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JOHN DEWEY E O ENSINO DA ARTE NO BRASIL ANA MAE BARBOSA Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, Professora Titular do Departamento de Artes Plásticas da Universidade de São Paulo, atuando no Mestrado e Doutorado em Arte-Educação que criou na USP e no Núcleo de Cultura e Extensão em Promoção da Arte na Educação da Escola de Comunica- ção e Artes da USP. Foi presidente da International Society of Education Through Art (1990-93) e Diretora do Museu de Arte Contemporânea da USP (1987-93). Publicou doze livros sobre Arte e Arte-Educação, sendo os últimos Tópicos Utópicos (Com-arte, 1998) e Arte-Educação: leitura no sub- solo (Cortez, 1999). Recebeu o prêmio Edwin Ziegfeld nos Estados Unidos (1992) e o Prêmio Internacional Herbert Read (1999). Em 2001 foi escolhida para dar a Studies in Art Education’s Lecture, na National Art Education Association dos Estados Unidos, distinção conferida pela primeira vez a um estran- geiro nos 50 anos de existência da Associação. John Dewey foi o expoente maior do pensamento filosófico america- no da primeira metade do século XX. Suas ideias causaram grande impacto em diversas áreas de co- nhecimento dentro das ciências hu- manas. Ana Mae Barbosa investigou as ressonâncias do pensamento de Dewey na Educação brasileira em sua tese de doutorado, publicando parte dessa tese na primeira edição deste livro em princípios da década de 1980. Analisando a recepção do autor americano em determinados ambientes culturais brasileiros, Ana Mae revelou como diferentes intér- pretes no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em Pernambuco geraram propostas educacionais singulares. Depois de cinco décadas em evidência, Dewey ficou praticamen- te esquecido. Mas nos últimos vinte anos ele tem sido extensamente es- tudado por autores americanos, im- buídos de uma visão contemporânea de História, já prefigurada nos pró- prios escritos de Dewey: a reflexão humana, em todos os tempos, pode e deve ser revisitada pelo presente não como cristalização, mas como raiz para novas soluções. O próprio conceito de imaginação, cerne fun- damental do pensamento de Dewey, está no bojo dessa visão de História tão cara à pós-modernidade. Para Dewey, a imaginação seria a capa- cidade humana de discernir opor- turnidades inerentes ao presente, mas ainda não realizadas pelo meio atual. A concepção moderna de cria- tividade valorizou a ruptura radical com o passado, enquanto Dewey enfatizava a importância da imagi- nação dentro da continuidade bios- sociocultural. A imaginação assim contextualizada teria como função atuar na intersecção entre signifi- cações socioculturais herdadas do passado e possibilidades ainda não reveladas ou descobertas pelo pre- sente. Sem o conhecimento e cons- ciência de sua própria história, acre- dita Ana Mae em consonância com as ideias de Dewey, não é possível reinventar o presente. A reedição deste livro é um con- vite à imaginação dos Arte-Educa- dores brasileiros, instigando sua curiosidade para conhecer melhor um autor cuja obra se eleva acima do tempo. A contribuição de Dewey permanece maior que suas sucessi- vas interpretações, resiste ao movi- mento intelectual que ora o esque- ce, ora o traz novamente à luz, como vem acontecendo nos dias de hoje. A cada nova investida se percebe que muito do que ele disse há tanto tempo é uma antevisão de questões cruciais do presente, como é o caso da palestra descoberta por Ana Mae nos arquivos de Arte-Educação da Miami University, dirigida a profes- sores de Arte e trabalhos industriais e incluída nesta edição. É um belo exemplo da visão de Dewey sobre a importância da Arte no desenvolvi- mento humano. JO H N D EW EY E O E N SI N O D A A RT E N O B R A SI L A n a M a e B a rb o sa 8a edição ISBN 978-85-249-2336-4 7 Sumário PREFÁCIO .................................................................................................. 9 NOTA DA AUTORA À PRIMEIRA EDIÇÃO ................................................... 13 CAPÍTULO I Reavaliando a recepção de Dewey ou atualizando John Dewey ............................................. 15 CAPÍTULO II Cultura e indústria na educação, por John Dewey ... 25 CAPÍTULO III Cronologia da dependência........................................ 35 CAPÍTULO IV A influência de John Dewey na educação brasileira através de Anísio Teixeira ......................... 57 CAPÍTULO V Nereu Sampaio, um intérprete brasileiro de John Dewey (Rio de Janeiro) ...................................... 81 CAPÍTULO VI As atividades de Artus Perrelet no Brasil e a ideia de apreciação (Minas Gerais) ........................... 101 CAPÍTULO VII A arte como experiência consumatória na prática da Escola Nova (Pernambuco) ...................... 143 CONCLUSÃO .............................................................................................. 179 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 183 ATUALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................ 209 15 Capítulo I Reavaliando a recepção de Dewey ou atualizando John Dewey Recorte e colagem: influência de John Dewey no ensino da arte no Brasil foi o título da primeira e segunda edições do livro que você tem em mãos. A mudança de título que o editor e eu concordamos em fazer não tem a intenção de enganar o leitor, fazendo-o comprar um livro que já tenha sido lido, mas é resultado da morte dos preconceitos contra John Dewey. Seu nome, em vez de vir a reboque depois de dois pontos, agora lidera o título. O livro, batizado com nome mais justo, talvez venha a ser relido com outro olhar, um olhar renovado pelo interesse que John Dewey vem despertando na cultura internacional a partir da década de 1990. Hoje vejo que o título anterior parece querer esconder que se trata de um estudo sobre John Dewey, e para isso ressalta uma metáfora mais diretamente ligada ao ensino da arte: recorte e cola- gem. Assim, o(a) leitor(a) procurado(a) pelo título era somente o(a) 16 ANA MAE BARBOSA arte-educador(a). Apesar de meu entusiasmo por John Dewey, aprendido com Paulo Freire nos anos em que com ele estudei e convivi no Recife, o título minimizava John Dewey como interlo- cutor da pesquisa. Sugeria, numa legítima defesa antecipada, que minha intenção era navegar pela história do ensino da arte no Bra- sil, sendo John Dewey um acidente encontrado em meio à navega- ção. Talvez esteja sendo muito dura comigo mesma, mas o título original hoje me faz sentir covarde, amedrontada diante da desqua- lificação que sofria John Dewey no Brasil naquela época. Quando escrevi este livro, que é parte de minha tese de douto- rado, o pensamento de John Dewey estivera em recessão nos Estados Unidos por quase duas décadas e, consequentemente, era tratado como velharia no Brasil. Mudou o mundo, a arte, a educação, e para repensar o nosso tempo, educadores, críticos de arte e até economistas têm buscado nas ideias de Dewey uma experimentação mais consciente da ação e uma construção de valores mais flexíveis culturalmente. Ao longo dos dezoito anos que se sucederam após a publicação da primeira edição deste livro, muitos outros foram publicados sobre o pensamento de John Dewey. Principalmente nos Estados Unidos, novos pesquisadores se encarregaram de revelar aspectos de sua obra potencializados pelo tempo atual. Houve uma espécie de loteamento do pensamento de Dewey em setores especializados que vão da filo- sofia à arte, chegando até a assuntos do cotidiano político, como imigração, racismo, puritanismo etc. As pesquisas contemporâneas sobre Dewey estavam apenas recomeçando quando escrevi este livro. J. Ann Boydston somente publicara os resultados de seu primeiro trabalho de edição das obras de Dewey, os cinco volumes que correspondem às obras iniciais de 1882 a 1898. Hoje, terminada sua tarefa, temos 37 volumes de obras de Dewey por ela editadose ainda há muitos textos dispersos em arquivos de universidades americanas. Em 1998, em uma pesquisa que realizei nos arquivos de arte/ educação da Miami University, Ohio (EUA), encontrei dois textos JOHN DEWEY E O ENSINO DA ARTE NO BRASIL 17 de John Dewey datilografados que correspondem a palestras que proferiu, não consegui determinar com certeza se na própria