Buscar

APG S13P2- ABORTO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Objetivos 
• Elucidar os principais tipos de aborto e sua etiologia; 
• Compreender a fisiopatologia do aborto; 
• Discorrer sobre a legalidade e a ética medica 
relacionada ao aborto 
• Descrever as principais consequências do aborto e o 
Impacto no sistema de saúde. 
• Epidemiologia do aborto 
 
Definição 
Trata-se da interrupção da gestação com feto pesando 
menos de 500g ou com idade gestacional inferior a 20 ou 22 
semanas (variando com a literatura). O abortamento é o 
processo de eliminação, enquanto o aborto é o produto 
eliminado. Chama-se abortamento subclínico aquele que 
ocorreu antes da próxima falha menstrual, não tendo sido 
diagnosticada a gestação, e de abortamento clínico aquele 
que ocorre após confirmação diagnóstica por meio do beta-
hCG e/ou ultrassonografia. Estima-se que cerca de 10 - 15% 
das gestações diagnosticadas terminam em abortamento. É 
um importante diagnóstico diferencial mediante queixa de 
sangramento na primeira metade da gestação. 
 
Etiologia 
Anormalidades Cromossômicas 
São as causas mais comuns de abortamento, sendo 
responsáveis por cerca de 50-80% dos abortos. A causa mais 
frequente são as aneuploidias, (destaque para as trissomias 
do 16, 22, 21, 15, 13, 2 e 14). A segunda causa de alteração 
cromossômica que se relaciona ao abortamento é a 
monossomia do cromossomo X. O risco de acontecer é maior 
conforme a idade materna avançada. 
 
Desordens Anatômicas 
• Incompetência istmo cervical: é causa de 
abortamentos tardios (geralmente de segundo 
trimestre). O colo sofre processo de abertura ao longo 
da gestação, levando a um comprometimento 
mecânico da retenção fetal, com consequente 
abortamento. 
• Miomas: principalmente o tipo submucoso ou 
intramural com distorção importante da cavidade 
uterina 
 
 
 
• Malformações uterinas: útero bicorno e didelfo - 
levam à incompetência istmo cervical o que justifica a 
maior taxa de abortamento, sendo maior a taxa de 
insucesso no útero bicorno que no didelfo. Útero 
septado é uma das malformações com maior 
prevalência e de melhor prognóstico, pode ser 
corrigido cirurgicamente prévio a gestação. 
• Sinéquias uterinas (síndrome de Asherman): são 
aderências endometriais, sua formação está ligada a 
agressões no endométrio, como curetagens de 
repetição. O diagnóstico e tratamento histeroscópico 
é possível, revertendo esse fator de risco. As sinéquias 
uterinas são mais associadas a infertilidade 
 
Distopias uterinas 
São posições uterinas anômalas. 
 
Doenças endócrinas 
• Insuficiência lútea: produção insuficiente de 
progesterona pelo corpo lúteo o que leva a um 
desenvolvimento inadequado do endométrio, dado que 
é esta produção de progesterona que mantém o 
endométrio nas primeiras 6-7 semanas de gestação, 
assim falhas na produção podem levar ao 
abortamento. 
• Doenças da tireoide: tradicionalmente o 
hipotireoidismo e a presença do anticorpo 
antitireoperoxidase são fatores de risco para o 
abortamento 
• Diabetes mellitus insulinodependente com mal controle 
de doença tem maior chance de abortamento. 
• Síndrome dos ovários policísticos: a combinação de 
altos níveis de hormônio luteinizante (LH), testosterona e 
androstenediona com a resistência insulínica 
aumentada, parecem ser fatores associados a maior 
incidência (20-40%) de abortamento nesse grupo de 
pacientes. 
 
Doenças autoimunes 
Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo (SAAF): é uma 
trombofilia autoimune que leva a maior incidência de 
trombose arterial e venosa, sendo causa de abortamento de 
repetição em cerca de 15-20% das mulheres com 
complicações 
abortamento habitual. A fisiopatologia está relacionada a 
ocorrência de trombose e de infarto placentário. 
 
