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Cirurgia do Distúrbio do Refluxo Gastroesofágico DEFINIÇÃO • Trata-se do refluxo (= retorno) de parte do conteúdo gástrico para o esôfago e/ou órgãos adjacentes, causando alterações clínicas ou endoscópicas. Epidemiologia e fatores de risco • Incide mais em homens brancos • prevalência aumentada pela idade e o tempo da doença • diagnóstico geralmente ocorre na faixa entre 45 – 60 anos • Obesidade • Protetores ao desenvolvimento de metaplasia intestinal: − Consumo moderado de vinho tinto − Infecção crônica por H. pylori − Etnia negra PATOGÊNESE: • É uma afecção crônica decorrente do refluxo (=retorno) de parte do conteúdo gástrico para o esôfago e/ou órgãos adja- centes (faringe, laringe, brônquios etc) • O ácido gástrico pode causar um espectro varíavel de sinto- mas que podem, ou não, vir associadas a lesões teciduais. Causas: 1. Relaxamento transitórios frequentes do Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI), não associados a deglutição 2. Tônus baixo do EEI 3. Hérnia de hiato (desestruturação anatômica da junção eso- fagogástrica) Causas do relaxamento do EEI: 1. Esclerodermia 2. Lesão cirúrgica do EEI 3. Esofagite 4. Tabagismo 5. Uso de drogas colinérgicas e relaxantes do músculo liso 6. Colecistocinina (CCK) e secretina 7. Condições que cursem com o aumento da pressão intra-ab- dominal (gestação, ascite, obesidade, uso de roupas justas...) 8. Déficit do esvaziamento gástrico 9. Diminuição da produção de saliva QUADRO CLÍNICO: Típicas 1. Pirose (queimação retroesternal). • Ocorre 30 a 60 min após a alimentação • Alimentação copiosa, rica em gordura, condimentada e ácida • Melhora com antiácidos e até mesmo água 2. Regurgitação (gosto amargo na garganta) Atípicas: • Esofágicas: − “dor torácica não cardíaca” – nó na garganta • Pulmonares: − Tosse crônica (20%) − Hemoptise − Broncoespasmo − Pneumonias de repetição − Bronquiectasias • Otorrinolaringológicas: − Rouquidão − Pigarro − Laringite crônica − Sinusite crônica − Otalgia (dor no em qualquer estrutura do ouvido) • Orais: − Desgaste do esmalte dentário − Halitose − Hipersalivação − Aftas Extraesofágicos: • Refluxo gastroesofágico proximal − Consequente microaspiração de conteúdos gastroduode- nais − Irritação direta nas estruturas adjacentes (laringe trato respiratório inferior) OBSERVAÇÃO: A doença do refluxo gastroesofágico só é diagnosticada quando existe manifestações sintomáticas. Caso não exis- tam, então o refluxo é chamado de fisiológico, sendo co- mum em todos nós. OBSERVAÇÃO: Pirose: queimação RETROESTERNAL Azia: queimação EPIGÁSTRICA OBSERVAÇÃO: a disfagia não é comum. Se grave e contínua, consi- derar complicações do quadro ou diferentes causas. • Exposição ácida ao esôfago distal − Refluxo vagal, com consequente broncoespasmo e tosse DIAGNÓSTICO: 1. É clínico (presença de pirose e regurgitação); 2. Teste diagnóstico → prova terapêutica • Administração de inibidor da bomba de prótons, 1x/dia pi 4 a 8 semanas 3. Endoscopia deve ser solicitada quando o paciente apresenta sinais de alarme ou naqueles que não obtiveram resposta ao tratamento. Endoscopia Digestiva Alta • Indicada em casos de possíveis complicações ou a possibili- dade de outra causa possível para originar os sintomas. • A PRINCIPAL indicação é a suspeita de CÂNCER • Indicações: − Presença de sinais de alarme − Idade maior de 45 – 55 anos (em média) − Sintomas refratários ao tratamento − História