Miami University ou na Penn State University. Os assuntos de que trata por meio de sua crítica contundente são de uma atualidade clara: a submissão da educação aos interesses das finanças (hoje mais evi- dente com o neoliberalismo) e das indústrias e a submissão da criação à técnica (leia-se, para atualizar o assunto, em vez de técni- ca, tecnologia). Decidi mandar traduzir e publicar nesta edição como texto/ epígrafe a palestra proferida por Dewey para professores de Arte e Trabalhos Industriais (no Brasil, em termos curriculares, falava-se em Desenho e Artes Industriais) intitulada “Cultura e Indústria na Educação”. Possivelmente deve datar dos fins dos anos 1940. A ou- tra, “Imaginação e Expressão”, fica para um próximo livro ou uma próxima edição. No Brasil, com a política anti “escola nova” empreendida pelas Faculdades de Educação hegemônicas, como as da Universidade de São Paulo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de Campinas, John Dewey, por ter sido inspirador do que pejorativamente se chamou no Brasil de “escola novismo”, foi banido dos estudos educacionais. Passou a ser visto por muito tempo como defensor de uma educação elitista, pelos que se consideravam renovadores, e, pela direita, como um esquerdista americano que era preciso rasurar. Havia ainda os que se julgavam de esquerda e nacio- nalistas por recusarem qualquer influência americana e procuravam, para demonstrar seu esquerdismo, se associar ao pensamento e à pedagogia europeia, desprezando tudo o que vinha dos Estados Uni- dos. Como se do ponto de vista de identidade cultural houvesse algum avanço em baixar uma bandeira colonizadora e levantar outra igual- mente colonizadora. O internacionalismo cultural de um Dewey e de um Foucault pode produzir sentido no sistema educacional brasileiro se respeitarmos as condições da ecologia cultural de nosso país, não importa que um seja americano e o outro francês. No diálogo cultural entre nações, qualquer 18 ANA MAE BARBOSA colonialismo deve ser rechaçado, como o colonialismo espanhol que dominou o desenho dos Parâmetros Curriculares do Brasil (1996 e 1997) e dos países do Mercosul por imposição de outra potência mundial que provavelmente calculou que colonialismo transversal é mais efi- ciente. Pensam que, por sermos todos latinos, entre salsa e samba es- colheremos mesmo é Julio Iglesias. Parodiando um texto de Bourdieu que circula na internet, a luta que se trava hoje é: de um lado, potências comerciais que pretendem estender ao Terceiro Mundo os interesses particulares de comércio; e do outro, uma resistência cultural fundada na defesa das obras uni- versais produzidas pela “internacional desnacionalizada dos criado- res”. Deve-se distinguir entre os que querem ganhar dinheiro à nossa custa colonizando nossas mentes e aqueles que, longe do poder oficial, dizem suas palavras ao mundo e nos permitem interpretá-las e contextualizá-las. Em artigo publicado no primeiro número da revista Teias (jan./ jun. 2000), Paulo Ghiraldelli, a propósito de Anísio Teixeira e dos dias em que sobre ele era lícito dizer, nos cursos de pós-graduação em Educação, “não li e não gostei”, aponta a mesma atitude desqualifi- cadora, por parte dos orientadores de tese dos anos 1970 e 1980, em relação a John Dewey, mestre de Teixeira. Atacados de tecnicistas e liberais pelos antiamericanistas de direita e pelos marxistas que não os leram, como diz Ghiraldelli, todos nós perdemos por não ler seus textos que, longe de serem obviedades ditas de modo glamouroso, levam a pensar. As ansiedades do pós-modernismo nos colocaram de volta a John Dewey, é o que nos dizem os autores escolhidos por Larry Hickman para escrever em seu livro Reading John Dewey: interpretations for a postmodern generation (1998). Foi o pós-modernismo que recuperou John Dewey para as novas gerações de educadores e arte-educadores, diferentemente do que diz José Mário Pires Azanha no desentusiasmado prefácio ao livro Dewey: filosofia e experiência democrática de M. Nazaré de C. Pacheco Amaral (1990), quando valoriza o livro sobre Dewey porque é um clássico, e JOHN DEWEY E O ENSINO DA ARTE NO BRASIL 19 os clássicos devem ser estudados acrescentando que “a recusa dos clássicos é apenas uma opção arrogante pela superficialidade trans- vestida de modernidade (ou de pós-modernidade)”. Dewey não é somente importante porque é um clássico, mas porque antecipa inúmeros dilemas da condição pós-moderna com a qual nos confrontamos. Um deles é a recusa da história como monu- mento, mas sua valorização como uma das respostas ao presente que destitui a ideia de progresso em história e recupera a noção de histó- ria como sintoma. É do próprio Larry Hickman o ensaio que recoloca Dewey no centro da pedagogia contemporânea caracterizada pelo questiona- mento. Tanto a pedagogia do questionamento como a pedagogia cultural conduzida pelos teóricos e ativistas da educação de hoje devem muito a John Dewey, Paulo Freire e Vigotsky. Analisando o livro de Dewey, The theory of inquiry (1938), Hickman mostra como são atuais suas ideias de que o questionamento é sem- pre situado em um contexto e de que o questionamento só busca respostas para situações problemáticas realmente percebidas. Não adianta plantar artificialmente o problema, como se tenta fazer hoje sob a égide da pedagogia do projeto. Ainda mais, lembra que o ques- tionamento não é para Dewey a busca da verdade, pois ele desconfia da verdade absoluta, como desconfiam os educadores pós-modernos, mas concebe a verdade como a busca de algum acerto garantido dentro de determinado contexto. Por esse motivo considera o ques- tionamento essencialmente social. A ideia sustentada por Dewey, de que julgamentos não podem existir em separado dos contextos nos quais o questionamento tem lugar, ilumina a pedagogia pós-moderna. Sua posição acerca do contextualismo do questionamento o leva a um conceito de ética que envolve a avaliação e resolução de reclamos conflitantes de valores experienciados. Dewey rejeita a noção tradi- cional de deveres e direitos fixos e julga que o atomismo moral leva- ra a práticas sociais desastrosas. Posteriormente, aqueles que traba- lharam como educadores nas décadas de 1970 e 1980 puderam 20 ANA MAE BARBOSA comprovar que pouco resultou para a prática educativa da síndrome classificatória que pretendeu estabelecer estágios de comportamento, definidos como universais, portanto descontextualizados. Pretendeu-se, quase sempre tomando Piaget como base, mapear de forma classificatória quase todas as atividades humanas, como o desenvolvimento religioso (Fowler, 1981) o desenvolvimento social (Selman, 1980) o desenvolvimento do eu (Loevinger, 1978) e, final- mente, o desenvolvimento moral (Kohlberg, 1981). Kohlberg implici- tamente advoga a ideia de que normas éticas existem antes da expe- riência e que se impõem sobre uma situação independentemente do contexto social. E, apesar do empirismo, mas conduzido pela ansie- dade de traçar estágios de evolução moral, subscreve implicitamente a ideia da aplicação de eternas virtudes à solução de problemas em idades determinadas. Gregory Papas analisa o texto de Dewey Ethics: morality as expe- rience mostrando como o autor está longe de subscrever a ideia acima descrita que, em resumo, coloca a experiência sob o domínio de nor- mas preestabelecidas, mas também está longe de aceitar a ideia da arbitrariedade da norma ética. De acordo com Papas, Dewey recla- mava “por uma ética que colocasse o centro de gravidade moral dentro do processo de vida, e não dentro de uma torrede marfim”. Charlene Haddock Seigfried, que escreve o artigo “John Dewey’s pragmatist feminism”, identifica na crítica de Dewey ao patriarcalis- mo previsões de mudança que coincidem com as aspirações do mo- vimento feminista. Em um artigo de Dewey, escrito após a Primeira Guerra Mundial, no qual clama por uma ética feminista adequada às realidades do pós-guerra, Seigfried chega a pinçar a seguinte frase: “mulheres nunca fizeram tão pouco uso de maridos como agora na França e na Alemanha”, uma ironia pouco em voga naquele tempo. Respeito às diferenças é um valor intrínseco ao conceito de democra- cia de John Dewey. Charlene Seigfried, antes da publicação desse artigo, escreveu o livro