essa palavra "Dô" chegou ao Japão? O budismo sai da Índia e no ano 67 d.c. chega a China, sendo muito bem recebido e a palavra "Bodhimandala" foi transcrita para o kanji "Dôjô", local para cultuar a religião budismo. No ano 372 d.c. vai à Coreia e depois no ano 552 d.c. o budismo chega a Japão (5). X - INTERNACIONALIZAÇÃO DO JUDÔ Neste capítulo, para não alongar em demasia, pretende-se discorrer somente sobre as pessoas que foram enviadas na missão oficial do Kôdôkan e alguns alunos diretos do mestre Jigoro, que estão nominados nos anais do Kôdôkan. O mestre Jigoro, desde o primórdio do Judô dedicava em explicar minuciosamente aos estrangeiros que visitavam o Kôdôkan, para que eles compreendessem o que é o Judô, os fundamentos das técnicas e aspecto da educação moral e ética. Essa foi a estratégia que ele adotou, para que os visitantes ao retornarem ao seu país passassem a comentar sobre o Judô e assim divulgá-lo para o mundo. O passo seguinte foi a preocupação em como formar professores capacitados com domínio do idioma e também carisma para conquistar a simpatia e confiança do povo que esse professor fosse ensinar o Judô e fidelizá-lo. Nessa época já haviam algumas pessoas que tentaram ensinar Judô nos outros países e não tiveram êxito, porque os alunos desistiam logo com um mês, três meses, chegando a passar necessidade, onde tiveram que voltar. No ano 1903, chega ao Japão um americano de nome Samuel Hill, genro do fundador da empresaferroviária The Great Northern Railroad dos Estados Unidos, que viajava rotineiramente para Europa e Ásia, com objetivo de colher informações sobre construção de estrada de ferro, mas nessa ocasião ele resolveu dar uma passada no Japão, com objetivo de conseguir novo espaço de atuação da empresa e nessa ocasião acabou conhecendo o Judô, onde instantaneamente pensou, “essa sim é a maneira ideal para educar meu filho manhoso, aprender o espírito do Bushidô e se tornar um homem de caráter forte”. Assim, ele procurou o mestre Jigoro e pediu para arrumar uma pessoa boa e envia-lá para os Estados Unidos para ser professor de Judô do seu filho. Nessa época no Kôdôkan, 6º grau era a graduação máxima e tinham somente duas pessoas, Yamashita e Yokoyama, e depois de uma análise criteriosa sobre perfil de cada um como professor ideal para essa função, a escolha recaiu sobre “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 17 Yamashita pelo bom conhecimento e comunicação da língua inglesa e sociabilidade na relação social. No dia 22 de setembro de 1903, o casal Yamashita e sua esposa Fudeko, como convidados do rei da Estrada de Ferro dos Estados Unidos, Samuel Hill, parte do porto de Yokohama e segue para os Estados Unidos. Ao chegar, a esposa de Samuel Hill discordou radicalmente da idéia de seu filho ter aulas de Judô alegando ser muito perigoso, podendo machucar e Yamashita acabou não dando aula para filho do Samuel. Em vista desse imprevisto, imediatamente Yamashita se muda para Washington D.C. e passa a dar aulas de Judô na Organização Representativa do Japão nos Estados Unidos, que era representada pelo oficial da marinha Issamu Takeshita. Por intermédio dele conheceu o 26º Presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, amante de esportes e que passou a ser discípulo do Yamashita. Instalou uma academia de Judô especial na Casa Branca, onde Yamashita deu aulas de Judô para o presidente e aos amigos dele. Em 28 de maio de 1905, nessa academia, Yamashita recebe congratulações do Presidente pela vitória do Japão na guerra contra Rússia. Posteriormente, o nomeou como professor de Judô na Academia Naval de Anápolis e Universidade de Harvard. Também enfrentou desafios contra boxeadores e wrestlers, vencendo a todos. A sua esposa deu aula de Judô para senhoras e jovens. Yamashita deixou como legado um extraordinário trabalho de