prolongada de pirose (mais de 5 a 10 anos) pHmetria • Exame padrão ouro para detecção de DRGE • É um exame dispendioso e desconfortável • Os inibidores da bomba de prótons devem ser descontinua- dos antes da realização do exame (4 a 5 dias antes) • Indicações: − Sintomas típicos de DRGE refratários à terapia, com en- doscopia normal ou duvidosa − Sintomas atípicos que não responderam a prova terapêu- tica com IBP por dois a três meses − Confirmação do diagnóstico de DRGE ANTES da cirurgia antirrefluxo − Reavaliação de pacientes ainda sintomáticos APÓS a ci- rurgia antirrefluxo • Considera-se DRGE quando mais de 7% (ou 4,5%) das medi- das de pH são inferiores a 4% • É capaz de identificar refluxos não ácidos Exames complementares Esofagomanometria • DRGE com indicação cirúrgica • Suspeita de distúrbios motores esofágicos associados • Localizar o EEI antes da pHmetria (alguns casos) Exame radiológico contrastado (esofagografia) • Muito pouco indicado devido a baixa sensibilidade • Indicação principal: presença de complicações • Pode sugerir a presença de hernia hiatal associada ou alte- rações motoras Impedâncio-pHmetria esofágica • Provavel novo padrão-ouro para diagnóstico de DRGE • Capaz de identificar refluxos ácidos e não ácidos COMPLICAÇÕES: Esofagite de refluxo • Presente em até 50% dos casos • No esôfago de Barret, o epitélio escamoso estratificado do esôfago distal é substituído por epitélio colunas com células intestinais (metaplasia intestinal). Esse quadro pode levar ao desenvolvimento de adenocarcinoma 1. Classificação de Savary-Miller: • Grau I → erosões em apenas 1 prega longitudinal esofágica • Grau II → erosões em mais de uma prega • Grau III → erosões em mais de uma prega e ocupando toda a circunferência do esôfago • Grau IV → estenose péptica ou úlcera profunda em esôfago distal (isoladas ou associadas às lesões graus I a III) • Grau V → Esôfago de Barret (isolado ou associado às lesões graus I a IV) Grau I Grau II Grau III Grau IV Grau V OBSERVAÇÃO: a esofagite é encontrada em apenas 50% dos casos. OBSERVAÇÃO: • Tem sensibilidade baixa, mas possui alta especificidade; • Permite excluir a presença de câncer • Método de escolha para diagnóstico de lesões causas pelo refluxo gastroesofágico 2. Classificação de Los-Angeles: • Grau A: Uma ou mais erosões até 5 mm • Grau B: Uma ou mais erosões maiores de 5 mm em sua maior extensão, não contínuas entre os ápices de duas pregas eso- fágicas • Grau C: Erosões contínuas (ou convergentes) entre os ápices de pelo menos duas pregas, envolvendo menos do que 75% do órgão • Grau D: Erosões ocupando pelo menos 75% da circunferência do órgão Estenose péptica de esôfago • Causa disfagia insidiosa e progressiva • Ocorre em 10% dos casos • Inicia-se no terço inferior do esôfago, com padrão ascen- dente • OBSTRUÇÃO MECÂNICA (característica clínica + importante) • Corresponde ao grau IV da classificação de Savary-Miller • Geralmente, encontra-se esôfago de Barret abaixo da este- nose (considerada grau V) Úlcera esofágica: • Odinofagia (dor) e hemorragia digestiva • Pode estar associada ao esôfago de Barret • As úlceras alcançam a muscular na mucosa • Corresponde ao grau IV da classificação de Savary-Miller • Se associada ao esôfago de Barret, deve ser classificada como grau V Sintomas respiratórios: • Faringite (pigarro frequente) • Laringite (rouquidão) → pode evoluir para estenose laringo- traqueal e câncer de laringe • Traqueíte (tosse seca