Reweaving the social fabric: pragmatism and feminism (1996), colocando em destaque a participação de Dewey na luta feminista JOHN DEWEY E O ENSINO DA ARTE NO BRASIL 21 não só no campo das ideias, mas também na ação. Lembra que o pedido de demissão de Dewey da Universidade de Chicago fora provocado por duas crises que envolveram mulheres, seus direitos e respeito ao trabalho delas. A primeira, em 1902, foi uma proposta de segregação de mulheres. A universidade já tinha, naquela época, 40% de alunas mulheres quando o reitor da universidade decidiu segregá-las em um college separado, alegando que a universidade estava se feminilizando, desencorajando os homens a frequentá-la, o que evitava que se tornasse uma prestigiosa instituição de pesqui- sa. Em resumo, pensavam que a admissão de mulheres em igual termos estava mediocrizando e mal-afamando a universidade. John Dewey foi um dos líderes de um protesto do qual participaram todas as professoras mulheres da universidade. Poucos professores importantes homens tiveram coragem de assinar os manifestos. A outra crise foi a perda de autonomia da Escola Laboratório que ele criara e sua incorporação à administração da universidade. Os que protestavam, como sua esposa Alice Chipman Dewey, que era na- quele momento diretora da Escola Laboratório, foram demitidos. Com a incorporação, a Escola Laboratório se tornou uma escola comum. Como não havia documentos que comprovassem que a luta fora ideológica, que se estava tentando diminuir o poder e a visibi- lidade das mulheres que comandavam a Escola Laboratório, os inimigos de Dewey o acusaram de estar defendendo apenas interes- ses pessoais, reduzindo seu pedido de demissão a um protesto pela demissão da mulher. Mas suas posições multiculturais estavam fundadas na recusa aos preconceitos que se disfarçam em hábitos, como deixa claro no artigo de 1940, “Contrary to human nature”, no qual reverbera contra o antissemitismo e o racismo antinegritude nos Estados Unidos. O livro de Hickman traz ainda mais nove artigos que demons- tram, entre outras coisas, como as ideias de Dewey são relevantes hoje para o conceito de comunidade e educação comunitária (James Campbell) para o pensamento político (John Stuhr), para a filosofia da religião (Steven Rockefeller) e para a arte (Thomas M. Alexander). 22 ANA MAE BARBOSA Alexander demonstra como a ideia de experiência formulada por Dewey se transformou em nossos dias num adequado conceito de arte. É, entretanto, no livro que Alexander publicou em 1987, John Dewey’s theory of art, experience and nature: the horizons of feeling, que ele vai muito mais além na demonstração da pós-modernidade de Art as Experience. Nessa obra, analisa as posições contraditórias de Dewey acerca da arte, de um lado naturalista em Experience and na- ture e de outro lado pragmatista em Art as experience, um de seus últimos livros, publicado aos 75 anos. As duas posições analisadas por Alexander correspondem a uma grande ruptura na história da arte. Nos primeiros anos de Dewey como intelectual, a arte era con- siderada representação da natureza, do mundo ao redor, da “reali- dade”, daí sua postura em favor do desenho de observação como o melhor caminho para desenvolver a capacidade de ver e representar. Embora começando a ser entendida como antinatureza no Impres- sionismo, a arte do século XX, principalmente no Novo Mundo, só passa a se configurar como expressão quase duas décadas depois, quando se liberta definitivamente do comando naturalista/realista. É em função do modernismo e já respondendo e se opondo ao con- ceito modernista de expressão que Dewey constrói a teoria da arte como experiência. Dewey, como já observaram Benedetto Croce, Pepper e mais recentemente Richard Bernestein e Richard Rorty, se opunha aos primeiros conceitos modernistas de expressão, isto é, não considera- va a expressão uma descarga de sentimentos articulada pela forma, mas uma clarificação das emoções. Para ele a dinâmica ecológica da experiência estética transforma a energia orgânica sem sentido em expressão significante. O movimento de tensão e resistência da experiência estética de quem faz (do artista) e de quem aprecia (intérprete) reorganiza a consciência e gera re-conhecimento. Portanto, para Dewey, a percep- ção é em si mesma essencialmente uma categoria estética em lugar de epistemológica. Em alguns pontos seu conceito de reorganização da consciência em função da experiência estética se assemelha à ideia da ordem oculta da arte do psicanalista Anton Ehrenzweig, mas foge JOHN DEWEY E O ENSINO DA ARTE NO BRASIL 23 das “lamúrias psicologizantes” que caracterizaram as interpretações da arte no início do Modernismo. Talvez por isso, Robert Morris (2000) chegue a afirmar que, em- bora pouco citado pelos críticos de arte, é o empiricismo deweyano que justifica a defesa da autonomia da obra de arte que fundou o minimalismo. Trata-se de uma interpretação parcial do empiricismo deweyano que, ao contrário do minimalismo, admitia a contextualização da experiência. Curiosamente o livro de Jerome Popp, Naturalizing philosophy of education: John Dewey in post-analytic period (1998), argumenta que, diferente de outros empiricistas que afirmavam que dados científicos, principalmente da psicologia, não tinham lugar na filosofia, Dewey aceitava o que era conhecido sobre a inteligência e os processos cog- nitivos para justificar métodos, aceitação que o aproxima dos filósofos da ciência de hoje, mas o distancia em arte dos críticos expressionistas. O filósofo Richard Rorty, com frequentes referências, análises, reconfigurações das ideias de Dewey, foi um dos maiores responsáveis pelo seu renascimento. O novo interesse pelas obras de John Dewey levou James Campbell, um pesquisador que desde os anos 1980 vem estudando John Dewey, a publicar o livro Understanding John Dewey, valioso para as novas gerações entenderem as ideias de Dewey no contexto atual. Para Raymond D. Boisvert, que escreveu John Dewey: rethinking our time, a melhor designação para Dewey não é “moderno” nem “pós-moderno”. Ele foi “politemporal”, termo tomado de empréstimo a Bruno Latour. Em 1998 foi publicado John Dewey and the lessons of art. Seu autor, Philip W. Jackson, pretendia aclarar o conceito de experiên- cia de Dewey principalmente para professores, e demonstrar como a arte nos ajuda a viver melhor a vida cotidiana. Ele se pergunta: como professores de todas as áreas poderão fazer uso de “lições” de arte (entendidas em termos experienciais) para melhorarem o seu ensino? 24 ANA MAE BARBOSA Pretendeu responder a pergunta, mas nos deixou ainda na sala de espera. Uma certa insistência em autoajuda é monótona e fora de foco. O paradoxo é que Art as experience [Arte como experiência, Martins Fontes, 2010] é o livro mais complexo de Dewey e o menos estudado, provavelmente por ter sido publicado quando o escritor já velho, afastado da mídia, não tinha um prestígio público tão evidente quan- to antes. Talvez isso tenha sido bom para essa obra em especial. Não serviu de presa fácil para intelectuais vicários, aqueles que usam o recurso de escrever sobre alguém famoso e polêmico para se contaminar com a fama que a polêmica gera. Agora com tradução em português, esperoque os leitores/de- codificadores de Arte como experiência surjam para me propiciar di- versas extensões do pensamento de Dewey atualizado. Agora, os que escrevem sobre John Dewey já não correm o pe- rigo de serem discriminados pelos pedagogos brasileiros como eu fui quando lancei este livro, que Walter Garcia audaciosamente recomen- dou ao Cortez publicar. Obrigada aos dois por terem corrido o risco. Ana Mae Barbosa JOHN DEWEY E O ENSINO DA ARTE NO BRASIL ANA MAE BARBOSA Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, Professora Titular do Departamento de Artes Plásticas da Universidade de São Paulo, atuando no Mestrado e Doutorado em Arte-Educação que criou na USP e no Núcleo de Cultura e Extensão em Promoção da Arte na Educação da Escola de Comunica- ção e Artes da USP. Foi presidente da International Society of Education Through Art (1990-93) e Diretora do Museu de Arte Contemporânea da USP (1987-93). Publicou doze livros sobre Arte e Arte-Educação, sendo os últimos Tópicos Utópicos (Com-arte, 