divulgação do Judô nos Estados Unidos, e no dia 31 de maio de 1906, retornou a Japão (MURATA Naoki, 2011). Mestre Jigoro para dar continuidade na missão de internacionalização do Judô realizado por Yoshitsugu Yamashita e sua esposa Fudeko nos Estados Unidos, resolve indicar Tsunejiro Tomita para dar continuidade nessa missão, que era o de internacionalizar o Judô, porém Tomita já contava com seus 40 anos de idade e mesmo sendo 6º dan, já não era ativo. Mestre Jigoro achou melhor designar um acompanhante que estivesse na ativa e fosse vigoroso, e aí escolheu Eisei Maeda 4º dan. Os dois seguem para Estados Unidos, no inicio de verão de 1906, (Nota explicativa: este relato baseia-se na data de partida que consta no histórico de Maeda que é coerente com a data da chegada de Yamashita no Japão. No histórico do Tomita a data de saída que consta é incoerente com a data da chegada de Yamashita no Japão). Maeda e Tomita chegam em São Francisco nos Estados Unidos e pela influência de Yamashita ter sido professor de Judô da Academia de Exército West Point, um coronel acompanhado de alguns oficiais foram buscá-los de carruagem no hotel e Tomita sentou-se à direita do Consul Utida de Nova York que foi como cicerone e Maeda à esquerda, e quando a carruagem tracionada pelos cavalos cruzou a entrada da escola, foram saudados pelos alunos perfilados nos dois lados fazendo "rei". Após um descanso, foram realizadas as demonstrações de Katas de Judô no auditório e em seguida os desafios com os alunos e no primeiro confronto Maeda lutou contra um jovem enorme, jogador de futebol americano, ele de dôgui, mas o “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 18 adversário sem. Pela falta de experiência em confronto desse tipo, Maeda teve um pouco de dificuldade, mas venceu. No confronto seguinte, Tomita que estava com 40 anos e com declínio da capacidade física, teve que enfrentar um atleta gigante de Wrestling e de início foi abraçado pelos braços enormes e levado a lona e Tomita foi derrotado. Com essa derrota a expectativa do Compromisso de emprego de dar aulas sofreu uma mudança brusca. Tomita segue de São Francisco para a cidade de Seattle no estado de Washington, onde permaneceu por 7 anos, dedicando-se ao ensino e divulgação do Judô nos Estados Unidos. Durante esse período enfrentou vários desafiantes de boxe e de wrestling, tendo vencido todos. Assim, prestou grande contribuição na internacionalização do Judô. Após cumprir essa missão retornou ao Japão e construiu um ginásio poliesportivo que infelizmente foi destruído pelo incêndio provocado pelo terremoto (MURATA Naoki, 2011). Maeda segue de São Francisco para Nova York, onde instalou um dôjô. No início teve muitos alunos, mas não houve continuidade. Nos Estados Unidos, ele ainda realiza alguns desafios, vencendo todos. Em fevereiro de 1907 vai para a Inglaterra e realiza 13 desafios. Em 1908 vai para a Bélgica e realiza 1 desafio. Em 1908 segue para Cuba e realiza 11 desafios. Em julho de 1909 vai para o México e realiza 4 desafios. E finalmente, em 1910 novamente em Cuba realiza 4 desafios. Sobre a história real do codinome "Conde Coma", muitos acham que é um título honorífico que ele recebeu. Foi no final de mês de maio de 1908, Maeda seguiu de Londres para a Espanha, e ele relata que quando chegou na cidade de Madri, capital da Espanha, surgiram comentários que iria para Barcelona um japonês que se intitulava ser o primeiro do Japão e campeão de judô, essa pessoa era ele próprio, Maeda. Nessa cidade havia um japonês que promovia desafios contra lutadores de diversas modalidades de luta e que o conhecia muito bem. Se ele soubesse que Maeda estava em Barcelona, esse japonês iria querer fugir e se fugisse, causaria prejuízo ao proprietário desse teatro onde se realizavam os desafios, pois já estava com os ingressos