Infecções 
Rubéola, parvovirose, citomegalovírus, listeriose, herpes 
simples, hepatite B, HIV, infecção do trato urinário (ITU), 
infecções ascendentes (vaginose, clamídia, gonorréia), sífilis, 
toxoplasmose, malária, estreptococos do grupo B no trato 
genital inferior. 
 
Fatores de risco 
• Idade materna avançada 
• Uso de álcool 
• Uso de cocaína 
• Uso excessivo de cafeína 
• Tabagismo materno (e paterno) 
• Nova gestação nos primeiros três meses após o parto 
anterior 
• Uso de DIU 
• Medicações: misoprostol, retinoides, metotrexate, AINEs 
• Abortamentos provocados prévios 
• Radiação em altas doses 
• Peso paterno (IMC < 18.5 ou > 25 kg/m²) 
• Doença celíaca 
 
Classificação 
1) Abortamento precoce: interrupção de gestação até a 12ª 
semana gestacional 
2) Abortamento tardio: ocorrendo após a 12ª semana 
gestacional (e antes da 20ª / 22ª semanas). 
3) Abortamento habitual: ocorrência de 3 ou mais episódios 
consecutivos de abortamento. Deve ter sua etiologia 
investigada. 
 
Apresentação clinica e conduta 
Ameaça de abortamento (ou abortamento evitável) 
Ainda não ocorreu o abortamento de forma definitiva e pode 
ou não se concretizar 
Apresentação clínica: paciente refere sangramento vaginal 
de pequena intensidade associado a dor abdominal tipo 
cólica leve que pode estar ausente. Ao exame físico: colo 
uterino encontra-se fechado e tamanho uterino compatível 
com a idade gestacional. 
Exames laboratoriais: valores de beta-hCG encontram-se 
dentro da normalidade (na presença do saco gestacional 
deve estar >1000 mUI/ml e na dosagem seriada deve 
aumentar cerca de 66% a cada 48h). 
Ultrassonografia (USG): sem alterações significativas, com 
saco gestacional íntegro e, a depender da idade gestacional, 
presença de batimentos cardiofetais. 
* Caso não seja encontrado gestação intrauterina na USG, 
considerar a possibilidade de gestação ectópica e investigar 
de acordo (a gravidez ectópica é um dos diagnósticos 
diferenciais dos sangramentos da primeira metade). 
Conduta: repouso relativo, abstinência sexual, prescrever 
antiespasmódicos, se necessário (Hioscina: 1 comprimido VO 
até de 6/6 horas em caso de cólicas), acompanhamento 
ambulatorial e avaliar necessidade de USG seriada. 
*A administração de progesterona exógena é ainda 
controversa 
 