1998) e Arte-Educação: leitura no sub- solo (Cortez, 1999). Recebeu o prêmio Edwin Ziegfeld nos Estados Unidos (1992) e o Prêmio Internacional Herbert Read (1999). Em 2001 foi escolhida para dar a Studies in Art Education’s Lecture, na National Art Education Association dos Estados Unidos, distinção conferida pela primeira vez a um estran- geiro nos 50 anos de existência da Associação. John Dewey foi o expoente maior do pensamento filosófico america- no da primeira metade do século XX. Suas ideias causaram grande impacto em diversas áreas de co- nhecimento dentro das ciências hu- manas. Ana Mae Barbosa investigou as ressonâncias do pensamento de Dewey na Educação brasileira em sua tese de doutorado, publicando parte dessa tese na primeira edição deste livro em princípios da década de 1980. Analisando a recepção do autor americano em determinados ambientes culturais brasileiros, Ana Mae revelou como diferentes intér- pretes no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em Pernambuco geraram propostas educacionais singulares. Depois de cinco décadas em evidência, Dewey ficou praticamen- te esquecido. Mas nos últimos vinte anos ele tem sido extensamente es- tudado por autores americanos, im- buídos de uma visão contemporânea de História, já prefigurada nos pró- prios escritos de Dewey: a reflexão humana, em todos os tempos, pode e deve ser revisitada pelo presente não como cristalização, mas como raiz para novas soluções. O próprio conceito de imaginação, cerne fun- damental do pensamento de Dewey, está no bojo dessa visão de História tão cara à pós-modernidade. Para Dewey, a imaginação seria a capa- cidade humana de discernir opor- turnidades inerentes ao presente, mas ainda não realizadas pelo meio atual. A concepção moderna de cria- tividade valorizou a ruptura radical com o passado, enquanto Dewey enfatizava a importância da imagi- nação dentro da continuidade bios- sociocultural. A imaginação assim contextualizada teria como função atuar na intersecção entre signifi- cações socioculturais herdadas do passado e possibilidades ainda não reveladas ou descobertas pelo pre- sente. Sem o conhecimento e cons- ciência de sua própria história, acre- dita Ana Mae em consonância com as ideias de Dewey, não é possível reinventar o presente. A reedição deste livro é um con- vite à imaginação dos Arte-Educa- dores brasileiros, instigando sua curiosidade para conhecer melhor um autor cuja obra se eleva acima do tempo. A contribuição de Dewey permanece maior que suas sucessi- vas interpretações, resiste ao movi- mento intelectual que ora o esque- ce, ora o traz novamente à luz, como vem acontecendo nos dias de hoje. A cada nova investida se percebe que muito do que ele disse há tanto tempo é uma antevisão de questões cruciais do presente, como é o caso da palestra descoberta por Ana Mae nos arquivos de Arte-Educação da Miami University, dirigida a profes- sores de Arte e trabalhos industriais e incluída nesta edição. É um belo exemplo da visão de Dewey sobre a importância da Arte no desenvolvi- mento humano. JO H N D EW EY E O E N SI N O D A A RT E N O B R A SI L A n a M a e B a rb o sa 8a edição ISBN 978-85-249-2336-4 s xist Comentado [LM1]: Há pouca análise sobre a influência de Dewey na educação brasileira, principalmente, sobre sua influência ao trabalho de Anísio Teixeira. Comentado [LM2]: Ideias chave de Anísio Teixeira são apropriadas de J Dewey, embora, haja pouco desta relação na literatura da educação brasileira. Comentado [LM3]: Teixeira sofre perseguição política; se empenha em compromissos políticos e sociais em busca de uma democracia socialista. O movimento da arte/educação em Goiás aponta a luta de grupo de arte/educadores liderado pelo Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte. Há perseguição por parte de pessoas que atuam dentro da própria Secretaria de Educação que usam de suas forças políticas emperrando os processos educativos desenvolvidos nas escolas vinculadas ao Ciranda da Arte. Muitas vezes, se estabelecem as interrupções das experiências em desenvolvimento. Perde-se etapas. Mas, em toda a história da educação em Goiás, a arte/educação encontra-se evidenciada pelos resultados de experiências consumatórias vivenciadas por cada estudante no contexto de diversas escolas da rede. Percebe-se uma mudança cultural em desenvolvimento sobre a importância da arte na formação humana. ... Comentado [LM4]: Anísio assume posição política, contrariando grupo de religiosos com suas ideias; Empenhou político e socialmente em busca de uma democracia socialista, a exemplo de seu mestre John Dewey. Me fiz arte/educadora consciente a partir de minhas relações estabelecidas com os pensadores da arte/educação no Brasil. Ao iniciar minha gestão na Coordenação de Arte na Secretaria de Educação de Goiás, fui apresentada às discussões vigentes sobre o ensino de arte abordado pela metodologia triangular da professora Ana Mae Barbosa. Entendi a arte nas “acepções humanistas” e capaz de adornar as inteligências. Mesmo sem conhecer as concepções de John Dewey à época, me sustentei em seu ideário pragmatista e escolhi a arte/educação como modo de vida. ... Comentado [LM5]: Mudança de concepção de Anisio Teixeira se dá mediante seu contato com as ideias de Dewey. Anísio adere à filosofia de Dewey, substitui suas concepções conservadoras por um ideal democrático. Passa a defender a educação como uma arte científica e o educador como um intelectual, contrapondo suas ideias anteriores de uma “educação do povo” voltado para o mínimo necessário ao trabalho não especializado; Comentado [LM6]: Assume postura de líder e promove reformas educacionais, de acordo com princípios fundamentais, rejeitando posturas anteriormente internalizadas. Compreender a arte enquanto área do conhecimento é o primeiro indicativo para uma mudança de conceitos arraigados que têm reduzido seu papel na formação integral do indivíduo. Os termos indicam as concepções. A mudança do termo Educação Artística para Ensino de Arte é carregada de concepções que modificam todo um conjunto de práticas e saberes nesta área. As orientações curriculares para a área de arte da rede estadual de educação em Goiás atribui aos sujeitos a centralidade da ação pedagógica. São indicados como sujeitos, alunos e professores e/em sua cultura. Isso é fundamental para que aquilo que se estuda na escola faça sentido em suas vidas, desenvolva hábitos de ações autônomas e de coletividade. As experiências singulares sinalizadas por Dewey, mesmoestabelecidas no contexto coletivo se efetiva na individualidade de cada sujeito participante. Comentado [LM7]: As Mostras Artísticas das EETIs deste ano (2015) retrataram situação real da experiência direta, imediata, primária dos estudantes, aprofundada por experiências simbólicas das cenas que compuseram o roteiro dos espetáculos encenados e escritos pelos alunos. Em se tratando de currículo para a área de arte, assunto de primeira linha na atualidade, em que se pensa sobre uma Base Comum Curricular Nacional, entendo que esta proposta possa promover um grande enrijecimento e empobrecimento para as finalidades da arte na formação dos estudantes, contrariando o conceito de J. Dewey sobre “hábitos e disposições”, não como hábito estratificado, mas, conceito reforçado por Teixeira, “aprender com a experiência,” Comentado [LM8]: Crescimento – aprender hábitos e disposições 1.Introdução de ocupações ativas 2. Estudo natural, ciência elementar, arte, história 3.Mudar a atmosfera moral escolar Atitudes mentais indicadas por Dewey no trato com o conflito entre velhas e novas culturas: Abertura, objetividade, responsabilidade e apreciação. Comentado [LM9]: Interconexão entre educação mental e educação corporal imprescindível para o equilíbrio do desenvolvimento humano Ao ocupar cargos na administração educacional brasileira, Teixeira expande as ideias de Dewey sobre democracia como forma de vida, desenvolvimento da individualidade, da educação contínua e da investigação científica. Este é o papel de todo gestor: Perceber quais mudanças devem ser implementadas e assumir tal postura. Comentado [LM10]: A separação entre escola comum e escola específica de arte, ou de tecnologia esvazia o sentido de uma educação integral