quase esgotados. Foi aí que Maeda resolveu esconder seu nome verdadeiro, começando a pensar em algum nome fictício, mas nada de surgir esse nome, porém quando perguntaram se ele já tinha um nome, ele respondeu "Maeda comaru", (na tradução japonesa significa [Maeda está em apuros] essa palavra chegou na sua cabeça, provavelmente porque ele estava passando por dificuldade financeira). Mas ainda assim, Maeda achou que não ficou bom e resolveu cortar "Maeda" e "ru", ficando "coma", aí só "coma" ficaria esquisito e uma pessoa que estava perto lhe disse para acrescentar a palavra "conde" e a partir desse momento Maeda passou a se nominar de "conde coma". Bom, sobre o desafio, como esse japonês já tinha se programado com outros desafiantes, Maeda, agora Conde Coma, foi ao teatro e quando o japonês o viu se assustou. Quando ele terminou de cumprir seus desafios anteriormente programados, Conde Coma propôs um desafio, o qual foi recusado, e ele insistiu mais uma vez. Nesse momento o público começou a exigir que ele aceitasse o desafio proposto por Coma, porém ele alegou que a lei japonesa não permitia que fosse realizado um desafio entre japoneses. A reação do público ficou “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 19 insustentável e precisou da interferência policial para contornar o tumulto. O japonês foi preso sem ter aceito o desafio e como multa teveque ressarcir os ingressos como forma de contornar a situação" (KOUYAMA Norio, 2014). Seguindo na sua viagem, Maeda chegou a Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, em 14 de novembro de 1914, onde realizou as primeiras demonstrações de Judô, aqui no Brasil (03). Desde as suas andanças, das regiões da Califórnia nos Estados Unidos para as outras regiões, sempre teve a preocupação em pesquisar as dificuldades enfrentadas nas condições de vida, das discriminações pelos imigrantes japoneses, sempre acreditando que em algum lugar da América Central e da América do Sul deveriam haver terras que os recebessem de braços abertos e que pudessem viver sem preocupação, como cidadãos desse país. Quando Maeda chegou no Brasil, já próximo dos seus 40 anos, com a capacidade física começando a declinar, ele estava decidido a dedicar o restante da sua vida em prol da imigração do povo japonês. Em 1915, passa pelo estado de São Paulo e observa que as terras boas e férteis já estão sob domínio do povo europeu, que estão controlando a entrada do povo japonês no Brasil. Por isso, o Japão precisava olhar atentamente para o futuro e estabelecer a política da colonização e fazer tal como, o planejamento para 100 anos de povoamento do povo japonês. Com esse pensamento, vai subindo o Brasil, passa pelo Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Maranhão e estava navegando a orla marítima leste do Brasil, quando de repente surge enchendo os olhos de Maeda que nunca tinha visto na vida, uma densa floresta que o deixou impressionado e passou a imaginar “aqui está o meu sonho”. Chegou em Belém do Pará no dia 20 de dezembro de 1915 (03). Nesse dia, nas ruas da cidade tinham feiras e um circo com muitas crianças se divertindo e repleta de pessoas comemorando os 300 anos de colonização da cidade. A atração máxima no circo era ver quem seria o herói da disputa de "luta livre" com a participação de lutadores de boxe, wrestlers e outros, onde grandalhões mediam forças, o público apostava dinheiro e torcia para seu preferido. Maeda que era um judoca de porte pequeno, quando viu essa cena não teve dúvida "é nessa que eu vou" e resolve participar como desafiante não inscrito. Vence todos desafios com certa facilidade, se torna campeão e nomina-se “sou o conde coma", e para surpresa dele esse nome já era conhecido através das notícias. Esse acontecimento foi o "encontro” de Maeda com o Amazonas. Se fosse só por esse motivo, como