crônica) • Broncoespasmo (quadro de asma brônquica) Esôfago de barret • Encontrado em 4 a 10% dos pacientes com DRGE • É necessária a confirmação por biópsia • Células caliciformes (corante alcian-blu) → metaplasia intes- tinal • Aspecto endoscópico sugestivo → mucosa com coloração salmão • Curiosamente, o desenvolvimento do epitélio de Barret ode diminuir os sintomas de refluxo, visto que o epitélio modifi- cado é mais resistente ao ácido Tratamento da DRGE Não farmacológico • Medidas antirrefluxo Farmacológico • Antissecretores ácidos: − Bloqueadores de H2 − Inibidores da bomba de prótons (IBP) → Mais eficientes IBP Dose Plena Diária Omeprazol 20 mg Lansoprazol 30 mg Pantoprazol 40 mg Rabeprazol 10 mg Esomeprazol 40 mg • Antiácidos: − atuam pontualmente, sendo utilizadopara alívio imediato dos sintomas • Procinéticos: − São antagonistas dopaminérgicos D2, que inibem a ativi- dade da dopamina no plexo mioentérico, aumentando a atividade colinérgica. − Elevam a pressão do Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI) − Aumentam a contratilidade esofagiana − Acelera o esvaziamento gástrico Procinéticos Dose oral Bromoprida 10mg via oral, 15 a 30 mi- nutos antes das refeições Metoclopramida Domperidona Cirúrgico • DRGE não complicada: − Pacientes que, por alguma razão, não podem dar conti- nuidade ao tratamento clínico e farmacológico − Refratários ao tratamento − Alternativa ao tratamento clínico de manutenção (espe- cialmente, pacientes jovens) − DRGE associada a hérnia de hiato • DRGE complicada: − Formas complicadas (estenose, úlcera, adenocarcinoma etc) • Fundoplicatura de Nissen ou total (360°) − TRATAMENTO DE ESCOLHA − Principal desvantagem: síndrome pós-fundoplicatura (disfagia decorrente da estenose esofágica) • Fundoplicatura parcial: − Técnica de Dor (180°) – Válvula anterior − Técnica de Thal (90°) - Válvula anterior − Técnica de Toupet-lind (270°) - Válvula posterior • Técnica de Belsey-Mark IV (270°) - Válvula anterior • Fundoplicatura anterolateral do Watson (120°) • Esofagogastropexia de Hill • Complicações pós-fundoplicatura: Não específicas Específicas − Retenção urinária − Infecção do sítio cirúrgico − Trombose venosa profunda − Íleo paralítico − Pneumotórax − Lesões iatrogênicas do esôfago, estômago, baço e fígado Tratamento da estenose péptica • Dilatação pneumática do esôfago dital • Após a dilatação, pode-se optar pela manutenção com IBP ou uma cirurgia antirrefluxo Tratamento do Esôfago de Barrett • TODOS os pacientes com esôfago de Barrett devem fazer tra- tamento com IBP Desenvolvimento de adenocarcinoma: • Paciente com diagnóstico endoscópico de esôfago de Barrett deve ser submetido, periodicamente a EDA, com múltiplas biópsias. De acordo com o resultado da biópsia, a seguinte conduta deve ser adotada: COLÉGIO AMERICANO DE GASTROENTEROLOGIA: Biopsia inconclusiva TTO com IBP + nova biópsia 3 a 6 meses Apenas metaplasia Nova EDA a cada 3 a 5 anos Displasia de baixo grau Ablação endoscópica Displasia de alto grau ou adenocarcinoma in situ Ablação Adenocarcinoma invasivo Ressecção cirúrgica com margem + linfadenectoma CONSENSO BRASILEIRO: Apenas metaplasia EDA em 1 ano e após 2/2 anos Displasia de baixo grau EDA de 6/6 meses e após anual Displasia de alto grau ou adenocarcinoma in situ Esofagectomia ou EDA com biópsia de 3/3 meses Metaplasia Displasia de baixo grau Displasia de alto grau Adenocarcinoma invasivo
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