que se interconecta pelos diversos saberes, fragmenta as experiências, impondo uma compreensão compartimentalizada do conhecimento. Promove o dualismo entre conhecimento científico e conhecimento estético. Essa atitude promove a compreensão de uma escola desintegralizadora. Comentado [LM11]: A ênfase de Anisio Teixeira ao criar as Escolas Parque e a Escola Guatemala se dá ao seu entendimento sobre a importância da atividade manual e não a um entendimento da experiência estética. Embora, um seguidor de Dewey deixa este campo descoberto. Não se posiciona e parece não apropriar das convicções de Dewey sobre a arte como experiência. Comentado [LM12]: Comentado [LM13]: Para se organizar um sistema educacional basta trazer à luz o real e promover mudanças a partir de cada realidade. A mudança consiste em extrair o que existe como forma de vida e, a partir de uma análise crítica, propor modificações desejáveis. Os instrumentos de uma pesquisa são determinantes para evidenciar a verdadeira realidade da educação brasileira. Minha questão: analisar o ensino de arte praticado na educação pública de Goiás, investigar as contribuições do sistema educacional para a arte e seu ensino, a partir desta crítica buscar proposições que ensejam modificações desejáveis, a ressignificação das práticas arte/educativas – produzir ideias relevantes às crises reais da cultura educacional local e, consequentemente, sua reverberação na cultura social ampla. Comentado [LM14]: - Extrair os traços desejáveis - buscar instrumentos que consigam extrair os traços desejáveis. - formação de uma nova geração (cultura) A educação em Goiás perpassa por uma crise gerada pela ação do governo ao repassar a gestão das escolas para Organizações Sociais. Este conflito tem gerado uma movimentação orgânica em busca de resistência contra essa imposição, estabelecendo e fortalecendo luta de caráter social e político. Estudantes, professores se unem para reivindicar seus interesses. A classe estudantil contenta o regime autoritário do governo. Comentado [LM15]: Hoje, há uma atitude de otimismo em relação à arte/educação. Escolas assessoradas pelo Ciranda da Arte têm promovido uma “revolução” que significa mudança na constituição subjetiva da arte na formação de uma nova cultura social que poderá modificar a sociedade. De igual intenção, percebe-se também este “otimismo pedagógico”, que surge como reverberação das discussões em torno da arte/educação na formação dos estudantes e as relações estabelecidas nas práticas dos professores em suas experiências distintas. As mostras artísticas realizadas pelas escolas assessoradas pelo Ciranda da Arte evidenciam as relações entre gestão escolar, professores, estudantes e suas famílias. Esse otimismo é perceptível nas experiências das crianças e jovens e suas relações com a arte, com a escola, com a vida que se modificam a cada ano vivenciado nesse processo. A Comentado [LM16]: Entendo a função da escola como influência decisiva no equilíbrio da sociedade. A escola modifica e é modificada pelas mudanças que se constituem nas subjetividades individuais e sociais. As mudanças no campo da ética e da sustentabilidade do ser humano somente ocorrerão se houver uma mudança individual, intrínseca a cada personalidade e seu modo individual de ser e de viver. As ideias de Dewey alcançam ampla aceitação no Brasil, tendo em vista sua influência no mundo. É reconhecido como o principal porta-voz da América no mundo das ideias. Predominavam, no Brasil, os conceitos de educação derivados do liberalismo e do positivismo. Comentado [LM17]: A elaboração de onhecimento que tem sentido para a vida. É necessário banir o amadorismo da atividade docente. O professor em busca de uma atitude científica no campo das experimentações de ensaios em relação à ideias e suas comprovações. Atenção ao tripé que sustenta a arte/educação em Goiás, de acordo com o Projeto Político Pedagógico do Ciranda da Arte: formação, produção artística e pesquisa, três eixos que se retroalimentam. Parafraseando Schechner, busca-se o professor que sabe arte, que faz arte e que explica o que sabe e o que faz. As contribuições do positivismo na educação brasileira e o pensamento de Deswey: A educação como uma arte cientifica, a missão educativa do intelectual ou o intelectual como um educador ... Comentado [LM18]: Anterior a Anísio Teixeira, a filosofia educacional brasileira já recebia influência de Dewey, constatada no projeto de reforma em Minhas Gerais, em 1927. Número considerável de professores ingressaram na Universidade da Colúmbia, nos Estados Unidos, em 1929. Comentado [LM19]: Ciranda da Arte, como Centro de Estudo e Pesquisa, e também destinado à formação continuada de professores de arte, tem construído uma referência no ensino de arte no Brasil, mesmo ainda, timidamente. As ricas possibilidades das tecnologias digitais tem contribuído para a interação de milhares de professores da rede, fazendo uma crescente interconexão, as quais considero salutar, e de características integradoras da arte e seu ensino. Estou em processo de coleta, um levantamento sobre as experiências arte/educativas que estão disponíveis nas redes sociais, em arquivos pessoais e institucionais com o intento de formar um acervo digitalda arte/educação praticada na rede estadual de educação em Goiás. Pretendo verificar Comentado [LM20]: Pretendo verificar os significados que tais experiências têm produzido nas subjetividades dos envolvidos. Comentado [LM21]: Compreender a dimensão estabelecida entre os conhecimentos construídos a partir dessas experiências e a vida dos estudantes. A autora apresenta as fases do método Decroly e sua influência extraída da literatura de Dewey: Observação não como um fim em si mesma e, sim, como meio para chegar a uma conclusão de ordem intelectual; Associação: todo assunto é intelectual, o que atribui à arte o status de área do conhecimento na formação humana, no currículo escolar, nos aparatos científicos. Expressão: etapa que se completa as experiências consumatórias de Dewey. Comentado [LM22]: As influências de Dewey e suas abrangências na educação brasileira nos processos históricos, políticos e sociais. Comment [LM1]: Nereu Sampaio é influenciado pelas ideias de Dewey. Fases do desenvolvimento das ideias de J Dewey: 1.Naturalista (A Escola e Sociedade) (Individualidade e experiência) 2.Integrativa (Democracia e Educação) 3.Arte-educação (Arte como Experiência) Comment [LM2]: Embora Nereu Sampaio seja pouco conhecido no Brasil, o seu método “espontâneo-reflexivo” ainda é usado nas escolas. Trata-se de um trabalho de dissertação sobre o Desenho espontâneo das crianças, no qual Sampaio apropria-se das metodologias de Dewey em A Escola e Sociedade. Este trabalho influenciou a reforma de Fenando Azevedo, tornando-se um forte modelo na educação brasileira. ... Comment [LM3]: Sampaio delineia um sistema metodológico que relaciona a evolução mental da criança com os impulsos infantis de Dewey. Ele se respalda em Dewey – fazer e refazer após observação/reflexão. A partir de uma observação crítica, a criança, ao comparar seu trabalho artístico, por meio de um portfólio, poderá perceber seu processo de desenvolvimento. Ao comparar, criticamente, seus trabalhos observando outras situações naturais, poderá desenvolver sua percepção e ampliar sua capacidade crítica e consciente. Necessidade de combinar memória e imaginação, ação - reflexão - ação. O professor, da mesma forma, deve tomar atitude investigativa, comparar sua práxis pedagógica e se apropriar de novas possibilidades educativas disponíveis na atualidade. ... Comment [LM4]: Apreciação para Dewey – a “reconstrução da experiência” – “fazer e refazer relacionados”, significa tomar consciência, desenvolver a percepção a partir da observação, com a intenção de ampliar a capacidade de expressão e não para a representação realista. O Conceito de Dewey sobre auto- expressão “visava desenvolver ao mesmo tempo habilidade técnica e apreciação de arte”. Dewey foi criticado por Croce, que alegara que as observações e teorias usadas por Dewey já Croce critica Dewey, alegando que suas observações e teorias não eram inéditas. Afirma que ele mesmo havia enunciado a ideia de “expressão” como interpretação