Abortamento inevitável 
É a progressão da ameaça de abortamento para a 
concretização desse, assim, há um ovo inviável, ainda não 
houve saída de todo material pelo colo, mas esta será 
inevitável. 
Apresentação clínica: paciente refere sangramento vaginal 
de moderada a grande quantidade, sempre associado a dor 
abdominal em cólica, cíclica em hipogastro. Ao exame 
especular observa-se o colo uterino aberto (permeável), com 
saída de sangue (pode ter outros achados, como bolsa 
amniótica herniada). 
Exames laboratoriais: beta-hCG pode ainda estar positivo, 
mas menor que o esperado para a idade gestacional. A 
dosagem seriada demonstra valores decrescentes. 
Ultrassonografia: há sinais de descolamento decidual, com 
hematoma retro ovular, saco gestacional irregular, mas ainda 
presente, e pode ou não ser detectado BCF. 
Conduta: 
• Para todas as pacientes: internação, monitorizar sinais 
vitais a cada 6h, hidratação venosa, solicitar 
hemograma (anemia? infecção?) tipagem sanguínea e 
coombs indireto (se ambos negativo, deve ser realizada 
imunoglobulina anti-Rh para prevenção da 
aloimunização). Atentar para necessidade de 
antibioticoterapia nos casos de abortamento 
provocado. 
• Gestação < ou = 12 semanas: opções devem ser 
discutidas com a gestante e avaliar as indicações e 
benefícios de cada uma 
- Abordagem farmacológica: misoprostol (800 mcg a 
cada 12h ou 400 mcg a cada 8h via vaginal) - opção de 
menor custo, isenta dos riscos de dilatação cirúrgica do 
colo uterino, da perfuração uterina, da possibilidade de 
sinéquia e risco anestésico, mas tem como 
desvantagens o maior tempo para resolução e os 
efeitos colaterais até a expulsão (cólica, sangramento, 
náusea, calafrio). Pode ainda ser necessária a 
abordagem cirúrgica. 
- Abordagem cirúrgica: por aspiração manual 
intrauterina (AMIU) ou curetagem uterina (se colo 
fechado pode ser usado misoprostol 400 ou 600 mcg 
via vaginal 3h antes do procedimento para amolecer 
colo uterino). 
• Gestação> 12 semanas: o Estimular a expulsão do ovo 
com tratamento medicamentoso (Misoprostol 200µg 
via vaginal de 6 em 6 horas) - é obrigatória a expulsão 
do ovo devido ao grau de desenvolvimento da gestação 
que dificulta o esvaziamento da cavidade. + o 
Esvaziamento da cavidade uterina por curetagem o 
Inibição da lactação com cabergolina (1 mg - 2 
comprimidos (de 0,5mg) VO em dose única). 
 
Abortamento completo 
Já ocorreu a eliminação total do feto e anexos fetais. É mais 
frequente quando a perda gestacional acontece até oito 
semanas de gravidez. 
Apresentação clínica: ocorre sangramento e cólica, mas 
esses cessam espontaneamente. Ao exame o tamanho 
uterino é menor para a idade gestacional, e ao exame 
especular, o colo encontra-se fechado (ou ainda entre 
aberto). 
Exames laboratoriais: dosagem do beta-hCG negativa ou 
decrescente 
Ultrassonografia: cavidade uterina vazia, podendo haver 
apenas coágulos. 
*Atenção para gestação ectópica como um importante 
diagnóstico diferencial. 
Conduta: não é necessário nenhum tipo de tratamento, mas 
deve ser solicitada tipagem sanguínea e coombs indireto e 
caso Rh negativo, administrar imunoglobulina anti-Rh. 
Encaminhar paciente para acompanhamento ambulatorial. 
 
Abortamento incompleto 
Ocorre quando o abortamento está em curso e há somente 
eliminação parcial do conteúdo uterino. 
Apresentação clínica: paciente apresenta história de 
sangramento e cólica, ambos de intensidades variáveis. Ao 
exame o tamanho uterino encontra-se menor que o 
esperado para a idade gestacional, o colo uterino pode estar 
ainda aberto, (podendo ser observado o sangramento ativo) 
ou já fechado. 
Exame laboratorial: dosagem do beta-hCG negativa ou 
decrescente. 
Ultrassonografia: observa-se a presença de restos ovulares 
compondo um material amorfo e mal definido (descrição de 
espessamento endometrial ao exame). Nos casos onde ao 
exame observa-se o colo fechado, o diagnóstico de 
abortamento incompleto demanda a análise 
ultrassonográfica. 
Conduta: é idêntica ao abortamento inevitável, ou seja, é 
necessário o esvaziamento uterino, devendo ser avaliado o 
melhor método mediante a idade gestacional, as indicações 
clínicas e escolhas da gestante. 
 