nas outras competições, teria recebido o prêmio e já teria ido embora da cidade. Porém, o Amazonas era diferente das outras, o que encheu de encanto o coração de Maeda. Primeiro, não tem discriminação com a etnia japonesa e segundo, a extensa terra inexplorada do Amazonas, que tem dezenas de vezes mais extensão do que o Japão. “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 20 Sintetizando, dentre os feitos de Maeda, a imigração japonesa no Amazonas é uma das obras memoráveis e como fruto dessa obra está a colônia japonesa de Tome Açu, bastante conhecida e que produz pimenta do reino. A criação do consulado do Japão na cidade de Belém para facilitar a relação com o Japão, também foi fruto de Maeda, e que se não houvesse, os japoneses teriam que se dirigir até São Paulo. Maeda faleceu em 28 de novembro de 1941, em Belém (KOUYAMA Norio, 2014). Ainda como legado dele, em 1917 Carlos Gracie, então com 14 anos, sendo um dos filhos do Gaston Gracie, decidiu aprender Jujutsu com Maeda, após assistí-lo numa demonstração no Teatro Pazu. Se o Jujutsu do Maeda era Judô ou outro Jujutsu, no Brasil e nessa época, era conhecido como Kano Jujutsu. Carlos se tornou rapidamente expoente. Em 1921, Gaston Gracie mudou para o Rio de Janeiro com a sua família. Carlos com apenas 17 anos, se tornou professor de seus irmãos Osvald, Gaston e Giorgio. Naquela época, Élio seu irmão mais novo era muito jovem e também por motivo de saúde foi proibido a praticar. Porém, Élio depois participou da prática e superou seus problemas de saúde e fundou juntamente com Carlos, a Gracie Jujutsu, e que agora é conhecido como Brazilian Jujutsu. Embora Élio não tenha aprendido diretamente com Maeda, ele melhorou e completou o sistema técnico, proporcionando uma técnica que qualquer pessoa poderia usar. Maeda da mesma forma, fez o seu próprio jogo de artes marciais mistas como uma escola, depois de divulgar o Gracie Jujutsu, o Judô de Masahiko Kimura se tornou nessa luta também (03). X - MEMBRO DO COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL Foi no dia 16 de janeiro de 1909, através do embaixador da França no Japão, que o mestre Jigoro Kano recebeu uma carta de Pierre de Frédy, conhecido como Barão de Coubertin, convidando o para ser membro do Comitê Olímpico Internacional e após a explanação detalhada feita pelo embaixador sobre o assunto, ele aceita. Na reunião do C.O.I. realizada em 05 de maio de 1909 na Alemanha, ele foi aprovado como novo membro do C.O.I. pelo Japão. Como membro do C.O.I. mestre Jigoro passa a escrever mais uma história de uma parte da sua vida dedicada às Olimpíadas, interagindo com o povo japonês e o mundo. Para tanto, aqui discorre-se os fatos um tanto diferente dos que constam nos anais da história do Judô. Um mês após ter se tornado membro do C.O.I., mestre Jigoro recebe uma carta do Prof. Pierre de Frédy, parabenizando-o por ter se tornado o mais novo membro do C.O.I. e convida o Japão participar da 5ª Olimpíada que seria realizada na cidade de Estocolmo, na Suécia, no período de 05 de maio a 27 de julho de 1912. E pela primeira vez o Japão participa de uma Olimpíada, com 2 atletas e sem apoio governamental e do povo ( KONDÔ Takao,2019). A Olimpíada de 1916 não foi realizada por causa da 1ª Guerra Mundial. “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 21 A Olimpíada de 1920, foi em Antuérpia, na Bélgica, no período de 20 de abril a 12 de setembro. A Olimpíada de 1924, foi em Paris, na França, no período de 04 de maio a 27 de julho. A Olimpíada de 1928, foi em Amsterdã, a Holanda, no período de 17 de maio a 12 de agosto. No final do ano de 1930, mestre Jigoro recebe uma mensagem do vice- presidente do Jornal Asahi, Hiroshi Shimomura, onde dizia que queria encontrá-lo. Logo os dois se encontram e Shimomura diz para o mestre Jigoro: “eu estou aqui a pedido