reflexiva, o que foi refutado por Dewey que se posiciona anterior à Croce. Comment [LM5]: Croce critica Dewey que critica Franz Cizek. Este é defendido por Katherine Dewey e Arthur Efland e por suas referências acerca da escola de Cizek, em Viena, onde sua sogra havia estudado. Segundo ela, “os métodos envolviam pesquisa rigorosa e exigente de elementos e princípios de desenho, mias ligados ao enfoque sintético de Dow que ao da livre expressão.” Contextualizando os dois períodos em que supervalorizou-se a auto- expressão no ensino de arte, percebe- se que a causa foi uma liberação emocional provocada pelo pós-guerra e não influencias da escola de Cizek. A tese de Sampaio propõe a retomada do desenho a partir da observação para aproximá-lo da realidade. Comment [LM6]: Katherine afirma, a partir de estudos mais profundos sobre Cizek, haver algum tipo de orientação presidindo as suas aulas, porém, Dewey afirma o contrário. Ele combate o preconceito de que auto-expressão significa deixar as habilidades sensíveis fluírem automaticamente, sem nenhuma intervenção externa durante o processo. Para ele, “sem algum direcionamento da experiência, no sentido de um processo contínuo de expressão, desempenho ou execução, a resposta às condições circundantes será casual, esporádica e finalmente cansativa.” Muitos equívocos podem surgir a partir das diferentes interpretações dadas às teorias educacionais. Dewey reafirma a necessidade da criança ter orientação de um professor. Nos dias atuais, elas encontram-se expostas a toda sorte de informações externas, são bombardeadas continuamente pelas redes virtuais. Mais do que nunca, a figura de um professor orientador, conectado, crítico, torna- se necessário para a formação de estudantes mais sensíveis, autônomos, humanizados e que se autogoverne. Comment [LM7]: Para Dewey torna-se imprescindível uma metodologia que promova a avaliação dos resultados. Fazer a relação entre os meios e as consequências dão continuidade e sentido às ações subsequentes, constituindo-se o conceito de Liberdade/individualidade, entendido não como ausência de controle. No trabalho de Dewey em A Escola e Sociedade, o conceito sobre o exercício da observação apresentou- se como apreciação naturalista, sendo mais tarde melhor estruturado, tornando possível um correlacionamento entre seu princípio primitivo de arte-educação e os do romantismo. Imaginação e observação como princípios orientadores do ensino de arte busca sua inspiração no romantismo, aplicado apenas na primeira fase da teoria de Dewey. Sampaio, ao fazer sua interpretação sobre imaginação E observação, atribui à imaginação uma subordinação à observação, de uma necessária submissão progressiva entre o “espontâneo ao racional”. Esta interpretação impediu que Sampaio compreendesse a importância da imaginação nas teorias da arte e da educação Deweyianas, afirma Ana Mae Barbosa. Comment [LM8]: Sampaio busca transformar a imaginação em pensamento reflexivo. Sua ideia seria impulsionar o desenvolvimento infantil em direção à inteligência reflexiva. Comment [LM9]: O pensamento imaginativo pode transformar uma experiência comum em uma experiência simbólica e também elucidar posicionamentos diversos. O pensamento imaginativo sugere elencar diversas hipóteses e a definição de possíveis soluções para um mesmo problema. Neste sentido, há de se considerar pensamentos divergentes, possibilidades múltiplas, trilhas diversas e resultados imprevisíveis. Voltando para os aspectos apresentados neste estudo sobre a arte e o desenvolvimento da criança, o professor, como orientador e condutor dos processos arte/educativos deve conhecer teorias e aplicar metodologias que promovam o desenvolvimento cognitivo, estético, sensível, social, cultural, político, fazendo com que seus alunos se apropriem das aprendizagens pertinentes a cada etapa de suas vidas. Comment [LM10]: Mesmo prevalecendo equívoco na interpretação que Sampaio fez sobre aspectos da teoria de Dewey, seu trabalho é relevante para a história da arte/educação. Comment [LM11]: Comment [LM12]: Barbosa traz à luz diversosequívocos sobre a arte/educação no Brasil demonstrados por teóricos da educação. Ela explica os enganos cometidos sobre a importância da arte na educação, reafirma sua igual importância às outras disciplina durante o Movimento da Escola Nova Brasileira e sobre o desconhecimento das obras escritas por Dewey depois de A Escola e Sociedade. Comment [LM13]: Os equívocos citados poderiam ter sido pelo desconhecimento da obra Arte como Experiência de John Dewey, ainda não traduzido para a língua portuguesa à época. Hoje, Art as Experience já é traduzido no Brasil e literatura fundamental nos estudos da arte/educação Segunda Fase do Pensamento de Dewey consubstanciada em Democracia e Educação e em Pensamento Afetivo na Lógica e na Pintura teve menos influência que A Escola e Sociedade. ... Comment [LM14]: Mais uma comprovação de que a Escola Nova tinha compromisso com a arte na educação foi a vinda de Perrelet, uma filósofa da arte, que compôs um grupo de professores vindos da Europa, do Instituto Jean- Jacques Rousseau, para reorganizar a educação em Minas Gerais. Dentre os sete professores componentes do grupo, dois eram professores de arte. Criou-se a Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Minas Gerais, comandada por Artus Perrelet. Os conceitos de Dewey sobre a função da arte na educação foram fortemente explorados. Esta escola promoveu mudanças na prática dos professores em Minas Gerais, ao ponto de Carlos Drummond de Andrade poetizar sobre as professorinhas da Escola de Aperfeiçoamento. Ao estabelecer relações entre a Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Minas Gerais e Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte, ambos denotam o reconhecimento dado à arte em Minas Gerais e em Goiás; ambos se fortaleceram fundamentalmente ao apropriarem-se de conceitos abordados por teóricos que discutem a arte/educação e, ambos, recebem o selo de qualidade pelas mudanças que conseguiram e conseguem imprimir no ensino da arte em seus diferenciados contextos. A pergunta é: onde se situa a inversão do movimento que faz da arte hoje uma área menos favorecida nos currículos escolares? Comment [LM1]: Perrelet vem da Europa para ORGANIZAR o ensino público de Minas Gerais. Ela compunha a equipe do Instituto Jean-Jacques Rousseau, era educadora, psicóloga e pesquisadora. Minas Gerais passa por significativa reforma educacional, liderada por Francisco Campos. Comment [LM2]: Objetivos do Instituto Jean-Jacques Rosseau era extrair dos novos conceitos de psicologia consequências práticas para a educação. Primeiro curso formado sistematizado para professores de arte de Goiânia oferecia disciplinas da arte/educação e uma relacionada à psicologia do desenvolvimento da criança (Teorias da Aprendizagem), ainda, enquanto Coordenação de Arte da Metropolitana, em 2002. A equipe de professores do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte (2004) foi formada por professores de artes visuais, dança, música, teatro e uma psicóloga, também educadora. Anteriormente, prevalecia-se na rede o uso da disciplina arte sem nenhuma responsabilidade com a formação estética dos estudantes. Eixos que sustentam o Ciranda da Arte: 1.A formação continuada que se desenvolve por meio de cursos, oficinas, seminários, assessorias pedagógicas e orientações curriculares, partindo-se do pressuposto que “ao qualificar os docentes, qualificam-se, também, suas práticas pedagógicas que, significativas e consistentes, capacitam os estudantes a conhecer, interagir, interpretar, compreender criticamente o mundo e a si próprios”. (Alcântara, 2011, p. 10) 2. A produção artística tem como principal ação promover grupos artísticos formados por professores na perspectiva de valorizar e ... Comment [LM3]: O Instituto alcança seus objetivos. Perrelet atuou em ações diferenciadas no Instituto. Foi professora de professores; professora de crianças em escolas; como pesquisadora, buscava novos métodos para se ensinar arte, porém, não entendia a exclusividade de um método como a única opção usada para se ensinar, pelo contrário, essa postura restringiria e prejudicaria o ensino Comment [LM4]: Ciranda da Arte, em sua