Abortamento infectado (ou séptico) 
É uma complicação do abortamento incompleto, geralmente 
associada a tentativas de provocar abortamento. Ocorre 
infecção por ascensão das bactérias do trato genital inferior 
provocando infecção polimicrobiana e de extensão e 
comprometimento clínico variáveis. As bactérias envolvidas 
são: cocos anaeróbios, gram negativos, Clostridium 
perfringens e bacterioides. 
Apresentação clínica: A infecção se inicia como uma 
endometrite, podendo se manter restrita a cavidade uterina, 
se demonstrando por cólica e febre baixa; pode se estender 
para miométrio, paramétrio, anexos e peritônio pélvico, 
provocando quadro de febre alta (>39ºC), taquicardia, 
desidratação, dor importante que dificulta o exame clínico, 
útero amolecido e colo entre aberto com saída de secreção 
fétida, associada ao sangramento; pode se estender 
provocando peritonite, sepse e choque séptico. 
Ultrassonografia: restos ovulares e presença de coleções 
purulentas em fundo de saco de Douglas. 
Conduta: internar todas as pacientes, coletar exames 
laboratoriais (hemograma, ABO/Rh, VDRL, anti– HIV, provas de 
função hepática e renal, EAS) e culturas (avaliar a 
necessidade individualmente), iniciar reposição da volemia, 
iniciar antibioticoterapia e realizar o esvaziamento uterino 1h 
após o início do antibiótico. 
• Antibioticoterapia: manter por 7-10 dias - Gentamicina 
(1,5mg/kg/ dose IV de 8/8h) + Clindamicina (600-900 
mg IV a cada 6 a 8h) ou metronidazol. Acrescentar 
ampicilina (500mg a 1g 6/6h) ou penicilina cristalina 
(20-40 milhões UI/dia) caso falha. Alterar 
antibioticoterapia de acordo com a cultura. Para casos 
restritos de endometrite, manter o esquema antibiótico 
descrito acima por 48 a 72 horas após final dos 
sintomas. 
• Esvaziamento uterino: Há risco de perfuração uterina 
aumentado durante o procedimento, assim indica-se a 
administração de ocitocina 1h antes e durante o 
procedimento. Se possível, realizar o procedimento de 
esvaziamento guiado por USG. 
- < ou = 12 semanas: deve ser realizado AMIU ou 
curetagem (se colo fechado pode ser usado 
misoprostol 400 ou 600 mcg via vaginal 3h antes do 
procedimento para amolecer colo uterino) 
- 12 semanas: Estimular a expulsão do ovo com 
tratamento medicamentoso (Misoprostol 200µg via 
vaginal de 6 em 6 horas) + Esvaziamento da cavidade 
uterina por curetagem + Inibição da lactação com 
cabergolina (1 mg - 2 comprimidos VO em dose única). 
• Realizar a profilaxia antitetânica: administrar antitoxina 
10.000 UI IV de soro antitetânico (SAT), se a paciente não 
for adequadamente vacinada; se vacinação em dia 
não é necessário o SAT, realizar nova dose da vacina se 
a última foi há mais de 5 anos. 
• Evolução: Melhora clínica: após completar esquema 
terapêutico, alta hospitalar X Manutenção ou piora do 
quadro clínico: Investigar se há persistência de restos 
ovulares (realizar novo esvaziamento), presença de 
abscessos (realizar drenagem), tromboflebite séptica 
(administrar heparina em doses terapêuticas); nos 
casos graves se não houver melhora clínica em 48h 
pode ser necessária a histerectomia e lavagem da 
cavidade abdominal. 
 