do prefeito de Tóquio, Hidejiro Nagata que me pediu para fazer uma consulta sobre a possibilidade dos Jogos Olímpicos de 1940 serem realizados aqui em Tóquio no Japão, pois nesse ano o Japão irá comemorar 2.600 anos da instalação do primeiro governo imperial. Além disso, a realização dos Jogos Olímpicos trará um grande progresso no desenvolvimento da modernização e da economia para nosso país”. E, concluiu a mensagem solicitando o empenho máximo do mestre Jigoro nessa missão, porém nesse momento o mestre Jigoro não prometeu que iria se empenhar. No dia seguinte, já nessa época, o Japão contava com mais um membro do C.O.I., Seiiti Kishi. Mestre Jigoro confabula com ele e argumenta que o Japão não dispõe de infra-estrutura para receber os visitantes, começando pela cultura dos sanitários que são diferentes, os hotéis, formar tradutores para tantos idiomas diferentes e para tudo isso, não haveria tempo necessário, sem contar que os membros do C.O.I. iriam achar o Japão longe geograficamente. Em vista desses problemas, no primeiro momento respondeu ao emissário negando o pedido. Passados alguns dias, o prefeito junto com o emissário, volta a reiterar o pedido e novamente insiste. No fim, o mestre Jigoro responde que irá tentar, e se despede deles. O outro membro do C.O.I., Kishi que participou dessa reunião, com um sorrisomeio irônico disse “mestre, não precisa se preocupar pois os membros do C.O.I. não vão concordar” e nessa ocasião Jigoro até concordou com essa colocação. Porém com o decorrer do tempo, esse posicionamento vai se mudando. A Olimpíada de 1932, foi em Los Angeles, nos Estados Unidos, no período de 30 de julho a 11 de agosto. (Nota explicativa: Existem bibliografias relatando que mestre Jigoro fez uma apresentação de Judô com cerca de 200 participantes nessa Olimpíada. A versão correta é, “ele foi chefiando uma delegação composta de atletas de atletismo, natação, técnicos e demais membros, totalizando quase 200 pessoas e ainda, mestre Jigoro proferiu uma palestra sobre Judô no auditório da Universidade de Califórnia usando terno e não dôgui". Como a troca da palavra proferir para apresentar muda totalmente o sentido da frase). Na reunião do C.O.I. que antecedeu o início dessa Olimpíada, seria apresentada a intenção do Japão em pleitear a Olimpíada de 1940, mas antes do início da reunião mestre Jigoro fala para “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 22 Kishi “já que vamos colocar o nome do nosso país em jogo, vamos lutar com garra para conseguir”. No plenário da reunião, mestre Jigoro expôs a intenção do Japão de realizar as Olimpíadas de 1940, o que prontamente foi rechaçado pela maioria dos membros, principalmente os da Europa, argumentando sobre a distância. Foi quando mestre Jigoro contra argumentou, “vocês questionam sobre a dificuldade da distância para participação de uma Olimpíadas no Japão, e eu que todas as vezes que são realizadas na Europa tenho participado”. Nesse momento, o plenário emudeceu por um tempo, porém mesmo assim nessa ocasião não foi aceito. Após a reunião, confabula com Kishi e adota a estratégia de durante as Olimpíadas convencer os membros no corpo a corpo e então passou a agir. Curiosamente, entre 9 países candidatos para sediar Olimpíada de 1940, estava o Brasil com cidade sede Rio de Janeiro, a Argentina, com a Buenos Aires, Itália – Roma, Espanha – Barcelona, Finlândia – Helsinque, Hungria – Budapeste, Egito – Alexandria, Irlanda – Dublin e Canadá - Toronto. Já no final dessa Olimpíada, com a estratégia do corpo a corpo adotada para convencer os membros, começou a surgir a possibilidade de inverter a situação no plenário do C.O.I. Já nessa época, mestre Jigoro estava com 70 anos, porém mesmo assim, passou a percorrer o mundo para concretizar o objetivo. No mês de junho de 1933, foi realizada a assembleia