função de orientar e assessorar os professores da rede, vale-se dos teóricos que embasam e dão sustentação aos conceitos que se instituem como fundamentais para um ensino de arte delineado nos princípios metodológicos do produzir, do compreender criticamente e do contextualizar as artes, configurando- se numa proposta de currículo voltado para a diversidade cultural e construção de identidades, resultando, portanto, nas matrizes curriculares de artes visuais, dança, música e teatro adotadas em todas as unidades escolares da rede pública estadual. Comment [LM5]: . A psicologia reconhece que a criança representa sua realidade através de seus desenhos. Do ponto de vista da genética O desenho do ponto de vista da genética: Do ponto de vista da patologia: Do ponto de vista da pedagogia: os desenhos da criança sinalizam situações sobre a realidade na qual a criança está inserida, que podem ajudar nas intervenções pedagógicas propostas pelos profissionais da educação. O desenho é um aliado na construção do pensamento. Na arte/educação, a análise de uma obra de arte, ou de um desenho, por um receptor, está no campo da interpretação que faz, da sua compreensão, da bagagem que traz. Busca-se na fruição compreender qual ideia o criador quis se expressar, sem nenhum intento de intervir em sua subjetividade, mas de servir-se do material artístico para ampliar suas sensações, emoções, percepções. Quando o receptor é afetado pela obra, a compreende e nela se reconhece, ela faz sentido para sua vida, pode-se dizer que houve uma experiência estética. Comment [LM6]: Importante ter os registros, documentos e publicações que relatam sobre a arte/educação em Goiás. Criar um acervo do Ciranda da Arte possibilita o acesso de pesquisadores a esse material e solidifica sua história. Comment [LM7]: Ciranda da Arte não tem orçamento para sua gestão. O primeiro prédio destinado à sua criação foi reformado com recursos pessoais da sua idealizadora/diretora, por empréstimo feito no Banco ITAU, no valor de R$ 7.500,00, no ano de 2004. O único investimento financeiro da SEDUCE no Ciranda da Arte se refere aos salários dos servidores. Todas as despesas com fotocopiadora, internet, serviço de câmera eletrônica, assistência técnica e de manutenção emergencial continua sob a responsabilidade da diretora da instituição. Comment [LM8]: O Instituto era voltado para formação de crianças, formação de professores, formação de gestores educacionais, ensino especial, psicologia infantil, pedagogia experimental, educação e orientação profissional. Demonstra versalidade pedagógica. Comment [LM9]: Fazer levantamento das publicações de professores vinculados ao Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte. Diversidade de publicações de pesquisas demonstra o ecletismo do Instituto; nenhum método é dono da verdade; a diversidade possibilita a riqueza de possibilidades de aprendizagens e não restringe a percepção por meio de um olhar restrito. Comment [LM10]: Perrelet condenou a ideia de arte pela arte. O projeto de Bandas Marciais e Musicais desenvolvidos nas escolas estaduais não visa apenas ensinar a música pela música, mas, cultivarum ambiente que promova a transformação social por meio da música. Ciranda da Arte e o desafio de se pensar um currículo voltado para a diversidade cultural. Categorias que suscitam diferenciadas ideias e geram diferentes práticas. 1.Ensino de Arte para o Ensino Regular 2. Ensino de Arte para Escolas de Tempo Integral 3.Ensino de Arte para Escolas Especiais 4.Ensino de Arte para Escolas Inclusivas 5.Ensino de Arte para Educação de Jovens e Adultos 6.Ensino de Arte para Educação Indígena 7.Ensino de Arte para Escolas Quilombolas 8.Ensino de Arte para Escolas Prisionais 9.Ensino de Arte para escolas gerenciadas por Organizações Sociais 10.Ensino de Arte para Escola do Campo Respeito às ideias divergentes geram possibilidades de diferentes práticas. Restringir uma proposta curricular unificada, empobrece o conhecimento, reduz a capacidade inventiva, inibe as singularidades das experiências. Métodos diferenciados devem ser desenvolvidos para situações diferenciadas. Perrelet propôs um método de ensino de desenho baseado na concepção deweyana sobre apreciação e integração. Seu conceito de desenho como integração é trazido tendo como princípio o “interesse de viver uma vida plena, rica e livre”. Comment [LM11]: A educação como um “desenvolvimento contínuo começando das funções inferiores para as superiores” em integração”. O hiato que existe entre o professor compreender as orientações curriculares para o ensino de arte, evidenciadas nos documentos oficiais para a área de arte da rede estadual em Goiás e a elaboração do currículo voltado para o contexto de cada escola se dá não somente pela falta de professores com formação específica em sala de aula. Muitos professores que têm a formação em arte também não conseguem elaborar uma proposta curricular, fazendo o encadeamento necessário às etapas das aprendizagens dos estudantes. Ainda, lidar com as individualidades e ritmo de cada criança não de forma enrijecida. Comment [LM12]: Método centrado na ação e movimento facilita a sistematização do conhecimento e é base para a reflexão. Essa ideia de Perrelet faz conexão com o pensamento de Dewey em que [...] ”o movimento é anterior à sensação consciente”. Comment [LM13]: A importância do movimento nas experiências com a arte deve ser um princípio que rege a escola para todas as áreas do saber. O fazer/expressão precede e é imprescindível à reflexão/impressão consciente. Comment [LM14]: Percebe-se grande influência de John Dewey nas propostas de educadores musicais do início do século XX, em diferentes localidades, denominadas “métodos ativos”. Apesar destas propostas serem estudadas nos cursos de licenciaturas e serem atuais os professores não as têm adotado nas escolas. Estes métodos aproximam a criança e a música por meio de suas experiências. Comment [LM15]: Os métodos ativos descartam a ênfase na técnica e na teoria. Trata o conhecimento simbólico como resultado da sistematização da experiência. Para Perrelet o conhecimento simbólico não tem nenhum valor em si, mas que seu valor incide em usá-lo na integração de novas experiências. Este argumento desmonta o ensino tradicional de música, fortemente valorizado nos conservatórios de música, nos quais o conhecimento teórico e a prática musical são compartimentalizado. Comment [LM16]: AS formas mecânicas de ensino não estabelecem a comunhão entre sujeito e objeto. No tocante à apreciação de arte, exige-se o mesmo raciocínio. E, Perrelet estabelece essa mesma relação não apenas na experiência estética, mas para qualquer conhecimento. Comment [LM17]: A interação das características do objeto e das características de experiências passadas é que produz um novo conhecimento. O método de Perrelet induz a experiência simbólica a partir da experiência direta. O método de Perrelet simplifica a passagem da experiência direta para a experiência simbólica. O método de Perrelet promove uma participação vital da criança. Comment [LM18]: Um exemplo: ao estudar sobre a fisiologia da voz, aprende-se sobre o mecanismo para uma respiração diafragmática, indicada para o canto. Neste estudo, fica caracterizado que esta técnica de respiração facilita uma nota sustentada, ou uma frase musical mais extensa, quando usada corretamente. De forma lúdica vivencia-se a experiência: deitada no chão, a criança percebe sua respiração diafragmática, sentindo, com a mão sobre o abdômen, o movimento do próprio corpo, enquanto inspira e expira lentamente, dosando a saída de ar. Ela perceberá que este jogo vai ajudá-la no seu intento de cantar uma frase musical completa com o controle de saída de ar em suas expiração. Estes conhecimentos biológicos devem vir à memória ao se estabelecer relação destes elementos em uma nova experiência, a de executar uma música cantando frase por frase, dominando a saída de ar. Para que serviria todo o conhecimento anterior se não fossem usados na consumação de uma experiência consumatória, e para dar sentido às novas experiências? O corpo como instrumento educacional. Dar uma noção expressiva dos elementos artísticos, assim, a criança compreenderá, no desenho, o valor e