Abortamento retido 
Houve a interrupção da gestação, mas o ovo morto 
permaneceu retido na cavidade uterina, por um período de 
pelo menos 4 semanas. 
Apresentação clínica: paciente geralmente assintomática, 
pode haver episódio de sangramento vaginal. Observam-se 
sinais de regressão dos sintomas de gravidez (melhora das 
náuseas, vômitos, sonolência, polaciúria etc). Ao exame: colo 
encontra-se fechado e tamanho uterino está mantido 
estável ou involui. 
Laboratório Beta HCG em níveis decrescentes 
Ultrassonografia: é o que define o diagnóstico. Observa-se 
embrião/feto sem vitalidade ou ausência de embrião (ovo 
anembrionado). A USG deve ser repetida em 15 dias para ter 
o diagnóstico confirmado caso a idade gestacional estimada 
seja menor que 7 semanas. 
Conduta: pode ser expectante ou pode ser procedido com a 
internação e esvaziamento uterino. 
• Gestação < ou = 12 semanas: misoprostol (800 mcg a 
cada 12h ou 400 mcg a cada 8h via vaginal) OU AMIU ou 
curetagem uterina (se colo fechado pode ser usado 
misoprostol 400 ou 600 mcg via vaginal 3h antes do 
procedimento para amolecer colo uterino). 
• Gestação > 12 semanas: Estimular a expulsão do ovo 
com misoprostol 200µg via vaginal de 6 em 6 horas + 
Esvaziamento da cavidade uterina por curetagem + 
Inibição da lactação com cabergolina (1 mg - 2 
comprimidos VO em dose única). 
 
 
 