do C.O.I. na Áustria e mestre Jigoro age rapidamente e até então os membros japoneses no C.O.I. eram ele e Kishi. Jigoro procurou eleger o 3º membro e indicou Ryôtaro Suguimura que já era secretário da ONU. Nessa ocasião também realizou o trabalho de corpo a corpo para convencer o voto favorável para Japão. Após a reunião, percorreu a Europa conversando com os membros. Três semanas antes do retorno do mestre Jigoro, no dia 29 de outubro, Kishi falece. No mês de maio de 1934, na cidade de Atenas, na Grécia, foi realizada assembléia do C.O.I. e nessa ocasião consegue eleger Mitimasa Soejiima, no lugar de Kishi e os três passam a realizar trabalho de corpo a corpo para convencer outros membros a votarem a favor do Japão. Já nessa época havia comentário de que Roma seria a provável indicada, mas aos poucos estava aumentando a tendência para Japão. Como estava evidente a vitoria da Itália, surge a idéia de pedir ao mandatário máximo da Itália, na época, Benito Mussolini, explicando que para o Japão seria um ano comemorativo de extrema importância, e então pediram uma audiência com Mussolini. Soejima e Suguimura foram recebidos e expuseram o motivo e prontamente ele prometeu retirar a candidatura da Itália para as Olimpíadas de 1940, e propôs o acordo do Japão apoiar a Itália como país sede para as Olimpíadas de 1944. Soejimaa e Suguimura enviam mensagem para o mestre Jigoro que ficou muito contente e agradeceu o empenho dos dois. Após essa audiência, Soejima por motivo de saúde retorna para Japão e Suguimura segue sozinho para Oslo, em Noruega, para participar da assembléia do C.O.I. para votação final para decidir o país sede das Olimpíadas de 1940, e como a Itália tinha retirado a candidatura, seria uma situação cômoda para Japão. No entanto, surge uma reviravolta imprevista na votação, Roma com 34 votos, a assembleia ficou tumultuada e se decidiu que a votação final seria “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 23 em 1936, na ocasião das Olimpíadas na Alemanha, que haveria votação somente para Roma, Tokio e Helsinque. No dia 31 de julho de 1936, na assembleia do C.O.I., ficou decidido por 35 votos para Tóquio e 27 votos para Helsinque que o Japão seria o país sede dos Jogos Olímpicos de 1940. Mestre Jigoro comemorou esse resultado efusivamente com Soejima. Logo enviou as ótimas notícias para o Japão e a imprensa noticiou e o povo comemorou entusiasticamente. Porém, nessa época o regime militar estava predominando no Japão e o mestre Jigoro estava tendo dificuldades para a construção das instalações para realização das Olimpíadas, pois o orçamento do governo era destinado para a guerra. Na assembléia do C.O.I. que foi realizada no dia 07 de junho de 1937 na cidade de Varsóvia, na Polônia, essa situação foi criticada com muito rigor pelos membros que votaram a favor de Helsinque, dizendo que o Japão atual está caminhando para guerra e a preparação para as Olimpíadas não havia avançado nem um pouco. Aí surgem dúvidas se o Japão iria conseguir realizá-los. Após um mês, acaba iniciando a guerra pondo o exército japonês contra exército chinês. Já nessa época, mestre Jigoro aos seus 76 anos, com o físico já debilitado, não tinha resistência física para tomar frente na realização das Olimpíadas em Tóquio. Mesmo assim, continuava forte na vontade de realizar as Olimpíadas em Tówuio, “custe o que custar”. E diz, “talvez essa seja a minha última missão”. Termina de falar essas palavras e parte de Tóquio, no dia 13 de fevereiro de 1938, para Cairo no Egito, para participar da assembléia do C.O.I. A maioria dos membros do C.O.I. já estavam achando impossível a realização das Olimpíadas no Japão, mas na cabeça do mestre Jigoro ele queria fazer de tudo para evitar o cancelamento. No plenário da assembléia, após várias críticas contrariando a realização das Olimpíadas