a significação das linhas. Na música, compreenderá a significação das figuras musicais a partir da suas combinações rítmicas e melódicas, ao transformar o objeto sonoro em musical. ... Comment [LM19]: Dewey atribui o valor de uma atividade à compreensão do seu significado não apenas no movimento muscular, mas também no exercício da imaginação. Nutrir a imaginação da criança, atribuindo elementos para o exercício da criatividade. Comment [LM20]: Ampliar as experiências com diferenciados exemplos Provoca a compreensão de que uma ideia pode ser elaborada de diferentes formas. Uso de metodologias diferenciadas com um mesmo objetivo de expressar a ideia. O fracasso escolar passa por este viés, principalmente, no tocante â escola de tempo integral que oferece aos alunos o apoio ao letramento e ao numeramento, repetindo as mesmas metodologias praticadas nas disciplinas específicas. São os mesmos professores, as mesmas técnicas e, obviamente, os mesmos resultados pedagógicos. Comment [LM21]: Exprimir ideias por meio de movimentos. Externalizar sentimentos por meio de movimentos do corpo. Propor situações novas com os mesmos materiais pedagógicos a fim de aguçar a imaginação. Comment [LM22]: A educação do futuro se apoiará nos jogos, uma metodologia já adotada que desenvolve o poder de se trabalhar em equipe, nas tentativas dos erros e acertos e, acima de tudo, na possibilidade de trabalhar com formulações. Professores que usam o jogo ativo em suas propostas pedagógicas obtêm bons resultados nas aprendizagens dos estudantes. A experiência cm o próprio corpo facilita a interação do aluno com os elementos do aprendizado. Comment [LM23]: Uso do corpo nos jogos ativos como ponto de partida para o aprendizado/conhecimento. A experiência, primeiramente deve ser com o próprio corpo, para, posteriormente, ser exteriorizada. Buscar sequencias de atividades que despertem a percepção do significado. Este, poderá ser ampliado se flexibilizada a significação do elemento gráfico. Em vez dereforçar a representação gráfica, ampliar o significado do objeto que está sendo desenhado. O professor deve tecer comentários sobre o desenho, a arte da criança, explicando como o desenho foi feito, valorizando o seu significado e não a sua perfeição. Compreender o objeto representativo a partir de ações/movimento, suas diversas possibilidades nas mãos de um criador imaginativo. Com um cordão em movimento, construir significados. O professor deve valorizar o percurso de criação, enfatizando seu resultado e não motivar a perfeição do desenho. Comment [LM24]: Muito do que se estuda na escola ocupa a camada da superficialidade. As vezes há exagero em um determinado conteúdo sem que o mesmo tenha sentido nenhum para o estudante. Prevalece aquela sensação que conhece bem do assunto mas não se consegue fazer uma aplicabilidade do mesmo. Outra questão é a estagnação do aprendizado. O professor se apropria de um assunto e não o expande em busca de novos conhecimentos e de suas relações com outras questões, em um processo de encadeamento, sequência de aprendizados e maturidade cognitiva; Comment [LM25]: Ampliar a aprendizagem a partir de exemplos vivenciados na prática facilita a compreensão de conteúdos mais complexos. Comment [LM26]: Exemplos simples, porém, orgânicos, que demonstram por meio de recursos visuais a relação do teórico compreendido por exemplos práticos que envolvem ação. des Comment [LM27]: Schafer – ouvido pensante – o ouvido atento. Desenvolver a escuta significativa – capturar sons e exprimi-los por meio de desenhos e na composição musical. Trazer para a arte as experiências do cotidiano. Comment [LM28]: Apropriar dos conteúdos de forma orgânica, tê-los introjectados nas entranhas, como sensações vitais e de aplicabilidade autônoma. Comment [LM29]: As ideias das crianças devem ser valorizadas, todas elas são carregadas de caráter que não deem ser desprezadas. Uma forma de extrair os sentimentos e impressões das crianças é por meio de perguntas. Aguçar sua imaginação e percepção. ‘ Por meio de brincadeiras e jogos lúdicos as crianças são capazes de compreender conteúdos complexos. Sentir o ritmo no próprio corpo, internalizar o conhecimento. Ele acontece primeiramente no corpo, para depois ser externalizado. O sistema tradicional de representação simbólica não possibilita bons resultados pedagógicos. Trago o ato da reflexão como o confeito de um bolo, o que dá realce à vida, ao ser. Refletir é como uma luz que define conteúdo e emoção. Conhecimento que tem significado prático para ser usado e vivenciado continuamente. Comment [LM30]: Exemplos nos desenhos que denotam maturidade adquirida por meio de um consciência crítica. Percebe=se a relação ideia e movimento e não de um ser estático. Comment [LM31]: Todas essas ideias nos foram passadas por Perrelet em seu livro, por acreditar e defender ideias que permeiam uma abordagem de uma pedagogia voltada para a valorização do jogo como “princípio gerador da modernização do ensino”. Comment [LM32]: O professor de arte deve estimular a percepção orgânica. A criança com sua capacidade de expressão aguçada enxergará “organicamente o inerte e o vivo, o animado e o material”. Saberá formular sobre o inesperado. Perrelet contribuiu significativamente para a educação brasileira. Comment [LM33]: Perrelet influenciou a educação no Brasil. Ficou na história por sua índole de profissional dedicada. Suas ideias influenciaram a educação no Brasil, mesmo havendo apenas um exemplar de seu livro na Biblioteca Nacional. Sua influência se deu por meio das atividades pessoais. A Escola de aperfeiçoamento de Belo Horizonte ficou conceituada por apresentar um dos primeiros grupos de professores com real preparação profissional, colocando a educação em Minas Gerais como referência para outras regiões do Brasil. Perrelet fez discípulos. O líder da reforma educacional em Minas Gerias, Francisco Campos, foi o criador do Instituto de Aperfeiçoamento que Perrelet ajudou a organizar. Comment [LM34]: A reforma da Educação promovida por Francisco Campos em 1931 incorporou princípios defendidos por Perrelet. A crítica da época reconheceu que o trabalho de Perrelet era sério. Em referência elogiosa o jornal O Globo do Rio de Janeiro ressaltou que o desenho de Perrelet estimulava a inteligência e a imaginação da criança. Comment [LM35]: Perrelet é lembrada como a professora que sempre relacionava os desenhos dos alunos com questões da realidade em suas diferentes abordagens; o seu método é de fundamental importância na integração entre filosofia e psicologia. Por meio da pesquisa de Perrelet sobre o desenho na formação da criança, podemos compreender e estender seus conceitos a todas as áreas do conhecimento, de um ensino que faça conexão com a vida dos estudantes, que lhes promovam experiências singulares, um pensamento deweyano. Comment [LM36]: Perrelet trouxe para o Brasil, juntamente com outras pessoas, mesmo que indiretamente, as ideias fundantes do pensamento de Dewey, fazendo ressoar na educação brasileira, seus princípios e influência, embora no sentido restrito, pois, o trabalho de Perrelet coexistiu paralelamente ao de Dewey.Mas, sem a obra de Dewey os “conceitos ocultos” de Perrelet não seriam percebidos. Comment [LM1]: A arte a serviço da formação de um conceito e como fase final de uma experiência foi uma interpretação equivocada dos conceitos dewyanos, por educadores brasileiros da Escola Nova. Ainda persiste em nossos dias o uso da arte com tais finalidades. Comment [LM2]: Ainda persiste essa prática equivocada sobre o ensino de arte: - como forma de organizar e fixar conteúdos de outras áreas. - auto-expressão - formação de conceitos Comment [LM3]: Ana Mae Barbosa escolhe o trabalho de Scaramelli para seu estudo sobre o conceito praticado em arte-educação no Movimento Escola Nova, por apresentar práticas desenvolvidas em sala de aula e também algumas abordagens teóricas da educação. Neste livro Scaramelli destinou seu trabalho aos professores que mais precisavam de apoio pedagógico. A bibliografia da época eram inconsistentes, com exceção de Nereu Sampaio e Artus Perrelet. Comment [LM4]: Página 1 Página 2 Página 3 Página 4 Página 5 Página 6
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