Complicações 
Entre as complicações mais graves e críticas que conduzem 
a mulher para um atendimento intensivo estão as 
hemorragias e o choque hipovolêmico, por sua vez 
intimamente ligados, sendo que o choque é causado após 
um sangramento extenso ou perda sanguínea súbita e 
rápida. A perda excessiva de sangue do corpo não permite 
que os mecanismos compensatórios restabeleçam o volume 
de sangue adequado, ocasionando complicações 
secundárias como os distúrbios eletrolíticos, ácido-base e a 
hipoperfusão. Essas alterações podem acontecer de uma 
forma muito rápida, carecendo de cuidados intensivos e 
rápidos para uma restauração fisiológica (BITENCOURT e 
SANTOS, 2013). 
Frente a essas complicações graves e que necessitam de 
atendimento imediato, 20% das mulheres que abortam 
procuram os serviços de saúde e acabam sendo internadas 
nas unidades de cuidados críticos, como Unidade de Terapia 
Intensiva (UTI) e Centro Cirúrgico (BORSARI, et al, 2012). 
Os quadros de sepse podem ser agravantes quando se 
realiza um abortamento com introdução de materiais rígidos 
não esterilizados no canal vaginal, causando perfurações 
uterinas, infecções e peritonite. Além desses materiais, 
algumas substâncias químicas podem ser colocadasdentro 
da cavidade uterina, gerando necrose miometrial e 
proliferação bacteriana. A partir desses procedimentos, as 
complicações podem ser graves precurssionando um 
quadro de sepse. Bitencourt e Santos (2013) afirmam que 
mais de 50% das infecções ocorridas após a realização do 
aborto documentadas em UTI são decorrentes de bacilos 
gram-negativos, o que significa que são infecções mais 
graves e mais resistentes a antibióticos. 
Entre todas as complicações citadas até o momento estão 
algumas alterações de sinais vitais e sintomas que a mulher 
poderá apresentar tais como, hipotensão, insuficiência 
cardíaca, Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA), 
insuficiência renal, coagulação disseminada e alterações 
neurológicas, como sonolência, obnubilação e coma 
(BITENCOURT e SANTOS, 2013). 
Um estudo integrativo realizado no ano de 2016 mostrou que 
as complicações mais frequentes são as infecções (77%), 
necessidade de transfusão sanguínea (15,6%), choque séptico 
ou hipovolêmico (8,2%) e sepse relacionada ao aborto (2,5%), 
sendo que 4,9% das mulheres foram a óbito e quatro 
mulheres foram submetidas a procedimento cirúrgico, tais 
como: laparotomia, histerectomia e correção de lesão 
vaginal (ARAUJO et al, 2016). 
Em casos mais raros, encontram-se complicações que 
afetam outros órgãos e sistema do corpo, gerando 
complicações mais graves e de difícil abordagem. Em uma 
pesquisa realizada no Rio de Janeiro com mulheres que 
sofreram complicações após a realização de abortamento, 
foram descritos os relatos de mulheres que tiveram rins e 
intestino perfurados e passaram diversos dias em coma 
(HEILBORN et at, 2012). 
Além das complicações fisiológicas, encontram-se as 
complicações que atingem a saúde mental da mulher. Sell et 
al (2015) descrevem que uma das maiores consequências é 
a integridade mental dessas mulheres que recorrem ao 
aborto de forma insegura diante das dificuldades do 
enfrentamento de uma gestação indesejada, gerando uma 
mistura de sentimentos de alívio e culpa, medo de morrer, 
medo do castigo de Deus, arrependimento, dor psicológica, 
existencial e vergonha de outras pessoas, levando a crises de 
ansiedade e uma provável depressão. 
Para Romio et al (2015), a saúde mental é compreendida 
como um todo, isto é, a integralidade de seus direitos: de 
reproduzir-se, relacionar-se sexualmente, acesso garantido 
ao atendimento de saúde, educação, segurança e entre 
outros. As complicações psicológicas do abortamento 
acarretam um sentimento e uma experiência muito 
traumática, deixando incertezas, conflitos, arrependimento do 
ato e problemas psicológicos abalados por toda vida (RIBEIRO 
E BOLPATO, 2013). 
Uma pesquisa com mulheres residentes na Bahia revelou que 
o processo de abortamento ilegal é doloroso desde o 
momento de descoberta da gestação até o momento de 
decisão de abortar e visto esta complexidade apesar de 
avanços nos debates e discussões do assunto, é necessário 
ampliar a reflexão entre os profissionais de saúde para 
melhorar a atenção as complicações geradas pelo aborto 
(ANJOS et al, 2013). 
As alterações de saúde mental estão presentes no dia a dia 
da equipe de enfermagem nas diversas especialidades e 
atendimentos. O aborto ilegal é um evento singular e único 
que gera intenso sofrimento físico e existencial, podendo 
gerar diminuição da autoestima, alterações 
comportamentais favorecendo o uso de drogas e álcool, 
além de alterações familiares (ZEFERINO e FUREGATO, 2013). 
O sentimento de culpa e depressão manifestam-se quando 
a mulher se depara com sentimentos inaceitáveis perante a 
situação que está vivenciando. Deste modo, a culpa e a 
angústia são projetadas, causando distúrbios emocionais e 
duradouros, podendo ocasionar isolamento social, distúrbios 
nos sentimentos e em formas mais graves o problema se 
torna patológico, sendo necessária, em muitas vezes, a 
hospitalização (RIBEIRO e BOLPATO, 2013). 
Sell et al (2015) declaram que ao praticar o aborto, a mulher 
fica vulnerável à divergência na imagem criada pelo senso 
comum, ou seja, de que são mulheres frias e destituídas de 
sentimentos. 
Desta forma, mulheres que passam pela experiência de um 
aborto ilegal, vivenciam uma situação crítica e complexa, 
permeada por certezas e incertezas, conflitos e contradições 
culturais, ocasionando sequelas no período que sucede o 
aborto, que produzirão complicações em sua saúde mental e 
física (RIBEIRO e BOLPATO, 2013). 
Referencias 
BOSSO, Letícia Caciolari; et.al. Aborto, Ilegalidade e 
Complicações: Um Desafio para o Enfermeiro. Revista 
Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 
07, Vol. 03, pp. 46-67, Julho de 2018. ISSN:2448-0959 
 
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. 
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. 
Atenção humanizada ao abortamento: norma técnica / 
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Área 
Técnica de Saúde da Mulher. – 2. ed. – Brasília : Ministério da 
Saúde, 2011. 60 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Série 
Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos ; Caderno nº 4)

Outros materiais