no Japão, mestre Jigoro levanta e diz para os membros, “eu acredito no esporte, que não deixa se envolver com a política e as pessoas do mundo podem se confraternizar dando as mãos, e com certeza construiremos um ambiente para realizá- las, confiem em mim”. Acredita-se que os membros que achavam que o Japão não teria condição de realizar as Olimpíadas, devem ter mantido a sua decisão contrária, porém apesar disso, não resultou no cancelamento da realização das Olimpíada no Japão. Não é que os membros tenham acreditado no Japão, mas sim pela dedicação do mestre Jigoro como membro do C.O.I. por longos anos e pelas palavras que Mestre Jigoro proferia insistentemente e sempre dizendo “o esporte existe para fazer a pessoa crescer e para proporcionar a paz no mundo”. Ele era estimado pelo mundo e então ficou decido que as Olimpíadas no Japão seriam realizadas conforme estavam programadas. Mestre Jigoro segue para Atenas afim de participar da missa de um ano do falecimento do Prof. Pierre de Féedy (Barão de Coubertin). Depois para agradecer aos membros dos países que apoiaram na manutenção da realização das Olimpíadas no Japão, mestre Jigoro passa pela Europa, Estados Unidos e Canadá. De Vancouver, mestre Jigoro embarca no navio Hikawamaru e inicia o retorno para Japão, porém quando faltavam 2 dias para chegar aoJapão, no dia 04 de maio de 1938, mestre “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 24 Jigoro Kano falece, vítima de tuberculose. No dia 6 de maio, o Hikawamaru atraca no porto de Yokohama. O enterro foi no dia 09 de maio, com a presença de inúmeras pessoas com muitas mensagens de condolências vindas do exterior. O grande sonho do mestre Jigoro de realizar as Olimpíadas no Japão não se concretizou, pois a guerra entre o Japão e China tornou-se cada vez mais intensa. Assim, aproximadamente dois meses após o falecimento do mestre Jigoro Kano, no dia 15 de julho de 1938, o governo do Japão encaminhou para o C.O.I. a carta de renúncia à realização dos Jogos Olímpicos de 1940, no Japão. Assim, foi transferida para Helsinque, Finlândia. Nos anais da história das Olimpíadas, consta que os Jogos Olímpicos de 1940 eram para ser realizados em Helsinque, mas não aconteceu por causa da 2ª Guerra Mundial (KONDÔ Takao, 2019). XI -JUDÔ NAS OLIMPÍADAS A introdução do Judô como modalidade olímpica, aconteceu nos memoráveis Jogos Olímpicos de Tóquio no ano de 1964, no Japão. Nessa ocasião, o judoca holandês, Anton Geessink venceu o atleta japonês Akio Kaminaga. Essa vitória foi contagiante e incentivadora a todos os praticantes do Judô por todo o mundo. A partir dessas Olimpíadas, a cada quatro anos tem aumentado expressivamente o número de países com praticantes de Judô (MURATA Naoki, 2011). Hoje consta cerca de 200 países filiados na Federação Internacional de Judô. No Brasil o Judô é a modalidade mais bem sucedida nas Olimpíadas mais recentes. Esse aumento vertiginoso dos praticantes de Judô tem influído significativamente no aumento no mercado de trabalho e hoje em função desse progresso, muita gente está dando aulas de Judô, inclusive como meio de vida para constituir família, criar e formar filhos. Porém, costuma-se dizer que o aumento da quantidade em demasia, compromete a qualidade. Portanto é necessário pensar em manter o equilíbrio entre quantidade e qualidade dos praticantes de Judô, ou seja cada judoca que vem aumentar a quantidade dever estar imbuído de qualidade. XII -CONSIDERAÇÕES GERAIS Fazendo as palavras da apresentação às considerações gerais. Neste ensaio, é descrito de forma sintetizada a vida do Sensei Jigoro Kano. Tendo como objetivo da Comissão de Grau da Federação Paranaense de Judô que os praticantes desta modalidade possam conhecer de forma objetiva, como foi a suainfância, a sua educação, a sua motivação para aprender Jujutsu, a vida acadêmica, a criação do Judô e fundação do Kôdôkan, a internacionalização do Judô, como membro do Comitê Olímpico Internacional e sua atuação, sendo esses os conhecimentos que fazem parte da formação cultural interagindo com a parte técnica dos praticantes de Judô. Os historiadores dizem que: "o povo que não conhece a sua história é um povo sem memória". “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 25 Baseada nessa afirmação, observa-se que atualmente muitos locais de prática do Judô estão se distanciando cada vez mais da sua cultura, considerando que a história constrói uma cultura, e se não houver a preocupação em transmitir sistematicamente a sua história, a cultura tende a desaparecer. Aqui registra-se um "Sincero Parabéns" aos dirigentes dessa modalidade do estado do Paraná, por essa ação na divulgação da história para preservar a essência do Judô. É nessa essência que a sociedade acredita no Judô, como esporte que educa o jovem para a vida, formando-o como um cidadão íntegro para interagir na sociedade. E falar da vida dessa celebridade não tem fim. Pode se dizer que neste ensaio foi exposto parte da história da vida dele sobre o relevante legado de Judô Como não era objeto desse ensaio, nessa oportunidade não foi relatado a obra de grande relevância dele, na inovação e sistematização da educação japonesa voltada para a nova era do Japão e para o mundo interagindo com alunos, funcionários da escola, pais e sociedade. Nessa ação o Judô teve participação significativa como meio de Educação Física na escola para promover o desenvolvimento físico saudável e a formação do caráter dos escolares, que perdurou até o término da 2ª Guerra Mundial, também, a criação do curso de Educação Física visando a formação do professor de Judô ideal. Aqui fica uma observação: os conteúdos deste ensaio, já estão em forma de "prelo" para serem publicados em livro, após algumas inserções de conteúdos e revisões, com o título: A HISTÓRIA DA VIDA DO MESTRE JIGORO KANO E SEUS LEGADOS EDUCACIONAIS E CULTURAIS, e está amparada na lei dos Direitos Autorais Lei Nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Os conteúdos desse ensaio podem ser utilizados para fins de pesquisa, na elaboração de trabalhos acadêmicos ou de outras naturezas, sempre observando as normas dos direitos autorais, ou seja, citando nome do autor, título e ano. “LUTANDO POR UM SER MELHOR” FEDERAÇÃO PARANAENSE DE JUDÔ CURSOS ONLINE 2020 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 01- COMISSÂO COMEMORATIVA DE 150 ANOS DE NASCIMENTO. Kano Jigoro - Educador de determinação e ação. Editora Associação de Edição Universidade Tsukuba, 2011. 02- KANO Jigoro. A minha vida e Judô. Editado pelo Yoshio Takano. Editora Central de Biblioteca Japonesa S/A. 2012. 03- KONDÔ Takao. Kano Jigoro - Pai do Judô, Pai da Educação Física. Editora Chôbunsha. 2019. 04- MARUYA Takeshi. Kano Jigoro e Abe Isoo - Pioneiros da Educação e Esporte moderno. Eitora Livraria Akaishi S/A. 2014. 05- MATSUMOTO Yoshizo. Judô - Coaching. Editora Taishûkan Shôten. 1975. 06- MURATA Naoki, Internacionalização do judô - Sua história e Tarefas. Editora Fundação Budôkan do Japão. 2011. 07- TÔDÔ Yoshiaki. Judô - Sistematização das técnicas e sua história. Editora Fundação. Budôkan do Japão. 2014. REFERÊNCIAS REVISTAS JUDÔ DO KÔDÔKAN 01- Revista Judô. Vol.61, Nº2, Ed. Kôdôkan, febr. de 1990. 02- Revista Judô. Vol. 61, Nº3, Ed. Kôdôkan, mar. de 1990. 03- Revista Judô. Vol. 61, Nº6, Ed. Kôdôkan, june. de 1990. 03- Revista Judô. Vol. 79, Nº9, Ed. Kôdôkan, sept. de 2008. 04- Revista Judô. Vol. 89, Nº5, Ed. Kôdôkan, mai. de 2018. REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS 01- www7a.biglobe.ne.jp/~wwd/PW161017/ 02- https://pt.wikipedia.org/wiki/tao_te_ching 03- https://ja.wikipedia.org/wiki/前田光世 04- https://ja.wikipedia.org/wiki/道場_(曖昧さ回避)